LITERATURA
-
O silêncio como força poética
-
A ausência de som permeia situações de convívio, assim como uma conversa banal em uma padaria ou fila de banco. Foi ao pensar “em quantos silêncios existem ao redor da gente”, que o escritor gaúcho Eugênio Giovenardi decidiu usar situações vivenciadas para escrever o livro Silêncio. Este é o quinto romance e o 12º livro publicado, entre estudos sobre a natureza, crônicas e poesia. Fonte: correioweb.com.br 04/08
-
A ideia surgiu enquanto ele assistia a uma cena do filme Amor sem escalas, estrelado por George Clooney, na qual há uma pausa no momento em que um dos personagens é demitido. O tema é lançado como um desafio, pois o estado de consciência humana só poderia ser alcançado a partir de uma reflexão silenciosa. Para isso, deve haver um afastamento da balbúrdia diária encontrada nas relações pessoais e no caos urbano.
Essa busca pela quietude não é algo perseguido só pelo protagonista do livro, Pedro Montenor. Ela tem origem na própria vida de Giovenardi, que prefere se refugiar em um sítio afastado da cidade, onde pode ouvir o barulho do vento e das árvores.
-
Caminhadas
Morador de Brasília há quase 40 anos, ele escolheu as quadras da Asa Sul, onde costuma caminhar, como ambiente e se inspirou em amigos próximos para criar as personagens, pois acredita que o escritor só pode falar daquilo que viveu.
No entanto, o livro não chega a ser autobiográfico, é uma transferência de experiências de vida, que ocorre com naturalidade, destaca ele.
As reflexões de Montenor nos mostram a ode do livro: elucidar a presença do silêncio na vida de todos. Cada personalidade usa o “silenciar” de maneiras diferentes, com aversão como o personagem Leônidas ou com deslumbre e encantamento, caso de Montenor.
Para Eugênio Giovenardi, vale a pena se entregar ao silêncio, pois assim se alcança a autocompreensão e o “esvaziamento” de medos, de fetiches e de tabus. Ao longo do romance é possível perceber a busca pela vivência harmônica com este estado de espírito.
-
>>>
-
O caldeirão musical de Gadelha
-
O compositor e cantor Afonso Gadelha lança hoje, às 21h, no Teatro Garagem (Sesc, 913 Sul; 3445-4400), o quarto disco da carreira, Pra nunca mais esquecer. Nesse trabalho, ele faz uma brincadeira com vários ritmos musicais, como baião, valsa, fado e funk, em parceria com Wagner Malta, amigo de longa data. “Em uma música, fizemos uma homenagem aos 20 anos da morte de Luiz Gonzaga. Os arranjos são do brasiliense Daniel Sobreira, que misturou ritmos bem brasileiros com outros internacionais”, afirma. Fonte: correioweb.com.br 04/08
Paraibano, Gadelha entrou no mundo da música aos 4 anos de idade. “Sou irmão de Glória Gadelha, que foi casada com Sivuca. Fui morar no Rio, em 1979, quando comecei a trabalhar com ele. Depois vim estudar na Escola de Música de Brasília”, conta. Os 30 anos de dedicação à carreira resultaram em diversas composições gravadas por artistas como Pepeu Gomes, Quarteto em Cy e Elba Ramalho. Os ingressos para o show custam R$ 20 e R$ 10 (meia). Classificação indicativa livre.
-
>>>
-
LEGISLATIVO
-
Correção na tabela do IR é aprovada no Senado
Apesar de ser considerado defasado pela oposição, índice fica estipulado em 4,5%. Reajuste ocorrerá anualmente até 2014 Fonte: correioweb.com.br 04/08
-
Na primeira votação de medidas provisórias após o recesso parlamentar, o Senado aprovou ontem o índice de 4,5% para a correção da tabela do Imposto de Renda (IR) até 2014. As declarações entregues no próximo ano serão calculadas com base nesse novo percentual. Com a correção, a faixa de isenção do IR sobe dos atuais R$ 1.499 para R$ 1.566. De acordo com a nova tabela, trabalhadores com rendimentos superiores a R$ 3.911,64 serão tributados com a alíquota de 27,5%. O texto da medida provisória (MP) também prorroga os benefícios da dedução de investimentos sociais com empregados domésticos até 2014 (leia mais na página 17).
Parlamentares da oposição usaram a tribuna para criticar o índice de correção e o rito de tramitação das MPs. A proposta de modificação da tabela chegou à Câmara em 25 de março e só ontem foi para a pauta do Senado. O senador Randolfe Rodrigues (PSol-AP) apresentou emenda alterando o patamar de isenção de R$ 1.566,61 para R$ 2.311, mas a proposta foi rejeitada.
O parlamentar argumentou que considera uma distorção um trabalhador que ganha menos de R$ 4 mil e um empresário serem tributados pela mesma alíquota: 27,5%.
“Não é justo um sistema tributário no qual o proprietário de uma megaempresa multinacional, o dono de um conglomerado financeiro, é tributado da mesma forma e na mesma alíquota que um professor.”
O senador José Agripino (DEM-RN) ressaltou que o partido defendeu o percentual de 5,91%, calculado pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2010, para a correção da tabela, mas, apesar de a taxa apresentada pelo governo ser de 4,5%, ele apoiaria a MP. “Vou votar a favor dessa medida provisória por uma razão óbvia: ela traz uma coisa positiva para o contribuinte, que é a correção da tabela do Imposto de Renda. As pessoas que pagam mais imposto vão voltar para o critério da Justiça”, justificou Agripino.
O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), comentou que representantes do movimento sindical pressionaram para aumentar o índice de correção, mas atribuiu a defasagem da tabela ao governo do PSDB, na gestão de Fernando Henrique Cardoso. “De 1996 a 2002, não houve nenhuma correção na tabela. Em 2002, o Congresso resolveu estabelecer uma correção e o presidente Fernando Henrique Cardoso a vetou. Então, creio que falta autoridade política àqueles que fazem hoje esse questionamento”, criticou.
-
>>>
-
ANISTIA
Padre foi raptado na Argentina
Religioso indenizado pelo Brasil teria sido, na verdade, sequestrado por militares argentinos Fonte: correioweb.com.br 04/08
-
O Ministério Público Federal no Rio Grande do Sul não encontrou indícios da presença de agentes brasileiros no sequestro do padre argentino Jorge Oscar Adur, em junho de 1980. Ele foi tirado de um ônibus quando viajava de Buenos Aires para o Rio de Janeiro, mas seu rapto teria ocorrido dentro de seu país. O caso está sendo investigado desde o ano passado pelo MPF e a Polícia Federal. A família de Adur chegou a receber uma indenização do governo brasileiro por causa de seu desaparecimento. Agora, a PF e procuradores tentam saber se o ítalo-argentino Lorenzo Ismael Vinãs, que também fora sequestrado na mesma época, estava no Brasil ou do outro lado da fronteira. Ele também foi considerado desaparecido político pelo Brasil e seus parentes receberam reparação econômica.
Em uma primeira investigação realizada no ano passado sobre a Operação Condor, a Polícia Federal não encontrou indícios da presença de agentes brasileiros no sequestro dos dois estrangeiros. Mesmo assim, o procurador da República em Uruguaiana, Ivan Cláudio Marx, decidiu prosseguir na apuração e foi à Argentina em busca de documentos e de prováveis testemunhas que teriam presenciado a retirada de Adur de um ônibus que o conduzia de seu país ao Rio de Janeiro, onde participaria de uma solenidade da visita do Papa João Paulo II ao Brasil. “Conseguimos em San Martin a lista dos passageiros que estavam na condução e passamos a procurar as pessoas”, conta o procurador.
Com isso, Marx confirmou que o ônibus foi parado em Paso de Los Libres, ainda na Argentina, por agentes daquele país e não em território brasileiro, como se imaginava. “A nossa meta era verificar seu o padre foi sequestrado no Brasil, e agora já temos a certeza de que isso não aconteceu”, ressalta o procurador. “Não houve a participação de autoridades brasileiras”, acrescenta. Agora, segundo Marx, as investigações serão centralizadas em torno do ítalo-argentino Lorenzo Ismael Viñas, que também fora capturado supostamente por agentes da repressão que atuavam na Operação Condor.
Assim como Adur, Viñas teria sido sequestrado durante a travessia da ponte que divide Brasil e Argentina, em Uruguaiana. A suspeita é a de que ele teria sido capturado por agentes brasileiros e entregues aos órgãos de repressão do país vizinho. Porém, até agora o Ministério Público não conseguiu documentos que revelem fatos relacionados a Viñas. Ao contrário do que aconteceu em San Martin, onde foram encontradas várias testemunhas da captura do padre, a apuração não avançou. “A empresa de ônibus não tinha mais documentos da época”, observa Marx e referindo a possibilidade de comprovar se o ítalo-argentino foi preso no Brasil ou em seu país.
Os dois estrangeiros passaram a integrar a relação de 136 pessoas que foram consideradas pelo governo brasileiro como desaparecidos políticos, em 1996. Com isso, seus familiares receberam uma reparação financeira cujo valor mínimo era de R$ 100 mil. O procurador da República em Uruguaiana ressaltou que a questão da indenização não é de competência do Ministério Público, que está cuidando apenas do aspecto criminal relacionado à Operação Condor. A questão administrativa em torno do pagamento deverá ser tratada em um outro momento.
A repressão organizada
A chamada Operação Condor foi uma ação conjunta entre Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, Bolívia e Chile, que tinha como objetivo reprimir os movimentos contrários às ditaduras existentes à época. As atividades dos grupos começaram no fim dos anos de 1960 e prosseguiram até 1980, período em que o padre Jorge Oscar Adur e Lorenzo Ismael Viñas foram sequestrados. Por ter dupla nacionalidade, o caso de Viñas também está sendo investigado pela Justiça da Itália, que pediu a condenação no país de várias pessoas envolvidas com a repressão na América do Sul.
-
>>>
-
CONTARDO CALLIGARIS
-
O paradoxo de Amy Winehouse
-
Você prefere imaginar sua filha errando para sempre num shopping ou perdida numa balada perigosa? Fonte: folha.uol.com.br 04/08
-
Stéphanie, minha enteada, tem 11 anos: ainda é menina, mas é já moça. Assim que foi informada da morte de Amy Winehouse, ela veio até minha escrivaninha e, simulando o choro inconsolável de um nenê, perguntou: "Você está sabendo que morreu minha cantora preferida?".
Justamente por ela simular o choro e se esforçar para ser engraçada, pensei que devia estar sofrendo muito. A coisa se confirmou no meio da noite, quando Stéphanie acordou, e, para que reencontrasse o sono, foi preciso que alguém conversasse com ela sobre a vida e a morte de Amy.
Teria gostado de poder oferecer a Stéphanie uma boa explicação pela dureza da vida e da morte de sua cantora preferida -por exemplo, dizer que Amy teve uma infância muito triste, que nada em sua vida adulta pôde compensar; ou, então, que ela teve sorte na vida profissional, mas não no amor, e se perdeu nas drogas e no álcool por desesperos sentimentais. Mas o que sei da infância e dos amores de Amy é só fofoca.
Sem mentir nem inventar, melhor deixar Stéphanie lidar com este enigma: alguém pode ter um extraordinário talento, gostar de exercê-lo, alcançar sucesso e reconhecimento, amar e ser amado por um ou mais parceiros e, mesmo assim, esbarrar num vazio que nada consegue preencher.
Stéphanie também tinha lido sobre a maldição dos 27 anos, que, antes de Amy, teria pego Janis Joplin, Jimi Hendrix, Jim Morrison, Kurt Cobain etc. Como é normal na sua idade, ela parecia sensível à "glória" de morrer jovem (ou talvez de não viver até se tornar tão chato quanto os adultos).
Foi fácil desvalorizar a morte precoce mostrando que ela é, justamente, um ideal muito antigo: o rock apenas retomou o lugar comum romântico do poeta que vive tão intensamente que, como Ícaro, queima suas asas e cai antes da hora, em pleno voo. Em suma, eu não tenho nada contra viver intensamente; ao contrário, artista ou não, acho que a gente deve viver da maneira mais intensa que der. Mas resta o seguinte: a ideia de que viver intensamente consistiria, por exemplo, em encher a cara de absinto ou ópio é velha de 200 anos.
Agora, há uma coisa que pensei e que não disse a Stéphanie: no fundo, para mim, a história de Amy tem um valor pedagógico, não só (obviamente) como exemplo dissuasivo ("Olhe o que pode lhe acontecer se você beber ou se drogar"), mas também como exemplo "positivo".
Como assim, positivo???
Concordo, a morte de Amy é um horror e uma estupidez, mas também lembra que viver é uma coisa séria, com apostas e riscos sérios, a começar pelo risco de perder a própria vida antes da hora. Você dirá: "Alguém duvida disso?". Pois é, constato que há um monte de gente tentando convencer nossas crianças de que a vida é feita de gritinhos, compras e namoricos que só servem para trocar trivialidades online com amigos e amigas.
Até a morte de Amy, eu pensava que o cantor preferido de Stéphanie fosse Justin Bieber. Ora, é possível que Bieber seja uma espécie de Dorian Gray (uma cara de porcelana que esconde dramas e anseios humanos), mas o fato é que ele promove uma imagem de bom moço num mundo intoleravelmente cor-de-rosa.
"E daí?", dirão alguns pais, "não seria esse o adolescente ideal com quem deveríamos gostar que nossas filhas saíssem, em sua primeira ida ao cinema sozinhas com um garoto?". E acrescentarão: "Você quer o quê, que sua enteada seja parecida com Justin Bieber ou com Amy Winehouse?".
Claro, é um golpe baixo: ninguém quer que sua filha acabe como Amy. Mas devolvo a pergunta: será que Justin Bieber é mesmo melhor? Stéphanie será mais protegida se ela permanecer numa pré-adolescência à la fã de Justin Bieber. Mas protegida de quê, se não da própria vida? Entre imaginá-la errando para sempre num corredor de shopping e imaginá-la numa balada que pode acabar na sarjeta à la Amy, a escolha não é fácil. E, na comparação, Amy passa a simbolizar minha esperança (e meu receio, indissociavelmente) de que Stéphanie cresça e se torne mulher, com desejos próprios, fortes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário