terça-feira, 2 de agosto de 2011

TRABALHO

Músico livre de registro

Decisão dos ministros do STF em relação a processo de Santa Catarina abre precedente para que o exercício da profissão não fique vinculado à Ordem dos Músicos do Brasil Fonte: correioweb.com.br 02/08

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O exercício da profissão de músico não precisa estar condicionado ao registro na Ordem dos Músicos do Brasil (OMB), a entidade de classe que representa a categoria. Essa foi a conclusão do Supremo Tribunal Federal (STF), em julgamento relacionado a um artista de Santa Catarina que recorreu à Justiça defendendo a atuação profissional sem o vínculo com a entidade. Ontem, os ministros da Corte votaram, por unanimidade, contra um recurso extraordinário impetrado pela OMB em Santa Catarina.

Os magistrados seguiram o voto da relatora, Ellen Gracie, que afirmou ser contrária à restrição da liberdade de exercício profissional, que apenas se justificaria se houvesse “necessidade de proteção do interesse público, por exemplo, pelo mau exercício de atividades para as quais seja necessário um conhecimento específico altamente técnico”. A decisão é válida para o músico em questão. Mas os ministros definiram que ela abre precedente.

Para o cantor brasiliense Thiago Nascimento, que atua na área há 10 anos na capital, a decisão reflete a falta de vínculos entre a atuação profissional e a entidade que representa a classe. “Eu nunca tirei a minha carteira porque eu desconheço o trabalho da entidade. Nunca fui cobrado pelo documento e nunca soube de benefícios que ela poderia me trazer. Ao contrário, os músicos da cidade têm dificuldades práticas que poderiam ser consideradas pela Ordem e não são, como a falta de espaço para apresentações.

Ex-integrante do Conselho Regional do Distrito Federal da OMB, o músico Remy Portilho também faz críticas à atuação da entidade. “Atualmente, temos que trabalhar sozinhos. Então, de fato, não precisam ter a tutela de um órgão que não é representativa. Quando fui vice-presidente, tentei trabalhar pela aposentadoria e o plano de saúde, e não consegui”, afirmou. Já o professor Fernando César acredita que descredenciar a OMB não é a solução: “O músico precisa de uma entidade que os represente. Essa é uma conquista e a vinculação a um conselho é positiva. É preciso ter alguém que responda por ele (o músico)”, comentou.

No recurso, a OMB de Santa Catarina alegou que o exercício de qualquer profissão está condicionado às qualificações específicas e que, no caso da categoria, a Ordem estabelece essas restrições. O ministro Marco Aurélio explicou, no entanto, que a OMB foi criada por lei, mas a norma não previu a obrigatoriedade de filiação. Atualmente, a entidade cobra uma anuidade dos seus integrantes e fiscaliza o pagamento de um cachê mínimo.

Segundo o artigo 5º da Constituição Federal, “é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer”.

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Relicário de um mestre

Homenageado do Cena Contemporânea, o ator e diretor B. de Paiva reúne numa fazenda objetos que marcaram sua vida e os 65 anos de carreira Fonte: correioweb.com.br 02/08

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Dono de uma prosa leve, cheia de “doidices”, como ele mesmo define, o ator, diretor e dramaturgo B. de Paiva é daqueles que não se desfazem de nada. Na lembrança, ele guarda histórias (algumas mirabolantes) da família, dos amigos e, principalmente, dos bastidores do teatro brasileiro. Em uma casinha ampla e arejada, perto da divisa com Goiás, o ator criou uma espécie de museu particular para reunir essas memórias. Os cinco cômodos que serviam como fábrica de iogurte na fazenda do amigo Jeová Sobreira, também cearense, guardam toda a “catrevagem”, ou quinquilharia, que reuniu na vida.

São cinco cômodos forrados de cartazes de espetáculos antigos, como Bodas de sangue, de Federico García Lorca, única oportunidade em que o ator contracenou com a amiga Dulcina de Moraes, e Davi, o rei, que teve a imagem de divulgação censurada, em razão da nudez da estátua de Michelangelo. Retratos de ícones da cena teatral do Brasil, como Othon Bastos e Aderbal Freire-Filho, dividem as paredes com parentes, amigos, artistas cearenses e porteiros de teatro, todos no mesmo panteão, que ainda conta com daguerreótipos (precursores das fotos) do bisavô. Em uma parede, B. enfileirou fotografias suas, desde a infância mais tenra até os dias atuais. “Ensino as pessoas a envelhecerem”, diverte-se.

Cartazes de cinema estão por toda parte. Revistas antigas dividem as prateleiras com matérias recortadas de jornais e uma fartura de livros. Há desde vasta literatura especializada em teatro até enciclopédias, Bíblias, literatura em geral e coleções, como os volumes de capa dura da Rocambole, presente do pai, que o iniciaram no prazer da leitura. Em outra pilha, estão organizados os gibis do caubói Tex.

E ainda há espaço para “recuerdos” pessoais: artesanato de todos os tipos, xilogravuras da década de 1920, moedas antigas, uma coleção entomológica, uma rabeca, um projetor antigo, a bandeira de Juazeiro do Norte, um ferro de engomar e até uma lagosta de plástico estão em constante exposição. Só de estátuas de Jesus Cristo, ele calcula que sejam mais de 600.

O espaço só está disponível aos amigos e convidados, mas, no futuro, pode ser aberto para visitação. “Tive um convite da Universidade de Fortaleza (Unifor), querem fazer lá o espaço B. de Paiva. Desde que garantam que essas memórias fiquem guardadas… São coisas significativas pra mim.”

Homenageado do Cena Contemporânea 2011, que começa no dia 23 e segue até 4 de setembro, B. de Paiva completa 80 anos em 2012. Ao longo de sua carreira, iniciada aos 14 anos em Fortaleza, sua cidade natal, ele dirigiu, atuou e escreveu mais de 200 peças, além de filmes e novelas de televisão. Também trabalhou na área de políticas culturais, tanto no Rio quanto em Brasília, para onde se mudou na década de 1970. Fundou cursos de artes cênicas, coordenou a Funarte, foi reitor da Universidade do Rio de Janeiro (UniRio) e hoje dirige a Fundação Brasileira de Teatro, criada por Dulcina de Moraes. Durante a visita ao cantinho do ator, o Correio escutou alguns de seus (muitos) causos.

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Antepassados

“Minha bisavó saiu da Paraíba em 1840, porque o marido foi assassinado e tomaram tudo que ela tinha. No Ceará, ela se hospedou em uma pensão pobrezinha e viu um velhinho dos Açores, pintor de igreja, e acabou se casando com ele. Esse português, meu bisavô, chegou ao Brasil na época em que Daguerre inventou seus daguerreótipos. Comprou uma câmera, dezenas de vidros e estricnina, o veneno usado na revelação das imagens, e abriu uma casa de fotografia. Anos depois, morreu envenenado. De brincadeira, deve ter levado a mão à boca, e foi para o céu.”

Galã banguela

“Sofri um acidente aos 6 anos, fui atropelado por uma ambulância, em Fortaleza. A invenção da ambulância foi péssima pra mim, me quebrou a perna e os dentes todinhos. Fui o primeiro galã de teatro do mundo que era banguela. Minha família era muito pobre e não tinha nem dentista que botasse dente em criança. A educação, naquele tempo, era boa. Papai me deu a coleção Rocambole, nove volumes grossos. Era bom demais. Aos sábados, ele me pedia para contar a história. Quando eu esquecia alguma coisa, era palmatória. Li como o diabo. Depois de ler muito, fui fazer teatro nos fundos de casa, com um grupo que batizei de Teatro de Quintal. Aos 14 anos, escrevi, dirigi e atuei em minha primeira peça.”

O presente

“Um dia, apareceu um cara lá na Casa do Estudante do Brasil, quando eu já morava no Rio e era secretário do Paschoal Carlos Magno (produtor, crítico, autor e diretor teatral). Ele era doutor, e o Paschoal pediu para ele me botar dentes. Eu disse que não queria, mas ele questionou: como é que pode um ator sem dentes? Botei os dentes e perdi minha voz, porque a minha musculatura labial mudou, mas Paschoal disse que eu já podia ser ator. O médico não quis cobrar a conta e o Paschoal tirou um quadro da parede e deu de presente pra ele. Hoje, esse quadro, que não me lembro mais qual é, vale uns R$ 500 mil. Ele bem que podia ter me dado o quadro, né?”

Brasília

“Vim a Brasília pela primeira vez em 1969, com a peça Um whisky para o rei Saul, de César Vieira, com Glauce Rocha no elenco. Na véspera da estreia, era preciso fazer o ensaio pra censura. O censor me disse: dona Glauce terá que suspender três expressões — ‘dei meus testículos para o bem do Brasil’ (uma sátira a uma campanha da ditadura: dei meu ouro para o bem do Brasil), a palavra merda, e não pode elogiar um homossexual. Decidi falar com o ministro da Justiça da época, Gama e Silva. Citei umas frases de um artigo dele sobre Monteiro Lobato, ele ficou emocionado, foi pra máquina de escrever e autorizou a peça exatamente como estava. Levei o documento para a Glauce, que me perguntou como eu tinha conseguido. Eu disse: ‘Sou um ator’. Representei essa peça em 12 estados, ela levou até um prêmio Molière.”

Arte-educação

“Quando fui diretor do Conservatório Nacional de Teatro (no Rio de Janeiro), uma funcionária me avisou que tinha uns rapazes fumando maconha na minha sala. Fui lá, disse que eles estavam malucos, conversei com eles. Um tempo depois, um desses meninos veio me perguntar se essa história de arte-educação ia dar certo. Respondi que estava trabalhando pra isso, tinha feito o primeiro simpósio sobre o ensino de artes no Brasil. Ele me pediu que o orientasse num trabalho sobre o assunto. Depois de cinco meses, julgamos que o trabalho estava pronto e ele me pediu para escrever o prefácio. Hoje, posso dizer que o escritor mais importante do mundo teve seu primeiro livro prefaciado por mim. Você deve conhecer: Paulo Coelho.”

O nome

“Meu nome é José Maria Bezerra Paiva, na Carteira de Identidade. Quando eu era rapazinho, adorava os filmes de Cecil B. de Mille. Então fiz uma carta pra ele, fazendo comentários sobre os filmes (em português) e pedindo algumas cópias. Assinei José Maria B. Paiva. Cecil B. de Mille mandou três cópias de filme pra mim, oito rolos de metal cada filme, e uma foto com dedicatória a B. de Paiva. Desde então todo mundo começou a me chamar de B. de Paiva, só a família me chama de Zé Maria.”

Nas alturas

“Morei em Campo Grande, no estado do Rio de Janeiro, para dirigir o projeto do Teatro Rural do Estudante. Um dia, o comandante da base aérea de Santa Cruz, a uns 20 minutos de trem da cidade, mandou me chamar e perguntou se eu poderia dar aulas de voz aos oficiais da Aeronáutica. Duas vezes por semana eu ia para a base aérea e dava aulas de dicção e representação verbal para os oficiais, que me fizeram um favor engraçado. Quando eu terminava os encontros, tinha que voltar para o Rio, porque dirigia o teatro da União Nacional dos Estudantes. O comandante mandava me deixarem lá num avião de guerra da Força Aérea Brasileira, que tinha uma boca de jacaré na frente. Tinha que usar até paraquedas.”

O ponto

“Precisava ganhar um dinheirinho, então trabalhei como ponto, em Fortaleza. Ficava numa cúpula na boca do teatro, a plateia não me via. Tinha uma luzinha e transmitia as falas. Trabalhei mais de dois anos no Teatro José de Alencar. Procópio Ferreira me pediu para ‘pontar’ de lado (me posicionar na lateral do palco). Ficava num banquinho e ele dizia: na hora em que me esquecer do texto, vou atrás de ti. Ainda ficava com a garrafa de cachaça dele. Toda vez que ele vinha, eu preparava uma cachacinha, ele tomava e voltava pra cena. Daí surgiu uma amizade grande. Almocei muitos domingos na casa dele.”

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MÚSICA

Novas ideias para novos sucessos

Para promover o próximo disco, Oswaldo Montenegro oferece R$ 30 mil ao melhor clipe da sua música Eu quero ser feliz agora Fonte: correioweb.com.br 02/08

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Em tempos bicudos para a indústria fonográfica, a estratégia para lançamento e a divulgação de discos obedece a critérios que fogem completamente do convencional. Hoje em dia, uma das mídias mais utilizadas é a internet, ou mais precisamente ferramentas que ela abriga, como MySpace, YouTube e Sound Cloud; além, obviamente, de outros sites especializados.

A banda mineira Skank, por exemplo, criou o sistema Skankplay, que permitiu e incentivou os fãs do grupo a produzirem um clipe para a canção De repente. A ideia deu resultado. Em torno de 30 mil gravações foram reunidas, com admiradores interpretando a música. Desse material, Samuel Rosa e companhia tiraram subsídio para o vídeo, com o qual foram premiados com o Leão de Ouro, no festival de publicidade de Cannes, na categoria de melhor uso da rede social.

Oswaldo Montenegro vai além ao lançar, com recursos próprios, concurso de clipes sobre a música Eu quero ser feliz agora, que faz parte do repertório do De passagem, o novo CD que chega ao mercado em setembro. O cantor e compositor, que iniciou a carreira em Brasília, está oferecendo R$ 30 mil em prêmios: R$ 15 destinados ao melhor clipe, e R$ 15 mil para o vídeo com maior acesso no YouTube.

Para fazer a escolha dos vencedores, foi constituído um júri formado por Rodrigo Fonseca, crítico de cinema; Paulo Mendonça, diretor geral do Canal Brasil; Paulo Fontenelle, diretor de cinema e tevê; Jorge Brennand, documentarista; Paloma Duarte, atriz; e Ulysses Machado, compositor. Segundo Montenegro, o objetivo do concurso é estimular e dar oportunidade a novos cineastas, roteiristas, estudantes ou qualquer outra pessoa “que, com uma ideia na cabeça e até mesmo um celular com câmera na mão, queira participar”.

Na visão do artista, o estímulo não virá apenas por meio do prêmio oferecido. “Vamos tentar promover ao máximo os realizadores e os vídeos escolhidos, buscando colocá-los em programas de tevê. Já temos adesões como a do Canal Brasil, que exibirá o vídeo dos vencedores; e o da nossa gravadora, que o incluirá no meu próximo DVD”, adianta. “Estamos num tempo em que a tecnologia oferece facilidade na realização. É hora de criar”, acrescenta.

De acordo com Montenegro, para participar do concurso vale qualquer tipo de manifestação audiovisual: dramaturgia, experimentação, dança, animação, foto, em qualquer tipo de equipamento, digital ou analógico, ou em ambos; e pode ser produzido em HD ou SD, câmeras de celular, profissionais, amadoras ou DSRL.

“A música tema poderá ser baixada gratuitamente, com exclusividade, no site www.oswaldomontenegro. com.br/concurso até 31 de janeiro de 2012 — data de encerramento do prazo de envio dos clipes”. Cada pessoa pode concorrer com mais de um clipe”, explica. O resultado do concurso será divulgado em 4 de março do próximo ano, no mesmo site; e a premiação ocorrerá no dia 17 do mesmo mês.

No De passagem, Montenegro volta a gravar músicas de três antigos parceiros e amigos: Mongol, autor da balada A vida quis assim; José Alexandre, que compôs o blues Sem susto; e Ulysses Machado, que assina Palmas, “uma música complicada, que soa fácil”, define o cantor. Ele diz que De passagem (J. Bulhões, Tião Pinheiro e Leo Pinheiro, da Cia. Malungo) foi escolhida para dar título a esse trabalho, por reforçar um tema recorrente nas 12 faixas, “ a impermanência”.

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ARTES PLÁSTICAS

No reino dos sonhos

José Vasconcellos, artista brasileiro que vive na Dinamarca, inaugura exposição em Brasília a partir de amanhã Fonte: correioweb.com.br 02/08

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O ritual noturno desperta até mesmo os fantasmas de sono mais profundo. “As figuras são o meu exorcismo. Por meio delas, boto para fora os meus demônios e os meus anjos”, conta o pintor José Vasconcellos, em meio a tela, tinta, resina vegetal, mulheres vendadas e sótãos saudosistas. Se Freud dizia que o sonho é o relaxamento das paredes do consciente, José Vasconcellos, artista plástico brasileiro que vive na Dinamarca, é um sonâmbulo acordado que pinta.

José Vasconcellos retorna à galeria da Câmara dos Deputados, onde expôs pela primeira vez com 26 itens na mostra Realismo mágico. “Houvee uma evolução técnica, mas a temática é a mesma. No mundo não há nada de novo, a gente é que desenvolve novas maneiras de dizer a mesma coisa”, acredita. Há oito anos, as séries Arquétipos, Interiores, Velazquianas e People from my dreams constam nas exposições do artista. Dos 23 trabalhos que compõem a mostra Realismo fantástico, cinco já foram expostos no Brasil e 16 vieram do ateliê de Copenhague, na Dinamarca, onde ele mora desde 1974.

Perseguido pelo regime militar, o artista plástico, mineiro de Patos, saiu do Brasil em 1973, viveu um ano em Santiago e mudou-se, então, para o velho continente. “A vivência na Europa contribuiu muito para a minha temática. As casas e os museus lembravam a fazenda do meu avô, o sótão e a máquina de costura da minha avó, símbolos recorrentes na minha obra”, aponta.

As pinturas de Vasconcellos são reconhecidas pelos críticos europeus como representantes do realismo mágico ou fantástico. O estilo que surgiu primeiro do campo da literatura foi desenvolvido na pintura pela Escola de Arte de Viena, fundada por Ernest Fucks, em 1962. “Eu não chamo, não designo a minha obra. Quem dá os nomes é o crítico ou o curador. Para mim, é tudo exposição de artes plásticas do Vasconcellos”, define. Em seus quadros, o artista se expressa por meio da linguagem simbólica associada ao universo onírico. Além dos símbolos que remetem à infância na fazenda do avô, o pintor faz um mergulho no inconsciente coletivo. Na série People from my dreams, por exemplo, o arquétipo retratado é a figura patriarcal, característica do período entre 1840 e 1910. “Em algumas obras minhas a mulher leva uma venda nos olhos, que significa a submissão ao poder masculino. Havia um limite permitido, que ela não podia extrapolar”, explica.

Na arte de Vasconcellos, os elementos abstratos disseminam-se ao fundo, mas são as figuras que ocupam o primeiro plano. Entre elas, a feminina. “É a expressão da beleza mais perfeita que há”, avalia. Alguns trabalhos remetem a releituras de obras célebres como às infantas de Velazquez. "A arte é 70% técnica, 10% inspiração e 20% transpiração”, repete.

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MÚSICA

Batidas poderosas do candombe

O uruguaio Hugo Fattoruso e o grupo Rey Tambor mostram a força do ritmo que contagia o mundo Fonte: correioweb.com.br 02/08

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O som de Hugo Fattoruso e do grupo Rey Tambor nasce das batidas do candombe — contagiante ritmo afro uruguaio, que se estabeleceu naquele país graças a forte presença negra. As batidas pulsantes, quase hipnóticas, fazem dessa sonoridade uma das mais potentes da América Latina e dialogam com os pontos de macumba e de candomblé que, ao serem misturados ao samba e à MPB, enriqueceram a música brasileira. Hoje, às 20h, na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional Claudio Santoro, com entrada franca, o teclado e a voz de Hugo Fattoruso entram em harmonia com o naipe de tambores, comandado por Diego Paredes, Fernando Nuñez e Noé Nuñez. A noite promete ser uma ode ao candombe — a poética, a força e a capacidade de se mesclar ao contemporâneo. Recentemente, o gênero foi declarado patrimônio imaterial da humanidade pela Unesco.

O show Puro sentimento é a combinação de piano acústico e cordas de tambores. No repertório, canções escritas por Hugo Fattoruso convivem com versões de Eduardo Mateo, Ruben Rada, Jaime Roos, Fernando Brant, Milton Nascimento e George Gershwin. O uruguaio Hugo dialoga com brasileiros como Hermeto Pascoal, Milton Nascimento, Chico Buarque e Djavan. A fusão que propõe tem originado um som que caminha para o ambiente do latin jazz, venerado na Europa, Japão e Américas.

Destaque no show, o naipe de corda dos tambores (formado por tambor piano, tambor chico e tambor repique), é comandado por filhos de construtores desses instrumentos, tocadores, cantores e compositores do gênero. Com a parceria de Hugo Fattoruso, o grupo Rey Tambor nasceu em 2001 e tornou-se um dos mais representativos do gênero. Em Montevidéu, já tocou em espaços tradicionais como o Teatro Solis e a sala de Zitarrosa.

Puro sentimento é uma declaração de amor ao candombe, forte vertente na trajetória multifacetada de Hugo Fattoruso, que tem carreira solo de pianista. A revista Rolling Stone elegeu a versão La casa de al lado, que fez jcom o seu grupo Rey Tambor, como uma das 100 melhores músicas feitas em 2008.

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MEIO AMBIENTE

Ruralistas miram áreas de preservação

Bancada ligada ao agronegócio quer transferir para o Legislativo tarefa de criar unidades de conservação Fonte: correioweb.com.br 02/08

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Depois de costurar as mudanças no Código Florestal Brasileiro, conseguir a aprovação da Lei em plenário e impingir uma derrota ao governo, a bancada ruralista da Câmara dos Deputados prepara uma proposta que mais uma vez afronta o Executivo. O deputado federal Moacir Micheletto (PMDB-PR) prepara um projeto de lei que muda a forma como são definidas as unidades de conservação, consideradas os principais redutos da biodiversidade brasileira. Micheletto e um grupo de parlamentares articulam para que a delimitação de novos parques federais seja responsabilidade do Congresso, e não da presidente da República. Por determinação de lei vigente há 11 anos, a criação de unidades é feita por meio de decreto presidencial.

O grupo liderado por Micheletto, que presidiu a comissão especial criada na Câmara para avaliar o Código Florestal, deu início à nova ofensiva por meio de um requerimento de informação encaminhado à ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, em 6 de julho. No documento, remetido pelo presidente da Comissão de Agricultura da Câmara, deputado Lira Maia (DEM-PA), Micheletto cobra da ministra informações detalhadas sobre todos os parques nacionais criados entre 1988 e 2011.

Os dados solicitados incluem as áreas dos parques, os valores pagos aos produtores rurais a título de indenização e os nomes dos servidores responsáveis pelo processo de criação da unidade de conservação. Na justificativa do requerimento, os deputados informam que a Câmara realizará um estudo para alterar os procedimentos de criação de parques. “Os procedimentos devem ser menos traumáticos para as famílias dos produtores rurais.” O Correio apurou que o estudo citado é o projeto de lei que pretende transferir do Executivo ao Legislativo a competência para criar novos parques.

Izabella Teixeira e o presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Curt Trennepohl, foram convidados pela Comissão de Agricultura da Câmara para discutir a forma como são definidas as novas unidades de conservação. A reunião está confirmada para a semana que vem, no dia 9. Dentro do ministério, a interpretação é de que a proposta de Micheletto, se aprovada, vai dificultar a criação de novas unidades de conservação e atrapalhar a meta assumida pelo Brasil na última Convenção da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Biodiversidade (COP-10), no ano passado. Os países participantes acertaram elevar as áreas terrestres protegidas de 12% para 17% dos territórios.

Quase 9% do território brasileiro está protegido em unidades de conservação. Sob a responsabilidade da União, estão 310 unidades. Cerca de 20 milhões de hectares precisam ser regularizados. “Há um problema histórico de disputa com grileiros e posseiros. É mais conveniente que o Executivo crie os parques, mas não cabe essa disputa com o Congresso”, afirma o presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Rômulo Mello. O ICMBio é responsável pelas unidades de conservação da União. Para o deputado Micheletto, a forma como os parques são criados pode render até mesmo uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). “Se a ministra não informar o que o Parlamento pediu, a CPI pode ser criada. Queremos a mesma coisa feita com o Código Florestal, com mais transparência.”

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Países ricos têm maiores índices de depressão

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Dado é de pesquisa internacional que entrevistou 89 mil pessoas

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Nações de renda alta têm 14,6% de deprimidos, contra 11% das mais pobres; em SP, 18% são afetados Fonte: folha.uol.com.br 02/08

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Um levantamento sobre a depressão em 18 países indica que esse transtorno psiquiátrico é mais comum em nações ricas do que em pobres.

O Brasil, porém, representado no estudo por dados da Grande São Paulo, foi o país em desenvolvimento com mais pessoas afetadas.

A pesquisa, para a qual foram entrevistadas 89 mil pessoas, é resultado de um projeto da divisão de saúde mental da OMS (Organização Mundial da Saúde).

O registro de uma prevalência maior da depressão (14,6%) em países de renda média e alta do que nos de renda baixa (11,1%) não tem uma explicação única, afirmam os cientistas.

"Diferenças em exposição ao estresse, reação ao estresse e em depressão endógena [de origem interna], não relacionada aos fatores ambientais, são possíveis influências", afirma o estudo, liderado pela psiquiatra Evelyn Bromet, da Universidade de Nova York.

"A desigualdade social, em geral maior nos países de alta renda do que nos de baixa, leva a problemas crônicos que incluem a depressão."

Talvez não por acaso, o Brasil, onde a desigualdade social é ampla, figura na pesquisa com uma prevalência de 18% desse transtorno psiquiátrico. Entre os países ricos, a exceção foi o Japão, com só 6,6% de deprimidos.

CLASSE SOCIAL

As pessoas mais pobres dos países ricos tiveram mais risco de passar por um episódio de depressão, tendência que não foi observada nas nações mais pobres.

Segundo Bromet, a diferença de 3,5% na incidência média de depressão entre países ricos e pobres pode não estar ligada ao grau de desenvolvimento.

"O que me impressiona mais é que, na maioria dos países, a prevalência em tempo de vida está entre 10% e 20%", disse a pesquisadora à Folha. "Isso significa que toda a comunidade médica precisa manter vigilância para reconhecer a depressão."

Um dado foi uniforme entre todos os países: mulheres tinham o dobro de risco de apresentar depressão do que os homens.

A idade do primeiro episódio ficou entre os 20 e 30 anos. Nos países mais pobres, a depressão começa mais cedo do que nos ricos.

DADOS PONTUAIS

No caso do Brasil, um fator que pode ter causado um viés nos dados é que o país foi o único a contar com dados de só um centro urbano.

A China incluiu dados de três cidades, e os outros países trabalharam com amostragens nacionais.

"Essa marca de 18% do Brasil não seria tão alta se o estudo tivesse incluído áreas rurais, já que populações urbanas têm maior associação com o estresse em razão da violência", afirma Maria Carmen Viana, psiquiatra da USP e uma das autoras do estudo.

Viana conta que buscou financiamento para a pesquisa em órgãos federais e estaduais, mas só conseguiu com a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). "Não conseguimos verba para uma amostragem nacional."

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CARLOS HEITOR CONY

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A Paris de Woody Allen Fonte: folha.uol.com.br 02/08

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RIO DE JANEIRO - Um mês em algumas capitais da Europa e passei por vários cinemas que estão exibindo o último filme de Woody Allen, que apesar de ser um dos cineastas que mais se repetem, continua sendo dos meus preferidos. Não entrei em nenhuma das salas. Não vi nem gostei de sua visita a uma Paris mais do que sovada. Depois de Miller, Fitzgerald e Hemingway, escrever sobre a capital francesa equivale a escrever sobre as Guerras Púnicas.

Lembro uma cena do filme sobre a primeira visita de Chopin a Paris ciceroneado por seu professor. No bar da calçada de um boulevard estão sentados, bebendo absinto, Victor Hugo, Balzac, Zola, Montaigne, Joana d'Arc e Juliette Greco numa mistura fantástica de charme.

Aliás, este samba do crioulo doido é comum em filmes históricos. Numa primeira versão de "Júlio César", de Joseph L. Mankiewicz (1953), Marlon Brando interpretando Marco Antônio no funeral de César, esqueceu de tirar o relógio de pulso, e nenhum dos "honourable men" à frente ou por trás da câmara percebeu o absurdo. O famoso discurso teve de ser refilmado.

O padre Miguel, nas festas do seminário onde estudei, levava uma máquina e passava uma vida de Cristo da antiga Pathé, filme mudo em que no fundo da cena, um ciclista boquiaberto olhava a Sagrada Família fugindo para o Egito e da degola das criancinhas ordenada por Herodes.

É possível que o humor e seu amor a Cole Porter e a Gershwin tenha evitado anacronismos mais espalhafatosos. E seu estupendo ouvido para as trilhas musicais certamente salvará sua melancólica visita à geração perdida. Mas nada que possa ser comparado à obra-prima ("Manhattan") ou à sua melhor sátira política, "Bananas", feita ainda no início de sua carreira.

Só espero que ele não tenha colocado Gertrude Stein recitando Mallarmé ao som do "La vie em rose".

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Crime alavancou literatura escandinava

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Sucesso do sueco Stieg Larsson com a série "Millennium" atraiu atenção do mundo para os autores nórdicos

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Clima e topografia do norte da Europa favorecem o êxito do gênero na região, diz professor da USP Fonte: folha.uol.com.br 02/08

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Ao lançar seu primeiro romance policial, também em 1997, o islandês Arnaldur Indridason, 50, provocou o mesmo misto de admiração e espanto causado por Nesbo.

Em entrevista ao "Guardian", em 2006, ele relembrou que "quando comecei, as pessoas diziam que eu não teria nada para escrever porque nada acontece na Islândia. Aqui não é como em Los Angeles".

Não demoraria, porém, para o tom "islandês" ser visto como o diferencial do autor.

"A Islândia é como qualquer outro país na Europa. É pacífica e bela, mas é também escura e fria. O inverno tem longas noites nas quais tudo pode acontecer. Portanto, há grandes contradições e isso me interessa como escritor", explicou, por e-mail, à Folha. Hoje, Indridason tem seus livros publicados em 30 países e será destaque na Feira do Livro de Frankfurt, que terá a Islândia como convidada de honra.

Ele acredita que a força do gênero na região deve-se ao realismo dos textos. "As histórias quase sempre são sobre pessoas comuns e as situações extremas que elas podem enfrentar."

Em geral, atribui-se o pontapé inicial da onda nórdica a Stieg Larsson (1954-2004), autor da trilogia "Millennium" (Companhia das Letras, 2005). A série já vendeu 60 milhões de exemplares no mundo e aborda corrupção no mercado financeiro e movimentos neofascistas.

Com a morte prematura do autor, o mercado literário não tem poupado esforços para encontrar seu sucessor. Na Inglaterra, Nesbo foi apontado como o "novo Larsson".

O norueguês ironiza a possível influência. "É engraçado ser anunciado como o sucessor natural de um autor cujos livros vieram depois dos meus." De toda forma, Larsson atraiu a atenção do mundo para um gênero tradicional na região (leia ao lado). Francis Aubert, filho de norueguês e professor de teoria da tradução na USP, comenta que ler romances policiais é um hábito arraigado nos países nórdicos, especialmente nas férias de Páscoa.

"Nesses países, o inverno é rigoroso e as aldeias são, muitas vezes, isoladas pelas montanhas. Isso gerou uma atitude introspectiva e depressiva que favorece o gênero."

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Museu Afro Brasil vive crise na direção

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Instituição ligada ao governo paulista demitiu diretor-executivo e perdeu cinco conselheiros no mês passado

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Diretor-geral, Emanoel Araujo, chama episódio de 'desentendimento' e secretário da Cultura diz que é 'contornável' Fonte: folha.uol.com.br 02/08

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Uma crise se instalou na direção do Museu Afro Brasil. Depois que foi demitido o diretor-executivo, Luiz Henrique Neves, a presidente do conselho, Lígia Ferreira, e outros quatro membros do grupo abandonaram seus cargos.

Saíram do conselho em julho, além da presidente, Maria Cristina de Oliveira Bruno, Vagner Gonçalves da Silva, Renato de Almeida Vieira e Silva e Lourivaldo Ribeiro.

Dirigido e idealizado pelo artista Emanoel Araujo, o museu, que é subordinado à Secretaria de Estado da Cultura desde 2009 --quando chegou a ficar uma semana fechado por falta de verba--, agora enfrenta um apagão na gestão.

Neves diz ter sido demitido "sem razão", mas alega que já queria sair. Foi ele quem coordenou a conversão do museu para o modelo de organização social hoje vigente no Estado, que se aproxima mais do setor privado, mas com verbas estatais.

No caso do Museu Afro Brasil, o orçamento anual, repassado pelo governo, gira em torno de R$ 8,5 milhões. Embora todos os conselheiros tenham afirmado em suas cartas de demissão que deixam o posto por motivos pessoais, a dificuldade em trabalhar com Emanoel Araujo é citada por quase todas as fontes ouvidas pela Folha.

"Ele é uma pessoa difícil de lidar, tem sua genialidade, mas é uma pessoa muito complicada", diz Neves. "Foi se desgastando, meu relacionamento com ele, então resolvi por bem terminar isso."

Araujo afirmou à Folha que a demissão de Neves visava tornar "mais eficiente" a gestão do museu, além de cortar gastos. Também disse que o ex-diretor não se ocupava de planos institucionais nem foi capaz de entregar o que o conselho cobrava dele. "Houve um certo estresse, mas é natural que haja entendimentos e desentendimentos", diz Araujo, que não pretende contratar outro profissional para substituir Neves. "Não houve nada grave."

Quanto à substituição dos conselheiros e do presidente do grupo, nenhuma decisão foi tomada, mas a Secretaria de Estado da Cultura vem acompanhando o caso.

"Foi um desentendimento, mas nada que não seja contornável e superável", disse Andrea Matarazzo, secretário paulista da Cultura. "Estamos empenhados para que eles recomponham o conselho."

Números também são monitorados pelo governo. De acordo com os dados, o Museu Afro Brasil só superou sua meta de público no ano passado, mas teve desempenho mais tímido em 2009 e neste primeiro semestre.

Voltado a exposições de cultura e artes visuais afro-brasileiras, o museu tem um acervo de mais de 4.000 obras, 2.000 delas doadas pelo próprio Emanoel Araujo para compor a coleção.

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Rubens Figueiredo e Marcelo Ferroni vencem o Prêmio SP de Literatura Fonte: folha.uol.com.br 02/08

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DE SÃO PAULO - Foram anunciados, na noite de ontem, no Museu da Língua Portuguesa (região central), os dois vencedores da quarta edição do Prêmio São Paulo de Literatura.

O tradutor carioca Rubens Figueiredo, recebeu o prêmio de melhor livro do ano por "O Passageiro do Fim do Dia", seu quinto romance.

"Fiquei muito satisfeito com livro, mesmo com todas as imperfeições que possa ter. Acho que o livro pode ajudar na compreensão do nosso tempo", comentou Figueiredo, 55.

Marcelo Ferroni, editor paulista radicado no Rio, venceu como melhor autor estreante, pelo livro "Método Prático da Guerrilha".

"[O prêmio] é importante para fixar a imagem de um autor", reconheceu Ferroni, autor de 37 anos.

Ambos os livros premiados foram editados pela Companhia das Letras.

Cada autor vencedor vai receber R$ 200 mil.

O valor, pago pela Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, é o maior concedido a uma premiação literária em território nacional.

"Vai me ajudar muito, porque tenho dois filhos", brincou Ferroni.

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