quarta-feira, 3 de agosto de 2011

LIVRO

Tesouro em Movimento

Semanário que circulou entre 1975 e 1981, desafiando a ditadura militar, tem história traçada em livro-reportagem com DVD que contém todas as 334 edições Fonte: correioweb.com.br 03/08

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Coube a Aguinaldo Silva contar, a um país amordaçado pela ditadura, o dilema dos brasileiros cariocas e suburbanos que acordavam às 4h da madrugada para tentar chegar à Central do Brasil, espremidos como bagagens em vagões destroçados pela falta de manutenção e, é bom dizer, de violação à cidadania. De tempos em tempos, quando algum ser humano despencava e se estatelava no meio dos trilhos, os passageiros eram obrigados a desocupar os vagões e pagar outra passagem. Aí, eclodia um quebra-quebra, quase uma revolta popular. Isso num período em que a população brasileira era tratada como uma “carneirada” pelo poderio militar, que se mantinha no comando da nação havia 11 anos, armado até os fios do cabelo.

A história publicada em 7 de julho de 1975 foi estampada na capa do jornal Movimento. Chegou às bancas esquartejada pela censura prévia, mas estava ali diante de 21 mil leitores que a levaram para casa e a consumiram como se estivessem diante de um oásis. Afinal, aquele Brasil era um país fantasioso, que “crescia” sob a falácia de milagre econômico e estava prestes a entrar num colapso financeiro.

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Quem leu Movimento nº 1 não pôde imaginar o tamanho da batalha que foi travada para aquela edição chegar às suas mãos. Na semana do lançamento, os editores e a equipe se revezaram entre a redação, a sede da Polícia Federal e as oficinas. O esforço para suprir os buracos da tesoura não foi pequeno. Os censores vetaram nada menos que quatro propostas de capas do jornal, além de 18 matérias inteiras, oito fotografias, 10 ilustrações e 12 charges, conta Carlos Azevedo, no livro Jornal Movimento, uma reportagem (Manifesto Editora).

A obra será lançada hoje, às 19h, no Sebinho (406 Norte). Com o precioso livro de resgate da história do semanário Movimento (1975 — 1981), que tem reportagem de Marina Amaral e Natalia Viana, há um tesouro anexo: um DVD com todas as 334 edições do periódico, incluindo as que foram totalmente proibidas. O projeto de financiamento é da Petrobras. Está lá, por exemplo, a histórica edição nº154, de 12 de junho de 1978, que anuncia o fim da censura prévia ao jornal. A capa sobre a morte de Vladimir Herzog, que tinha um lindo desenho de Elifas Andreato, era finalmente publicada, três anos depois de ser vetada.

— Movimento não podia dar uma só linha sobre a morte do jornalista Vladimir (Vlado) Herzog, da TV Cultura, no Doi-Codi, em 25 de outubro de 1975. E até o fim da censura, em junho de 1978, o jornal nunca pôde se referir a Vlado (…) Movimento não pôde publicar nada, mas os membros da equipe participaram ativamente das manifestações, convocando as pessoas a comparecerem ao sindicato dos jornalistas, de onde iriam se originar os protestos, destaca o autor.

Conselho de notáveis

Carlos Azevedo está no núcleo fundador de Movimento. O expediente do número inaugural mostra uma redação de sonhos. Raimundo Pereira era o editor-chefe e, no conselho editorial, conviviam os notáveis Chico Buarque de Holanda, Fernando Henrique Cardoso, Hermilo Borba Filho e Orlando Villa-Boas. Na criação de textos e arte, estavam Aguinaldo Silva, Elifas Andreato, Fernando Peixoto (cultura), Bernardo Kucinski. Jean Claude Bernardet escrevia sobre cinema e José Miguel Wisnik era um dos editores assistentes.

— O jornal foi utilizado como instrumento de debate pelo movimento estudantil, pelos intelectuais de oposição e movimentos populares, nos vários estados. Dessa mobilização, surgiriam as sucursais e uma rede de distribuição do jornal em todo o país. O núcleo central das atividades do jornal sempre foi São Paulo, destaca Carlos Azevedo.

Os movimentos sociais, que reacendiam a partir das mortes de Vlado e do operário Manoel Fiel Filho nos porões da ditadura, articulavam-se em torno de Movimento, numa rede de cooperação e apoio, como a oposição sindical metalúrgica e as Comunidades Eclesiais de Base.

— Eu via que o jornal estava se constituindo como um instrumento muito bom no interior do país (…) Tanto que se você olhar, quase todas as pessoas que fundaram o PT, os deputados, todo esse pessoal era gente do jornal Movimento, que ajudou a criar lideranças, não tenho dúvidas disso. E são centenas, destaca o repórter Murilo Carvalho.

Movimento acabou mergulhado numa grave crise financeira, de identidade política numa confusa época de transição e abatido por conta do terrorismo de direita que acometeu o país entre 1980 e 1981, com bancas de jornais sendo alvo de explosões e ameaças de atentados. A última edição está agora a alcance de todos e a história mostra que o fim foi realmente aparente. Movimento está na base da luta pela redemocratização do Brasil.

JORNAL MOVIMENTO, UMA REPORTAGEM

De Carlos Azevedo, com reportagem de Marina Amaral e Natalia Viana. Manifesto Editora. Patrocínio Petrobras, 336 páginas. Acompanha DVD com as 334 edições do jornal. Preço: R$ 59. Lançamento, hoje, às 19h, no Sebinho (406 Norte).

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FOTOGRAFIA

Natureza intocada Fonte: correioweb.com.br 03/08

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Um alerta de preservação da natureza é tema da exposição Antes que a natureza acabe, composta por 30 fotos dos profissionais da Associação de Fotógrafos da Natureza. Trabalhos de 26 fotógrafos dedicados a clicar a fauna e a flora brasileira de regiões tão distantes como o Norte ou o Sudeste foram incluídos na mostra, que faz parte da programação do Mês da Fotografia, realizado nas unidades do Sesc da 504 Sul, de Ceilândia e do Gama até o fim de agosto.

“No primeiro momento, nós pensamos em fazer uma exposição apresentando a degradação. Mas depois pensamos melhor. A imprensa já faz isso abundantemente. Daí chegamos à conclusão de que era melhor mostrar a natureza exuberante do jeito que ela é. São poses da natureza pura, intocada. Tem apenas uma foto em que o homem aparece, numa foto submersa com um mergulhador. Para que as pessoas se sintam mexidas com isso e sintam o desejo de preservá-la”, acredita o presidente da associação, José Caldas.

Além de exposições, a programação traz palestras e oficinas relacionadas à fotografia. Caldas estará na cidade hoje para uma palestra sobre o ofício, às 20h, na 504 Sul. “Existe essa ideia de que as fotos de natureza têm de ser tiradas apenas de manhã ou de tardezinha. Nem sempre é assim, as coisas acontecem o tempo inteiro. Existem algumas espécies que só podem ser vistas à noite, por exemplo. Então, o profissional deve de sair de madrugada e carregar luz para conseguir o clique. Em qualquer lugar do mundo, esta é uma profissão muito específica”, ensina.

Segundo o coordenador do evento, o fotojornalista Eraldo Peres, três eixos principais guiam a trajetória deste mês de celebração à foto. “Queríamos descentralizar a fotografia do centro da cidade (Plano Piloto), onde normalmente já funcionam as galerias e os museus. Depois, queríamos lidar com a educação e a possibilidade de ação social para essas comunidades por meio da fotografia. Por fim, discutir a foto como método de expressão artística”, define Peres.

Pinhole gigante

Em Ceilândia, Anderson Schneider apresenta a exposição Jericos, e Arthur Monteiro e Isabela Lyrio, Cenas urbanas. Ali, o foco está no homem em grandes cidades ou como parte de ambientes inóspitos. No dia 12, às 20h, Schneider ministra uma palestra no mesmo lugar onde estão expostas as fotos de sua autoria. Relíquias escondidas embaixo das águas do Lago Paranoá estão em Brasília submersa, de Beto Barata, também expostas em Ceilândia. No Gama, haverá uma participação portenha. O Foto Club Buenos Aires coloca a musicalidade em primeiro plano em Tango.

Uma das novidades da programação é o uso de um pinhole gigante (máquina fotográfica artesanal feita geralmente com latinha e papel fotográfico) para que os visitantes possam entender como funciona uma máquina do lado de dentro do mecanismo. O aparato segue processo analógico e serve como exemplo de como eram feitas as máquinas desde os primórdios da fotografia. “Num mundo tão midiático e tão digital, em que as câmeras estão presentes o tempo todo, é legal despertar o interesse pelo método artesanal e lúdico”, acredita Peres. O pinhole será apresentando em todos os Sesc, começando por Ceilândia.

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Outro curso que está na programação coloca a fotografia — uma arte essencialmente industrial — no nível mais democrático possível. No curso de câmeras artesanais, ministrado pelo fotógrafo paraense Dirceu Maués, a ideia é construir máquinas fotográficas feitas com caixinhas de fósforos.

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Mês da Fotografia — Arte, Cultura e Ação Social

Até 31 de agosto, nas unidades do Sesc da 504 Sul, do Gama e de Ceilândia, das 9h às 20h. Exposições, palestras, workshops e oficinas de fotografia. As inscrições para cursos devem ser feitas nas unidades do Sesc em que serão realizadas as atividades. Entrada franca. Classificação indicativa livre.

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POLÊMICA

Alforria ou desamparo?

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Queda da obrigatoriedade do registro na Ordem dos Músicos do Brasil pelo STF divide as opiniões dos profissionais da área. Uma parte comemora e outra teme pela desproteção da categoria Fonte: correioweb.com.br 03/08

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Adecisão do Supremo Tribunal Federal (STF) garante que a atividade profissional de músico não necessita de registro na Ordem dos Músicos do Brasil (OMB), instituição que representa a categoria. A sentença abre espaço para que os artistas atuem sem vinculação ao órgão.

O julgamento do STF de anteontem favoreceu o recurso de um artista de Santa Catarina que foi à Justiça em defesa do exercício da profissão sem filiação obrigatória à Ordem. Na classe artística, prevalecem opiniões divididas: uns aprovam a solução dos magistrados da Corte, enquanto outros, temendo o fim da Ordem, preocupam-se com a desproteção legal dos colegas.

Cantor, gaitista e produtor, Engels Espíritos, que encabeça o Movimento pela Valorização do Músico (musicoatitude.com.br) no Distrito Federal, celebra a determinação do Supremo. “Foi uma grande vitória para os músicos de todo o país, que sofreram, durante os 50 anos de existência da Ordem, os desmandos e o autoritarismo de um órgão que só teve uma função: ser um fiscalizador em causa própria, para punir e perseguir os músicos, arrecadando nossas anuidades e taxas sem transparência, sem trazer nenhum benefício à classe”, declara. Para ele, a profissão não necessita de uma instituição que a represente. “Precisamos, na verdade, é de um sindicato forte, que lute pelos nossos direitos e conquiste benefícios. Não vejo nenhum lado negativo na desativação da Ordem no Brasil, porque não precisamos dela”, recomenda.

Ele também considera obsoleta a Lei nº 3.857, de 22 de dezembro de 1960, que permitiu a criação da OMB. “É antiga e tem artigos ultrapassados, anacrônicos e autoritários, que não foram revisados pela Constituição Federal de 1988. A Ordem não sofreu nenhuma evolução representativa ou relevante, tanto do ponto de vista administrativo quando em termos de conquistas para os filiados”, critica.

O compositor piauiense Clodo Ferreira acredita que a decisão do STF foi acertada, pois exigirá da Ordem um posicionamento maior. “Acho que é uma oportunidade de a Ordem se colocar com mais clareza. Se a Ordem não é o local onde os músicos vão procurar obrigatoriamente, cabe a ela procurar os músicos, pois agora é o local que eles vão procurar apoio. A não obrigatoriedade faz com que a Ordem reveja o seu papel e passe a ter a função de agregar os músicos em vários aspectos, não só no controle. É uma repercussão imediata”, analisa.

Atuação ambígua

Pedro Vasconcellos, cavaquinista, acredita que a resolução revela o desempenho irregular da OMB. “Sou a favor que haja uma reforma e que a Ordem possa atuar de maneira mais eficiente na regulamentação e na valorização do músico. Essa decisão foi uma consequência, porque nunca vi ela fazer muita coisa pelos músicos. E, ao mesmo tempo, acho que a extinção do órgão pode acarretar num problema de valorização social da profissão, já que a gente precisa de alguém que responda por questões legais, que consiga dialogar por nós politicamente”, observa o instrumentista.

Ele também não concorda com os critérios de filiação da instituição. “Por exemplo, um sambista do Rio de Janeiro que veio do morro, que compõe e toca de maneira informal, com um aprendizado mais natural; ele, de repente, não teria capacidade de passar na prova, nem de conseguir arcar com a anuidade da Ordem. Mas é qualificado. A nossa profissão não é uma ciência exata”, destaca.

Ex-conselheiro da OMB-DF e ex-integrante do Sindicato dos Músicos do DF, o músico Jaime Ernest Dias considera que o credenciamento à instituição é fundamental e que, apesar das denúncias, ela ajuda a compor a identidade da classe. “A Ordem regulamenta a profissão, e isso é uma coisa legal para efeitos de fiscalização. Algumas pessoas dizem que, como se trata de uma manifestação artística, o registro não é necessário. Concordo em parte. Mas a regulamentação garante o reconhecimento profissional. Não acho que seja uma coisa que a gente deva comemorar”, alerta.

Procurado pela equipe de reportagem do Correio, o escritório da OMB-DF, presidido por Sidney Teixeira, alegou falta de espaço em agenda para comentar a resolução do Supremo.

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