quarta-feira, 27 de abril de 2011

A farra dos recursos judiciais

RICARDO FERRAÇO

Se a Justiça brasileira é lenta, burocrática e muitas vezes inacessível para os mais humildes, é porque temos quatro instâncias recursais Fonte: folha.uol.com.br 27/04


Processos intermináveis, que se arrastam por anos e até por décadas. Crimes que acabam prescrevendo antes da sentença final e tribunais superiores sufocados por montanhas de ações judiciais de menor envergadura.
Se a Justiça brasileira é lenta, burocrática e muitas vezes inacessível para os mais humildes, alimentando a percepção e até a certeza da impunidade, isso se deve, em grande parte, a uma típica jabuticaba brasileira: a existência de quatro instâncias recursais.
Mais que direito de defesa, os recursos são usados hoje a torto e a direito para ganhar tempo e se livrar das penalidades da lei. Uma manobra que desgasta a imagem da Justiça e sobrecarrega de forma intolerável o Superior Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal Federal. Os dados são da Fundação Getulio Vargas: 91,6% dos processos que chegaram ao STF entre 1988 e 2010 foram recursos judiciais; desse total, 90% foram impetrados pelo poder público.
Vale observar que 80% dos recursos são recusados, reforçando a impressão de que os processos poderiam ser decididos em segunda instância. A mais alta corte do país economizaria tempo e energia para questões que afetassem de perto os interesses nacionais.
É esse o objetivo da proposta de emenda constitucional que apresentei por inspiração do presidente do STF, ministro Cezar Peluso, transformando os recursos em ações rescisórias. Na prática, qualquer processo julgado em segunda instância produzirá efeito imediato, independente de posterior discussão no STJ ou STF.
O ganho em termos de agilidade é inquestionável. Um exemplo é a Lei da Ficha Limpa, que rendeu tanta polêmica e causou enorme frustração aos que apostam num sistema político mais ético e transparente. O fim dos recursos judiciais teria garantido validade imediata para a lei, pois o trânsito em julgado dos processos já teria ocorrido nas instâncias inferiores.
O direito de defesa seria assegurado com a possibilidade de ações rescisórias. O ministro Peluso não sugeriu nada inédito. Ordenamentos jurídicos de outros países permitem que as partes ajuízem ações autônomas perante a corte constitucional após o encerramento do processo nas instâncias ordinárias.
É o caso da reclamação constitucional do Direito alemão. É certo que, a partir da emenda constitucional nº 45, de 2004, muito já se fez para modernizar e acelerar a tramitação de ações judiciais.
A instituição da súmula vinculante e do mecanismo da repercussão geral foram avanços importantes para esvaziar um pouco as gavetas da Justiça brasileira.
Mas, infelizmente, essas gavetas continuam abarrotadas. E ainda há muito que caminhar no sentido de uma Justiça mais ágil, mais efetiva e menos burocrática. Capaz de assegurar um cenário de maior segurança jurídica e de fechar as portas para a impunidade. Dar um basta à farra dos recursos judiciais já é um passo de bom tamanho.


RICARDO FERRAÇO é senador pelo PMDB-ES e autor da proposta de emenda constitucional nº 15/2011, que transforma recursos em ações rescisórias. Foi deputado estadual, deputado federal e vice-governador do Estado do Espírito Santo.

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Controle total da família

Indústria da segurança põe à venda dispositivo que identifica e informa via torpedo e e-mail todo o entra e sai de condomínios e apartamentos
Fonte: folha.uol.com.br 27/04

O gerente comercial da Bosch, Marcos Menezes, 40, vai direto ao ponto: os atuais sistemas de segurança eletrônica já permitem não apenas antecipar-se aos movimentos dos bandidos, flagrando-os quando tentam entrar onde não foram chamados. Se aplicados aos locais de moradia, permitem que se configure -o termo é dele- "um verdadeiro dispositivo de gestão familiar".
"Não é mais necessário perguntar ao porteiro a que horas o técnico da televisão entrou em casa -e que horas ele saiu; ou se a babá foi embora mais cedo. Também não será mais preciso indagar ao filho a que horas ele voltou para casa, e quem estava com ele." Basta programar o sistema de análise da câmera de segurança para que envie essas informações por e-mail ou torpedo para o pai ou mãe do garotão. Adeus, desculpas esfarrapadas.
A Folha pergunta se não seria mais eficaz e barato pegar o celular e perguntar ao porteiro ou ao filho. O vendedor dá uma piscadela: "O que seria mais objetivo? Isso é gestão familiar. Todo mundo remoto e todo mundo on-line ao mesmo tempo".
Um sistema de controle inteligente de portaria e garagem, capaz de registrar e armazenar 100 mil transações (entradas e saídas) sai a partir de R$ 13 mil.

"CRIMES AMERICANOS"
Na Feira Internacional de Segurança, que ocorre até amanhã no Pavilhão Verde do Expo Center Norte, os grandes exibidores decretaram obsoletos aqueles circuitos internos de vídeo que mal capturavam os vultos dos personagens em uma cena.
As novas camerazinhas de segurança já são capazes de captar imagens em HD ou alta definição. Preços: a partir de R$ 800.
"Sabe aquelas cenas de crimes americanos que passam na TV e que parecem filmes, tal a qualidade das imagens? Vai dar para fazer igual aqui", diz um expositor.
Essa alta resolução está acoplada a sistemas de análise que transformaram os equipamentos em verdadeiras sentinelas. Mesmo que o porteiro esteja sonolento, que não esteja nem aí para o monitor do circuito de vídeo.
Pode-se programar as câmeras para cumprir várias funções: detectar um intruso, fazer a identificação facial (a partir de um banco de dados previamente compilado), contar os presentes em um local, perceber furtos -e para emitir alarmes todas as vezes em que uma situação crítica se apresente.
Sabe aquele namorado da sua filha, que você considera péssima influência? Basta programar a câmera para gerar um aviso sempre que ele entrar na sua casa.
Pode ser um sinal sonoro ou luminoso, para afastar o invasor, pode ser um aviso na central de polícia, na portaria ou no celular do proprietário do imóvel.
No estande da Panasonic, o engenheiro eletrônico Luís Sergio Correia avisa que em alguns meses um novo software permitirá ao sistema inteligente discriminar visitantes por sexo e faixas de idade, além de gerar gráficos com com essas informações (quantidade de pessoas, fluxo por horário). Serve para controlar as baladas no salão de festas no condomínio.
As novas câmeras analíticas não aceitam o desaforo de terem suas lentes cobertas ou destruídas, para que uma cena não seja registrada. Mandam avisos quando algo tampa seu campo de visão.
Trata-se de um mercado que no ano passado movimentou cerca de R$ 710 milhões, segundo a Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica). Em 2008, foram R$ 130 milhões.
Tem para todos os gostos. Um equipamento de reconhecimento facial (preço: R$ 8.000) acoplado a uma porta, por exemplo, só permite o acesso de indivíduos cujos rostos tenham sido previamente registrados.
Detalhe: o aparelho não se deixa enganar nem por barbas postiças nem por perucas nem por lentes de contato nem por fotografias.

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COMBUSTÍVEL

ANP denuncia abuso no preço da gasolina

No estudo entregue à Secretaria de Direito Econômico, a agência qualifica como "inaceitáveis" os valores cobrados na cidade pelo derivado do petróleo e do álcool reafirma a suspeita de formação de cartel. Na Asa Sul, posto de bandeira branca eleva para R$ 3,19 o litro Fonte: correioweb.com.br 27/04

A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) classifica como inaceitável o comportamento dos preços no mercado do Distrito Federal. Estudo elaborado a pedido do ministro de Minas e Energia, Edson Lobão, revelou indícios de infrações contra a ordem econômica na capital do país, conforme o Correio divulgou na edição de ontem. Uma análise detalhada identificou cobrança de valores abusivos e suposta formação de cartel.

O órgão regulador estranha que estabelecimentos com estruturas de custos distintas cobrem preços tão semelhantes. Ontem, o litro da gasolina comum atingiu R$ 3,19 em um posto da Asa Sul (leia mais ao lado).

O estudo foi enviado à Secretaria de Direito Econômico (SDE), que investiga o mercado de combustíveis do DF desde novembro de 2009. A ANP informou que estuda a possibilidade de examinar a planilha de gastos dos revendedores. “Os indícios que nos chegam de Brasília são inaceitáveis”, disse, em nota, o presidente da agência, Haroldo Lima. “O consumidor não pode ser prejudicado. Com custos tão diferenciados em função das próprias localizações dos postos, é altamente suspeita a uniformidade de preços verificada”, completou. A nota ressalta que os postos apresentam diferenças em relação a preço de aluguel, tipo de equipamento e tamanho da folha de pessoal.

Lima destacou ainda que a crise de combustíveis pela qual passa o país não pode justificar reajustes acima da média. “A despeito do país estar passando por uma fase de desenvolvimento que impactou bastante na demanda de combustíveis, mesmo descontando os problemas advindos com a entressafra do etanol, nada justifica a escalada que está se verificando em algumas grandes cidades”, argumentou. O estudo concluído pela agência na última terça-feira também será entregue ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT).

Concentração
Para o promotor de Justiça de Defesa do Consumidor Paulo Roberto Binishecki, que analisará o documento, o problema em Brasília é a concentração do mercado. Somente a Rede Gasol, a maior delas, possui 91 postos, quase um terço do total. “Enquanto não houver diluição, fica complicado. Apesar de essa característica não ser considerada abusiva, ela acaba refletindo nos preços e prejudica a concorrência”, comentou. Segundo ele, a revogação da lei distrital que proíbe a instalação de postos em supermercados poderia amenizar a situação. O caso está nas mãos do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello há dois anos.

O deputado federal Antônio Reguffe (PDT), autor da representação que provocou a SDE a abrir investigação em 2009, defende que o Poder Público precisa agir de maneira concreta. “A ANP só descobriu agora o que os brasilienses sabem há muito tempo. A população quer resultado prático”, comentou. O distrital Chico Vigilante (PT) também cobra consequências firmes a partir do novo estudo da agência reguladora. “Novidade seria dizer que não existe cartel. Não basta só constatar, tem que começar a punir. Falta ação”, acrescentou. Ontem, o Correio não conseguiu contato com o Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis e de Lubrificantes do DF (Sindicombustíveis-DF).

Tudo igual

A ANP analisou os preços cobrados entre janeiro de 2010 e março deste ano. Em duas semanas de março, 111 postos do DF — o equivalente a 63% do total pesquisado — vendiam o litro da gasolina pelo mesmo valor: R$ 2,94. Na revenda de etanol, a variação foi ainda menor, chegando a zero em algumas semanas.

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MEMÓRIA

História ferroviária comprometida

Fonte: correioweb.com.br 27/04

São 25 anos de história representados em 87 metros de trilhos em miniatura. A estrutura das duas maquetes acomodadas em três salas da Ala Norte do piso superior da Rodoferrroviária de Brasília revela parte significativa da memória ferroviária do país. Todo o material, no entanto, pode ser destruído. Isso porque o espaço que abriga as salas está sendo requisitado pelo governo. Os integrantes da Sociedade de Modelismo Ferroviário de Brasília (SMFB) afirmam não ter para onde transferir as maquetes. “Eles nos ofereceram, informalmente, um espaço no subsolo para guardarmos as coisas, mas não temos onde montá-las. Além disso, para retirar a maquete, teremos que desmontar tudo e com isso os trilhos seriam cortados e parte do material, comprado na Alemanha, perdido”, alega um dos integrantes do grupo, Magno Vieira da Silva.

De acordo com a SMFB, o pedido de desocupação das salas foi encaminhado pela Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento do Distrito Federal (Adasa), que também funciona no piso superior da Rodoferroviária. O prazo inicial para a desocupação era 16 de abril. Porém, foi prorrogado para o próximo sábado. “Estamos buscando algum diálogo com o governo para tentar impedir isso”, considera Magno.

Mobilização

Ao todo, as três salas somam 85 metros quadrados e são utilizadas pela SMFB desde outubro de 1985, quando a então Rede Ferroviária Federal S.A. formalizou um pedido ao Governo do Distrito Federal. À época, a parte superior da Rodoferroviária era ocupada por refeitórios e dormitórios de trabalhadores ferroviários. Desde a primeira autorização, a cada mudança de governo, os membros do grupo precisam se mobilizar para garantir a manutenção do espaço. “Sabemos que, com a desativação da Rodoferroviária, não temos mais movimento de visitantes aqui. Mas, se a intenção do GDF é realmente reativar a estação de passageiros, como já foi garantido pelo governador o Agnelo, o melhor seria que continuássemos nesse espaço, contando toda essa história”, avalia Magno.

No fim do mês de março, Agnelo Queiroz (PT), realizou vistoria na estrutura do sistema ferroviário para avaliar a conservação e a viabilidade da utilização para o transporte de passageiros. Atualmente, a estrutura férrea que passa pela Rodoferroviária é utilizada apenas para o transporte de cargas. Levantamentos encomendados pelo chefe do Executivo irão avaliar se os trilhos e as estações antigas poderão ser aproveitados também para o transporte de passageiros. A ideia é que o trem vá até Goiânia, interligando o DF ao Entorno.

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CORRUPÇÃO

Governo quer divulgar o CPF de servidores

Órgãos de fiscalização defendem que a medida ajudará a investigar funcionários públicos suspeitos de terem cometido irregularidades, mas iniciativa é polêmica. Fonte: correioweb.com.br 27/04

OExecutivo prepara uma norma para obrigar as três esferas da administração pública (federal, estadual e municipal) a divulgarem nos diários oficiais o CPF de todos os funcionários públicos nas publicações relativas a eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra determinação pessoal referente aos servidores. O texto, elaborado pela Controladoria-Geral da União (CGU), foi apresentado à Estratégia Nacional de Combate à Corrupção (Enccla). O grupo defende que a medida facilitará as investigações de servidores, especialmente aqueles que ocupam funções de confiança no governo.

A ideia, no entanto, é polêmica. A Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef) critica a proposta, que, segundo a entidade, invade a privacidade dos funcionários. “O governo não tem o direito de expor dados pessoais. O CPF, assim como a carteira de identidade, são informações minhas e não devem ser divulgadas”, afirma o secretário-geral da Condsef, Josemilton Costa.

A recomendação começou a ser discutida no fim de 2009. Órgãos de controle e de fiscalização reclamavam das dificuldades em localizar dados confiáveis de servidores públicos. Polícia Federal, Tribunal de Contas da União (TCU) e Ministério Público Federal (MPF) creditam atrasos nas investigações devido a homônimos, ou mesmo a falhas de grafia. Autoridades responsáveis por fiscalizar pessoas politicamente expostas, como o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e o Banco Central, apresentaram as mesmas queixas.

“É uma medida simples e extremamente importante. Muitas vezes, temos dificuldades de proceder uma investigação porque nos deparamos com homônimos. As medidas cautelares, como apreensão e bloqueio de bens, por exemplo, acabam sendo prejudicadas”, afirma o procurador da República Vladimir Aras. Para ele, um ato administrativo seria suficiente para a medida passar a valer. “Não precisa encaminhar uma lei para o Congresso. Vai ficar parada. O fundamental é que os outros poderes, inclusive o Legislativo, também adotem essa proposta de transparência”, completa o procurador.

A recomendação foi incluída no plano de trabalho de 2010 da Enccla, sob a coordenação da Controladoria-Geral da União (CGU). A organização é comandada pelo Ministério da Justiça e tem a colaboração de órgãos do Executivo, do Judiciário e do Ministério Público. Sem muitos avanços, a meta foi reafirmada em 2011 e agora deve sair do papel.

Sigilo dos dados
O ponto mais polêmico — o sigilo dos dados — foi pacificado pelo grupo de trabalho responsável pela proposta. “Foram afastadas quaisquer preocupações, porque ficou demonstrado que a indicação do CPF já está presente em diversas publicações, além de estar inscrito em cheques que circulam livremente”, afirma a CGU. “O mecanismo existente mais adequado para essa identificação seria a utilização do número de CPF, por ser único, individual e específico para cada cidadão”, endossa o ministro-chefe da CGU, Jorge Hage, no texto da proposta.

Secretário-geral da Consef, Josemilton Costa critica a proposta e acredita que ela pode abrir precedentes para a divulgação de outros dados pessoais dos funcionários públicos. “O problema da corrupção não está no servidor de carreira, mas nas pessoas que o governo traz para atender cabides políticos. Eles é que não têm compromisso com a ética no serviço público.” Costa, no entanto, defende a publicidade das informações para cargos comissionados, inclusive o de ministros. “Ser transparente é cobrar a publicação anual, por exemplo, do patrimônio dos chefes das pastas e daqueles que ocupam função de confiança.”

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CONGRESSO

Promessas de Dilma travam a votação

Os dois pontos sem consenso no Código Florestal são compromissos firmados pelo PT com o PV durante a campanha eleitoral. Falta de acordo e ameaça de veto do Planalto emperram a análise no plenário da Câmara Fonte: correioweb.com.br 27/04

Duas promessas de campanha da presidente Dilma Rousseff são os entraves para a votação do Código Florestal na semana que vem, na Câmara dos Deputados. Durante a eleição do ano passado, Dilma se comprometeu a vetar dois dos principais pontos defendidos pela bancada ruralista na proposta de revisão da lei. Em reunião travada ontem entre os principais líderes, quatro ministros de governo e o relator Aldo Rebelo (PCdoB-SP), ficou acertada a inclusão de oito das 10 sugestões feitas pelo Palácio do Planalto ao texto que será votado na semana que vem. Os dois até agora sem consenso são a liberação das reservas legais para pequenos produtores e a redução das áreas de preservação permanente (APPs) às margens de rios.

Às vésperas do segundo turno, para atrair o apoio do PV de Marina Silva, a então candidata se comprometeu a vetar quaisquer tentativas de redução das áreas de reserva legal e APPs. “Sobre o Código Florestal, expresso meu acordo com o veto a propostas que reduzam áreas de reserva legal e preservação permanente, embora seja necessário inovar em relação à legislação em vigor”, prometeu Dilma. Por conta desse compromisso, o Palácio do Planalto esticou a corda com a bancada ruralista e indicou que, caso as alterações nas reservas legais e APPs passem no plenário da Câmara e do Senado, o veto é iminente.

Durante a reunião de ontem na Câmara, os ministros Luiz Sérgio (Relações Institucionais), Izabella Teixeira (Meio Ambiente), Wágner Rossi (Agricultura) e Afonso Florence (Desenvolvimento Agrário) tentaram por quase três horas convencer Rebelo e os ruralistas a recuarem nos dois pontos (veja quadro ao lado). O esforço foi em vão. “Chegamos a um consenso em oito questões, já incorporadas ao Código, mas em duas há divergências. Só que chega uma hora em que você tem que fazer o casamento, não dá mais para ficar ajustando o vestido”, disse Rebelo.

A proposta do relator é de que as propriedades rurais menores de quatro módulos fiscais ou 150 hectares fiquem isentas de manter reservas legais. O Palácio do Planalto exige que a regra seja aplicada a todo proprietário rural, mesmo os pequenos produtores. No outro ponto de divergência, Rebelo pretende diminuir pela metade as APPs às margens de rios defendidas pelo governo. Enquanto o relator defende estabelecer um limite de 7,5m para as áreas já desmatadas e 15m para as demais, o Planalto quer manter os índices em 15m e 30m, respectivamente. Rebelo alega que a reivindicação foi feita pelas entidades de defesa da agricultura familiar, em especial a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag).

Cientistas
Para tentar pressionar os ruralistas a acatar os dois pontos de divergência, o PT ameaça não votar o Código na semana que vem. O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), pediu a Aldo que ceda nos pontos de divergência. “Se fosse ele (Aldo), incorporaria ao relatório as sugestões e propostas do governo porque isso favoreceria a votação do Código. Qualquer proposta diferente dessa, trará dificuldades para votar a matéria”, afirmou Maia. O PT ainda pediu pelo menos uma semana para analisar a proposta, antes da votação em plenário. Como Rebelo adiou a entrega do texto para a segunda-feira, um dia antes da data para o início das discussões em plenário, o principal partido da base governista ameaça esvaziar a votação. “Um dia não é o suficiente para apresentação de um relatório como esse. Se ele (Aldo Rebelo) entregar o texto até quarta-feira (hoje), poderemos votar na semana que vem. Se só tivermos contato com ele na segunda-feira, não há possibilidade”, avisou o líder petista na Câmara, Paulo Teixeira (PT-SP). A posição foi acompanhada pelo PV.

A oposição, em sua maioria defensora do relatório de Aldo Rebelo, estrilou. O próprio relator chegou a esmurrar a mesa, cobrando o acordo fechado para a votação no dia 4. “O PT está jogando com a sociedade. É uma questão que não deve ser mais empurrada pela barriga. Se ela (Dilma) prometeu o que não pode cumprir, que enfrente as consequências”, criticou o líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP). Com o impasse colocado, pelo menos mais uma reunião de líderes partidários com representantes do governo deve ser necessária até o fim da semana, para tentar contornar os pontos pendentes.

Mesmo com a possibilidade de desgaste por um possível veto, o próprio governo anunciou que não pretende protelar a votação por dois anos, como defendeu a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). As modificações no Código Florestal são analisadas pela Câmara desde 2002. “A ciência não é absoluta, nem dá razão de fé a ninguém. O fato de um cientista falar, não quer dizer que é a última palavra”, justificou o líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP).

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E o poeta, quem diria!

Obra revela afinidade de Drummond com a música

Livro:Áporo Itabirano: Epistolografia à Beira do Acaso /Autores:Carlos Drummond de Andrade e Hermínio Bello Carvalho /Eidtora:Imprensa Oficial /Páginas: 368 /Preço: R$ 130 Fonte: opopular.com.br 27/04

A relação entre o poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) e o compositor e produtor musical Hermínio Bello de Carvalho não pode ser qualificada como estreita. Eles se encontraram pela primeira vez na década de 1950 e, desde então, tiveram contatos furtivos, quase sempre com uma distância respeitosa entre o jovem compositor e o aclamado poeta.

A troca de correspondência entre os dois, reunidas no livro Áporo Itabirano, lançado ontem, resume-se também a um conjunto restrito de cartas, mais extensas por parte de Carvalho, respondidas por Drummond na forma de bilhetes ou poemas manuscritos. O próprio compositor reconhece que mais interessante que as cartas é o que está ao redor delas. De fato, parte da relevância do livro e está em revelar a proximidade de Drummond e de seu grupo com a música. Para isso, apresenta uma farta documentação que inclui artigos de jornal, fotos, manuscritos e memorandos.

Ao Jornal do Brasil, o poeta disse certa vez: "Bandeira tocava violão e piano. Sabia tudo sobre violão (...). Murilo (Mendes) era um obcecado. Ouvia Mozart com a cabeça entre as mãos, imóvel, como se meditando profundamente. Mário de Andrade teria sido um grande pianista. Ficou muito abalado com a morte de um irmão, as mãos tornaram-se trêmulas, afetou irremediavelmente sua técnica".

Drummond, por sua vez, era admirador do maxixe. "É a alegria dos corpos, em ritmo lascivo", escreveu em crônica. Também gostava de Paulinho da Viola e Martinho da Vila, e nutria paixão por Cartola. Escreveu no JB, em 1980: "Cartola sabe sentir com a suavidade dos que amam pela vocação de amar, e se renovam amando".

Os poucos encontros com Carvalho ajudaram a aproximar Drummond da música. Foi o compositor quem apresentou o poeta a Tom Jobim, uma relação que, embora não muito assídua, rendeu também uma interessante correspondência.

Pelas cartas e documentos, vê-se que a participação do poeta foi fundamental para a realização do espetáculo Mário Trezentos, 350, projeto da Funarte idealizado por Carvalho quando trabalhava no órgão. O show, que também virou CD, hoje fora de catálogo, comemorava os 90 anos de Mário de Andrade com músicas resgatadas ou compostas pelo escritor paulistano, como Viola Quebrada.

Dois anos antes de morrer, Drummond enviou a Carvalho um bilhete carinhoso: "Com abraços do octogenário para o menino cinquentenário a quem a gente não se cansa de admirar, pois está sempre surpreendendo com belas coisas".

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CARLOS HEITOR CONY

Um casamento irreal

Fonte: folha.uol.com.br 26/04



RIO DE JANEIRO - Mais pelo desinteresse pessoal do que pelo peso dos anos, não estou dando a mínima bola para o casamento na família real da Inglaterra. Trata-se de uma reprise em versão de filme B. Entre as desditas de minha vida profissional, incluo a ida a Londres para cobrir o casamento do príncipe Charles com Lady Di, por conta de duas revistas de amenidades, "Manchete" e "Fatos&Fotos".
A confusão começou na agência da Keystone, que trabalhava para o mesmo grupo. Mesmo assim, consegui credencial para um bom lugar, onde vi Lady Di entrar na catedral de São Paulo carregada pelo pai, um tal de lorde Spencer, que por sinal exagerara no gim e estava trôpego. Não foi ele que levou a filha ao altar: a filha é que o levou até lá.
O príncipe Charles estava simplesmente apavorado, olhava para a mãe que o fiscalizava, em busca de uma aprovação que não foi completa. Foi nessa cerimônia que vi o personagem mais gordo do mundo, um rei de país africano que equivalia a cinco Jô Soares comprimidos. Kiri Te Kanava salvou a festa cantando Handel.
A imprensa mundial queria a foto dos nubentes se beijando na sacada do palácio. O beijo demorou, foi preciso a intervenção de muita gente para que os dois se beijassem à frente da multidão. Sabia-se que o príncipe tinha um caso. O que não se sabia era o tipo de princesa que Lady Di ameaçava ser.
Londres estava uma festa. Nas confeitarias, os bolos tinham a cara dos noivos, em todas as lojas e ruas o casal comparecia de mil formas, comia-se e vestia-se com Charles e Diana, um "conto de fadas" -como agora a imprensa classifica o novo evento.
Foi um dos maiores sacos de uma carreira profissional mais do que modesta. Ali mesmo, roguei pragas, tais e tantas, que o casamento deu no que deu.

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