segunda-feira, 2 de maio de 2011

As cores da Revolução

Bienal de Veneza homenageia artista morto em fevereiro no Egito, e mostra em São Paulo destaca a arte do conflito Fonte: folha.uol.com.br 02/05

No dia depois da queda do ditador egípcio Hosni Mubarak, deposto em fevereiro a um custo de 300 mortes, começou a limpeza da praça Tahrir, epicentro da revolta no Cairo. Tentavam devolver a ordem, apagando marcas da revolução, entre elas pichações e desenhos nas ruas. Um rosto estampado nos muros era o de Ahmed Bassiouny, artista morto ao filmar os conflitos que puseram fim à ditadura.
Sua obra, ao contrário da cara apagada na faxina, vai estar no pavilhão egípcio da Bienal de Veneza no mês que vem -reflexo da revolução na cena estrelada das artes.
Mas, fora da grande vitrine que é a mostra italiana, uma produção urgente surgiu nas ruas do Cairo. São vídeos e músicas feitos no calor do confronto, divulgados nas redes sociais, além de desenhos pelos muros da cidade.
Numa ponte direta com São Paulo, esses trabalhos viscerais chegam aos poucos à Matilha Cultural, no centro, que organiza uma espécie de mostra em progresso com vídeos e arte de rua enviados à galeria a todo instante.
"São manifestações artísticas da revolta", diz o curador Demétrio Portugal. "Sintonizamos um canal e veio uma enxurrada de informação." No caso, o canal é o mesmo que turbinou a revolta popular no Egito. Maya Gowaily, jovem artista do Cairo, documentou todo grafite que viu pelas ruas e postou numa página do Facebook.
"Não viram que isso faz parte da revolução", diz ela.
"Há muito mais a fazer ainda e tudo tem de ser documentado, é parte da história." Essas imagens, aliás, mostram como a história foi reescrita em tempo real. Grafiteiros adotaram a águia de cabeça para baixo, inversão do símbolo do ditador, como um dos ícones da mudança.
Nos mesmos moldes, pouco apuro estético e muita agressividade, o ativista Aalam Wassef revela num vídeo como criou um herói falso para destronar o regime. Foi sua alcunha virtual, Ahmad Sherif, que liderou revoltas contra o ditador. Um dos líderes do partido aparece comparado a um doberman num vídeo, hoje entre os primeiros resultados de uma busca do Google.
"Estética, na hora, não era minha preocupação", diz Wassef àFolha. "Mas sem dúvida isso é arte. Pensei, enquanto fazia isso, que um outro tipo de estética pudesse surgir dessa situação."


EGITO EM OBRAS
QUANDO de ter. a sáb., das 12h às 20h; até 18/6
ONDE Matilha Cultural (r. Rego Freitas, 542, tel. 0/xx/11/3256-2636)
QUANTO grátis

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Em grafites e música, egípcios deram recado revolucionário Fonte: folha.uol.com.br 02/05

A arte se instalou na praça Tahrir nos primeiros dias da revolta popular contra o ditador Hosni Mubarak. Cores, formas e sons ecoavam, ora com irreverência, ora com altivez, a mensagem revolucionária surgida principalmente nos meios urbanos de classe média. Todas as vias que desembocam na praça Tahrir, epicentro do levante, ostentavam grafites com mensagens antirregime. Boa parte eram rabiscos simplórios, reflexo de um país com pouca tradição de cultura underground. Mais sofisticadas eram as caricaturas dos figurões do regime pintadas em cartazes de papelão, onipresentes na praça. Décadas de repressão deram aos egípcios um aguçado sentido de ironia. Quando a poeira baixava, entre um enfrentamento e outro com os pró-Mubarak, Tahrir se tornava um imenso palco de música a céu aberto. Numa das madrugadas que antecederam a queda do ditador, a Folha viu, praticamente lado ao lado, muçulmanos idosos entoando mantras tradicionais, jovens em rodinha de violão e cabeludos cantando reggae. Como se a inversão de papéis reforçasse a mensagem, a arte na praça era quase toda feita por anônimos, enquanto famosos se fundiam discretamente na multidão. O regime de Mubarak era autoritário e violento, mas nunca apontou para o mundo artístico como inimigo a ser abatido. Diferente do vizinho líbio Muammar Gaddafi, que aniquilou toda expressão independente. Muita gente na Líbia se ressente de não ter nenhum artista nacional para se orgulhar.


O jornalista SAMY ADGHIRNI esteve duas semanas no Cairo cobrindo a revolta contra o ditador Hosni Mubarak

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Rap de protesto rompeu com silêncio no país Fonte: folha.uol.com.br 02/05

Depois do silêncio devido à queda dos serviços de internet no Egito, surgiu, no começo de fevereiro, o primeiro rap desde o começo dos protestos populares no país.
O trio Arabian Knightz, do Cairo, fez chegar à web a faixa "Rebel" (rebelde).
Com pouca produção e construída sobre samples da cantora Lauryn Hill, a faixa tem rimas em árabe e inglês.
Graças ao site MidEastTunes, a canção foi distribuída pela internet e considerada um símbolo da mobilização no Egito.

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Festival faz 25 anos com música de raiz

Realizado na cidade de Lafayette (EUA), Festival da Louisiana é espécie de "lado B" do Jazz Fest de Nova Orleans

Enquanto Bon Jovi, Robert Plant e Jeff Beck se apresentam em Nova Orleans, Lousiana traz artistas alternativos
Fonte: folha.uol.com.br 02/05



Os shows, gratuitos e ao ar livre, são anunciados em francês. A eclética programação mistura música étnica da África, do Caribe e do Oriente com gêneros "de raiz" típicos do sul dos EUA, como o zydeco, o cajun ou o gospel.
Esse é o Festival Internacional da Louisiana, que comemorou 25 anos no último fim de semana.
Realizado na cidade de Lafayette, esse evento vem crescendo a cada ano, como uma espécie de "lado B" do Jazz Fest de Nova Orleans, cuja 42ª edição prossegue até o próximo domingo, dia 8.
Considerada a capital extra-oficial da cultura cajun (corruptela do francês "acadien"), Lafayette é uma cidade pequena e charmosa, que preserva a língua francesa e a tradição musical e culinária dos acadianos, grupo étnico que deriva de colonizadores que viviam no nordeste da América do Norte.
Essa herança cultural ainda está presente no festival de Nova Orleans, em alguns shows e nas barracas que oferecem pratos típicos da Louisiana.
Mas os preços altos dos ingressos (U$ 60 por dia) e o aumento significativo do rock e da música pop nas atrações desse evento têm levado os frequentadores a se interessar pelo concorrente.
A chuva fina que caiu no início da tarde de sábado não chegou a prejudicar o festival de Lafayette.
Já conhecida pelo público local, a cantora cabo-verdiana Maria de Barros esbanjou simpatia, contagiando a plateia com o ritmo dançante do funaná, que lembra o nosso carimbó.
Outro cantor que transformou seu show em um animado baile foi o congolês Ricardo Lemvo e sua banda Makina Loca, que misturam o mambo cubano com ritmos africanos, em irresistíveis arranjos para metais.
Já em Nova Orleans, o sol ajudou a atrair grandes multidões, no fim de semana, especialmente para ver atrações de rock e pop, como Bon Jovi (cujo guitarrista Richie Sambora, internado em clínica de desintoxicação, foi substituído por Phil Xenidis), Robert Plant, Jason Mraz, Wyclef Jean e Jeff Beck.


O jornalista CARLOS CALADO viajou a convite do Bureau de Convenções e Visitantes de Nova Orleans

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Cine Samambaia

Realizado com ampla participação dos moradores, Periférico 304, primeiro filme da cidade, reflete problemas sociais vividos pela comunidade Fonte: correioweb.com.br 02/05

Foram cinco anos de elaboração do roteiro, seleção e treinamento de atores. Rotinas de difícil conciliação, falta de grana, gentilezas da vizinhança e uma dedicação ferrenha às horas infindáveis de filmagem, que tomaram 52 dias espalhados ao longo de um ano. Mas um grupo de artistas de Samambaia já pode anunciar aos quatro ventos: acaba de ficar pronto o primeiro filme produzido, rodado (e tão sonhado) na cidade. E a população vai ter o privilégio de assistir a Periférico 304, com roteiro de Geraldo Lessa e direção de Paulo Z. “Temos essa quitação de dívida com os moradores. Eles têm o direito de ver primeiro. Afinal, abriram suas casas, deram pão e até dinheiro para a produção”, reconhece Paulo Z, o idealizador da empreitada. A partir do dia 19, a obra será apresentada em escola e biblioteca da cidade.

A história de Geraldo Lessa e Paulo Z gira em torno de um casal que vive em Samambaia com os quatro filhos, até que dois deles morrem: um sofre um acidente e o outro é assassinado em uma briga de rua. A viúva do acidentado, gravemente ferida, fica presa a uma cadeira de rodas. O algoz do rapaz espancado é preso, cumpre pena e, anos depois de sair da cadeia, conhece e se apaixona pela irmã do jovem que matou. O título Periférico 304 faz referência à quadra onde fica a escola, já que a maioria dos personagens frequenta aulas no local.

Quando decidiu fazer seu primeiro filme, um longa-metragem, Paulo Z, professor de teatro do Centro de Ensino Médio 304 de Samambaia, nem imaginava a comoção que o trabalho causaria. “Era muito material humano. Meus alunos tinham a mesma vontade”, conta. Encomendou o roteiro ao amigo Geraldo Lessa, que entregou a versão final em quatro meses. “Moro no Guará e não conhecia bem Samambaia, mas Paulo me deu orientações. As situações são as mesmas em qualquer periferia”, revela.

Enquanto a história de seu filme estava sendo alinhavada, Paulo Z decidiu recrutar, entre a própria comunidade de Samambaia, os intérpretes para a trama. Foi aí que surgiu o ator, professor e produtor cultural Josuel Júnior, que mora na cidade e ouviu o burburinho da vizinhança. Juntos, eles abriram inscrições para estudantes se submeterem aos testes. Diante da fila de 300 pessoas que se formou na escola, permitiram que todos os interessados tentassem um papel. Depois de dois dias de audições ininterruptas, a dupla selecionou um elenco diversificado de 30 pessoas, de estudantes a donas de casa, independentemente da experiência com a arte de atuar.

Com o elenco definido, era preciso preparar os atores para encarar a câmera. A produção decidiu ministrar uma oficina teatral de seis meses, com exercícios cênicos, de preparação física e até um intensivo de desinibição diante das lentes, processo que incluía aulas filmadas e exibidas ao vivo. Durante dois meses, o grupo se subdividiu em dois e trabalhou em turnos separados, um de manhã e o outro à tarde. Por mais quatro meses, os aspirantes a atores trabalharam juntos.

Antiga aluna do professor Paulo Z na escola da 304, Luana Vieira, 22 anos, lembra-se com saudades da experiência. “Ouvi falar dos testes, sempre tive vontade de atuar e não deixei a chance escapar”, conta. Sua aposta rendeu frutos melhores do que esperava: ela acabou ganhando um dos papéis principais do filme, o de filha de Eugênia, a matriarca da família. Para dar conta do recado, precisou vencer o nervosismo e a timidez que as lentes do cinegrafista lhe causavam. “O papel me ajudou muito. Hoje, quando apresento trabalhos na faculdade e fico nervosa, respiro fundo, me concentro nos exercícios que fazia e me solto”, revela a estudante de enfermagem.

O começo das gravações trouxe um problema de logística: o cinegrafista, responsável por registrar boa parte das cenas, trabalhava em uma empresa de filmagem de casamentos e só podia se dedicar ao projeto se estivesse com a agenda livre. Uma empresa do ramo também emprestava equipamentos, como o microfone direcional, desde que o material estivesse disponível. A todos esses entraves, somava-se a disponibilidade do time escalado para atuar na produção. A técnica de enfermagem Tânia Barros, 51 anos, atriz que viveu Eugênia, também tem boas recordações desse período. “Sinto falta das trocas de roupa, das maquiagens, de todo mundo colaborando. Nos almoços, cada um trazia uma comida de casa”, relembra.

Quem não ganhou um papel no enredo pôde ajudar na confecção de figurinos, na técnica e na figuração. Os que entendiam de maquiagem ensinavam aos colegas. Os especialistas em eletricidade respondiam pela iluminação. Sempre que essa força-tarefa tomava as ruas para rodar o filme, ganhava em troca a solidariedade dos comerciantes e moradores da região. “Muita gente nos perguntava se podia nos ajudar de alguma forma. Um supermercado chegou a doar pães para toda a equipe”, destaca o diretor.

A meta é ousada: levar as histórias e personagens da cidade a 1 milhão de espectadores. Se cada um dos cerca de 200 mil moradores de Samambaia prestigiar a produção e se for confirmado o acordo, atualmente em análise na Secretaria de Educação, de exibir o filme para os alunos da rede pública de ensino, o plano não soa impossível. “Sabe nos anos 1930, quando descobriram que Hollywood era incrível? Samambaia pode ser também. É uma cidade plana, com horizontes maravilhosos, além de ser um centro cultural. Aqui temos tradições como a quadrilha de São João e a Paixão de Cristo Negro”, exemplifica Paulo Z.

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