terça-feira, 2 de agosto de 2011

Atraso escolar

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Os avanços da educação no Brasil, em décadas recentes, têm trazido consigo resultados a um só tempo ambíguos e preocupantes. Fonte: folha.uol.com.br 01/08

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A inclusão da quase totalidade das crianças de até 14 anos no ensino fundamental (que hoje vai do 1º ao 9º ano), durante a década de 1990, por exemplo, provocou inicialmente uma inevitável queda no nível médio de aproveitamento dos alunos na rede pública.

De forma mais lenta do que seria desejável, já se constata, nos últimos anos, uma elevação no rendimento escolar dessa parcela de estudantes.

Ao que tudo indica, fenômeno análogo ocorre agora com o aumento da fração de alunos do ensino fundamental que estão fora da série adequada para a sua idade, segundo números recém-divulgados pelo governo federal.

Em condições ideais, uma criança deve ingressar na escola aos seis anos e chegar ao ensino médio aos 14. Um estudante é considerado defasado em sua trajetória escolar quando tem pelo menos três anos a mais do que o condizente com a série em que estuda, de acordo com esse critério.

Dados do Ministério da Educação mostraram que, no ano passado, a parcela de estudantes do ensino fundamental nessa situação chegou a 23,6% do total, cerca de 7 milhões de crianças e adolescentes. Em 2008, a taxa era de 22,1%.

O problema se concentra, no entanto, nos anos finais da formação fundamental, uma vez que o número de alunos que entram com atraso na primeira série desse ciclo tem diminuído.

Ou seja, cada vez mais, adolescentes e jovens que antes desistiam da escola sem conseguir chegar ao ensino médio têm preferido permanecer em sala de aula, mesmo com considerável atraso em relação a seus colegas.

Os desafios para esses estudantes são tão grandes quanto os que se impõem aos responsáveis por sua educação. Quanto maior a defasagem entre um aluno e a série em que está matriculado, maiores as chances de ele vir a desistir da educação formal.

Não à toa, as taxas de abandono no ensino médio ainda são muito altas no Brasil, ficando próximas dos 20%. Para trazê-las a níveis aceitáveis, é preciso reduzir a idade média dos alunos que chegam a essa etapa da formação escolar, diminuindo o percentual de estudantes defasados nos anos finais do ensino fundamental.

Reproduzir, entre adolescentes e jovens, o processo de inclusão que levou a quase totalidade das crianças brasileiras à escola será, portanto, ainda mais difícil. Nesse caso, a quantidade depende ainda mais estreitamente da qualidade.

Só o investimento na melhoria do ensino, com treinamento adequado dos professores e atenção especial aos alunos atrasados e repetentes, será capaz de aumentar as taxas de aprovação no ensino fundamental e mitigar as atuais distorções de aprendizagem e de trajetória escolar no Brasil.

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LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA

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O colonialismo cultural

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A formação de professores e pesquisadores no Brasil está ocorrendo conforme a agenda e os interesses dos países ricos e influentes Fonte: folha.uol.com.br 01/08

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DE QUE tipo de economistas o Brasil precisa? De economistas que pensem de acordo com os problemas e interesses nacionais ou conforme a agenda e os interesses dos ricos?

Faço essa pergunta ao verificar que hoje o padrão de qualidade do ensino e da pesquisa aceito pela "comunidade acadêmica" é definido pelas revistas estrangeiras.

Ao fazermos isso, estamos formando professores e pesquisadores alienados dos interesses nacionais, estamos praticando uma violência contra a nação brasileira.

Para que uma nação seja forte, precisa dominar a ciência e a tecnologia, o que permitiu que os primeiros países que se industrializaram se tornassem ricos e poderosos.

Para isso, países como o Brasil, cuja revolução capitalista foi retardatária, precisam contar com universidades capazes de absorver a ciência e a tecnologia estrangeiras.

Não é, porém, com esse tipo de argumentação que se pode explicar o fato de que no Qualis -o sistema de qualificação de periódicos da Capes que serve para avaliar a produção acadêmica- não haja sequer uma revista nacional de economia classificada como A.

Se a teoria econômica fosse uma ciência natural e exata como é a física, não haveria problema aí. Mas a economia é uma ciência social, é uma ciência que busca compreender como as sociedades modernas produzem e distribuem riqueza.

É uma ciência imprecisa porque os homens não são autômatos previsíveis e é sempre marcada pela ideologia, pois os interesses que envolve são muito grandes.

Pretender transformá-la em uma ciência matemática é pura arrogância, o que leva à desregulamentação dos mercados e abre espaço para baixo crescimento e crises.

A economia é uma ciência que sempre refletiu interesses nacionais. E os países ricos sempre a usaram para "empurrar a escada" dos retardatários, ou seja, para convencê-los a adotar políticas que consultam seus interesses nacionais.

Não obstante isso, os artigos publicados por pesquisadores em revistas brasileiras obtêm uma pontuação nas avaliações da Capes muito menor do que os publicados em revistas estrangeiras.

A participação das revistas nacionais na classe A é zero. O que estamos dizendo aos jovens brasileiros com essa política?

Que pautem suas pesquisas e sua forma de pensar pelos padrões dos países ricos nossos concorrentes. "Mas é mais difícil publicar em uma revista estrangeira", dizem-nos.

Claro que é em algumas revistas, mas não é esse o critério. Ao Brasil, o que interessa são economistas que saibam analisar e propor soluções para os problemas brasileiros.

Quando revelo à Capes minha indignação com o colonialismo cultural, dizem-me que estão traduzindo a visão da comunidade acadêmica.

Mas quem "consagra" tal monstruosidade é o Estado brasileiro, que existe não para traduzir, mas para afirmar valores.

Para resolver esse problema, a Capes deveria estabelecer para as ciências humanas um porcentual mínimo de periódicos nacionais A.

Não precisa ser um percentual alto como o da história. Um número em torno de 20% como é o caso da antropologia é aceitável. Inaceitável é o que ocorre na economia.

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Programas sociais viram investimento no Reino Unido

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Governo remunera investidor que coloque recursos em áreas consideradas críticas, como sistema prisional

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Projeto em andamento tem a meta de reduzir a reincidência de presos, mas modelo pode ser usado para outros fins Fonte: folha.uol.com.br 01/08

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Para atrair mais recursos privados a causas sociais, uma organização sem fins lucrativos do Reino Unido fez uma parceria com o governo para remunerar investidores.

Por meio de contratos chamados "Social Impact Bonds" (títulos de impacto social), o governo britânico se compromete a pagar, a quem investir em projetos sociais específicos, um percentual sobre o valor aplicado.

A taxa de retorno vem ao final de um determinado período e varia conforme os resultados do projeto em questão -para, por exemplo, diminuir o número de presos que, depois de libertados, voltam para a cadeia.

O dinheiro usado para remunerar os investidores é público e vem da quantia economizada pelo governo nas áreas sociais beneficiadas.

Estima-se que o poder público poupe, no caso do projeto no sistema prisional, o dobro do total que tem a pagar como retorno.

Os primeiros títulos desse tipo foram emitidos no Reino Unidos em setembro de 2010 e são referentes a um programa para, justamente, reduzir a reincidência na penitenciária HMP Peterborough.

Os idealizadores dizem que, dos 60 mil detentos que deixam o sistema prisional britânico anualmente depois de cumprir pena de menos de 12 meses, 60% retornam à cadeia em até um ano.

O projeto, considerado ainda em teste, vai acompanhar 3.000 presos que serão libertados em seis anos. O primeiro pagamento de dividendos está programado para 2014 e outros dois virão.

A estimativa é que, se o programa for bem-sucedido e reduzir em pelo menos 10% o número de reincidentes, o ganho sobre o investimento seja de cerca de 7,5% ao ano.

Para alcançar a meta, o projeto prevê uma assistência ao preso que começa dentro da cadeia e continua fora dela, para ajudá-lo a se reinserir na sociedade.

"No Reino Unido, os detentos têm pouquíssimo apoio para isso. Muitas vezes, precisam de ajuda para voltar para suas famílias [muitos vêm do leste europeu] ou para encontrar emprego", diz David Hutchison, presidente-executivo da Social Finance, criadora do projeto.

DIVERSAS ÁREAS

Embora os primeiros títulos sociais ingleses estejam relacionados ao sistema prisional, o mecanismo pode ser aplicado a qualquer área social "crítica", como dependência de drogas e gravidez na adolescência.

"Queremos identificar problemas sociais e explorar intervenções eficazes, e o modelo de metas ajuda", afirma Hutchison, egresso do mercado financeiro.

Hoje, o projeto tem 17 investidores -a maioria fundações britânicas, mas também dois investidores dos EUA-, com aplicação total de £ 5 milhões.

Um deles é James Perry, dono da empresa de alimentação Cook e membro da instituição filantrópica Panahpur, que investiu £ 100 mil.

"Como investidores sociais, assumimos o risco na esperança de obter tanto retornos sociais quanto financeiros", diz Perry. "É uma nova forma de conseguirmos uma mudança social positiva quando as limitações da caridade e da intervenção governamental são tão óbvias."

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Editora lança peças de teatro inéditas em livro

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Coleção idealizada por casa recém-criada registra nova dramaturgia do país

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Autores como Mário Bortolotto, Roberto Alvim, Hugo Possolo e Rafael Primot ganham espaço em livrarias Fonte: folha.uol.com.br 01/08

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A publicação de "O Livro dos Monstros Guardados", de Rafael Primot, marca o lançamento de uma editora voltada para o universo artístico, a Terceira Margem Artes.

O texto, que permanecia inédito em livros, ganhou adaptação teatral que rendeu a seu criador o Prêmio Shell de melhor autor de 2009. É publicado agora na íntegra, com seus 11 monólogos originais -Zé Henrique de Paula, diretor da montagem, havia encenado só cinco deles.

A primeira preocupação do idealizador da editora, o ex-crítico de teatro da Folha Sérgio Salvia Coelho, é apresentar autores inéditos em livros.

Para Coelho, a demanda é vasta. "Existem muitos dramaturgos que acabam sobrando ao passar pelos filtros de grandes editoras", diz.

Ele prevê uma tiragem de 500 exemplares por edição, além do lançamento dos livros em versão digital, no site da editora (terceiramargemartes.com.br).

"O ideal seria que todo ator encenado tivesse seu livro no saguão do teatro para vender", fala ele, que também tem planos de publicar roteiros cinematográficos e estudos artísticos.

PRIMEIRAS OBRAS

Considerado padrinho de grande parte dos novos dramaturgos paulistas, o ator e fundador do grupo Os Satyros Ivam Cabral prepara para novembro, no evento Satyrianas, o lançamento da segunda edição da coleção Primeiras Obras.

Composta por nove livros individuais e um coletivo, a publicação documenta a produção de autores que são velhos conhecidos da praça Roosevelt, mas permanecem inéditos fora dos palcos, como Francisco Carlos, Lucas Arantes e Ruy Filho.

Roberto Alvim, Rodolfo García Vázquez, Hugo Possolo e Mário Bortolotto são alguns dos dramaturgos e diretores contemplados na edição. Eles têm sólida trajetória nos palcos, mas são raridade nas livrarias do país.

O LIVRO DOS MONSTROS GUARDADOS

AUTOR Rafael Primot

EDITORA Terceira Margem Artes

QUANTO R$ 30 (80 págs.)

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