sábado, 6 de agosto de 2011

Literatura

Cinismo em alto nível

Em sua nova obra, Mia Couto lança olhar provocador sobre realidade da África Fonte: opopular.com.br 06/08

-

Desde o título, E Se Obama Fosse Africano? avisa que este é um livro do Mia Couto da não ficção: o cronista, provocador, analista político, crítico social e biólogo, a profissão da qual ele não pretende se desligar. Na obra literária do moçambicano de Beira, 56, as particularidades africanas são o contexto da narrativa. Aqui, Mia privilegia a realidade de seu continente e o faz de forma cínica.

O livro é uma coletânea de palestras, seminários e artigos. Há "sapatos sujos a deixar na soleira da porta dos tempos novos". O primeiro, a historiografia tradicional da tragédia africana, impregnada pelo marxismo dos movimentos de libertação nacional. "A culpa já foi da guerra, do colonialismo, do imperialismo, do apartheid, enfim, de tudo e de todos. Menos nossa", diz.

No ensaio que dá nome ao livro, publicado em um jornal africano, ele discorre sobre as chances de um Barack Obama desalojar um George Bush em terras africanas. Praticamente nulas, conclui. "Se Obama fosse africano, um concorrente inventaria mudanças na Constituição para prolongar seu mandato além do previsto. Os Bushs da África não toleram opositores", escreveu.

A elite explora, diz ele, mas os explorados tornaram-se uma massa apática, aparentemente cansados após o processo de independência. "Todos conhecemos o discurso do moçambicano comum: o governo é nosso pai, nós somos filhos dos poderosos. Esta visão convida à aceitação de uma ordem social como se fosse imutável."

Apesar do título, E Se Obama... não é só um livro político. Mia discorre sobre temas universais, partindo da realidade africana, como o desejo do homem de procurar algo que não possui. Viajar, por exemplo, vem da necessidade da caça, nascida nas savanas africanas. Está nos nossos genes, explica o Mia biólogo, ainda hoje dando expediente em sua consultoria ambiental numa alameda pacata de Maputo. "Quando estou em ambientes demasiados literários, puxo do meu chapéu de biólogo. Quando estou entre biólogos que se levam muito a sério, rapidamente puxo do chapéu de escritor."

-

>>>

-

39º Festival de Gramado tem matriz latina

-

Evento exibe hoje o argentino "Medianeras: Buenos Aires na Era do Amor Virtual" Fonte: folha.uol.com.br 06/08

-

Fora de competição, a exibição de "O Palhaço", de Selton Mello, inaugurou ontem o 39º Festival de Cinema de Gramado (RS). Com uma seleção oficial de sete longas nacionais e seis estrangeiros, o tradicional festival vai até o próximo dia 13.

A competição nacional exibe hoje "Ponto Final", de Marcelo Taranto. Ontem, o público assistiu a "Riscado", de Gustavo Pizzi. As sessões estão apenas no começo.

No ano passado, "Bróder", de Jefferson De, foi o grande vencedor do festival, com cinco prêmios, incluindo os de melhor longa brasileiro e melhor direção.

Procurando retratar as relações em grandes cidades, "Medianeras: Buenos Aires na Era do Amor Virtual", ficção argentina dirigida por Gustavo Taretto, será exibida hoje dentro da seleção internacional, que traz ainda produções do Uruguai, da Colômbia, do Chile, entre outros. É forte a matriz latina da curadoria de José Carlos Avellar e Sérgio Sanz.

CENSURA EM DEBATE

O veto ao longa "A Serbian Film" (leia ao lado) mobiliza o debate. A Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) e a Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (ACCIRS) promovem hoje, às 17h, o seminário "A censura voltou?", para debater como são classificados os filmes no Brasil e que consequências o "caso Serbian" pode gerar.

A programação do festival contempla ainda 16 curtas brasileiros, 20 filmes da mostra gaúcha e oito filmes da mostra panorâmica. Fernanda Montenegro, Domingos Oliveira e próprio Selton Mello são os três homenageados desta edição.

-

>>>

-

Delegado usa versos em relatório de flagrante

-

Ele diz que quis mostrar outro lado da polícia Fonte: folha.uol.com.br 04/08

-

Foi em versos rimados que o delegado Reinaldo Lobo, 29, redigiu seu relatório final a respeito de uma prisão em flagrante ocorrida no Riacho Fundo, cidade-satélite do DF.

A peça foi encaminhada ao Judiciário no fim do mês passado. Mas, no caminho, os versos encontraram a Corregedoria-Geral da Polícia Civil, que pediu à delegacia que refizesse o relatório como manda a convenção.

Lobo conta que aproveitou sua chegada a uma nova delegacia e o fato de não ter em mãos modelos de relatórios para lançar uma mensagem.

Para Lobo, a atividade policial é "muito árdua" e ele quis mostrar, com os versos, "que a polícia caminha no sentido de uma polícia intelectual, do amor à profissão. Achei que a melhor forma de transmitir essa mensagem era aliando o direito à arte".

O fato transformado em verso foi a prisão por receptação de um homem que estava na garupa de uma moto roubada, dirigida por um menor.

Em nota, a Corregedoria informa que "orienta as autoridades policiais a elaborar minucioso relatório nos termos do Código de Processo Penal". Por fim, diz que vai apurar a conduta do delegado.

-

DELEGADO RIMADOR

-

O POEMA DO RELATÓRIO

-

Foi checada a situação

Ele é mesmo sem noção [...]

A motocicleta era roubada

A sua boa fé era furada [...]

Foi lavrado o flagrante

Pelo crime de receptação

Pois só com a polícia atuante

Protegeremos a população Fonte: folha.uol.com.br 04/08

-

>>>

-

Indústria pouca

-

Falta ambição às medidas do governo federal; para mudar padrão de desenvolvimento, distorções estruturais da economia têm prioridade Fonte: folha.uol.com.br 04/08

-

Políticas industriais consistem de estímulos à criação ou ao crescimento de atividades econômicas que possam mudar o padrão de desenvolvimento de um país e que, por algum motivo, não atraem o interesse do mercado.

Por meio de incentivos como redução de impostos, subsídios, proteção comercial ou outros privilégios temporários, procura-se agregar à economia novos setores, de preferência com contrapartidas e metas dos beneficiados.

Desse ponto de vista, o programa lançado pelo governo, Brasil Maior, contém mais medidas defensivas do que projetos de renovação e incremento produtivo do parque industrial. Ou seja, é um programa de proteção da rentabilidade de alguns setores prejudicados pelo real forte, que encarece produtos nacionais de exportação e barateia importados.

A valorização da moeda brasileira dificulta ainda mais as condições de competição de uma indústria sujeita aos custos de tributação demasiada, infraestrutura ruim, juros altos e burocracia.

Em resumo, e para recorrer ao chavão, trata-se de um plano emergencial de compensação do "custo Brasil" e, ressalte-se, de proteções comerciais abusivas em países que negociam com o Brasil, sendo mais grave o caso da China.

O pacote prevê a recuperação da rentabilidade de alguns setores por meio de desonerações tributárias e créditos subsidiados.

Um grande plano do governo Dilma Rousseff, a redução da contribuição patronal para o INSS, em especial para empresas que empregam muita mão de obra, restringiu-se a indústrias muito afetadas pelo câmbio e pela competição desleal: calçados, confecções, móveis. Uma exceção foi a ainda nascente indústria de software, também agraciada.

A redução do imposto sobre a folha implica aumento do deficit da Previdência. Como não há fundos do Tesouro para cobrir o rombo nem clima político e econômico para tributar outras empresas, o plano foi adiado para 2013. A desoneração restringiu-se a alguns dos muitos setores que sofrem com o "custo Brasil" e o real forte.

Exportadores de manufaturados devem receber redução de 3% do faturamento de vendas ao exterior. Um substituto da hoje impensável desvalorização forçada do real: em vez de receberem mais reais pela taxa de câmbio, recebem via abatimento de impostos.

No mais, o governo prorrogou algumas das medidas dos "pacotes anticrise" e acelerou a devolução de créditos tributários.

As medidas, porém, não foram formalizadas em textos legais.

No que se sabe, o Brasil Maior é um plano limitado, enfim, porque o governo não tem meios de reduzir mais os impostos, dada a sempre crítica situação fiscal, e porque os juros são altos, dados os desarranjos do país, o que aliás contribui para valorizar o real.

O governo recorre a paliativos porque ele mesmo não trata de lidar com os problemas de longo prazo da economia.

-

>>>

-

Inovar é investir no lugar certo FSP 04.08

-

GLAUCO ARBIX e JOÃO ALBERTO DE NEGRI

-

Sem um esforço para avançar rumo a economia puxada pelos setores mais intensivos em conhecimento não haverá como sustentar o crescimento Fonte: folha.uol.com.br 04/08

-

A palavra inovação frequenta documentos de governo há quase dez anos. No entanto, a economia apenas lentamente incorpora a inovação em sua dinâmica. Isso porque só recentemente as empresas passaram a incorporar a inovação em suas estratégias, e nem sempre é fácil para o poder público alocar os escassos recursos no lugar certo.

Apenas 4,2% das empresas (grandes e pequenas) que inovam conseguem apoio direto de algum instrumento público para seus projetos inovadores. A realidade nua e crua é que o coração da indústria brasileira se apoia muito pouco nos atuais incentivos à inovação oferecidos pelo governo.

Em 2008, 5.600 empresas realizaram investimentos de R$ 38 bilhões em inovação. Estimativas para 2011 sugerem um salto para R$ 45 bilhões. Mas o setor público ainda financia menos de 10% desses investimentos.

Esse é o nó a ser desatado, pois sem um esforço concentrado para avançar rumo a uma economia puxada pelos setores mais intensivos em conhecimento não haverá como superar a dependência excessiva das commodities nem como sustentar o crescimento.

Em março, a presidenta Dilma Rousseff reforçou as operações de crédito coordenadas pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e liberou R$ 1,75 bilhão para a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos). Em menos de quatro meses esses recursos foram comprometidos e há demanda adicional qualificada de outros R$ 4 bilhões.

Ao anunciar o plano Brasil Maior, o governo deu passos importantes ao destravar gargalos da economia, desonerar a folha de alguns setores e amenizar os efeitos perversos da relação adversa do câmbio. O programa de 75 mil bolsas de estudo no exterior (Ciência sem Fronteiras), a liberação de mais R$ 2 bilhões para a Finep e a regulamentação do uso do poder de compra do governo ilustram a preocupação pública com a inovação.

Aprofundar essas medidas e dar forma a grandes projetos estruturantes em áreas críticas -como energia, aeroespacial, saúde, informação e comunicação- é o grande desafio. E, para atingir a meta de investimento privado em pesquisa e desenvolvimento do plano Brasil Maior, somente o MCT teria de desembolsar um adicional de R$ 7,5 bilhões/ano para as atividades de P&D nas empresas. Isso considerando que para cada real financiado pelo setor público as empresas adicionariam outro real.

É raro encontrar na história brasileira um momento como o atual, em que o investimento em tecnologia das empresas cresce, apesar de todas as restrições. Mas é bom lembrar que as empresas não conseguirão dar esse passo sozinhas, sem o apoio de universidades e centros de pesquisa e sem maior sinergia com o setor público.

No passado, por omissão do poder público, o Brasil não se capacitou para a microeletrônica.

Por carência de incentivos, não avançou em microeletrônica e telecomunicações. Agora, o país tem chance de assentar as bases para a construção de uma economia de baixo carbono, ambientalmente sustentável, movida pelas áreas mais intensivas em conhecimento.

Essa é a única perspectiva que dá pleno sentido ao debate sobre políticas de inovação.

GLAUCO ARBIX é presidente da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos).

JOÃO ALBERTO DE NEGRI é diretor da Finep.

-

>>>

-

PASQUALE CIPRO NETO

-

Uruguai, a educação como exemplo

-

Como educador, sempre achei que, por ser muito popular e "democrático", o futebol funciona como espelho Fonte: folha.uol.com.br 04/08

-

FREQUENTO o Uruguai há 34 anos. Quando lá estive pela primeira vez, em 1977, pude confirmar o que já sabia pelos livros e pelos relatos de outrem: o povo uruguaio esbanja educação, cortesia, discrição e formalidade -sim, formalidade, o que entre nós é algo mais do que raro. Em plena ditadura militar, muitas livrarias de Montevidéu ficavam (e ainda ficam) abertas até altas horas. E nelas não era (e não é) difícil ver jovens e idosos à procura do que ler.

O índice de alfabetização do Uruguai chega a 97,9%. Desde 2009, todos os alunos e professores do ensino primário do Uruguai têm laptop e internet sem fio à disposição. Bem, eu poderia me estender sobre outros dos inúmeros dados positivos do belo país vizinho, mas paro essa exposição por aqui para ir direto ao ponto: a relação entre a educação (formal e informal) e as recentes lições que a gloriosa Celeste Olímpica deu aos que gostam de futebol (e aos que não gostam também), desde que Óscar Washington Tabárez ("El Maestro") assumiu o comando da seleção do país, há cinco anos.

Tabárez é chamado de "El Maestro" justamente porque foi "maestro" (palavra que, em espanhol, tem, entre outros, o sentido de "professor", especialmente o primário). No ano passado, na África do Sul, tive a honra de participar de duas entrevistas coletivas do elegante, calmo e refinado treinador, ao qual pude fazer algumas perguntas.

Na primeira entrevista, depois do jogo África do Sul x Uruguai, perguntei-lhe sobre uma manifestação dele acerca da execução dos hinos nacionais. Nesse dia, o hino do Uruguai foi ouvido com respeito pela torcida, que, por motivos óbvios, era majoritariamente sul-africana. Tabárez fez questão de dar uma alfinetada nas torcidas sul-americanas (sem exceção), dizendo que, nas mesmas circunstâncias, o comportamento por aqui é lamentável.

Na segunda entrevista, depois do jogo Uruguai x Holanda (semifinal), em que a Celeste foi prejudicada pelo trio de arbitragem, Tabárez só se referiu aos erros dos "homens de preto" quando o assunto foi abordado pelos jornalistas. Cavalheiro, Tabárez disse que aquilo é coisa do futebol e que é preciso saber perder.

No mês passado, depois da emocionante vitória sobre o Paraguai e da consequente conquista da Copa América, mais uma vez "El Maestro" fez questão de mencionar o fator educação, que ele introduziu em todas as seleções uruguaias (sub 17, sub 20, principal). "Um jogador de futebol tem de saber outras coisas além de futebol", diz ele. Uma dessas outras coisas é a verdadeira noção de equipe. O resultado disso é visto no campo: o impressionante despojamento das estrelas (Suárez, Forlán e Cavani, entre outros) em prol do grupo funciona como verdadeiro elemento educador. O sentido coletivo da atuação de Suárez na final é simplesmente inesquecível.

Como educador, sempre achei que, por ser muito popular e "democrático", o futebol pode funcionar como espelho. Quando se ouve ou se lê um "jornalista" exaltar certas idiotices (uma delas é a abominável "malandragem" do jogador brasileiro, ainda cantada em prosa e verso por parte da imprensa esportiva) e quando se constata que o resultado dessa exaltação e da própria "malandragem" é pífio, vê-se que o caminho a seguir parece ser outro.

A quem duvidar disso sugiro uma rápida análise do resultado das truculências de Dunga, Ricardo Teixeira etc. e do comportamento de Daniel Alves, Robinho e Felipe Melo, entre outros, na Copa da África. Felizmente, uma parte da nossa imprensa captou a mensagem uruguaia. Sugiro a leitura, entre outros, do belíssimo artigo de Maurício Stycer (UOL, 24 de julho). É isso.

-

>>>>

-

Meio Ambiente

ONGs lançam comitê e abaixo-assinado contra novo Código Florestal Fonte: opopular.com.br 05/08

-

Integrantes de 97 organizações da sociedade civil, movimentos sociais, parlamentares e ex-ministros participaram nesta sexta-feira (5), na capital paulista, do lançamento do Comitê Paulista em Defesa das Florestas e do Desenvolvimento Sustentável Contra o Projeto de Lei Complementar 30/2011, que altera o Código Florestal Brasileiro. Também foi lançado um abaixo-assinado contra o projeto do novo código.

A ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva disse que o comitê dá a oportunidade de as pessoas saírem do papel de observadoras e para passar a agir. Ela citou uma pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada em junho, que constatou que 79% da população têm posição contrária ao texto do senador Aldo Rebelo (PCdoB-SP), relator do projeto. “Espero, sinceramente, que consigamos mobilizar as pessoas para que elas deem sustentabilidade política aos 81 senadores. Eles podem fazer uma atualização do Código Florestal à altura das necessidades do Brasil”.

João Paulo Rodrigues, representante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), disse que o momento é propício não só para fazer o debate sobre as mudanças no Código Florestal como para incluir outros segmentos na discussão. “Nós, do campo, pequenos agricultores, não fomos consultados. A referência de agricultura que foi consultada é a do grande agronegócio que tem como principal base a monocultura, o uso demasiado de agrotóxicos e, acima de tudo, a depredação do meio ambiente”.

O deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) enfatizou que o novo Código Florestal atenta contra o interesse coletivo nacional. “O que está em jogo nessa proposta não é um problema só ambiental ou agrícola. Está em jogo a vantagem comparativa de uma nação e um processo histórico que conservou grande parte de sua biodiversidade, florestas, água e solo e que pode ser uma potência. Está em jogo também o modelo agrícola e agrário”.

O ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero lembrou que o Código Florestal pode trazer ainda consequências internacionais ao país, como a repercussão negativa da aprovação do texto na Rio+20 - Conferência das Nações Unidas em Desenvolvimento Sustentável. “Isso não se limita a uma questão só de de imagem ou do fracasso anunciado de uma conferência. É que existem compromissos inúmeros que o Brasil assumiu em fóruns internacionais que podem se tornar inviáveis caso determinadas mudanças incluídas no projeto da Câmara sejam consagradas no texto final”, alertou. O abaixo-assinado lançado hoje está disponível na internet.

Nenhum comentário: