sábado, 20 de agosto de 2011

Política

Frente Parlamentar da Cultura quer pressa na reforma da Lei Rouanet

Fonte: Agência Brasil 20/08

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A presidente da Frente Parlamentar Mista da Cultura do Congresso, deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), disse que é preciso apressar a votação do Programa Nacional de Fomento e Incentivo à Cultura (ProCultura), projeto que reforma a Lei Rouanet e cria fundos de incentivo direto à produção cultural. "Queremos votar [o projeto] na Câmara ainda em 2011", disse a deputada, nesta semana, ao programa Revista Brasil da Rádio Nacional.

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O ProCultura propõem mudanças na Lei Rouanet com o objetivo de regularizar o financiamento de projetos do setor e de garantir mais recursos para pequenos empreendimentos culturais. A nova lei prevê a criação de comissões formadas por representantes do governo e da sociedade para avaliar o mérito artístico dos projetos que pleiteiam benefícios fiscais.

Além do ProCultura, tramitam no Congresso Nacional outros projetos que pretendem oferecer benefícios à produção e ao consumo de produtos culturais, como o que cria o vale-cultura. Semelhante aos vales-refeição, o vale-cultura prevê um crédito de R$ 50 para que os trabalhadores possam adquirir ingressos de cinema, teatro, museu e shows, e também comprar livros e outros produtos culturais. O parlamento brasileiro também deve apreciar este ano o projeto de emenda constitucional (PEC) que estabelece os pisos mínimos de 2% do orçamento federal; 1,5% dos orçamentos estaduais; e 1% dos municipais para a cultura.

Segundo a deputada Jandira Feghali, é preciso rever a Lei Rouanet para que o governo tenha o poder de decisão sobre quais políticas e projetos de cultura vai patrocinar. "Não pode ficar a cargo do mercado escolher o que financiar. Até porque existem projetos que o mercado jamais financiará", explicou a deputada.

O diretor de Estudos e Monitoramento de Políticas Culturais da Secretaria de Políticas Culturais do Ministério da Cultura (MinC), Américo Córdula, que também participou do debate na Rádio Nacional, acredita que a Lei Rouanet é um importante instrumento de apoio à cultura, mas reconhece que ainda há falhas quanto ao acesso aos recursos. "É preciso dar um passo no sentido de democratizar esse acesso. Garantir que vá para todas a regiões do país. Que contemple a diversidade, a riqueza cultural do nosso país e não fique apenas na mão de poucos empresários".

Para Mário Lima Brasil, professor do Departamento de Música e do Instituto de Artes da Universidade de Brasília (UnB), o Estado tem um débito cultural com a sociedade. Para o especialista, deixar o mercado decidir que manifestações culturais serão financiadas com incentivos públicos é injusto, pois só seriam financiados projetos lucrativos. " A cultura deve ser, cada vez mais, apropriada pelo povo", disse o professor.

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FUNCIONALISMO PÚBLICO

Servidor terá aumento de até 31%, mas só em 2012

Governo decide conceder ganhos maiores a quem tem nível superior. Para os demais, o acréscimo será de no máximo R$ 211 Fonte: correioweb.br 20/08

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Depois de quatro meses de negociação, o governo finalmente propôs reajustes que vão de 2,3% a 31% para os 420 mil servidores ativos e inativos das carreiras do Plano Geral de Cargos do Poder Executivo (PGPE), Previdência, Saúde e Trabalho e correlatas, a serem pagos somente em julho do ano que vem. O maior percentual é para os de nível superior — cerca de 84 mil. A grande parcela deles terá aumento entre 21,4% e 31%, elevando o salário final para R$ 7 mil. Os demais, de nível intermediário e auxiliar, receberão valores fixos de R$ 211 e R$ 105, respectivamente, o que representa acréscimo de 2,3% a 7,3%.

Na proposta de projeto de lei apresentada à Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef) na tarde de ontem, o governo promete nivelar, de forma gradual, a remuneração das carreiras de nível superior com a dos servidores contemplados pela Lei n.º 12.277/10 — engenheiros, arquitetos, geólogos, estatísticos e economistas, cujo salário final está em R$ 10.209,50. Mas não estabelece prazo para chegar a esse valor.

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O secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Duvanier Paiva Ferreira, afirmou ao Correio que esse é o reajuste máximo que será concedido em 2012. Segundo ele, qualquer ganho adicional só sairá a partir de 2013 e dependerá de novas negociações. “Essa proposta (para 2012) está fechada. É o que pode ser dado no ano que vem”, afirmou.

Ferreira não informou o impacto orçamentário dos aumentos em 2012. “Não podemos divulgar ainda o custo da primeira etapa, porque pode ser alterado dependendo de quais carreiras farão o acordo. Vai depender do processo de negociação”, explicou. Na proposta apresentada, o governo eleva o salário final das carreiras de nível superior para R$ 7 mil.

Hoje, o valor máximo da maioria deles está entre R$ 5.649,04 e R$ 5.763,99 — os servidores do PGPE e da Previdência, Saúde e Trabalho. Mas há os que ganham R$ 5.344,94 — os especialistas da área de saúde do Hospital das Forças Armadas (HFA) que só têm a graduação. Para eles, a elevação do salário final para R$ 7 mil significará acréscimo de 31%, que será estendido para os demais padrões da carreira, conforme garantiu o secretário de Recursos Humanos.

Desagrado

O reajuste para os 336 mil servidores de nível intermediário e auxiliar, que representam o maior contingente dos beneficiados, não agradou, mas os dirigentes sindicais decidiram não comentar os percentuais oferecidos. O Sindicato dos Servidores Públicos do Distrito Federal limitou-se a colocar em sua página na internet o teor da proposta. Segundo o secretário Duvanier Ferreira, o acerto foi de divulgá-la somente em assembleia.

“Pedimos cuidado em relação à forma de divulgação, pela qualidade da comunicação. Talvez o Sindsep-DF não tenha tido esse cuidado. Como eles estão fazendo reuniões, é melhor que a proposta seja apresentada em assembleia. Porque, às vezes, a pessoa lê e não sabe o contexto”, justificou Ferreira. Segundo ele, todo o funcionalismo teve ganhos significativos acima da inflação. “Esperamos que os sindicatos tenham compreensão, para valorizar as conquistas que tiveram no período anterior. Esse esforço de agora é o que podemos fazer”, disse.

O secretário-geral da Condsef, Josemilton da Costa, seguiu o combinado. Não vai fazer um juízo de mérito antes que a plenária debata o assunto na segunda-feira. Mas criticou a resistência do governo de conceder reajuste satisfatório aos servidores que atendem à população. “Os gestores podem estar recebendo altos salários e comendo em restaurantes sofisticados, mas os barnabés comem pastel na rodoviária e são eles que trabalham diretamente com a população”, afirmou.

Atraso do DOU

Os servidores da Imprensa Nacional estão entre os insatisfeitos. Os representantes da carreira também foram orientados a não fazerem qualquer avaliação antes de segunda-feira, quando haverá uma assembleia. Mas os funcionários já realizaram, ontem, uma paralisação de três horas, no período da tarde. Com isso, o processo de produção do Diário Oficial da União (DOU) de segunda-feira atrasará.

“O motivo é a falta de respeito do governo no encaminhamento de uma proposta decente. O DOU costuma circular antes das 7h. Com o protesto, não sabemos a hora que ele chegará aos leitores”, disse a presidente da Associação dos Servidores da Imprensa Nacional, Denise Guerra. A Imprensa Nacional tem, hoje, 317 funcionários efetivos. A previsão é que a versão on-line também demore para ser divulgada. Em assembleia na segunda-feira, os trabalhadores do órgão vão decidir se aprovam um indicativo de greve. “Depende da avaliação a respeito do que foi proposto pelo governo.”

O representante da Associação Brasileira dos Servidores Públicos Federais – Técnicos de Nível Superior (Abratec), Marcelo Caldas, afirmou que “vê com bons olhos a proposta apresentada”. Mas vai sugerir que o aumento seja antecipado para janeiro de 2012 e que já se defina a data de implementação do nivelamento com as carreiras da Lei nº 12.277. Caldas defendeu que a proposta seja submetida à assembleia de forma separada por nível, para não haver o risco de rejeição integral, já que os intermediários e os auxiliares são maioria e terão aumento bem menor.

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Os Espiões de fidel

Em Os últimos soldados da Guerra Fria, o jornalista e escritor Fernando Morais revela a ação de agentes secretos cubanos infiltrados em grupos anticastristas no território americano Fonte: correioweb.br 20/08

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Fernando Morais ouviu falar dos espiões cubanos presos em Miami em setembro de 1998. Encurralado num congestionamento dentro de um táxi em São Paulo, levou um susto com a notinha lida no meio da enxurrada de notícias internacionais: “Em Miami, o FBI prendeu 10 agentes cubanos infiltrados em organizações de extrema direita”. O escritor e jornalista imediatamente imaginou o livro. O descaso com as notícias referentes à América Latina em boa parte da imprensa brasileira impediu a repercussão da nota, mas Morais não comeu mosca. Procurou as autoridades cubanas e manifestou a intenção de escrever o livro. “Me disseram: ‘tira o cavalo da chuva porque é informação sensível, nem pensar, desista’.” Em 2005, durante a Bienal do Livro de Havana, as mesmas autoridades liberaram o escritor para mergulhar nos arquivos da Rede Vespa, ação que infiltrou 15 agentes cubanos em organizações anticastristas da Flórida. Os últimos soldados da Guerra Fria começava a tomar forma, mas Morais ainda precisaria se desvencilhar do trabalho iniciado para escrever O mago, a biografia de Paulo Coelho, antes de se dedicar aos espiões.

Foram necessários dois anos de pesquisa, centenas de entrevistas e mais de 20 viagens entre Cuba e Estados Unidos antes de sentar para escrever o livro, que é certamente o mais quente de toda a carreira de Fernando Morais. A história tem momentos cinematográficos, embora eles em nada lembrem as peripécias luxuosas de James Bond, cronologia espantosamente recente e um final ainda em suspense.

No final de 1990, um piloto cubano aterrissou na base aérea naval de Boca Chica (Flórida) em um Antonov amarelo e alegou ser desertor do regime de Fidel Castro. Foi bem recebido. Autorizado a permanecer em solo norte-americano, se aproximou de organizações anticastristas formadas pelos ricaços que fugiram de Cuba nos primeiros anos da Revolução. Dois anos depois, um major das Forças Armadas Revolucionárias nadou durante sete horas até a prisão de Guantánamo e pediu asilo político aos Estados Unidos. De novo, a mesma história: o militar se dizia um desertor.

Histórias menos espetaculares mas semelhantes envolveram outros 13 cubanos. Famílias e amigos deixados na ilha não tinham ideia da verdade: todos foram treinados na terra natal para espionar os cubanos de extrema direita na Flórida e evitar uma série de atentados terroristas praticados em Cuba durante a década de 1990. E eram muitos. Após a queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética, o PIB da ilha caiu 75% da noite para o dia e a catástrofe parecia inevitável. O turismo ajudou a impedir o colapso e as praias cubanas se abriram ao mundo. Confiantes de que o fim da União Soviética representava também o fim de Fidel, os anticastristas da Flórida ficaram enraivecidos e organizações mais radicais, como a Fundação Nacional Cubano-Americana, passaram a organizar atentados terroristas realizados por mercenários contratados na América Central. O alvo: o turismo.

Dossiê

Apesar de saber das operações, o governo norte-americano nada fazia. Em 1998, Fidel decidiu organizar a primeira aproximação dos Estados Unidos de caráter não defensiva desde a Revolução. Confiou ao escritor e Nobel de Literatura Gabriel García Marquez a missão de colocar nas mãos de Bill Clinton, então presidente, uma carta e um dossiê nos quais detalhava as ações das organizações da Flórida. No mesmo ano, o Federal Bureau of Investigation (FBI) desmantelou a Rede Vespa.

Três agentes conseguiram fugir, cinco fizeram acordo de delação e permanecem escondidos por uma rede de proteção às testemunhas e outros cinco estão em prisões federais de segurança máxima nos Estados Unidos. Em Cuba, dois mercenários também foram encarcerados e um deles acabou condenado à pena de morte, depois comutada para 30 anos de prisão. Morais entrevistou os cinco agentes detidos nos EUA, um dos mercenários, integrantes do FBI e dezenas de anticastristas na Flórida. A maioria ainda está viva. “Há uma expectativa que, se o (Barack) Obama for reeleito, ele indulte os presos ou faça uma troca com os norte-americanos encarcerados em Cuba. É uma coisa que está quente. Em geral escrevo sobre defuntos. Dessa vez escrevo não só sobre gente viva, mas sobre acontecimentos atuais”, avalia Morais, que recebeu adiantamento da Companhia das Letras para fazer o livro e vendeu os direitos para o cinema antes mesmo de escrever. “É um livro caro, são muitas viagens, hotéis, restaurantes.” É também um livro sobre a história recente das relações entre Cuba e Estados Unidos, tema raramente explorado com tanta riqueza de detalhes e posicionamentos de ambos os lados tanto na literatura quanto no jornalismo contemporâneo.

Três perguntas // Fernando Morais

Os atentados aconteceram na década de 1990, exatamente quandoa ilha se abriu para o turismo e centenas de estrangeiros, inclusive

brasileiros, visitaram Cuba.

Eram bombas explodindo em hotéis. Por que não ouvíamos falar dessas ações?

Primeiro que a imprensa brasileira, salvo exceções, dá importância muito pequena a informações latino-americanas. Fiz pesquisas nos jornais brasileiros dias depois das explosões de cada bomba. Só encontrei notinhas minúsculas, quando tinha, no pé de página, no fim do noticiário internacional. E sempre 10, 15 dias depois do acontecimento. Os cubanos tentavam manter isso censurado porque a função do terrorismo é propaganda. Eles achavam que divulgar os atentados era fazer o jogo dos terroristas. O sujeito que contratava os mercenários dizia que, se não tivesse propaganda, não tinha pagamento. Agora, é impossível esconder isso num país que recebe turistas do mundo inteiro. Os estrangeiros contavam para os jornalistas. Havia correspondentes em Havana. Por mais que se esforçassem para manter em segredo os atentados, acabava vazando. Mas não tinham repercussão entre nós. Só nos Estados Unidos.

Qual a situação hoje das

organizações anticastristas na

Flórida? Continuam atuantes?

Não. Depois que os mercenários foram apanhados e condenados à morte, diminuiu muito o ímpeto dos radicais da comunidade cubana. Depois tem um outro aspecto: os jovens que vieram de Cuba logo após a Revolução estão velhinhos. A nova geração está mais preocupada em ouvir salsa que em colocar bomba. Tanto que agora, enquanto falamos, há uma polêmica na Flórida: o Pablo Milanês foi fazer um espetáculo e houve um verdadeiro choque dentro da comunidade. Os jovens queriam ir e os velhinhos diziam que não podia porque o cara era um propagandista da Revolução. A geração mais jovem não está interessada em bomba. Até porque a Revolução não doeu no bolso deles. Quem perdeu usina de açúcar, banco e indústria de bebida está morrendo.

No livro, os Estados Unidos aparecem como uma nação que encobre o terrorismo. Ou, pelo menos, acobertou. Que tipo de impacto você acha que isso pode ter hoje, em uma década em que a bandeira militar americana é justamente a luta contra o terrorismo?

É uma coisa curiosa. No documento escrito pelo Fidel para Bill Clinton há um ponto em que ele fala de um negócio profético: se os Estados Unidos permitirem a desenvoltura de grupos terroristas em território americano, isso pode se virar contra o próprio país. É um risco que o governo americano está correndo. E me chama atenção o seguinte: todos os executores dos atentados de 11 de setembro aprenderam a pilotar aviões na Flórida. E lá não tem comunidade árabe, só hispânica. Outra coisa: no julgamento dos cubanos os advogados de defesa diziam, já depois do 11 de setembro, que o que os réus faziam nos Estados Unidos é o mesmo que a CIA está fazendo no Afeganistão. Ou seja: procurar prevenir atentados contra os Estados Unidos.

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EXPOSIÇÃO » Mitos indígenas

Instalação em formato de cobra com mais de 100 metros feita de bambus, fotos, vídeos, peças de artesanato e outros objetos revelam séculos da cultura de várias etnias brasileiras Fonte: correioweb.br 20/08

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Para completar um passeio completo pela exposição Séculos indígenas é preciso percorrer 110 metros de extensão. É o tamanho da cobra feita com bambus trançados que ocupa os corredores em espiral do Memorial dos Povos Indígenas desde 9 de agosto. A sensação é a de entrar num túnel histórico com passagens pela cultura indígena brasileira. O projeto da enorme serpente foi feito por arquitetos especializados em bioestruturas e executado por quase 30 profissionais, incluindo artistas plásticos e designers. Todo o processo foi supervisionado por representantes das tribos e levou apenas três semanas para ficar pronto. “Em algumas etnias existe o mito da cobra gigante, que veio do outro lado do mundo e aportou no Brasil. É uma história sobre a chegada dos europeus”, registra Rosane Kaigang, funcionária da fundação que dá nome à exposição, da etnia kaigang.

Na cabeça da cobra estão expostas peças de artesanato procedentes do acervo do próprio Memorial, da Fundação Darcy Ribeiro e do projeto Séculos Indígenas do Brasil. Além de fotografias mostrando o trabalho de indigenistas, como os irmãos Villas-Bôas e o antropólogo Darcy Ribeiro, estão expostas fotos de Paulo Metz, João Ripper e Piotr Jaxa. No meio do passeio, um tronco simboliza o ritual do Quarup (em homenagem aos mortos e realizado anualmente pelas comunidades do Parque do Xingu, no Mato Grosso). Caixas de som emitem vozes de líderes indígenas que foram assassinados. O visitante pode se sentar no centro e meditar.

Um passo adiante, dentro de um oca de palha trançada e apelidada carinhosamente de coco, é exibido de forma intermitente um vídeo que mistura animação e documentário, baseado no romance Maíra (1976), de Darcy Ribeiro. “A história conta o mito de criação do mundo. É uma maneira de mostrar a nossa cosmovisão para os outros povos”, acredita Rosane. O quadro de 15 monitores trabalhando na exposição é composto por indígenas e não indígenas. São representantes das etnias patamona, tukano, kamayurá, tupiniquim, dessana, apurinã, mudoruku, baré e aticum..

Samantha Ro’otsitsina Juruna, 25 anos, filha do falecido líder xavante e deputado federal Mário Juruna, é aluna do mestrado em desenvolvimento sustentável pela Universidade de Brasília e está trabalhando como uma das mediadoras da exposição. “Eu conheci muita coisa de outras etnias. Acho que é justamente esta a função da mostra: mudar a visão das pessoas em relação aos indígenas”, explica. Para trabalharem na exposição, os monitores fizeram cursos e visitas a museus e centros culturais, como o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), de Brasília.

A partir de setembro, a segunda fase da mostra contará com visitas agendadas de escolas do Distrito Federal. Para que a relação com os alunos em sala de aula com as etnias indígenas fosse modificada, professores da Secretaria de Educação fizeram cursos desde o ano passado. A exposição fica em cartaz até 10 de outubro no Memorial dos Povos Indígenas. Existem propostas de itinerância em instituições do Rio de Janeiro e Espírito Santo.

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OBITUáRIO »

Raúl Ruiz, cineasta Fonte: correioweb.br 20/08

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O cinema chileno perdeu o seu realizador de maior prestígio. Morreu ontem em Paris, aos 70 anos, Raúl Ruiz, de infecção pulmonar. Nos últimos anos, o cineasta lutava contra um câncer de pulmão e estava internado por causa do tratamento. Ruiz nasceu em 1941, na cidade de Puerto Montt. Iniciou a carreira artística, na juventude, como dramaturgo de teatro de vanguarda em seu país. Mais tarde, no México, foi redator de telenovelas. Estudou cinema na Universidade Católica de Santa Fé, na Argentina. No fim do curso de graduação, concluiu o filme Três tigres tristes (1968), vencedor do Leopardo de Ouro do Festival Internacional de Cinema de Locarno (Suíça) no mesmo ano.

Nos anos seguintes, notabilizou-se como diretor engajado, de forte militância socialista. Trabalhou como conselheiro cinematográfico do governo do presidente Salvador Allende e foi uma das vítimas do golpe militar que levou à ascensão da ditadura do general Augusto Pinochet. Exilou-se em Paris durante os anos 1970, e produziu a maior parte dos filmes na Europa.

Durante as filmagens do último projeto concluído, Mistérios de Lisboa (2011), Ruiz teve de lidar com as consequências do câncer de pulmão. “Isso adicionou um pouco mais de drama, eu acho. As filmagens corriam bem, eu estava de bom humor, mas às vezes….” , declarou sobre a doença ao The New York Times. Na mesma entrevista, contou que as constantes internações no hospital o deixavam em “estado de suspensão”. Assinou cerca de 90 filmes entre ficção, documentário, curtas e longa-metragens. Dois estavam em produção: La noche de enfrente e As linhas de Torres.

Em uma das palestras que lecionou, intitulada Cinema as clandestine voyage, Ruiz comparou os filmes com entidades: “Eles estão entre nós. Nos seduzindo, nos observando como se fossem extraterrestres ou deuses. Eles desaparecem de uma hora para outra sem nos dar a chance de compreender de que tipo de máquina ou fenômeno natural eram feitos”.

Em descompasso

A paixão por adaptações literárias e por narrativas com algo de folhetim, com reviravoltas e amores intensos, fez de Ruiz um autor em descompasso com boa parte do cinema produzido entre os anos 1990 e 2000. Mas foi nesse período que o cineasta se tornou um convidado frequente em festivais internacionais como Cannes (onde concorreu quatro vezes, de 1992 a 2003) e Veneza (onde exibiu Crônica da inocência, em 2000). Na Mostra de SP, venceu dois prêmios da crítica: por Três vidas e uma só morte, em 1996, e Mistérios de Lisboa, no ano passado. “Ele fez filmes da forma como um romancista do século 19 faria, sem a ansiedade que muitas vezes marca o temperamento contemporâneo”, escreveu o crítico A.O. Scott, no The New York Times.

Das experiências radicais dos anos 1970, quando assinou obras delirantes como A hipótese do quadro roubado (1979), às sutilezas de Mistérios de Lisboa, Ruiz se aventurou no cinema com a curiosidade de um eterno forasteiro. A variedade de idiomas e gêneros numa filmografia extensa é apenas um dos sintomas de vigor que o diretor exibia, ainda que quase sempre para um público reduzido — raros foram os longas que chegaram ao circuito brasileiro. Sem medo de trair obras-primas da literatura, “traduziu” Proust (O tempo redescoberto, de 1999) e Camilo Castelo Branco (Mistérios de Lisboa) sem abandonar um estilo que entorta os limites entre memória e fantasia. Criou, a um só tempo, filmes elegantes, ainda que repletos de enigmas.

Os filmes

As três coroas do marinheiro (1982)

» Exibido em Cannes, o filme revelou o cineasta à crítica internacional. Inspirado no mito chileno do "navio da morte", flerta com o surrealismo.

Genealogias de um crime (1997)

» Neste suspense francês, com a atriz Catherine Deneuve e o ator Michel Piccoli, Ruiz combina Hitchcock, psicanálise e atmosfera de pesadelo. Competiu em Berlim.

O tempo redescoberto (1999)

» O projeto mais ambicioso da carreira do diretor mescla uma homenagem ao escritor Marcel Proust (1871-1922) a uma adaptação do último volume de Em busca do tempo perdido.

Crônica da inocência (2000)

» O fluxo livre entre lembrança, fato e sonho marca esta produção francesa com Isabelle Huppert sobre um menino que, misteriosamente, entra em conflito com a família ao procurar a “mãe verdadeira”.

Mistérios de Lisboa (2011)

» Filmado para a tevê portuguesa, e com versão de 4h30 para o cinema, a adaptação do romance gigantesco de Camilo Castelo Branco combina o melhor da arte de Ruiz: os enigmas e a elegância.

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Dança de si

Há tempos, a bailarina atriz e coreógrafa Cleani Marques Calazans investiga a correria da vida, a insatisfação e a incapacidade de se estar em paz. Fonte: correioweb.br 20/08

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Em seus dois solos anteriores, ela abordou manias e tiques nervosos, e lançou atenção para o consumismo exagerado e desnecessário. Agora, ela volta ao tema com Distração essencial ou a difícil tarefa de lembrar-se de si mesmo, solo que será encenado hoje às 21h e amanhã, às 20h, no Teatro Garagem. “A ideia é que a gente possa observar melhor nossas reações, emoções e sentimentos, e busque caminhos diferentes”, avalia ela. A bailarina partiu do princípio de que, presas no trânsito, de testa crispada de preocupação com as contas a pagar, as pessoas se esquecem de viver o presente. Foi lendo o conto Circuito fechado, de Ricardo Ramos, que encontrou a frase subitamente transformada em provocação artística: “Uma vida em rascunho, sem tempo de passar a limpo”. A partir deste mote, reuniu uma miscelânea de influências, informações da neurociência e neuropsicologia, filosofia, teatro e dança. Ex-aluna do curso de artes cênicas da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, Cleani ainda adicionou pitadas de Bertolt Brecht, na decisão de dar ao público a perspectiva de se auto-observar. O espectador, por sinal, tem papel importante no decorrer dos cinco movimentos que compõem o solo. “Minha ideia é que eu fizesse parte deles, e eles de mim”, afirma. A plateia assiste ao espetáculo de pé, circulando pelo espaço de acordo com as orientações de um comando de voz e da iluminação da montagem. Também poderão tocar o cenário, composto apenas por uma mesa de rodinhas e pelas indicações de som e luz. Os ingressos custam R$ 16 e R$ 8 (meia) e a classificação indicativa é livre. (Mariana Moreira)

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Morre o cineasta franco-chileno Raoul Ruiz, 70

Diretor de mais de cem filmes, tinha sua produção marcada pelo diálogo irônico e onírico com a história

Seu último longa, "Mistérios de Lisboa", venceu o Prêmio Louis-Delluc e o Prêmio da Crítica na Mostra de SP Fonte: folha.uol.com.br 20/08

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Chileno radicado na França, o cineasta Raoul Ruiz morreu na manhã de ontem, vítima de uma infecção pulmonar. Dono de uma produção experimental, irônica e de forte matriz surrealista, tinha 70 anos e mais uma centena de filmes nas costas.

No ano passado, seu último longa "Mistérios de Lisboa", filme de quatro horas e meia centrado na vida da aristocracia portuguesa, venceu o Louis-Delluc, um dos principais prêmios do cinema francês, e foi agraciado com o Prêmio da Crítica na Mostra de São Paulo.

"Era uma pessoa que vinha de outra época, que conhecia tudo sobre tudo, de uma cultura imensa e que transitava entre dois países, o Chile e a França", disse seu produtor François Margolin ao jornal francês "Le Monde".

"Ele amava a mistura de culturas. Foi, sem dúvida, uma grande personalidade para além do cinema."

"Ele estava terminando a montagem de um filme sobre sua infância no Chile e preparava um outro em Portugal, em torno de uma batalha napoleônica", revelou.

Intitulado "As Linhas de Torres", este último contava com John Malkovich e Léa Seydoux no elenco.

Nascido em 25 de julho de 1941, Ruiz exilou-se na França em 1972, durante a ditadura de Pinochet. Era casado com Valeria Sarmiento, diretora e montadora chilena.

Ao longo de sua carreira, dirigiu Catherine Deneuve ("Genealogias do Crime" e "O Tempo Redescoberto") Marcello Mastroianni ("Três Vidas e Uma Só Morte"), John Malkovich ("Klimt" e "O Tempo Redescoberto").

É considerado o cineasta que revelou o ator Melvil Poupaud, a quem ofereceu o primeiro papel em "La Ville des Pirates" (a cidade dos piratas) e que, daí em diante, atuaria em uma dezena de seus filmes.

De acordo com um comunicado de sua produtora, uma cerimônia fúnebre foi marcada para a próxima terça-feira na Igreja Saint-Paul, em Paris. O corpo do cineasta será sepultado no Chile.

LITERATURA

Sua obra, misturando influência história e fantástica, foi muitas vezes vinculada à literatura latino-americana, em especial à de García Márquez e Borges. Em 1998, se debruçou sobre obra de Marcel Proust para criar "O Tempo Redescoberto". "La maison Nucingen" (2009) foi uma adaptação de Balzac.

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'Um Rubi no Umbigo', primeira peça solo de Gullar, estreia no Rio

André Paes Leme encena uma versão mais cômica do texto Fonte: folha.uol.com.br 20/08

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Perseguido pelo regime militar, Ferreira Gullar tinha acabado de cair na clandestinidade -era 1970- quando leu a notícia no jornal: pai é acusado de roubar rubi encravado no umbigo do filho (por razões medicinais) para sanar dívidas da família.

"Eu achei isso tão engraçado e louco que me veio a ideia, independentemente de ser verdade ou não", lembra o poeta e colunista da Folha.

A ideia era usar a história como mote para uma peça, "Um Rubi no Umbigo", que estreou ontem para o público na Caixa Cultural do Rio.

Na época recém-saído do Grupo Opinião, no qual aprendeu a fazer dramaturgia ao lado de figuras históricas como Oduvaldo Vianna Filho (1936-1974), Gullar se aventurava em sua primeira peça individual.

Ao escrever, não perdeu de vista o caráter cômico da história -a obra é uma comédia-, mas, até como reflexo dos tempos sombrios em que vivia, retratou no texto "a relação do ser humano com a riqueza" de modo crítico e desesperançado.

"É um mundo de tal maneira desumanizado que, se você tem algo que pode ser objeto da ambição dos outros, está ferrado", diz.

Quando assistiu à primeira montagem, em 1979 (com direção de Bibi Ferreira), Gullar achou que tinha pesado demais a mão. Decidiu reescrever o final.

"Terminava de uma maneira um tanto macabra. Percebi que estava muito para baixo. Então, eu resolvi criar uma cena irônica, mas menos macabra, sem mudar o sentido geral da peça."

Na montagem que leva aos palcos agora, o diretor André Paes Leme aproveita o espírito desse final mais leve para a história toda.

Comparando-a com a encenação de 1979, diz que a sua versão é "mais cômica, mas sem perder a tensão".

"O riso cria uma possibilidade de crítica e de percepção mais agradável das coisas. O tratamento que a peça teve nos anos 70 era muito mais realista, dramático, e nós, propositalmente, tornamos tudo isso mais frenético, expressionista."

Gullar não participou da atual montagem ("Não estou mais ligado nessa área teatral como antigamente", diz), mas quer vê-la.

"Vou lá me solidarizar com os garotos. Só o fato de eles terem se dedicado a fazer meu texto já é uma grande alegria para mim."

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Bom empenho de tradução revela obra densa de Ezra Pound

"Lustra", de 1916, chega pela primeira vez completo em português, junto a um estudo do tradutor Dirceu Villa Fonte: folha.uol.com.br 20/08

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Vindo de 1916, chega-nos, com bela aparência, um conjunto de poemas do norte-americano Ezra Pound, apresentado no original e, pela primeira vez, em versão completa para nossa língua.

"Lustra" surge integrado à dissertação de mestrado de seu tradutor, Dirceu Villa, que inclui um estudo sobre a poesia de Pound e notas aos poemas do livro.

Mais uma fonte em português da produção de um autor fundamental do século 20, e, entre nós, referência dos poetas concretos, que nos propiciaram traduções modelares de sua obra.

Entre os poemas de "Lustra" (plural do latim lustrum, "sacrifício expiatório, purificação") estão, centralmente, os epigramas crítico-irônicos, como "Society": "A posição da família minguava,/ E por isso a pequena Aurélia,/ Que gargalhara em dezoito verões,/ Tolera agora o toque mole de Phidippus."

Mas o livro reúne peças de feições diversas, que permitem, como o fez Villa, enquadrá-las em diferentes categorias; uma delas a das personae (as "máscaras" de Pound, um meio de assumir a voz de outros poetas), palavra que deu título à reunião da poesia anterior a "Os Cantos".

"Lustra" é um marco na trajetória do escritor por anunciar aspectos de sua obra principal, como a simultaneidade de épocas distantes, a convivência das tradições ocidental e oriental com a modernidade, da imitação com a inventividade.

Pertence à coletânea o célebre poema "Papyrus" (Spring...../Too long..../Gongula....), cuja estranheza ainda levaria Robert Graves a atacá-lo como charlatanice modernista -o texto era uma reconfiguração de resíduos de um fragmento de Safo.

Uma poesia complexa como a de Pound requer grande empenho para a tradução, evidente nesse trabalho.

Faltam, nos comentários, referências à tarefa ou às concepções que a orientaram; mas dá para ver que a recriação dos textos (considerados em sua dimensão estética) é a perspectiva do tradutor.

Difícil é depreender dos resultados, contudo, uma coerência de procedimentos: a adoção de algumas (e não outras) correspondências formais parece, em parte, apenas arbitrária.

Assim parecem, também, certas opções sintáticas, como as eventuais supressões de termos (por exemplo, "Um regato entre os juncos tuas mãos sobre mim" para "As a rillet among the sedge are thy hands upon me").

Há desnível entre as faturas, que atingem pontos altos como em "Numa Estação do Metrô": "A aparição destes rostos entre tantos:/ Pétalas num úmido, negro ramo.".

Fonte densa de informação e de forte poesia, esse volume ilustra, ademais, o labor perseverante e ousado que é a tradução poética.

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Livro de Amado sobre Prestes vale apenas como curiosidade

O CAVALEIRO DA ESPERANÇA

AUTOR Jorge Amado

EDITORA Companhia das Letras

QUANTO R$ 55 (400 págs.) Fonte: folha.uol.com.br 20/08

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Escrito há quase 70 anos, o livro "O Cavaleiro da Esperança", de Jorge Amado (1912-2001), que volta ao mercado, não resistiu ao tempo.

Trata-se da biografia romanceada de Luís Carlos Prestes (1898-1990), escrita como peça para a campanha de anistia ao líder comunista. Em plena ditadura do Estado Novo, Prestes estava preso por seu protagonismo na frustrada tentativa de revolução no Brasil, em 1935.

Publicado originalmente em espanhol em 1942, quando Amado se encontrava exilado na Argentina, o livro teve circulação clandestina no Brasil até 1945.

Grande sucesso na época, "O Cavaleiro da Esperança" vale hoje apenas como curiosidade histórica.

A obra chega a ser didática ao mostrar como opera um autor engajado. Para bem servir à causa, ele afronta a forma e o conteúdo.

Em relação à estética, Amado lança mão do realismo socialista que vigorava na União Soviética.

Dirigindo-se a uma leitora imaginária, a quem chama de "amiga" ou "negra", ele despeja frases superlativas sobre o mito que ajuda a erguer.

Prestes emerge do relato como herói caricato. Estamos diante de alguém que é chamado de "estrela na noite negra, temporal do povo, raio na escuridão, vento noroeste que sacode a tirania". É como se Jorge Amado escrevesse ajoelhado.

O estilo em nada lembra os romances de costumes que, a partir do final dos anos 50, lhe garantiram o prestígio possível para um autor que sempre quis ser popular.

As primeiras obras de Amado são marcadas por sua militância comunista. Na ficção, porém, o autor nem sempre se dobrava aos interesses do partido, construindo personagens que não se enquadravam totalmente no modelo idealizado de proletário revolucionário.

Quanto ao conteúdo, não serve como fonte confiável de informação. É menos uma biografia do que um elogio.

Abstraindo-se a adjetivação hiperbólica, talvez o melhor seja a detalhada descrição da Coluna Prestes, que atravessou o Brasil nos anos 20 e contribuiu para criar as circunstâncias políticas que levaram à Revolução de 30.

O relato de outros episódios tem pouco a ver com o factual. O autor descreve o encontro com Olga com cores românticas, quando se sabe que a futura mulher de Prestes tinha sido designada pelo governo soviético para cuidar da segurança dele.

Em outro exemplo, Amado inocenta Prestes da responsabilidade pela morte da jovem Elza, companheira de um líder comunista e acusada de traição, quando estava patente que a ordem de execução partira dele.

O autor deixou o Partido Comunista depois da divulgação, em 1956, das atrocidades de Stálin, mas nunca renegou publicamente "O Cavaleiro da Esperança".

O mais próximo da autocrítica a que chegou foi a admissão, em 1979, de que a obra era ingênua. Ele tinha razão.

OSCAR PILAGALLO é jornalista e autor de "A História do Brasil no Século 20".

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ONG cria país fictício em que pobreza é total

América Latina tem "dívida pendente", diz Michelle Bachelet, ex-presidente do Chile Fonte: folha.uol.com.br 20/08

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Existe um lugar que é o oposto da Pasárgada imaginada pelo poeta Manuel Bandeira. Chama-se Precária e lá, ao contrário do local da poesia, não há quase nada.

É um país de 180 milhões de pessoas que vivem sem luz, água, comida e moradia. O segundo maior da América Latina, depois do Brasil.

Essa nação não existe no papel -mas atraiu a atenção da ONG chilena Um Teto para meu País (www.umtetoparameupais.org.br), que lançou campanha neste ano falando do Estado ao mesmo tempo imaginário e real.

Precária é a metáfora das mazelas da América Latina. Entre seus embaixadores, estão a escritora Isabel Allende e Michelle Bachelet, ex-presidente do Chile, que falou à Folha sobre a situação crítica de milhões na região.

Para Bachelet, pouco se fala de Precária porque é "um lugar de que não gostamos, que nos provoca culpa". Afinal, aponta, os países da região não conseguiram derrotar a desigualdade social apesar dos avanços econômicos.

"Esses países vêm enfrentando a crise econômica internacional de melhor maneira do que as grandes economias europeias", diz, "mas, enquanto persistir essa desigualdade, Precária seguirá existindo entre nós".

A ex-presidente acredita que é possível mudar a situação "tornando visível uma realidade que está aqui, na próxima esquina". Ela ressalta, também, a importância de governos, Parlamentos e municípios se comprometerem a resolver o que chama de uma "dívida pendente".

Precária concentra os dados humanitários das populações carentes do continente. Assim, no país, 45% da população teriam menos de 18 anos e viveriam em casas com piso de terra, por exemplo.

A entidade acredita que o Brasil tem o dever de servir de exemplo à região. "É um país que não precisa ser pobre", afirma o advogado Ricardo Montero, 28, diretor social da ONG no Brasil. "É um país injusto, e não pobre."

A meta da Um Teto para meu País é construir mil casas no Brasil até o final do ano. Em toda a América Latina, eles já mobilizaram 400 mil voluntários para erguer cerca de 80 mil moradias.

A organização, fundada em 1997, constrói cem moradias de emergência neste final de semana em São Paulo, com 1.100 voluntários.

"É um mito que o jovem brasileiro não quer ajudar os outros", diz Montero. Foram, afinal, 4.000 inscritos para a ação deste final de semana.

"Eles estão disputando para pagar inscrição e passar um fim de semana dormindo no chão, construindo casas."

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Chile revisa número de vítimas de ditadura

Novo relatório eleva estimativa para 40 mil Fonte: folha.uol.com.br 20/08

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O governo do Chile elevou anteontem a estimativa do número de vítimas da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) para um total de 40 mil, incluindo 3.225 mortos ou desaparecidos.

A decisão atualiza o informe de 2004, acrescentando 9.800 vítimas de tortura e prisão política. Há, também, a adição de 30 novos casos de mortos ou desaparecidos.

"Não temos dúvida de que esse é um novo passo na abordagem das violações dos direitos humanos", diz María Luisa Sepúlveda, presidente da comissão que elaborou o relatório e o entregou ao presidente Sebastián Piñera.

O mandatário reconheceu o informe nesta quinta-feira, tornando-o oficial.

Lorena Pizarro, presidente de grupo que representa familiares de desaparecidos políticos, afirma, porém, crer que os critérios de checagem do número de vítimas "são altamente preocupantes".

Entidades que representam as vítimas da ditadura Pinochet acreditam que o número de vítimas possa superar os 100 mil.

As vítimas confirmadas receberão do governo chileno uma série de benefícios que incluem pensão mensal de cerca de US$ 250 (R$ 400).

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PRECONCEITO ACADÊMICO

Cientista negro tem menos verba nos EUA, afirma estudo Fonte: folha.uol.com.br 20/08

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DE SÃO PAULO - Cientistas americanos negros têm mais dificuldade de conseguir financiamento para pesquisa, indica um levantamento na última edição da revista "Science".

O estudo, coordenado por Donna Ginther, da Universidade do Kansas (EUA), avaliou mais de 40 mil pedidos de verba para o NIH (sigla de Institutos Nacionais de Saúde, principal órgão federal de pesquisa biomédica no país).

A diferença aparece mesmo quando são comparados cientistas com características parecidas em detalhes como país de origem, treinamento, prêmios recebidos e universidade empregadora. Em média, 29% dos pedidos de brancos são aprovados, contra 16% das propostas dos cientistas negros.

O NIH não contestou os dados e afirmou, em resposta na "Science", que vai procurar maneiras de corrigir as distorções de financiamento.

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Livro

Editora do Sesc e Edgar Morin

A editora do Sesc acaba de lançar a obra Anais do Encontro Internacional para um Pensamento do Sul , uma compilação de textos que parte de um argumento de educador e filósofo francês Edgar Morin , que escreve sobre vários temas, inclusive cinema, sobre a transformação global centrada em valores éticos com base na visão dos denominados "países do Sul". Fonte: folha.uol.com.br 20/08

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Em um encontro realizado em março pelo Departamento Nacional do Sesc, Morin e mais 40 estudiosos estiveram reunidos para refletir sobre um artigo inédito de sua autoria, Para um Pensamento do Sul . Na semana passada, o pensador esteve no Brasil para o lançamento da publicação. Os textos são discussões e construções coletivas com a proposta de responder às inquietações provocadas pelo tema. Um dos textos é assinado pelo próprio Morin, um dos pensadores mais importantes da atualidade. A distribuição do livro, de 380 páginas, é gratuita e dirigida. Informações pelo site www.sesc.com.br.

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