quarta-feira, 31 de março de 2010

IMPOSTO DE RENDA/SERVIÇO FOLHA IOB

Prazo para pedir débito da primeira cota termina hoje

FSP 31/03

O contribuinte que tiver imposto a pagar na declaração e quiser agendar o pagamento via débito automático em conta corrente desde a primeira cota (ou da cota única) tem de entregar, pela internet, até a meia-noite de hoje a declaração à Receita Federal. O débito, porém, só ocorrerá em 30 de abril.
Entregas a partir de amanhã e até 30 de abril ainda permitirão o débito em conta corrente, mas apenas a partir da segunda cota. Nesse caso, a primeira cota tem de ser paga através de Darf (pelo código 0211), em qualquer agência bancária.

54 - Dois lotes de terrenos e uma casa foram cedidos a uma incorporadora para a construção de um condomínio. Receberei em troca três unidades, que serão vendidas por R$ 150 mil cada uma. Na apuração do ganho de capital o valor de R$ 150 mil deve ser lançado para cada um dos imóveis? (D.S.).
R
- Sim, uma vez que você receberá R$ 450 mil. Preencha o programa Ganho de Capital do ano da venda, para cada um dos terrenos e da casa, e importe os dados para a declaração do exercício respectivo. O imposto apurado terá de ser pago até o último dia útil do mês seguinte ao da venda das unidades.

55 - Enviei minha declaração mas deixei de mencionar alguns dados. Por isso, em vez de restituição terei de pagar imposto. Como faço? (L.).
R
- Faça as retificações necessárias. É preciso informar o número de Recibo de Entrega da declaração original. Até 30 de abril, é possível mudar a opção quanto ao uso do desconto simplificado de 20% para as deduções legais permitidas.

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Humanidade não pode salvar o planeta, afirma criador da Teoria de Gaia

BBC Brasil 31/03

Mudar os hábitos para tentar salvar o planeta é "uma bobagem", na opinião de um dos mais conceituados especialistas em meio ambiente no mundo, o britânico James Lovelock, para quem a Terra, se for salva, será salva por ela mesma.

"Tentar salvar o planeta é bobagem, porque não podemos fazer isso. Se for salva, a Terra vai se salvar sozinha, que é o que sempre fez. A coisa mais sensível a se fazer é aproveitar a vida enquanto podemos", afirmou Lovelock em entrevista à BBC.

O cientista de 90 anos é autor da Teoria de Gaia, que considera o planeta como um superorganismo, no qual todas as reações químicas, físicas e biológicas estão interligadas e não podem ser analisadas separadamente.

Considerado um dos "mentores" do movimento ambientalista em todo o mundo a partir dos anos 1970, Lovelock é também autor de ideias polêmicas como a defesa do uso da energia nuclear como forma de restringir as emissões de carbono na atmosfera e combater as mudanças climáticas.

Gatilho Para Lovelock, a humanidade não "decidiu aquecer o mundo deliberadamente", mas "puxou o gatilho", inadvertidamente, ao desenvolver sua civilização da maneira como conhecemos hoje.

"Com isso, colocamos as coisas em movimento", diz ele, acrescentando que as reações que ocorrem na Terra em consequência do aquecimento, entre elas a liberação de gases como dióxido de carbono e metano, são mais poderosas para produzir ainda mais aquecimento do que as próprias ações humanas.

Segundo ele, no entanto, o comportamento do clima é mais imprevisível do que pensamos e não segue necessariamente os modelos de previsão formulados pelos cientistas.

"O mundo não muda seu clima convenientemente de acordo com os modelos de previsões. Ele muda em saltos, como vemos. Não houve aumento das temperaturas em nenhum momento neste século. E tivemos agora um dos invernos mais frios em muito tempo em todo o hemisfério norte", diz Lovelock.

Energias renováveis Durante a entrevista à BBC, o cientista britânico afirmou ainda não ver sentido na busca de alguns hábitos de consumo diferentes ou no desenvolvimento de energias renováveis como forma de conter as mudanças climáticas.

"Comprar um carro que consome muita gasolina não é bom porque custa muito dinheiro para manter, mas essa motivação é provavelmente mais sensata do que a de tentar salvar o planeta, que é uma bobagem", diz.

Para Lovelock, a busca por formas de energia renováveis é "uma mistura de ideologia e negócios", mas sem "uma boa engenharia prática por trás".

"A Europa tem essas enormes exigências sobre energias renováveis e subsídios para energia renovável. É um bom negócio, e não vai ser fácil parar com isso, mas não funciona de verdade", afirma.

terça-feira, 30 de março de 2010

Computadores não ajudam as crianças a irem bem na escola

Freakonomic

Stephen J. Dubner e Steven D. Levitt*

Crianças utilizam computadores em lan house do bairro do Grajaú, em São Paulo

No seu novo trabalho, “Home Computer Use and the Development of Human Capital” (“O Uso do Computador Doméstico e o Desenvolvimento de Capital Humano”), os economistas Ofer Malamud e Cristian Pop-Elechs observam que a “lacuna digital” dentro de países e entre estes pode ser vasta, e que grandes recursos governamentais e não governamentais estão sendo investidos para resolver o problema. Os autores dizem que nos Estados Unidos “menos da metade das crianças de famílias com renda anual inferior a US$ 25 mil (R$ 45 mil) mora em uma residência dotada de um computador, enquanto que 92% das crianças de famílias com renda superior a US$ 100 mil (R$ 180 mil) têm acesso a um computador doméstico”.

Portanto, seria lógico assumir que as crianças com acesso ao computador contam com uma grande vantagem em se tratando de adquirir capital humano, certo?

No entanto, a parte complicada é separar a causa do efeito. Conforme nós escrevemos no passado, crianças que crescem em casas com muitos livros têm maior probabilidade de se saírem melhor na escola do que aquelas de casas sem livros – mas não necessariamente porque elas passam o tempo inteiro lendo. Os dados sugerem que as crianças de casas dotadas de muitos livros possuem pais mais inteligentes.

Ao fazerem uma pergunta similar sobre computadores domésticos, Malamude e Pop-Eleches descobriram uma boa variável para explorarem. Segundo o sumário do trabalho dos economistas, eles coletaram dados de domicílios que participaram de um programa do governo romeno que distribuiu vales de acordo com a renda familiar. Esses vales subsidiaram a aquisição de um computador pessoal por família. No sumário do trabalho os autores ressaltaram as seguintes conclusões:

Nós demonstramos que as crianças de domicílios que receberam um vale apresentavam uma probabilidade bem maior de possuir e usar um computador do que aquelas de domicílios que não receberam nenhum vale. Os nossos principais resultados indicam que o uso de um computador doméstico têm efeitos positivos e negativos sobre o desenvolvimento de capital humano. As crianças que obtiveram um vale apresentaram notas escolares significativamente mais baixas em matemática, inglês e romeno, mas notas substancialmente mais altas em um teste de habilidades em informática e em avaliações auto-declaradas de fluência em computadores. Há também indicações de que o recebimento de um vale aumentou a capacidade cognitiva, conforme medida pelo teste Matrizes Progressivas de Raven. Nós não encontramos muita evidência de efeitos sobre resultados não cognitivos. Finalmente, a presença de regras impostas pelos pais em relação ao uso do computador e deveres de casa parece mitigar os efeitos da disponibilidade de um computador doméstico, o que sugere que o monitoramento e a supervisão por parte dos pais podem ser importantes fatores de mediação.

Portanto, embora o fato de possuir um computador em casa ajude as crianças a desenvolver habilidades de informática, ao que parece isso reduz as notas em matemática e em leitura.

Para muitos educadores da escola primária, essa conclusão não deve ser nenhuma surpresa. Apesar de todo esse papo de lacuna digital, muitos professores se empenham em manter os computadores longe das salas de aula desde que as crianças são bem novas, de forma a encorajá-las a desenvolver suas atividades sem esses equipamentos. A minha mulher e eu refletimos bastante sobre essa questão já que o nosso filho de nove anos de idade usa o seu computador para todos os tipos de atividades – não só para jogos e ligas de esporte fantasy, mas também para ler as notícias e pesquisar o que quer que o seu cérebro deseje, seja o assunto vulcões, Hitler ou presidentes canhotos. Ele também lê muitos livros – mas será que ele leria mais se não houvesse um computador em casa? E haveria mais benefício em tal caso? E será que a sua alfabetização digital garantirá a ele, no futuro, benefícios ainda não previstos?

*Stephen J. Dubner e Steven D. Levitt são os autores dos livros “Freakonomics: A Rogue Economist Explores the Hidden Side of Everything” (“Freakonomics: Um Economista Renegado Explora o Lado Oculto de Tudo”) e “SuperFreakonomics: Global Cooling, Patriotic Prostitutes, and Why Suicide Bombers Should Buy Life Insurance” (“SuperFreakonomics: Resfriamento Global, Prostitutas Patriotas e por que Homens-bomba Deveriam Fazer Seguro de Vida”). Para ler mais Freakonomics, visite o site (em inglês) www.freakonomics.com.

segunda-feira, 29 de março de 2010

MARINA SILVA – FSP 29/03

Cidades sustentáveis

SUSTENTABILIDADE É A palavra-chave para todo empreendimento, todo processo produtivo e toda solução urbana do século 21. Não teremos rios limpos sem saneamento básico. Não teremos cidades com qualidade de vida sem planejamento urbano e integração à natureza. Não teremos desenvolvimento econômico sem meio ambiente equilibrado.
Já um pouco tarde, as grandes metrópoles do mundo parecem ter percebido isso. Descobriu-se que a boa cidade é aquela que integra seus habitantes, que respeita o meio ambiente, que destina adequadamente o lixo, que oferece moradia, água, saneamento básico, transporte eficiente e menos poluente e se prepara também para os seus futuros moradores.
As cidades brasileiras, ao crescerem rápido demais e sem planejamento, reproduziram injustiças e desigualdades sociais, potencializando a pobreza e a violência. E, sem levar em conta a sustentabilidade, têm se tornado cada vez mais excludentes, pois as soluções da engenharia e os investimentos públicos nem sempre obedecem ao critério do bem-estar de toda a população.
Não é fácil, mas é possível, para uma nação emergente como o Brasil, com demandas legítimas de crescimento e com mazelas antigas a serem equacionadas, trilhar o caminho inovador da sustentabilidade. Temos de aproveitar as oportunidades -que no país são imensas, devido à carência estrutural em muitas áreas- e mudar os velhos modelos. Infelizmente, muitos querem continuar repetindo os erros de sempre. Mas políticas públicas devem ser dirigidas para uma nova realidade socioambiental.
Na semana passada, o Rio de Janeiro sediou o Forum Urbano Mundial (ONU Habitat), principal evento de urbanismo do mundo.
Logo na abertura, uma notícia ruim. Um relatório revelou que, das 20 cidades mais desiguais do planeta, cinco são brasileiras: Goiânia, Belo Horizonte, Fortaleza, Brasília e Curitiba. A boa nova surgiu ao final, com o lançamento da Campanha Urbana Mundial, para envolver os governos locais e nacionais, setor privado e organizações da sociedade civil na adoção de práticas sustentáveis e democráticas, um instrumento importante para melhorarmos a vida nas nossas cidades.
É o que a população quer e espera. Quando os governos intervêm para resolver os problemas urbanos, não podem deixar de lado as ideias e os projetos provenientes de iniciativas da sociedade, como do Movimento Nossa São Paulo e de muitos outros espalhados pelo país. Somente unindo forças poderemos mudar a realidade de nossas cidades. Sem isso, estaremos caminhando para trás, deixando passivos ambientais e sociais cada vez maiores.

contatomarinasilva@uol.com.br

domingo, 28 de março de 2010

Vício coletivo por erva proscrita em outros países move o Iêmen – FSP 28/03

Cerca de 80% dos homens e 50% das mulheres do país mais pobre do Oriente Médio mascam qat, droga contraindicada por ONU e OMS

Para adeptos, erva clareia ideias, serve de antídoto contra o cansaço, aumenta a potência sexual e pode até aproximar usuário de Deus

Consumida por 80% dos homens e 50% das mulheres no Iêmen, a erva qat altera a consciência, vicia, afeta o bolso dos mais pobres, inibe a produtividade e alimenta redes de contrabando internacional. A ONU e a Organização Mundial da Saúde a consideram uma droga e recomendam que seu comércio seja, no mínimo, mais controlado. Mas, para a maioria dos iemenitas, mascar qat é um hábito cultural inofensivo.
A erva é onipresente no país mais pobre do Oriente Médio. Homens caminham pelas ruas com as bochechas inchadas de tanto qat. Motoristas seguram o volante com uma das mãos enquanto a outra leva as folhas até a boca. Policiais orientam o trânsito com fisionomia de quem está ruminando. Os sorrisos deixam à mostra rastros verdes nos dentes.
Dentro das casas, o consumo é coletivo e ocorre geralmente na sala de estar, onde os homens se acomodam em compridos colchões colocados rente às paredes, em meio a uma fartura de almofadas.
É durante a tarde que as pessoas se reúnem para "estocar [erva na boca]", conforme o verbo usado em árabe.
A vida no Iêmen parece voltada para um vício coletivo. Repartições públicas fecham às 14h, e o movimento no comércio despenca nas tardes. Só as feiras de qat, onde vendedores ficam sentados no chão rodeados por sacolas, permanecem cheias de gente o dia todo.
Antes do consumo, as folhas devem ser separadas dos pequenos galhos. As maiores têm o tamanho de um polegar e são colocadas aos montes na boca. A mastigação é feita de um só lado. Recomenda-se não engolir a maçaroca, que pode ser mascada durante horas.
O qat, dizem os adeptos, clareia as ideias e propicia longas e agradáveis conversas entre amigos. A erva também é vista como um poderoso antídoto contra o cansaço. Há quem garanta potência sexual extra.
A prova mais simbólica da aceitação sem complexo do qat está no fato de os iemenitas não verem problema em rezar sob os efeitos da planta. Para alguns clérigos do Iêmen, o qat favorece o elo com Deus.
Muitos discordam, inclusive a elite religiosa da vizinha Arábia Saudita, onde o qat é combatido -as escrituras vetam rezas em estado alterado.
No plano sanitário também há ampla condenação. O qat, segundo estudos médicos, pode causar transtornos que vão de crises de paranoia a surtos de agressividade. A erva é banida em quase todo o mundo. Nos EUA é considerada droga Categoria 1, como a heroína e o LSD.
A droga está destruindo o Iêmen, garante a associação Por um Iêmen sem Qat, financiada por uma família de ricos intelectuais. "É um hábito que ocupa a maior parte do tempo das pessoas. Pais e mães passam mais tempo mascando do que cuidando dos filhos", disse à Folha Adel al Jaraza, diretor-executivo da associação.
O maior problema, segundo al Jaraza, é econômico. "As pessoas gastam mais com qat do que com comida", aponta.
O plantio de qat é tido como vilão do setor agrícola, por usar 40% dos recursos hídricos do país. A produção, quatro vezes mais rentável do que a de frutas, cresce 15% ao ano, acompanhando a alta do consumo.
O governo diz combater o qat, mas não ousa proibi-lo. Muitas fazendas pertencem ao alto escalão oficial.
"O problema não é o qat, é a pobreza, o desemprego e a falta de lazer. Em Sanaa, não há nem sequer um parque decente para passear. Não nos restará nada se proibirem o qat", diz o servidor Brahim Medani.

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Mudança no código penal provoca reação de advogados e juízes - FSP 28/03

Alterações no Código de Processo Penal deverá ser aprovada pelo Senado até maio; pontos polêmicos são alvo de críticas

Discussão sobre a reforma teve início há dois anos e abrange temas como uso de algemas, prisão especial e limitação do habeas corpus

O país passará por uma ampla mudança em sua legislação penal, com alterações que vão desde o fim da prisão especial para pessoas com diploma de faculdade até a limitação do uso de habeas corpus.
A reforma do Código de Processo Penal deverá ser aprovada pelo Senado até maio deste ano, mas já é alvo de críticas de entidades e juristas.


A discussão sobre a reforma começou há dois anos e abrange temas como uso de algemas, prisão especial e monitoramento eletrônico de presos.
Pontos polêmicos como a criação do juiz de garantias reacenderam, por exemplo, o debate acerca do limite do poder Judiciário em investigações.
Pelo novo texto, o juiz de garantias irá acompanhar a primeira fase da investigação -a segunda, processual, ficará com outro magistrado.
O argumento em favor da medida é que o magistrado responsável pelas duas fases acaba se tornando parcial, por ter se envolvido na investigação. A tese, contudo, é controversa.

Pessoal insuficiente
Parte dos críticos da medida alega que o número de juízes no país não é suficiente para que tal medida seja adotada -algumas comarcas do país nem magistrado têm.
Existe ainda o fato de um processo passar por dois juízes, o que tornaria a investigação morosa. O coro dos descontentes é composto, principalmente, por entidades representativas da Polícia Federal e Ministério Público.
Marcos Leôncio Ribeiro, da associação dos delegados da Polícia Federal, afirma que todo magistrado, por princípio, "é um juiz de garantias".
O presidente da Ajufe (Associação dos Juízes Federais do Brasil ), Fernando Mattos, também teme amarras nas investigações. "A criação da figura do juiz de garantias preocupa, inclusive por essa nomenclatura", afirma Mattos.
O relator do novo código no Senado, Renato Casagrande (PSB-ES), discorda do argumento. "Precisamos é proteger mais o cidadão. Tudo novo gera uma reação", argumenta o parlamentar.
Há outras mudanças consideradas radicais à luz da atual legislação, como a que estabelece prazo para a prisão preventiva e a restrição ao uso de habeas corpus, que só poderá ser pedido em casos de ameaça ao direito de locomoção e lesão.
Também entrará na reforma do novo código a possibilidade de investigação via interceptação telefônica.
Esse mecanismo só poderá ser usado quando se tratar de crimes em que a pena máxima for superior a dois anos, e com prazo de duração de dois meses. No caso de crime permanente, como sequestro, a interceptação não poderá ultrapassar um ano. Hoje, não há esse tipo de restrição na lei.
O júri popular também mudará. Atualmente, o júri é formado por sete pessoas e, por isso, não há possibilidade de empate. A nova proposta quer ampliar o número para oito integrantes. Em caso de empate, o réu será absolvido.

Câmara
Todo o trabalho feito até agora pelo Senado, no entanto, deverá sofrer modificações na Câmara. A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), por exemplo, afirma que vai apresentar "dezenas e dezenas" de emendas, quando o projeto chegar à Câmara dos Deputados.
"Vamos fazer um trabalho de fôlego e sugerir modificações. Não deixaremos que façam restrições ao habeas corpus", avisa Délio Lins e Silva, conselheiro da entidade.
Os deputados federais reconhecem que há pontos no novo código que serão diretamente questionados, o que tornará impossível aprová-lo neste ano. As eleições vão travar os trabalhos a partir do meio do ano. A conclusão deve ocorrer no ano que vem, quando o pacote de lei completa 70 anos.

sábado, 27 de março de 2010

Obra é referência consistente sobre a história das artes

Livro traz biografias e principais trabalhos de 500 pintores e escultores, mas esquece artistas nacionais significativos

"O Livro da Arte", publicado originalmente pela editora inglesa Phaidon, em 1994, é já um clássico para a consulta rápida sobre a biografia e principais características de 500 artistas que compuseram boa parte da história da arte nos últimos 600 anos.
Agora, a Publifolha relança a publicação, após uma edição de bolso organizada no Brasil pela editora Martins Fontes, em 1999. A nova edição tem formato maior, o que valoriza mais o caráter imagético que, de fato, é uma das principais vantagens da publicação, contando a história da arte através de grande parte de suas obras mais significativas em boas reproduções.
Em tempos de consulta permanente na internet, seja na Wikipédia ou outros sites, "O Livro da Arte" segue com uma vantagem: a fidedignidade das informações, com datas e nomes, quando no universo virtual ainda há muita falha para tal tipo de pesquisa.
A publicação é basicamente uma enciclopédia visual, organizada em ordem alfabética pelos nomes dos artistas, com um verbete por página. Em cada uma, há uma obra representativa de sua produção. Marcel Duchamp (1887-1968), por exemplo, aparece com o famoso urinol de porcelana, de 1917, no qual assina como R. Mutt. Na página há uma resumida biografia do artista, suas principais características e ainda uma lista de artistas que possuem alguma vinculação com sua obra.
Isso ocorre com todos os 500 artistas presentes na publicação, dos grandes nomes do gótico, como o holandês Claus Sluter (1380-1405), até destacados criadores contemporâneos, como os norte-americanos Cindy Sherman e Bill Viola.
"O Livro da Arte" traz ainda um sintético glossário de termos técnicos e outro de movimentos artísticos, além de uma lista dos principais museus no mundo que guardam as obras representadas na publicação, sem mencionar o Museu de Arte de São Paulo, o Masp, que possui muitos dos artistas italianos e modernos apresentados na publicação.
Essa, aliás, é uma questão que merece ser observada em "O Livro da Arte". Sendo uma edição brasileira, há ausências significativas, como Tarsila do Amaral (1886-1973), especialmente em sua fase antropofágica, hoje uma referencia internacional, ou mesmo nomes contemporâneos como Hélio Oiticica (1937-1980) e Lygia Clark (1920-1988), já agregados a outros compêndios similares.
Afinal, se a publicação abarca nomes do muralismo mexicano, como José Clemente Orozco (1883-1949), ou norte-americanos que se destacaram nos anos 1980, como Jean-Michel Basquiat (1960-1986), a falta dos citados nomes nacionais torna-se mais evidente.
Mesmo assim, o livro continua uma referência importante para uma consulta ligeira, mas consistente, como toda obra enciclopédica dessa natureza.

O LIVRO DA ARTE

Autor: Vários
Tradução: Maria da Anunciação Rodrigues
Editora: Publifolha
Quanto: R$ 66 (512 págs.)
Avaliação: ótimo

FOLHA DE SÃO PAULO 27/03

sexta-feira, 26 de março de 2010



Editorial FSP 26/03


Lei contra lei

CHEGA A TER aspectos irônicos a discussão criada em torno do voto nos presídios, objeto de recente resolução do Tribunal Superior Eleitoral. Com razões de sobra, juízes e membros do Ministério Público manifestam preocupação diante das dificuldades inerentes à ideia de assegurar-se o direito de voto aos presos provisórios, no pleito de outubro. A prerrogativa é garantida constitucionalmente aos 152 mil brasileiros que, hoje, aguardam julgamento nas prisões; o TSE simplesmente seguiu o disposto na Carta.
Seguir o que determina a lei não é, contudo, tarefa simples nem hábito arraigado entre as autoridades no que tange à realidade do sistema prisional. Basta dizer que a Lei das Execuções Penais determina que cada preso tem direito a cela individual, de no mínimo 6 m2, com aparelho sanitário e lavatório (art. 88), ou que lhe está assegurada a possibilidade de exercer trabalho remunerado na prisão (art. 41).
Longe de constituir privilégio, determinações como estas representam um fator a mais de segurança para a sociedade -que em nada se beneficia ao ver detentos amontoados em covis, cuja administração na prática está frequentemente a cargo de facções do crime organizado, onde se trafica, mata, tortura e estupra impunemente.
Mas é irrealista imaginar, por exemplo, que mesários (seriam 4.000 a requisitar) possam entrar serenamente nesses barris de pólvora para zelar, como se diz, pela "lisura do pleito"; que urnas sejam levadas e retiradas em segurança do local; que haja plena liberdade de acesso à propaganda dos candidatos; ou que o poder de pressão do crime organizado não se exerça sobre o contingente dos detidos.
Tomada às vésperas do pleito, dada a omissão dos tribunais regionais, a decisão do TSE agrega novos fatores de perturbação a um quadro que, por si só, já se situa fora dos padrões da lei.
Resulta disso, como é comum no Brasil, um paradoxo. A lei que se quer cumprir se choca com a lei que não se cumpre, sem que nenhuma das duas se modifique. A solução habitual é engavetar a ambas; mas as gavetas -como as prisões- padecem de grave problema de superlotação.

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Funcionário do TJ de Alagoas e advogado são presos acusados de esquema de venda de sentenças

UOL Notícias – Em Maceió – 24/03

Um funcionário do TJ (Tribunal de Justiça) de Alagoas e um advogado tiveram a prisão decretada na noite desta quarta-feira (24) pelos juízes da 17ª Vara Criminal da Capital. Eles são acusados de integrarem um esquema de venda de sentenças. O pedido de prisão foi feito pelo MPE (Ministério Público Estadual).

Segundo o Grupo Estadual de Combate às Organizações Criminosas – integrante do MPE e autor da solicitação à Justiça – o pedido foi feito porque existem indícios de que os dois estavam atrapalhando as investigações dos promotores sobre o suposto esquema que envolveria vários integrantes do judiciário.

Flávio Baltar Maia é funcionário do TJ, lotado no gabinete do desembargador Washington Luiz. Filho do ex-presidente do TJ e desembargador aposentado Jairon Maia Fernandes, ele aparece em gravações telefônicas entregues à Justiça supostamente negociando sentenças judiciais. Três desembargadores e juízes alagoanos são citados nas conversas.

Já o advogado Fernando Costa, que chegou a ser candidato a desembargador durante o quinto constitucional da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) em 2009, seria citado nas gravações como uma espécie de “facilitador” do negócio. Ele é um dos profissionais mais conhecidos e requisitados do Estado. Nenhum dos dois acusados se pronunciou sobre as denúncias.

Acompanhado de advogados, os dois se entregaram na sede do Corpo de Bombeiros Militar por volta das 20h30, onde devem permanecer detidos. Nenhum deles conversou com os jornalistas na chegada. Até as 22h desta quarta-feira, os advogados ainda permaneciam na sede do Corpo de Bombeiros e também não prestaram esclarecimentos.

A presidente do TJ, Elisabeth Carvalho, informou que não tinha conhecimento da decisão de prender os acusados, e contou que uma comissão investiga internamente o suposto esquema. O processo está a cargo dos desembargadores Pedro Augusto Mendonça, Alcides Gusmão e Otávio Praxedes.

No dia 25 de fevereiro, Carvalo levou as gravações com as “denúncias gravíssimas” ao presidente do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), Gilmar Mendes. Cópias das gravações já haviam sido entregues à Polícia Federal.

As gravações teriam sido feitas e entregues às autoridades pelo ex-delegado Wladney José da Silva, que mantém os diálogos com Flávio. Ele está detido na Casa de Custódia de Maceió há pouco mais de um mês, acusado de ameaçar, por meio de uma carta assinada, o desembargador Tutmés Airan. Wladney tenta reaver judicialmente o cargo na Polícia Civil de Alagoas.

Já a família do ex-delegado tenta reverter na Justiça um imóvel vendido numa das principais ruas do Centro de Maceió. Segundo familiares, o comprador não teria honrado com as parcelas do pagamento. O caso ainda está sendo analisado pelo TJ, num processo que tem a relatoria de Tutmés Airan.

segunda-feira, 22 de março de 2010

A internet não vai acabar com os jornais impressos

El País 19/03

Alguns preveem o fim da imprensa escrita por causa da explosão da internet. O verdadeiro dilema, no entanto, não está entre jornalismo impresso ou digital, mas, como sempre, entre bom ou mau jornalismo

Na rede já proliferavam as narrativas do terremoto, e também vídeos falsos como o que as televisões recolheram no YouTube, mas o mundo só fez uma ideia precisa da catástrofe do Haiti quando os enviados especiais puseram seus pés lá. Só então chegamos a ter uma medida da tragédia, a aspirar o odor adocicado da cadaverina, a sentir as mãos dos meninos perdidos que se agarravam às dos jornalistas.

Um sentimento de orgulho profissional percorreu as redações de meio mundo quando os "nossos" chegaram ao Haiti e começaram a cumprir seu ofício: descrever o que há, averiguar o que acontece, apalpar o sofrimento, remexer consciências e responsabilidades, desencadear a onda solidária. "Ei, companheiros, vejam: não estamos acabados, ainda podemos fazer bem as coisas", veio a ser essa mensagem. Orgulho, sim, porque o jornalismo anda com a moral deprimida. Muitos leitores, sobretudo jovens, já não visitam outro quiosque senão o totalmente grátis da rede, e sem negócio não há independência econômica nem informativa.

O panorama internacional projeta uma sombra preocupante: fechamento de veículos, redução de plantéis, migração de anunciantes para a web, previsões apocalípticas de que o jornalismo escrito tem os dias contados. "Outubro de 2044" - anote essa data porque, segundo as extrapolações do professor de jornalismo Philip Meyer, nessa data os jornais americanos perderão o último de seus leitores. No entanto, a análise das notícias divulgadas por 53 canais de informação de Baltimore mostrou que a imprensa generalista, seja em papel ou na web, produz 48% das notícias por elaboração própria; os jornais especializados, 13%; as televisões locais, 28% e as rádios, 7%, contra 4% das novas mídias: jornais digitais, blogs, sites locais, Twitter...

De acordo com esse estudo do gabinete de ideias Centro de Pesquisas Pew, os canais da internet, imbatíveis para dar a notícia em primeiro lugar, geralmente se limitam a reciclar as informações das mídias convencionais, sem dar maior valor agregado. Seria um triste paradoxo que a notícia verificada e contextualizada fosse engolida exatamente pela avalanche planetária atual de fontes emissoras e multiplicadoras de dados e opiniões. Que notícias (notícias, não comunicados de imprensa, destilações do marketing, doutrinas ou pregações) serão difundidas na internet quando esses "dinossauros" estiverem extintos? A eliminação da imprensa escrita acarretará o desaparecimento do jornalismo e dos jornalistas, pelo menos como os conhecemos até hoje?

No papel, o nascimento da internet - livre, gratuita, simultânea, horizontal, ilimitada - só poderia ser motivo de satisfação: chegou a mudança de paradigma, o novo vínculo entre imprensa e cidadania que permite transmitir todas as vozes, difundir as verdades que a mídia cala devido às pressões do poder. Acaba-se finalmente o oligopólio informativo que a elite profissional vinha exercendo sobre um público majoritariamente passivo. Está inaugurada a "democracia comunicativa".

Especialista dá soluções para crise no jornalismo impresso

À espera dos ajustes econômicos, jurídicos, técnicos e jornalísticos, o risco hoje consiste em jogar fora a água suja da banheira com a criança dentro. É essa a incerteza própria das situações em que o velho não acaba de morrer e o novo não acaba de nascer, ou simplesmente a angústia da adaptação forçada que o jornalismo escrito já conheceu com o surgimento do rádio e da televisão?

Além do anonimato, a internet deve ter algo para que, nestes primórdios, atraia tantos navegantes na intolerância que veem no bate-papo em grupo não um espaço para debater e rebater, mas um campo de batalha. Por que pululam aí pessoas inclinadas a denegrir ou vilipendiar, mentes preguiçosas que não leem o que desqualificam e soltam a primeira coisa que lhes passa pela cabeça? Não são só os "trolls", internautas especializados em provocar e irritar, que assaltam os fóruns e arrasam o diálogo racional comedido. São, sobretudo, internautas que veem sentido em arruinar o crédito e a reputação alheios, enquanto pontificam sobre o divino e o humano.

Em seu livrinho "Internet, o Êxtase Preocupante", Alain Finkielkraut escreveu que os cidadãos do ciberespaço comemoram como vitória da igualdade a liquefação do autor reconhecido. O filósofo francês acredita que o exercício irresponsável desse "direito a ser autor" que assiste a todo internauta e a possibilidade que oferece a mídia de agir sem compromisso, conduz a um modelo de "liberdade fatal". A escritora Rosa Pereda lembrou que o escândalo, a fraude, o insulto e a maledicência são as formas mais eficazes de controle social. Sua impressão é que na rede se reproduz o tom da discussão tabernal, com a diferença de que hoje estamos diante de uma taberna global permanente, onde tudo o que se diz, fica.

Segundo a Associação de Internautas, 70% dos espanhóis que navegam pela rede têm dificuldade para distinguir os boatos das notícias confiáveis. Embora a tese que nega fundamento à profissão de jornalista esteja no ambiente - "Por que não posso entrevistar Zapatero?", reclamava o orador de um debate universitário -, os internautas pensam que as versões online da imprensa convencional são, apesar de tudo, as fontes mais confiáveis.

É que o jornalismo se consagrou exatamente como filtro eficaz contra o boato. Equivocam-se os que acreditam que o jornalismo na rede pode prescindir da formação, do código deontológico, do estatuto de redação, da ética ou da vergonha mortal. "Ah, como se os jornalistas respeitassem seus códigos", dirão os que pregam o fim do jornalismo. Apesar de tudo, talvez os cínicos jornalistas retratados com maestria em "A Primeira Página", de Billy Wilder, sejam sujeitos simpáticos comparados com o que prolifera por aí. Melhor estar entre os três P's (putas, policiais, periodistas) do que se colocar nas mãos de grupos inescrupulosos ou de aficionados temerários atacados pela soberba.

Os que acreditam que podem suplantar o jornalista sem problemas poderiam fazer o simples exercício de elaborar uma notícia no tempo que os profissionais levam, para compreender que captar o significado, ordenar os dados com critério, contextualizá-los e redigi-los de forma compreensível e atraente é uma tarefa que exige conhecer o ofício. Não vimos escritores consagrados naufragar no gênero da reportagem, e intelectuais perder-se em entrevistas-rio, sem princípio nem fim? Com suas misérias e o pesado lastro de seus outros três P's domésticos - "paro" [desemprego, em espanhol], precariedade e pressões -, o jornalismo, onde o êxito é sempre efêmero e a reputação profissional caminha à beira do precipício, cumpre uma função imprescindível.

Apesar da qualidade indubitável de alguns espaços e do mérito pessoal dos que os animam, nosso universo digital está muito colorido por plataformas sectárias, "confidenciais" onde claudica a regra da verificação, fabulistas informativos que todos os dias rearmam a teoria da conspiração do 11 de Março, tertúlias de boca quente em disputa para ver quem diz a mais gorda. Mas a rede não inventou a mentira. A rentável escola da invectiva nacional já funcionava antes entre nós, como funcionavam os carniceiros que fazem espetáculo do mais sagrado.

Segundo isso, o problema não estaria entre o novo e o velho jornalismos, mas entre o bom e o mau, na urgência de restabelecer a relação perdida com o público.

"Enquanto muitos de nossos concorrentes se retiram, continuamos investindo em mais e melhor jornalismo, conscientes de que essa é a força de nossa marca. Acreditamos em um jornalismo de verificação e valorizamos mais a precisão que a velocidade ou a sensação. Ao contrário do que acontece em muitas redações, alçadas em guerra contra os que dirigem o negócio, em meu jornal nos organizamos para manter um sentimento de união objetiva", explicou Bill Keller, editor de "The New York Times". Ele está convencido de que sobreviverão "alguns dos melhores jornais" porque pensa que a sociedade exige um jornalismo sério. "Apesar de nossas desgraças, creio com todo o meu coração que os jornais, quer cheguem à porta de casa, a seu celular, a seu iPhone ou ao chip implantado em seu córtex cerebral, estarão conosco durante muito tempo", disse.

Portanto, asfixiados e desconcertados, mas ainda não acabados. Busca-se informação rigorosa e honesta sobre o que acontece na rua, ou seja, a receita clássica do jornalismo.

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Ciência explica por que, no voto, emoção pesa mais que razão

FSP 22/03

Descoberta de pesquisas nos EUA de que escolha do candidato não é racional impõe questionamento sobre sentido da ideia de democracia representativa

Como o eleitor escolhe seus candidatos? A resposta, já há tempos intuída por políticos e marqueteiros e que agora ganha apoio da neurociência, é que, na definição do voto, emoções são significativamente mais importantes que a razão.
Experimentos conduzidos nos EUA pelo psicólogo Drew Westen mostram que, com base apenas em questionários de cinco minutos sobre os sentimentos das pessoas em relação a certos temas, é possível prever com 80% de acuidade a resposta que elas darão a perguntas bastante precisas, como "o presidente mentiu ou disse a verdade?", "a Constituição autoriza ou não a adoção da medida proposta pelo governo?".
Enriquecer esse modelo com conteúdos mais propriamente racionais, considerando também informações sobre a situação em que o presidente teria mentido, por exemplo, tem impacto negligenciável nas previsões, que ganham apenas entre 0,5 e 3 pontos percentuais de precisão. Em outras palavras, a realidade é só um detalhe para o eleitor, que raramente muda sua opinião em virtude de fatos que lhe sejam apresentados.
As implicações dessas descobertas, que vão ganhando atenção crescente dos departamentos de psicologia e ciência política nos Estados Unidos, não são triviais. Se o voto não é o resultado de uma escolha racional e ponderada do cidadão -e poderia, em princípio, ser substituído por um teste de personalidade-, a ideia da democracia representativa continua a fazer sentido?

Livros
Questões como essa estão bem sistematizadas em dois livros lançados nos EUA. Em "The Political Brain" (o cérebro político), de 2007, Westen, hoje na Universidade Emory, dedica 500 páginas a recapitular experimentos que esmiúçam o comportamento do eleitorado e a mostrar as estratégias que costuma dar certo em campanhas.
No outro, "The Political Mind" (a mente política), o linguista e cientista cognitivo George Lakoff usa 300 páginas para explicar por que os cérebros de conservadores e progressistas funcionam de forma diferente (e inconciliável).
Mirando alto, Lakoff, hoje na Universidade da Califórnia em Berkeley, aproveita o livro para advogar pela fundação de um "novo iluminismo", no qual a razão deixaria de ser idealizada como uma máquina de calcular objetiva e desapaixonada e passaria a ser considerada como o que de fato é: um processo bem menos razoável, no qual 98% das "decisões" ocorrem inconscientemente e sob influência de emoções que nem sequer desconfiamos possuir.

"Frames"
O cérebro político pensa em termos de "frames" (enquadramentos) e metáforas. Podemos chamar um grupo armado que lute por uma causa determinada de "terroristas" ou de "combatentes da liberdade". E isso faz toda a diferença.
"Frames" são mais que etiquetas ideológicas que pregamos a objetos. A capacidade dos neurônios de se conectar em redes que podem ser ativadas por contiguidade semântica faz com que as palavras escolhidas tenham o dom de comunicar sentimentos. Sem nos dar conta, sempre que lemos a palavra "terror", sensações de angústia e medo são acionadas. De modo análogo, a palavra "liberdade" dispara estímulos positivos.
Experimentos de Westen mostraram que a ativação dessas redes, embora inconsciente, influencia fortemente as nossas decisões.
Assim, os embates políticos não se resolvem tanto no plano das propostas, mas principalmente das narrativas que partidos e postulantes escolhem para contar suas histórias e transmitir seus valores. Devem constituir uma história fácil de contar e que fale ao cérebro emocional do eleitor.
Especialmente para Lakoff, metáforas são muito mais que um recurso linguístico para explicar ideias. Elas são a matéria-prima do pensamento e têm existência física no cérebro. Pares de ideias frequentemente disparadas juntas acabam se consolidando numa rede neuronal que se torna mais forte à medida em que vai sendo mais utilizada.
Sempre que uma conexão é ativada, ela inibe o acionamento de redes alternativas que possam existir. O viés do militante em favor de seu partido não é necessariamente mau-caratismo (veja quadro). Ele de fato percebe o mundo de forma menos objetiva.

Moderação
A questão que fica é: a democracia ainda para em pé? Num quadro em que as decisões dos eleitores são principalmente fruto de uma combinação de propaganda subliminar com estímulos consolidados ao longo dos primeiros anos de vida, faz sentido determinar o destino da nação através do voto?
A resposta é afirmativa. Antes de mais nada, nem todo mundo é um militante radical e nem todas as questões debatidas são politicamente explosivas. Um número significativo de pessoas não é tão veemente em suas convicções políticas e adota visões de mundo ora conservadoras, ora progressistas dependendo do assunto. É em geral esse contingente que acaba definindo o resultado de eleições. Não deixa de ser uma virtude da democracia que os destinos de um país sejam definidos pelos mais moderados.
Outro ponto é que, embora seja difícil contornar conexões neuronais já consolidadas, não é impossível. Discursos que ofereçam "frames" alternativos e explicitem os processos mentais em operação podem levar o eleitor a mudar de ideia, constituindo uma forma legítima de persuasão política.
Apesar de as democracias modernas terem sido concebidas por filósofos iluministas que as moldaram segundo uma concepção de razão que hoje sabemos falsa, o fato é que há mais de 200 anos elas vêm se mostrando um sistema bastante funcional, capaz na maioria das vezes de autocorrigir-se.

18/03/2010

Futuro da democracia no mundo dependerá em boa parte das classes médias chinesas, indianas e brasileiras

El País

São as classes médias que mandam. Pelo menos nos países democráticos, onde os governantes devem atender, sobretudo, a suas necessidades para ganhar eleições. São muito diferentes de um país para outro e mais ainda de um continente para outro, mas em toda parte querem finalmente o mesmo: paz, estabilidade e prosperidade, e traduzido para questões concretas: postos de trabalho, salários decentes, moradias dignas, educação de qualidade, aposentadorias razoáveis.

À diferença das classes dominantes em períodos anteriores da história da humanidade, estas são amplas e extensas. Nada a ver com a aristocracia do Antigo Regime nem com a alta burguesia do capitalismo clássico, elitistas e fechadas, com frequência condenadas ao isolamento e à decadência. Pode ocorrer que não sejam democráticas em seus valores ou pelo sistema político em que se enquadram, mas o são sociologicamente ali onde são hegemônicas.

São classes lutadoras, embora sua luta nada tenha a ver com a luta de classes. Lutam por existir e crescer: o Partido Comunista Chinês reivindica a maior contribuição para a história das classes médias. Afirma que tirou da pobreza 500 milhões de pessoas em uma geração, mais de um terço de sua população atual. E se seus dirigentes preferem não ouvir nem falar de abertura democrática e situam o cume de sua modernização para daqui a cem anos, é porque ainda contam com 150 milhões de pobres aos quais não chegaram os benefícios do capitalismo comunista, e estão firmemente convencidos de que não vão tirá-los da pobreza em um sistema descentralizado, pluralista e respeitoso com os direitos humanos como o que exigem os dissidentes e propõem os países ocidentais.

As classes médias crescerão na Ásia em um ritmo desenfreado nos próximos anos, mas estancarão ou só crescerão ligeiramente no resto do planeta e sobretudo onde já são o grosso da sociedade, como é o caso do que costumamos chamar de Ocidente. Embora a mutação seja pacífica, isto é, sem guerras entre as classes médias dos diversos países e regiões, sabemos que ocorrerá e já está ocorrendo em forma de uma intensa competição.

Mas as grandes mudanças econômicas e geopolíticas que nos esperam neste século 21, e que em boa medida já começaram, são produtos fundamentalmente da expansão das classes médias em todo o mundo. A globalização que promoveu o crescimento das classes médias tem duas faces: uma positiva, que distribui benefícios sinérgicos a todos; e outra negativa, na qual os efeitos são de soma zero. Exemplos: os empregos que se criam na China desaparecem dos EUA; e o petróleo que consomem os carros em Paris sobe de preço quando são muitos os que querem andar de carro em Mumbai; as emissões para a atmosfera dos países industrializados ao longo da história limitam as possibilidades de futuro desenvolvimento dos países emergentes e os obrigam a investir em tecnologias menos poluidoras.

Como em todo jogo de soma zero, o que os novos ganham os mais velhos perdem, na distribuição do poder mundial e no peso de cada um nas instituições internacionais. É a mutação do G8 para o G20 e inclusive a desenvoltura com que os dirigentes dessas novas potências do século 21 ousam enfrentar o presidente dos EUA.

Sem suas classes médias por trás, pressionando e exigindo, com um enorme potencial de consumo, um peso crescente na economia global e inclusive um novo orgulho nacional, não seriam possíveis essas novas atitudes que enlouquecem as diplomacias americana e europeia. As classes médias europeias e americanas demonstraram que onde crescem melhor é em regimes de liberdade e democracia. Mas não significa que a liberdade e a democracia sejam o abono imprescindível para sua expansão.

Na Espanha conhecemos de primeira mão a expansão das classes médias sob a ditadura. Graças à ditadura, dirão os céticos em matéria de liberdades. Apesar da ditadura, responderão os liberais. Não é uma reflexão historicista: vale para o maior viveiro de classes médias da história que é a China. E transcende o âmbito chinês. O mundo está se desocidentalizando em marcha forçada, segundo expressão de Javier Solano, utilizada há poucos dias em Barcelona, em sua primeira conferência como presidente do Centro para a Economia Global e a Geopolítica do Esade.

E já estamos nos conformando com o deslocamento de seu centro de gravidade. O problema é saber se vamos nos conformar também com que nossos valores fiquem diluídos ou desvalorizados. O futuro das liberdades e da democracia no mundo dependerá em boa parte de como as classes médias chinesas, indianas e brasileiras encarem sua relação com as liberdades individuais e a democracia parlamentar. Nada menos.

sábado, 20 de março de 2010

Brasília está entre as cidades com pior desigualdade social do mundo

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As cidades de Goiânia, Fortaleza e Belo Horizonte figuram entre aquelas com maior desigualdade de renda do mundo. Segundo dados divulgados ontem pela ONU-Habitat, a Agência das Nações Unidas para Habitação, esses municípios brasileiros só ficam atrás das cidades sul-africanas, e de Lagos, na Nigéria.

Segundo a ONU, as três cidades brasileiras apresentaram um índice de Gini (que mede a desigualdade) igual ou superior a 0,61, em uma escala de zero a 1,00, em que os números mais altos mostram maior desigualdade. As nove cidades sul-africanas pesquisadas apresentaram índices entre de 0,67 e 0,75. Já Lagos tem índice de 0,64.

Os dados constam no estudo Estado das Cidades do Mundo, da ONU. De acordo com o coordenador da pesquisa, Eduardo López Moreno, a desigualdade entre ricos e pobres pode provocar uma série de problemas sociais, como a criminalidade. “Existe um vínculo muito direto entre as cidades mais desiguais do mundo e um certo nível de criminalidade. Ou seja, a cidade mais desigual vai gerar, mais facilmente, certos distúrbios sociais. E o problema é que as autoridades locais, provinciais e federais vão usar recursos que deveriam ser utilizados para investimentos, para conter esses fenômenos sociais”, disse Moreno.

O estudo também cita as diferenças de oportunidades entre moradores de favelas e aqueles que residem em outras áreas dentro das cidades brasileiras. De acordo com a ONU, a chance de uma pessoa ter desnutrição em uma favela brasileira é 2,5 vezes maior do que no resto da cidade, enquanto que a diferença média no mundo é de duas vezes.

queda poderia ser maior
O estudo da ONU Habitat também mostrou que cerca de 10,4 milhões de pessoas deixaram de morar em favelas no Brasil nos últimos dez anos. A população residente em favelas no País foi reduzida em 16% desde 2000, mas o coordenador da pesquisa, Eduardo López Moreno, avalia que a queda poderia ter sido maior.
Segundo Moreno, as autoridades brasileiras poderiam ter trabalhado mais para obter ao menos um índice superior ao progresso médio da América Latina, cuja média de queda na favelização chegou a 19,5%. Colômbia e Argentina, por exemplo, conseguiram reduções superiores a 40%. "Seria muito melhor se o Brasil tivesse conseguido melhorar de 20% a 30% e que estivéssemos falando de 20 milhões de pessoas em vez de 10 milhões. Sem dúvida, os esforços deveriam ter sido maiores, principalmente entre 2000 e 2005, já que grande parte desses 10 milhões saíram da pobreza depois de 2005.''
O oficial da ONU atribui o avanço acelerado na segunda metade da década de 2005 à expansão de programas sociais, como o Bolsa Família. Atualmente o País continua com 26% da população vivendo em habitações precárias.
"O caso brasileiro vai mostrar que essas políticas [de inclusão] vão ter um alto sucesso por causa da magnitude dos recursos envolvidos, do número de cidades que as estão implementando, do número de pessoas que estão sendo beneficiadas por elas. Haverá uma evolução nos próximos anos'', afirmou Moreno.Fonte: jornaldebrasilia.com.br

quarta-feira, 17 de março de 2010

Comércio on-line cresce 30% em 2009

Negócios somaram R$ 10,6 bi, e perspectiva para 2010 é manter ritmo; livros, revistas e jornais lideram vendas

As compras feitas pela internet no ano passado totalizaram R$ 10,6 bilhões, alta de 30% ante 2008, de acordo com pesquisa da consultoria de comércio eletrônico e-bit, que não considera as vendas de veículos, passagens aéreas e leilões virtuais.
Cerca de 17,6 milhões de consumidores brasileiros já haviam feito pelo menos uma compra pela internet ao final de 2009, segundo o levantamento, com crescimento de 33%. O número representa 26% dos internautas do Brasil, o que mostra, de acordo com a consultoria, que ainda há muito espaço para crescer.
Desse total, 4,4 milhões tiveram a experiência de uma compra virtual pela primeira vez no ano passado; 60% deles têm renda familiar até R$ 3.000.
Entre os motivos do aumento no faturamento está a entrada das Casas Bahia, em fevereiro de 2009, no mundo virtual. Com a chegada do varejista francês Carrefour ao comércio eletrônico neste mês, todas as grandes redes presentes no país agora oferecem opção de compras pelo mundo virtual.
"Empresas que já têm uma marca forte no varejo podem atrair novos consumidores para o canal", comenta o diretor-geral da e-bit, Pedro Guasti. Para o setor, completa, é importante também porque a chegada de grandes "players" representa mais investimentos em mídia, plataforma e logística.
Livros, revistas e jornais lideraram as vendas virtuais, com 20% do volume de pedidos em 2009, seguidos de saúde, beleza e medicamentos (13%). Com a redução de IPI para a linha branca, os eletrodomésticos garantiram a terceira posição no ranking (11%), praticamente dobrando a participação do ano anterior, à frente de informática (9%) e eletrônicos (6%).
Para 2010, a previsão é movimentar R$ 13,6 bilhões, repetindo o ritmo de expansão do ano passado. Ao final do primeiro semestre, a projeção da e-bit é que 19,8 milhões de pessoas tenham adquirido pelo menos um produto pela internet e, para dezembro, a previsão é que chegue a 23 milhões.
O consultor especializado em varejo Eugênio Foganholo, da Mixxer, destaca que, embora a participação das vendas virtuais no faturamento total das grandes redes ainda seja pequeno, a internet está sendo cada vez mais usada na pré-compra. "É onde o consumidor vai se informar, comparar."
A opinião é compartilhada por Sérgio Herz, diretor da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico: "O consumidor está aprendendo a usar a internet a seu favor", afirma.

FSP 17/03

terça-feira, 16 de março de 2010

Folha lança "Manual da Redação" 2010 – FSP 14/03

Nova versão está adaptada às normas do Acordo Ortográfico, que vigora desde 2009

Principais mudanças estão no anexo gramatical, cujas tabelas de acentuação e uso do hífen visam resposta rápida a dúvidas frequentes



A Folha lançou neste mês a versão 2010 de seu "Manual da Redação", inteiramente adaptada às normas do Acordo Ortográfico que começou a vigorar no Brasil em 2009, com período de transição até 2012.
Embora as 392 páginas da obra tenham sido revisadas, as principais modificações estão no anexo gramatical, cujas tabelas de acentuação e uso do hífen visam responder rapidamente a dúvidas frequentes suscitadas pelas novas regras.
Thaís Nicoleti de Camargo, consultora de língua portuguesa do grupo Folha-UOL e uma das pessoas responsáveis pelo anexo gramatical, diz que as mudanças tornaram o manual "mais didático e de compreensão imediata". "A tabela de hifens foi a mais trabalhosa."
Outras mudanças de conteúdo estão no anexo jurídico, revisto pelos advogados Luís Francisco Carvalho Filho e Taís Gasparian. Nele, foram alterados os verbetes referentes à Lei de Imprensa, revogada pelo Supremo em 2009, e à obrigatoriedade do diploma em jornalismo para exercer a profissão, também derrubada pelo STF no ano passado.

Referência
A versão 2010 do "Manual da Redação" atualiza a que foi lançada em 2001, a quarta desde o início do projeto editorial da Folha (as anteriores datam de 1984, 1987 e 1992). Segundo a Publifolha, que edita a obra, foram 52 mil exemplares vendidos de 2001 até abril de 2009.
Ana Busch, diretora-executiva da Publifolha, diz que grande parte do público do manual é formada por estudantes e profissionais de comunicação. "Mas também há forte interesse de qualquer um que precise lidar com texto no dia a dia." A média anual de venda do livro, afirma Busch, varia muito pouco, o que demonstra seu status de obra de referência na área.
Para Sérgio Dávila, que assume amanhã o cargo de editor-executivo da Folha, as vendas "impressionam num país em que um livro é best-seller a partir de 5.000 cópias e mostram o interesse que o manual continua a despertar para além da comunidade jornalística".
Segundo Dávila, embora com foco na reforma, a atualização reflete o desejo do jornal de fazer do manual "não uma tábua de leis imutável e dogmática, mas um organismo vivo e atento às mudanças no jornalismo".