segunda-feira, 9 de maio de 2011

Festival leva a rua Augusta para Madri

Tensamba recebe músicos brasileiros com clima descolado em região em que vivem sobretudo artistas e gays

Mostra, que já apresentou Gal Costa e Seu Jorge, tem Renegado e Patricia Polayne, entre outros

Fonte: folha.uol.com.br 09/05



"Só posso agradecer a esse festival por ter me trazido para a rua Augusta de Madri."
A definição é perfeita. Saiu da boca da sergipana Patricia Polayne, no final de seu show no palco em plena Fuencarral, rua próxima ao centro de Madri, onde vivem sobretudo artistas e a comunidade gay.
Era noite de sábado, mas Madri só escurece perto das 21h nesses dias ainda frios de maio. Animadíssimo com a apresentação -a quarta da maratona: já haviam rolado os baianos do Sertanilha e os também sergipanos do Cobra Verde e do Café Pequeno-, o público gritava: "Otro! Otro!". Algo como o nosso "Mais um! Mais um!".
Eram brasileiros, portugueses, italianos, ingleses. E muitos espanhóis, de todos os tipos. Mães com os filhos, roqueiros cabeludos, meninas de cabelos roxos, verdes, azuis, senhoras com cachorros (quase sempre buldogues), homens com homens, homens com mulheres. A rua Augusta, portanto.
Beijar era liberado. Beber nem tanto. Leis locais não permitem bebida alcoólica na rua. Mas burlar essa regra não parecia um problema.
O Tensamba está na oitava edição. Leva música popular brasileira também a Tenerife, nas Ilhas Canárias. Já recebeu Gal Costa, Maria Rita, João Donato, Adriana Calcanhotto. Mas abre espaço a nomes como Comadre Fulozinha e Leo Cavalcanti. É a primeira vez que a rua foi incluída na programação.
Antes, os concertos aconteciam em teatros. E, apesar do nome, não é um festival de samba. "A palavra veio porque resume o significado de música brasileira na cabeça dos espanhóis", diz o sócio-fundador Antonio Paiz.
O festival foi criado com seu amigo de infância, o músico Tomas Cruz, também de Tenerife. Cruz conheceu Milton Nascimento no Brasil. Ficaram amigos e planejaram um show nas Canárias.
Oito anos depois, Milton ainda não fez sua participação, mas o Tensamba cresce a cada ano -a atual edição tem quase um mês de programação.
Terceiro elemento, o paulista radicado na Espanha Pedro Autuori se tornou o elo com os músicos brasileiros.
Com voz de trovão, Fabiana Cozza era a única sambista de fato da escalação. "Pouco se entende, mas o ritmo é bom para dançar", disse Malena Montero, de cabelo roxo e ao menos meia dúzia de piercings em cada orelha.
Encerrando a noite, o rapper Renegado tornou ainda mais insolúveis (e, na mesma medida, desprezíveis) as barreiras linguísticas. Todos entenderam, certamente, seu grito de guerra: "A rua é nossa!". A Fuencarral. A Augusta. Todas.

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Recife desloca eixo criativo para Nordeste

Exposição na capital pernambucana leva medalhões do mercado à cidade que desponta no circuito nacional

Jovens artistas, como Aslan Cabral, Kilian Glasner e Bruno Vilela se definem como solares e selvagens Fonte: folha.uol.com.br 09/05

Solares e selvagens. Essas são as palavras que uma nova leva de artistas de Recife mais usam para definir a natureza do que fazem e suas vidas na cidade que vem roubando os holofotes do saturado eixo Rio-São Paulo.
Talvez porque mesmo na época das chuvas fortes, o calor não dá um minuto de trégua. "Isso dilata, não deprime os corpos", diz o artista Aslan Cabral à Folha. "A gente tem certa selvageria."
Ele é um dos nomes mais novos a engrossar uma leva de artistas de pegada um tanto visceral que despontou em Recife. Antes dele, Rodrigo Braga, hoje no Rio, já fazia performances sugerindo uma comunhão viril com aspectos da flora e fauna locais. Quer dizer, já costurou partes de um cachorro à própria cara, afundou em pântanos lamacentos com bodes e se cobriu de plantas e terra.
Nesse time, estão também artistas de fora que construíram seus trabalhos na capital pernambucana, como o alagoano Jonathas de Andrade, revelação que esteve na Bienal de São Paulo e foi um dos vencedores do último prêmio Marcantonio Vilaça, o gaúcho Cristiano Lenhardt e a artista paulista Violeta Cenzi.
Kilian Glasner, artista de Recife, não sente falta do movimento das metrópoles e diz que é possível montar o ateliê à beira da praia. Mas já viu que céu e mar, jangadas ao vento e outras paragens tropicais também estão ameaçados pela forte especulação imobiliária e o boom econômico que atinge a região.
"Isso que acontece aqui agora aconteceu em São Paulo há 30 anos", diz Glasner.
"A gente vive um momento de grande transformação."
É um ponto contraditório na evolução da cidade, já que Recife virou ao mesmo tempo um centro regional, que atrai artistas de fora, e gira em torno do mercado concentrado no Sudeste. "É receber pessoas do entorno e orbitar centros maiores", diz o artista Jeims Duarte. "Essa ambivalência nos domina."
Domina e acelera ao mesmo tempo. Lenhardt, por exemplo, diz que é por causa do mercado de arte emergente na cidade que artistas ali têm mais liberdade, sem sofrer a pressão das grandes e mais poderosas galerias.

BRASILIDADE
Essa mesma pujança está agora em Recife numa grande mostra do Santander Cultural. Arrebanhadas por seus rastros de brasilidade, estão lá obras dos artistas mais caros no mercado de arte atual.
Adriana Varejão, Cildo Meireles, Beatriz Milhazes e Ernesto Neto são algumas grifes de um elenco estelar.
Juntos, são artistas que desembarcam ali com o aval dos leilões e a fúria das feiras.
No vernissage, estavam todos esses jovens artistas recifenses, esperando a hora de entrar para a constelação.


O jornalista SILAS MARTÍ viajou a convite do Santander Cultural.

VESTÍGIOS DE BRASILIDADE
QUANDO de ter. a dom., das 13h às 20h; até 31/7
ONDE Santander Cultural (av. Rio Branco, 23, Recife, tel. 0/xx/81/ 3224-1110)
QUANTO grátis

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ONG Mães de Maio lança livro sobre ataques de 2006 em SP Fonte: folha.uol.com.br 09/05

A ONG Mães de Maio, criada por familiares de mortos por policiais em 2006, durante os ataques da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) em São Paulo, vai lançar no próximo dia 12 o livro "Mães de Maio - Do Luto à Luta", com a visão dos membros da entidade sobre os crimes de maio.

"Falta boa vontade para mostrar que, na suposta reação policial, inocentes foram mortos", diz Débora Maria da Silva, da ONG Mães de Maio, criada por familiares de mortos por policiais em 2006.

Estudo produzido pela ONG de defesa de direitos humanos Justiça Global e pela Clínica Internacional de Direitos Humanos da Faculdade de Direito de Harvard, uma das mais importantes dos EUA, aponta as três principais causas para as ações: corrupção policial contra membros do grupo, a falta de integração dos aparatos repressivos do Estado e a transferência que uniu 765 chefes do PCC, às vésperas do Dia das Mães de 2006, numa prisão de Presidente Venceslau (620 km de SP).

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EDUCAÇÃO

Autonomia sem foco Fonte: folha.uol.com.br 08/05 (EDITORIAL)



Com o objetivo declarado de aproximar o ensino médio dos interesses dos alunos e das necessidades do mercado de trabalho, o Conselho Nacional de Educação aprovou diretrizes para ampliar a autonomia das escolas na definição de seus currículos.
O documento aprovado por esse órgão consultivo do Ministério da Educação ainda precisa ser homologado pelo titular da pasta, Fernando Haddad. Uma vez em vigor, colégios de todo o país estarão autorizados a dar ênfase, na grade horária, a áreas específicas, como ciências naturais, de um lado, ou humanas, de outro.
São bem-vindas as tentativas de superar os entraves de uma etapa da formação escolar que, nos moldes atuais, já não atende às necessidades dos estudantes. As diretrizes partem de uma avaliação correta da realidade, mas ainda representam um esforço titubeante do Estado para enfrentar os dilemas da escola secundária.
O ensino médio apresenta a seus alunos uma gama enciclopédica de disciplinas, da física à sociologia, que deveria servir de base para os estudos superiores. Na prática, é inútil para quem não pretende ou não consegue fazer um curso universitário. Nas redes públicas, ainda prepara mal o aluno para enfrentar vestibulares.
O resultado é um persistente desinteresse dos adolescentes. Estudantes abandonam a escola e ingressam de maneira prematura no mercado de trabalho, em troca de baixos salários. Cerca de 15% dos jovens entre 15 e 17 anos deixam de frequentar as salas de aula.
As diretrizes do CNE representam uma carta de intenções para mudar essa realidade. O simples rearranjo da grade horária das disciplinas não será suficiente, no entanto, para alterar a percepção de muitos estudantes sobre a falta de relevância do ensino médio.
Falta treinar melhor os professores e aumentar sua eficiência na transmissão do conhecimento. Sem prejuízo da maior flexibilidade no currículo, é preciso impor padrões mínimos de conteúdo e métodos de ensino a todas as escolas, em todas as disciplinas.
Só uma escola que aumente a possibilidade de acesso à universidade ou ao mercado de trabalho será capaz de atrair e manter adolescentes nas salas de aula.

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GILBERTO DIMENSTEIN

O massacre da tarja preta

O relógio biológico da adolescência é diferente; o computador está tornando acordar cedo mais difícil Fonte: folha.uol.com.br 08/05



É UM MASSACRE da tarja preta contra crianças e adolescentes brasileiros, levados a tomar desnecessariamente remédios para supostos distúrbios psicológicos. Essa intoxicação tem respaldo de médicos, psicólogos, pais e professores.
Na semana passada, a Folha publicou a descoberta de psiquiatras e neurologistas da USP, Unicamp e Albert Einstein College of Medicine (EUA): 75% das crianças e adolescentes brasileiros que usam medicamentos tarja preta foram diagnosticados erroneamente como portadoras do chamado TDAH (Transtorno de Deficit de Atenção e Hiperatividade). A pesquisa será apresentada no final deste mês durante congresso na Alemanha.
Esse abuso bioquímico para controlar atitudes de crianças e adolescentes revela como os adultos têm dificuldade de entender e lidar com as novas gerações e até entender o mundo em que vivemos.

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Vive-se num ritmo hiperativo de produção e disseminação de conhecimento. Por conta das redes digitais, as crianças e os adolescentes já nascem conectados e com um pé no mundo. São bombardeados por informações e se sentem aptos a compartilhar e interferir sobre o que veem, ouvem ou sentem. Na era das mídias sociais, todos somos, em certo grau, comunicadores lidando simultaneamente com uma multiplicidade de dados e estímulos.
Saiu recentemente um livro intitulado "Blur" (desfocado em inglês), escrito por Bill Novak, ex-jornalista do "New York" e diretor de um centro de estudos de jornalismo em Harvard, em que se afirma o seguinte: "Em três anos se produziu no século 21 mais do que nos últimos 300 mil anos."

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É nesse ambiente que as crianças nascem e são treinadas, quase desde o berço, a jogar videogames cada vez mais velozes e complexos, o que, para muitos cientistas, desenvolve as habilidades cognitivas.
Esse universo hiperativo do virtual valoriza o presente, o agora, o já, tudo imediato, e se esvai com a velocidade de um novo aplicativo. Muito mais difícil ensinar coisas que não têm sentido imediato e que envolvem complexidades.
Existem até novas reações cerebrais. Mas tanta luminosidade das máquinas acaba gerando problemas. Existem evidências científicas mostrando que ficar de noite na frente da luz do computador atrapalha o sono, mexendo nos hormônios. O relógio biológico da adolescência já é naturalmente diferente; o computador está tornando acordar cedo ainda mais complicado.

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Por que um estudante, acostumado com a interatividade e compartilhamento de informações, ficará tranquilo numa sala de aula com baixa interatividade, ouvindo o professor despejar conteúdos que não lhe fazem sentido?
Interessante que o Conselho Nacional de Educação tenha lançando, na semana passada, novas diretrizes para que o ensino médio seja estruturado em quatro eixos adaptáveis para cada local: cultura, ciência, tecnologia e trabalho. Além disso, parte das aulas pode ser dada a distância.
É um ensaio de ruptura com o obsoleto. Lembremos que a escola como conhecemos foi criada exatamente no tempo das chaminés, mirando-se na estrutura das indústrias, compartimentalizadas em departamentos separados. Até a sirene veio dali. O que se discute hoje é até que ponto os sistemas de avaliação, evidentemente necessários, não estão baseados na era da chaminé.

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Até as universidades mais sofisticadas do mundo estão mudando suas práticas para cultivar seus alunos, estimulando mais a experimentação, montagem de projetos e trabalho em equipe. São desenvolvidos laboratórios apenas para desenvolver o empreendedorismo. Não são poucos os ícones da inovação que não conseguiram acabar seus cursos como Steve Jobs, Paul Allen, Mark Zuckerberg, e por aí vai.

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Minha suspeita é de que essa medicação de tarja preta não seja uma solução para tratar um problema que, em muitos casos, é real, mas sim para colocar a disciplina acima da criatividade.
Como dizia Einstein, apontado como portador de distúrbio de atenção, para quem educar é estimular a imaginação ("mais importante do que conhecimento é a imaginação"), loucura é fazer sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes. Quem sabe se ele nascesse hoje não seria mais um medicado com tarja preta.

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PS- Estou desenvolvendo aqui, numa parceria entre Harvard e MIT, um projeto que mistura educação, comunicação e urbanismo; seu foco é ajudar a desenvolver comunidades de aprendizagem, na busca de um jeito de fazer das cidades um meio que estimule a imaginação. O projeto entrou no ar na semana passada para colher críticas e sugestões (opencitylabs.org). Agradeço às contribuições dos leitores.

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Código Florestal: pressa é inimiga do futuro

IVAN VALENTE

A tentativa de flexibilização da legislação ambiental dará a Estados e municípios uma autonomia que trabalha a favor do agronegócio do país

Fonte: folha.uol.com.br 09/05



O projeto do novo Código Florestal, se aprovado, significará um brutal retrocesso na proteção do meio ambiente e da biodiversidade.
Basta olhar para o resultado da ocupação irregular das áreas de preservação permanente (APPs) nas tragédias no Rio de Janeiro para ter a dimensão da irresponsabilidade de reduzir tais áreas, como defende o relatório de Aldo Rebelo.
O projeto também sobrepõe as APPs à reserva legal, porção de terra de mata nativa, ignorando que cada uma cumpre funções específicas, que valorizam a propriedade.
Segundo a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), sua preservação possibilitaria inclusive aumento na produtividade agrícola. Nas plantações de soja, a produção poderia ser até 50% maior com a ajuda da polinização.
As propriedades rurais de até quatro módulos fiscais -90% dos imóveis rurais do Brasil- também ficam desobrigadas de recompor a área de reserva legal, aumentando o desmatamento em até 70 milhões de hectares. O impacto é altamente negativo, sobretudo para o efeito estufa, cuja redução está entre os compromissos internacionais assumidos pelo Brasil.
Para os ruralistas, ampliar a competição internacional justificaria a ocupação de todas essas áreas.
Inúmeras pesquisas demonstram, no entanto, que, sem ferir a legislação e as florestas, há terras e técnicas de produtividade suficientes para elevar a produção.
Na votação do relatório na comissão especial, todas as entidades representantes da pequena propriedade e da agricultura familiar se posicionaram contra as mudanças. Sabem que o grande agronegócio exportador é o maior interessado na alteração do Código Florestal e que, na realidade, os grandes proprietários se arrogam a falar em nome dos pequenos.
O texto reformulado também anistia os desmatadores que cometeram infrações até julho de 2008.
Argumenta-se que 90% das propriedades estão irregulares, mas há uma questão pedagógica em jogo.
Desde 1999, está em vigor a Lei de Crimes Ambientais, e a legislação já concede o prazo de 30 anos para uma propriedade recuperar o que devastou. O constante desrespeito ao Código vigente se dá pela certeza da impunidade.
O Estado deveria, ao contrário, estimular a recomposição das áreas e recompensar a preservação com o pagamento de serviços ambientais à agricultura familiar.
A tentativa de flexibilização da legislação ambiental nacional dará ainda a Estados e municípios uma superautonomia, que trabalha a favor do agronegócio e da especulação imobiliária nas cidades.
A questão é complexa e merece ser melhor analisada, como pediram o Ministério Público, a OAB e a SBPC. A tramitação açodada do texto, à luz da pressão de interesses imediatistas, significa negar o direito à participação da população em uma discussão que interessa a todos e que pode comprometer o futuro de inúmeras gerações.

IVAN VALENTE, engenheiro mecânico, é deputado federal pelo PSOL-SP e membro da Frente Parlamentar Ambientalista.Foi relator na Câmara de Negociação do Código Florestal.

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