segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Folha lança coleção de cinema europeu

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A Folha lança no próximo domingo a Coleção Folha Cine Europeu, que apresentará, em 25 livros acompanhados por DVDs, obras-primas dos maiores autores da história do cinema europeu. Fonte: folha.uol.com.br 31/07

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Entre os títulos da coleção, há obras seminais da cinematografia como "O Encouraçado Potemkin" (1925), do russo Sergei Eisenstein, e "Metropolis" (1927), filme de Fritz Lang que marcou a história da ficção científica.

Há ainda clássicos como "Roma, Cidade Aberta" (1945), de Roberto Rossellini, que criou um marco de estilo ao filmar nas ruas, longe de estúdios, e "Os Incompreendidos" (1959), de François Truffaut, que inaugurou a onda de modernidade da nouvelle vague.

Obras mais recentes, mas igualmente emblemáticas, como "A Liberdade É Azul" (1993), de Krzysztof Kieslowski, e "Volver" (2006), de Pedro Almodóvar, também fazem parte da seleção.

A cada semana, um novo título chegará às bancas de todo o país. Os DVDs conterão os filmes em sua versão original, com legendas em português.

Os livros que acompanham cada filme permitem conhecer e entender as características dos principais movimentos cinematográficos europeus, como o expressionismo alemão, o neorrealismo italiano e a nouvelle vague francesa.

Cada livro-DVD é ilustrado com fotos históricas e traz um perfil biográfico e artístico do diretor, com destaque para o filme em questão, e um capítulo sobre o ator ou a atriz principal daquele título.

Além disso, será destacado no livro algum aspecto especialmente emblemático daquela obra, como a importância do roteirista nas adaptações literárias para o cinema, aspectos da carreira do filme ou a construção dos personagens por meio dos figurinos.

Cássio Starling Carlos, crítico de cinema e colaborador da Folha, é o responsável pela edição da coleção.

Os livros foram escritos por ele e pelos críticos Luiz Carlos Oliveira Jr., Marcos Strecker, Marcus Mello, Paulo Santos Lima, Pedro Maciel Guimarães, Sérgio Alpendre e Tatiana Monassa.

O preço de cada volume será de R$ 15,90 nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná. Nos outros Estados, o preço varia de R$ 16,90 (SC, DF, ES, MS, RS, GO, MT e BA) a R$ 19,90 (todos os demais).

No próximo domingo, os volumes 1 e 2 ("A Doce Vida", de Federico Fellini, e "Fitzcarraldo", de Werner Herzog) serão vendidos juntos, pelo preço de um.

A DOCE VIDA - FELLINI

Na Roma dos anos 1950, o jornalista Marcello (Marcello Mastroianni) passa os dias entre festas e badalações, mas se sente vazio e sonha em escrever sobre assuntos sérios. Federico Fellini (1920-1993) começou a carreira dentro da tradição neorrealista, mas com este drama inaugurou o estilo "felliniano", termo que descreve situações e personagens extravagantes. A cena de Anita Ekberg na Fontana di Trevi entrou para a história do cinema

FITZCARRALDO - HERZOG

Fitzcarraldo (Klaus Kinski) tem um sonho: construir uma casa de ópera na selva amazônica. Mas, para chegar aonde poderá explorar borracha e obter dinheiro, terá de transportar um navio morro acima. O filme reflete a personalidade de Werner Herzog, fascinado por homens obcecados que desafiam a natureza hostil

ÚLTIMO TANGO EM PARIS - BERTOLUCCI

Um homem de meia-idade (Marlon Brando) conhece uma jovem (Maria Schneider) enquanto procura um apartamento em Paris. Logo embarcam num tórrido jogo sexual e anônimo em que não revelarão seus nomes. Com este filme, Bernardo Bertolucci abriu as portas do cinema de arte para o erotismo

CINEMA PARADISO - TORNATORE

Numa vila após a Segunda Guerra, Totò (Salvatore Cascio) se refugia num pequeno cinema. O projecionista (Philippe Noiret) se torna seu mentor ao lhe transmitir a paixão pelo cinema. Nos filmes do italiano Giuseppe Tornatore, o passado tem papel central, seja na formação cultural dos personagens, seja na história da Itália

MORANGOS SILVESTRES - BERGMAN

Professor aposentado (Victor Sjöström) será homenageado na universidade em que se formou 50 anos atrás. Para isso, empreende uma viagem até Estocolmo. Na estrada, reavalia seu passado enquanto sente a proximidade da morte. É um dos filmes mais otimistas do sueco Ingmar Bergman (1918-2007)

VOLVER - ALMODÓVAR

Raimunda (Penélope Cruz) trabalha como faxineira para sustentar a filha (Yohana Cobo) e o marido (Antonio de la Torre). Sua irmã (Lola Dueñas) tem um salão de beleza e vive só. Certo dia, a mãe (Carmen Maura), dada como morta, reaparece. Parte deste filme se passa em La Mancha, terra natal do espanhol Pedro Almodóvar

ASAS DO DESEJO - WENDERS

Anjos sobrevoam a Berlim Ocidental do final dos anos 1980. Eles são invisíveis, ouvem os humanos e oferecem alívio aos angustiados. Mas essas regras são desafiadas quando um anjo se apaixona por uma trapezista. É o ponto alto da carreira de Wim Wenders, um dos nomes mais populares do novo cinema alemão

OS GIRASSÓIS DA RÚSSIA - DE SICA

Ao fim da Segunda Guerra, Giovanna (Sophia Loren) se recusa a aceitar que o marido (Marcello Mastroianni) tenha morrido na Rússia. Decide viajar em busca de seu paradeiro. Vittorio De Sica (1901-1974) distancia-se do cinema que ajudou a formular no início da carreira, fase em que foi um dos pilares do neorrealismo

HIROSHIMA, MON AMOUR - RESNAIS

Francesa está no Japão para atuar em filme sobre a hecatombe nuclear em Hiroshima. Ela se relaciona com o amante, arquiteto japonês que sobreviveu à guerra, enquanto relembra o primeiro amor, um soldado alemão. Estreia em ficção do francês Alain Resnais, com roteiro de Marguerite Duras (1914-1996)

A LIBERDADE É AZUL - KIESLOWSKI

Julie (Juliette Binoche) sobrevive a um acidente de carro no qual perde o marido e a filha. Traumatizada, perde a vontade de viver e tenta apagar os laços com o passado. Primeiro filme da trilogia das cores, baseada nos ideais da Revolução Francesa, traz o polonês Krzysztof Kieslowski (1941-1996) em plena maturidade

O BATEDOR DE CARTEIRAS - BRESSON

Michael (Martin LaSalle) passa os dias nas ruas de Paris refinando sua técnica de batedor de carteiras. Quando conhece Jeanne (Marika Green), que cuida da mãe doente, reavalia sua vida. O longa do francês Robert Bresson (1901-1999) é inspirado no romance "Crime e Castigo", de Dostoievski

O DESERTO VERMELHO - ANTONIONI

Giuliana (Monica Vitti) está desorientada. Acaba de sair do hospital após tentar o suicídio. Nem o marido a entende. Um engenheiro, no entanto, tentará se aproximar dela. Neste que é seu primeiro filme colorido, Michelangelo Antonioni (1912-2007) questiona o homem em meio à tecnologia

O ENCOURAÇADO POTEMKIN - EISENSTEIN

Em 1905, na Rússia czarista, marinheiros do navio Potemkin estão insatisfeitos com as condições de trabalho. Quando um grupo é condenado à morte após se recusar a comer carne podre, começa uma revolta contra o governo. É a obra mais célebre do russo Sergei Eisenstein (1898-1948)

ROCCO E SEUS IRMÃOS - VISCONTI

Vindos do interior, viúva e seus filhos tentam a sorte em Milão. Cada irmão segue um rumo. Rocco (Alain Delon) e Simone (Renato Salvatori) se destacam como pugilistas e se envolvem com a mesma mulher. Épico neorrealista, sintetiza um dos temas prediletos de Luchino Visconti (1906-1976): a desintegração familiar

OS INCOMPREENDIDOS - TRUFFAUT

Ninguém entende Antoine Doinel (Jean-Pierre Léaud). Em casa, é repreendido pelos pais. Na escola, causa problemas aos professores. A delinquência vira uma alternativa. Este drama autobiográfico simbolizou a desobediência às regras pregada pelo francês François Truffaut (1932-1984) e inaugurou a onda da nouvelle vague

LILI MARLENE - FASSBINDER

Antes da Segunda Guerra, cantora alemã de cabaré (Hanna Schygulla) e pianista judeu (Giancarlo Giannini) se apaixonam. Ela se torna um sucesso entre os nazistas com a voz que entoa "Lili Marleen", canção cultuada no front. Rainer Werner Fassbinder (1945-1982) foi o nome mais irrequieto do novo cinema alemão

ROMA, CIDADE ABERTA - ROSSELLINI

Durante a ocupação nazista em Roma, comunistas e católicos se unem na resistência. Alemães perseguem um dos líderes, Giorgio (Marcello Pagliero), mas este tem a ajuda de amigos e de um padre. O terreno se mostrará fértil para traições. O neorrealismo tem neste filme de Roberto Rossellini (1906-1977) um de seus principais marcos

MADAME BOVARY - CHABROL

Na França do século 19, Emma Bovary (Isabelle Huppert) vive entediada. Para sair da casa do pai, se casa com um médico, mas logo se cansa da vida sem emoções e busca em amantes uma válvula de escape. Claude Chabrol (1930-2010) foi um dos articuladores da nouvelle vague. Prolífico, o cineasta retratou com acidez a burguesia

METROPOLIS - LANG

Na futurística Metropolis, a elite explora o trabalho escravo da população. Freder (Gustav Fröhlich), filho do criador da cidade, toma consciência da realidade quando se apaixona por Maria (Brigitte Helm), líder dos trabalhadores. O filme de 1927 de Fritz Lang (1890-1976) é um marco da ficção científica. Figura-chave do expressionismo, ele ajudou a criar o cinema noir

A REGRA DO JOGO - RENOIR

Um aviador (Roland Toutain) revela que tem um romance com a mulher de um marquês (Marcel Dalio). Para abafar o caso, o aristocrata convida um grupo para um fim de semana de caça em seu castelo. Pela crítica à sociedade francesa, o longa de Jean Renoir (1894-1979) causou controvérsias na estreia, pouco antes da Segunda Guerra

MAMMA ROMA - PASOLINI

Após anos trabalhando como prostituta, Mamma Roma (Anna Magnani) economiza dinheiro para tentar mudar de vida e voltar a morar com o filho adolescente (Ettore Garofolo). É o segundo filme do controverso Pier Paolo Pasolini (1922-1975). Censurada na Itália por "obscenidade", a obra segue princípios do neorrealismo

ACOSSADO - GODARD

Após roubar um carro, Michel (Jean-Paul Belmondo) mata um policial e busca refúgio nos braços de Patricia (Jean Seberg), estudante norte-americana que vive em Paris. Enquanto ele se esconde das autoridades e planeja fugir para a Itália, a relação dos dois se aprofunda. Jean-Luc Godard se mostra aqui o nome mais radical da nouvelle vague

A DAMA OCULTA - HITCHCOCK

Durante viagem de trem pela Europa, a jovem Iris (Margaret Lockwood) torna-se amiga de Miss Froy (May Whitty). Mas a simpática senhora desaparece misteriosamente e, quando Iris investiga seu paradeiro, os passageiros negam tê-la visto. Penúltimo filme inglês de Alfred Hitchcock (1899-1980) antes de ir trabalhar nos Estados Unidos

ADEUS, MENINOS - MALLE

Na França ocupada pelos nazistas, escola católica esconde alunos judeus. O garoto Julien (Gaspard Manesse) vê com desconfiança a chegada do colega Jean (Raphael Fejto), mas logo se torna seu amigo. É baseado em lembranças de Louis Malle (1932-1995), cineasta que abordou temas polêmicos, como incesto e suicídio

MAMÃE FAZ CEM ANOS - SAURA

Família espanhola organiza uma festa para comemorar os cem anos da matriarca (Rafaela Aparicio). Mas, atrás da aparente felicidade, alguns parentes estão só interessados em sua herança. Carlos Saura retoma personagens de "Ana e os Lobos" (1973). Nos anos 1960 e 1970, o diretor foi um dos principais críticos da ditadura franquista

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MUITO PRAZER - ANDRÉ LUIZ OLIVEIRA

"Brasília tem de pensar GRANDE" Fonte: correioweb.com.br 01/08

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O cineasta e compositor baiano André Luiz Oliveira, 63 anos, chegou a Brasília, na virada da década de 1970, quase por acaso. Mas, de repente, percebeu que gostava muito dos amplos espaços, da sensação de liberdade, da mobilidade e dos bons lugares para morar. Diretor de Meteorango kid, Louco por cinema e A lenda de Ubirajara, entre outros, André vive dividido entre o cinema, a música e a poesia. Gravou três CDs com poemas de Fernando Pessoa, e seu próximo projeto é filmar um documentário com o "duende" baiano-brasiliense e músico Renato Matos. Nesta entrevista, ele emenda uma conversa sobre Brasília, cinema, literatura, Índia e política cultural: "Falta gente com a visão de Juscelino Kubitschek, de Darcy Ribeiro, de Oscar Niemeyer, de Tom Jobim".

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Como chegou a Brasília? Há uma conexão mística ligando Salvador a Brasília?

Não vim da Bahia para cá. Saí de Salvador na década de 1970, fui para o Rio. Em seguida, me mudei para São Paulo e, finalmente, vim para Brasília. Não foi uma escolha racional, ocorreu quase por exclusão. De repente, quando vi que a vida estava me empurrando para cá, percebi que já gostava daqui desde a década de 1970. Quando filmei Ubirajara no Araguaia, dormia na rua com um monte de amigos fazendo um filme. Gostava muito da imensidão do espaço de Brasília.

O que valoriza Brasília para você?

Esta imensidão e a liberdade que ela me dá. Em qualquer cidade grande, o tempo de deslocamento é imprevisível. Você sai e não sabe a hora em que vai chegar. Aqui a gente se move com muito mais facilidade. Sem contar o aspecto geográfico e a sensação de estar morando em um lugar onde até há 50 anos não havia nada.

O cinema marginal se reduziu a uma grife ou ainda existe de fato?

O cinema brasileiro sempre foi marginal, mesmo a parte oficial era marginalizada, então, a gente era o marginal do marginal. O cinema marginal é um momento histórico do Brasil, em que houve aquela grande liberdade de expressão. Veio a partir do tropicalismo, da quebra de valores, da ironia, da autoesculhambação. Era uma contrapartida à luta armada. A Tropicália e o cinema marginal questionaram as estruturas arraigadas da sociedade não apenas na política, mas em todos os níveis.

E onde entra o seu filme clássico Meterorango kid?

As pessoas dizem que é um filme emblemático daquele período. Quando o exibo nas faculdades, os jovens se identificam muito com a liberdade com que abordava a sexualidade, a família, a escola, a linguagem e a ditadura militar. Tinha 21 anos, estava no centro dessa rebelião. Como disse Jorge Amado, o filme é um soco violento no estômago, que comove e revolta. É a revolta de quem estava desesperado, mas clamava por uma transformação.

Como vê hoje o cinema brasileiro? A estética dominante parece ser a hollywoodiana. É o fim da rebeldia no cinema?

Aí você me põe contra a parede, não tenho mais tempo de ver tantos filmes. Estou com 63 anos e tenho uma vida muito seletiva. Está sendo feito o que se pode fazer. Há filmes incríveis e muita porcaria.

Quais são filmes incríveis?

Tem um cineasta pernambucano que acho fantástico, o Claudio de Assis, diretor de Baixio das bestas. É um cinema de uma vitalidade enorme.

Você tem algum projeto de cinema?

Tenho um projeto de cinema que já dura mais de 12 anos: Viva o povo brasileiro. O que me cansa é o processo de correr atrás dos editais. E, mesmo quando você filma, às vezes não consegue exibir. Fiz um filme, Sagrado segredo, uma ficção em cima da encenação da Paixão de Cristo, em Planaltina, que permanece inédito. O meu filme questiona aquele espetáculo fabuloso. Me encantei desde a minha chegada a Brasília. Coloquei um físico quântico para fazer comentários sobre o paroxismo da igreja católica, que ainda mobiliza a fé popular. Todo ano faço um videozinho. Fiz um com Bené Fonteles e quero fazer com Renato Matos. Mas tirei da frente o projeto de fazer um longa, pois isso me deixa sufocado.

Como se acendeu a luz da poesia para você?

Comecei com Castro Alves e os simbolistas. Depois, veio o deslumbramento por Pessoa.

O que o fascina em Fernando Pessoa?

Em primeiro lugar, a história da vida dele, de alguém absolutamente comum, solitário, girando em torno dos amigos dele, e escrevendo uma obra monumental. Certa vez, Irene Ravache disse em uma entrevista: “Ele falou de minha alma como se me conhecesse há milhares anos”. É assim que eu percebo. A poesia dele cala profundamente em mim. Lia Pessoa e dizia: “Eu tenho que fazer parte da biografia desse cara”. Não conseguia fazer um filme. A única forma de comunhão profunda é fazer música porque brota de minha alma. Não sei ler música. Mas, como disse o crítico português Eduardo Lourenço, o território do inconsciente é de Pessoa. Ele está com a lanterninha na mão no portal. Fernando Pessoa se audenominava “o inconsolável”.

Você convidou Zé Ramalho, Gal Costa e Elizete Cardoso para participar das gravações dos discos de poemas de Fernando Pessoa. Como entraram no projeto?

Credito isso mais à excelência, ao carisma e ao alcance do Pessoa, mas também ao desejo de fazer parte da biografia dele. Isso abriu as portas mais do que a amizade ou qualidade musical. Nem conhecia a todos. Pessoa é um abre-caminhos.

A poesia ainda pode tocar o mundo ou é algo de iniciados?

Você pega Manoel de Barros ou a Cora Coralina e vê que não é para iniciados. É para as pessoas inquietas, que querem se ver, que têm fome de beleza.

O mundo perdeu o senso da poesia?

Não, acho que ela está nas brechas, em pequenos gestos. Vivemos em um mundo muito caótico, mas com muita perfeição nas coisas. Vejo grandes atos poéticos.

Cite um verso que o toca profundamente.

Em Sagrado segredo, fechei o documentário com um trecho de um poema de Fernando Pessoa: “A terra é feita de céu;/a mentira não tem ninho; nunca ninguém se perdeu/tudo é verdade e caminho”. Para mim, tem um significado profundo. Pensei em colocar um texto de Sócrates. Mas esse de Pessoa definia tudo o que eu queria dizer. O caminho de cada um é único, é um pecado dizer: “O cara está andando para trás”. Ora, está andando correto para ele.

Como a cultura indiana entrou em sua vida?

Sempre fui ligado à Índia, estive lá pela primeira vez em 1977, os russos haviam entrado no Afeganistão na época. Me toca muito a música e a cultura indiana, a capacidade de se relacionar com o divino e o sagrado no cotidano. Em 1981, comecei a estudar cítara, todo dia pratico, é a forma de estar em contato com essa energia, é a forma de meditar. É assim que faço essa ligação com o sagrado. Na Índia, isso é chamado de garana, o alinhamento que você faz de tua tribo até a tua divindade. É como poeta, lapida uma palavrinha aqui e outra ali, fundando o seu território.

Como você sobrevive?

Boa pergunta. Estou conseguindo um milagre que é realizar as coisas profundas do meu inconsciente. Moro em um lugar super agradável, em uma chácara, trabalho com minha mulher, que é musicoterapeuta, com 20 crianças autistas, tudo realizado com muita paixão. E faço os meus documentários em casa, sem depender de grandes estruturas. Fiz um sobre Edgar Navarro, (para o Canal Brasil), outro com Mário Cravo e pretendo realizar um com Renato Matos. Sobrevivo no limite, mas feliz da vida. Nunca tive uma gravadora por trás para gravar os discos de Mensagem. Foi um empresário que bancou tudo.

Do que gosta e do que não gosta em Brasília?

Gosto muito das pessoas. Acho que ninguém está em Brasília impunemente, alguma coisa você fez para não querer mais morar nas cidades convencionais. Em princípio, Brasília não tem nada de atraente. Mas depois você vai descobrindo que as quadras são superarborizadas, é fácil se deslocar, você descola chácaras, lugares maravilhosos para morar. Minha mulher é gaúcha, o meu vizinho é americano. Acho as pessoas de Brasília muito doidas em sua solidão.

Em que sentido?

Não estão vivendo a doidice das pessoas normais estressadas. Brasília te leva a uma interiorização. Você vai a Salvador ou Rio e ouve umas conversas viciadas. Acho que Brasília tem umas aberturas para outros lados que as cidades condicionadas não permitem muito. Elas te deixam meio robotizado.

Você acha que Brasília propicia uma nova forma de sentir ou de pensar?

O filósofo Eudoro de Souza dizia algo que me encantou: Brasília favorece a descoberta do ser, por causa dos horizontes abertos. Acho que nossa cidade está proporcionando a oportunidade de se refundir o Brasil e forjar um novo brasileiro.

Quem faz coisas boas na cidade?

Sou baiano, mas não é por isso que acho o Renato Matos um gênio. A vida dele é arte pura. Ele passa por muitas vicissitudes e dá a volta por cima. Meu próximo projeto no FAC (Fundo de Apoio à Cultura) é fazer um documentário sobre Renato Matos, ele é poderoso como artista. O Bené Fonteles também é importantíssimo. Ele tem uma postura, fala de ecologia desde a década de 1970, quando isso ainda não era moda. Um cara que acho um artista maravilhoso é o Nelson Maravalhas, pintor de primeira linha. Mas é claro que esqueci muita gente boa.

O que falta a Brasília para dar um salto na cultura?

Acho um absurdo essa esculhambação dos distritais, é um bordel, é algo triste. Fico chocado porque não existe um cara que tenha a visão da importância da cultura. A arte e a cultura são o alimento da vida. Isso vai passar. Vão ficar o Athos Bulcão, o Renato Russo, o Nelson Maravalhas. Os caras que manipulam o dinheiro não têm referência nenhuma do valor das pessoas e das obras. Acho muito importante o que o Gilberto Gil tentou fazer no MinC: dar um novo conceito de cultura. Não é esta história de pegar dinheiro para fazer arte. Cultura é vida, alma, economia. Tem a ver com tudo. A pessoa que vive sem arte e cultura é seca. Pode ser super-honesta, mas cedo ou tarde ela vai se corromper ou corromper alguém. O ego e o dinheiro prevalecerão.

Você acha que Brasília é uma cidade hostil à cultura?

É, o poder público em Brasília é triste. Paulínia é o melhor exemplo do que poderia ser Brasília. A cidade paulista virou o centro do cinema brasileiro. Porque o prefeito de lá tem visão, às vezes é até em benefício próprio, cinema dá visibilidade. Mas o fato é que eles estão bancando um festival de ponta, produzindo filmes, construindo estúdios. Isso era o Polo de Cinema de Brasília. No entanto, tudo ficou muito acanhado. Falta gente com a visão de Juscelino Kubitschek, de Darcy Ribeiro, de Oscar Niemeyer, de Tom Jobim. Brasília tem de pensar grande.

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PONTO A PONTO - CARYL PHILLIPS

Saga do mosaico multicultural

Em entrevista ao Correio, o escritor caribenho fala sobre a herança e os desafios dos continentes fundados na escravidão Fonte: correioweb.com.br 01/08

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Quando Caryl Phillips começou a escrever A travessia do rio, achou que tinha em mãos quatro romances diferentes. A história de quatro personagens em épocas e países distintos quase confundiu o autor. Phillips, no entanto, foi fiel à ideia inicial de criar narrativas entrelaçadas no tempo e no espaço por ligações familiares e históricas. O primeiro personagem fala do século 19. Escravo africano liberto, empreende a viagem de volta à terra natal para recomeçar a vida. Na narrativa seguinte, duas crianças vendidas pelo pai atravessam o Atlântico em navio negreiro rumo aos Estados Unidos. No Hemisfério Norte, uma escrava foge de seu dono depois de perder filha e marido. Para fechar, um soldado negro norte-americano morre na Segunda Guerra e deixa um filho, fruto de um relacionamento com uma inglesa, que entrega a criança para adoção. Tempos excessivamente difíceis para criar um mestiço. Tempos que passaram, mas que permanecem vivos na formação de identidades de povos deslocados e hoje estabelecidos em quatro continentes.

Não há como contar a história dos Estados Unidos sem remeter à da África, assim como é impossível falar de povo brasileiro sem se referir também ao africano. O mesmo vale para a Europa e esse enorme mundo retalhado carrega força suficiente para motivar a escrita de Phillips, nascido no Caribe, criado na Inglaterra e hoje residente em Nova York. A travessia do rio funciona como uma saga do mosaico multicultural cada vez mais evidente em continentes como o europeu e o americano. Phillips, 53 anos, é o representante da diáspora na geração de Ian McEwan e Martin Amis.

A despeito da veia macabra de um e do pessimismo do outro, Phillips tenta investir em algum otimismo, desde que não se refira à Inglaterra ou à Europa. Nesses territórios, ele só enxerga descaminhos. Por isso, se mudou para Nova York. As Américas, o autor acredita, são mais generosas e receptivas quando se trata do outro. É sintomática a primeira frase de Uma margem distante, o primeiro livro de Phillips traduzido no Brasil e publicado pela Record em 2006: “A Inglaterra mudou”. Uma espécie de consequência da primeira história de A travessia do rio. “Uma tolice. A colheita fracassou. Vendi meus filhos”, anuncia o personagem. Phillips conversou com o Correio durante a 9ª Festa Literária Internacional de Paraty e falou sobre religião, diáspora e fronteiras no século 21.

Pesquisa íntima

Eu tinha uma ideia de quem eram essas pessoas e a pesquisa que fiz não foi em livros de história ou romances sobre esse período. Eu queria encontrar diários privados, cartas, o tipo de material que você, eu, qualquer um faria de forma muito privada sem a intenção de que outros o lessem. Acho que pode se chamar isso de pesquisa íntima. Um diário é entre você e você mesmo, sua consciência, então eu queria encontrar material assim para entender o que havia nas cabeças das pessoas.

Imigração e escravidão

A imigração é a maior história do mundo moderno. A combinação da imigração involuntária da escravidão e da imigração voluntária europeia, especialmente de brancos europeus, foi o que fez o mundo moderno como o conhecemos. Se olharmos o que é o mundo hoje e quisermos uma única coisa que o determine, não vamos olhar para a China ou para a Austrália, e sim para as Américas. Eles fizeram o mundo de hoje. É fascinante a coragem que os europeus tiveram para vir para as Américas, mas também sou fascinado pelo tipo de questão moral que surge quando eles decidem não vir sozinhos e trazer os africanos. Isso é o que faz o Brasil, os Estados Unidos, as ilhas caribenhas. E me interessava muito escrever um romance onde pudesse colocar tudo isso. Queria fazer isso explorando algum tipo de comunicação como diários, cartas e coisas escondidas e privadas que esses indivíduos deixaram. É nesses escritos que eles realmente dizem a verdade.

Origem e ficção

Todo livro é uma investigação de si mesmo. Se não for, provavelmente não é um bom livro. Porque estamos o tempo todo nos questionando e fazendo perguntas que, esperamos, tenham eco nas outras pessoas. E há muitas pessoas como eu, que viveram em dois lados do Atlântico e sentem que as heranças estão dos dois lados do Atlântico. Honestamente, você pode estar centenas de anos distante da Europa e ao mesmo tempo pertíssimo. Os afro-americanos estão há 200, 300 anos longe da África, mas se sentem muito próximos. Eu acho que as pessoas de origem europeia e brancas no Brasil, na Venezuela e na Colômbia também sentem isso em relação a Espanha e Portugal. A América é um território construído na base da ideia de que a Europa encontra a África na terra dos outros. Os africanos sempre souberam rapidamente de onde vieram, mas nos dias de hoje, os europeus ou os de origem europeia estão pensando nisso.

Migrantes

Eu gostaria de ser mais otimista em relação à Europa no sentido de assimilar outras pessoas. Mas acredito, sinceramente, que a América do Norte, a América Central e até a do Sul são muito mais saudáveis no sentido de que há uma boa acolhida de pessoas de fora. São países muito novos e que têm a habilidade de incorporar os estrangeiros. E fazem isso com certa generosidade. Funciona? É idealístico? Não, não é idealístico, nem sempre funciona e há um monte de problemas. Mas uma coisa que respeito quando falo em o Atlântico ocidental é o tamanho e o fato de que ainda tem habilidade de considerar o outro. A Europa não. Eles olham muito de perto para as pessoas que não se parecem com eles. No mundo americano é consenso que as pessoas vêm de outro lugar, mas no mundo europeu, se você vem de outra parte, tem que justificar por que está ali, o que está fazendo , quanto tempo ficará e quando vai embora.

Vida na Inglaterra

Cresci lá. Cheguei com nove meses. E ainda sinto dificuldades. Antes, o pertencimento ou a exclusão eram baseados em raça. Mas mudou para fé e quando isso acontece você sequestra a raça e introduz algo muito mais complicado. Os europeus estão mudando as velhas razões para a exclusão e substituindo por algo que, para mim, é muito mais perigoso. Quando os negros foram excluídos durante décadas da sociedade eles tinham uma resposta — e sei disso porque sou parte dessa geração — que era ir para a rua, manifestar e enfrentar a polícia. Já os muçulmanos excluídos têm outro tipo de resposta. O cara que explodiu bombas no metrô de Londres era um europeu muçulmano dizendo “vocês não podem fazer isso conosco”. Acho muito mais perigoso. Há 10 anos eu diria que o grande desafio do século 21 era tentar resolver o problema da raça. Isso mudou. É muito mais pernicioso e entristecedor dizer a uma pessoa “você é um muçulmano de m...” do que dizer

“você é um negro de m...”. A maioria das pessoas, mesmo brancas, diria “não diga isso…” no caso do negro. Mas no caso do muçulmano se calariam.

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Indicador econômico não reflete desenvolvimento com clareza Fonte: folha.uol.com.br 01/08

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Os 30 municípios de alto PIB e miséria possuem as seguintes características em comum: são pequenos em termos populacionais e sede de empreendimentos altamente rentáveis. Eles se dividem em dois grupos.

O primeiro, com 20 cidades, tem como principal gerador de PIB indústrias altamente intensivas em capital com itens de altíssimo valor agregado, como hidrelétricas, conversores e transmissores de energia, exploração e refino de petróleo, extração e beneficiamento de minérios e minerais ou portos.

O segundo, com dez municípios, possui as grandes lavouras brasileiras de soja, algodão, milho e a pecuária.

Utilizar apenas indicadores econômicos tais como o PIB per capita pode não refletir com clareza o grau de desenvolvimento desses municípios.

Pelo IFDM (Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal), por exemplo, pode-se avaliar indicadores municipais de saúde, educação, emprego e renda.

A despeito de seu PIB, nenhum dos municípios analisados obteve índice maior do que a média nacional. Mas não podemos dizer que não houve benefício algum, principalmente se levarmos em consideração a região do entorno desses municípios.

Especificamente em educação, sete deles apresentaram grau de desenvolvimento muito próximo ou superior à média nacional.

É importante mencionar também que todos os 30 apresentaram melhorias na evolução de seus indicadores de educação entre 2000 e 2007.

Observando apenas a área de saúde, seis apresentaram nível de desenvolvimento acima do índice nacional.

Por fim, embora todos possuam PIB per capita bastante elevado por causa de atividades intensivas em capital, só quatro dos 30 mostraram força na vertente emprego e renda em 2007, que analisa o mercado de trabalho formal.

Isso significa que, mesmo com um alto PIB, o mercado formal de trabalho na maior parte desses municípios não está se beneficiando da geração dessa riqueza.

GUILHERME MERCÊS, economista, é gerente de estudos econômicos da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro).

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Livreiro do Alemão cria "barracoteca" na favela

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Otávio Júnior, 27, idealizou e construiu biblioteca em comunidade no Rio

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Ele também escreveu seu primeiro livro enquanto os traficantes trocavam tiros com policiais e militares Fonte: folha.uol.com.br 01/08

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Enquanto traficantes do Comando Vermelho em fuga trocavam tiros com a polícia e soldados do Exército durante a ocupação dos complexos da Penha e do Alemão, em novembro de 2010, Otávio Júnior, 27, escrevia.

Sem poder sair de casa, finalizava "O Livreiro do Alemão" -seu ingresso no mundo dos escritores-e preparava-se para instalar a primeira biblioteca do conjunto de 13 favelas na zona norte do Rio com quase 400 mil pessoas.

"Quando os confrontos eram muito acirrados, eu produzia muito. Escrevia enquanto as balas "comiam" para cima e pra baixo."

Biblioteca? Na verdade, trata-se da "Barracoteca Hans Christian Andersen" -corrige Otávio. O nome é uma homenagem ao escritor dinamarquês autor de contos como "A Pequena Sereia" e "A Roupa Nova do Rei".

O local -um antigo salão de forró- no morro do Caracol, Complexo da Penha, funciona desde maio e será inaugurado oficialmente em 22 de agosto, dia do Folclore.

Parte dos livros é doação do Ministério da Cultura, o resto foi amealhado por Otávio durante os dez anos em que andou por todo o Complexo da Penha e do Alemão, com uma mala na mão, oferecendo livros emprestados aos moradores.

O investimento foi de R$ 7.000. Como não tinha nem a décima parte desse valor, a solução foi apelar a conhecidos e desconhecidos. "Passei o chapéu, mas passei o chapéu virtual", diz.

No blog Ler é 10 - Leia Favela (leredezleiafavela.blogspot.com), o jovem anunciou a barracoteca. Em três meses reuniu a quantia necessária.

Filho de pedreiro, chamou o pai para reformar o local.

Otávio narra em "O Livreiro do Alemão" (Panda Books) como seu amor à literatura se deu quase por acaso. Aos oito anos, saía de casa todo dia para ver as peladas no campo de terra da comunidade.

"Naquele dia, passei em frente a um lixão e havia uma caixa com brinquedos velhos e um livro", conta. "À tarde faltou luz e como não podíamos assistir a televisão preto e branco, lembrei do livro."

IMPACTO

O "impacto da literatura" mudou a vida do menino. A paixão cresceu a ponto de, no ensino médio, desenvolver um hábito: matar aula, tomar um ônibus, andar 20 km e ir para a biblioteca do Museu da República, no centro. "Chegava a ler dez livros por dia."

Era então um tempo difícil. A família enfrentava o alcoolismo do pai de Otávio.

"Minha mãe ficou louca quando descobriu. Porém, sabia que eu matava aula mas estava bem acompanhado."

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Sócios de rádio e TV são 10% do Congresso Fonte: folha.uol.com.br 01/08

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Reportagem da Folha publicada em 29 de maio deste ano adiantou um cadastro do Ministério das Comunicações que informa todos os donos de emissoras rádios e TV no país.

Constam da lista 56 deputados federais e senadores que são sócios ou têm parentes no controle de emissoras. Segundo o ministério, o mapa passará a ser divulgado em caráter definitivo no seu site (www.mc.gov.br).

Entre os 56 congressistas que têm participação societária em emissoras de rádio ou TV, 12 são do PMDB. O DEM é o segundo partido com o maior número de proprietários de emissoras, com 11 congressistas na lista.

A lei permite que ocupantes de cargos no Executivo ou Legislativo sejam sócios de empresas de rádio e TV, mas proíbe que estejam à frente do comando das emissoras enquanto estiverem no exercício do mandato.

A crítica que se faz é ao uso das emissoras para alavancar candidaturas e usá-las contra adversários.

Em 2010, ano eleitoral, o número de concessões para rádios triplicou. Das 183 dadas pelo governo no ano passado, 76 têm ligação com políticos.

Segundo a reportagem, o governo quer mudar as regras para concessão de emissoras. A ideia seria exigir que parlamentares provem que têm capacidade para arcar os compromissos financeiros de uma emissora de rádio ou de televisão.

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Presença midiática é parte de uma estratégia de campanha permanente Fonte: folha.uol.com.br 01/08

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Os EUA forneceram ao Brasil o modelo para o sistema político, o sistema de comunicação -e as campanhas eleitorais. No caso dos deputados, o que se vê é a transposição da estratégia americana de campanha permanente de mídia, embora o paralelo não seja imediato.

No original, o mandato dos representantes é de dois anos, daí a campanha sem fim. Aqui, o mandato é de quatro, mas suas bases e ambições são, no mais das vezes, municipais ou regionais.

"E no meio tem eleição para prefeito", observa o cientista político Antonio Lavareda, que também atua como marqueteiro, tendo comandado campanhas para PSDB e DEM, entre outros.

No livro "Emoções Ocultas e Estratégias Eleitorais" (Objetiva, 2009), ele diz que o resultado é uma "assimetria de recursos entre incumbente e desafiante", entre o detentor do mandato e seu opositor.

Para a campanha permanente, enquanto o primeiro tem os recursos próprios do cargo, inclusive horário diário no rádio e os canais parlamentares, o segundo depende dos próprios recursos, mais a eventual exposição no programa partidário.

Também derivado da experiência nos EUA, o primeiro desafio de qualquer político em campanha é sua identificação pelo eleitor. É a partir dele que vai buscar depois, na campanha propriamente, a intenção de voto.

Explica-se assim a proliferação de programas em emissoras regionais de rádio e TV, por vezes com a compra de horário, com recursos públicos, pelos incumbentes. "A TV transforma políticos em celebridades", diz Lavareda.

Explica-se pelo mesmo esquema a busca dos partidos por celebridades de mídia (comunicadores, cantores populares, humoristas, esportistas) para servirem de puxadores de votos, o que resulta num Congresso assemelhado à programação de fim de semana das emissoras.

O rádio não tem o mesmo impacto de massa da TV, "mas por que tantos políticos têm concessões de rádio no interior?", pergunta o cientista político, para responder que o meio segue prioritário, para alcance municipal e regional.

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