quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Insetos tomam decisões 'democraticamente'
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Não é raro achar elogios à sociedade das formigas nos textos de ideólogos humanos que simpatizam com o autoritarismo. Esses sujeitos não poderiam estar mais enganados, diz Mark Moffett.

"De fato, as formigas mostram devoção inquestionável à sua sociedade, mas isso é muito diferente da devoção a um líder político ou a uma hierarquia", explica o pesquisador americano. FOLHA SP 29.12
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"Não existe ninguém controlando as vidas delas", diz Moffett. Nos combates, não há "oficiais" dando ordens. Cada formiga que encontra um inimigo deixa um rastro de feromônios (odores especiais que funcionam como sinalizadores químicos).

VOTANDO COM O CHEIRO

O aroma recruta outras "soldadas" para a pancadaria, as quais também liberam seus próprios feromônios. Quanto mais formigas reforçarem o rastro, mais forte será o sinal de alarme enviado para o formigueiro.

Da mesma forma, assim como entre os britânicos, a rainha reina, mas não governa, lembra Moffett. Ela é apenas a reprodutora oficial (as operárias, de todos os tipos, costumam ser estéreis).

Moffett diz que andou por todos os países da América do Sul (além dos demais continentes) em busca dos insetos. Ele não tem uma formiga brasileira favorita. "Seria impossível escolher uma só. A melhor coisa no Brasil é a diversidade de formigas, que é maior do que em qualquer outro lugar do mundo", diz.

A próxima parada do pesquisador, na semana que vem, é a Etiópia. "Vou escalar árvores nos últimos fragmentos de floresta que restam por lá, localizados em torno de igrejas", conta. (RJL)

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Auxílio financeiro
Projeto do Senado cria o programa Bolsa-Artista
Os artistas brasileiros em início de carreira poderão contar com um auxílio financeiro do governo, destinado a financiar sua formação e aprimoramento, caso o PLS 404/2011, que cria o programa Bolsa-Artista, seja aprovado. A proposta é do senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) e será votada em decisão terminativa pela Comissão de Educação (CE), no retorno das atividades legislativas, em 2012. Agência Senado 29/12  


O senador explica, em sua justificativa, que a iniciativa é inspirada no programa Bolsa-Atleta, que tem o objetivo de valorizar os talentos esportivos do país. A bolsa-artista, por sua vez, seria um mecanismo de apoio e incentivo a artistas iniciantes, mas com potencial já evidenciado em seus campos de atuação. Será custeada pela União.

Poderão participar do processo seletivo, a ocorrer anualmente, artistas dos campos das artes literárias, musicais, cênicas, visuais e audiovisuais, em suas variedades eruditas e populares. Os critérios e os valores dessa bolsa serão fixados posteriormente, em regulamento. Ela será concedida por um ano, em 12 parcelas mensais, e destina-se ao desenvolvimento das habilidades dos artistas, e não a projetos culturais específicos.

"Pretendemos, dessa forma, criar condições para que se desenvolvam talentos em diversas áreas artísticas que, muitas vezes identificados na infância ou adolescência, não encontram oportunidade de se desenvolver e se integrar ao cenário artístico e cultural do país", explica Inácio Arruda na justificativa ao projeto.

Para se habilitar, o candidato ao benefício precisa ter pelo menos 12 anos na data da apresentação da candidatura. Se tiver menos de 18 anos, deve estar regularmente matriculado em instituição de ensino pública ou privada, salvo se já houver concluído o ensino médio. No ato da inscrição, deve apresentar um plano anual de formação ou aprimoramento no seu campo de atuação, contendo currículo, detalhamento das atividades a serem realizadas e dos objetivos e metas a alcançar, tudo isso acompanhado de documentos e imagens considerados relevantes para a compreensão da trajetória do artista.

A matéria já tem voto favorável da relatora na CE, senadora Lídice da Mata (PSB-BA).

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TRISTE JUDICIÁRIO -  MARCO ANTONIO VILLA
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O Superior Tribunal de Justiça (STJ) é formado por 33 ministros. Foi criado pela Constituição de 1988. Poucos conhecem ou acompanham sua atuação, pois as atenções nacionais estão concentradas no Supremo Tribunal Federal. No site oficial está escrito que é o tribunal da cidadania. Será? O Globo 13/12 
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Um simples passeio pelo site permite obter algumas informações preocupantes.
O tribunal tem 160 veículos, dos quais 112 são automóveis e os restantes 48 são vans, furgões e ônibus. É difícil entender as razões de tantos veículos para um simples tribunal. Mais estranho é o número de funcionários. São 2.741 efetivos.                                                                                                                                                                                              Muitos, é inegável. Mas o número total é maior ainda. Os terceirizados representam 1.018. Desta forma, um simples tribunal tem 3.759 funcionários, com a média aproximada de mais de uma centena de trabalhadores por ministro!! Mesmo assim, em um só contrato, sem licitação, foram destinados quase R$2 milhões para serviço de secretariado.
Não é por falta de recursos que os processos demoram tantos anos para serem julgados. Dinheiro sobra. Em 2010, a dotação orçamentária foi de R$940 milhões. O dinheiro foi mal gasto. Só para comunicação e divulgação institucional foram reservados R$11 milhões, para assistência médica a dotação foi de R$47 milhões e mais 45 milhões de auxílio-alimentação. Os funcionários devem viver com muita sede, pois foram destinados para compra de água mineral R$170 mil. E para reformar uma cozinha foram gastos R$114 mil. Em um acesso digno de Oswaldo Cruz, o STJ consumiu R$225 mil em vacinas. À conservação dos jardins — que, presumo, devem estar muito bem conservados — o tribunal reservou para um simples sistema de irrigação a módica quantia de R$286 mil.
Se o passeio pelos gastos do tribunal é aterrador, muito pior é o cenário quando analisamos a folha de pagamento. O STJ fala em transparência, porém não discrimina o nome dos ministros e funcionários e seus salários. Só é possível saber que um ministro ou um funcionário (sem o respectivo nome) recebeu em certo mês um determinado salário bruto. E só. Mesmo assim, vale muito a pena pesquisar as folhas de pagamento, mesmo que nem todas, deste ano, estejam disponibilizadas. A média salarial é muito alta. Entre centenas de funcionários efetivos é muito difícil encontrar algum que ganhe menos de 5 mil reais.

Mas o que chama principalmente a atenção, além dos salários, são os ganhos eventuais, denominação que o tribunal dá para o abono, indenização e antecipação das férias, a antecipação e a gratificação natalinas, pagamentos retroativos e serviço extraordinário e substituição. Ganhos rendosos. Em março deste ano um ministro recebeu, neste item, 169 mil reais. Infelizmente há outros dois que receberam quase que o triplo: um, R$404 mil; e outro, R$435 mil. Este último, somando o salário e as vantagens pessoais, auferiu quase meio milhão de reais em apenas um mês! Os outros dois foram “menos aquinhoados”, um ficou com R$197 mil e o segundo, com 432 mil. A situação foi muito mais grave em setembro. Neste mês, seis ministros receberam salários astronômicos: variando de R$190 mil a R$228 mil.                                                                                                                                                                    Os funcionários (assim como os ministros) acrescem ao salário (designado, estranhamente, como “remuneração paradigma”) também as “vantagens eventuais”, além das vantagens pessoais e outros auxílios (sem esquecer as diárias). Assim, não é incomum um funcionário receber R$21 mil, como foi o caso do assessor-chefe CJ-3, do ministro 19, os R$25,8 mil do assessor-chefe CJ-3 do ministro 22, ou, ainda, em setembro, o assessor chefe CJ-3 do do desembargador 1 recebeu R$39 mil (seria cômico se não fosse trágico: até parece identificação do seriado “Agente 86”).
Em meio a estes privilégios, o STJ deu outros péssimos exemplos. Em 2010, um ministro, Paulo Medina, foi acusado de vender sentenças judiciais. Foi condenado pelo CNJ. Imaginou-se que seria preso por ter violado a lei sob a proteção do Estado, o que é ignóbil. Não, nada disso. A pena foi a aposentadoria compulsória. Passou a receber R$25 mil. E que pode ser extensiva à viúva como pensão. Em outubro do mesmo ano, o presidente do STJ, Ari Pargendler, foi denunciado pelo estudante Marco Paulo dos Santos. O estudante, estagiário no STJ, estava numa fila de um caixa eletrônico da agência do Banco do Brasil existente naquele tribunal. Na frente dele estava o presidente do STJ. Pargendler, aos gritos, exigiu que o rapaz ficasse distante dele, quando já estava aguardando, como todos os outros clientes, na fila regulamentar. O presidente daquela Corte avançou em direção ao estudante, arrancou o seu crachá e gritou: “Sou presidente do STJ e você está demitido. Isso aqui acabou para você.” E cumpriu a ameaça. O estudante, que dependia do estágio — recebia R$750 —, foi sumariamente demitido.

Certamente o STJ vai argumentar que todos os gastos e privilégios são legais. E devem ser. Mas são imorais, dignos de uma república bufa. Os ministros deveriam ter vergonha de receber 30, 50 ou até 480 mil reais por mês. Na verdade devem achar que é uma intromissão indevida examinar seus gastos. Muitos, inclusive, podem até usar o seu poder legal para coagir os críticos. Triste Judiciário. Depois de tanta luta para o estabelecimento do estado de direito, acabou confundindo independência com a gastança irresponsável de recursos públicos, e autonomia com prepotência. Deixou de lado a razão da sua existência: fazer justiça.

MARCO ANTONIO VILLA é historiador e professor da Universidade Federal de São Carlos (SP).

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Literatura -  Joyce e Drummond ganham novas edições
Carlos Drummond: nova edição de A Rosa do Povo
Jorge Amado e Nelson Rodrigues fariam 100 anos em 2012. Carlos Drummond de Andrade, 110. James Joyce, 130 - mas, nesse caso, mais importante que a data do aniversário é que 2012 representa o primeiro ano desde a entrada de sua obra em domínio público, ou seja, qualquer editora interessada na obra do irlandês poderá ter sua própria edição sem passar pelo crivo, ou pelas garras, da família do escritor a partir do ano novo. Essas datas redondas são sempre um bom motivo para as editoras reavivarem a obra de seus autores, e os leitores podem esperar novidades para o ano que vem. O POPULAR 29.12
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De Joyce, o selo Penguin-Companhia das Letras lança, em abril, uma nova tradução de Ulisses feita por Caetano Galindo. Já a Iluminuras publica o infantil O Gato E O Diabo , com tradução da pesquisadora e escritora Dirce Waltrick do Amarante, e De Santos e Sábios , seleção de escritos estéticos e políticos organizados por Sérgio Medeiros e por Dirce. Mais misteriosa é a programação de lançamentos da Nova Fronteira, que edita Nelson Rodrigues. Ela garante que publicará textos inéditos do autor, releituras de suas peças e edições populares, mas não dá detalhes.

Drummond ressurge nas livrarias com nova roupagem também pela Companhia das Letras, que ganhou, em 2011, o direito de publicar toda a obra do poeta mineiro. A Rosa do Povo , o primeiro, chega em março, em tempo da homenagem da 10.ª Festa Literária Internacional de Paraty, marcada para julho. Ainda em 2012, outros três serão lançados.

Quando a obra de um autor muda de editora é natural que ela ganhe revisão e novo projeto gráfico. É isso o que também vai acontecer com Mario Quintana, antes no catálogo da Globo e agora no da Alfaguara. Os primeiros cinco títulos, entre os quais uma coletânea inédita, serão publicados no segundo semestre. Vale também para a obra de Pedro Nava, em novas edições da Companhia das Letras a partir de fevereiro. E para Cecília Meireles (38 livros em 40 meses), se nada mais der errado entre seus herdeiros, Manuel Bandeira (23 reedições e 13 inéditos) e Orígenes Lessa (34 antigos e 7 novos), todos agora no catálogo da Global.

Os 90 anos da Semana de Arte Moderna também serão lembrados em livro. Um deles será 1922, a Semana , do jornalista Marcos Augusto Gonçalves, que sai pela Companhia das Letras.

Crescimento

Mas nem só de datas comemorativas e reedições vive o mercado editorial brasileiro - que, a propósito, está deixando passar o bicentenário de Charles Dickens. Em 2012, serão lançados livros para todos os gostos e se a produção continuar em crescimento, como nos últimos anos de acordo com pesquisa feita pela Fipe, os leitores podem esperar pelo menos 18 mil novos títulos (e 36 mil reedições) no Brasil. Isso sem contar os e-books.

Para quem gosta de biografia e livros de memória, a dica é preparar o bolso, já que o gênero é um dos mais frequentes nas listas das editoras. A L&PM prepara dois títulos sobre Andy Warhol - uma biografia escrita por Mériam Korichi e o diário do artista, que será dividido em dois volumes e editados no formato bolso. A Ediouro lança American Rebel , a história de Clint Eastwood contada por Marc Eliot. Já a vida de Norman Bengell será resgatada pelo historiador Davi Araújo para a Nversos.

Pela Leya, sai a edição revista e ampliada de Furacão Elis , lançada pela jornalista Regina Echeverria em 1985. A Globo publica as biografias de Neil Young e Rod Stewart escritas pelos próprios músicos. A Balada de Bob Dylan , de Daniel Mark Epstein, sai pela Zahar. O gênero também é uma das apostas da Lafonte/Larousse para o ano. Ela manda para as livrarias biografias ilustradas de Pink Floyd e de Elvis Prestley, por Marie Clayton; de Led Zeppelin e Eric Clapton, por Chris Welsh; de Keith Richards, escrita por Victor Bockris; dos Beatles, por Terry Burrows; e do Nirvana, por Gillian Gaar.

Um livro sobre os 40 anos do Queen também está nos planos. A Melhoramentos vai editar um livro de Paul McCartney, mas sem relação com sua história ou com música. Sem título definido, tratará sobre culinária vegetariana.

Saindo do ambiente artístico e voltando para o da vida alheia, a Zahar lança Por Amor a Freud: Memórias De Minha Análise Com Sigmund Freud , de Hilda Doolittle. O jornalista Augusto Nunes escreve sobre Jânio Quadros para a Record e Mario Magalhães prepara livro sobre Carlos Marighella para a Companhia das Letras, que também edita, em três volumes, a biografia de Getúlio Vargas, feita por Lira Neto.

Histórias de times também têm destaque. Celso Campos Jr. e Dario Palhares contam, em livro da Realejo, a do Santos em seu centenário. E Ruy Castro escreve sobre o Flamengo para a Companhia das Letras.


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Memória  -  Em nome de Jorge amado
Uma vasta programação comemora o centenário do escritor baiano em 2012 O POPULAR 29.12

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O ano de 2012 será iluminado pela prosa solar e saudável de Jorge Amado. O motivo é a comemoração do centenário de nascimento do escritor baiano, dia 10 de agosto - ele morreu em 2001, quatro dias antes de seu aniversário. Uma ampla programação, que vai de exposição a tema de escola de samba, está prevista para celebrar o autor de Gabriela Cravo e Canela , aquele que, no entender da escritora Ana Maria Machado, foi capaz de trazer para a ficção contribuições positivas da sociedade, como o interculturalismo, a miscigenação, o hibridismo cultural.


A nova presidente da Academia Brasileira de Letras, aliás, pretende transformar a sede da centenária entidade em palco para a literatura do autor baiano. "Queremos fazer uma revisão crítica da obra de Jorge Amado e abrir possibilidades para que outros também façam isso no Brasil e no exterior. Vamos ver como ele é recebido hoje", comentou.

Outro grande evento (veja lista nesta página) vai ser realizado no Museu da Língua Portuguesa. Lá, em março, será aberta a exposição Jorge, Amado e Universa l, que vai reunir manuscritos, fotos e objetos do escritor. "Queremos apresentar um panorama de Jorge Amado, ou seja, oferecer elementos que ajudarão o visitante a compor uma imagem desse autor", conta Ana Helena Curti, coordenadora de curadoria, que vai contar ainda com Ilana Goldstein, consultora de conteúdo do projeto, e William Nacked, diretor coordenador. Todos terão o apoio da Fundação Casa de Jorge Amado, de Salvador, fiel mantenedora do acervo do romancista.

A exposição será interativa, ou seja, os visitantes vão dispor de sons e imagens - muitas delas acessadas pelo tato - que apresentarão aspectos da obra do autor de Dona Flor e Seus Dois Maridos . Para isso, é a figura do próprio escritor que vai conduzir o público pelos corredores do Museu da Língua Portuguesa. O espaço físico vai ser criado por uma dupla de craques, Daniela Thomas e Felipe Tassara. "O objetivo é mostrar que Jorge continua atemporal, seja em seus escritos, seja em suas atuações políticas e sociais."

Reedição

A reedição da obra pela Companhia das Letras permite comprovar isso. Autora de um livro em que analisa a escrita amadiana ( Romântico, Sedutor e Anarquista - Como e Por Que Ler Jorge Amado , lançado pela Objetiva), Ana Maria Machado defende a importância para a literatura nacional do romancista baiano, que fez a fusão amorosa entre o erudito e o popular, que erotizou a narrativa, que trouxe à tona questões sobre o não sectarismo, a miscigenação, a luta contra o preconceito e contra a pseudoerudição europeia.

Uma mistura tão heterogênea que explica o interesse da escola de samba carioca Imperatriz Leopoldinense, que prepara seu próximo desfile inspirado nos personagens de Amado. Ainda na mesma linha popular, também justifica a decisão da TV Globo em novamente adaptar Gabriela no formato de novela, agora com Juliana Paes como a sedutora morena, com estreia prevista para agosto. Já na outra vertente, Jorge Amado vai inspirar debates comandados por intelectuais. Em todas as searas, ele continua irresistível.
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Movimento para o interior cresce mais que rumo ao litoral
Número de carros no sistema Imigrantes tem aumento menor nos últimos anos do que em vias como a Castello.   Famílias tentam fugir do agito e dos preços das praias; cidades expandem suas redes hoteleira e imobiliária FOLHA DE SP 29.12
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Sandra Grosworsel Schefler, 37, sempre passou a virada de ano na praia. Desta vez, porém, ela decidiu mudar o rumo da viagem. Alugou um sítio a 60 km de São Paulo. Fará, assim, sua estreia de Réveillon no interior do Estado.

"É para fugir do trânsito, pelo custo dos aluguéis e pelo risco de virose nas crianças", justifica a farmacêutica.

Mãe de gêmeos de três anos, Sandra arriscou uma viagem ao Guarujá num fim de semana comum deste mês e ficou cinco horas na estrada -três e meia acima do normal.

A viagem ao interior ainda é menos engarrafada, mas a farmacêutica não deve esperar tranquilidade -até porque, como ela, outros paulistanos têm trocado "praia" por "fazenda" em feriados, férias e também ao longo do ano.

NÚMEROS

O fluxo de carros na saída da capital paulista pelas duas principais rotas para o interior -sistema Anhanguera-Bandeirantes e Castello Branco- tem aumentado bem mais do que no principal acesso ao litoral do Estado, o sistema Anchieta Imigrantes.

Na descida para a praia, o tráfego de veículos de passeio -sem considerar os comerciais, como caminhões e ônibus- saltou 4,4% na temporada passada de verão, entre dezembro e fevereiro, na comparação com a anterior.

O crescimento na rodovia Castello Branco atingiu 12%. Nas rodovias Anhanguera e Bandeirantes foi de 10,9%.

Em todos os casos, os dados se referem à passagem pelos pedágios nas principalis praças de saída da capital.

ANO TODO

Não é só no verão que o fluxo para o interior vem crescendo. Comparada aos números de dois anos atrás, a movimentação de carros, de janeiro a novembro deste ano, subiu 5,4% na saída pela Anchieta-Imigrantes, contra 15% na Anhanguera-Bandeirantes e 18,3% na Castello.

Isso apesar da facilitação do acesso ao litoral após a abertura do trecho sul do Rodoanel, em abril de 2010.

As explicações para esse fenômeno não se limitam aos turistas insatisfeitos com a infraestrutura deficiente do litoral nos picos -e que se reflete não só nas estradas, mas nos gargalos de vias urbanas e na fila do pão na padaria.

Existe um boom no interior, onde população e frota têm crescido mais do que na capital -muitas pessoas optam por viajar todo o dia para trabalhar em São Paulo.

Ainda há uma expansão das redes hoteleira e imobiliária em um ritmo acelerado.

A abertura neste ano de um hotel de luxo pelo Fasano em Porto Feliz, a 122 km da capital, a Fazenda Boa Vista, é uma parte desse cenário.

"O interior tem se preparado, com nova rede hoteleira de padrões variados. Houve ainda aumento do poder de consumo das classes C e D", diz William Périco, presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens. Ele lembra que que os preços no litoral são mais altos no verão.

Denise Mizrahi, que comanda um site de locação de imóveis, detalha a diferença: uma casa de luxo para 22 pessoas por dez dias no Réveillon é alugada por R$ 23 mil no Guarujá. Um imóvel de igual padrão em Arujá, a 38 km de São Paulo, sai por R$ 10 mil.

CONGESTIONAMENTO

A arquiteta Lívia Maria Dalmaso, 24, sente as consequências do boom interiorano. Nos seis anos em que vive na capital, ela sempre viaja a Sertãozinho, a 335 km, para passar o fim do ano com a família. Em 2009, demorou três horas para chegar a Campinas, a 93 km. Neste ano, "enforcou" a sexta antes do Natal para sair antes. "Tem feriado e fim de semana com trânsito igual ao do Natal."

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TEATRO -  Nelson Rodrigues invade palcos em 2012.  Centenário do autor será marcado por novas montagens de peças famosas, além de inspirar musical e escola de samba
"Os Sete Gatinhos" será encenado no Rio e em São Paulo; o romance "O Casamento" também terá versão teatral FOLHA DE SP 29.12
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As comemorações do centenário de nascimento do dramaturgo Nelson Rodrigues, celebrado em 2012, já começaram e se estendem pelo ano que vem inteiro.

A festa atinge -literalmente- dimensões carnavalescas: no Rio, o dramaturgo tornou-se até tema de escola de samba, recebendo homenagem da Viradouro.

Nos palcos, o autor, que morreu em 1980, será celebrado com montagens de suas peças, criadas por alguns dos mais renomados artistas do país, como Marco Antônio Braz e Christiane Jatahy.

E não só peças. O romance "O Casamento" ganha versão encenada, numa parceria entre os grupos Bendita Trupe e Teatro Promíscuo, que também batalha com a Funarte uma publicação bilíngue (português e espanhol) de suas obras teatrais completas.

Em 2012, o autor inspirará ainda um musical("O Beijo no Asfalto", com direção de João Fonseca, composições e atuação de Claudio Lins).

Não poderia ser diferente. Antunes Filho, um dos principais nomes do teatro brasileiro nos últimos 50 anos, diretor que foi pioneiro ao vislumbrar Nelson Rodrigues como um autor trágico e não de costumes ou melodramático, divide a dramaturgia do país entre pré e pós Nelson.

"Ele é o maior escritor de teatro do Brasil", disse o encenador à Folha.

Marco Antônio Braz define o trabalho do dramaturgo como revolucionário. "Sua obra foi transformadora, na forma e no conteúdo, e absolutamente necessária para compreensão do Brasil, do brasileiro e do ser humano em si -e não de uma determinada classe e seus costumes, como já se pensou."

"O que Nelson traz à tona", completa Braz, "é lama, dejeto e sombra, tudo que pretendemos esconder em detrimento da pureza de uma idealização moral."

Braz, em São Paulo, e Christiane Jatahy, no Rio de Janeiro, dedicam a Nelson Rodrigues duas ocupações, nas quais diversas obras do autor são relidas, entre elas "Os Sete Gatinhos".

A versão carioca da peça estreia em janeiro, com concepção da coreógrafa Dani Lima, fundadora e ex-integrante da Intrépida Trupe. Em fevereiro "Os Sete Gatinhos" estreia em São Paulo, com direção de Nelson Baskerville e Renato Borghi no elenco.

Baskerville também apresenta em janeiro, dentro da ocupação de Braz, a segunda parte de "17 x Nelson", sua radiografia para os 17 textos teatrais do autor.

A peça ganha o subtítulo "A Nudez Feia da Família Brasileira". Para o encenador, ninguém conheceu melhor a família brasileira do que Nelson Rodrigues.

"Nelson desvenda a família como sendo, ao mesmo tempo, ninho de conforto e foco de neurose do indivíduo", explica ele, que faz do autor um personagem em cena, conduzindo as histórias amalgamadas.

A lista de encenações de Nelson Rodrigues para 2012 é grande. Destacam-se ainda obras como "Vestido de Noiva", dirigido por Jatahy em fevereiro, "Senhora dos Afogados", montagem carioca que deve estrear na cidade no ano que vem, concebida por Ana Kifouri -que também planeja montar "A Serpente" em 2012.

Alexandre Heinecke se propôs uma dobradinha: encenar "A Mulher sem Pecado" e "Viúva, porém Honesta" ao mesmo tempo e com o mesmo elenco. A previsão de estreia é agosto, mês de aniversário de Nelson.

O Grupo Gattu, que já montou cinco peças do dramaturgo, tem planos de fazer uma mostra de repertório. Começa em janeiro reestreando "A Serpente".

O ator Milhem Cortaz se prepara para protagonizar "Boca de Ouro", com direção do Ivan Feijó.

Veronica Fabrini, diretora da Boa Companhia, que tem seu doutorado em Nelson Rodrigues, busca recursos para apresentar "A Falecida", montagem em que participou no Chile como atriz recentemente, com atores de três nacionalidades.

Nelson Rodrigues, quem diria, virou unanimidade. Ou quase: afinal, como ele dizia, toda unanimidade é burra.
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Juízes receberam benefício por anos em que eram advogados
Pagamento de licenças-prêmio em tribunal de SP é investigado pelo CNJ.   Dois juízes receberam benefício de 450 dias referente ao tempo em que advogaram; eles não se manifestaram FOLHA DE SP 29.12
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O Tribunal de Justiça de São Paulo concedeu a 22 desembargadores licenças-prêmio referentes a períodos em que eles trabalharam como advogados, anteriores ao ingresso no serviço público.

Em dois casos, o benefício referente ao período em que atuaram por conta própria chegou a um ano e três meses -ou 450 dias.

O pagamento das licenças-prêmio está sob investigação do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e foi anulado pelo próprio tribunal um dia depois de o conselho iniciar uma devassa na folha de pagamento da corte paulista, no último dia 5.

A atuação do CNJ divide o mundo jurídico desde que o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Marco Aurélio Mello concedeu liminar impedindo que o conselho abra por iniciativa própria investigação contra juízes (leia entrevistas na pág A8).

A corte possui 353 desembargadores e, segundo a lei, um quinto de seus membros deve ter origem na advocacia ou no Ministério Público.

São os pagamentos feitos a parte dos desembargadores que entraram no tribunal pela cota reservada aos advogados que agora estão sendo analisados pelo CNJ.

A licença-prêmio é um benefício concedido a todos os servidores. A cada cinco anos de trabalho, eles têm direito a três meses de licença.

O tribunal pode converter a licença em pagamento em dinheiro. Cada 30 dias do benefício corresponde a um salário -o dos desembargadores é de R$ 24 mil.

As concessões sob análise começaram a ser pagas em julho de 2010, na gestão do desembargador Antonio Carlos Viana Santos, morto em janeiro, e continuaram sob a administração do atual presidente, José Roberto Bedran.

As maiores licenças-prêmio referentes ao período de exercício da advocacia (450 dias) foram concedidas aos desembargadores José Reynaldo Peixoto de Souza e Hugo Crepaldi Neto.

O cálculo do benefício para Souza teve como marco inicial o ano de 1976, quando atuava como advogado. Ele só ingressou no tribunal 25 anos depois, em 2001.

A licença-prêmio de Crepaldi Neto foi contada de 1983 a 2010, quando ele foi escolhido para compor o tribunal.

Segundo o presidente da Associação Paulista de Magistrados, Paulo Dimas de Bellis Mascaretti, o pagamento tem como base uma interpretação da Loman (Lei Orgânica da Magistratura).

A lei permite que magistrados contem, para fins de aposentadoria, até 15 anos do tempo em que atuaram como advogados. Porém, a Loman não trata da licença-prêmio.

O TJ-SP deverá julgar o caso após o recesso de janeiro.

A corte também é investigada pelo CNJ por supostos pagamentos de verbas relativas a auxílio moradia de forma privilegiada. O conselho apura ainda possíveis casos de enriquecimento ilícito.
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O RETRATO DE UM BRASIL QUE ANDA PARA TRÁS.    JADER VOLTA E MANDA RECADOS AO PLANALTO Correio Braziliense - 29/12/2011
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Depois de renunciar em 2001 e ter sido barrado pela Lei da Ficha Limpa, senador paraense assume o cargo em meio ao recesso parlamentar, promete ser um aliado do governo e diz que é "um recruta no fim da fila", mas dá pitacos sobre a reforma ministerial

Dez anos depois, Jader Barbalho (PMDB-PA) voltou a assumir uma das 81 cadeiras do Senado, posto que perdeu em 2001, após renunciar para escapar de um processo de cassação. Já no primeiro dia, recebeu mimos que não se aplicam aos novatos, como ser empossado em pleno recesso parlamentar e ser escoltado à liderança do PMDB para evitar protestos no Salão Azul. Apresentou-se como "um aprendiz", "um calouro", "um recruta" que entra no fim da fila, mas no meio do discurso manso mandou recados ao governo e demonstrou que chega para reforçar as fileiras do PMDB do Senado.

Jader comentou o espaço que o partido tem na Esplanada e disse que a reformulação da divisão dos postos passa por uma negociação dos líderes com o governo, mas atribuiu à presidente Dilma Rousseff a palavra final sobre a reforma ministerial. "Não considero que seja insatisfatório o espaço do PMDB, mas quem deve tomar a iniciativa para conversar sobre espaço é a presidente. Agora, essa questão é uma negociação dos líderes. Não é o PMDB que deve dizer o que quer, e sim esperar o chefe do governo se posicionar primeiro." O senador empossado ontem também fez questão de ressaltar que, apesar de o partido ter sido aliado do governo durante os oito anos de mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi a chapa composta por Dilma e Michel Temer (PMDB-SP) que selou a união entre PT e PMDB.

Apesar do cuidado com as palavras, Jader disse que pertence à base do governo, mas reservou-se o direito a posições independentes. "Evidentemente que isso (pertencer à base) não me impedirá de eventualmente vir a divergir (do governo). Afinal de contas, devo o meu mandato exclusivamente ao povo do Pará."

O embate travado na Justiça para assumir o mandato impedido pela Lei da Ficha Limpa engrossa a lista de mágoas do senador, que teve o lugar ocupado pela terceira colocada na disputa de 2010, Marinor Brito (PSol-PA). Ao afirmar que não tem dívidas de gratidão por ter conseguido reaver o mandato, Jader comparou o desafio que enfrentou nas urnas — ao convencer os eleitores a votar em um candidato que teria as indicações anuladas, pois ele se enquadrava nos critérios de inelegibilidade da Ficha Limpa — às disputas históricas que travou com o ex-senador Antônio Carlos Magalhães (morto em 2007). "Concorri em uma eleição em que a recomendação era não votar em mim, pois o voto seria anulado. Depois do Antônio Carlos, nenhum adversário foi tão difícil. É uma homenagem que eu quero fazer ao Antônio Carlos Magalhães, que disse em uma entrevista que o adversário mais difícil era eu", lembrou.

Jader criticou os critérios da Lei da Ficha Limpa e afirmou que a regra precisa ser dividida em "duas etapas". A primeira, segundo ele, já foi encerrada e acabou quando o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que a lei não valeria para as eleições de 2010. A segunda, continua o raciocínio, começa agora, na análise sobre a aplicabilidade da regra que veta a candidatura de políticos com condenações. "É como revogar a lei do divórcio e enquadrar você como bígamo", comparou.
Cartas ao Supremo

Questionado sobre a influência negativa que cartas endereçadas a ministros do STF tenham provocado, adiando sua posse, o senador do PMDB afirmou que o conteúdo das missivas era respeitoso. Jader é o último dos barrados pela Ficha Limpa a retomar o cargo no Senado. João Capiberibe (PSB-AP) e Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) tiveram mais rapidez no resultado dos recursos. "É uma interpretação equivocada, mandei uma carta altamente respeitosa, não há uma expressão sequer", disse, negando a pressão ao relator do processo, ministro Joaquim Barbosa.

Às vésperas da decisão do Supremo que determinou a posse de Jader, senadores da cúpula do PMDB se empenharam para fazer valer para o colega decisão que os magistrados tomaram favoravelmente a outros dois parlamentares também enquadrados no critério da Ficha Limpa. Ontem, na cerimônia de posse que ocorreu na presença de representantes da Mesa Diretora, apenas o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), participou. O presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), foi substituído pela vice, Marta Suplicy (PT-SP), que deu posse a Jader. Considerado um dos principais aliados do novo senador na Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL) também faltou à cerimônia, mas funcionários do gabinete do líder do partido no Senado prestaram suporte a Jader.

O caçula e as
travessuras

Jader Barbalho (PMDB-PA) recrutou
os dois filhos mais novos para acompanhá-lo na missão de enfrentar a primeira coletiva de imprensa na volta ao Senado. Daniel, de 9 anos, sentou-se à direita do pai e Giovana, de 15 anos, à esquerda. Em vez de encontrar apoio familiar na presença das crianças, o filho mais novo de Jader deixou o peemedebista em saia-justa. Para matar o tédio, Daniel passou o tempo fazendo caretas e "chifres". Empolgado com a metralhadora de perguntas dos repórteres, Daniel levantava o dedo para também interrogar o pai e arriscou, até mesmo, perguntas incisivas. "Qual foi a maior denúncia de outro vereador do PMDB?", perguntou ao pai durante a coletiva. "Que vereador, rapaz, é senador", retrucou Jader, emendando que se arrependeu da hora em que decidiu levar o caçula para a solenidade.