Punk, paz e amor
Em harmonia com a cidade que sempre criticou nos palcos, Philippe Seabra comemora os 30 anos da Plebe Rude com o lançamento do DVD Rachando concreto Fonte: correioweb.com.br 28/05
Philippe Seabra está otimista. Em uma poltrona na varanda de sua casa, no Lago Norte, o cantor e guitarrista da Plebe Rude mantém um sorriso constante enquanto fala sobre o primeiro DVD da banda. Rachando concreto — Ao vivo em Brasília, lançado também em CD, tem repercutido bem. Os pedidos de entrevista, conta, chegam de todo o Brasil, e a agenda de shows cresce. Sinais de que, depois de muitos percalços ao longo de 30 anos de história, este pode ser “o ano da Plebe”.
A felicidade do músico indica que a decisão de voltar a morar na capital em 2003 foi acertada. Até aquele ano, pensava em se mudar para São Paulo. “Mas aí conheci a Fernanda”, diz, ampliando o sorriso ao falar da mulher. Pesou também o fato de que, na cidade, estaria perto do baixista e “irmão” André X e conseguiria manter o grupo, que, devido a desavenças pessoais, perdeu no caminho dois dos integrantes originais, Gutje Woortmann e Jander Bilaphra, o Ameba. A forma como fala das brigas no passado demonstra que está sereno, numa fase que chama de “Philippinho paz e amor”. “Acho que todos nós tivemos responsabilidade nos desentendimentos”, diz.
De volta à capital, Philippe pôde reestruturar a banda e se estabelecer como produtor musical. Em seu estúdio, grava diversos artistas independentes. Ao se dedicar às duas carreiras, demonstra o lado metódico. “Ele é o menos roqueiro dos roqueiros. Dorme cedo e, quando acordo para trabalhar, ele já está no estúdio”, conta Fernanda Seabra, casada com o músico desde 2007. A disciplina o possibilitou cuidar do início ao fim da produção do DVD. No dia da gravação, checava detalhes minutos antes de entrar no palco.
O registro em vídeo coroa o esforço de colocar o quarteto de volta no eixo. A primeira pausa da Plebe ocorreu em 1993, quando Philippe não viu mais sentido na rotina de gravações, entrevistas e turnês. Um dia, quando visitava seu pai, Alexandre Jorge de Seabra, internado na UTI de um hospital de Brasília, foi abordado por um enfermeiro que queria seu autógrafo. Assinar o pedaço de papel próximo ao quarto onde o pai estava perto de morrer o afetou de maneira inexplicável. “Aquilo bateu de uma forma tão estranha”, revela. Ali, decidiu largar tudo e foi morar por seis anos em Nova York, onde aprendeu sobre técnicas de gravação e passou a frequentar aulas de francês, como faz até hoje.
A pausa foi tão abrupta que viajou para os Estados Unidos sem se preocupar com detalhes básicos. Bruno Gouveia, vocalista do Biquini Cavadão, lembra que, quando o visitou em Nova York, descobriu que Philippe não tinha sequer deixado uma conta bancária para que os direitos autorais fossem depositados. Bruno recebeu uma procuração para ajudar o amigo com os detalhes burocráticos.
O retorno à cidade em que passou parte da infância e a adolescência — ele nasceu em Washington, onde o pai, diplomata, trabalhava — ocorreu uma década depois do episódio no hospital. A volta o fez conviver com pessoas que só o conheciam por meio da mídia, causando inusitado choque cultural. O hábito de recorrer ao inglês quando não se lembra de uma palavra e as brincadeiras sobre fama que adora fazer renderam antipatia de alguns. Houve quem passasse a chamá-lo de “Philippe Se Acha”. “Quem não entende meu senso de humor não pode ser meu amigo. Tenho quase 45 anos (a serem completados em novembro), não vou mais me preocupar com isso”, analisa.
Humor peculiar
As pessoas próximas dizem que seu jeito é resultado de sinceridade rara e peculiar senso de humor, que mistura doses de autoironia e encenações de rockstar que costumam confundir. Bruno Gouveia acrescenta que o músico é polêmico por defender de forma apaixonada suas posições. “Ele não arreda o pé das ideias dele”, resume. O humor de Philippe é difícil de entender. Ele é capaz de dizer a eufóricos fãs que vão ao camarim depois de um show: “Calma, não descobrimos a cura do câncer. Somos só uma banda”. Mas valoriza o reconhecimento. “Quando pessoas dizem que uma música nossa mudou a vida delas, é uma realização.” “O humor dele é, ao mesmo tempo, sofisticadíssimo e popular. Ele sabe de cor as falas de Beethoven, o magnífico, mas defende com propriedade a nouvelle vague”, descreve o baterista Txotxa, que, com Clemente (guitarrista e vocalista), completa a atual formação da Plebe.
Por sinal, o cineasta do movimento francês François Truffaut integra a lista de “heróis” de Philippe, que inclui ainda nomes como o poeta Dylan Thomas e o diretor Michelangelo Antonioni — “mas olha como você vai pôr isso, não quero parecer esnobe”. Na música, seus mestres são as bandas The Clash, Killing Joke e XTC. Na vida, os mentores foram também três: “O André (X), o Renato (Russo) e o Herbert (Vianna)”.
O músico está feliz também com o reconhecimento que a cidade tem dado à história da banda. Em abril passado, ele e André receberam o título de Cidadão Honorário de Brasília da Câmara Legislativa. Vibra ainda com as produções cinematográficas que contam a história do rock brasiliense dos anos 1980. Em Somos tão jovens, de Antonio Carlos da Fontoura, interpretará, com André, dois dos policiais que detiveram os músicos no histórico show da Plebe com a Legião Urbana em Patos de Minas, em 1982. “Isso vai ser um barato.”
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Brasileiro já nasce devendo R$ 8.900
Wanderley de Faria Fonte: opopular.com.br 28/05
Cuidar das finanças públicas é uma tarefa simples, porque não depende de nenhum cálculo matemático complexo nem de habilidades excepcionais, pois se lida com apenas três variáveis que constituem os elementos mais básicos da contabilidade: receita, despesa e resultado. A única exigência é a responsabilidade.
Os governantes brasileiros sempre foram e continuam perdulários: gastam além das receitas, assumem dívidas sem a provisão correspondente e desperdiçam recursos em obras mal planejadas. Dívidas enormes, construções inacabadas, despesa elevada com folha de pagamento por causa da excessiva contratação de assessores e regalias salariais para apadrinhados políticos, entre outras, são situações comuns na administração pública brasileira.
A Lei de Responsabilidade Fiscal, que começou a vigorar em 2000, ajudou a frear a ganância dos mais afoitos em meter a mão no dinheiro público. Mas, mesmo assim, a farra continua. Todos os anos, os governos federal, estaduais e municipais torram mais dinheiro do que arrecadam. A receita obtida com impostos bate recorde atrás de recorde, mas isso nunca é suficiente. Os gastos crescem sempre mais do que o volume de dinheiro que é arrecadado da sociedade na forma de contribuições e impostos. Não é à-toa que este ano estamos trabalhando cinco meses só para pagar impostos.
Resultado? Para honrar seus compromissos e manter em funcionamento a máquina estatal, o governo federal precisa tomar dinheiro emprestado. Para tanto, emite títulos que são repassados pelos bancos ao público por meio dos fundos de investimento. São papéis que pagam determinada taxa de juro a investidores dispostos a comprá-los. Em abril, o total devido pelo governo na forma de títulos públicos (a chamada dívida mobiliária) chegou a R$ 1,7 trilhão.
Bem, dividindo-se essa fortuna entre os 191 milhões de brasileiros, cada cidadão já nasce devendo R$ 8.900,00, mesmo que nunca pense em fazer um crediário ou ter conta em banco. Seria uma espécie de índice da “dívida per capita”, que inexiste oficialmente. Assim, um trabalhador que se enquadre no perfil de rendimento médio medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que foi de R$ 1.540,00 em abril, precisaria economizar quase seis meses de salário para quitar esta dívida.
A conta desse condomínio chamado Brasil está muito alta. O cidadão não aguenta mais as chamadas extras na forma de impostos e contribuições. Está indignado em constatar a má utilização cada vez mais do dinheiro público.
Todos temos o desafio de deixar para trás a irresponsabilidade administrativa, a corrupção e o mau uso do dinheiro público. Nesse cenário, a rapidez com que poderemos atingir uma sociedade mais justa sob diversos aspectos está intrinsecamente vinculado ao conceito de cidadania, que compreende, entre outros fatores, a fiscalização e a cobrança da administração pública.
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