Sonhar é preciso, realizar é possível
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Alexandre de Oliveira nasceu surdo, mas, desde pequeno, interessou-se em aprender a tocar piano. Ao persistir em seu objetivo, teve o trabalho elogiado pelo renomado pianista João Carlos Martins, que também enfrentou inúmeros problemas, porém firmou-se como um dos mais conceituados músicos do mundo Fonte: correioweb.com.br 07/08
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Sentado em um banquinho, sem encostar os pés no chão, porque ainda era muito pequeno, o estudante Alexandre de Oliveira, hoje aos 17 anos, assistia quase hipnotizado ao avô materno tocar piano. Mesmo sem escutar uma nota sequer, o menino dedicava toda a atenção àquele momento. Alexandre nasceu surdo. A família suspeita de problemas genéticos, mas nunca teve certeza. Apesar de não ouvir os sons do mundo, o rapaz escolheu seguir os caminhos do avô e aprendeu a fazer nascer música das teclas brancas e pretas.
Ontem, Alexandre recebeu conselhos valiosos de um dos maiores pianistas brasileiros, o maestro João Carlos Martins, 71 anos. “Não importa a deficiência. Você precisa ter expressão quando tocar”, ensinou o músico a Alexandre, que agradeceu pela dica com um sorriso. João Carlos Martins está em Brasília para participar, hoje, de um encontro com estudantes, no qual falará sobre o poder da música.
Martins é conhecido no mundo inteiro. Aos 28 anos, foi convidado pela então primeira-dama dos Estados Unidos, Eleanor Roosevelt, para se apresentar no Carnegie Hall, em Nova York. Desde então, a carreira internacional deslanchou. Martins é considerado pela crítica mundial como um dos mais importantes intérpretes do compositor clássico alemão Johann Sebastian Bach. O pianista brasileiro conviveu com personalidades históricas das artes, como o pintor surrealista Salvador Dalí. Compartilhou experiências também com Christopher Reeve, ator que interpretou o Super-Homem e ficou tetraplégico ao cair de um cavalo.
João Carlos Martins já foi capaz de executar mais de 20 notas por segundo no piano. O maestro, porém, é famoso por um dom que vai além de seu reconhecido talento para a música clássica: a capacidade de superação. Antes de completar 30 anos, Martins acidentou-se ao jogar futebol. Caiu sobre uma pedra e teve um nervo do braço perfurado, perdendo a capacidade motora da mão direita.
Após muitos meses de cuidados médicos, João Carlos voltou a público em apresentações memoráveis, usando principalmente a mão esquerda. Pouco depois, descobriu um tumor nesse membro. Também adquiriu lesão por esforço repetitivo (LER). As duas mãos ficaram comprometidas. Ainda assim, ele não se aposentou. “Eu usava proteção de ferro nas mãos para tocar. No fim, os dedos sangravam. Parei quando percebi que a qualidade já não era a mesma”, afirmou, em entrevista ao Correio.
Violência
Na Bulgária, o músico sofreu um assalto. Recebeu golpes com uma barra de ferro na cabeça. Teve lesão cerebral. O lado direito do corpo ficou paralisado. Durante três anos, ele persistiu na carreira, mesmo com todas as dificuldades da recuperação. Ao passar por tantos desenganos, João Carlos Martins chegou a se afastar da carreira — tentou ser treinador de boxe. Mas desistir da música nunca foi uma opção possível, nem ele insistiu nisso.
Em 2004, o pianista passou a estudar regência. “Aos 64 anos, comecei uma nova vida.” Foram 900 concertos nos primeiros sete anos. Cada músico da orquestra é uma nota do piano, como João Carlos gosta de dizer. “Eu reagi com pouca maturidade nos primeiros anos nos quais tive esses problemas. Poderia ter partido para a regência mais cedo”, refletiu. “A frustração é tão grande que você tenta deletar a música da sua vida, mas eu não consegui, porque ela faz parte do meu ser. Eu sempre fui um leão no palco e continuo sendo na regência.”
Agora maestro, ele se envolveu em projetos voltados para a educação, especialmente a de deficientes físicos e mentais. O músico construiu uma trajetória voltada para divulgação de mensagens de amor e esperança a quem precisa de ânimo para seguir em frente, como o estudante Alexandre de Oliveira. Ontem, os dois se conheceram. Alexandre emocionou-se. Demonstrou nervosismo quando o maestro o convidou para tocar piano, em um encontro particular, na casa de um amigo, no Lago Norte.
Dedicação
Alexandre estuda música há três anos. Tomou a decisão de ser pianista quando herdou da avó materna um piano. “O instrumento chegou lá em casa e ele decidiu que ia tocar”, lembrou a mãe de Alexandre, a policial civil Alessandra de Oliveira, 40 anos. O jovem, recentemente, começou a tomar aulas particulares. “O professor é uruguaio. Fazer a leitura labial é complicado. Mesmo assim, Alexandre se esforça”, contou a mãe. Ele teve acompanhamento de fonoaudiólogos desde cedo e aprendeu a falar.
O adolescente ouve apenas ruídos. Graças a um implante coclear (aparelho conhecido como ouvido biônico), ele consegue captar vibrações e sons metalizados. “É possível sentir a música. Alexandre percebe com o coração quando o som ficou bonito”, observou o maestro. Alexandre gosta especialmente de música clássica. “Eu me sinto muito relaxado quando toco”, explicou o jovem.
Durante anos, Alexandre teve problemas para controlar a personalidade forte. Não aceitava as limitações que a vida lhe impôs. Com a música, está cada vez mais tranquilo. Assim como o maestro João Carlos, percebeu que pode contornar os obstáculos da natureza humana. “É uma mudança que dá para perceber facilmente. Ele amadureceu muito e a música te
ve um papel importante”, relatou Alessandra. Alexandre não pensa em ser pianista profissional. Contenta-se em estar na categoria amador. “Eu não ligo para a surdez. Gosto do que é diferente. A surdez não é problema nenhum. O problema é o preconceito da sociedade”, disse.
Ontem, João Carlos Martins — que já foi tema de filme e samba-enredo de escola de samba — cumpriu mais um dia de uma nobre missão: a de dividir e multiplicar emoção, fé e otimismo. “Meu conselho para qualquer pessoa é: você tem que continuar sonhando. Quando estiver deprimido, sonhe de novo. Quando você menos perceber, o seu sonho corre atrás de você.” Palavras de quem sabe o que é recomeçar a vida a cada dia.
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FUNCIONALISMO
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Corrupção tira 98 do governo
CGU aponta que o número de exonerados em julho é recorde. Desde 2003, 2.812 caíram por atos ilegais. Ranking é liderado pelo MEC Fonte: correioweb.com.br 07/08
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Ao mesmo tempo em que a presidente Dilma Rousseff passava a vassoura no alto escalão do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), uma outra faxina era feita nas camadas mais baixas do funcionalismo público. Somente no mês passado, o governo federal expulsou 98 servidores por uso do cargo para obter vantagens, improbidade administrativa e recebimento de propina, conforme levantamento divulgado ontem pela Controladoria-Geral da União (CGU). Entre os ministérios com mais demissões está o da Justiça.
O número de julho é recorde, quando comparado a qualquer mês desde janeiro de 2003, ano em que a controladoria começou a arquivar os dados sobre as demissões — desde então foram demitidos 2.812 servidores. No acumulado de janeiro a julho deste ano, outro recorde. Nesse período, saíram dos cargos públicos 328 servidores, número superior ao registrado nos primeiros sete meses do ano, desde 2003. “A intensificação das expulsões decorre da determinação do governo em combater a corrupção e a impunidade. Assim, a administração deixa de ficar apenas à espera da punição pela via judicial, que é demorada, e passa, ela própria, a aplicar as punições de sua alçada” afirma o secretário executivo da CGU, Luiz Navarro.
Segundo a controladoria, os processos contra os servidores dão amplo direito à defesa dos acusados. Para ampliar a fiscalização, o governo criou o Sistema de Correição da Administração Federal, com unidade em cada ministério, e uma coordenação central dentro da controladoria. Montou ainda programa de capacitação em processo administrativo disciplinar para que gestores não contribuam com a impunidade, deixando de instaurar processos por falta de conhecimento.
Má educação
A CGU revela apenas o ministério em que os servidores trabalhavam, não especificando os setores em que eram lotados. O campeão em funcionários demitidos, no histórico desde 2003, é o Ministério da Educação, com 497 baixas. Em segundo lugar está o da Justiça, com 414 demitidos, e em terceiro, o da Fazenda, com 332.
Na comparação por estados, computada pela CGU a partir de 2007, o líder não é o Distrito Federal, unidade da Federação que concentra o maior número de servidores públicos. No DF, foram 281 casos. O primeiro no ranking é o Rio de Janeiro, que foi a capital do país até a fundação de Brasília, em 1960, e ainda mantém parte da estrutura do governo federal. O estado fluminense registrou 358 expulsões de funcionários da União. Em terceiro lugar vem o Amazonas, com 114. Empatados em último lugar com o menor número de desligamentos compulsórios estão Piauí, Acre e Sergipe. Os três estados tiveram 13 demitidos desde 2007.
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JOSÉ SIMÃO
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Ueba! Vamos chacoalhar o Ganso!
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E tá tudo globalizado mesmo: você solta um pum em Minnesota e derruba a bolsa de Kuala Lumpur Fonte: folha.uol.com.br 07/08
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Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do Planeta da Piada Pronta: "Fotógrafo captura perereca escapando de cobra". Na Indonésia! No Brasil é que não é! No Brasil, perereca não tem medo de cobra!
E a placa num supermercado de Rio do Sul (SC): "Promoção. Farinha Seca Barriga, só R$ 9,50".
Oba! Chega de abdominal, dieta e personal! Não precisa mais encolher a barriga na hora de transar!
E o Caio Ribeiro no "Globo Esporte" disse que tá na hora de o Santos dar uma chacoalhada no Ganso. É isso! Vamos chacoalhar o Ganso!
E vocês viram o modelito da Dilma no sorteio da Copa? Parecia uniforme da tiazinha do café! Mas ela acertou: na Copa, vestida de copeira. Copeira 2014! Rarará!
E PAC quer dizer Programa de Atrasos da Copa. E esta: "Turista que verá a Copa é solteiro e ganha bem".
As quengas agradecem! E um amigo vai lançar a campanha "Copa 2014! Vou pegar uma gringa". Argentina não vale. Rarará!
E eu vou lançar a campanha: "Copa 2014! Vou roubar um gringo!". Rarará! E esta: "Exonerados mais três diretores do Dnit". Então não é mais Dnit nem Dmit! É DINAMITE!
Transportes é o Time dos Predestinados: Pagot, Varejão, Faturetto, Passos e Masella. E chutando pra fora: Dilma!
E a Valesca Popozuda? Diz que o traseiro dela é usado como abrigo antiaéreo! Extensão da pista de porta-aviões americanos! Diz que é a única bunda do planeta vista do espaço! Rarará!
E o Obama? O Buraco Obama! Novo slogan do Obama: "Yes, We Cano". Avisa pro Obama que "fiado, só amanhã!".
O Obama tá como linguiça de churrasco: quando se livra do espeto, cai na brasa! E a Dilma emprestou o PAC pro Obama: Program to Avoid Calote! E a charge do Aroeira com a placa no portão da Casa Branca: "Vende-se! Porteira Fechada!". Rarará!
E em Hortolândia tem uma loja em homenagem ao Obama: Barato Obama! Tudo por menos de R$ 10!
E tá tudo globalizado: você solta um pum em Minnesota e derruba a bolsa de Kuala Lumpur.
E tem uma amiga que mora na Holanda que aplica o dinheiro no Rabobank. É verdade! Aí todo dia ela acorda dizendo: "Vou tirar dinheiro do rabo". O Obama também. Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza.
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
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FERREIRA GULLAR
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Mentira tem pernas curtas
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Curioso é que já havia falado desse tal encontro em outras ocasiões, sem que Augusto o desmentisse Fonte: folha.uol.com.br 07/08
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O artigo de Augusto de Campos publicado neste jornal semana passada me deixou surpreso pela carga de ressentimentos que revelou. E tudo porque, numa crônica, publicada aqui mesmo, mencionei um encontro nosso, em junho de 1955, na Spaghettilândia, no Rio, quando, ao falarmos de Oswald de Andrade, qualificou-o de irresponsável.
Mas, na mesma crônica, digo que, graças à releitura que ele e seus companheiros fizeram de Oswald, a obra deste ganhou o reconhecimento de que hoje desfruta. Qual a razão, então, para tamanho furor contra mim? Apenas porque disse que a visão que ele tinha de Oswald, naquele momento, era equivocada? Mas aquela era a visão que quase todos tinham dele, naquela época.
Antes desse artigo despeitado, Augusto já havia mandado uma carta à Folha afirmando que o tal encontro na Spaghettilândia era invenção minha. Vou demonstrar, aqui, que o encontro houve. Curioso, porém, é que, naquela carta, ele não nega que tivesse chamado Oswald de irresponsável; prefere dizer que o encontro não aconteceu, quando o que importa é o que disse ou não, tanto faz se na Spaghettilândia ou na Disneylândia.
Curioso é que já havia falado desse tal encontro em muitas outras ocasiões, sem que Augusto o desmentisse. Por que decidiu fazê-lo agora, não sei. A referida crônica, a escrevi para evocar minha relação de amizade com Oswald, e a referência, que provocou a fúria de Augusto, foi apenas uma entre tantas outras. Nunca pretendi apresentar-me como o responsável pela valorização da obra de Oswald.
Contei apenas o que de fato ocorreu entre nós: sua leitura entusiasmada de "A Luta Corporal", ainda inédito; sua visita a minha casa no dia de meu aniversário; minha visita a sua casa no Réveillon de 1953-54 e a notícia de sua morte em outubro daquele ano.
Escrevi então um poema, que Augusto afirma ter sido "sacado do fundo da gaveta". Não sei o que pretende dizer com isso, a não ser negar que entre mim e Oswald houvesse qualquer identificação mais profunda. Enfim, uma tolice.
Aliás, de tolices o seu artigo está repleto. Inventa que meu poema "O Formigueiro" foi uma imitação oportunista de poemas seus. Sucede que esses poemas têm uma lauda cada um (ideogramas); o meu, 50 -e só o publiquei 36 anos depois. Quanto oportunismo, não?
Na tentativa de demonstrar que o tal encontro foi invenção minha, cita uma crônica em que confesso esquecer o que leio, o filme que vejo, chego mesmo a mijar na lata de lixo, julgando que é o vaso sanitário. Ele se vale, desonestamente, dessa autogozação para insinuar que nada do que digo merece crédito. Engraçado é que Chico Buarque, depois de ler a crônica, me disse que também havia mijado, por distração, na lata de lixo...
Augusto, que nunca mija fora do penico, quis retratar-me como um sujeito ególatra e presunçoso, dono da verdade. Pergunto: alguém assim escreveria uma crônica como essa, intitulada "Errar é comigo mesmo", confessando suas trapalhadas? Augusto jamais o faria, uma vez que, modesto como é, não erra nunca. Ele e Deus.
Aliás, prefere mentir. Diz no tal artigo que me viu apenas "umas quatro ou cinco vezes de passagem", mas pouco falou comigo. No entanto, em maio de 1955, escreveu-me uma carta que tem simplesmente cinco laudas datilografadas em espaço um (em espaço normal, daria dez páginas).
Alguém escreveria carta tão longa para um sujeito com quem não quer papo? Nela, diz: "Em que pese nossas divergências, tenho muito interesse, acho mesmo que é um dever, estarmos em contato".
Encerra a carta informando que passará alguns dias no Rio: "Gostaria de entrar em contato com você, mas, como não tenho telefone (...), seria muito interessante que me enviasse um bilhete urgente (sublinhado) com o telefone de seu atual emprego". Passei-lhe o telefone e, assim, nos encontramos. Escolhi a Spaghettilândia, por estar a uma quadra apenas do lugar onde eu trabalhava. Como se vê, é mais fácil pegar um mentiroso que um coxo.
Ainda me lembro de Augusto ao chegar ali: cabelo penteado, óculos de aros grossos, bigode bem aparado, paletó e gravata. Que contraste com Oswald, que foi a meu aniversário em mangas de camisa e alpercatas! Um não tinha nada mesmo a ver com o outro.
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Diva Inezita comemora seus 60 anos de carreira
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Aos 86, cantora faz hoje especial na TV Cultura, ao lado de orquestra
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Apresentadora de "Viola, Minha Viola" defende música de raiz tradicional e critica o sertanejo moderno Fonte: folha.uol.com.br 07/08
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Toda quarta-feira, centenas de homens e mulheres de idade avançada se reúnem à tarde no 451 da avenida Tiradentes, em São Paulo, mais precisamente no auditório do teatro Franco Zampari, onde é gravado o "Viola, Minha Viola", da TV Cultura.
Para eles, a paulistana da Barra Funda Ignez Magdalena Aranha de Lima representa mais ou menos o mesmo que Madonna nas hostes fashionistas. Uma diva.
No caso de Ignez, ou Inezita Barroso, como é conhecida, uma diva caipira. Aos 86 anos, ela está completando 60 de carreira. Metade deles apresentando o programa musical mais antigo da TV brasileira e que proporciona a maior audiência da emissora estatal paulista (de 3 a 4 pontos no Ibope).
Para comemorar a data, a Cultura exibe hoje às 9h, com reprise no próximo sábado, às 20h, uma versão especial do programa. Como nos bons tempos da era do rádio, Inezita aparece acompanhada de 27 músicos de orquestra, cantando alguns clássicos de sua carreira, como "Flor do Cafezal", "Meu Limão, Meu Limoeiro" e "Lampião de Gás".
VODCA, NÃO
Para sempre Inezita será associada à música de raiz nascida nos rincões do Sudeste e do Centro-Oeste do país -Paraná, Mato Grosso, Goiás e principalmente Minas Gerais e São Paulo-, a que se dedica desde criança.
Isso num meio predominantemente machista, carola e pinguço. Ela nunca foi de beber, mas não dispensa a caipirinha de sábado. "Sem vodca, pois não sou russa."
Movimentando-se com um andador, em razão de um tombo recente, coberta de maquiagem e extremamente lúcida, ela diz: "A cultura caipira está dentro de cada um de nós. E é fantástica. Antigamente havia um preconceito, mas hoje todo mundo sabe que não precisa ser acadêmico para ser poeta".
"Viola" é um programa sem concessões que faz contraponto ao "sertanejo universitário" -micaretas, axé e baladas pop. Um gênero comercial que apenas de longe remete às origens rurais.
A ideia do programa é apresentar a velha geração de violeiros ainda em forma e os poucos expoentes da nova geração (uma das tendências atuais enche Inezita de orgulho: as violeiras, contrariando o machismo do meio).
CAIXA DE CDS
De acordo com Aluísio Milani, roteirista do programa, "para honrar e reverenciar Inezita todos tocam só o que ela gosta -e sabem do que ela não gosta". E do que ela não gosta? "Pergunte o que ela acha do Luan Santana."
No "Viola", instrumentos eletrificados, à exceção do baixo, não entram. "Nossa base é a viola, o violão e a sanfona. A música caipira se afasta cada vez mais da raiz, e isso é muito ruim. É sempre assim: onde entra o dinheiro, sai a cultura", diz Inezita. "O tecladinho pode ser bom para dançar, mas para mim é um realejo deitado, um instrumento sem alma. Qualquer coisa que altere os ritmos da música de raiz é ruim.
Mas a pior coisa que eu já vi foi um trio elétrico invadindo uma procissão da Festa do Divino, em Mogi das Cruzes [interior de São Paulo]".
E conclui: "A boa música é feita de ritmo, história, boa poesia e comunicação com o público. O mundo mudou muito, mas a cultura caipira nunca vai morrer".
Uma biografia de Inezita ainda não foi escrita. Mas em março o jornalista Assis Angelo lançou "A Menina Inezita Barroso" (Cortez Editora), livro sobre a infância e a adolescência dela, ilustrado com xilogravuras, para o público infantojuvenil.
Completando o ciclo de comemorações, a gravadora Microservice deve lançar dentro de dois meses uma luxuosa caixa contendo seis CDs, com músicas selecionadas pelo produtor e pesquisador Rodrigo Faour.
Intitulada "O Brasil de Inezita Barroso", recupera pérolas da música regional, de folclore e sertaneja interpretadas por Inezita entre os anos de 55 e 61. "Ela é pioneira nesse repertório e as gravações originais são de ótima qualidade", diz Faour. "É um luxo tê-la na ativa."
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Cantora sobrevive em meio ao risco de perda da música caipira
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Como padroeira e madrinha da música caipira, Inezita navega em mar perigoso. Fonte: folha.uol.com.br 07/08
Em todos os gêneros musicais, do coco de roda à música erudita, o número de músicas ruins é maior -muito maior- do que o de boas.
Como os criadores da música caipira são pessoas simples, quase analfabetas, quando eles erram na mão, o erro fica evidente, gritado. Surge uma repulsa. Diz-se então que espingarda de caçador tem dois canos justo para matar dupla caipira.
Mas Inezita é uma estrela. Como todo grande artista, ela tem em volta de si uma aura de carisma, magnetismo -e consciência.
Então sabe que, no universo da música caipira, além da cota inevitável de bagulho, vivem pequenas (e até grandes) joias de melodia, de ritmo e de poesia, a crônica -escrita por gente criativa e até iluminada de boa parte do Brasil, em dado momento.
A música caipira nasceu com o Brasil (a viola portuguesa foi a base) e teve seu apogeu entre os anos 1930 e 60, quando cerca de 80% da população vivia no campo.
Hoje, o povo está quase todo na cidade, cenário e contexto são outros, o mundo andou, mudou, se globalizou.
A música caipira se vê agora diante de três caminhos: 1) cultivar a tradição de uma época que não volta mais; 2) mudar para ser como os "sertanejos modernos", que se apresentam como dupla caipira, mas cujo contexto não é mais rural nem ainda é cosmopolita; 3) engrossar o movimento que, através das orquestras de violeiros (cada grande ou média cidade do centro-sul já tem uma ou mais de uma dessas orquestras) e das aulas de viola até na universidades, valorizar a viola caipira em conjuntos, bandas e mesmo orquestras sinfônicas.
Nesse mundo em mudança, e em risco permanente de perda desse grande patrimônio cultural do povo brasileiro, Inezita sobrevive, sempre em primeiro plano, como atriz, apresentadora de TV e agitadora cultural.
Usa sua voz forte e bonita na interpretação de músicas com segurança e originalidade. Sua gravação (voz e imagem) da "Moda da Pinga", em que ela sugere -com graça, discrição e muito charme- que tomou umas e outras, é inesquecível.
Com 86 anos, Inezita alcançou os patriarcas da música caipira, encabeçados por Raul Torres, de que agora só temos um, Tinoco (da dupla Tonico e Tinoco), fazendo 91 anos agora em novembro.
Inezita conheceu os "patriarcas", conviveu com quase todos eles, a todos reverenciou, de todos recebeu afago. Lida agora com a segunda geração da música caipira, possivelmente a última.
Dino Franco, 74, autor de "Cheiro de Relva" e "Ventania", entre outras mil composições, talvez seja o maior expoente dessa segunda geração. Pois Dino Franco diz que Inezita tem um defeito, o defeito de ser só uma.
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GILBERTO DIMENSTEIN
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O crime das mortes evitáveis
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Para medir a civilidade de uma cidade, veja suas calçadas; de um país, o número de pedestres mortos Fonte: folha.uol.com.br 07/08
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IMPOSSÍVEL NÃO ficar perplexo com o vídeo de um discurso de formatura que está circulando nas redes sociais.
Na cerimônia de formatura da faculdade de administração da ESPM no ano passado, o orador falou sobre um colega de turma que morreu porque, na volta de uma festa, perdeu o controle do automóvel. A partir do episódio, ele construiu imagens sobre os mistérios da vida e a importância da cautela e da responsabilidade. Finalizou o vídeo associando-o a suas carreiras e ao que teriam de enfrentar para dirigir uma empresa.
O orador era Vitor Gurman, morto há duas semanas, na Vila Madalena, por um automóvel que tinha 26 multas, dez das quais por excesso de velocidade. Ele voltava a pé para casa justamente porque não tinha ido de carro a uma festa, prevendo que iria beber.
Essa tragédia com jeito de ficção envolve mais uma coincidência: ocorre às vésperas do início da ofensiva, na cidade de São Paulo, para multar motoristas que não respeitam os pedestres.
Acidentes desse tipo no Brasil são rotina. Apenas nesta semana, em pleno século 21, começa na cidade de São Paulo a ofensiva para multar motoristas que não obedecem, por exemplo, à rudimentar faixa de segurança.
Na cidade de São Paulo, no semestre passado, morreram atropeladas duas pessoas por dia, em média. Acidentados no trânsito foram, nesse período, 72 casos diários.
Para ver como uma expressiva maioria desses acidentes seria facilmente evitável, basta conhecer o resultado de um programa experimental realizado desde maio em São Paulo. Numa preparação para as multas que começarão (ou deveriam começar) a ser aplicadas amanhã, realizou-se uma ação educativa em 38 cruzamentos das regiões centrais. Resultado: o número de atropelamentos caiu 69%.
Bastou, portanto, uma leve sensação de punição para menos gente ser atropelada.
Há uma cadeia de tolerância por trás do massacre. Considera-se muita coisa normal. Quando são publicadas as estatísticas de crime, mesmo nós, da imprensa, quase não damos destaque ao que ocorre no trânsito. As manchetes recentes foram para o aumento do latrocínio (47 casos) no semestre, o que equivale a 10% do número de pessoas que morreram atropeladas.
Considera-se normal a publicidade de automóveis que estimula o culto da alta velocidade. Associa-se, assim, o carro (e sua potência) a sucesso, sexo, poder -e por aí vai.
Celebridades não se constrangem (e quase não são constrangidas) por emprestarem sua imagem à venda de bebida alcoólica. Provocaram muito mais debate os comentários de Sandy sobre sexo anal do que o fato de ela emprestar sua imagem de boa moça, responsável, para promover uma marca de cerveja.
Não preciso aqui explicar a relação entre o álcool e os acidentes de trânsito, que mataram gente como Vitor ou seu amigo da faculdade.
Anunciam-se leis mais duras para coibir a mistura de álcool com direção, mas, com o tempo, elas deixam de funcionar.
No Brasil, achamos normal haver calçadas que não servem para pedestres: estreitas, esburacadas, muitas vezes usadas para carros estacionarem. Vemos bairros com milionários empreendimentos imobiliários em que não há preocupação com a construção de uma calçada.
Se quiser medir a taxa de civilidade de uma cidade, veja o tamanho de sua calçada. E, se quiser medir a cidadania de um país, pode usar como indicador o número de pedestres mortos.
O que ocorre em nosso trânsito são casos tão absurdos que, daqui a não muito tempo, quando olharmos para trás, não vamos sequer entender como os toleramos. É como vemos hoje a mulher não ter direito de votar, crianças serem obrigadas a trabalhar, negros serem escravos ou alguém fumar no avião.
O impacto da morte de Vitor, gerando repercussão entre jovens formadores de opinião -neste domingo, seu nome vai estar estampado na camisa do Corinthians-, certamente terá um efeito pedagógico na criação de uma comunidade mais responsável.
PS- Um dos maiores prazeres que tenho de morar nos Estados Unidos é poder flanar pela cidade com o direito de ficar distraído. Os motoristas não se comportam melhor lá porque são mais bonzinhos do que os nossos motoristas. É que eles sabem o tamanho do problema que terão pela frente se matarem ou ferirem alguém. Existe até quem queira punir os pedestres por não respeitarem o sinal verde dos motoristas.
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O admirável Wilson das Neves
De passagem por Brasília para três shows como autor e intérprete, o sambista, que é um dos maiores bateristas do Brasil, conta ao Correio histórias dos 57 anos de carreira Fonte: correioweb.com.br 08/08
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“Por causa dessa música estou com um terno novo! Ela deu um cascalho (dinheiro) melhor”, brinca Wilson das Neves ao falar de Os papéis, composição dele e de Luiz Carlos da Vila, gravada por Zeca Pagodinho. A elegância do sambista no palco do Teatro da Caixa, onde se apresentou neste fim de semana, seria inimaginável para Donga, João Baiana e Sinhô, que faziam as batucadas quase escondidas nos terreiros das tias baianas, no Rio de Janeiro do início do século 20. Terreiros que também foram o ponto de partida para a vida musical de Das Neves, que cresceu no candomblé.
“Eu tinha uma tia que arranjava qualquer motivo para fazer uma festa. Lá havia tambores, danças, e eu via show dos regionais, das jazz bands. Foi quando conheci o baterista Edgard Nunes Rocca, o Bituca.
Fizemos amizade, ia aos bailes com ele, ajudava a levar o instrumento, até que um dia ele perguntou se eu queria aprender a tocar. Respondi que sim e ele me levou para a escola de música. Tornei-me profissional em 1954, ou seja, estou com 57 anos de música e feliz da vida com a minha bateria”, conta o artista de 75 anos.
Baterista da Rádio Nacional e da Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal na década de 1960, Das Neves coleciona uma extensa lista de artistas com quem gravou. De acordo com suas contas, já foram mais de 700, como Sarah Vaughan, Paul Simon, Chico Buarque, Elis Regina, Elza Soares, Herivelto Martins e Paulo César Pinheiro. O último, parceiro de dezenas composições, entre elas, o sucesso O samba é meu dom, que abriu os shows do músico em Brasília.
Ao lado de Alfredo Cardim (piano), André Tandeta (bateria), Rômulo Gomes (contrabaixo), Zé Carlos Reis (saxofone e flauta) e Armando Marçal (percussionista, filho do mestre Marçal), ele encantou a capital com a simpatia e as canções do CD Pra gente fazer mais um samba (2010), o terceiro como intérprete.
“Sou um baterista que canta, não um cantor que toca bateria”, pontua o compositor de Estava faltando você, Minha trajetória, Debaixo do cobertor e Não dá, tema dos personagens de Lázaro Ramos e Camila Pitanga na novela Insensato coração. “Não faço letra porque não sou poeta. Tenho algumas que comecei a escrever, mas não adianta, não termino. Eu vivia dizendo que o dia em que o morro descer e não for carnaval, isso será um problema. O Paulo César Pinheiro escutou isso e fez um samba. As minhas músicas nascem assim.”
No cinema
Cantor, compositor, instrumentista, Wilson das Neves se arrisca na sétima arte. Em 2006, ele deixou as baquetas de lado para interpretar o personagem Papagaio no longa-metragem Noel, o poeta da Vila, de Ricardo Van Steen. “O produtor tinha me chamado para cantar na abertura e no fim do filme, mas cismou comigo e disse que eu podia atuar”, revela. Pouco tempo depois, participou da série Filhos do carnaval, ao lado de Jece Valadão, e do curta Alfavela, dos diretores Dado Amaral e Paola Vieira. “Se não for muito difícil, pode me chamar que eu vou. Todo mundo fala que eu estou bem nos filmes, mas digo: ‘Ficou bom porque ali não é o personagem, sou eu’”, explica. Em 2012, ele deve voltar às telonas, desta vez como protagonista. O cineasta mineiro Cristiano Abud está finalizando o documentário O samba é meu dom, sobre a vida e a obra do carioca.
No universo dos acordes, reinvenção parece ser o verbo de Das Neves. Em 2001, ele se juntou ao violonista Neco para gravar um novo disco do lendário grupo Os Ipanemas, na Europa. E o que seria um virou três. A banda, criada em 1964, lançou The return of The Ipanemas (2001), Call of the gods (2008) e Que beleza (2010) e virou pop nas baladas londrinas.
Em terras tupiniquins, o experiente baterista-cantor divide os microfones com os novatos Rodrigo Amarante, Moreno Veloso, Nina Becker e Thalma de Freitas na big band carioca Orquestra Imperial. A trupe embala o público (tão eclético quanto os integrantes) com músicas de Chico Buarque, Noel Rosa, Monsueto e Jorge Mautner, entre outros. “Cheguei ao grupo meio por acaso. A Thalma gravou um disco e me chamou para tocar bateria. Ela, que já estava na Orquestra, um dia me chamou para dar uma canja. Depois me perguntaram: ‘Você quer ficar?’. E eu fiquei. Tô aprendendo muito com essa garotada, eles me tratam tão bem”, derrete-se.
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SHOW
A música dos brasis
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O cantor e compositor Carlinhos Veiga apresenta, acompanhado por banda, espetáculo inspirado no livro O povo brasileiro, de Darcy Ribeiro Fonte: correioweb.com.br 08/08
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“Todos nós, brasileiros, somos carne daqueles negros e índios supliciados. Todos nós, brasileiros, somos, por igual, a mão possessa que os suplicou. A doçura mais terna e a crueldade mais atroz aqui se conjugaram para fazer de nós a gente sentida e sofrida que somos e a gente insensível e brutal, que também somos”. Este texto contido no livro O povo brasileiro, resume — em parte — o pensamento do antropólogo e educador Darcy Ribeiro sobre a formação do país “assentado num território próprio para nele viver seu destino”.
Essa obra do idealizador e fundador da Universidade de Brasília serviu de mote para o cantor e compositor Carlinhos Veiga elaborar, em parceria com o filho Pedro Feitoza, o espetáculo O povo brasileiro e suas canções: cantando os brasis de Darcy Ribeiro. O show será apresentado hoje, às 19h30, na Biblioteca Demonstrativa de Brasília. “A ideia do projeto foi estabelecer um diálogo entre trechos da obra do mestre Darcy, clássicos da música brasileira e canções de minha autoria”, explica Carlinhos.
Num determinado momento do show, ao se referir aos três pilares da formação da etnia brasileira — índios, escravos africanos e colonizadores portugueses —, em texto extraído de O povo brasileiro, o cantor interpreta Gente que vem de Lisboa e Peixinhos do mar (adaptação de Tavinho Moura), Kikiô (Geraldo Espíndola) e Mama África (Chico César).
Do repertório fazem parte, também, músicas como Brasil pandeiro (Assis Valente), O trenzinho do caipira (Heitor Villa-Lobos), Prenda minha (do folclore gaúcho) e Maragogi, canção com a qual Carlinhos foi premiado no festival de música promovido pela Rádio Nacional FM, no ano passado — na escolha do público. “Vou cantar, também, Cirandeira, de Stênio Marcin, que está no DVD Chão, lançado na última quinta-feira, em show no teatro Eva Herz, da Livraria Cultura, no shopping Iguatemi.
Homenagem
No show, com o qual o projeto Bibliomúsica homenageia o músico Nivaldo do Acordeom, Carlinhos terá a companhia da banda formada por Cláudia Barbosa (flauta transversal e voz), Eline Márcia (voz), Enos Marcelino (voa e sanfona), Marcus Moraes (violão e guitarra), Pedro Feitoza (baixo), Léo Barbosa e Ismael Rattis (percussão). “Este grupo vem trabalhando comigo há algum tempo e participou da gravação do DVD”, diz o cantor.
Carlinhos Veiga nasceu em Goiânia e desde a infância foi influenciado pela musicalidade da família. Nos anos 1980, iniciou carreira que se caracteriza pelo compromisso com as raízes culturais brasileiras. Embora sua música tenha por base instrumentos característicos da sonoridade regionalista — viola caipira, viola de cocho, acordeon e percussões — ao ser interpretada resulta num som com nuances urbanas.
Terra é o nome do CD de estreia de Carlinhos, lançado em 1990. Depois vieram o Menino (1999), Mata do Tumbá (2002), com ritmos como bumba-meu-boi, folia de reis e pagode de viola. Logo após se mudar para Brasília, ele lançou Santa Louvação, o quarto álbum, em 2003. Dois anos depois, em parceria com o músico capixaba Rogério Pinheiro, fez o Siripequi — Entre mangues e cerrados. Flor do cerrado, de 2007, traz composições do compositor goiano e de outros autores da MPB. O DVD Chão, que está lançando, foi gravado na cidade história de Pirenópolis, com produção da Toca de Barro Filmes.
O povo brasileiro e suas canções: Cantando os brasis de Darcy Ribeiro
Show com Carlinhos Veiga e banda hoje, ÀS 19h30, pelo projeto Bibliomúsica, na Biblioteca Demonstrativa de Brasília. Entrada franca. Classificação indicativa livre.
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Cultura busca verba privada e terceiriza a produção
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Compras de programas estrangeiros e demissões oneram emissora
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Para ex-conselheiro, só com recursos públicos TV pública se coloca como alternativa à produção comercial Fonte: folha.uol.com.br 08/08
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Apesar de a TV Cultura ver a participação de dinheiro público em seu caixa diminuir, o orçamento total do governo cresce desde 2003. Mas, em 2004 e em 2006, houve queda nominal dos repasses.
A emissora escolheu deixar de produzir programas e comprar desenhos estrangeiros, como "Backyardigans", "Pocoyo" e "Charlie & Lola". A terceirização da produção determina um aumento das despesas de custeio, que desde 2005 superam proporcionalmente os gastos com pessoal -exceção feita a 2010, quando cerca de 300 demissões elevaram gastos com funções trabalhistas.
Em 2003, custos com funcionários respondiam por 62,26% do orçamento, contra 37,57% de outras despesas. Em 2009, foram, respectivamente, 42,78% e 55,12%.
Na era da TV digital, o canal também reduziu o investimento tecnológico; em 2008, era de 6,29% e, em 2010, caiu para 2,89%. O jornalista Eugênio Bucci, que fez parte do Conselho Curador por três anos e participou do comitê de programação do canal, diz que o baixo repasse de dinheiro do governo "é um caminho para entender a situação em que a emissora se encontra". "É desse tipo de erro administrativo que decorrem os problemas de programação."
Ele defende que os recursos de uma TV pública tenham de ser públicos também. "Se não for assim, a TV pública passa a competir com a TV comercial e deixa de ser uma alternativa a esse formato. Além do fato de ser muito negativo ter de prestar contas ao mercado publicitário."
João Sayad, que preside o canal, disse em julho à Folha que a via para recuperar o público era investir em "mais jornalismo e mais debate".
Na ocasião, ele negou que os cortes de funcionários fossem um "desmanche" do canal, mas sim parte do processo de regularização do pessoal nas normas da CLT. Hoje a TV tem 1.300 funcionários.
Procurado pela Folha na sexta-feira passada, João Sayad não foi encontrado para comentar os números.
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Britânica BBC é o principal modelo de TV pública no mundo Fonte: folha.uol.com.br 08/08
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A definição de uma televisão como pública ou comercial depende do modelo de financiamento. Em tese, TV pública é aquela que vive de recursos públicos -mantendo, ainda assim, independência do governo- e que, sendo livre de obrigações comerciais, pode ousar na programação.
Já a TV comercial é aquela que vai buscar recursos no mercado, por meio de publicidade, que tem, como moeda de negociação, a audiência. Daí sua preocupação constante com o Ibope.
O principal exemplo de TV pública no mundo é a britânica BBC, que é mantida por uma taxa paga por toda a população do país e, cabe lembrar, também está passando por uma crise.
As pressões pela privatização dessa rede já duram três décadas.
Há também a norte-americana PBS, que, simplesmente, não permite anúncios publicitários.
No fundo, trata-se de uma questão conceitual. Uma TV só é pública se não tiver de submeter a programação às regras do mercado. Fornecedora de conteúdo para as emissoras educativas de todo o país, a TV Cultura durante muitos anos, apesar dos tropeços, foi o paradigma de TV pública do Brasil. Mas, neste momento, essa definição está xeque.
E a próxima pergunta que os envolvidos nesse debate talvez façam é: uma TV que não é pública de fato deve receber recursos do governo?
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CINEMA
Entraves nas coproduções
Apesar do crescimento nos últimos anos, a parceria para a produção de filmes com outros países esbarra, por exemplo, em projetos de língua portuguesa Fonte: correioweb.com.br 08/08
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Faz parte da história recente do país: em 1990, numa medida que deixou cineastas e produtores estarrecidos, o então presidente Fernando Collor de Mello extinguiu o único órgão governamental apoiador do cinema brasileiro: a Embrafilme. A produção nacional só se reergueria cinco anos depois, no período que ficou conhecido como “A retomada do cinema brasileiro”. Nos anos 2000, o país coleciona sucessos de bilheteria como os da franquia Tropa de elite 1 e 2 e Se eu fosse você 1 e 2. Enfim, parece que o mercado respira ares de estabilidade.
O atual órgão governamental, a Agência Nacional de Cinema (Ancine), decidiu então investir em coproduções. Agora, o Brasil tenta juntar pontas em parceria com outros países. Para tanto, anuncia editais de convênio ou de fomento direto com outros países. Somente este ano, foram lançados dois editais de patrocínio. Um com Portugal e outro com O Uruguai. Mas existem acordos de convênio também com Itália, Argentina, Alemanha, Canadá, Chile, Espanha, França, Portugal e Venezuela.
Entre os filmes produzidos entre esses países já estrearam Histórias de amor duram apenas 90 minutos (Brasil/Argentina), de Paulo Halm; Lope (Brasil/Espanha) de Andrucha Waddington; e a Festa da menina morta, de Mateus Nachtergaele, parceria entre Brasil e Argentina. Este ano, ainda serão lançados Onde está a felicidade? (Brasil/Espanha), de Carlos Alberto Riccelli; e Capitães de areia (Brasil/Portugal), de Cecília Amado.
Segundo o cineasta, crítico e assessor internacional da Ancine Eduardo Valente, o órgão segue um pensamento comum em outros setores governamentais na hora de decidir acordos bilaterais ou multilaterais. “É preciso que a iniciativa exista de todos os lados. Não é que a Ancine privilegie este ou aquele país. A agência reproduz a lógica que de uma forma geral perpassa os ministérios. É mais importante considerar a troca e o intercâmbio entre países com que mantemos proximidades culturais, geográficas e políticas. São mecanismos importantes para além da hegemonia do cinema norte-americano”, resume Valente.
Incentivo
Relatório publicado em 2006 pela Reunión Especializada de Autoridades Cinematográficas y Audiovisuales del Mercosur (Recam), entidade que reúne dados de órgãos governamentais de Argentina, Paraguai, Venezuela, Bolívia, e baseada no Uruguai, notava que mais importante que os acordos de cooperação de produção seria o incentivo a codistribuições de películas produzidas entre os países do Mercosul. A iniciativa é importante para diminuir o monopólio de distribuição de grandes empresas norte-americanas como Fox Filmes e Buena Vista.
Em 2010, o artigo oitavo do convênio de integração cinematográfica Ibero-Americana, firmado entre Argentina, Cuba, Equador, México, Nicarágua, Panamá, Peru, Venezuela, República Dominicana e Brasil, garantiu que as obras cinematográficas feitas em coprodução entre esses países fossem tratadas como produtos nacionais no que diz respeito à distribuição e à exibição em cada um deles. Ainda sem atualização de dados do último ano, a secretária técnica da Recam, Nancy Caggiano, acredita que a situação global envolvendo grandes atores regionais ainda não mudou. Para ela, deveria existir maior troca de informações na região. “Existem ações pontuais nacionais ou bilaterais de órgãos públicos. Mas também é importante criar espaços como festivais, reuniões de mercado e encontros audiovisuais”, resumiu a secretária.
Para Nancy, as formas de distribuição e divulgação de filmes do Mercosul precisam ser repensadas. “É importante considerar o potencial do mercado televisivo e de novas mídias, como a digital. Novos usos e costumes podem promover melhorias de promoção alternativa com uso de redes sociais, por exemplo”, acredita ela. No Brasil, os dados fornecidos pela Ancine não abarcam 2011. Em cinco anos, foram apoiadas cerca de 20 coproduções até o ano passado. A estatística pode não ser das melhores no mundo, mas é bem diferente da registrada em 1995, ano em que foi produzido apenas um filme em coprodução com outro país. No caso, o thriller político Interview (ou Jenipapo), de Monique Gardenberg, em parceria com os americanos.
Brasil S/A
Um outro tipo de investimento que dispensa auxílio governamental tem tomado corpo nesse tipo de produção partilhada. As alianças podem ser feitas entre empresas, sem a intervenção estatal. Para alguns produtores, o interessante é que o governo apenas facilite o intercâmbio. “A principal importância da agência é criar elementos facilitadores, flexibilizadores para que existam os acordos naturalmente”, acredita a produtora Walkiria Barbosa, da Total Entrertainment. Entre as produções de que a empresa de Walkiria já participou está o drama histórico My father, estrelado por Charlton Heston em 2003. Outra produção em parceria com a Total atualmente em cartaz é Assalto ao Banco Central, com codistribuição da gigante norte-americana Twentieth Century Fox.
Mercados
Para Walkiria, o principal desafio não é financeiro e sim idiomático. A produtora acredita que a língua portuguesa dificulta a penetração de produtos “Made in Brazil” em mercados como o latino-americano e o hispânico nos EUA. “Não depende muito da história do filme. Depende das oportunidades, do que o mercado está querendo. A língua portuguesa é um dificultador para a exportação dos nossos produtos. Quando a gente pensa em indústria tem de pensar em exportação, certo? Produzir filmes internacionais em outros idiomas também é importante”, acredita a produtora.
Se for assim, o empresário carioca Rodrigo Teixeira está no caminho certo. Teixeira atua no mercado norte-americano como investidor. A empresa dele, a RT Features, tem firmado participações em direitos autorais em filmes e produzido em sociedade com produtoras de lá. A RT está desenvolvendo Bottomless BellyButton, em parceria com a Red Hour, do ator Ben Stiller; The Games 1940, com Frank Marshall (produtor de Steven Spielberg), com roteiro de David Seidler, de O discurso do rei. Com Sam Raimi (diretor da franquia Homem-aranha) e a Mandate Pictures, eles vão produzir Casebook of Victor Frankenstein, e, com Basil Iwanyk e Harisson Ford, Black hats.
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O Brasil já tem condições para entrar em pé de igualdade em coproduções internacionais
ou somos os primos pobres da jogada?
Temos condições em algumas situações, como desenvolvimento de projetos, porque temos a mesma capacidade de gerar bons conteúdos. Podemos também entrar como investidores no mercado de cinema internacional em sistema de coprodução. Não com dinheiro de incentivo, e sim com verba de risco. Ou seja, dinheiro brasileiro de risco entrando em pacote de projetos fora do Brasil, como é feito na indústria de Private Equity (investimentos em empresas emergentes) e Venture Capital (investimentos privados em projetos embrionários).
É verdade que o mercado audiovisual norte-americano está mais aberto a investimentos estrangeiros?
Sim. O mercado americano foi extremamente abalado após a crise mundial e abriu portas ou criou uma janela de oportunidade para que investimentos de risco tomem espaço na compra de propriedades intelectuais. Por lá, o dinheiro de risco está escasso. Eles olham os países do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China, grandes mercados emergentes) e pensam só no Brasil e na Índia, já que Rússia e China não são bem-vindos.
As coproduções são o único meio de sobrevivência para produtoras menores tanto na América
Latina quanto na Europa e na mérica do Norte?
Coprodução não é meio de sobrevivência para ninguém; é apenas mais um modelo de negócio. O cinema brasileiro vive um grande momento. O público comparece e, cada vez mais, filmes têm se tornado sucessos de renda. É possível que tenhamos em breve a tão sonhada indústria audiovisual brasileira.
Como podem ser feitas as coproduções
Independente
Entre produtoras de países diferentes
Convênio
São criados facilitadores entre os países. Por exemplo, uma coprodução entre Brasil e Argentina será tratada como produto nacional em ambos os países
Fomento direto
Por meio de edital, as agências de cinema patrocinam diretamente as produções
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