sábado, 23 de abril de 2011

51 ANOS

A música candanga valorizada

Plebe Rude, Hamilton de Holanda e Tiago Freitas foram destaques na festa comandada por Martinho da Vila Fonte: correioweb.com.br 23/04

Nas comemorações do aniversário de Brasília, em outros tempos, houve apresentações de consagrados artistas nacionais como Roberto Carlos, Gal Costa, Daniela Mercury, Chiclete com Banana, e Paralamas do Sucesso. Em 2008, o ponto alto foi a gravação do DVD do Capital Inicial, uma das bandas surgidas no boom do rock candango, na década de 1980.

A música voltou a ser destaque na celebração dos 51 anos da cidade, na noite de quinta-feira. Embora a atração principal da série de shows, no Palco Brasília, tenha sido o cantor e compositor Martinho da Vila, a programação contemplou prioritariamente os artistas da cidade — todos acompanhados pela Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional. Antes a Sinfônica fez-se popular executando os chorinhos Ingênuo (Pixinguinha) e Tico-tico no fubá (Zequinha de Abreu).

Mas foi a Plebe Rude quem tocou na abertura, às 18h. A banda, ícone da geração do rock oitentista, comemorou 30 anos de estrada e 25 do disco de estreia, O concreto já rachou. Philippe Seabra, André X, Clemente e Txotxa aproveitaram, também, para fazer o pré-elançamento do DVD Rachando o concreto, gravado na Ermida Dom Bosco, que chega ao mercado na segunda quinzena de maio.

Em show de uma hora de duração, Philippe Seabra revisitou as músicas mais conhecidas do grupo: Proteção, Brasília, Minha renda e, claro, Até quando esperar, que receberam acolhida calorosa dos “plebeus” presentes na plateia.

A cantora lírica Janette Dornellas também soltou a voz, acompanhada pela Orquestra Sinfônica. Uma das músicas que interpretou foi Habanera, ária da ópera Carmem, de Georges Bizet. Na sequência passaram pelo palco Célia Porto, cantando Índios (Renato Russo); Célia Rabelo, que brilhou em Revelação (Cloro e Clésio); Eduardo Rangel, mostrando Bicicleta (um clássico brasiliense); e Myrla Muniz, que fez uma bela releitura de Trenzinho do caipira (Heitor Villa-Lobos).

Virtuosismo
Hamilton de Holanda, que na última terça-feira apresentou, ao lado da Orquestra Sinfônica, a Sinfonia Monumental, obra que compôs para o cinquentenário da capital, voltou a exibir vituosismo ao bandolim. Dessa vez, ele se ateve a choros, tocando Doce de coco (Jacob do Bandolim), Pedacinhos do céu (Waldir Azevedo) e Aquarela da Quixaba, de autoria dele.

Na sequência, a banda Trampa atacou de Te presenteio com a fúria. O cantor Tiago Freitas fechou a participação dos artistas locais com um tributo a Renato Russo, que incluiu Tempo perdido, Há tempos e Pais e filhos. O coro de muitas vozes que se juntou à dele foi responsável pelo momento de maior interação com o público durante toda a programação.

Recebido carinhosamente, quando surgiu em cena às 22h, Martinho da Vila, igualmente acompanhado pela sinfônica, sob a regência do maestro convidado Leonardo Bruno, fez a alegria dos fãs com um repertório de sucessos, do qual fizeram parte Graça Divina, Disritmia, Mulheres e o samba-enredo histórico da Unidos de Vila Isabel Kizomba — Festa da raça, em que dividiu a interpretação com a filha, a cantora e pianista Maira. Os dois fizeram juntos também Feitiço da Vila (Noel Rosa) e Aquarela brasileira (Silas de Oliveira. No encerramento do show os dois cantaram, acompanhados pelo público, Parabéns pra você, saudando a aniversariante.

Canto e desencanto

O secretário de Cultura, Hamilton Pereira, mostrava-se entusiasmado ao falar da programação elaborada para as comemorações dos 51 anos de Brasília, que, segundo ele, abriu espaço para 1.400 artistas brasilienses. “Brasília é, hoje, um polo produtor de cultura.”

É certo que nos sete palcos espalhados pela Esplanada dos Ministérios houve presença hegemônica dos artistas locais. Vários deles demonstraram satisfação por terem participado da programação. Mas houve, porém, quem tivesse motivos para criticar a organização do evento: a cantora, compositora e violonista Ellen Oléria, uma das boas revelações da música candanga desta década.

De acordo com Ellen, convidada para tomar parte no evento, ela teve a apresentação marcada para as 23h50, de quarta-feira, no Palco Brasília — depois remarcada para as 2h10 de ontem e, logo depois, foi cancelada. “Tudo montado. Tudo afinado. A gente numa ansiedade tremenda para encontrar o público que compareceu maciçamente. Cortaram nosso show. Despediram o público sem explicações. E vimos as lágrimas (que, acredito, expressavam também o mesmo constrangimento e a mesma tristeza da gente) da equipe de produção da festa”, comentou Ellen em seu Facebook.

&&&&&

Criminalização da homofobia Fonte: opopular.com.br 23/04

Atendendo a pedidos de religiosos, a senadora Marta Suplicy (PT-SP) alterou o Projeto de Lei Complementar 122/2006, que criminaliza a homofobia. Com a alteração, um dos artigos da referida lei passa a não ser aplicável a templos religiosos, desde que estes não incitem a violência e se baseie na manifestação pacífica de pensamento fundada na liberdade de consciência e de crença de que trata o inciso 6º do artigo 5° da Constituição. Tal ressalva, frisa a senadora, não se aplica à mídia eletrônica.

A advogada goiana Chyntia Barcelos, especialista na área, aprova a mudança. "A todos é resguardado o direito à liberdade de expressão. Desde, é claro, que essa permissividade não fira nem lesione uma pessoa em detrimento da outra. Em meio a tantos casos de violência homofóbica, faz-se urgente a aprovação da lei."

&&&

MINISTÉRIO PÚBLICO

Licença para atuar fora da carreira

Promotores querem que o Conselho Nacional do Ministério Público altere regra que os impede de serem nomeados para cargos em governos e de se candidatarem nas eleições Fonte: correioweb.com.br 23/04

Associações de integrantes do Ministério Público (MP) trabalham pela aprovação de uma norma que permitirá a promotores e procuradores exercerem cargos no Poder Executivo estadual e federal. O Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) vai analisar em maio duas propostas de alteração da Resolução nº 5/2006. Essa regra proíbe hoje os integrantes do MP de atuar em qualquer cargo fora do órgão. Membros do CNMP têm se mostrado favoráveis à aprovação de uma das duas propostas.

Atualmente, integrantes do MP exercem cargos em governos de forma irregular ou por conta de brechas na norma em vigor. Levantamento realizado pelo próprio CNMP mostra que 47 promotores e procuradores trabalham fora da instituição. Os números foram informados pelas próprias unidades do Ministério Público espalhadas pelo país, em resposta ao ofício enviado pelo conselheiro Bruno Dantas, presidente da Comissão de Controle Administrativo e Financeiro do CNMP, a todos os procuradores-gerais de Justiça do país, os quais comandam o MP nos estados. Das unidades do MP em todo o país, 13 declararam ter liberado promotores ou procuradores para o exercício de atribuições externas.

Uma das propostas de mudança da Resolução nº 5/2006, de autoria do conselheiro Cláudio Barros Silva, permite que os membros do MP exerçam outras funções compatíveis com a finalidade da instituição, mas veda a representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas. O texto destaca como compatíveis com o MP as “funções relativas à promoção da justiça, dos direitos humanos, da cidadania e da segurança pública, bem como à fiscalização e ao controle da gestão administrativa e financeira do Estado, exercidas nas esferas federal e estadual, em cargo de status equivalente ao do MP”. Segundo a proposta, o afastamento deve ser sempre comunicado com cinco dias de antecedência ao CNMP. Caberá à entidade analisar as compatibilidades temáticas e hierárquicas dos cargos que os promotores eos procuradores pretendem ocupar.

A outra proposta, assinada pela conselheira Claudia Chagas, é mais ampla. Revoga três artigos da Resolução nº 5/2006, liberando o afastamento em qualquer ocasião de membros do MP. O único artigo mantido por é o 1º da resolução, que proíbe promotores e procuradores de disputarem eleições. No texto apresentado ao Conselho, Claudia destaca “que não é conveniente a expedição de ato regulamentar restritivo de direito em matéria controvertida”. Para a conselheira, a matéria merece uma discussão mais aprofundada.

Disputas eleitorais
O presidente da Associação Nacional dos Membros do Ministério Público (Conamp), César Mattar Jr., defende a liberação para que promotores e procuradores possam disputar eleições. “Toda forma de diferenciação é prejudicial quando estabelece direitos para uns e para outros não”, diz. A impossibilidade de que isso ocorra, de acordo com a regra em vigor, tem feito, segundo Mattar, o MP perder bons quadros, caso do senador Pedro Taques (PDT-MT). Depois de eleito, no ano passado, Taques se viu obrigado a pedir exoneração do órgão.

Promotores e procuradores se incomodam em especial com a diferença em relação aos integrantes da Polícia Federal (PF). Eles não têm qualquer restrição para exercer cargos fora de sua carreira e podem até mesmo concorrer a cargos eletivos. Com isso, delegados da PF acabam por ter maior participação em decisões políticas, especialmente na área de segurança pública.

&&&&

ENTREVISTA LYGIA FAGUNDES TELLES

A ansiedade é o maior perigo para um escritor

AUTORA DESCREVE INFLUÊNCIA DA FAMÍLIA E AMIGOS NO PROCESSO CRIATIVO E RELATA IMPRESSÕES SOBRE A NOVA GERAÇÃO LITERÁRIA

Fonte: folha.uol.com.br 23/04

RAIO-X LYGIA FAGUNDES TELLES

VIDA
Nasce em São Paulo, em 19/4/1923. Publica seu primeiro livro de contos em 1938. Ingressa na escola de direito do largo São Francisco em 1941

PRINCIPAIS LIVROS DE CONTOS
"Antes do Baile Verde" (1970), "Mistérios" (1981), "A Noite Escura e Mais Eu" (1995), "Invenção e Memória" (2000, Prêmio Jabuti)

ROMANCES
"Ciranda de pedra" (1954), "Verão no Aquário" (1963), "As Meninas" (1973), "As Horas Nuas" (1989)


Autora de 19 livros de contos e quatro romances, Lygia Fagundes Telles cismou que seria escritora ainda menina. Diz, hoje, que a teimosia juvenil não rendeu boa escrita. "Para escrever, é preciso, antes, ler muito, criar parâmetros. A pressa faz muito mal ao escritor", afirma, referindo-se a si, mas também aos jovens autores contemporâneos. (ANA PAULA SOUSA)

Description: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/images/ep.gif



Folha - Por que a senhora modificou "A Disciplina do Amor", de 1980?
Lygia Fagundes Telles -
Porque, ao receber a última edição, que tinha sido dedicada a ele, meu filho fez duas observações sobre o livro. Ele me perguntou por que eu colocava tantas datas, sendo as datas fictícias, e também por que eu não punha os nomes dos personagens, e sim apenas as iniciais.
Percebi que ele tinha razão. Nesta nova edição, saíram quase todas as datas e, no lugar de letras como HH ou PE, aparecem os nomes de Hilda Hilst e Paulo Emílio.

A senhora costumava submeter seus escritos a seu filho?
Sim, ele e o Paulo [Emílio Salles Gomes] foram os meus grandes leitores. Liam tudo e davam muita opinião.

A senhora às vezes ficava desconfortável com a opinião deles?
Nunca. Mas às vezes concordava e às vezes não. O Paulo teve grande influência sobre minha obra.

Com ideias inclusive, não?
Sim, tem um conto, o "Relga", que nasceu de uma história que ele me contou. Ele me ligou de Paris para dizer que tinha lido no jornal uma notícia pequenina sobre um homem, filho de pai brasileiro e mãe alemã, que, durante a Segunda Guerra, foi para Düsseldorf e se casou com uma moça que não tinha uma perna.
Na noite de núpcias, ele roubou a perna mecânica dela. Eu pedia mais detalhes e ele dizia: "Cuco, não tenho detalhes. Sente e escreva". Ele me chamava de Cuco.

Sem as conversas com o Goffredo e o Paulo ficou mais difícil escrever?
Muito mais. Mas foi preciso continuar.

A senhora começou a escrever ainda menina. Qual a impressão que tem dos jovens escritores de hoje?
Eles me parecem ainda mais ansiosos do que nós éramos. Ansiosos por escrever e por aparecer. E a ansiedade é o maior perigo para um escritor.

A senhora foi ansiosa no início?
Muito. Tanto que os meus primeiros livros desapareceram.

A senhora tem lido os jovens autores brasileiros?
Recebo muito livro de jovens escritores e também muita coisa que chega via Academia [Brasileira de Letras]. Mas, se eu fosse ler tudo isso, eu não faria outra coisa que não ler. E, bem, já não tenho muitos anos pela frente. Tenho que aproveitá-los...

Como a senhora procura aproveitá-los?
Trabalhando nos meus textos, lendo, estando com os amigos. Também gostava muito de fazer caminhadas, mas não posso mais. Fui esportista, sabia?

A senhora fez educação física, não?
Sim! Veja este dedo torto: quebrei jogando vôlei. Também era rápida na corrida. Na faculdade, fui medalhista nos 400 metros rasos.

E a senhora fazia grande sucesso entre os rapazes do largo São Francisco...
(risos) Eu era bonitinha. Mas quando meu amigo Ives Gandra falou, no outro dia, que eu era a mais bonita da faculdade, tive que lembrá-lo de que éramos só umas sete ou oito mulheres. Convenhamos: não era uma vantagem tão grande assim!

>>>>

DRAUZIO VARELLA

Redução de danos

A questão da vida saudável desvia a medicina de sua função: aliviar o sofrimento humano Fonte: Fonte: folha.uol.com.br 23/04



OS BRASILEIROS engordam cada vez mais. Em 13 anos estarão tão obesos quanto os americanos de hoje. Em pouco mais de uma década a paisagem humana de nossas cidades será a mesma que choca os turistas quando levam os filhos à Disneylândia.
É paradoxal: de um lado, nunca fomos expostos a tanta informação de qualidade sobre a conveniência de adotar a assim chamada alimentação saudável, beber com moderação, praticar atividade física e não fumar; de outro, adotamos o estilo de vida oposto.
O fenômeno é mundial, poupa apenas os países muito pobres em que há falta de comida e de acesso ao conforto que a tecnologia proporciona.
Se toda a humanidade se comporta dessa maneira, sou forçado a questionar o papel da medicina no mundo moderno.
Há mais de 40 anos repito para meus pacientes que o corpo humano é uma máquina desenhada para o movimento, que a rotina sedentária e o excesso de calorias ingeridas apressam o envelhecimento e encurtam a duração da vida. Pareço o sacerdote no púlpito a insistir que os fiéis resistam às tentações da carne, diante da igreja surda.
A questão da vida saudável transforma o médico num defensor involuntário da moral e dos bons costumes e desvia a medicina de sua função primordial: aliviar o sofrimento humano. Explico o que quero dizer, caríssimo leitor.
Um homem me procura porque bebe demais. O que posso fazer para ajudá-lo? Aconselhá-lo a beber com moderação? Explicar que a bebida faz mal? Receitar os poucos medicamentos que a medicina desenvolveu para enfrentar de forma pífia uma tragédia pessoal dessa magnitude? Ou encaminhá-lo para os Alcoólicos Anônimos?
A experiência me ensinou a confiar mais nos Alcoólicos Anônimos, por uma razão simples: os resultados são melhores. Existe exemplo mais ilustrativo da incompetência médica do que curar menos do que um grupo de autoajuda?
Na cadeia, atendo mulheres que imploram tratamento para largar da cocaína. Chegam desesperadas, cheias de dívidas que lhes ameaçam a integridade física. O que a medicina tem para oferecer-lhes além de aconselhá-las a dizer não às drogas?
De que armas o médico dispõe para tratar as compulsões que infernizam aqueles que assaltam geladeiras na calada da noite, fumam, jogam, bebem, compram sem parar ou usam crack?
No início da epidemia de Aids, atendi um policial de 40 anos, pai de três filhos, que me pedia para encaminhá-lo a um cirurgião que o castrasse. Contou que não conseguia passar duas ou três semanas sem usar cocaína. Sob a ação da droga, invariavelmente ia atrás dos travestis que trabalham nas ruas, e acabava a noite nos hoteizinhos mais sórdidos da cidade. Nesses locais, já havia sido espancado e assaltado mais de uma vez.
Ingênuo como eu era na época, expliquei que a causa de sua desventura não era a sexualidade, mas a cocaína. Respondeu que estava cansado de saber, o problema é que não conseguia evitar as recaídas; se pelo menos a libido lhe desse trégua, seria possível reduzir os danos que a droga lhe causava.
Tentei inutilmente convencê-lo a desistir da ideia da castração, cirurgia de consequências irreversíveis, mas ele estava tão decidido que sugeri uma medida alternativa: tomar uma injeção de uma droga que bloqueia a produção de testosterona durante três meses, período que lhe daria mais tempo para reflexão.
Dois meses mais tarde, ele retornou, feliz com o resultado. Não havia abandonado a cocaína, mas estava livre da compulsão sexual.
O exemplo é didático. Não é papel do médico julgar comportamentos de acordo com seus critérios morais, nem é aceitável que a medicina atribua ao doente a culpa moral por ser portador da enfermidade que o aflige.
A ciência médica moderna deveria abandonar a ficção ridícula de transformar seres humanos preguiçosos, compulsivos, cheios de defeitos e vícios que prejudicam o organismo, em rebanhos de cidadãos bem comportados que passem a existência dedicados a cuidar da saúde acima de tudo, porque sempre haverá aqueles que acharão sem graça viver dessa maneira.
O que nos falta são tratamentos eficazes e recursos técnicos para reduzir os danos da obesidade, do sedentarismo, da dependência química e das compulsões autodestrutivas que nos atormentam.

&&&&



GOVERNO

Secretarias com caixa minguado

Tidas como especiais, as pastas de direitos humanos, mulheres e negros têm, juntas, recurso inferior ao do ministério menos abonado de Dilma, o da Pesca. Mesmo assim, sofreram mais cortes.

Fonte: correioweb.com.br 23/04

O status de ministério ficou apenas no nome de quem ocupa o cargo. As secretarias especiais, criadas no governo Lula para garantir aplicação de recursos em áreas sensíveis, amargam desde 2003 a falta de dinheiro em caixa. Neste ano, as três pastas juntas — Direitos Humanos, Políticas para Mulheres e Igualdade Racial — terão R$ 431 milhões para gastar. O valor é 30% menor que o orçamento, por exemplo, do Ministério da Pesca, órgão com a menor destinação de recursos na lei orçamentária —- R$ 553 milhões — e que passou longe da disputa dos partidos por cargos.

Além de limitados, os orçamentos das secretarias especiais sofrem todos os anos com o contingenciamento. “A liberação dos recursos é toda no fim do ano. O que acontece é que as pastas não conseguem nem gastar. Os programas sociais não param, precisam de dinheiro o ano todo”, destaca a especialista em segurança pública e gênero Eliana Graça, que critica a transparência da aplicação de verba. “Grande parte dos projetos são feitos por prefeituras e organizações não governamentais, sendo que muitos convênios são aprovados sem análise técnica e sem acompanhamento”, destaca a especialista.

No ano passado, dos R$ 239,3 milhões previstos para ações de direitos humanos no país, apenas R$ 191,2 milhões foram pagos. O que significa dizer que o governo investiu menos de R$ 1 por brasileiro nessa área. A pasta é responsável por programas de combate à exploração sexual de crianças e adolescentes, proteção de pessoas ameaçadas, ações de acessibilidade e de defesa dos idosos.

Os cortes no orçamento deste ano também já afetaram as secretarias. A execução nas três pastas está abaixo de 10%, sendo que o pior índice está registrado na Secretaria de Políticas de Igualdade Racial, que gastou menos de 3%. A pasta de Direitos Humanos executou 4% do orçamento previsto para este ano.

Mesmo Dilma Rousseff tendo garantido prioridade para a infância no seu governo, até agora não houve novos investimentos no enfrentamento da violência sexual contra crianças e jovens. Apesar dos R$ 12,3 milhões disponíveis para a ação, menos de 1% está empenhado e nada foi pago. O Programa Nacional de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente em Conflito com a Lei (Pró-Sinase) também não teve aporte de recursos. Os dados são de um estudo preparado pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) com a série histórica de gastos dessas secretarias, que compõem o orçamento social do governo.

“Há um aumento nos recursos das secretarias em geral por conta da pressão dos movimentos por emendas no Congresso, mas a verba ainda está muito aquém do ideal para os temas. É impossível combater o problema da violência contra a mulher, por exemplo, com R$ 35 milhões. Chega a ser ridículo”, afirma Eliana.

Muito a fazer
A Secretaria Especial da Mulher começou 2003 com R$ 33,8 milhões, quando teve uma execução de R$ 5,6 milhões, e chegou, no ano passado, a R$ 109 milhões, com R$ 96,1 milhões gastos. Além da violência, a secretaria tem, entre as atribuições, a elaboração de políticas públicas de gênero, incluindo ações de incentivo ao empreendedorismo e melhorias nas condições de trabalho.

A Igualdade Racial tem o pior cenário. Dos R$ 94 milhões autorizados no orçamento deste ano, pouco mais de R$ 2,2 milhões foram gastos até agora, sendo que R$ 2,1 milhões são voltados para o pagamento de despesas administrativas. O restante — menos de R$ 100 mil — foi investido no programa Brasil Quilombola e em ações de promoção de políticas afirmativas. O governo passado estabeleceu uma agenda para a assistência das 1.739 comunidades remanescentes de quilombos. O projeto era atender, até o fim do ano passado, essas áreas, localizadas em 330 municípios de 22 estados brasileiros.

“Ainda estamos muito longe de colocar esses temas como prioritários ou dentro de uma política transversal, como prevê a lei. Igualdade Racial, Mulheres e Direitos Humanos não estão, de fato, agregadas ao núcleo duro do governo”, critica Eliana. O Correio entrou em contato com as secretarias e não obteve retorno.

Mais uma
O governo Dilma anunciou a criação de uma estrutura nova: a Secretaria Especial de Aviação civil, ligada à Presidência da República. A pasta, que também tem status de ministério, será responsável por articular políticas para os aeroportos brasileiros. A intenção é reduzir a possibilidade de colapso na aviação civil durante eventos como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos. A estrutura atual da Esplanada é composta por 37 ministérios.

Nenhum comentário: