quinta-feira, 14 de abril de 2011

ENTREVISTA - SERGEY AKOPOV

Desafio é ampliar negócios bilaterais

Embaixador da Rússia acredita ser possível melhorar a pauta comercial com o Brasil e considera positiva a pretensão nacional de uma vaga no Conselho de Segurança da ONU Fonte: correioweb.com.br 14/04

O embaixador russo no Brasil, Sergey Akopov, revela que ficou impressionado com as mudanças que ocorreram no país desde a primeira vez em que trabalhou como terceiro secretário da embaixada da extinta União Soviética, há 28 anos. Esta é a terceira missão dele em Brasília. A segunda, entre 1999 e 2003, ocorreu quando ele veio como ministro conselheiro, o segundo cargo na hierarquia da representação diplomática.

“É impressionante ver como o Brasil mudou muito nesse período, com progressos nos aspectos político, econômico e social. O país é um exemplo de transição democrática”, comenta. O diplomata acredita que existem muitas oportunidades de cooperação entre os dois países uma vez que o comércio bilateral tende a crescer e muito e as parcerias estratégicas entre os dois países podem ser desenvolvidas em várias setores como energia e financeiro.

Akopov defende ainda uma maior cooperação industrial dos dois países para que haja maior integração dos investimentos locais, de forma a criar empregos nos respectivos locais. Ele acredita que, com isso, será possível melhorar a pauta comercial, que ainda é composta por produtos primários em quase sua totalidade. A diversificação é um dos desafios apontados pelo diplomata. O embaixador considera positiva a entrada da África do Sul no Brics e acredita que isso ajudará na articulação política dos países membros. A seguir, os principais trechos da entrevista de Sergey Akopov concedida ao Correio.

O senhor pegou três momentos diferentes da história e da economia brasileiras desde o fim da ditadura. Qual a sua impressão sobre como era o Brasil naquela época e agora?
Observei muitas mudanças. Peguei o processo de democratização, das Diretas Já. Durante todos esses anos, percebi o enorme progresso que o Brasil fez nesses anos em todos os aspectos, como econômico, social, político e do desenvolvimento do sistema democrático. O Brasil pode ser um exemplo para muitos países de transição democrática e de como uma nação pode, em condições de paz, se desenvolver em benefício de todas as camadas da sociedade. Pude observar com os meus olhos como a classe média cresceu durante esses anos e as menos favorecidas diminuíram em comparação com as demais.

A terceira reunião de chefes de Estado dos países do Brics começa hoje. O que se pode esperar desse encontro e como o senhor avalia a entrada da África do Sul?
O encontro na China será marcado com a entrada de um novo membro desse grupo que é a África do Sul. Claro que o Brics não é uma organização econômica. É uma reunião de líderes de países emergentes para discutir um amplo leque de problemas políticos, internacionais, econômicos e buscar traçar os rumos do desenvolvimento da cooperação bilateral. A entrada da África do Sul é muito positiva. O momento é propício porque é de criação de um novo sistema de governança mundial, de reestruturação das relações econômicas internacionais. É importante ter mais um representante de peso para influenciar e defender os interesses do grupo.

Os relacionamentos do Brasil com os países do Brics são diferentes. A Rússia não tem a mesma intensidade de investimentos no país como a China. Como é possível aumentar o comércio bilateral, uma vez que ele é menor do que o Brasil tem com os chineses e com os indianos?
Sim, as relações econômico-comerciais entre os países do Brics são muito diferentes. Cada nação tem seu histórico com o Brasil. Estamos muito satisfeitos com o desenvolvimento das relações comerciais entre o Brasil e Rússia, mas não estamos satisfeitos com o volume do intercâmbio (US$ 6 bilhões). Temos excelentes perspectivas para o futuro. Durante a visita de Luiz Inácio Lula da Silva ao presidente Dmitri Medvedev, no ano passado, foi assinado um plano de ação de cooperação estratégica que estabelece as prioridades nas áreas econômica, científica e comercial. Como estamos geograficamente distantes, ainda existe desconhecimento mútuo. Continuaremos trabalhando para que empresários e pessoas comuns conheçam melhor os dois países. O interesse já está aumentando e as empresas russas começam a investir mais no Brasil.

Em quais setores os empresários russos investem no Brasil?
Diversos setores, como energia e siderurgia. O exemplo mais recente é do grupo OAO Mechel, que investiu em uma parceria com a Unipar para um complexo siderúrgico no Pará. Essa empresa tem planos de longo prazo para o Brasil, inclusive de construir um porto. A Gazprom (maior empresa de petróleo e gás da Rússia) está se instalando no Rio de Janeiro. Estamos ainda avançando na integração aérea entre os dois países. Daqui a um mês a Transair deve começar a operar voos regulares de Moscou ao Rio de Janeiro, sem escalas. Também existe um projeto conjunto na área de energia nuclear, considerada prioritária pelo plano de cooperação bilateral. Temos interesse em participar dos projetos de novas usinas no Brasil.

A balança comercial entre Brasil e Rússia é essencialmente composta por itens primários, como commodities agrícolas. Quais produtos industrializados têm potencial?
Aviões para voos regionais, mas com capacidade para cerca de 50 passageiros. Mas nossa tarefa principal é desenvolver uma cooperação industrial mais profunda, na coprodução de mercadorias de alto valor agregado, gerando empregos. É o que buscamos. O comércio de commodities sempre vai existir. Devido ao clima, a Rússia não pode produzir como o Brasil, mas sempre vai precisar importar açúcar brasileiro. E a Rússia é forte na produção de fertilizantes e o Brasil precisa de grandes quantidades desse produto. Mas, para o futuro, devemos procurar algo mais.

O Brasil é muito desenvolvido na área financeira. Há uma aproximação dos dois países nesse setor?
Sim. Essa é uma das áreas novas de desenvolvimento da cooperação mais recente. Os bancos centrais dos dois países se articulam para ver a possibilidade de utilização das moedas nacionais no intercâmbio comercial. Depois da visita de Lula à Moscou, no ano passado, um grupo de trabalho foi criado, mas ainda não se chegou a um mecanismo comum para essa mudança. O Brasil tem a experiência com a Argentina, que é pequena. A Rússia já tem experiências com a China e com a Índia, mas são diferentes.

Como o senhor vê o potencial da exploração do petróleo da camada pré-sal no litoral brasileiro?
É importante também. A entrada da Gazprom no país se deve a isso. Vamos ver a empresa participar desse mercado, com suas tecnologias e também em parcerias. O Brasil precisa de petróleo do tipo que a Rússia produz, mais pesado, para administrar as refinarias, fazer uma mistura de petróleo mais leve com petróleo mais pesado. Há um potencial grande para a cooperação.

A Rússia apoia o Brasil para um assento permanente para o Conselho de Segurança das Nações Unidas?
Achamos que o Brasil é muito bom candidato para o Conselho de Segurança ampliado. Mas sempre dizemos que, para chegarmos a esse momento, seria necessário um amplo consenso internacional para essa ampliação. Mas a candidatura do Brasil ao Conselho é muito positiva.

Como o senhor avalia a queda do dólar e a guerra cambial que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tanto fala?
A queda do dólar e do euro prejudica a competitividade de nossas economias. Sabemos muito bem sobre o problema que o dólar esta criando ao Brasil e temos o mesmo processo lá na Rússia com a valorização do rubro. Essa valorização é parecida tanto no Brasil quanto na Rússia. Isso faz com que a indústria perca competitividade e aumenta as despesas no comércio internacional.

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DILMA NA CHINA

Discurso ensaiado

Em comunicado conjunto, cinco países do Brics acertam que vão demonstrar preocupação com a violência na Líbia, sinalizar regras para o preço das commodities e reconhecer a aspiração brasileira a uma vaga no Conselho de Segurança da ONU Fonte: correioweb.com.br 14/04

Sanya — Depois de dois dias de intensas discussões em Pequim para fortalecer as relações com a China, a presidente Dilma Rousseff desembarcou na Ilha de Hainan, no sul do país, onde se prepara para repetir hoje em sua segunda etapa da visita ao gigante asiático o mesmo discurso de condenação ao uso da força na crise da Oriente Médio, adotado durante a visita do presidente dos EUA, Barack Obama, ao Brasil em março. Desta vez, no entanto, com mais apoio. A declaração conjunta dos chefes de Estado do Brics — Brasil, Rússia, Índia, China e, a partir de agora, a África do Sul — demonstrará preocupação com a turbulência na região, especialmente na Líbia, vai reiterar o princípio da não intervenção e diz textualmente que “o uso da força deve ser evitado”. O texto será assinado também pelos sul-africanos, recém-chegados ao bloco, embora tenham votado a favor instituição da zona de exclusão aérea líbia quando a decisão foi tomada nas Nações Unidas.

No linguajar diplomático, a expressão “deve ser evitado” que os países usam para se referir à violência, num recado direto à questão da Líbia, é considerada quase como uma condenação, embora não chegue a tanto. O documento começa com a saudação dos quatro países ao ingresso da África do Sul. Cada palavra colocada no texto foi exaustivamente estudada durante três dias por autoridades diplomáticas dos cinco países.

Em termos práticos, é o ponto da declaração que mais se afinará com o desejo do Brasil. O mesmo documento tratará ainda de outro tema da agenda que as autoridades e os empresários brasileiros acompanham com olhares atentos: o preço das commodities (soja, carne, minério de ferro, enfim produtos de origem primária) e a pressão de alguns países para que o valor seja controlado. Mas, nesse quesito, o governo brasileiro não conseguiu tantos avanços assim. O texto trata apenas de forma mais geral, dizendo que é preciso atenção para que não se prejudique ou cause mais desequilíbrios financeiros e econômicos, de forma a fortalecer a cooperação e os mercados físicos (estoques).

Em termos do Conselho de Segurança da Nações Unidas e a consequente ampliação para os países em desenvolvimento, o texto tampouco promete muitos avanços. No caso da vaga que o Brasil e a Índia pleiteiam dentro do conselho, a declaração afirma ainda que Rússia e China reconhecem o papel crescente dos outros três integrantes do Brics em termos multilaterais e apoiam a aspiração desses países a ter uma participação maior nas Nações Unidas.

Outros assuntos que devem render avanços são na área de ciência e tecnologia. A ideia é criar uma comissão permanente para verificar pontos em comuns. Ontem, os presidentes de bancos de desenvolvimento dos cinco países firmaram um acordo para estudo de financiamento em moeda local, o pode ajudar o setor.

Inflação
Temas mais espinhosos, entretanto, como o câmbio fixo praticado pelo chineses e a inflação estão fora da pauta da reunião de hoje. As reuniões preparatórias consideraram que esses assuntos devem ser discutidos em fórum mais amplo, como o G-20, que se reúne em novembro em Cannes, na França.

A ideia da reunião de hoje é justamente tirar posições comuns em alguns temas que possam ser levados ao G-20, como as discussões relativas à ampliação da presença dos fóruns de governança global políticos e econômicos. Em relação ao FMI, por exemplo, o comunicado reforçará o que disse a presidente Dilma Rousseff há dois dias em Pequim: a necessidade de reforma do sistema financeiro internacional. “A governança do FMI e do Banco Mundial não pode sistematicamente consistir em um rodízio entre EUA e Europa, com os demais países sistematicamente fora”, disse Dilma.

A presidente desembarcou em Sanya às 22h de ontem (11h em Brasília). Hoje pela manhã, está prevista a foto oficial dos chefes de Estado — Além de Dilma, estarão presentes o presidente da Rússia, Dmitri Medvedev; o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh; o anfitrião chinês, Hu Jintao; e o mais novo integrante do Brics, o presidente da África do Sul, Jacob Zuma. Depois da foto, seguem para uma reunião fechada. À tarde, Dilma se reúne separadamente com Zuma, Singh e com o primeiro-ministro da Ucrânia, Mykola Azarov, que participará amanhã do fórum econômico de Bo’ao, também na Ilha de Hainan.


TUDO FECHADO
Quem escolheu a primavera para descansar em Hainan se arrependeu. Há quatro dias, desde que as delegações e os diplomatas começaram a chegar à ilha, os caminhos estão praticamente fechados. A cada 100m existe uma barreira policial na estrada principal dos resorts de Yalong Bay, em Sanya, pedindo documentos. No Marriott, onde a presidente Dilma está hospedada, visitante só entra com credencial. Os táxis comuns estão impedidos de circular na região. Ontem, até o banho de mar era proibido nas proximidades do hotel Sheraton, onde ocorre hoje o encontro de cúpula do Brics.

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DILMA NA CHINA

Comércio em crescimento

Negócios entre Brasil e Rússia estão na casa dos US$ 6 bilhões anuais e aumentaram 42% no último ano Fonte: correioweb.com.br 14/04

A China é o maior parceiro comercial do Brasil no Brics, mas o Planalto também está de olho em um outro integrante do bloco: a Rússia, cujo comércio cresceu 42% em 2010, chegando a US$ 6 bilhões. Esse avanço mostra recuperação à queda de 46% registrada em 2009, mas ainda está longe dos US$ 7,9 bilhões computados em 2008, antes da crise financeira mundial. Comparado com as demais economias do Brics, é o segundo menor em volume (veja quadro).

A balança comercial entre os dois países é superavitária para o Brasil em pouco mais de R$ 2,2 bilhões. A corrente de comércio vinha avançando cerca de 20% ao ano e atingiu o pico em 2008 ao saltar 46%, para US$ 7,9 bilhões. No entanto, essa expansão foi interrompida bruscamente no ano seguinte para US$ 4,280 bilhões, recuando igual percentual devido à crise financeira. Naquele ano, a economia russa encolheu 7,9%, a maior retração entre os países do Brics e também entre as nações emergentes.

O embaixador russo no Brasil, Sergey Akopv, aposta na aceleração desse intercâmbio. “O comércio se recuperou em 2010 e acredito que o volume registrado antes da crise será ultrapassado neste ano”, afirma. O avanço recente do comércio bilateral, na avaliação do presidente da Câmara Brasil-Rússia de Comércio, Indústria e Turismo, Gilberto Ramos, deverá continuar apesar de o Brasil não crescer no mesmo ritmo de 2010 e a Rússia ter sido a economia do Brics mais afetada pela crise. “Mas agora o país está se recuperando. Já retomamos o ritmo de crescimento do período pré-crise. Os esforços do governo agora estarão concentrados em investimentos em inovação para modernizar a base da economia”, afirma.

O açúcar e a carne são os produtos brasileiros exportados para a Rússia. O açúcar não refinado é o líder, com 38% de participação na pauta. As carnes, em geral, somaram 46,4%. As commodities respondem por 70% das exportações russas para o Brasil, e os produtos de alta tecnologia representam apenas 5,7%.

Balanço

Confira quanto o Brasil movimentou com cada um dos parceiros do Brics em 2010

País / Volume de negócios
China / US$ 56,3 bilhões

Índia / US$ 7,9 bilhões

Rússia / US$ 6 bilhões

África do Sul / US$ 2 bilhões

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PARTIDOS

PSD surge com 32 deputados

Legenda lançada ontem ostenta a oitava maior bancada e reduz força do DEM e do PP Fonte: correioweb.com.br 14/04

Com a futura bancada liberada de antemão para se alinhar ao governo, o PSD teve a certidão de nascimento simbólica lavrada ontem, em evento na Câmara, com a assinatura de 32 deputados federais, dois senadores e um governador. A sigla servirá de abrigo para insatisfeitos em sua legenda ou para os ansiosos em pular o muro que separa oposição e governo. A meta do partido é conseguir chegar a 50 deputados federais até a eleição da executiva nacional, em julho.

A estratégia traçada pela provável presidente do partido, a senadora Kátia Abreu (PSD-TO), e o principal articulador, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, é adotar uma postura próxima à adotada hoje pelo PTB — que reúne oposicionistas e governistas, mas não tem posição oficial. “Estamos à disposição da presidente Dilma Rousseff para ajudá-la. Queremos que o seu governo dê certo, mas isso não significa estarmos atrelados. Campanha é campanha, governo é governo”, anunciou Kassab.

Até julho, o partido pretende estar com o programa elaborado e recolhidas as quase 500 mil assinaturas necessárias para o registro oficial no Tribunal Superior Eleitoral. Até lá, Kassab e Kátia Abreu tentarão atrair outros nomes da política, de olho nas eleições municipais de 2012. O deputado federal Reinhold Stephanes (PMDB-PR) e o ex-deputado federal Gustavo Fruet (PSDB-PR) estão no topo da lista de negociações, ao lado do governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo (DEM). “Hoje, apostaria que o Colombo vem”, disse Kátia.

Qualquer discurso sobre fusões com outras legendas foi evitado pelas lideranças do PSD. Com a entrada do partido em cena, o desequilíbrio entre as bancadas de governo e oposição, especialmente na Câmara, será acentuado. Antes quarta bancada, o DEM cairá para a sexta posição, depois de perder onze deputados. O PSD será a oitava bancada na Câmara e pode virar a sétima caso quatro parlamentares atualmente licenciados retornem ao Congresso.

Termômetro
O partido só deve traçar objetivos para as eleições de 2014 depois do pleito municipal de 2012. A ideia é que o número de prefeitos eleitos sirva como termômetro. “2012 vai basear nosso plano de crescimento para o futuro. Se tivermos um bom desempenho, poderemos requisitar a cabeça de chapa na maioria das eleições majoritárias”, planeja Kátia. Assim como era previsto inicialmente, a criação da legenda atingiu em cheio o DEM, mas foi surpresa a alta adesão de parlamentares do PP, seis inicialmente.

Pela contagem inicial, o PSD terá bancadas fortes em São Paulo, Minas Gerais, Goiás e na Bahia. Ainda filiaram-se à legenda os vice-governadores do Rio Grande do Norte, Robinson Faria; do Mato Grosso, Chico Daltro; da Paraíba, Rômulo Gouveia; de São Paulo, Guilherme Afif Domingos; e da Bahia, Otto Alencar. O vice baiano foi o responsável, inclusive, por ler o manifesto de criação do partido.

O texto defendeu as liberdades individuais, industrial, dos profissionais liberais e direcionou frases para sindicatos, mercado financeiro e a classe média, com o mote Desenvolvimento com liberdade e justiça social. “Sem nunca ser a favor ou contra o governo, mas a favor das ideias”, prometeu Kassab.

MPs opõem senadores
O governo escalou a tropa de choque para minar proposta que modifica o rito das Medidas Provisórias. Insatisfeitos com o monopólio do tempo de vigência das MPs na Câmara, senadores protestaram contra a aprovação das medidas a toque de caixa. O Planalto teme que qualquer alteração possa engessar as iniciativas do Executivo. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), elaborou projeto alterando a tramitação das MPs. Ontem, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), relator da proposta, apresentou parecer na Comissão de Constituição e Justiça. Antes mesmo de o mineiro encerrar a leitura, o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), pediu vista e adiou a discussão. “Aqueles que se opuseram a essa medida estão assinando atestado de submissão”, disse Aécio.

Texto final da reforma até 20 de maio
O relator das propostas de reforma política, senador Francisco Dornelles (PP-RJ), terá até 20 de maio para apresentar o texto final indicando mudanças na legislação para adaptar as regras eleitorais ao atual cenário político. Dornelles e os integrantes da Comissão de Reforma Política do Senado fizeram ontem a entrega simbólica do sumário executivo, contendo 15 itens, ao presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP).

O presidente pretende negociar com os líderes para que o texto seja submetido diretamente ao plenário, sem necessidade de análise na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Os principais pontos da reforma são o financiamento público de campanha, o voto proporcional em lista fechada e o fim de reeleição para presidente.

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BRASÍLIA 51 ANOS

Festa democrática

Comemorações do aniversário da cidade, este ano, prometem reunir um grande público na Esplanada em torno de atrações que atendem às mais diferentes preferências Fonte: correioweb.com.br 14/04

Às vésperas da chegada do aniversário de 51 anos de Brasília, os preparativos para a festa estão intensificados. A capital vai sediar eventos que prometem agradar a todos os gostos. Música e esporte dominarão as atividades, principalmente porque Brasília é candidata à sede da abertura dos jogos da Copa do Mundo de 2014. Ainda que o calendário das atrações não esteja confirmado, a expectativa é que pelo menos 150 atrações locais animem a comemoração, ao lado de estrelas nacionais. A celebração receberá
R$ 7 milhões dos cofres do GDF e R$ 2 milhões da iniciativa privada. A organização é responsabilidade de sete secretarias.

O público deve comparecer em peso aos shows das estrelas musicais nacionais e da cidade que subirão ao palco nos dias 20 e 21 próximos. Estão previstos espetáculos com a dupla César Menotti e Fabiano, Martinho da Vila, Plebe Rude, Móveis Coloniais de Acaju e Raimundos. A Secretaria de Cultura divulga hoje a relação das bandas distritais que passaram por seleção prévia.

A partir das 15h, a programação definitiva estará no hotsite criado para celebrar os 51 anos da capital. Desenvolvido pelo Núcleo de Novas Mídias e Redes Sociais, da Secretaria de Comunicação, o hotsite fica no ar até o dia 30 e propõe maior nível de interação com a população. Moradores e apaixonados por Brasília poderão enviar fotos e depoimentos sobre a cidade. “Brasília é a cidade com o maior acesso à internet no país. Nossa intenção é criar mecanismos para que as pessoas possam participar cada vez mais das decisões da cidade”, explica Débora Cruz, coordenadora do núcleo. A página comporta ainda seções com a história da construção contada por imagens e documentos do Arquivo Público e também narradas por Ernesto Silva, médico e pioneiro importante no crescimento e desenvolvimento da nova capital. “Queremos disponibilizar esse material para as escolas. Nosso objetivo é democratizar as informações”, completa Cruz.

O coração da festa é tradicionalmente montado na Esplanada dos Ministérios, onde 10 setores serão construídos: Arena, Palco Cidades, Palco eletrônico, Palco Festas de Brasília, Palco Juventude, Palco Praça de alimentação, Palco principal, Performances, Tenda Circo e Tenda História. Cada um deles pretende atender a públicos e a interesses diferentes e terá atividades durante todo o dia do aniversário (veja quadro). Desde o início do mês, não só a Esplanada dos Ministérios, mas as cidades históricas de Gama, Planaltina, Vila Planalto, Taguatinga, Vila Telebrasília, Granja do Torto e Núcleo Bandeirante trabalham em eventos comemorativos.

Copa do Mundo
Na tentativa de turbinar a candidatura de Brasília para sediar a abertura da Copa de 2014, foi montada uma grade com diversos encontros de futebol — incluindo a participação do governador Agnelo Queiroz em um jogo com um time formado por autoridades do GDF e outro de artistas, capitaneado pelo cantor Gabriel O Pensador. A Arena, com capacidade para 25 mil pessoas, receberá competições entre as 9h e as 18h do dia 21. As partidas começam com a “Copinha do Mundo”, que terá 16 equipes infantis de escolas do DF. A seleção feminina de futebol de Brasília enfrenta o time de mulheres de diversas etnias indígenas. O jogo final será uma disputa dos craques: Zico, Andrade, Adílio, Claudio Adão, Viola, Paulo César Caju, Leandro, Paulo Roberto, Túlio Maravilha, Paulo Isidoro, Eder, Zenon, Romerito, Paulo Victor, Luisinho, Batista, Dabogerto e João Paulo. Um dos técnicos convidados, ao lado de Dino Sani, é Pepe, considerado o “canhão da vila”, o maior artilheiro do Santos, bicampeão da Copa em 1958 e 1962.

Seleção
O resultado do edital de seleção dos artistas locais saiu no dia 11 e contemplou músicos, grupos de teatro, hip-hop, circo e cultura popular com residência comprovada no DF. As propostas foram avaliadas por duas comissões compostas por três membros convidados da Secretaria de Cultura. O anúncio da programação será feito hoje. O hotsite da Secretaria é: brasilia51anos.df.gov.br.

Quem faz os shows
Apresentações previstas para os palcos da Esplanada dos Ministérios

Dia 20, quarta-feira

» Palco principal
A partir das 20h: César Menotti e Fabiano, Móveis Coloniais de Acaju, Monobloco e artistas locais. A ordem dos shows não está definida.

» Palco Praça de alimentação
A partir das 20h: Shows de conjuntos de chorinho, samba e jazz.

Dia 21, quinta-feira

» Palco principal
A partir das 16h30: Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional com convidados (Hamilton de Holanda, Eduardo Rangel, Célia Porto e Rênio Quintas), Plebe Rude e Orquestra Sinfônica com Martinho da Vila, apresentando o Concerto negro, de Leonardo Bruno. Horários não definidos.

» Praça das Crianças
A partir das 10h: Teatro infantil, teatro de bonecos, pula-pula,
brinquedos e pintura de rosto.

» Praça da Juventude

A partir das 10h: Grafitagem ao vivo, duas rampas de skate e shows com as bandas In Natura, Raimundos e o rapper GOG . Ele a cantora Ellen Oléria serão mestres de cerimônia.

» Praça das Cidades
A partir das 10h: Artistas de cada uma das 30 regiões
administrativas do Distrito Federal, com 10 horas de shows.
O local terá praça representando a gastronomia do DF.

» Praça do Complexo Cultural da República
A partir das 10h: Festival com projeções na cúpula do Museu Honestino Guimarães e tendas de música eletrônica programadas para o fim do dia.

» Praça da Diversidade Religiosa
A partir das 10h: Shows e celebrações de diferentes religiões.

» Eventos esportivos
A partir das 8h: 5ª Maratona Brasília de Revezamento.

» A partir das 9h, na Arena
9h20: Final da Copinha do Mundo 10h45: Seleção de Brasília feminina X Seleção de Etnias Indígenas 14h: GDF X Time de artistas 15h45: Jogo da seleção de craques.

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HISTÓRIA

Atentado frustrado a Médici

Acervo com documentos secretos divulgados agora mostra plano para matar o presidente Fonte: correioweb.com.br 14/04

O ex-presidente Emílio Garrastazú Médici, que governou o Brasil entre 1969 e 1974, poderia ter sido vítima de um atentado no Rio de Janeiro, durante a visita de seu colega argentino, Alejandro Lanusse. Um documento secreto produzido pelos militares brasileiros mostra que o plano estava sendo orquestrado por um grupo esquerdista chileno, auxiliado por brasileiros no exílio. O informe, que também foi repassado para a Polícia Federal da Argentina, está entre os mais de 35 mil papéis que o Centro de Informação e Segurança da Aeronáutica (Cisa) doou ao Arquivo Nacional, em Brasília.

A primeira informação sobre o suposto atentado foi dada pelas autoridades argentinas em 2 de março de 1972. “Grupo de bandidos e asilados brasileiros no Chile estaria empenhado na perpetração de um atentado terrorista (sequestro ou atentado à bomba) contra o presidente Médici. Tal atentado teria lugar antes da viagem do presidente Lanusse ao Brasil”, diz a mensagem enviada de Buenos Aires. O alerta foi dado pelo coordenador de operações do II Exército à chefia do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) de São Paulo e depois difundido para as áreas mais estratégicas do governo.

O suposto atentado seria executado por uma pessoa que estava asilada ou refugiada no Chile, segundo documentos secretos do Cisa. Ele só retornaria ao Brasil para praticar a “missão terrorista seletiva”, como classificaram os agentes da área de informação do governo. O grupo estrangeiro que daria apoio seria o Movimento de Izquierda Revolucionário (MIR), do Chile. Não há entre os papéis referências ao desfecho do caso ou se algum dos envolvidos chegou a ser preso. Os nomes constam no informe secreto, mas estão tarjados, ilegíveis, uma prática adotada pelo Arquivo Nacional.

O acervo do Cisa entregue esta semana tem mais de 35 mil documentos, ou cerca de 150 mil papéis que mostram vários momentos da vida brasileira. Contempla o período entre 1964, depois do golpe militar, e os anos 1990. Um relatório da Secretaria de Inteligência da Aeronáutica, por exemplo, faz elogios ao então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, que pouco depois seria eleito presidente da República. “O sociólogo tem um currículo invejável, todo construído na esquerda e na oposição aos governos pós 1964”, indica um documento produzido em 12 de janeiro de 1994. O relatório — que deveria ser entregue ao então ministro da Aeronáutica — também faz um contraponto sobre as contradições de FHC como senador e como integrante do Executivo.

Monitor

Outros documentos mostram o monitoramento de grupos esquerdistas do regime militar. Todos os nomes de integrantes estão tarjados. Um dos casos é uma avaliação dos documentos apreendidos em um dos “aparelhos” (sedes) da Var-Palmares — organização a qual a presidente Dilma Rousseff pertencia —,no Rio Grande do Sul, em agosto de 1970. Outro arquivo, mais robusto, explica como o grupo agia, mas não há a revelação de nomes. Também constam do acervo arquivos incompletos ou mensagens sem relevância que estavam guardadas há décadas.

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COMBUSTÍVEIS

Governo tenta segurar, mas preço da gasolina dispara

Quase todos os postos do Distrito Federal já cobram R$ 2,94 pelo litro. Novos aumentos não estão descartados Fonte: correioweb.com.br 14/04

O indigesto preço de R$ 2,94 para o litro de gasolina, que começou a ser aplicado nas bombas dos postos de combustível na manhã de terça-feira, espalhou-se de forma generalizada pelo Distrito Federal. O motivo alegado pelos donos de postos para o reajuste de R$ 0,07 — o terceiro aumento desde o início do ano — é o preço de custo cobrado pelas distribuidoras. Para compensar a pesada alta do derivado do petróleo, o etanol sofrerá novo recuo, de R$ 0,20, a partir de hoje. Apesar disso, continuará não valendo a pena substituir um combustível pelo outro — para que o álcool seja vantajoso, é preciso que ele custe menos de 70% do valor da gasolina. No patamar atual, deveria custar abaixo de R$ 2,05.

A escalada de preços que preocupa os consumidores tem incomodado também o governo federal. Diante do cenário de tensão no Oriente Médio, a Petrobras tem sinalizado que, caso o barril de petróleo continue subindo no mercado internacional, deve haver aumento do preço do combustível vendido nas refinarias, o que não ocorre há três anos. Com isso, o valor no mercado interno ficaria ainda mais pressionado. A presidenta Dilma Rousseff é contrária ao reajuste. Na última semana, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, negou que o reajuste vá ocorrer, e o titular da pasta de Minas e Energia, Edison Lobão, declarou que o governo resistirá “enquanto for possível”. Mesmo assim, anteontem, o presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, insistiu que a alta pode acontecer

A última alteração feita pela Petrobras no preço da gasolina tipo A, vendida às distribuidoras sem a mistura de 25% de álcool anidro, foi para baixo. Em junho de 2009, a estatal reduziu em 4,5% o valor do produto. O último aumento sobre o combustível foi efetuado em 30 de abril de 2008, quando uma alta de 10% sobre a gasolina e de 15% sobre o diesel foi autorizada.

Com base na tabela de preços da empresa até o momento, não haveria motivo para a recente alta da gasolina, registrada no DF e em outras unidades da Federação. Além disso, outro fator que influencia o preço do derivado do petróleo, o percentual de 25% de álcool anidro em sua composição, já estaria neutralizado, uma vez que, nesta semana, o etanol começou a recuar nas bombas graças ao fim do período de entressafra da cana-de-açúcar.

Alísio Vaz, vice-presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes (Sindicom), afirma que, mesmo com o início do período de safra e consequente queda do preço do álcool, o biocombustível continuaria influenciando o valor do derivado do petróleo. Ele alega que a colheita de cana-de-açúcar ainda não foi volumosa o suficiente para fazer baixar o valor da gasolina, a exemplo do que aconteceu com o etanol nas bombas. Vaz acredita que a situação vai se reverter no início de maio. Diz, ainda, que problemas de baixa produtividade frente a uma demanda elevada provocam a insegurança e as oscilações constantes nos preços dos dois combustíveis (leia mais no Três perguntas para).

Os proprietários de postos de combustíveis no Distrito Federal demonstram preocupação com o valor da gasolina. No início da noite de ontem, o Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis Automotivos e de Lubrificantes do Distrito Federal (Sindicombustíveis) divulgou nota em que festejava o decréscimo no preço do álcool anunciado pela BR Distribuidora, braço comercial da Petrobras. Para a entidade,a medida foi positiva e pode ser entendida como uma tentativa de segurar os preços da gasolina. Ainda assim, expressou repúdio quanto às altas aplicadas pelas distribuidoras.

De acordo com o Antônio Matias, proprietário da Rede Gasol — a maior do Distrito Federal, que detém o controle sobre 91 dos 320 postos de gasolina existentes —, o forte crescimento da demanda por combustíveis tem levado ao aumento desenfreado dos preços. “Eu estou preocupado, porque não tem freio. Uma hora são as usinas e refinarias, na outra é a conjuntura internacional. Eu acredito que o governo tem que tomar medidas. Os mercados interno e externo têm crescido muito, e a produção de gasolina e álcool não está acompanhando”, afirmou.

Valor uniforme
Nas ruas do DF, preço de R$ 2,94 para o litro da gasolina é cobrado quase que uniformemente nas bombas. A variação ficava por conta de poucos postos que ainda não haviam realizado a alteração, em virtude de ainda possuir estoques antigos. A maioria dos estabelecimentos vende a gasolina aditivada ao mesmo valor da comum. Entretanto, em um posto do Pistão Sul, o litro do combustível com aditivos está sendo comercializado a R$ 2,98.

A dentista Paula Porto, 40 anos, queixou-se do preço salgado da gasolina enquanto abastecia o carro ao lado da filha Júlia, em um posto no Lago Sul. “O problema é que o álcool acaba mais rápido. Então só compensa se estiver muito barato mesmo. A gente já está pagando muito caro por combustível, e ainda aumenta. Não tem para onde fugir”, comentou.

Disparada

Confira a evolução dos preços desde abril de 2008, quando a Petrobras fez a última elevação, de 10%, sobre o preço da gasolina vendida em suas refinarias (antes da adição de álcool). Em junho do ano passado, a estatal reduziu em 4,5% o valor do derivado do petróleo

Abril de 2008 R$ 2,57

Dezembro de 2008 R$ 2,65

Maio de 2009 R$ 2,67

Novembro de 2009 R$ 2,73

Fevereiro de 2009 R$ 2,75

Agosto de 2010 R$ 2,66

Novembro de 2010 R$ 2,77

Fevereiro de 2011 R$ 2,77

Março de 2011 R$ 2,89

1ª semana de

abril de 2011 R$ 2,87

Preço atual R$ 2,94

Variação 14,4%

Obs.: a última elevação da gasolina ainda não entrou na tabela da ANP

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INVESTIGAÇÃO

Farra com dinheiro público

Sindicância do DFTrans mostra que ex-gestores desviaram R$ 2,9 milhões de convênio firmado entre o órgão e o Centro de Assistência Social às Pessoas Portadoras de Deficiência, de 2007 a setembro de 2010 Fonte: correioweb.com.br 14/04

Investigação realizada no Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans) revela em detalhes como gestores dessa repartição do governo desviaram dinheiro público de 2007 a setembro de 2010, período em que vigorou convênio assinado entre o órgão do GDF e o Centro de Assistência Social às Pessoas Portadoras de Deficiências do DF (Casped). Entidade sem fins lucrativos, o Casped foi contratado pelo DFTrans com o objetivo de intermediar a indicação de deficientes físicos para trabalhar na autarquia sob ingerência da Secretaria de Transportes. Mas os servidores não apresentavam necessidades especiais, eram fantasmas e alguns tinham parentesco com os próprios ex-gestores do órgão.

Iniciada em novembro de 2009 — imediatamente após as revelações da Caixa de Pandora —, a sindicância no DFTrans, a que o Correio teve acesso com exclusividade, apurou desvio de dinheiro público no valor de R$ 2.931.454,16. Praticamente um ano e meio depois do início dos trabalhos, os investigadores rastrearam o paradeiro de parte da quantia roubada. Transferências bancárias anexadas a um processo que soma 1.719 páginas revelam que os valores foram depositados, por exemplo, na conta de familiares de ex-diretores do DFTrans.

Em um dos casos mais flagrantes da fraude, a sindicância reúne sete depósitos de R$ 3,5 mil, valor médio, feitos em favor de Vera Maria Pozza Urnau. Ela é mãe de Júlio Urnau, que era o secretário-adjunto da Secretaria de Transportes durante a execução do contrato com a Casped. Na época, a pasta estava sob o comando de Alberto Fraga e o governo, a cargo de José Roberto Arruda. Júlio Urnau foi um dos colaboradores, em 2006, da campanha para deputado federal de Fraga, que o indicou para o posto no governo a partir de 2007.

As transferências bancárias a Vera Urnau ocorreram em duas situações. Alguns pagamentos foram feitos sem que ela tivesse qualquer vínculo com o Casped ou com o DFTrans. E houve repasses também referentes ao período em que Vera era contratada pela entidade para prestar serviços ao órgão da Secretaria de Transportes.

Para ter o mínimo de respaldo legal, a mãe do então secretário-adjunto de Transportes precisaria ter como pré-requisito uma deficiência física, em função da natureza do convênio celebrado entre o DFTrans e o Casped. Mas segundo a sindicância, ela nunca aparecia para trabalhar e não conseguiu comprovar ser portadora de necessidades especiais. Nem Vera nem outros 16 servidores que foram empregados por meio desse contrato de prestação de serviço.

Parentes diretos
Entre os funcionários contratados como deficientes, mas que segundo as investigações não eram portadores de necessidades especiais, foram detectados três parentes diretos da ex-diretora administrativo-financeira do DFTrans, Maria Lêda de Lima e Silva, alçada ao cargo por indicação de Júlio Urnau. Uma filha, Andressa de Lima Castro Melo; a irmã, Maria Nazira de Lima e Silva; e o marido de Maria Lêda, Vinício Monteiro de Castro Melo, recebiam salários pagos pelo governo dentro do convênio com o Casped sem apresentarem nenhuma deficiência e, pior, sem nunca terem aparecido para trabalhar, como revelam os depoimentos colhidos durante as investigações.

Um dos testemunhos mais importantes para a descoberta da fraude foi o de Leni Justino, que até o fim do ano passado presidiu o Casped, quando por problemas de saúde acabou falecendo. Ela contou em depoimento que durante a vigência do convênio indicou apenas dois trabalhadores dentro dos requisitos exigidos pelo contrato para o DFTrans. Os outros teriam sido de livre escolha de Lêda. O contrato entre o centro de assistência e o governo previa a indicação de 33 servidores, o que depois acabou sendo ajustado para 42.

Os gestores do DFTrans conseguiram justificar a parceria com o Casped — realizada no fim de 2006 e que perdurou até 2010 — com base em dois argumentos: o da necessidade de mais gente para completar o quadro de funcionários do órgão e em razão cumprimento de legislação federal, que orienta às empresas a terem em seu organograma percentual de servidores com deficiência física. De acordo com Leni Justino, as pessoas contratadas pelo Casped nunca passaram por um processo de seleção, que deveria ser feito por ela própria. Eram praticamente todas indicadas por Lêda e ficavam à disposição de Júlio Urnau, que se candidatou a deputado distrital pelo PSL em 2010.

A ex-presidente do Casped admitiu ainda que havia diferença entre o valor contratual e o que era de fato transferido pelo DFTrans. Essa distorção, em média de R$ 50 mil por mês, segundo afirmou Leni Justino, era repassada para a campanha de Júlio Urnau. Se a quantia tivesse sido paga como previa o contrato entre o órgão da Secretaria de Transportes e o centro de assistência às pessoas portadoras de deficiência, o governo teria desembolsado R$ 1,137 milhão entre 2007 e 2010.

Mas a soma transferida foi três vezes maior: R$ 4 milhões, com desvio de quase R$ 2,93 milhões. “Está evidenciada a prática de inserção de nomes na lista, com o objetivo de inchar e compor os altos valores contidos nas faturas”, conclui Fernando Vieira de Farias, um dos técnicos que integra a sindicância no DFTrans. Outra forma de aumentar a quantia inicial do convênio foi promover os servidores, inicialmente contratados com instrução básica, como previa o contrato, para nível médio e superior. A promoção, no entanto, foi só de fachada, assim como as horas-extras cobradas indevidamente, pois o dinheiro era desviado em favor dos servidores que organizaram o esquema fraudulento no DFTrans.

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RÍTICA MÚSICA ERUDITA

L'Arte del Mondo mostra a evolução artesanal de Mozart

Orquestra de câmara apresentou na Sala São Paulo quatro obras do período de formação do compositor
Fonte: folha.uol.com.br 14/04


Talvez não haja estilo musical mais distante dos ouvidos do século 21 do que o classicismo: não está afastado o bastante para soar exótico (como a música medieval) nem busca empatia na representação de afetos típica do barroco.
O clássico do final do século 18 ainda recusa o virtuosismo romântico, a estética do excesso que tem forjado nossa visão de mundo e nosso gosto.
Por isso pode ser uma experiência rica -para nós, hoje- ouvir um programa inteiramente dedicado a Mozart (1756-1791), ainda mais quando interpretado por um grupo que trata sonoridade e forças instrumentais a partir dos conceitos da época.
Foi o que fez a orquestra de câmara L'Arte del Mondo regida por Werner Ehrhardt no concerto de abertura da temporada do Mozarteum Brasileiro, anteontem na Sala São Paulo.
As quatro obras apresentadas mostram a evolução artesanal do compositor de Salzburg tomando como base os divertimentos para cordas (K.138 e K.136), escritos por um jovem de 16 anos.
A sofisticação singela e natural dessas peças permitiu à L'Arte del Mondo -que, apesar do nome, é de origem alemã- mostrar o seu melhor. O grupo atuou com cinco primeiros violinos, quatro segundos (posicionados em lados opostos do palco), duas violas, dois violoncelos e um contrabaixo (recheando o centro).
Ao contrário da visão hollywoodiana do compositor, sua genialidade é tardia. Nos anos de formação ele busca sobretudo a excelência dos gêneros, mas a maturidade pode ser antevista nas outras obras do programa.
Poderia ter havido um pouco mais de interação entre o tempo da orquestra (acrescida de duas trompas naturais e dois oboés) e o da jovem violinista Baiba Skride (nascida na Letônia), que solou o "Concerto nº 4" para violino com um Stradivarius construído 50 anos antes de Mozart escrever a obra.
Tanto no concerto quanto na "Sinfonia Concertante" para violino e viola K.364 - na qual dividiu o palco com a ótima violista Corina Golomoz - Skride manteve-se sempre atenta à leveza do estilo, o que só ressaltava os matizes graves de seu instrumento.
E o público, que aplaudia a tudo respeitosamente, só explodiu em gritos quando as duas solistas, no bis, largaram de vez o classicismo para mergulharem nos riscos barrocos da "Passacaglia" de Haendel (1685-1759).

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CARLOS HEITOR CONY

Amor e desamor

Fonte: folha.uol.com.br 14/04



RIO DE JANEIRO - Tempos atrás, citei frase que não era minha e desagradei a alguns leitores que se sentiram insultados porque comparei a máquina de escrever ao cão e o computador ao gato. Evidente que assumi o lugar comum que faz do cão o melhor amigo do homem, enquanto o gato, independente como é, não se dedica ao dono com a mesma fidelidade.
Tem vida própria, como os computadores que são programados por técnicos e não pelos donos, sejam eles competentes ou não.
Uma leitora mandou-me e-mail protestando contra a comparação. Diz ela que tem gatos e que todos são chameguentos, têm ciúmes, são solidários, reagem como seres humanos, dormem com a dona, ficam desolados quando ela sai para trabalhar.
Essa briga de cão e gato é antiga, antecede às máquinas de escrever e aos computadores. De qualquer forma, fico na minha: considero minha velha Remington semiportátil mais fiel do que o computador, que volta e meia, tentando me ajudar, me atrapalha e me deixa na mão.
Mas dou razão à leitora. Conheço gente que adora cães e gatos, dando a cada um o mesmo carinho e deles recebendo a mesma fidelidade, o mesmo amor.
Em casos assim, a comparação entre cães e gatos com os instrumentos mecânicos de escrita claudica como qualquer outra comparação e há vantagem para a máquina de escrever. Minha Remington me acompanha há 50 anos.
Não a uso mais, mas prefiro perder um dedo a me separar dela. Permanece no lugar de honra de meu escritório. Olho para ela e a sinto solidária com os meus fracassos. Ela me acompanha e me dá força. Se precisar dela, será a mesma de antes e me perdoará.
Nos últimos 15 anos, já me descartei de três computadores de mesa e quatro notebooks. Não cheguei a amá-los e não acredito que eles tenham me amado.

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ENTREVISTA - SERGEY AKOPOV

Desafio é ampliar negócios bilaterais

Embaixador da Rússia acredita ser possível melhorar a pauta comercial com o Brasil e considera positiva a pretensão nacional de uma vaga no Conselho de Segurança da ONU

DILMA NA CHINA

Discurso ensaiado

Em comunicado conjunto, cinco países do Brics acertam que vão demonstrar preocupação com a violência na Líbia, sinalizar regras para o preço das commodities e reconhecer a aspiração brasileira a uma vaga no Conselho de Segurança da ONU

DILMA NA CHINA

Comércio em crescimento

Negócios entre Brasil e Rússia estão na casa dos US$ 6 bilhões anuais e aumentaram 42% no último ano

PARTIDOS

PSD surge com 32 deputados

Legenda lançada ontem ostenta a oitava maior bancada e reduz força do DEM e do PP

BRASÍLIA 51 ANOS

Festa democrática

Comemorações do aniversário da cidade, este ano, prometem reunir um grande público na Esplanada em torno de atrações que atendem às mais diferentes preferências

HISTÓRIA

Atentado frustrado a Médici

Acervo com documentos secretos divulgados agora mostra plano para matar o presidente

COMBUSTÍVEIS

Governo tenta segurar, mas preço da gasolina dispara

Quase todos os postos do Distrito Federal já cobram R$ 2,94 pelo litro. Novos aumentos não estão descartados

INVESTIGAÇÃO

Farra com dinheiro público

Sindicância do DFTrans mostra que ex-gestores desviaram R$ 2,9 milhões de convênio firmado entre o órgão e o Centro de Assistência Social às Pessoas Portadoras de Deficiência, de 2007 a setembro de 2010

RÍTICA MÚSICA ERUDITA

L'Arte del Mondo mostra a evolução artesanal de Mozart

Orquestra de câmara apresentou na Sala São Paulo quatro obras do período de formação do compositor
Fonte: folha.uol.com.br 14/04

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Brics articulam negócios em moeda local

Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul querem abolir o dólar nas transações entre os integrantes do grupo

Texto final da reunião de cúpula vai fugir de temas polêmicos, como o câmbio chinês e o alto preço das commodities Fonte: folha.uol.com.br 14/04

Os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) fugirão de qualquer definição mais precisa nos temas polêmicos, no comunicado final de sua terceira reunião de cúpula a realizar-se hoje no balneário de Sanya, sul da China, uma espécie de Cancún do comunismo chinês devidamente aburguesado.
O ponto mais próximo de algum avanço é o uso de moedas locais, em vez do dólar, nas transações entre os cinco membros do grupo. Ontem, os presidentes dos bancos de desenvolvimento aprovaram acordo pelo qual trocarão experiências sobre operações de financiamento em moeda local.
É um passo muito preliminar para substituir o dólar, até porque, como reconhecem os negociadores brasileiros, trata-se de uma questão demasiado complexa para ser resolvida rapidamente. Tanto que mecanismo similar, implantado apenas entre Brasil e Argentina, funciona com muita dificuldade.
Outra iniciativa menos genérica é o apoio dos Brics ao plano de paz para a Líbia apresentado pela União Africana, aceito em princípio pelo ditador Muammar Gaddafi mas e rejeitado por rebeldes.
Apoio não significa envolvimento direto no tema, mas o acompanhamento do painel proposto pela UA.
O que os Brics rejeitam diretamente é o uso da força, não apenas na Líbia mas em todas as delicadas situações que se vivem no mundo árabe-muçulmano. Rejeitam, especificamente no caso líbio, a divisão do país e a violação de sua soberania.
A questão cambial, que tanto preocupa o Brasil, nem entrou na agenda, porque é tema que está sendo tratado no G20, grupo ao qual pertencem todos os Brics.
Faz todo o sentido jogar a questão para o G20, porque o desarranjo cambial não é apenas provocado pelo valor artificialmente baixo do yuan chinês mas também pelo dólar. Encaminhar o tema sem a presença dos Estados Unidos seria inútil.
Outro tema que está no centro das preocupações do G20, a volatilidade nos preços das commodities, também não ganhou, no documento final, uma declaração contundente. Os Brics manifestam, como todos, sua preocupação com a volatilidade, "especialmente dos preços de alimentos e da energia", mas não fazem nenhuma proposta para enfrentá-la.
A ideia de controle de preços, lançada pelo presidente francês Nicolas Sarkozy, nem passou perto do texto final, até porque o Brasil se opõe frontalmente.

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África do Sul oficializa entrada no grupo

Fonte: folha.uol.com.br 14/04

O "S" do acrônimo Brics ganhará uma função com a entrada da África do Sul. A adesão será oficializada na cúpula que começa hoje, na China, do grupo formado também por Brasil, Índia e Rússia.
A distância econômica da África do Sul para os demais Brics foi notada pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), ao citar o desafio que o país africano terá que enfrentar para reduzir sua elevada taxa de desemprego de quase 25%.
As características econômicas- o país tem o menor PIB- contribuem para aumentar as diferenças em um grupo que já é heterogêneo do ponto de vista político, cultural e geográfico.
Para o criador do acrônimo, o economista-chefe da Goldman Sacks, Jim O"Neill, a entrada da África do Sul no grupo não faz sentido. "É difícil ver como a África do Sul se equipara a esses países", disse, quando a adesão foi anunciada. "Claramente é uma boa notícia para a África do Sul, mas não está inteiramente claro para mim por que os outros membros do grupo deveriam concordar".
Embora cause estranheza ao criador da sigla, a adesão vai ajudar os demais Brics a aumentar seu acesso ao mercado africano.
É o que defende Fernando Sarti, professor de economia internacional da Unicamp: "Vejo essa associação com bons olhos porque oferece ao Brasil uma porta de entrada na África. É uma aproximação estratégica para ampliar o comércio, os investimentos e a troca de tecnologias".
Ele acrescenta que uma vantagem de fazer parte do grupo é a qualidade de diálogo diplomático com os demais parceiros.
O acadêmico acrescenta que uma vantagem de fazer parte do grupo é a qualidade de diálogo entre os parceiros do grupo.
O coordenador de Relações Internacionais do Ibmec, José Luiz Niemeyer, lembra que apesar das diferenças entre os Brics, a adesão da África do Sul foi uma decisão política. O grupo fortalece seu prestígio internacional ao agregar um representante da África.

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