Uma aliança pelas florestas
JOSÉ LUCIANO PENIDO e MÁRCIO SANTILLI
O novo texto do Código Florestal precisa olhar para o futuro e permitir explorar as potencialidades do Brasil sem dilapidar os seus recursos
Fonte: folha.uol.com.br 13/04
Durante muito tempo, as relações entre empresas e ONGs foram marcadas por divergências e por conflitos. Em 2005, teve início o "Diálogo Florestal", um movimento inédito, que reúne empresas do setor florestal e organizações socioambientalistas, com o objetivo de discutir agendas comuns e também implantar ações conjuntas.
No ano passado, os participantes do Diálogo se engajaram numa discussão sobre o Código Florestal que, após oito meses, levou a 16 pontos de consenso, cujo princípio é o equilíbrio entre a visão das empresas de base florestal plantada, que têm planos de expansão, e a preocupação da sociedade civil com o meio ambiente e com a agricultura familiar.
Propõe-se um conjunto de incentivos para proteção, recuperação e compensação de florestas situadas em propriedades rurais -como a regulamentação do mercado nacional de carbono- em vez de reduzir áreas de preservação permanente (APPs) e de reserva legal.
Reconhece-se que os proprietários que desmataram de acordo com a lei vigente à época não necessitam recompor ou compensar áreas de reserva legal adicionais exigidas por leis posteriores. Também considera-se essencial o Cadastro Ambiental Rural em todos os Estados, para garantir a aplicação e a eficácia da lei.
Outra proposta é permitir que as APPs com cobertura vegetal nativa efetiva sejam computadas no percentual da área de reserva legal.
São apresentadas alternativas de compensação não previstas hoje, inclusive em áreas definidas como prioritárias para fins de restauração florestal. Defende-se equiparar as atividades florestais e agropecuárias, garantindo isonomia de direitos e de responsabilidades aos vários atores produtivos.
Propõe-se adequar o conceito de pequena propriedade rural familiar e equiparar a esta os assentamentos de reforma agrária e as terras de populações tradicionais.
O Código Florestal é o marco legal adequado para compatibilizar a produção e a conservação. O novo texto precisa olhar para o futuro e permitir explorar as potencialidades do Brasil sem dilapidar seus recursos. Só o setor de celulose e papel planeja investir US$ 20 bilhões até 2020. Suas empresas esperam uma legislação que ofereça a necessária segurança jurídica.
O documento foi encaminhado ao Congresso Nacional e às autoridades do governo federal.
Ao acrescentar à lei funções de promover a recuperação e remunerar serviços ambientais, além das relacionadas à proteção dos recursos naturais, pode viabilizar uma norma moderna e eficiente, capaz de resistir ao tempo e assegurar a estabilidade almejada por empresas e toda a sociedade.
Também abre caminho para uma oportunidade histórica de construir um pacto nacional que permita gerir racionalmente nossos recursos naturais e desenvolver a economia brasileira. O documento e seus signatários podem ser consultados emwww.dialogoflorestal.org.br.
JOSÉ LUCIANO PENIDO preside o conselho de administração da Fíbria e o conselho deliberativo da Bracelpa (Associação Brasileira de Celulose e Papel).
MÁRCIO SANTILLI, ex-deputado federal, é coordenador do Programa de Política e Direito Socioambiental do Instituto Socioambiental (ISA).
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Festival Jazz na Fábrica promove estreia do trio Fire! no Brasil
Liderado pelo saxofonista Mats Gustafsson, conjunto é destaque do evento no Sesc Pompeia
Músico sueco, que une rock e improvisação em suas obras, ouve com frequência trabalhos de Tom Zé e Jorge Ben Jor Fonte: folha.uol.com.br 13/04
Reunir figuras lendárias a talentos mais jovens é um artifício manjado no mundo dos festivais de jazz.
Para não fugir à regra, os americanos Archie Shepp, 73, Dee Dee Bridgewater, 60, e Christian Scott, 28, estão entre os escalados para o Jazz na Fábrica, que o Sesc Pompeia abrigará entre os dias 7 e 29 de maio.
Mas quem deve incendiar o evento, com perdão do trocadilho, é o trio Fire!, liderado pelo saxofonista sueco Mats Gustafsson.
Parceiro de Thurston Moore (Sonic Youth) em diferentes trabalhos, Gustafsson, 46, desembarca pela primeira vez no Brasil com sua música furiosa, salpicada de elementos de free jazz, rock e muita improvisação. Como classificá-la?
"Não gosto de rotular minha música. Isso limita a experiência que as pessoas podem ter (...). O que espero é que soe como algo novo, que altere o foco e o rumo [do público]. Apenas abram ouvidos e mentes e nós faremos o resto", disse à Folha.
O som do grupo transita de passagens de teor mais abstrato e hipnótico a ataques sonoros altamente ruidosos.
"Comecei tocando em uma banda punk, na adolescência. Agora faço algo diferente, mas ao menos sinto que a energia e a entrega são as mesmas."
Multi-instrumentista, Gustafsson passeia por vários sopros, com destaque para os saxes tenor e barítono.
Ao lado dele estarão no palco, no dia 13 de maio, o baixista Johan Berthling e o baterista Andreas Werliin. Também está programada a participação do grupo paulistano Hurtmold.
O Fire! é uma das mais recentes investidas do músico. O trio, que lançou seu primeiro álbum em 2009, parte de uma base de sax, baixo e bateria, adicionando em alguns temas guitarra e teclados. O próximo disco está planejado para sair em maio.
MULTIPLICIDADE
Sendo um dos mais inventivos músicos da atual cena jazzística, o saxofonista sueco contabiliza em sua vasta e variada discografia mais de uma centena de álbuns.
A multiplicidade de projetos e perspectivas com que está envolvido já fez com que fosse criticado por sofrer de falta de foco.
"Eu faço o que tenho de fazer. O público decide se gosta ou não. O mais importante é um músico tocar com sua própria voz, sem concessões, sem querer se ajustar a toda nova onda que aparece", afirmou o músico.
Habitual parceiro de nomes da velha guarda do saxofone, como Joe McPhee, 71, e Peter Brötzmann, 70, ele não poupa elogios a Shepp, que se apresentará no último final de semana de maio.
"Ele fez algumas das gravações mais incendiárias da história."
Colecionador de discos de vinil, Gustafsson se mostra muito interessado em música brasileira e cita nomes como Tom Zé, Jorge Ben Jor e Caetano Veloso dentre os que ouve com frequência.
"Espero encontrar alguns LPs nessa viagem ao Brasil e também descobrir coisas novas", disse o saxofonista, aproveitando para convocar o público: "Tragam, por favor, belos e raros LPs para o concerto e poderemos fazer alguns negócios".
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