sábado, 16 de abril de 2011

O país deve promover um plebiscito sobre a proibição da venda de armas de fogo?

NÃO

Consulta não será remédio para a violência

LUIZ FLÁVIO BORGES D'URSO

O massacre covarde de crianças indefesas dentro da escola pública Tasso da Silveira, no Rio de Janeiro, mereceu o repúdio de todos os brasileiros e abriu um importante debate sobre a necessidade de a sociedade buscar respostas que possam aplacar esta dor, motivada por uma brutalidade tão desmedida.
O debate sobre o desarmamento é importante e a nova campanha para desarmar o povo brasileiro, proposta pelo ministro da Justiça, deve ter um impacto positivo na população, principalmente porque não se resume a uma edição episódica, mas ganhará caráter permanente, contando desde já com nosso apoio. Nesse esforço, talvez consigamos retirar de circulação milhares -talvez milhões- de armas de fogo que servem apenas para municiar os criminosos.
De acordo com o que se apurou até o momento, uma das armas utilizadas pelo assassino das crianças no Rio de Janeiro estava entre as roubadas de civis, a demonstrar que o país ainda carece de medidas adicionais às previstas no Estatuto do Desarmamento para controlar de forma mais eficaz o registro e o porte de armas de fogo. Atualmente, o Brasil tem em circulação 16 milhões de armas, sendo que 14,5 milhões estão nas mãos de civis.
Historicamente, a Ordem dos Advogados do Brasil - Seccional de São Paulo sempre trabalhou pelo desarmamento da população, promovendo inúmeras campanhas nesse sentido, por acreditar na sua efetividade e na construção de futuro de paz para o povo brasileiro.
A primeira de uma série de campanhas ocorreu no ano de 1996, e buscava conscientizar e educar a população sobre os riscos de se possuir armas dentro de casa.
Em 2005, o povo brasileiro foi ouvido sobre o comércio de armas de fogo por meio da maior consulta popular de sua história, da qual participaram quase 100 milhões de cidadãos, que majoritariamente decidiram pela manutenção da venda de armas de fogo. O resultado foi surpreendente, uma vez que as pesquisas de opinião davam ampla vitória à proibição do comércio de armas e munição.
Agora, sob o impacto da brutalidade do massacre dos estudantes no Rio de Janeiro, propõe-se um novo plebiscito, formulando a mesma pergunta ao povo brasileiro em um espaço de tempo de apenas seis anos, o que não se justifica.
Entendo, também, que uma nova consulta popular não será o remédio tão esperado para combater os males decorrentes da violência, que cresce, toma novas formas e, muitas vezes, nos deixa perplexos diante de um ato de barbárie que até então desconhecíamos, perpetrado pelo fácil acesso a uma arma de fogo, ceifando vidas inocentes.
Além disso, os recursos para uma nova consulta -a anterior custou R$ 250 milhões- poderiam ser aplicados em outras áreas mais prioritárias para o país, como a própria segurança pública, no setor de inteligência e de prevenção ao crime, para equipar melhor as polícias federal e estaduais e combater o ingresso de armas ilegais.
Temos, sim, de encontrar respostas para o massacre das crianças no Rio de Janeiro, para a banalização da violência, para as mídias que nos colocam entre os países em que mais se morre por arma de fogo; mas isso terá de ser feito por políticas públicas voltadas à segurança pública e pelo envolvimento consciente da sociedade nesse ideal de desarmamento e pela paz.


LUIZ FLÁVIO BORGES D'URSO, advogado criminalista, mestre e doutor em direito penal pela USP, professor honoris causa da FMU, é presidente da OAB-SP (seccional paulista do Ordem dos Advogados do Brasil).

MEIO AMBIENTE

Faltou chegar às florestas

Deputado pressiona para que Comissão de Fiscalização investigue as causas da não aplicação de US$ 45 milhões doados ao Brasil com o fim de preservar a vegetação tropical. Ex-coordenadora nega irregularidade Fonte: correioweb.com.br 16/04

A Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara deve discutir nas próximas semanas se responsabiliza gestores do Ministério do Meio Ambiente por falhas na execução do Programa-Piloto para Proteção das Florestas Tropicais, o PPG7, que funcionou até 2009. Relatório do Tribunal de Contas da União enviado aos deputados mostrou que o Brasil deixou de empregar mais de US$ 45 milhões dos US$ 352 milhões que recebeu de organizações internacionais para financiar projetos. Além disso, teve de devolver aos países doadores cerca de US$ 8,4 milhões porque perdeu o prazo determinado para realizar os investimentos.

Segundo o deputado Moreira Mendes (PPS-RO), responsável pelo pedido de auditoria do TCU, as falhas mostradas na execução do programa não podem ficar impunes. “Vamos analisar a resposta dos auditores ao nosso pedido e discutir se há responsáveis e quais falhas ocorreram. Não é possível fazer de conta que é normal desperdiçar tanto dinheiro. Um montante importante para preservar muitos hectares de florestas", comenta o parlamentar.

Um exemplo do que os US$ 8,4 milhões devolvidos significariam é o orçamento anual da Fundação Grupo O Boticário. Com cerca de US$ 6,8 milhões, o grupo cuida de 2.340 hectares de Mata Atlântica, 8.900 hectares de cerrado, além de gerir dezenas de projetos de preservação. “Esse dinheiro dá para fazer muita coisa. É o referente a mais de um ano dos custos de todos os nossos programas. Em termos de preservação, é uma quantia bastante significativa”, diz a diretora executiva do grupo, Maria de Lourdes Nunes, sem tecer comentários específicos sobre a atuação do ministério no caso da devolução dos recursos doados para o PPG7.

O relatório do TCU indica que colheu informações sobre a atuação do Ministério do Meio Ambiente com representantes do Banco Mundial e do KFW, Banco de Desenvolvimento da República Federal da Alemanha, e constatou falhas graves de planejamento e execução. Entre as causas apontadas para a não utilização de cerca de 12% do total de recursos doados (incluindo os valores devolvidos), estão atrasos na execução dos convênios, cancelamento de repasses devido a falhas nas prestações de contas e cálculo subestimado de prazos para a conclusão dos projetos.

Ministério
A ex-coordenadora do PPG7, Nazaré Soares, diz que a interpretação de que o Brasil perdeu os recursos que constam como devolvidos é equivocada, já que na maior parte dos casos o dinheiro não voltou aos doadores, mas foi repassado a um fundo para ser usado posteriormente. É o caso, por exemplo de cerca de US$ 13,5 milhões doados pelo banco alemão KFW que, graças a um acordo entre os países, foram repassados para outros projetos do ministério. “Esse dinheiro devolvido não quer dizer que foi perdido. Usamos em outros programas em andamento. Os recursos vão para o fundo fiduciário e reaplicamos. Não tem irregularidade nisso. Tanto que fomos auditados pelo Banco Mundial e por muitos doadores e todos constataram que não havia problema. Inclusive o TCU, em 2009, só nos fez algumas recomendações simples”, afirma.

Oficializado na Rio 92
O programa-piloto implantado pelo Brasil foi uma iniciativa do governo em parceria com entidades internacionais. O objetivo era maximizar os benefícios ambientais das florestas tropicais de forma consistente. O projeto começou a ser discutido na reunião do Grupo dos Sete países mais industrializados, o G-7, em 1990. Em 1992, foi oficializado no Brasil, durante a Conferência das Nações Unidas para o meio Ambiente e o Desenvolvimento, a Rio 92. Em 2009, o programa deixou de existir. Hoje, há três projetos estão em andamento.

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DILMA NA CHINA

Culpa dos países ricos

Presidente atribui a pressão pelo aumento dos preços às nações mais desenvolvidas por causa do excesso de liquidez internacional. Ao mesmo tempo, vende o Brasil como uma meca das oportunidades financeiras Fonte: correioweb.com.br 16/04

Boao — Na esperança de angariar a confiança e, se possível, mais investimentos nas cidades brasileiras, a presidente Dilma Rousseff aproveitou o penúltimo compromisso oficial ontem na China para vender o Brasil a uma seleta plateia como a meca das oportunidades, “democrática e de respeito aos direitos humanos”. Ao mesmo tempo, jogou no plano externo a culpa das preocupações econômicas que rondam o país e condenou as políticas de restrições de gastos que sempre são propostas em situações de incertezas. “A experiência do Brasil nos últimos anos demonstrou de forma inequívoca a importância do crescimento com melhora na distribuição de renda”, deixando nas entrelinhas, segundo diplomatas, a perspectiva de que é possível crescer sem rigorosos invernos nos investimentos.

Em seu discurso no Fórum Econômico de Boao, na Ilha de Hainan, a mesma que serviu de palco à reunião do Brics — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — na última quinta-feira, Dilma citou as perspectivas de negócios na exploração do pré-sal, da ampliação do sistema energético com o etanol e da necessidade de investimentos em infraestrutura para a Copa do Mundo e as Olimpíadas.

E quanto à ameaça inflacionária — sobretudo em economias exportadoras de commodities (produtos de origem primária), como é o caso do Brasil — e às dificuldades de segurar o deficit fiscal, a culpa é dos países ricos, conforme colocou a presidente brasileira num discurso recheado de termos econômicos, como requeria o plenário repleto de professores e analistas do mercado financeiro.

“A expansão da liquidez por parte dos países avançados pressiona a inflação mundial e aprecia as moedas de vários países, sobretudo dos exportadores de commodities, ao mesmo tempo em que promove a insegurança alimentar e a energética em outras nações. De outro lado, a lenta e instável recuperação econômica dos países avançados dificulta a redução do deficit fiscal e da dívida pública daquelas economias”, disse Dilma, jogando no plano externo as incertezas. “Essa situação levou os analistas a uma resposta um tanto simples: adotar políticas restritivas tanto nos países emergentes para controlar a inflação quanto nos países avançados para promover uma rápida consolidação fiscal”, completou.

Essa foi a primeira vez em que um chefe de Estado do Brasil participou do Boao Forum (o nome oficial do evento), criado em 2001 e conhecido como o “Davos da Ásia” — uma referência ao encontro europeu. Este ano, o anfitrião, Hu Jintao, convidou todos os países integrantes do Brics — o primeiro-ministro da Índia, Mohhonag Singh, que não pôde comparecer por compromissos assumidos antes. Além deles, compareceram o primeiro-ministro da Espanha, José Luis Zapatero; de Cingapura, Lee Hsien Loong; da República da Coreia, Kim Hwang-sik; e da Ucrânia, Nikola Azarov, mais ministros, autoridades e até celebridades chinesas, como o jogador de basquete mais alto do mundo, Yao Ming.

Programas sociais
Dilma se referiu ao controle inflacionário como ingrediente da recuperação econômica, mas foi enfática ao dizer que o objetivo de todo o esforço tem que ser o desenvolvimento e a inclusão social. “Sobretudo entre os mais pobres”, emendou Dilma. Ela passou então a discorrer sobre o portfólio de programas sociais brasileiros, em especial o Bolsa Família, o Minha Casa, Minha Vida e o Luz Para Todos.

Em seu propósito de apresentar os chamados valores nacionais, a presidente fez críticas indiretas ao regime do anfitrião, Hu Jintao. “Combinamos estabilidade econômica, crescimento acelerado, projeto estratégico de desenvolvimento, impulso à ciência, tecnologia e inovação, inclusão social de distribuição de renda, estado de direito de democrático, estabilidade política, compromisso com os direitos humanos e com a sustentabilidade ambiental e um profundo sentimento de autoestima de nosso povo”, afirmou, diante de uma plateia ciente de que a China tem elevados índices de poluição e continua sob forte censura nos meios de comunicação.

No plano político, Dilma deixou claro ainda que prega o meio termo na governança global: “O mundo do século 21 requer criatividade para forjar novos laços. Ásia e América Latina podem e devem ampliar parcerias. Não buscamos modelos únicos, nem tampouco unanimidades. Os consensos que se tentaram na história recente sob a égide do mercado ou do Estado e que, supostamente, nunca falhariam, mostraram-se frágeis como um castelo de cartas”, disse Dilma, referindo-se ao Brasil como um país num grande momento para investimentos e parcerias público-privadas.

Sem fins lucrativos
O Boao Forum for Ásia (BFA) é uma entidade não governamental que reúne, uma vez por ano, chefes de Estado asiáticos e convidados, como acadêmicos e analistas para troca de experiências. A primeira reunião foi em 2001. O tema deste ano é Desenvolvimento Inclusivo: Agenda Comum e Desafios.

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SER SUSTENTÁVEL

Código de impasses

Fonte: correioweb.com.br 16/04

As discussões sobre a reforma do Código Florestal Brasileiro cresceram. Há razões. O projeto que trata do assunto entrará em votação no Congresso Nacional. De um lado ruralistas, do outro ambientalistas. Ambos estão mobilizados e têm marcado os últimos dias com massivos protestos. Os primeiros defendem que as Áreas de Preservação Ambiental (APPs) sejam reduzidas ou que, pelo menos, parem de crescer. O outro grupo luta contra o desmatamento dos biomas e exige respeito às APPs.

O dilema político expressado pelos parlamentares parece claro: é preciso reduzir o desmatamento e, ao mesmo tempo, afetar o mínimo possível a produção agrícola do país. Tarefa difícil para um Brasil que depende, cada vez mais, do campo. Mas, por outro lado, ninguém disse que seria fácil reparar os estragos feitos no passado. A natureza tem dado recados — e não estamos ouvindo-a.

Já podemos tirar a principal conclusão: qualquer mudança que venha a ser feita no código vigente não pode estar alinhada ao desmatamento. A lei precisa servir de apoio ao desenvolvimento sustentável do país. O novo documento, enfim, deve ser exemplo de conduta antidesmatamento. Até porque a tecnologia evolui e hoje já é possível cultivar desperdiçando menos terra.

A impressão mais comum é de que progresso e preservação andam em via de mão dupla. Culpa dos ruralistas e ambientalistas extremistas. Isso não deve tornar-se uma máxima. É possível desenvolver-se minimizando o impacto ambiental. Essa é a essência da sustentabilidade.

Precisamos deixar um legado às gerações futuras . O atual relatório do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), posto em votação na pauta da Câmara Federal, resolve parte dos problemas latentes na legislação anterior. Entretanto, ainda precisa ser moldado, para que não continuemos dando murro em ponta de faca. O planeta clama por uma votação positiva.


Curiosidades

2,6 mil
É, aproximadamente, a quantidade de toneladas de resíduos sólidos que a população do Distrito Federal produz diariamente.

12 bilhões
É o número de sacolas plásticas que os brasileiros consomem anualmente, segundo dados do Ministério do Meio Ambiente.


22 de abril
Na sexta-feira, comemora-se o 41° aniversário do Dia da Terra. A data foi proposta pelo senador norte-americano Gaylord Nelson, em 1970, para despertar a consciência ambiental. A comemoração nasceu como forma de protesto contra o aumento da poluição. E, com o passar dos anos, cada vez mais pessoas aderiram ao movimento. Portanto, aproveite para refletir como andam suas atitudes em relação ao meio ambiente.


5 de maio
Nessa data é comemorado o Dia do Campo. E a celebração deste ano acontecerá em meio a discussões sobre o futuro das terras brasileiras. Tudo por conta da reforma do Código Florestal do país. Ambientalistas e ruralistas estão em zona de confronto. Quem sabe a data não sirva como um momento de reflexão da sociedade e o melhor para o futuro de todos os envolvidos seja finalmente decidido.

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COMBUSTÍVEL

Gasolina chega aos R$ 3,03

Distribuidora comunica aos postos que o derivado de petróleo terá aumento de R$ 0,09. Nas bombas, preço do litro ao consumidor final sobe a partir de segunda Fonte: correioweb.com.br 16/04

Para quem depende de carro ou moto para se locomover pelo Distrito Federal, o pior pesadelo se confirmou. A partir de segunda-feira, a gasolina nas bombas chegará aos R$ 3. Proprietários de postos de combustível afirmaram ter recebido ontem circular interna da BR Distribuidora — o braço comercial da Petrobras — anunciando que o derivado do petróleo passará a custar R$ 0,09 extras aos revendedores. O valor cheio deve ser repassado ao consumidor, fazendo com que o preço atual, que é R$ 2,94 na maioria dos postos, chegue a R$ 3,03.

De acordo com os empresários, o valor maior será cobrado deles a partir de hoje. Eles afirmam, no entanto, que vão segurar os preços enquanto houver estoques antigos. Por isso, o reajuste somente atingirá o bolso do cliente após o fim de semana. Novas elevações não estão descartadas.

As distribuidoras de combustível apontam o álcool como vilão da escalada ascendente de preços. O derivado do petróleo leva 25% de álcool anidro em sua composição. De acordo com o Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom), mesmo com o início da colheita e da moagem da cana-de-açúcar, ainda não houve produção suficiente do biocombustível adicionado na gasolina para que haja um barateamento.

Na última quarta-feira, o presidente do Sindicom, Alísio Vaz, disse que, embora tenha havido recuo no custo do álcool hidratado, utilizado para a fabricação do etanol, o álcool anidro, usado na gasolina, continua subindo de preço. Vaz declarou ainda que o país precisa de políticas de incremento na produção tanto de álcool quanto do derivado do petróleo.

Silêncio
Procurado para comentar o novo reajuste da gasolina, o Sindicom informou, por meio da assessoria de comunicação, que seu posicionamento sobre o assunto permanecia o mesmo. Por esse motivo, nenhum representante da entidade iria conceder entrevista.

O Correio Braziliense também entrou em contato com a assessoria de comunicação da Petrobras, a fim de tentar ouvir a BR Distribuidora. Até o fechamento desta matéria, não houve retorno. Na quarta-feira, a estatal divulgou texto sobre o assunto.

“A entressafra da cana-de-açúcar e fatores climáticos levaram ao aumento expressivo do custo do etanol repassado pelas usinas produtoras, impactando os preços praticados por todas as distribuidoras de combustíveis (…). Isso teve efeito direto no álcool hidratado, mas também na gasolina, que recebe adição de álcool anidro na proporção de 25%. Note-se que o preço da gasolina ainda sem etanol, repassada pela Petrobras às distribuidoras nas refinarias, não sofreu alteração de preço desde 2009”, diz a nota.

A mudança de preço à qual o documento se refere foi uma redução de 4,5% no valor da gasolina há dois anos. Antes disso, a última alta aplicada pela Petrobras foi em 2008, quando houve reajuste de 10% sobre o derivado do petróleo e de 15% sobre o diesel. Entretanto, há ameaça de que o valor do combustível vendido nas refinarias, sem adição de álcool, volte a subir, em razão da instabilidade no Oriente Médio e elevação do custo do barril de petróleo no mercado internacional. Se isso ocorrer, a gasolina vendida no mercado interno corre o risco de ficar ainda mais onerada.

“Não dá para trabalhar mais, não tem previsão”, afirmou Antônio Matias, proprietário da Rede Gasol — que detém um terço dos postos do DF — sobre o novo aumento da gasolina. O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis Automotivos e de Lubrificantes do Distrito Federal (Sindicombustíveis-DF), José Carlos Ulhôa, também lamentou. “Não vejo um horizonte muito claro. As usinas, as refinarias, são caixas-pretas”, disse. O Sindicombustíveis prevê, entretanto, uma normalização no valor da gasolina a partir da primeira quinzena de maio, época de plena safra da cana.

A secretária Viviane Madureira Serra, 29 anos, adotará uma solução radical para driblar os preços altos. A partir da semana que vem, a moradora de Sobradinho deixará o carro em casa e começará a pegar carona para o trabalho na moto do marido. Andar sobre quatro rodas, só nos finais de semana. Viviane conta ainda que pensa em trocar o veículo 1.0 por um modelo que consuma menos combustível.

Mais imposto
Esta semana, os proprietários de postos do Distrito Federal anunciaram que o álcool recuaria R$ 0,20 nas bombas. A medida adotada pelas distribuidoras, diziam eles, ajudaria a diminuir a pressão sobre o preço da gasolina. Entretanto, o tiro saiu pela culatra. O Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) decidiu que o valor do Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Serviços (ICMS) sobre o etanol na próxima quinzena terá aumento de R$ 0,14 por litro. Com isso, o recuo no valor do biocombustível deve perder parte do impacto, sendo reduzido a R$ 0,06.


SUSPEITA DE CARTEL SOB INVESTIGAÇÃO
Na terça-feira desta semana, o deputado distrital Chico Vigilante reuniu-se com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para falar dos preços dos combustíveis no DF. Cardozo informou que a pasta tem investigações em curso, em Brasília e no país. No final desta semana, o parlamentar recebeu um documento do ministério dando conta das principais ações. É citada, por exemplo, a recomendação feita em 2004 pelo Conselho Administrativo de Desenvolvimento Econômico (Cade) para que o Ministério Público do DF movesse ação direta de inconstitucionalidade contra a lei distrital que proíbe postos de combustível em hipermercados e shoppings. O Tribunal de Justiça do DF e Territórios negou o pedido do MP. Agora, o Supremo Tribunal Federal deve decidir a questão.

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Caso imperial

Livro reúne correspondência inédita de Dom Pedro I com a Marquesa de Santos e sugere novas discussões sobre o comportamento do imperador Fonte: correioweb.com.br 15/04

Quem ama com verdadeiro amor é franco e sincero, e não teme desavenças quando fala a verdade”, diz “O Demonão” em carta endereçada a “Titília”. É o início de mais uma missiva derramada de paixão, enviada a uma mulher enciumada. Poderia ser o desabafo de um casal comum. Mas este é o primeiro parágrafo de uma das 94 cartas escritas pelo imperador Dom Pedro I à sua amante Domitila de Castro, a Marquesa de Santos: um relacionamento tempestuoso, fogoso e que recorta trechos de um momento histórico relevante do Brasil do século 19. O romance, narrado em cartas entre 1823 e 1827, tinha correspondência até então inédita, que só foi encontrada, na íntegra, ano passado, pelo pesquisador paulistano Paulo Rezzutti.

“A data da independência vai continuar sendo a mesma”, brinca o arquiteto e urbanista graduado pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo. Mas afirma: “Essas cartas lançam novas luzes sobre o perfil de D. Pedro como ser humano, uma pessoa como nós. E também prova que ele não era completamente sujeito à amante: recusa favores e não era um administrador doido, que fazia o que queria”, diz o compilador dos escritos, sobre a descoberta feita no Hispanic Society of America, museu nova-iorquino que cataloga artefatos raros de Espanha, Portugal e América Latina.

A outra face
D. Pedro, nos momentos mais calorosos, assinava como “O Demonão” ou “Fogo Foguinho”, e a chamava carinhosamente de “Titília” ou “Meu amor.” Dizia-se um amante fiel, devoto, sincero. Mas, nas vezes em que os arroubos de ternura rareavam, dirigia-se solenemente como “O Imperador” e a tratava apenas como “Filha” e “Querida Marquesa”. Domitila era divorciada. Segundo dizem historiadores, conheceu o príncipe regente perto do cemitério dos Aflitos, atual bairro da Liberdade, em São Paulo. Apesar do matrimônio de cinco anos com a arquiduquesa Leopoldina, D. Pedro era dado a aventuras extraconjugais. Uma jura de fidelidade à amada, porém, confirma que o relacionamento foi duradouro: “Eu já não namoro a ninguém depois que lhe dei minha palavra de honra”, ele escreve na carta de número 50. Pedro I levou Domitila à corte, no Rio de Janeiro, fez dela marquesa e dama da imperatriz Leopoldina. Um escândalo.

A reprodução das 94 mensagens vem numa edição que acrescenta mais 17, com algumas poucas respostas de Domitila, e correção de pequenas imprecisões. Rezzutti se deu ao trabalho de comentar e incluir referentes gramaticais e geográficos em passagens confusas. “Foi mais fácil achar as cartas do que entender o que elas estavam dizendo. Mesmo depois do livro publicado, algumas coisas estão nebulosas. Você não acha suporte histórico para contextualizar algumas coisas. Transcrever não foi tão complicado, a letra dele não é difícil. O difícil é quando ele muda de humor. Ele era epiléptico, e, em alguns instantes de nervosismo, você percebe a exaltação dele pelo tipo de escrita. A preocupação com ciúmes, questões de Estado”, diz o organizador, que dá como exemplo um trecho da carta nº 6: “Cumprindo com o prometido, e com os deveres não só de amante, mas até de amigo: lhe dou parte que passei bem; mas sonhei alguns sonhos que me mortificaram, todos relativos à nossa cara Pátria, à qual desejamos sumas venturas. À noite lá irei, e o mais cedo que puder, para ter o gosto de gozar da sua tão amável companhia, e que até se faz precisa para a existência. Deste seu desvelado amante”.


O estudioso recorreu a dicionários da época e relatos de viajantes estrangeiros para decifrar algumas expressões. “Sege”, por exemplo, na terceira carta é uma “carruagem pequena, de um só assento.” Na vigésima quarta, “colaça” significa “pessoa que compartilhou a mesma ama de leite”.

Mitos
A reunião das correspondências, espera Rezzutti, pode ajudar a reconstruir o passado de D. Pedro e Domitila. “Quando estava pesquisando, comecei a levantar quais eram as fontes iniciais dos mitos: que ela mandava nele, que ele não ligava para nada. É uma construção que vem quando acaba o império. No segundo reinado, tenta-se fazer uma nova imagem social. Começam a demonizar o antigo reinado, o império. E inicia-se o mito de que ele era um banana e ela, uma aproveitadora”, acredita.

O autor compara o seu trabalho aos livros do jornalista Laurentino Gomes, os best-sellers de não ficção 1808 e 1822. “O meu é diferente, porque fiz um levantamento de fontes primárias, em cima de material escrito pelo próprio punho do imperador. Não estou denegrindo esses livros, até porque esse que eu fiz nunca encontraria a dimensão assustadora que eles obtiveram. Talvez ficasse apenas em nível acadêmico”, aponta.

Agora, Rezzutti ocupa o seu tempo com um romance sobre a Bucha, sociedade misteriosa da Faculdade de Direito de São Paulo, e uma biografia exclusiva sobre a Marquesa de Santos. “Ela foi amante dele durante sete anos. Mas D. Pedro morreu em 1834 e ela, em 1867. Tem toda uma história de São Paulo em que ela está envolvida e que não é relatada. Sobre a ajuda que ela dava aos estudantes da Faculdade de Direito, a participação na Guerra do Paraguai, quando chegou a ajudar com dinheiro, armar tropas e hospedar soldados na fazenda que tinha perto do Rio Tietê. A imagem de amante não deixou que tudo isso viesse à tona”, acrescenta o escritor, criador do sebo on-line Bazar das Palavras, voltado a obras raras sobre a história do Brasil.

“Ontem mesmo fiz amor de matrimônio para que hoje, se mecê estiver melhor e com disposição, fazer o nosso amor por devoção. Aceite, meu benzinho, meu amor, meu encanto e meu tudo, o coração constante. Deste seu fiel amante”
O Demonão

“Dê-me recados a sua mãe e a seu pai e a seu mano Carrollos e a Nhá Cândida, agradeça-lhe o cuidado que têm em mim. Se precisas [de] alguma coisa deste aleijado, mandes dizer que ele fará todas as diligências para desempachar como quem é de você seu.”
Fogo Foguinho

“Eu parto esta madrugada e seja-me permitido ainda esta vez beijar as mãos de V. Majestade por meio desta, já que os meus infortúnios, e a minha má estrela, me roubaram o prazer de fazer pessoalmente. Pedirei constantemente ao céu que prospere e faça venturoso ao meu Imperador enquanto a Marquesa de Santos, Senhor, pede por último a V. M. que, esquecendo como ela tantos desgostos, se lembre só mesmo, a despeito das intrigas, que ela em qualquer parte que esteja saberá conservar dignamente o lugar a que V. M. a elevou assim como ela só se lembrará do muito que deve a V. M. Que Deus vigie e proteja como todos precisamos.”
Marquesa de Santos

(Última carta da marquesa para o imperador. Na madrugada de 26 para de 27 agosto de 1829, ela partiu, definitivamente, para o Rio de Janeiro).

Titília e o Demonão
Cartas de D. Pedro I à Marquesa de Santos organizadas por Paulo Rezzutti. Geração Editorial, 356 páginas. R$ 39,90.

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Alex Bellos revela face divertida da matemática

Jornalista e escritor inglês lança o livro "Alex no País dos Números"

Ex-correspondente do jornal "The Guardian" no Brasil, ele foi à Índia investigar a origem do número zero
Fonte: folha.uol.com.br 16/04


Quem se lembra dos livros de Malba Tahan (1895-1974) entende quando Alex Bellos afirma que a matemática é muito divertida.
A diferença é que hoje o jornalista, matemático e escritor inglês, ex-correspondente do "The Guardian" no Brasil, tem uma audiência menos hostil.
"Antigamente, quem gostava dessas coisas era rejeitado socialmente. Agora é cool ser nerd. Um dos homens mais ricos do mundo, o Bill Gates, é nerd. Tem seriado de sucesso na TV com nerds."
De passagem pelo país para o lançamento do livro "Alex no País dos Números", para o qual ele já prepara uma continuação, Bellos é um ótimo porta-voz da sua missão: relativamente jovem, simpático e bom contador de histórias.
No seu livro, narra muitas delas, como a da tribo indígena que só conta até cinco ou a dos matemáticos que conseguiram derrubar cassinos e viraram milionários.

PELÉ
Ele mesmo se envolveu em algumas aventuras. Foi à Índia, por exemplo, em busca das origens do zero. "Sem a filosofia e a religião, a matemática não existiria. Os indianos inventaram o zero como uma interpretação matemática de suas crenças, de que o nada é tudo", diz.
"Nós, do Ocidente", completa ele, "tínhamos medo do nada, e por isso colocamos um Deus para preenchê-lo. Mas, sem o nada, ou o zero, não haveria economia, computador nem ciência".
Diz que o carioca Impa (Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada) é um dos centros mundiais da matemática. Cita o brasileiro Artur Ávila como um dos melhores do planeta. Bellos também derruba o mito de que mulheres são menos aptas aos ensinamentos de Pitágoras.
"Na Europa, até os 16 anos, as mulheres têm melhores notas que os homens. Depois, por uma razão cultural, perdem o interesse. Mas isso está mudando. Acho que em breve uma mulher vai ganhar a Medalha Fields, o mais importante prêmio na área", afirma.
Sobre os erros dos economistas, diz que não sabem lidar com a aletoriedade, como a maioria das pessoas. Ele alerta também para a pouco estudada discalculia, espécie de dislexia para números.
Autor ainda de "Futebol: o Brasil em Campo" e de uma autobiografia do Pelé, da qual foi "ghostwriter", Bellos fala sobre o camisa dez: "Gostei muito dele, ele fala tudo o que pensa. No Brasil ele é criticado sem razão.
Acho que é como nós, ingleses, que adoramos falar mal do Paul McCartney".

ALEX NO PAÍS DOS NÚMEROS

AUTOR Alex Bellos
EDITORA Companhia das Letras
TRADUÇÃO Claudio Carina e Berilo Vargas
QUANTO R$ 44 (512 págs.)

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CRÍTICA HISTÓRIA

Independência dos EUA mudou o mundo

Obra de David Armitage investiga o legado histórico da declaração separatista esboçada por Thomas Jefferson

O QUE O LIVRO FAZ É ESTABELECER UM PAINEL VARIADO, SEM SE PREOCUPAR EM DISSECAR REVOLTAS, REVELAR OS INTERESSES Fonte: folha.uol.com.br 16/04


Todos os homens são iguais e têm direitos inalienáveis, como a vida, a liberdade e a busca da felicidade. Se um governo atua para destruir esses princípios, é direito do povo derrubá-lo.
Em torno desses conceitos foi redigida a Declaração da Independência dos Estados Unidos, aprovada em congresso em 4 de julho de 1776.
O texto ganhou o mundo e inspirou documentos similares em vários países.
David Armitage, doutor em história pela Universidade de Princeton e professor em Harvard, se debruçou sobre a declaração esboçada por Thomas Jefferson (1743-1826 ).
Analisou o texto, buscando visões nos campos jurídicos, filosóficos, históricos e linguísticos. Comparou com outros escritos semelhantes feitos em dezenas de países em mais de dois séculos. O resultado é o livro "Declaração de Independência - Uma História Global".
O autor advoga que o documento, mesclando o anúncio da independência, uma declaração de direitos e um manifesto, inaugurou um gênero de literatura política.
O volume tenta trazer um pouco do panorama político e econômico da época, mostrando, por exemplo, o jogo de pressões em torno do rascunho do texto, as repercussões internacionais e as críticas produzidas pelos áulicos do rei britânico.
Monarquistas condenaram o "atrevimento" dos colonos e enxergaram hipocrisia na declaração, pois falava em homens iguais em um país escravocrata.
Era "ridículo" ver, escreveu Thomas Day, abolicionista inglês, "um patriota americano assinando resoluções de independência com uma das mãos e, com a outra, brandindo um açoite sobre seus escravos amedrontados". Contradições que nem a Guerra de Secessão (1861-1865) nem a luta por direitos civis nos anos 1960 aniquilaram integralmente.
Abraham Lincoln (1809-1865) compreendia bem essa dualidade da declaração que, além de proclamar a independência, continha uma mensagem para o futuro, universal e duradoura.
Elogiando Jefferson, Lincoln afirmou, em 1859, que ele tinha tido "a visão e a capacidade de introduzir, em um documento meramente revolucionário, uma verdade abstrata, aplicável a todos os homens e a todas as épocas".
O livro de Armitage não mergulha nas causas da Independência dos EUA e explora pouco os seus antecedentes. No campo político, o papel de Thomas Paine (1737-1809) poderia ter tido mais destaque. Afinal seu livreto "Senso Comum" foi importante na propaganda pelo Estado livre e republicano, sendo a publicação mais vendida na época.
O historiador poderia ter aprofundado mais o contexto da revolta norte-americana e dos movimentos independentistas dos quais trata no livro. A visão de conjunto parece limitada ao movimento de fragmentação de impérios. A dinâmica capitalista que embalou as rebeliões não é abordada.
O que o livro faz mesmo é estabelecer um painel variado, sem se preocupar em dissecar revoltas, revelar os interesses ou construir um pano de fundo mais denso para os movimentos e os documentos que produziram.
Bem interessante é a seção com as íntegras de algumas declarações de independência. Destaque para o texto do Vietnã, de 1945, redigido por Ho Chi Minh (1890-1969), e que parte da consagrada proclamação norte-americana.
Outro documento contundente é o do Haiti, de 1804. A rebelião escrava construiu um manifesto forte, exclamando: "É necessário viver de forma independente, ou morrer. Independência ou morte!". Palavras que entrariam também para a história do Brasil anos depois.

DECLARAÇÃO DE INDEPENDÊNCIA

AUTOR David Armitage
EDITORA Companhia das Letras
TRADUÇÃO Angela Pessoa
QUANTO R$ 43 (264 págs.)
AVALIAÇÃO bom

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Inflação de emergentes é ameaça à reação global

Superaquecimento da economia leva países a endurecer sua política fiscal

FMI vai avaliar até que ponto aperto feito na Índia e na China pode causar desequilíbrio no comércio mundial
Fonte: folha.uol.com.br 16/04



Dados divulgados ontem indicam que a inflação está crescendo na China e na Índia, destacando a ameaça à recuperação econômica global, diante do superaquecimento dos mercados emergentes e da alta dos preços das commodities.
Os preços ao consumidor na China subiram 5,4% em março, no acumulado de 12 meses -a maior alta desde 2008. Na Índia, a inflação foi de quase 9% em março, ante 8,3% em fevereiro.
Diante desses resultados, os emergentes estão endurecendo sua política fiscal, reduzindo, assim, uma fonte importante de demanda para as economias avançadas -que já enfrentam dificuldades por causa do desemprego e de cortes fiscais.
Responsáveis pelas políticas econômicas acreditam que o desequilíbrio é exacerbado pela ausência de coordenação de políticas.
Nos próximos meses, o Fundo Monetário Internacional vai avaliar até que ponto as políticas dos emergentes contribuem para o desequilíbrio comercial global e vai sugerir mudanças, como uma maior flexibilidade da moeda chinesa.
Julian Jessop, economista-chefe da Capital Economics, de Londres, disse que a inflação da China é movida pelos preços dos alimentos.
"O caso da Índia é um pouco diferente", disse. "Isso é visível nos números da inflação de base, que vêm subindo quase tão rapidamente quanto a inflação total."
As pressões exercidas pelos preços das commodities também são visíveis na Europa, onde o índice de inflação de março passou para 2,7%, o mais alto em dois anos, e nos EUA, que também viu alta de 2,7% no índice total de preços ao consumidor.

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