domingo, 8 de maio de 2011

LANÇAMENTO

Americano no cordel

RETRATO DO BRASIL EM CORDEL
De Mark Curran. Ateliê Editorial, 368 páginas. R$ 70.
Fonte: correioweb.com.br 08/05

A literatura de cordel, uma atividade artística tipicamente brasileira e nordestina, pareceria exótica a um estrangeiro. Não ao norte-americano Mark Curran, que chega, com Retrato do Brasil em cordel (Ateliê Editorial), ao décimo livro dedicado ao tema — sem levar em consideração os 25 artigos publicados em revistas especializadas. O interesse foi despertado no começo dos anos 1960, quando ele se preparava para defender uma tese de doutorado com foco em estudos latino-americanos e literatura brasileira na Saint Louis University, no estado do Missouri. Em uma aula, a professora levou para a classe romances populares, escritos em verso. “Daí ganhei uma bolsa de estudos para o Brasil pela Fulbright, em 1966, e o tema foi literatura popular em verso, o cordel, e sua relação com a literatura erudita brasileira. Nunca sonhei que tudo fosse terminar em paixão e vocação acadêmica durante 45 anos”, conta o pesquisador.

Além do carinho pela nação que já visitou em 20 longas viagens, Curran estabelece conexões do cordel com a sua experiência nos Estados Unidos. “Passei a juventude na vila de Abilene, no estado do Kansas, vila rural famosa pelas vaquejadas e boiadas vindas do Texas, trazendo o gado para a estrada de ferro de Abilene, rumo ao leste”, revela.

Ele até já arriscou alguns versos na língua mãe, mas, como a tentativa não deu certo, preferiu permanecer como estudioso. “Descobri que não sou poeta. Mas, felizmente, tive a possibilidade de poder apreciar essa arte e escrever sobre ela. Não sou crítico literário, mas me informei. Por isso, me atrevi a contar a história do cordel no livro”, explica o autor. Na obra, editada com farto número de imagens, ele explora as matrizes do cordel, as formas assumidas durante os anos e a influência herdada das questões religiosas, da realidade social no Nordeste e da sátira de costumes.

Limites
O escritor considera o cordel “uma epopeia folclórica-popular” e um retrato “não oficial” do país que extrapolou os limites dos folhetos. “Ficou conhecido indiretamente nos grandes autores e nas grandes obras que tomaram emprestados elementos dele: romances de José Lins do Rego, Rachel de Queiroz, Jorge Amado, dramas de Ariano Suassuna, Dias Gomes, da poesia de João Cabral de Melo Neto. E indiretamente pelas novelas de tevê. A lista é longa”, observa.

Passeando em mercados e feiras ou até visitando a casa de alguns poetas, Curran encontrou simplicidade e uma humanidade cativante. “Eles me mostraram a maior hospitalidade, muitas vezes além de suas possibilidades. Quase todos acreditavam ter o dom do verso e de uma maneira um tanto inefável serem representantes do povo”, analisa.

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Revolução filmada

No documentário Rock Brasília, que chega às telas em setembro, Vladimir Carvalho conta a história da geração brasiliense que invadiu e transformou a música brasileira Fonte: correioweb.com.br 08/05

O estádio Mané Garrincha havia se transformado num território selvagem, um campo de fúria e rock ‘n’ roll, quando Vladimir Carvalho entrou nos vestiários com uma câmera. Tropeçou em imagens que ainda provocam certo espanto. “Parecia uma grande enfermaria”, conta o cineasta. “Era muita gente machucada, um clima de terror”, lembra. Era 18 de junho de 1988. Minutos antes, no palco de 28 metros, diante de uma multidão indócil, Renato Russo era atacado por um fã, que agarrou o vocalista da Legião Urbana pelas costas. Antes, durante e depois do vendaval, o documentarista estava a postos: conservou as cenas da performance trágica — e crucial, já que a banda não voltaria a se apresentar por aqui — como quem protege uma relíquia. “Quando revi o material, percebi a dimensão toda: aquele momento havia entrado para a história.”

Arquivadas por 23 anos, essas e outras “faixas secretas” finalmente serão desvendadas no documentário Rock Brasília — Era de ouro. Com lançamento previsto para o início de setembro, o longa-metragem apresenta uma faceta pouco conhecida do diretor: o cronista da arte brasiliense. “Eu acho que este filme vem completar uma trilogia. Narrei a construção da cidade (em Conterrâneos velhos de guerra, 1991), a invasão dos militares na Universidade de Brasília (Barra 68, 2000) e agora vou à cultura de Brasília”, explica.

Uma aventura instigada pela curiosidade. Em 1987, nas aulas de documentário, os alunos da UnB volta e meia sugeriam o tema. Mas, acima de tudo, havia um certo ruído no ar do cerrado. “Lembro-me das polêmicas no edifício Radio Center, onde as bandas ensaiavam. O que tinha de médico e advogado reclamando da barulheira...”, conta o paraibano de Itabaiana, há 40 anos em Brasília.

No ano do lançamento do disco Que país é esse, 1987, Vladimir notou que seria impossível ignorar as guitarras. “Quando pintava alguma coisa, eu ia lá registrar”, lembra. Foi assim, gravando a construção de uma saga, que o diretor colecionou cenas de shows da Legião, do Capital Inicial (na abertura de concerto do Sting) e da Plebe Rude (na boate Zoom, em 1988), além de entrevistas com Renato Russo, Herbert Vianna, Fê e Flávio Lemos. Esse arquivo, de cerca de 10 horas, sustentou os planos de transformar essa pesquisa num documentário para ser exibido nos cinemas.

Mas a maquete só ganhou robustez há dois anos, quando o produtor Marcus Ligocki, de produções como As vidas de Maria e a série de tevê Cidades imaginárias, entrou em cena.

Palco
Na época do tumulto no Mané Garrincha, Ligocki tinha 16 anos. Não foi ao show da Legião. Mas acompanhou de perto — às vezes, perto demais — uma fase seguinte do rock brasiliense. Era comum vê-lo carregando equipamentos e dando uma força em shows dos amigos roqueiros. “Se eu tivesse algum talento para música, com certeza estaria num palco”, comenta. Depois de ler a biografia Renato Russo — O filho da revolução (Editora Agir, 2009), do jornalista Carlos Marcelo, ele viu na trajetória do cantor uma boa premissa de filme. Telefonou para Vladimir e, só então, descobriu que o diretor nutria o projeto de Rock Brasília. A partir daquele encontro, o filme tomou a velocidade de uma canção punk.

Restaurar e ordenar imagens antigas não era, no entanto, o único objetivo. Com recursos do FAC, Vladimir alternou passado e presente ao entrevistar 30 personalidades, que comentam a influência da geração 1980 — entre elas, Caetano Veloso e Dinho Ouro Preto. Para afinar o tom da narrativa, Vladimir seguiu um “conselho” do próprio Renato Russo: contar a história da turma. “Acho que é um filme bastante simples, sem firulas, narrado da forma mais clara possível”, descreve. “É uma crônica com lances de saga”, observa. Isso porque, na trajetória dos roqueiros da capital, o diretor vê acordes épicos. Uma odisseia com um quê de Ulisses, o mito grego. “Eles foram para a batalha, várias batalhas. Esses rapazes nos ensinaram uma lição.”

Elvis e Russo
Quando conversa sobre rock, Vladimir não se arrisca a analisar aspectos técnicos. “De Mozart a baião, gosto de tudo. Mas não tenho ouvido para música”, avisa. As lembranças sonoras, no entanto, são muitas e longínquas. Nessa jukebox sentimental, cabem Elvis Presley, Bill Haley and the Comets e Jovem Guarda. O pós-punk produzido em Brasília, porém, ganha um enquadramento mais largo ao amplificar a rebeldia e o descontentamento de uma geração que estava lá quando a ditadura militar começou a ruir. “O protesto político estava no inconsciente deles”, observa. “Eu os vejo através do filme como vitoriosos. O documentário mostra o fim de um ciclo e o começo de outro. E de uma forma bem positiva, mas sem a babaquice dos otimismos. A luta continua”, decreta.
Com pouco menos de duas horas de duração, o filme já está na fase final de produção. O orçamento, diz o produtor, é modesto, mas ainda não foi fechado. Há imagens, por exemplo, que estão em fase de restauro. A meta, ainda assim, é inscrevê-lo no Festival de Paulínia (SP), em julho. A participação no Festival de Brasília, portanto, está descartada por uma questão comercial: a estratégia é distribuir o longa antes das fitas de ficção Faroeste caboclo, de René Sampaio, e Somos tão jovens, de Antonio Carlos da Fontoura, que investem no legado de Renato Russo.

“Seria uma glória entrar com o filme no Festival de Brasília, mas guardá-lo por tanto tempo iria contra a economia do cinema. Talvez se alguém de bom senso eliminar a exigência tão rígida de ineditismo”, provoca Vladimir, que se diz estimulado por lançar o projeto numa temporada quente para o tema. “É uma sorte para os três filmes. E pode representar o início de uma nova ‘era de ouro’ para o rock de Brasília”, prevê.

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Argentina estuda pensão a escritores

Projeto é debatido há anos por sociedade de autores; deputado governista apresentou texto ao Congresso

Medida deve ser votada após as eleições em outubro; contribuição poderá chegar a valor equivalente a R$ 1 mil
Fonte: folha.uol.com.br 07/05



A Argentina quer instituir uma pensão social para escritores. A ideia, inspirada em leis aprovadas na França e na Espanha, é defendida há anos por um grupo de escritores do país.
A pressão é tanta que já são dois projetos -quase similares- em trâmite no Senado. "Com a barriga vazia, o escritor não escreve", diz o poeta Miroslav Scheuba, coordenador da Sociedade Argentina de Escritores. "Como escritores são boêmios, não economizam e acabam sem nada", completa.
A entidade já conseguiu aprovar o projeto em Buenos Aires, em 2009. São 100 escritores beneficiados, que recebem por mês 2.650 pesos -cerca de R$ 1.080. A prefeitura da cidade analisa atualmente o pedido de pensão de outros 30 autores.
Pelos cálculos do governo, no âmbito federal, seriam quase mil beneficiados.
Os requisitos para o autor postular à pensão é não ter fonte de renda -ou tê-la menor que o valor da bolsa-escritor. É necessário ter mais de 60 anos, ter se dedicado mais de 20 anos à atividade literária ou publicado mais de cinco livros. Outro quesito essencial é morar há pelo menos 15 anos na Argentina.
No final de abril, o deputado governista Carlos Heller apresentou um outro projeto com quase as mesmas propostas. A diferença é que a idade mínima para receber a pensão é de 65 anos, e o escritor necessita ter contribuído pelo menos 15 anos com a previdência.
"A finalidade é dar uma retribuição e reparar as situações de injustiça e descuido", conta Heller.
Em 2007 e 2008, respectivamente, morreram os escritores argentinos Ruth Fernández e José Luis Mangieri. Estavam em dificuldades e desamparados, dizem os defensores do projeto.
Julio Cortázar e Jorge Luis Borges tiveram vida regrada. Em Paris, onde viveu, Cortázar trabalhou com traduções.
Borges chegou a fazer graça de sua situação financeira precária. Certa vez, ele comentou sobre um sapato usado que ganhou de presente da primeira mulher: "Não eram sapatos de segunda mão, eram sapatos de segundo pé".

VOZ CONTRÁRIA
Segundo os escritores engajados na causa, o governo aprova a ideia. Mas o projeto deve ser votado somente em outubro, depois das eleição presidencial.
Contra o projeto, um dos principais nomes da literatura contemporânea da Argentina, Cesar Aira, diz: "Faz tempo que se discute isso por aqui. Sou contra".
Aira comenta o caso do México, onde uma lei garante a qualquer pessoa maior de 18 anos, após escrever um livro, pensão vitalícia do Estado. "Não acredito que isso seja bom para a literatura."

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Gabriel, o pensador

O autor, que diz já ter vendido mais de dez milhões de livros e que cobra R$ 25 mil por palestra para entidades privadas, mira seu próximo alvo, a Prefeitura de SP
Fonte: folha.uol.com.br 07/05



Cinquenta e quatro livros lançados e dez milhões de unidades vendidas, segundo suas próprias contas, a um preço médio de R$ 35. Palestras a R$ 25 mil o cachê, disputadas a tapa por estudantes e senhoras.
Apartamento duplex de 1.000 m2 estimado em R$ 8 milhões, no coração do bairro do Higienópolis, com piano de cauda e academia própria. Terceira maior votação para deputado do país, com mais de meio milhão, atrás apenas de Tiririca e Anthony Garotinho.
E isso é só o começo.
Aos 42, Gabriel Chalita, natural de Cachoeira Paulista (SP), de ascendência árabe e vindo de uma infância modesta e religiosa, se prepara para lançar candidatura à Prefeitura de São Paulo, pelo PMDB. Nos bastidores, isso já é dado como certo.
Seu currículo é singular e não se encaixa facilmente em nenhum rótulo. Ex-secretário de Educação de Geraldo Alckmin, é graduado em direito e em filosofia e tem dois mestrados e dois doutorados pela PUC-SP.
Define-se como poeta, filósofo, contista, autor infantil, católico praticante (hoje ligado à comunidade carismática Canção Nova), mas acima de tudo, professor -atividade que mantém semanalmente na graduação e na pós daquela universidade e do Mackenzie. E também ocasionalmente na Casa do Saber, da qual é sócio.
Ao receber a Folha, poucos dias depois de ter acompanhado a beatificação de João Paulo 2º em Roma, suas primeiras palavras foram a respeito da reedição de seu livro "Estações" e da amizade que mantém com a escritora Lygia Fagundes Telles -tema que retomou ao longo da entrevista, na tentativa de desconstruir a crítica recorrente de que se trata de um autor de autoajuda.
"Estações" é o título de que Lygia mais gosta. Ela diz que ou eu estava apaixonado, ou sofrendo de paixão".
Em seguida, enquanto posava para as fotos, afirmou: "Esses árabes bonitos são fáceis de fotografar".

Folha - Em que estante deveriam aparecer seus livros? Filosofia ou autoajuda?
Gabriel Chalita - Não sou um autor de autoajuda. Isso é herança de quando o Serra brigou comigo. Tentou me desconstruir intelectualmente. De repente, acionou todos os seus amigos e blogueiros. Eu era o geniozinho e virei o escritor de autoajuda. Mas tudo que escrevo tem um enfoque filosófico.


E a religião?
Sou praticante. Mas não sou uma pessoa religiosa cheia de dogmas. Dialogo com as diferentes áreas da religião e inclusive outras religiões. Vi umas dez vezes a peça "A Alma Imoral", do rabino Nilton Bonder.


Que pensa do aborto?
Sou contra o aborto. Sou um defensor ardoroso do direito à vida. Há bens inalienáveis, como a vida.


Acha que Dilma e Serra também são contra ou foi apenas um jogo de cena?
Não sei. Nas conversas com a Dilma, ela dizia que os ricos fazem e os pobres não, daí a injustiça. O Serra acho que era mais favorável.


Que pensa da união civil entre homossexuais?
Historicamente, a Igreja não faz casamento entre duas pessoas do mesmo sexo. Outra coisa é a vertente jurídica. Duas pessoas do mesmo sexo podem ser sócias, ter uma relação afetiva. Sou favorável a isso. Não digo que sou favorável ao casamento. Agora, à união civil, o Estado não pode ser contrário. Isso é um horror.


Só no ano de 2010 foram oito livros. Como consegue ser tão prolixo? Trabalha com "ghost writer"?
É que deve ter muito livro infantil aí. O livro que fiz com o Mauricio de Sousa, por exemplo, escrevi no avião em uma viagem de São Paulo a Natal. O "Pedagogia do Amor", escrevi em 15 dias. "A Ética do Menino" foi no Réveillon. Estava na casa de Ângela Gutierrez em Salvador. A Milu Vilella sentou ao meu lado e disse: "Deixe-me ver como você escreve".


O que você está escrevendo agora, a propósito?
Estou com um projeto sobre correspondências imaginárias entre Sócrates e Thomas More. Em dez dias nos EUA, quase acabei.


Você escreveu de cabeça, sem pesquisa?
De cabeça, porque na verdade meu Sócrates é um camponês e meu More é professor. Então, eu pego conceitos filosóficos, mas são diálogos. Adoro escrever cartas. Ficção com base epistolar é muito bonita.


Como funciona seu processo de criação?
Faço associações. Por exemplo, os rituais macabros com albinos na Tanzânia que menciono em um livro. Fiquei sabendo disso no Congresso. E eu adoro o "Navio Negreiro", daí eu pego a coisa da Tanzânia, e penso no pássaro que o Castro Alves imaginava sobre aquela nau, vendo aquele sofrimento. Então, eu vou buscar o Castro Alves e coloco lá.


Quais são suas ambições daqui em diante?
Vou dar uma resposta aristotélica: ser feliz [risos]. Gosto de tudo o que faço. Agora tem essa história de ser candidato a prefeito de SP -está surgindo essa oportunidade. Fico imaginando o que faria como prefeito, tenho o maior tesão nisso.


Como define politicamente seu pensamento?
As políticas sociais são fundamentais, por isso estou mais à esquerda. Acho que as grandes conquistas do governo Lula foram trazer a emoção para a política e tentar tirar as pessoas da miséria.

E FHC?
Tenho admiração pelo FHC. E pelo Lula. Acho que eles são mais semelhantes do que diferentes. Mas tem uma coisa em que os tucanos erraram muito: eles achavam que era impossível fazer o sonho brasileiro. E o Lula acha que é possível.


Se arrepende de algo?
Confiei em pessoas em quem não deveria. Mas tento corrigir erros. Por exemplo, acho que entrei no partido errado. Quando fui para o PSB, imaginava uma coisa. Cheguei lá e não era aquilo. Como vou ficar, se é uma coisa em que não acredito?


Qual o seu personagem de ficção favorito?
Dom Quixote. Tenho admiração por essa pessoa que consegue ver além, colocar poesia naquilo que faz.

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Autor é espécie de "Kenny G" da literatura Fonte: folha.uol.com.br 07/05




Até revendedoras Avon vendem livros de Chalita.
Centenas de milhares de unidades também foram negociadas via telefone ou internet por meio do "call center" da comunidade Canção Nova. Mas o grosso mesmo vem das livrarias.
A obra de Chalita compreende os universos didático, jurídico, infantojuvenil e filosófico, além de contos e poemas. O bom-mocismo é onipresente. Como as sucessivas citações de autores consagrados, que vão de Machado a Aristóteles.
É quase lugar-comum associar seus livros a uma leitura rasa e a um português insosso.
O jornalista Mario Sergio Conti chegou a escrever: "Enfrentei os livros. Das primeiras às últimas páginas. Com dificuldade. Não tenho o que declarar a respeito deles. Não se prestam à análise. De nenhum tipo: filosófica, estilística, sociológica, literária".
A obra de Chalita está para a literatura como Romero Britto para as artes ou Kenny G para a música.

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Tony Kushner lança visão humanista sobre afegãos

Texto utiliza drama familiar para tratar de macrocosmo político e cultural

Peça do premiado norte-americano aproxima Ocidente e Oriente e foi tida como presságio dos atuais conflitos globais

"Casa/Cabul", peça inédita do norte-americano Tony Kushner, estreia hoje e coloca em cena ambiguidades das tradições culturais, contrapondo Oriente e Ocidente.
Foi concluída antes dos ataques de 11 de Setembro, e se tornou um presságio para os acontecimentos políticos e sociais que chacoalharam o mundo nos últimos anos.
Segunda peça a ser montada no país do ganhador do Prêmio Pulitzer (por "Angels in America"), a obra lança um olhar imparcial sobre povos e crenças, comportamentos e costumes nas diferenças entre ingleses e afegãos.
"O autor não deixa de aprofundar conflitos e paradoxos em nenhum dos personagens, mesmo nos coadjuvantes", diz o diretor e tradutor Zé Henrique de Paula.
Kushner discute sobre altruísmo ao sobrepor jornadas: a de uma dona de casa inglesa em direção a Cabul, a de uma bibliotecária afegã rumo à cultura ocidental e a de uma filha que busca reencontrar sua mãe.
"Fiquei encantado com a visão humanista do autor, que já em "Angels in America" mostrava encarar o planeta como um palco de conflitos culturais, religiosos, étnicos e interpessoais", diz Paula.
"Em nenhum momento Kushner é panfletário ou aponta de quem é a responsabilidade", avalia o ator Sergio Mastropasqua.
O espetáculo foi escrito em tempos distintos, 1997 e 1999. O monólogo inicial, de cerca de 50 minutos, chegou a ser apresentado nos EUA como uma obra autônoma.
Nele, uma verborrágica dona de casa inglesa (interpretada por Chris Couto) faz digressões sobre sua vida enfadonha e discorre sobre Cabul, demonstrando obsessão pela cidade onde sua mente encontra refúgio.
O segundo ato desenvolve temas introduzidos no primeiro. O Afeganistão deixa de ser um país imaginário para tornar-se realidade. A dona de casa desaparece. Em busca de seu paradeiro, sua família parte para Cabul.
Kushner tange o universal partindo de um drama familiar. "É como se pegasse uma lente e fosse abrindo até você ver algo maior: uma nação, um continente", diz Paula.
Sintonizado com a visão de mundo do autor, ele concebe um cenário que se reorganiza e apresenta a todo momento novos pontos de vistas ao espectador.
Objetos se transformam, adquirindo significados.
Uma mesa usada na cena inicial, por exemplo, vira um banco na segunda parte da peça: "A partir dos mesmos elementos cênicos, construo diferentes realidades".


CASA/CABUL
QUANDO sex. e sáb., às 21h, e dom., às 18h; até 12/6 ONDE Sesc Santana (av. Luís Dumont Villares, 579 , tel.0/xx/ 11/2971-8700)
QUANTO de R$ 5 a R$ 20
CLASSIFICAÇÃO 14 anos

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Mahler será destaque de Campos do Jordão

Orquestras de Minas e do Porto tocarão no evento

JOÃO BATISTA NATALI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O 42º Festival de Inverno de Campos do Jordão terá 55 concertos entre 1º e 24 de julho, com algumas atrações excepcionais, como duas sinfonias de Gustav Mahler: a "Quarta", no dia 17, pela Filarmônica de Minas, e a "Quinta", no dia 23, pela Orquestra do Porto (Portugal).
O violinista e maestro israelense Pinchas Zukerman se apresentará com seu quarteto, e o violoncelista Antonio Meneses será o solista da Petrobrás Sinfônica, regida por Isaac Karabtchevsky, no "Concerto para Violoncelo", de Dvorak.
A Orquestra Acadêmica, formada pelos jovens bolsistas do festival, se apresentará entre 19 e 23 por quatro cidades -Piracicaba, Santos, Jundiaí e Santo André-, antes de fazer a última récita, no dia 24, na Sala São Paulo. Ela será regida por Cláudio Cruz, spalla da Osesp e regente titular da Sinfônica de Ribeirão Preto. O solista será José Feghali, no "Concerto nº 5", de Beethoven.
O festival será aberto em São Paulo no dia 1º, em récita gratuita na igreja do Colégio São Luís, com três dos "Concertos de Brandenburgo", de Bach, regidos por Luiz Otavio Santos. No dia seguinte, no auditório Cláudio Santoro, já em Campos do Jordão, a Osesp se apresenta, regida por Frank Shipway.
O secretário da Cultura do Estado, Andrea Matarazzo, disse que, para este ano, o festival registra uma pequena redução em seu orçamento: R$ 5,1 milhões, em lugar dos R$ 5,6 milhões no ano passado. O governo estadual manteve sua dotação, mas a diminuição veio dos patrocinadores privados.
Paulo Zuben, diretor artístico-pedagógico da Santa Marcelina Cultura, responsável pelo festival, disse que os concertos no ano passado foram 80. Mas os 55 deste ano superam os 43 de 2009.
Já se inscreveram para as duas semanas de atividades didáticas 164 bolsistas. As inscrições estarão abertas até às 12h de segunda-feira e podem ser feitas em festival
camposdojordao.org.br.

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DITADURA

Delírios da censura

Documentos da Aeronáutica, obtidos pelo Correio, mostram que o regime militar tentou desqualificar a peça Abajour lilás, de Plínio Marcos, distribuindo cópias da obra para avaliação dos subordinados e suas famílias Fonte: correioweb.com.br 08/05

Incomodado com a pressão da imprensa, dos artistas e dos intelectuais que contestavam o cerceamento imposto pela censura durante a década de 1970, o regime militar decidiu adotar um procedimento diferente ao avaliar a produção cultural naquele período. E o primeiro teste ocorreu em setembro de 1975, com a peça Abajour lilás, de Plínio Marcos. Dias antes, o autor havia protestado na Comissão de Comunicação da Câmara contra a não liberação de sua obra e a criação do Conselho Federal de Censura. Os militares decidiram que o roteiro da peça seria lido para seus subordinados, que depois o discutiriam com seus familiares e, dessa forma, teriam respaldo para justificar a proibição, alegando que se tratava realmente de um material pornográfico.

Um documento reservado, produzido pelo Centro de Informações da Aeronáutica (Cisa), mostra um certo incômodo da ditadura com as manifestações contra a proibição de algumas produções. “Manifestaram-se sobre esse assunto com perseverança cotidiana, jornalistas, educadores, sociólogos, escritores, religiosos, deputados, senadores, artistas, autores, cineastas, intelectuais, pseudos-intelectuais, comunistas, cripto-comunistas, compositores e estudantes, condenando a censura, reverberando contra a censura, acusando o governo de querer amordaçar a cultura, taxando a censura de instrumento da ditadura”, relatam os analistas do Cisa. “A julgar pelo que se lê nos jornais, que a extinção de censura encontra respaldo popular”, acrescenta a análise.

A discussão estava sendo feita por causa da possível criação do Conselho Federal de Censura e das declarações de Plínio Marcos sobre a proibição de sua peça teatral. O autor declarou que só poderia aceitar o veto se ele fosse do povo que vai ao teatro e tem capacidade para julgar o que é encenado. Segundo o relatório do Cisa, o protesto de Plínio ganhou o apoio de algumas personalidades do mundo da cultura e da política, como do embaixador Paschoal Carlos Magno. “É uma perfídia, uma patifaria e uma safadeza o que estão fazendo com este autor”, teria declarado o diplomata, conforme o documento.

Para conquistar respaldo popular, os militares optaram por uma estratégica diferente. A área de informações enviou para outros integrantes da corporação uma cópia da peça Abajour lilás, uma encenação que se passava em um bordel, o que motivou a proibição. “A amostra enviada espelha o que é a constante em toda a peça que se passa em um prostíbulo: a desavença entre prostitutas e o pederasta dono da casa de tolerância”, explicaram os censores. E justificaram o envio: “Solicita-se aos srs. comandantes a possibilidade de reunirem seus oficiais, suboficiais e sargentos, e após uma introdução que pode ser baseada na informação, determinarem que seja a peça teatral lida para os militares reunidos”.

Palavrões
Na cópia do roteiro haviam palavras marcadas, principalmente palavrões ou sobre sexo, que deveriam ser mostrados pelos militares a seus subordinados. “Sugere-se que após a leitura, sejam os ouvintes consultados se achariam razoável que suas famílias, ou a família de quem quer que seja, assistisse a esta peça, que a julgar pelo título “Abajour lilás”, nada teria de inconveniente”, ressalta o informe da Aeronáutica, acrescentando que o assunto deveria ser debatido em outros lugares. “Sugere-se, outrossim, que se recomende aos mesmos ouvintes que comentem em casa e com seus amigos civis, que esta peça é sumamente pornográfica, mas que mesmo assim, seu autor não a admite ser censurada, “porque toda a censura é imoral”.

A censura de Abajour lilás — por ter sido considerada um atentado à moral e aos bons costumes — provocou uma grande mobilização da classe artística do país em favor de sua liberação. Entretanto, ela só foi encenada, sem cortes, em 1980, com boa recepção crítica na época e até hoje figura entre as melhores peças escritas por Plínio Marcos.

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ELEIÇÕES 2010

Construtoras lideram ranking das doações

Dados divulgados pelo TSE mostram que as empresas do setor repassaram R$ 156 milhões aos quatro principais partidos na disputa do ano passado. PT foi o que mais recebeu Fonte: correioweb.com.br 08/05

As empreiteiras lideram o ranking das empresas doadoras de recursos para os diretórios nacionais de partidos no ano passado, quando foram disputadas eleições para a Presidência da República, governos estaduais, Senado e câmaras federal, estaduais e distrital. Os dados são do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Juntos, PT, PSDB, PMDB e DEM receberam R$ 391,1 milhões do setor privado. O campeão em arrecadação foi o PT, com R$ 176,8 milhões.

A Construtora Andrade Gutierrez foi a mais generosa. Figura no topo dos principais doadores. O maior beneficiado pela empreiteira é o PMDB, com R$ 20,4 milhões. Em seguida, vem o PSDB, com R$ 15 milhões. O PT, que venceu as eleições para a Presidência com o PMDB de vice, ficou em terceiro, com R$ 11,9 milhões.

Assim como a Andrade Gutierrez, outras construtoras optaram em não concentrar doações em um ou outro partido, e pulverizaram recursos para a eleição de candidatos das principais legendas do país. A Queiroz Galvão, por exemplo, repassou R$ 10,1 milhões ao PT; R$ 4,3 milhões para o PMDB; e R$ 3,6 milhões aos tucanos. O dinheiro doado aos diretórios nacionais das legendas pode ser repassado a todas as candidaturas, nos planos estadual e federal.

A OAS seguiu o mesmo caminho. Repassou R$ 3,6 milhões para o PSDB; R$ 3,5 milhões para o PMDB; e R$ 7,4 milhões aos petistas. O PT, apesar de ter recebido menos recursos da Andrade Gutierrez, foi o que mais viu entrar em seu caixa recursos doados pelo conjunto das empresas do setor, que repassaram R$ 61,6 milhões à legenda de Dilma Rousseff no ano passado. O PSDB recebeu R$ 49 milhões e o PMDB R$ 40,7 milhões.

Em segundo lugar no ranking dos grandes doadores para partidos no ano passado estão os bancos, que repassaram, ao todo, R$ 60 milhões para as quatro principais legendas em 2010. Da mesma forma que ocorreu com as empreiteiras, o PT ficou com a maior parte dos recursos doados pelos bancos, R$ 23,3 milhões no total. O PSDB ficou com R$ 16,2 milhões, o DEM com R$ 10,4 milhões e o PMDB com R$ 10,1 milhões.

O Banco Alvorada é o maior doador do setor. Foram R$ 8,7 milhões para o PSDB; R$ 5,3 milhões para o PMDB; R$ 4,6 milhões para o PT; e R$ 2,5 milhões para o DEM. O Santander tentou ser mais democrático. Repassou R$ 2 milhões para PT e PSDB (R$ 4 milhões no total); e R$ 1,5 milhão para DEM e PMDB (R$ 3 milhões no total).

Família
O Banco Cruzeiro do Sul, que pertence a Luís Octávio Índio da Costa, primo do ex-deputado federal Índio da Costa, indicado a vice-presidente da República na chapa de José Serra (PSDB), doou mais recursos para o partido rival do parente nas eleições do ano passado. A empresa repassou R$ 2,1 milhões ao partido de Dilma, contra R$ 1,5 milhão para os tucanos. À época, Índio era do DEM, partido do qual pediu desfiliação para seguir para o PSD, sigla recém-criada pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab.

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