Memória em verde e rosa
O compositor carioca Tantinho, uma das lendas da Mangueira, evoca deliciosas histórias dos grandes mestres e fala sobre a burocratização do samba nas escolas Fonte: correioweb.com.br 27/08
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É difícil falar com Tantinho da Mangueira. O sambista carioca não tem página oficial e, pela rede, não há um site confiável sequer que colabore na busca de um contato do músico. Uma ajuda aqui, outra acolá e logo ele está do outro lado da linha, risonho, faceiro e agradecido com a lembrança. Batizado como Devani Ferreira, Tantinho comemorou domingo passado 65 anos, dos quais 60 foram dedicados à Mangueira. Nascido e criado no Morro da Mangueira, Tantinho é cantor, compositor e partideiro. Casado com Bernadete, filha de João Cocada, e a quem chama carinhosamente de “Dete”, o carioca não vive mais no morro. Sua casa, hoje, fica em Jacarepaguá, onde mora com os quatro filhos.
Aos 12 anos, Tantinho e virou chefe de família, sustentando a mãe e os irmãos. Foi office-boy, lavador de carros, frentista, camelô e laboratorista no Jornal do Brasil. Trabalhou em uma agência de publicidade e na Funarte, onde se aposentou. Como laboratorista descobriu uma paixão: a fotografia. Ia aos campos de futebol e acompanhava os jogos de perto, conhecia os jogadores e depois corria com os filmes dos fotógrafos para revelar no laboratório do jornal.
Na Mangueira, começou a tocar com 5 anos e já desfilava na bateria batucando o tamborim no carnaval. Tocou com Paulinho da Viola, Zé Keti, Jamelão e Elizeth Cardoso. “Esses encontros vieram do convívio no samba. Certo dia, fui fazer uma gravação na casa do Candeia e conheci o Paulinho, com quem eu tinha uma amizade de escola de samba. Parei ao lado dele e começamos a conversar. O Candeia brigou, ficou com ciúme. Dali, daquela gravação, eu e o Paulinho fomos para São Paulo trabalhar juntos. Foi uma empatia danada”, fala orgulhoso da parceria com o intérprete de Coração leviano.
“Os sambas de hoje são descartáveis. Eu não sei mais cantar o samba-enredo que a Mangueira desfilou este ano, mas me lembro das composições de 1960, 1970. São coisas que não são mais feitas com carinho. Nós usávamos a alma no samba. Hoje, veja só, o carnavalesco até dá as rimas. Olha que loucura”, conta o compositor, que depois de 31 anos, voltou a escrever para a Estação Primeira. “Voltei porque era sobre Nelson Cavaquinho. Quando colocaram a música na internet, todo mundo gostou. O povo dizia: ‘A Mangueira finalmente vai desfilar com um samba bom’. Porém, no primeiro dia cortaram meu samba e tive que ouvir: 'Você sabe que o samba não era o da vez, né Tantinho?’. A diretoria diz que não cita o compositor para que a escolha seja imparcial, mas eles sabem quem escreveu. O samba da atualidade não tem mais identificação, é numerado. A maioria não sabe de quem é a letra”, revela.
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LITERATURA » Entre o velho e o novo
Jornada de Passo Fundo destaca o século do livro e discute novas linguagens de expressão artística. Participação de mais de 5 mil pessoas reafirma o interesse pela discussão cultural no maior evento da América Latina Fonte: correioweb.com.br 27/08
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Passo Fundo (RS) — Ao completar 30 anos de atividades, a 14ª Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo, encerrada ontem, significou um divisor de águas da linguagem literária em suas formas tradicionais e avançou alguns passos na discussão sobre o futuro do livro e a consolidação da “literatura eletrônica”. Na atual versão do evento, o livro cedeu espaço à imagem e dividiu o palco das letras e do pensamento com a música, o vídeo, o computador, a televisão. O papel saiu dos prelos e das estantes para os pixels, tablets e e-books e as vozes da mídia eletrônica reservaram ao romance, aparentemente, e à poesia e ao conto, em suas indumentárias convencionais, um espaço semelhante ao de uma exposição de objetos raros. Pelo menos foi o que se viu nas áreas de artes visuais e nos palcos de debates e palestras, porque em terra firme imperavam como antigamente imensas galerias de tomos nas prateleiras improvisadas no campus da Universidade Federal de Passo Fundo (UPF), lembrando que nada está perdido para o velho e bom livro.
Não é à toa que o tema central do evento foi Leitura entre Nós: Redes, Linguagens e Mídias, com a visível preocupação dos organizadores de reunir ensaístas, professores, jornalistas, escritores, cartunistas, cineastas e artistas de várias gerações e domínios — desde os mais tradicionalistas aos que abastecem o mercado intelectual da era web. Aliás, um dos debates mais representativos desta fronteira e deste esforço em fixar no imaginário popular — já bombardeado diariamente pela inesgotável internet e seus “facetwittersblogs” — as novas linguagens, sem abandonar o interesse pelo livro em seu modelo secular, foi o sugestivo Literatura e Imaginário no Século 21, coordenado pelo norte-americano Nick Montfort, do Massachusetts Institute of Technology (MIT).
Nick deixou o público jovem, em especial, fascinado com um programa de computador criado por ele em que o leitor/receptor tem a oportunidade de contribuir com a criação de poemas e ficções de forma coparticipativa. Detalhes podem ser acessados pelo www.nick.com. Mas não se animem muito: o próprio autor adverte aqueles que entram nos geradores de textos com a esperança de encontrar algo de qualidade, pois poderão ficar decepcionados.
Ele explicou que a ideia desses programas é apenas trabalhar com a superfície das linguagens e estimular o intelecto da era virtual. Diante desse clima eletrônico, frio e metálico, em que prevalece a sensação de que a qualquer instante um robô vai abrir as cortinas e reescrever Dom Quixote, em menos de 10 minutos, a professora de teoria literária e literatura comparada Maria Esther Maciel, da Universidade Federal de Minas Gerais, e o professor Luiz Costa lima, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, entre outros, representaram, com suas visões, presenças antagônicas a este universo. Para Maria Esther, esse diálogo entre linguagens, o hiper e o intertexto já existia desde As mil e uma noites e A divina comédia, como se a história da literatura fosse uma espécie de jogo de revezamento, em que se troca de bastões com o passar dos séculos, sem que se deixe cair a essência da criação literária.
Currículos
Luiz Costa Lima, crítico que ajudou a renovar a teoria literária brasileira no século 20, não lamenta a chegada do e-book nem prevê a morte do livro nos próximos 200 anos. Mas se sente desconfortável com os rumos dos currículos dos cursos de letras, com a falta de apoio institucional à cultura brasileira e com a ameaça que o próprio mercado sugere ao se concentrar na publicação de obras sem conteúdo. Em sua conferência, na quinta-feira, o autor de O controle do imaginário, Dispersa demanda e Euclides da Cunha: contrastes e confrontos do Brasil chamou a atenção para a necessidade de se criar ilhas de resistência cultural nas universidades brasileiras para manter aceso o interesse por obras de conteúdo e não deixar que as novas gerações padeçam de elementos ricos, tradicionais e renovadores da compreensão literária.
O premiado escritor português Gonçalo M. Tavares, Inácio de Loyola Brandão, Beatriz Sarlo e Alberto Manguel, entre outros, participaram de vários debates no Circo da Cultura, uma tenda armada na UPF com lugar para mais de 5 mil pessoas. O enorme público presente na maior feira de livros e de encontros literários da América Latina serviu para mostrar que é possível a convivência entre o novo e o velho e que sempre se pode empreender no campo do pensamento o que pregava Ezra Pound: “Faça o novo”.
O que resulta de uma semana de intensas discussões sobre o fenômeno da renovação e da criatividade no livro e no jornal é que o novo não soterra o velho e que a leitura e o poder de comunicação nos tornam mais humanos.
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SHOW » Rock e consciência
Festival em Ceilândia, hoje e amanhã, tem por objetivo abrir espaço para as bandas jovens e incentivar a doação de sangue Fonte: correioweb.com.br 27/08
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O festival Rock na Veia deu outro significado à popular expressão que batiza o evento. Mais do que oferecer ao público apresentações musicais, o objetivo é incentivar a doação de sangue. Além disso, outras ações sociais fazem parte do projeto, como a doação de alimentos, livros e garrafas pet (que serão repassadas para uma cooperativa que produz móveis com os descartáveis).
Hoje o Rock na Veia chega à quarta edição. Durante dois dias, a estrutura montada na Praça da Administração da Ceilândia receberá 20 bandas de estilos que passam pelo punk, hardcore, hard rock, heavy metal e até música sinfônica. A partir das 16h, apresentam-se as locais 40 Mil Pés, DF 147 e Os Containers, a paraense Orquestra de Violoncelistas da Amazônia, as goianas Mugo, Black Drawing Chalks,
Hellbenders, Space Monkeys e Blackskull e a carioca Hyndra. Amanhã, a partir das 15h, sobem ao palco Hazzard Hangover, Sacred Wine, a paraense Lúthien, 9 Milímetros, H Makoy, Podrera, Os Maltrapilhos, Blazing Dog, a paulistana Nitrominds e, fechando a noite, Terno Elétrico.
“Privilegiamos bandas da cidade, em especial jovens”, comenta o organizador Marco Aurélio dos Santos. Será distribuído na entrada do festival um CD coletânea com músicas dos grupos participantes. Algumas atrações nem sequer tinham registro sonoro, o que o festival tratou de providenciar. “São bandas que não saíam da garagem, nem elas mesmas sabiam de seus potenciais”, observa. Descobrir novos talentos, aliás, é uma das propostas da ONG Escola de Rock, organizadora do Rock na Veia.
A iniciativa de incentivar a doação de sangue encontrou eco em outros estados. Atualmente, o festival é também realizado em Ananindeua (PA), de onde vem uma das atrações, a Orquestra de Violoncelistas da Amazônia, resultado de um projeto social iniciado na Universidade do Pará com jovens moradores de cidades carentes. Em 2012, o plano é levar o Rock na Veia para o Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
Doador frequente de sangue, Marco Aurélio conta que a ideia para o festival surgiu depois de uma cena que presenciou quando estava na Fundação Hemocentro (um dos parceiros do evento). “Vi um grupo de jovens roqueiros voltando de um show. Eles passaram por ali e se animaram em doar sangue. A atendente explicou que, naquele momento, eles não podiam, pois exigia uma preparação. Eu já estava montando a ONG Escola de Rock e pensei em usar suas atividades em prol da conscientização a respeito da doação de sangue.”
Uma das iniciativas da ONG é o Expresso do Roqueiro Sangue Bom, nome de um ônibus que, mensalmente, leva jovens para doarem sangue. “Em vez de fazer isso só quando alguém precisa, por que não fazer sempre que você pode? É de graça!”, conclama o produtor.
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Criança de 5 anos é intimada a depor no interior paulista
Uma criança de cinco anos foi intimada a depor na delegacia de Iaras (285 km de São Paulo) depois que sua professora registrou um boletim de ocorrência em que afirma ter sido mordida dentro da sala de aula. Fonte: folha.uol.com.br 27/08
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De acordo com relato da professora à polícia, ela tentou separar uma briga entre as crianças, mas acabou sendo mordida pelo aluno.
O caso ocorreu em 28 de fevereiro, mas o depoimento estava marcado para esta semana.
Segundo o delegado Jorge Cardoso de Oliveira, da Delegacia Seccional de Avaré (267 km de SP), que também responde pela delegacia de Iaras, o documento deveria ter sido feito em nome da mãe, que seria chamada para receber orientação. Segundo ele, a intimação decorreu de um erro do escrivão, e a convocação já teria sido cancelada.
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STF deverá impor veto a supersalários pagos pelo Senado
Ministros do Supremo se opõem a decisão que liberou pagamento de benefícios além do teto da Constituição
Senado exclui gratificações e horas extras de funcionários do limite legal e defende seu critério na Justiça Fonte: folha.uol.com.br 27/08
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Os ministros do Supremo Tribunal Federal acreditam que o Senado não pode pagar a seus funcionários benefícios que façam seus salários ultrapassar o teto estabelecido pela Constituição, hoje equivalente a R$ 26,7 mil.
Cinco dos nove ministros do STF em atividade disseram à Folha que os pagamentos que funcionários do Senado recebem acima do teto atualmente são indevidos.
Em maio, o Ministério Público do Distrito Federal entrou com uma ação na Justiça contra os supersalários do Senado, da Câmara dos Deputados e da União.
No entendimento da Procuradoria, gratificações e horas extras não poderiam extrapolar o teto constitucional. O Senado discorda.
Um juiz de primeira instância mandou o Senado suspender os pagamentos acima do teto, mas nesta semana o Tribunal Regional Federal da 1ª Região derrubou a decisão. Ainda cabe recurso e a questão deve chegar ao STF.
Os ministros ouvidos pela Folha, que falaram reservadamente porque deverão julgar o caso no futuro, criticaram a decisão que liberou o pagamento de comissões e gratificações além do teto.
O Supremo já tratou da questão ao julgar casos envolvendo outras carreiras do funcionalismo. O teto constitucional corresponde ao salário dos ministros do STF.
No entendimento dos ministros, o Supremo só autoriza ultrapassar o limite no caso de pagamentos indenizatórios e excepcionais. Um exemplo citado: a verba que um servidor recebe para mudar de uma cidade para outra poderia extrapolar o teto.
Apesar de não existir uma lei que defina exatamente quais verbas são consideradas "indenizatórias" e, portanto, poderiam ultrapassar o limite, o STF avalia que benefícios pagos regularmente não entram nessa lista.
No Senado, por exemplo, os funcionários somam a seus vencimentos, mensalmente, horas extras, gratificações por função comissionada e por cargo de direção. Os ministros acham que esses valores só podem ser pagos se o total de vencimentos não ultrapassar o teto.
No caso das horas extras, a avaliação dos ministros é que o Senado utiliza do mecanismo como um "penduricalho" para aumentar o rendimento de seus servidores sem reajustar seus salários.
Embora o teto do funcionalismo esteja previsto na Constituição, não há lei que se aplique a todos os benefícios pagos pelo governo.
Uma lei de 1994 define alguns pagamentos que poderiam ser pagos fora do teto, mas o texto não cobre todas as possibilidades. O CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) e o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) têm resoluções próprias sobre o tema, e divergentes.
O Senado segue uma orientação de 2005 feita pela advocacia da Casa. De acordo com os advogados do Senado, ao estabelecer que apenas servidores efetivos poderiam ocupar função comissionada, a Constituição autorizou a acumulação de cargos, e portanto o acúmulo de vencimentos fora do teto.
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