terça-feira, 3 de maio de 2011

CINEMA

"Não se Pode Viver sem Amor" tem pré-estreia no Frei Caneca hoje
Fonte: folha.uol.com.br 03/05



DE SÃO PAULO - A Folha e o Unibanco Arteplex promovem hoje, às 20h, a pré-estreia gratuita do filme "Não se Pode Viver sem Amor", de Jorge Durán.
Após a sessão, a equipe do filme participa de debate. As senhas podem ser retiradas na bilheteria do cinema (Shopping Frei Caneca, r. Frei Caneca, 569) a partir das 19h.
Durán é chileno e reside no Brasil desde 1973. Entre seus trabalhos mais conhecidos, estão os roteiros de "Pixote, a Lei do Mais Fraco (1981) e "O Beijo da Mulher-Aranha" (1985), ambos levados à tela por Hector Babenco.
"Não se Pode Viver sem Amor", seu terceiro longa como diretor, tem os atores Cauã Reymond e Simone Spoladore no elenco.

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Diretor do Teatro de Arena, José Renato morre aos 85 em SP

O ator e encenador teve parada cardiorrespiratória na madrugada de ontem; enterro será hoje, no Morumbi

Artista tinha acabado de atuar em "Doze Homens e Uma Sentença", peça que marcou sua volta à cena depois de 55 anos
Fonte: folha.uol.com.br 03/05



Morreu às 0h50 da madrugada de ontem, em São Paulo, o ator e diretor José Renato Pécora, 85, vítima de parada cardiorrespiratória. O enterro acontece nesta manhã, no Cemitério Morumbi.
A carreira do artista, fundador do Teatro de Arena, se confunde com a história do teatro brasileiro moderno.
Ele inseriu o nacionalismo em cena num tempo em que os palcos brasileiros eram uma extensão dos europeus e norte-americanos.
Mesmo após deixar o Arena, em 1962, continuou debruçado sobre dramaturgia brasileira, com autores como Dias Gomes e Millôr Fernandes, entre outros.
José Renato estava em cartaz com "12 Homens e Uma Sentença", espetáculo que marcou sua volta à atuação, após um hiato de 55 anos.
Saiu de cena no último domingo e foi jantar no Planetas, na região central de São Paulo, restaurante frequentado por muitos artistas.
De lá, uma amiga o levou ao terminal rodoviário do Tietê, onde ele pegaria o ônibus da meia-noite para o Rio.
Pouco depois, ela recebeu uma ligação de uma enfermeira do Pronto Socorro de Santana, que a informou sobre a morte do artista.
José Renato estava num momento especial. Por ter feito sua história como diretor, provava agora o reconhecimento direto das plateias, como um dos jurados de "12 Homens...".
"Acho que foi um belíssimo fechar de cortina para ele, com enorme sucesso pessoal. Uma geração inteira o descobriu por meio dessa peça", diz o diretor Eduardo Tolentino, que ainda não sabe se o espetáculo continuará em cartaz.

ATOR
"Nos sete meses de temporada, testemunhamos seu reconhecimento como ator, que ele experimentou com uma alegria juvenil", diz o ator Oswald Mendes, seu companheiro de cena.
À Folha, em novembro de 2010, José Renato não escondeu a satisfação: "Estou fascinado com a possibilidade de voltar (a atuar)".
Em sua última aparição no palco, o artista trocou uma palavra de seu texto. Em vez de dizer que "o velho queria um pouco de atenção", disse: "O velho queria um pouco mais de tempo".
"Tanto ele como todos nós queríamos um pouco mais de tempo para nosso encontro. Fica a saudade, que dói demais. Fica também a certeza de que José Renato marcou definitivamente o teatro brasileiro -e, em particular, a vida e o caminho de cada um de nós", diz Mendes.

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ENTREVISTA/JOSÉ HAMILTON RIBEIRO

'A boa leitura é um prazer da vida'

Fonte: opopular.com.br 03/05

José Hamilton Ribeiro ostenta o título de repórter do século. Adjetivo mais do que merecido. Afinal, o homem tem cinco prêmios Esso, o mais importante da imprensa nacional, e é uma referência no jornalismo impresso e de TV. Agora o público poderá entender melhor de onde vem todo esse prestígio. Acaba de ser publicado Realidade Re-Vista, coletânea de reportagens de José Hamilton e de seu colega José Carlos Marão na extinta revista Realidade, projeto que revolucionou a forma de se fazer reportagem no Brasil (leia análise na página 7). Em entrevista ao POPULAR, o veterano repórter de 75 anos, hoje no Globo Rural, fala daquela experiência inovadora, diz que jornalista não pode ter preguiça e que bons jornais e revistas são necessários para o desenvolvimentode uma nação.

Como foi recordar tantas matérias da revista Realidade para selecionar o material para o livro?

Nos anos 60, em que veio a revista Realidade, aconteceu tudo no mundo. Mudanças com as mulheres, estudantes, operários, jovens, padres, sexo. Realidade surgiu no meio dessa fogueira e, de certa forma, acabou representando-a. Olhando com tanto tempo passado, a gente revive um momento fantástico da história. No nosso cantinho aqui da Marmelândia, houve mudanças na forma de fazer jornalismo escrito e isso teve a ver com a reforma no texto que Realidade fez e se irradiou.

Realidade era moderna em texto, diagramação, fotos. Como foi fazer algo de tanta vanguarda?

Do ponto de vista fotográfico, Realidade teve a participação de bons profissionais de São Paulo e de grandes fotógrafos americanos. David Zingg, George Love, Cláudia Andruja - que na verdade não era norte-americana e sim europeia, mas que vinha da escola americana. Gente com experiência nas revistas internacionais. No texto, houve uma reforma estrutural. No começo, o jornalismo era beletrista, tentava fazer uma construção literária antes de uma reportagem. Depois vieram aquelas técnicas americanas, como o lead (apresentação dos principais dados no primeiro parágrafo da matéria). Isso foi uma grande revolução no começo e está aí até hoje. Mas ela significou também um engessamento do texto. Realidade criou a figura do editor de texto. Ele pegava o trabalho bruto do repórter e o lapidava, fazia brilhar as coisas boas do texto e escondia seus defeitos, sem que perdesse a identidade. Por isso o texto de Realidade é lido como se tivesse sido escrito hoje. É que ele foi feito segundo princípios da literatura, da narrativa, da propriedade da palavra, do corte de adjetivação abusiva. É um tratamento de texto que dá a sensação de modernidade.

Houve influência do Novo Jornalismo norte-americano, emblematizado pela revista New Yorker?

É uma coisa engraçada... Parece certos fenômenos da natureza. Todo o grupo de Realidade só veio conhecer o New Journalism ao longo da trajetória da revista. Antes de começar, ninguém conhecia. Só depois do lançamento da revista é que um apareceu com um livro e daí todo mundo estava lendo esses americanos do New Journalism (Gay Talese, Tom Wolfe, Truman Capote, entre outros). O princípio básico da reportagem da revista era a vivência. Não se permitia a nenhum repórter escrever sobre algo que não entendesse. Fosse uma pescaria ou o movimento operário, ele teria de conviver com aquela situação o tempo necessário para que ganhasse a firmeza de afirmações da rotina daquele mundo. O repórter não escrevia nada que não tivesse visto, presenciado. Isso dá uma segurança na hora de escrever que faz a diferença para uma reportagem feita por telefone ou por e-mail, em que o repórter não sabe como é a cara do sujeito, como é seu fogão, se lá é limpo ou sujo.

Houve alguma matéria que lhe ofereceu mais dificuldade na execução?

Teve uma que não deu certo. Eu tinha de escrever uma reportagem com o título: "Eu fui preto no Brasil". Eu não fiz essa reportagem porque não consegui ficar preto, isso depois de várias tentativas.

O senhor ganhou prêmios por suas matérias científicas. Qual é o desafio desse tipo de material?

É a questão da vivência. A ciência é complicada em si. Para escrever uma reportagem científica é preciso, primeiramente, entender aquele problema. Precisa ter disposição, paciência, esforço e, às vezes, você depende de um cientista paciente que lhe explique as coisas de maneira simples para que possa compreender o fenômeno. Depois que você compreendê-lo é que conseguirá descrevê-lo. Uma coisas que a gente fazia na Realidade e que eu sempre fiz em minha vida quando dependi de fonte técnica - até para ter segurança da reportagem - é dar leitura prévia para o entrevistado para checar o que está certo e o que está errado naquele universo específico.

Teve mais alguma pauta que o senhor quis fazer e não conseguiu?

A gente criou na Realidade uma lei. "Matéria atrai matéria na razão direta das pautas, das ideias, e na razão inversa da preguiça." Você está fazendo uma reportagem, surge a ideia de outras duas. É natural. A gente sempre trabalhava com a ideia de que havia dez reportagens para fazer além daquela que estava fazendo. Agora eu não me lembro de nenhuma porque já faz muito tempo... (risos).

Teve alguma pauta que o senhor fez e que gostaria de ter feito diferente depois de vê-la pronta?

Olha, rapaz... Eu precisava pensar um pouquinho... (pausa) Algumas, depois que vi escrita, pensei: se eu tivesse trabalhado um pouquinho mais, talvez tivesse ficado melhor.

O senhor é um perfeccionista?

É por aí sim... Ainda mais em televisão. Isso é uma luta.

Essa adaptação do texto impresso para o jornalismo de TV foi difícil para o senhor?

Perante a imprensa escrita, o que se escreve na televisão é literatura infantil. Na televisão você tem de escrever para um universo muito grande. Você pode falar simples sem abaixar a qualidade, mas tem de ser algo que até uma pessoa analfabeta entenda.

No atual cenário da imprensa nacional, uma Realidade faz falta?

Eu acho que sim. O ser humano se acostuma até com o que é ruim. Se está acostumado com o que é ruim, quando você dá o bom, ele acostuma mais rápido. Se tivermos no Brasil uma revista mensal de informação, com grande qualidade de texto, qualidade literária, vai ter leitor. A boa leitura é um prazer da vida. Uma revista de bom texto é uma coisa que faz falta para uma pessoa mais exigente. Nos países mais adiantados do mundo existem essas revistas de alto nível.

Com a internet, as pessoas sentem falta de fazer leituras mais pausadas, que levem à reflexão?

Você tem um lixão que é a internet. Tem desde diamante a muita porcaria lá dentro. A pessoa não tem tempo para filtrar tudo isso, senão ela enlouquece. Você precisa contar com um bom jornal, uma boa revista semanal, uma boa revista de leitura. Um livro que faltava

Uma grande reportagem tem lá seus ingredientes. Deve falar de algo que merece ser contado; o repórter precisa ter cabeça, olhos e ouvidos bem abertos para apreender o contexto geral e seus detalhes aparentemente pouco significativos; são necessárias uma dose de sorte e outra de sensibilidade sem, contudo, perder o tom; é pedido um talento narrativo de quem escreve; e criatividade na abordagem de entrevistados e na angulação do assunto. Vê-se que, com tantos predicados variáveis, não é possível fornecer uma receita pronta e acabada de um jornalismo de profundidade, que consiga traduzir o mundo de forma eficiente e saborosa. Nesse aspecto, o que temos são exemplos de quem conseguiu realizar bem o trabalho. O livro Realidade Re-Vista reúne vários deles.

Os textos de José Hamilton Ribeiro e José Carlos Marão, dois dos principais profissionais da extinta revista Realidade, são deliciosos, emocionantes, perspicazes, bem-humorados, sensíveis, atentos, contagiantes. Os adjetivos parecem exagerados, mas eles são apenas justos. Os trabalhos desses dois profissionais e de outros tantos, como Roberto Freire, Paulo Patarra, Narciso Kalili e Sérgio de Souza, transformaram Realidade, publicada da segunda metade dos anos 1960 ao início dos 1970, em um dos maiores marcos do jornalismo brasileiro. Embrião de outras publicações, como Veja, Realidade - primeiro grande projeto do grupo Abril no segmento de revistas de informação - oxigenou a imprensa nacional e deu a ela um timbre de audácia e criatividade.

O volume, lançado pela Realejo Livros, um selo de Santos pertencente a José Luiz Tahan, entusiasta do projeto, é dividido em 11 capítulos de acordo com as temáticas gerais dos assuntos abordados. Há, por exemplo, um capítulo sobre religião, um sobre preconceito, outro a respeito da situação da mulher, um sobre política.

Em cada capítulo, entre duas e três reportagens, geralmente dos dois autores da ideia, José Hamilton e José Marão. Mas há também quatro matérias escritas por outros membros da equipe de Realidade. Nas pautas é possível perceber a modernidade da revista já naquele tempo. Os assuntos são abordados por prismas inteligentes e não se poupavam esforços de reportagem, com o deslocamento de profissionais e investimentos em coberturas mais longas.

Guerra

Para quem está no ofício ou para quem gosta de ler boas reportagens, a seleção é dos sonhos. Há ali verdadeiros clássicos de Realidade, como a inesquecível Guerra é Assim, a matéria que José Hamilton Ribeiro fez durante a Guerra do Vietnã e terminou apenas um dia antes de pisar em uma mina terrestre e perder a perna esquerda - e quase a vida - naquela ocasião, tornando-se o único correspondente de guerra brasileiro ferido durante o trabalho.

Outro grande texto de José Hamilton é Eu Fui um Simples Operário, em que o repórter, na melhor tradição do jornalismo gonzo - em que o profissional mergulha na vivência de seus personagens para melhor narrá-la -, se "disfarça" de trabalhador fabril, compartilhando o dia a dia desses homens de vida dura.

Marão incluiu no livro uma reportagem que muito diz a Goiás. Em outubro de 1966, Realidade trouxe o perfil do jovem prefeito de Goiânia com o título Atenção, Está Nascendo um Líder. A previsão se concretizou. Tratava-se de Iris Rezende, o político dos mutirões e do trato direto com o povo, num estilo que a revista chama de populista e até de demagogo. Nas fotos tiradas para a matéria é possível ver Iris na flor da idade almoçando com os trabalhadores que roçavam os muitos lotes baldios da capital na época, acenando para o povo e tocando suas obras. A reportagem conta até como ele conheceu dona Iris e como acabaram se casando.

Essa é uma das reportagens que demonstram o valor de registro dos trabalhos selecionados de Realidade para o livro. Outra é a impagável Coronel Não Morre, de José Hamilton Ribeiro, sobre as oligarquias nordestinas que se perpetuam no poder, ainda que seja à bala. Há ainda uma matéria assinada em conjunto por José Hamilton e Chico Buarque, numa inédita participação mais ativa do cantor e compositor em uma reportagem sobre si próprio. José Hamilton também foi a Uberaba visitar o médium Chico Xavier e fez, em novembro de 1971, o que o jornalista Marcel Souto Maior faria quase 30 anos depois e que geraria best-sellers e filmes de sucesso: uma reportagem mais cética sobre o fenômeno espírita personalizado no mais popular representante da doutrina no País.

A edição traz textos em que José Hamilton e José Carlos Marão contam como as ideias de reportagem surgiram, que caminhos trilharam, qual foi o resultado da pauta. Nesses pequenos ensaios, eles enfatizam que Realidade foi mais que uma revista inovadora no universo jornalístico. Ela pontuou discussões, antecipou tendências, esteve na vanguarda de movimentos importantes.

Um paralelo pode ser feito com o período áureo da norte-americana New Yorker, revista que publicou textos antológicos, como Hiroshima, de John Hersey; A Sangue Frio, de Truman Capote; Filme, de Lillian Ross, e A Vida de Joe Gould, de Joseph Mitchel. Bastião do jornalismo literário e da reportagem em profundidade, Realidade, há muito, merecia uma coletânea com esse fôlego.

Livro: Realidade Re-Vista/Autores:José Hamilton /Ribeiro e José Carlos Marão /Páginas:432 / Preço: R$ 70 / Editora: Realejo Livros

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