domingo, 21 de agosto de 2011

Affonso Romano de Sant Anna

"Nosso hotel era ao lado do Kremlin. Havia alguma coisa estranha no ar. No dia 19, enquanto eu dormia ingenuamente, Gorbachev havia sido deposto de madrugada" Fonte: opopular.com.br 21/08

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Eu estava lá em Moscou, há exatamente 20 anos, naquele agosto de 1991, quando o comunismo acabou na URSS . Não é pouca coisa. Foi como assistir à queda de Constantinopla ou ao fim do Império Romano. Relatei isso em um livro escrito com Marina: “Agosto 1991, estávamos em Moscou”.

Nosso hotel era ao lado do Kremlin. Havia alguma coisa estranha no ar. No dia 19, enquanto eu dormia ingenuamente, Gorbachev havia sido deposto de madrugada. Estava retido numa dacha na Crimeia e ninguém sabia disto. A televisão estatal estranhamente exibia E o vento levou.

É verdade que, quando andávamos pela rua Arbat, vimos alguns tanques indo e vindo e fiz uma pilhéria: “Vai ver que é um golpe de estado”. Era. Ao chegar junto do Kremlin, uma multidão. E uns tanques. Comícios. Encontramos lá por acaso Pedro Bial e Sergio Gilz, da Globo. Iam fazer uma matéria na Sibéria, mas, diante do calor dos fatos, ficaram em Moscou. Durante dias, andamos com eles (e uma intérprete) acompanhando tudo.

Antes já víamos um país em péssimo estado: filas, falta de comida, baratas e prostitutas no hotel, corrupção, câmbio negro, um caos. Agora a coisa se complicava, porque tudo podia acontecer. Me lembro de uma tarde em que estávamos com uma multidão diante da chamada Casa Branca, sede do governo municipal de Yeltsin. Era hora da resistência. Na sacada do edifício, discursos. Estava lá até o violoncelista Rostropovitch, que havia vindo de Londres para se reunir aos revoltosos. Pessoas distribuíam víveres para os resistentes. Grupos de ex-combatentes ajudavam civis a se organizarem. E ecoou a notícia que uma coluna de tanque viria para nos dizimar. Estava eu considerando o fim da minha reles biografia, mas os tanques e fatos tomaram outro rumo.

Cenas memoráveis: o povo invadindo a Praça Vermelha com uma imensa bandeira tricolor antiga do tempo dos Czares, e gritando “Abaixo o comunismo”. Isso ocorria nas barbas de Lênin — que apodrecia estirado no seu mausoléu na mesma praça.

E nós, que já havíamos visitado o Kremlin e suas catedrais dias antes, quando o comunismo imperava, agora iríamos voltar ali numa situação estranha, noutro capítulo da história. Estando em Moscou para um encontro internacional de diretores de Bibliotecas Nacionais, fora programada uma recepção que nos seria oferecida por Gorbachev. Entramos em fila, de tardinha, atrás de uma coluna de tanques. Foi uma estranha e gloriosa entrada, embora Gorby não estivesse lá e nos fosse servido um lanche meio socialista. (Reencontrei Gorbachev e sua esposa Raissa anos depois, no Rio, num jantar na casa de um banqueiro, contei-lhe essas e outras coisas e dei-lhe um exemplar daquele livro.)

Naqueles dias que abalaram o mundo, vimos coisas de que até Deus não mais duvida: derrubada de estátuas, desfile da vitória de Yeltsin congregando religiosos, militares e povo. Renascia uma outra Rússia.

Dias depois, pegamos um avião de volta, passando por Madri. E aí uma cena insólita: alta noite, fomos passear na Plaza Mayor. Nos edifícios apagados, havia, no entanto, uma janela aberta, e dali saía o som da famosíssima Internacional, como se nada tivesse ocorrido na história. No céu, brilhava também uma lua. A mesma lua que iluminava a nova bandeira do Kremlin.

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Repercussões nacionais das eleições municipais

Nenhuma das eleições municipais que tivemos de 1988 em diante teve consequências significativas nas presidenciais seguintes Fonte: correioweb.com.br 21/08

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No meio político, as eleições municipais do próximo ano já começaram. Para o cidadão comum, ainda são um assunto distante, em relação ao qual o interesse é mínimo. Quando, nas pesquisas, se pede aos entrevistados que respondam como “se as eleições fossem hoje”, ficam perplexos. A vasta maioria nem se lembra que voltaremos às urnas em tão pouco tempo.

Toda vez que se inicia a temporada dessas eleições, surgem especulações sobre as consequências de seus resultados na política nacional. É como se todos concordassem com a premissa de que existem e são ponderáveis.

Em alguns países, tipicamente nos menores, a vida política local costuma interagir intensamente com a nacional. O que acontece nas cidades, inclusive as pequenas, repercute de fato no conjunto do sistema político. É o caso, por exemplo, de certas democracias do norte da Europa.

No Brasil, pensando em termos de seu impacto no encaminhamento das questões nacionais, as eleições municipais já foram muito mais importantes que hoje.

Nos menos de 20 anos que durou a República de 1945, elas desempenharam um papel inteiramente diferente do que passaram a ter depois da redemocratização. Conquistar prefeituras, possuir boa representação no maior número possível de Câmaras de Vereadores, eram elementos cruciais para os partidos nas eleições estaduais e presidenciais.

Essa importância decorria, fundamentalmente, das características socioeconômicas e culturais prevalecentes em nosso eleitorado. Com uma expressiva proporção da população vivendo no interior, em cidades pequenas e com contatos esporádicos com as capitais estaduais e as metrópoles, a política nacional chegava a essas pessoas filtrada pela realidade local.

A influência das lideranças de cada cidade, sua ascendência sobre comportamentos e atitudes dos eleitores e, portanto, sua capacidade de orientar e dirigir decisões de voto eram incomparavelmente maiores que hoje em dia. Um partido que tivesse sólidas “bases municipais” estava com meio caminho andado para alcançar bom desempenho nas eleições gerais.

Um dos elementos fundamentais de diferenciação entre aquele Brasil e o de hoje é a comunicação de massa. Salvo o rádio de ondas curtas, nada integrava eleitores vivendo nas várias partes do país. Não existia a televisão em rede nacional (muito menos as formas mais modernas de comunicação eletrônica).

Em função disso, eram diferentes os modos de fazer campanha e estruturar a comunicação entre candidatos e eleitores. Só havia dois caminhos básicos para a apresentação das candidaturas e suas plataformas. Diretamente, através da presença física dos candidatos em eventos públicos, como comícios e assembleias. Indiretamente, através da intermediação das chefias partidárias locais. Ou o candidato ia aos municípios (para o que era imprescindível ter apoio local) ou alguém passava a ser seu porta-voz na localidade, falando por ele.

Mudamos tanto, de lá para cá, que não faz sentido raciocinar com essas categorias. O eleitor brasileiro médio é muitas vezes mais autônomo em relação às lideranças municipais e tem condições de se informar sozinho sobre quem são e o que representam os candidatos ao Legislativo, aos governos estaduais e, especialmente, à Presidência da República.

Por esses motivos, a discussão sobre os efeitos de 2012 sobre 2014 é, em grande parte, uma perda de tempo. Como foram as que fizemos nos últimos anos, em situação semelhante. Nenhuma das eleições municipais que tivemos de 1988 em diante teve consequências significativas nas presidenciais seguintes.

Quem gosta de sublinhar sua importância são as lideranças de alguns partidos, a exemplo do PMDB e, em escala menor, o DEM e o PTB. Como são organizações estruturadas em quase todos os estados, saem-se bem nos balanços que se fazem depois de apurados os resultados municipais. Com isso, incham o peito, proclamam-se vencedores e valorizam seu passe.

Compra quem quer. Na política, também há maus negócios.

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JOSÉ SIMÃO

Ui! Lula mata Norma gramatical!

E placa em Brasília: "Sai de baixo! Queda de ministros". Lá tem que andar com capacete de motoqueiro! Fonte: folha.uol.com.br 21/08

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Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta: "Pastor preso no Turismo paga fiança com cheque sem fundo". Como é o nome dele? Wladimir FURTADO! Rarará! É o famoso cheque-camisinha: só desenrola no pau! Pastor passa cheque-camisinha. E como disse o outro: "Cheque sem fundo é como mulher feia, EU PROTESTO!".

E a pergunta em Brasília: "Prenderam algum ministério hoje?". Não se prende mais ministro, prende-se logo o ministério. E esse é o único que toma prejuízo em Brasília: vendedor de loteira da CEF. Quando ele grita "Olha a Federal! Olha a Federal", sai todo mundo correndo!

E placa em Brasília: "Sai de baixo! Queda de ministros". Em Brasília tem que andar com capacete de motoqueiro! E sabe como se chama a demissão do ministro da Agricultura? Colheita Maldita! E o Éramos6 diz que a única coisa verdadeira no Ministério da Agricultura é o adubo! Os caras fizeram tanta merda que o adubo é verdadeiro! E até a Dilma já tem plantação! De pé de limão? De pé de mexerica? Não, de pé na bunda. Rarará!

E "Insensato Coração"? Insensato não é o coração, insensato é o autor! E aquele Casal Pastel: Pedro e Marina. Esse casal dá chulé em pé de mesa. Nunca vi nada mais chato. Por que um chato sempre gosta de outro chato? Ele tinha cara de pão Pullman. E ela mais sem graça que água de salsicha. Mas como diz um amigo meu: "Eu pegava a Marina". E eu pegava o saco do Pedro e apertava até ele esboçar alguma reação!

Cigano Igor 2! Até o meu cachorro trabalha melhor que ele, pelo menos franze a testa! Rarará!

Quem matou a Norma? Se for a Norma gramatical, foi o Lula! Rarará! Quem matou a Norma gramatical? O Lula! Quem matou a Norma? Uma tampa de bueiro! Quem matou a Norma? O Salomão Hayala! E mataram uns 20 na novela. Não foi uma novela, foi uma chacina! Mataram mais gente que o Gaddafi na Líbia! Insensato não é o coração. Insensato é o autor. Rarará!

E esta: "PMDB se rebela". Vai botar fogo no colchão? Bater caneca na grade? PMDB quer dizer Pomos a Mão no Dinheiro do Brasil!

E mais uma predestinada. É que em Curitiba tem uma técnica de enfermagem chamada Sara Pinto. Ainda bem que o meu já é sarado. Pinto de academia. Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

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Escolha no Supremo (EDITORIAL)

Dilma Rousseff indicará seu segundo ministro para o STF; influência positiva da Corte cresceria com um articulador mais conciso, claro e discreto Fonte: folha.uol.com.br 21/08

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A escolha de um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) pelo presidente da República é prerrogativa particularmente sensível. Afinal, trata-se de escolher alguém com mandato vitalício (até a idade de 70 anos) para figurar entre 11 guardiões da Constituição.

É, portanto, uma escolha definitiva. Precisa tomar em conta aspectos de personalidade, trajetória e convicções pessoais do indicado, que ainda necessitará de aprovação da maioria absoluta do Senado Federal. A gravidade e o ritual do ato serão reeditados em breve, com a escolha de um substituto para a ministra Ellen Gracie.

A indicação deveria partir de um diagnóstico sobre o STF. Quais aspectos precisam ser reforçados, quais corrigidos? Que tipo de jurista e com que carreira poderia contribuir mais para amplificar o papel positivo que o STF tem desempenhado na vida do país?

Com a aposentadoria de Gracie, a presidente Dilma Rousseff tem a oportunidade e a responsabilidade de indicar um ministro do Supremo pela segunda vez. Não há, contudo, indícios claros sobre seu diagnóstico acerca do STF.

A Corte, como é visível para todos, tem tomado decisões de grande repercussão na esfera política brasileira, um movimento que já foi chamado -quase sempre com ânimo crítico- de "ativismo judicial". União homoafetiva, terra indígena Raposa/Serra do Sol, fidelidade partidária e verticalização das eleições são exemplos.

A interferência nas decisões políticas do país é saudável, sobretudo nos casos em que Legislativo e Executivo se omitem. Não pode, contudo, ser arbitrária. A conduta democrática implica que o STF justifique para a sociedade -de modo mais conciso e explicativo do que se acha nos votos e relatórios- a vinculação entre decisões e princípios constitucionais.

O Supremo exibe hoje uma de suas composições mais plurais, do ponto de vista ideológico, o que é positivo. Mas isso não pode redundar em falta de unidade ou clareza nas deliberações. Processos fundamentais -como nos casos Battisti e Ficha Limpa- foram decididos após situação de impasse na Corte e resultaram em fundamentações atabalhoadas. Com a impressionante prolixidade dos votos dos ministros, reduz-se a possibilidade de o cidadão entender e valorizar os julgamentos.

Seria importante que o próximo ministro viesse ajudar na confecção de decisões lapidares e bem fundamentadas, que de fato condensem a opinião majoritária do tribunal -e não um agregado confuso de opiniões minoritárias.

Para isso, ele ou ela deve ser um articulador, capaz de negociar e redigir votos que dialoguem com as preocupações dos colegas. Escusado dizer que, para exercer tal papel, sua trajetória deve despertar o respeito dos pares. Se oriundo do próprio Judiciário, deve ser capaz de expurgar motivações corporativas de seus votos.

Por fim, o ministro necessita ter consciência de que o ativismo do STF deve manifestar-se nos autos. Debates acalorados com integrantes do Executivo, articulação frequente com membros do Legislativo e pendor para entrevistas bombásticas não enriquecem o perfil desejável para o Supremo.

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Documentário mostra como funcionam tribunais da Colômbia

Canal Brasil, 22h30, classificação não informada. "Bagatela - La Necesidad Tiene Cara de Perro" (bagatela - a necessidade tem cara de cachorro, em livre tradução para o português) é um filme colombiano que mostra como funcionam os tribunais de Bogotá. Fonte: folha.uol.com.br 21/08

O documentário, de Jorge Caballero Ramos, faz um retrato do cotidiano da Justiça do país sobre pequenos atos criminosos, como venda de discos piratas, roubo de celulares ou mesmo dormir na rua, que pode ser passível de condenação no país.

A produção mostra conversas espontâneas entre acusados e seus advogados, sem interferir nos diálogos, e explora ainda as contradições dos casos sob o ponto de vista da problemática social, causada pela desigualdade na Colômbia.

Adriana Falcão fala sobre seus roteiros

Cultura, 21h30, classificação não informada. A escritora Adriana Falcão, de "A Grande Família" e "Comédia da Vida Privada", fala de seus trabalhos no "Entrelinhas".

Banda Coldplay é tema de 'Storytellers' no VH1

VH1, 22h, classificação não informada. A banda Coldplay é tema do "Storytellers". Eles tocam sucessos da carreira e contam histórias que marcaram a trajetória do grupo.

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LITERATURA » Letras na mamadeira

Clubes e grupos para crianças de até 3 anos estimulam o contato com a leitura desde os primeiros meses de vida Fonte: correioweb.com.br 21/08

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As duas iniciativas nasceram de experiências pessoais. Para a escritora Alessandra Roscoe, a necessidade veio do encanto pela literatura. Desde a primeira infância ela estimula o contato dos filhos com livros e leitura. Já Kátia Xavier precisava que a filha mais velha aprendesse logo a ler: a mãe estudava para concurso e o tempo era curto para as infindáveis repetições exigidas por crianças muito pequenas. Com o aprendizado doméstico, Kátia e Alessandra montaram clubes de leitura destinados a bebês de zero a três anos, mas escolheram para isso caminhos bastante distintos e até opostos. Se Kátia quer ensinar os bebês a reconhecer os códigos da leitura desde os primeiros meses de vida, Alessandra segue proposta mais suave e prefere a ideia de familiarizar a criança com o objeto livro e com a prática da leitura.

Sacolinha

Alessandra aprendeu com os filhos Beatriz, Felipe e Luíza que é possível cativar a atenção de crianças muito pequenas para a leitura antes mesmo que elas aprendam o alfabeto. As leituras começaram com as crianças ainda na barriga e foi durante a gravidez da caçula que Alessandra maturou a ideia de, mais tarde, formar um clube de leitura para bebês. “A primeira leitura que o bebê faz do mundo é a voz”, explica. A escritora levou um susto quando descobriu a gravidez da temporã e, para se acalmar, passou a ler em voz alta enquanto Luíza crescia dentro da barriga. Hoje, aos dois anos, a pequena tem reunião às terças-feiras com os coleguinhas da creche para trocar livros e interagir com base nas historinhas.

Alessandra montou o clube no início do ano. O Uni Duni Ler tem um total de 30 membros com idade entre zero e três anos, uma média de 30 títulos e uma sacolinha bordada com o nome do grupo para que as crianças aprendam a transportar os livros com precaução. Alguns irmãozinhos agregados também participam, mas os bebês têm prioridade. Fernanda Barreto ajuda a filha Ana Laura, dois anos, a escolher os livros e até tenta opinar com um sugestivo “A mamãe queria tanto ler esse!”, mas a menina é persistente nas próprias escolhas e folheia as histórias antes de decidir. “A gente vai muito a livraria e o clubinho me ajudou a selecionar boa leitura para as crianças, a direcionar para livros que realmente são bacanas”, avalia Fernanda. A engenheira Tatiana Miari, mãe de Mariana, dois anos, e outras duas meninas, confessa não ser uma leitora assídua, mas investe no clubinho. “Gosto de estimular isso nas meninas. Traz o hábito de ler, estimula a criatividade. O livro só proporciona benefícios.”

Por enquanto, Alessandra mantém a iniciativa restrita às crianças da creche de Luíza. “Mas já soube de pessoas que criaram clubinhos, por exemplo, no condomínio ou no prédio”, conta. A iniciativa é simples: basta que cada pai compre um ou dois livros e um deles centralize as trocas. No Uni Duni Ler as crianças têm as retiradas anotadas numa ficha. É a maneira de disciplinar um compromisso coletivo. “O grande barato dessa história é o vínculo que se cria por meio do livro”, acredita Alessandra. “O menino descobre que aquela palavra lida tem uma coisa diferente da conversa do dia a dia e acaba associando o livro a uma coisa que gosta.”

Cordel para crianças

O grupo Depois das Cinco montou um espetáculo especialmente concebido para as crianças com o objetivo de apresentar a literatura de cordel. Formado por cinco mulheres, o grupo monta um varal de histórias e encena os versos dos maiores autores brasileiros. Também destinado a pais de bebês, o Cine Materna promove sessões de

cinema para adultos e crianças.

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MÚSICA » Enciclopédia da alma negra

Série de relançamentos ajuda a contar a história da moderna música negra norte-americana Fonte: correioweb.com.br 21/08

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Especializado em reedições de discos, o selo americano Rhino Records lançou recentemente a coleção Original Album Series — que, no Brasil, ganhou edição e distribuição da Warner Music. O grande chamariz da coleção é oferecer, em caixas contendo cinco discos, álbuns ou inéditos ou há muito tempo fora de catálogo no país. A seleção de artistas é variada, vai do jazz ao pop, passando por rock, funk e soul.

Coincidência ou não, alguns dos títulos da coleção ajudam a contar a história da black music. Por ser sintético, o termo black music acaba colocando no mesmo balaio sonoridades semelhantes, mas de caraterísticas rítmicas e melódicas distintas. Do blues ao hip-hop, passando por rhythm and blues, soul, funk e tudo que surgiu entre uma vertente e outra, a moderna música negra norte-americana passou por várias metamorfoses ao longo do século 20.

Ao unir o sagrado e o profano (ou seja, o gospel com o blues, o country e o jazz), o cantor e pianista Ray Charles (1930-2004) criou sua própria revolução musical. A alquimia sonora de Charles é ainda hoje fonte de inspiração para incontáveis músicos e intérpretes. Na coleção estão os álbuns The great Ray Charles (1957), Ray Charles at Newport (1958), The genius of Ray Charles (1959), The genius sings the blues (1961) e The genius after hours (1961). Uma fatia representativa de sua vasta discografia justamente por mostrar o artista em plena forma como compositor, pianista e cantor. O disco ao vivo, em Newport, é um dos melhores retratos das forças de Ray.

Do R&B ao funk

Apesar de ser cultuado como um dos maiores (para muitos, o maior) cantor de soul, Otis Redding (1941-1967) é muito menos conhecido do que o peso de seu legado poderia sugerir. Talvez por ter morrido muito jovem, aos 26 anos. Dono de uma voz rascante e uma interpretação cheia de emoção tanto para baladas (I’ve been loving you too long) quanto para números mais animados (Shake), Redding era um performer inigualável em cima do palco, admirado por seus colegas (do rock e da música negra) pelo talento e carisma magnético. Se estivesse vivo, Otis Redding completaria 70 anos em 9 de setembro. Estão presentes na coleção todos os álbuns individuais lançados pelo cantor em vida: Pain in my heart (1964), The great Otis Redding sings soul ballads (1965), Otis blue – Otis Redding sings soul (1965), The soul album (1966), Complete & unbelievable – The Otis Redding dictionary of soul (1966).

Composta por Redding, a música Respect alcançaria ainda mais sucesso na voz de Aretha Franklin. Mas este é apenas um dos hits que podem ser encontrados nos discos I never loved a man the way I love you (1967), Lady soul (1968), Aretha now (1968), Spirit in the dark (1970) e Live at Filmore West (1971). A presença cênica incendiária e a voz potente, cheia de expressividade (e, claro, a postura de mulher independente, dona do próprio nariz), fizeram da cantora um ícone do soul, influente até os dias de hoje.

Parceria

Em parceria com o compositor Burt Bacharach e o letrista Hal David, Dionne Warwick emplacou incontáveis sucessos (Walk on by, I say a little prayer, Do you know the way to San Jose?). Suas interpretações, de uma doçura comovente e uma melancolia avassaladora, faziam a ponte entre o R&B, o pop sofisticado e o soul. Os discos da coleção, os cinco primeiros da artista, também levam a assinatura de Bacharach como produtor: Presenting Dionne Warwick (1963) Anyone who had a heart (1964), Make way for Dionne Warwick (1964), The windows of the world (1967) e Dionne Warwick in Valley of the dolls (1968).

Se o soul é filhote do R&B, o funk é neto. E poucos músicos estão tão intrinsecamente ligados ao funk quanto o baixista William Earl “Bootsy” Collins. Ex-integrante dos grupos Parliament e Funkadelic, ele se lançou em carreira solo em 1976, com Stretchin' out in Bootsy's Rubber Band (1976), presente em sua caixa da coleção, assim como os quatro discos subsequentes: Ahh... The Name is Bootsy, baby! (1977), Bootsy? Player of the year (1978), This boot is made for fonk-n (1979), Ultra wave (1980) — todos mais ligados no groove do que nas canções e, justamente por isso, uma atalho para a nascente sonoridade disco.

No quesito música, os títulos da Original Album Series oferecem muito do que de melhor foi feito na música negra americana. A queixa fica por conta da ausência de encartes (os discos são apresentados no formato mini LP e reproduzem as capas e contracapas originais) que pudessem trazer mais informações para enriquecer a experiência sonora.

No mercado

» A primeira leva da coleção Original Album Series é composta por caixas de 10 artistas. Além dos mencionados na matéria, os outros são David Sanborn, Duke Ellington, George Benson, Natalie Cole e Rod Stewart. A segunda, em breve nas lojas, terá a-ha, Al Jarreau, Anita Baker, Antonio Carlos Jobim, Faith No More, Herbie Mann, John Coltrane, Ornette Coleman, Simply

Red e The Coors.

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Bebê e as Letras

Uma aproximação veloz Fonte: correioweb.com.br 21/08

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Kátia Xavier é mais metódica e incisiva no trabalho com o grupo Aletramento Materno (www. aletramentomaterno.com.br). Para ela, a aproximação entre o bebê e as letras não é só uma brincadeira. “A criança, quando nasce, pode reconhecer algumas palavras, as mesmas que ela ouve quando sai da barriga da mãe. Se ela memoriza rosto, então memoriza palavras. A capacidade do bebê é muito veloz em reconhecer o nome das coisas até três anos”, diz. Jornalista de formação e especializada em orientação educacional, Kátia tem como base o método do norte-americano Glenn Doman, que trabalhou com estímulo precoce e repetição de palavras para ensinar bebês a ler.

Uma vez por mês, Kátia se reúne com pais na Biblioteca Demonstrativa de Brasília (BDB) para ensinar e acompanhar a aplicação da técnica. As palestras são pagas e o kit, que inclui material didático e livro sobre o método escrito pela própria jornalista, sai em média R$ 140. “Faço o trabalho voltado para a possibilidade de até uma babá poder brincar com as palavras e as letras”, avisa. “Qualquer pessoa pode ensinar o outro a ler.” Ela também adverte que a técnica é centrada no aprendizado da leitura e não da escrita. “A partir dos três anos eles ficam numa curiosidade enorme e leem compulsivamente.”

Estímulo

A médica Tatiana Wambier conheceu o Aletramento Materno após o nascimento da primeira filha. Fernanda acabava de chegar da maternidade quando se deparou com as primeiras palavras. “Eu e meu marido somos médicos e sempre estudamos o benefício da estimulação precoce. Minha maior preocupação é que ela tivesse dificuldade quando chegasse à escola por já saber ler. Mas eu sabia que isso poderia acontecer também sem saber ler. Então a gente achou melhor fazer.” Com dois anos, Fernanda já lia livros infantis. Agora, aos quatro, ajuda a professora em sala de aula na leitura para os colegas e vai ao quadro quando é preciso escrever algo.

Para a escritora Lucília Garcez, doutora em linguística aplicada, o método é questionável. Ela mesma já trabalhou com as técnicas de Glenn Doman em uma escola que abandonou a prática. “É comprovado que, se você forçar, a criança aprende. Mas é precoce porque ela não está intelectualmente madura para aprender a ler antes dos cinco anos.” A maturidade começa com a capacidade cognitiva para perceber correspondências entre sons e letras. “Não tem consequência grave nenhuma, mas o esforço para ensinar e aprender é muito maior”, avisa a escritora.

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RESISTÊNCIA » Beco de cores e culturas

Extinto Mercado Sul, em Taguatinga, ganha fôlego e se transforma em espaço para as mais variadas expressões artísticas, com ateliês e oficinas Fonte: correioweb.com.br 21/08

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O espaço urbano funciona como um corpo vivo que se transforma com a história e a intervenção dos moradores. Essa apropriação foi o que ocorreu no “beco da cultura”, localizado no extinto Mercado Sul de Taguatinga. Fora do circuito do Plano Piloto, o lugar é composto de pequenas lojas, uma ao lado da outra, como uma espécie de micro-vizinhança em que circulação dentro dos pequenos ateliês possibilita tomar um café no vizinho ou bater um minuto de prosa.

A história do lugar começa com a chegada dos candangos, na década de 1960, quando o mercado abrigava uma feira de secos e molhados, e já se ouvia as rimas dos repentistas nordestinos, munidos de suas violas. Com o passar do tempo, o lugar enfrentou uma fase de abandono e há quase 20 anos começou a ganhar a configuração de polo de produção artística.

Com violões, violas e ferramentas de trabalho, o luthier João da Silva, 76 anos, conhecido como mestre Dico, inaugurou as atividades do beco. Apesar do jeito tímido e das poucas palavras, não lhe faltou iniciativa para desenvolver um trabalho pioneiro. A arte de fabricar e reformar instrumentos, aprendida ainda na infância, pelas mãos do pai, é a forma escolhida por ele para colocar sua arte em prática. “Antes circulavam drogas, prostituição. Aí, nós resolvemos nos instalar aqui e começamos a trazer nossos amigos para fazer arte. Hoje a área é conhecida como beco da cultura”.

Para Alexandre Silva, filho do mestre Dico e também herdeiro do ofício da luthieria, foi possível fazer a transformação e beneficiar a comunidade, pois o lugar promove festas e oficinas com foco na cultura popular e outros tipos de expressões. Nesses eventos, por exemplo, Alexandre e Dico participam de rodas de prosa e viola. Além disso, há apresentações teatrais, shows de música, mamulengos, declamações de poesia e “contação de causos”. O beco já recebeu as visitas ilustres de Gilberto Gil, na época ministro da Cultura, e de Zé do Pife. “Aqui é tão eclético que tem música popular, nordestina, clássica. As pessoas usam o espaço de várias formas. Nós queremos cultura de ponta a ponta com todo tipo de arte”, destaca Alexandre.

Formação

No coletivo Motirô, o objetivo principal é distribuir informação. Para isso, mantém um acervo de livros, gibiteca e uma videoteca com 450 filmes, para oferecer às pessoas, que dificilmente têm acesso a esses conteúdos. De acordo com o mímico e ator Abder Paz, o foco é mostrar uma visão de mundo fora do lugar comum e que desperte uma consciência politizada.

Todos os grupos do beco funcionam com sistema de autogestão. Além da fábrica de instrumentos do mestre Dico e do Motirô, há mais quatro espaços: Invenção Brasileira, RED Produtora, Tempo Eco Arte, e Tribo das Artes. Cada um se mobiliza para manter o espaço.

Nessa área de elaboração de projetos, a produtora RED auxilia os artistas. O músico Dillo D’Araújo conta que a produtora surgiu quando ele sentiu necessidade de uma gerência para sua carreira. Mas, a consultoria também passou a atender os outros artistas . “Quando surge um projeto na área de cinema e teatro, por exemplo, eu mesmo uso minha experiência como instrumentista para fazer as trilhas sonoras.”

Mais cores

No ateliê Tempo Eco Arte, Virgílio Mota faz do saco de cimento e do papelão matérias-primas para produzir instrumentos, mobiliário e criar cenários. Ele abriu as portas para duas artesãs frequentadoras assíduas do beco da cultura: Caroline Nóbrega quer trazer mais pessoas para o local. “Quanto mais pessoas interagindo é melhor”. Já para Thaís Sampaio “o espaço é aberto e permite experimentar sem medo, livremente”.

O colorido e a criatividade também estão presentes no trabalho do bonequeiro e iluminador Miltinho Alves. Todos os personagens são inventados por ele, as cores, as roupas estampadas e os trejeitos de cada boneco dão ideia de algo vivo, pois, além de fabricar, ele capricha nas interpretações.

Parceiro de Miltinho, o artista plástico Branco também é mais um transformador de materiais. Seja na escultura de um cavalo ou de um mapa, é possível se surpreender com identificação do que é usado na obra dele: correias de bicicleta, parafusos, pequenos pedaços de ferro e sucata, tudo colocado de maneira precisa.

A parede azul revestida com fotos de personagens da cena artística do Distrito Federal, como Nicolas Behr e o palhaço Zezito, mostra a trajetória da Tribo das Artes. O poeta e escritor de cordéis Ruiter Lima está à frente da Tribo há 10 anos, mas só passou a ocupar um dos espaços do corredor há pouco tempo. Para ele, é importante fazer parte do lugar e é vital o reconhecimento do beco como ponto de cultura por toda vizinhança. “Fazemos aqui um trabalho de vitalizar. Não é revitalizar. Agora é que este lugar está ganhando vida de verdade. E as pessoas precisam entender isso, saber o que acontece aqui.”

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