quinta-feira, 28 de julho de 2011

RESUMO SOBRE VIDAS SECA (Graciliano Ramos)

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http://praticandoaleitura.blogspot.com/

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O LIVRO VIDAS SECAS DE GRACILIANO RAMOS CONTA A HISTÓRIA DE UMA FAMÍLIA DE RETIRANTES: FABIANO, SINHÁ VITÓRIA E SEUS DOIS FILHOS. AH, E A TÃO ESTIMADA CACHORRA BALEIA. SAÍRAM DA CAATINGA FUGINDO DA SECA E ATRAVESSARAM O SERTÃO PERNAMBUCANO COM A ESPERANÇA DE ENCONTRAR UM LUGAR MELHOR PARA VIVER. NÃO QUERIAM MORRER DE FOME. ATÉ QUE NA DURA TRAVESSIA ENCONTRARAM UMA FAZENDA VELHA ABANDONADA. INSTALAM-SE NELA E POR UM INSTANTE FABIANO SENTE-SE NUM PARAÍSO. SONHA QUE DIAS MELHORES VIRÃO.

FABIANO ESTAVA RADIANTE, AFINAL ESTAVAM VIVOS, E ISSO ERA TUDO. CUIDOU DOS POUCOS ANIMAIS QUE RESTAVAM VIVOS NA FAZENDA, SE DAVA MUITO BEM COM OS BICHOS E SENTIA-SE COMO UM DELES.

O DONO DA FAZENDA FINALMENTE REAPARECEU E QUAL NÃO FOI SUA SURPRESA AO VER QUE SUA FAZENDA ESTAVA EM MÃOS ALHEIAS. CONTUDO GOSTOU DO FATO DE QUE ESTAVA SENDO CUIDADA POR FABIANO. E DEU-LHE O CARGO DE CAPATAZ. ELE FICOU FELIZ, POIS ATÉ DINHEIRO GANHARIA!

FABIANO ERA MESMO UM HOMEM DE POUCA SORTE. CERTA FEITA, PRECISOU IR À CIDADE FAZER COMPRAS, BEBE UMA PINGA E É CONVIDADO PARA UM JOGO DE CARTAS PELO”SOLDADO AMARELO”. AMBOS PERDEM DINHEIRO. COM ISSO FABIANO DECIDE IR EMBORA, MAS O SOLDADO O PROVOCA, PISANDO EM SEUS PÉS. FABIANO SOLTA UM PALAVRÃO, O QUE O FAZ SER PRESO E SURRADO HUMILHANTEMENTE. NA CADEIA, A REVOLTA E O DESALENTO LHE CONSOMEM.

SUA MULHER AO SABER DISSO CAI NA DESILUSÃO, AO PERCEBER QUE OS SEUS SONHOS NUNCA SE CONCRETIZARÃO E QUE A MISÉRIA SÓ PIORA A CADA DIA.

O MENINO MAIS NOVO, QUE GOSTAVA MUITO DO PAI, AINDA ALIMENTAVA O DESEJO DE SER COMO ELE, O DE SER VAQUEIRO. JÁ O MAIS VELHO, VIA O SOFRIMENTO DE SUA MÃE E AQUILO O ANGUSTIAVA TERRIVELMENTE.

COM A CHEGADA DO INVERNO, AQUELA POBRE FAMÍLIA ALEGROU-SE, POR QUE AS CHUVAS CAÍRAM NAQUELE CASTIGADO SERTÃO. AS ESPERANÇAS VOLTARAM. PODIAM SER FELIZES!

NESSE CLIMA DE BONANÇA, ATÉ O NATAL COMEMORARAM. USANDO ROUPAS E SAPATOS NOVOS, SENTIAM-SE MAL. PARECIA NÃO TEREM SIDO FEITOS PARA A CIVILIZAÇÃO. SINHÁ VITÓRIA MANTEVE-SE NA IGREJA E CONSEGUIA DISFARÇAR, MAS FABIANO SAIU DO RECINTO, TAL FOI O INCOMÔDO. FOI ATÉ A BODEGA, BEBEU, QUIS BRIGAR COM TODO MUNDO, MAS NINGUÉM LHE DEU ATENÇÃO. PARECIA NEM EXISTIR. VOLTOU MAIS UMA VEZ HUMILHADO PARA SUPORTAR AQUELE DESCONSOLO DE FESTA.

LOGO DEPOIS DESSE EPISÓDIO, A CACHORRA BALEIA ADOECE A FABIANO A SACRIFICA, TEMENDO QUE SOFRA DE HIDROFOBIA E PASSE O MAL PARA OS MENINOS. SINHÁ VITÓRIA RELUTOU NÃO QUERIA PERDER SUA CADELA. OS MENINOS FORAM LEVADOS PARA O QUARTO. A CACHORRA QUIS FUGIR DA MORTE, CORREU O MAIS QUE PÔDE, MAS JÁ ESTAVA FERIDA, PENSOU EM MORDÊ-LO ,MAS COMO PODIA CONTRARIÁ-LO, SEMPRE FORA OBEDIENTE AO SEU DONO, COMO UMA ESPÉCIE DE ALUCINAÇÃO “PENSOU” NOS SEUS ÚLTIMOS DESEJOS E NÃO MAIS VIVEU.

COMO SE NÃO BASTASSE ESSA TRISTEZA, FABIANO É LESADO PELO SEU PATRÃO, NO RECEBIMENTO DO PAGAMENTO. E APESAR DE AS CONTAS DO PATRÃO NÃO COINCIDIREM COM AS DE SINHÁ VITÓRIA, NÃO SE DEFENDE. AO CONTRÁRIO, HUMILHA-SE E PEDE DESCULPA AO PATRÃO.

FABIANO ERA UM HOMEM SUBSERVIENTE POR NATUREZA. TIVERA A CHANCE DE VINGAR-SE DO SOLDADO AMARELO, MAS NÃO O FEZ. O REEENCONTRA DEPOIS DE UM ANO DA INJUSTA PRISÃO. ELE ESTAVA PERDIDO NA CAATINGA, E EMBORA QUISESSE VINGANÇA, ACABA CURVANDO-SE E ENSINANDO O CAMINHO AO SOLDADO.

OUTRO PERÍODO DE SECA SE APROXIMAVA, E ELES PRECISAVAM PARTIR MAIS UMA VEZ. ARRUMAM AS COISAS E VÃO PARA O SUL, CUMPRIR A TRISTE SINA!

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Show no Central Park leva brasileiros ao palco e à plateia

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Evento promove shows de artistas nacionais em diferentes pontos da cidade até sábado Fonte: folha.uol.com.br 27/07

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O palco era nova-iorquino dos mais tradicionais, mas o som era brasileiro . Na plateia e até mesmo nos cartazes predominava o português.

Foi no Central Park, com Marcelo D2, Pitty e DJ Nuts, no domingo passado, que teve início o primeiro Brazil Summerfest, festival de música brasileira que acontece em Nova York até sábado.

Apesar do cenário, a maior parte do público era mesmo de brasileiros, muitos deles de férias na cidade, aproveitando o real valorizado.

Um outro sinal do predomínio brasileiro é que os cartazes que pediam contribuição para o show (a entrada para a apresentação foi gratuita) estavam todos escritos em português.

Em uma tarde de mais de 30°C acompanhada de leve chuva, o show de Marcelo D2, que encerrou o primeiro dia do festival, foi marcado pela sua mistura de samba com hip-hop e pela plateia cantando várias de suas músicas.

Ele ainda trouxe ao palco para cantar em dueto duas de suas músicas Bebel Gilberto, com quem ele volta se apresentar em Nova York na semana que vem.

Os shows do dia de abertura são os únicos do festival a acontecerem no palco do Central Park.

As demais atrações (entre elas Brothers of Brazil, Percussivo Mundo Novo e Davi Vieira) se apresentam em outros palcos da cidade. Além do festival, vários músicos brasileiros, como Tom Zé, Milton Nascimento e Diogo Nogueira, fizeram shows em Nova York nas últimas semanas.

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O islamofóbico Breivik odeia... noruegueses

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ARLENE E. CLEMESHA

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O discurso racial, seja ele antissemita ou islamofóbico, possui relação mais estreita com o grupo que o professa do que com a sua vítima Fonte: folha.uol.com.br 27/07

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Algumas horas antes de realizar os ataques que massacraram pelo menos 93 pessoas na Noruega, Anders Behring Breivik, 32, publicou um horripilante manifesto anti-islâmico de 1.500 páginas.

Intitulado "2083 - Uma Declaração de Independência da Europa", o documento transborda de ódio e denuncia a "islamização da Europa Ocidental". Mas os alvos do ataque cuidadosamente selecionados foram edifícios do governo trabalhista e um grupo de jovens noruegueses da mesma filiação partidária.

No dia 11 de junho, o terrorista Anders registrou em seu diário: "Rezei pela primeira vez em muito tempo. Expliquei a Deus que, a não ser que ele quisesse que a aliança marxista-islâmica e a tomada islâmica da Europa aniquilassem completamente a Cristandade Europeia nos próximos cem anos, Ele deveria assegurar a vitória dos guerreiros pela preservação da Cristandade Europeia".

O que seria a "aliança marxista-islâmica" senão a fantasia criada para tentar incitar medo na população em um contexto de crise, recessão e perda de empregos, principalmente entre a classe média?

Uma comparação histórica é tão reveladora quanto alarmante. Se substituirmos a expressão fantasiosa da "aliança marxista-islâmica" pela velha expressão igualmente imaginativa de "aliança marxista-judaica", teríamos a impressão de estar revivendo os anos 1930, quando o nazismo culpava os judeus de se aliarem ao marxismo para tentar dominar a Europa e o mundo.

Ao mesmo tempo, acusavam os judeus de manipularem o grande capital especulador e não produtivo, não obstante a clara contradição de discurso e o fato de os judeus simplesmente não controlarem nem o capital bancário mundial nem o marxismo internacional.

Outro paralelo importante de se notar é que tanto o ódio anti-islâmico contemporâneo como o antijudaísmo nazista prescindem de um grande número de judeus ou de islâmicos para se manifestar.

De fato, na Alemanha, Hitler construiu todo seu discurso sobre o "perigo que os judeus representavam à raça ariana" na quase ausência de judeus, que somavam 0,75% da população daquele país. Os milhões de judeus que o nazismo encarcerou e aniquilou, junto com vários outros grupos minoritários, eram cidadãos dos países invadidos da Europa Oriental.

Da mesma forma, o Partido Progressista populista e de extrema-direita ao qual Breivik pertence critica enfaticamente a política de aceitação e de integração de imigrantes da Noruega. Mas as estatísticas do governo indicam que os oriundos de países islâmicos representam grupo mínimo, isto é, aproximadamente 0,87% da população do pequeno país nórdico. Cerca de 65% dos imigrantes na Noruega são europeus, a maioria poloneses.

Para se ter uma ideia, em janeiro de 2010 a população da Noruega somava 4,86 milhões de habitantes, dos quais 334 mil eram estrangeiros. Desses, 42.410 vinham de países islâmicos na Ásia e na África, além da Turquia. O relatório do governo afirma que "a porção de residentes oriundos de países asiáticos [incluindo a maioria dos países islâmicos] está decrescendo gradualmente há vários anos".

Quer dizer, o discurso racial, seja ele antissemita ou islamofóbico, possui uma relação mais estreita com o grupo que o professa do que com a sua vítima.

Chega, em alguns casos, a prescindir da vítima, sendo capaz de criá-la à sua conveniência como a imagem oposta de tudo aquilo que ele mesmo deseja ser, o espelho invertido da fantasia de si mesmo. É claramente no racista que devemos buscar a explicação do racismo.

A imagem que ele faz do suposto "perigo islâmico" cumpre função central ao transformar os imigrantes islâmicos em bodes expiatórios dos males europeus, com o desemprego encabeçando a longa lista.

ARLENE E. CLEMESHA é professora de história e cultura árabe na USP e diretora do Centro de Estudos Árabes da mesma universidade.

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TEATRO

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Poesia para os bebês Fonte: correioweb.com.br 28/07

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O olhar deslumbrado de quem vê as coisas pela primeira vez se perde com o avanço da idade e a repetição dos dias. Aqueles que transformam o ordinário em insólito e habitam o desconhecido sem medo de serem julgados como ignorantes são contemplados por um projeto inédito no Brasil. “É como conhecer o mar”, sintetiza uma das curadoras da mostra Primeiro Teatro: Ciclo Internacional de Teatro para Bebês, a atriz Sandra Vargas. A programação reúne artistas de quatro países (Brasil, França, Espanha e Itália) e ocorre simultaneamente em Brasília e no Rio de Janeiro. Ao todo serão 64 apresentações, além de uma palestra e uma oficina, que têm por objetivo incentivar a relação das crianças entre seis meses e três anos de idade com a arte, partindo do pressuposto de que a capacidade poética nasce com o ser humano.

Integrante do grupo paulista Sobrevento, Sandra protagoniza o primeiro espetáculo da mostra, Bailarina, que será apresentado de hoje a domingo, às 11h e às 15h, no Centro Cultural Banco do Brasil. A chilena, que vive há 25 anos no Brasil, desafia quem duvida que os bebês ficarão quietinhos nas cadeiras durante os 30 minutos de peça. A partir do uso de objetos e da valorização das mínimas ações, conta-se a história de uma mulher que é presenteada pela filha com uma caixinha de música contendo uma bailarina. Entre colares e piruetas, ela recorda sonhos esquecidos e abandonados.

O teatro para a primeira infância foi, durante muito tempo, malvisto pelos atores, que encaravam a proposta simplesmente como uma busca por um novo nicho de mercado. Reconhecida como um dos maiores especialistas brasileiros do teatro de animação, há cinco anos a Sobrevento encontrou-se com uma das pioneiras do teatro para a primeira infância na Europa, a companhia espanhola La Casa Incierta. Desde então, os grupos trocam experiências e projetos. A ideia de fazer uma mostra surgiu no ano passado, quando a companhia paulista estreou as peças Bailarina e Meu jardim. O casal de gêmeos filhos de Sandra, hoje com cinco anos, serviu de laboratório para o grupo. “Quando me tornei mãe passei a me questionar sobre a minha capacidade de sonhar depois de adulta”, relata.

A Sobrevento encantou-se com a companhia espanhola devido ao viés poético do trabalho, em oposição ao caráter pedagógico, que tem caracterizado o teatro infantil contemporâneo. “Os bebês estimulam um tipo de dramaturgia que não precisa ser linear, isto é, com início, meio e fim. A interpretação é mais sincera e verdadeira”, avalia Sandra.

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PERFIL

Homem dos cabelos poéticos

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Ator, diretor e dramaturgo, Jonathan Andrade destaca-se no teatro com espetáculos poéticos e autorais Fonte: correioweb.com.br 28/07

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O cabelo ouriçado do ator, diretor e dramaturgo Jonathan de Andrade é uma fonte de orgulho e identidade. Ele adora enfronhar as mãos pela vasta cabeleira estilo black power. Pelo fios, tece movimentos incomuns que, às vezes, servem de imagem para personagens que concebe. Como um Sansão, ostenta sobre a cabeça a força e a sedução que carrega no cotidiano. Até há pouco tempo, não era exatamente assim. Tudo estava engomado com gel, escondido e esticado. Reflexo da infância e adolescência, nas quais o cabelo, os lábios grossos e o nariz esparramado eram marcas visíveis de uma negritude incompreendida.

— Minha mãe é branca, meu pai, negro. Meu irmão mais velho saiu branco e loiro. O mais novo, mestiço. E eu, negro, chamado de buiú na escola, na vizinhança. Crescemos ouvindo piadinhas sobre a família. Diziam que eu era adotado, filho do padeiro, essas coisas.

A família inter-racial era motivo de estranhamento numa sociedade que se negava a compreender as suas raízes. Filho de um militar que saiu da favela Vigário Geral (Rio) para ascender na carreira, Jonathan rapidamente percebeu o peso do preconceito. Por vezes, sem entender direito o porquê ser tão apontado como diferente, desejou ter nascido como o irmão branco. A cabeça de menino não dava conta da barbárie diária do homem adulto.

— Estava na UnB, cursando artes cênicas, quando uma colega quis mexer no meu cabelo alisado por gel. Imediatamente, disse para ela não se atrever. Mas aí, com jeito, ela foi, molhou, pôs as mãos, mexeu e remexeu.

O cabelo cresceu aos olhos e as pessoas passaram a achar aquele negro lindo.

— Elas olhavam e diziam que tinha ficado ótimo. Hoje, é minha identidade, meu orgulho.

Sapatilhas atiradas

Com o RG no cabelo, Jonathan Andrade segue a vida como promissor artista da cidade. É coordenador pedagógico do curso de artes cênicas da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, dirige e escreve as histórias que deseja ver encenada no palco. Colhe, na arte, a liberdade de escolha que teve em família arejada. Foi o pai quem o incentivou a seguir a carreira artística. Percebeu que o filho tinha porte esguio de bailarino e o matriculou num curso de clássico. Mas não deu certo. Seis meses depois, o menino tinha arrancado as sapatilhas.

— Um dia, quando a gente morava no Suriname, eu assisti ao filme Mudança de hábito 2. Fiquei encantado e decidi que queria ser cantor. Ao voltar a Brasília, estudando no Colégio Militar, entrei no coral. Nesse meio-tempo, surgiu uma via-sacra e fui convocado para fazer o papel de Judas. Foi um sucesso.

Judas mexeu com as convicções de Jonathan. Ali, ele viu o poder do teatro. Do sonho de ser cantor, o jovem passou a pensar fixamente na arte de atuar. Aí, os planos de uma possível carreira de diplomata no Instituto Rio Branco já tinham virado pó. A família, lógico, conformou-se. Até esse momento, Jonathan numa tinha lido um texto teatral. Fazia poesias. Foi firme para o teste de aptidão de artes cênicas na UnB e impressionou duplamente a banca de avaliadores. Primeiro, ao revelar que não tinha costume de ir ao teatro nem de ler as obras fundamentais a um bom aspirante. Depois, por interpretar, diante dos examinadores, Rosa, a personagem feminina de O pagador de promessas.

— Foi lá, na UnB, que percebi a possibilidade de me tornar dramaturgo. Havia uma estrutura de monólogos nas minhas poesias.

Premiado algumas vezes em editais de bolsas de dramaturgia da Funarte, Jonathan prepara-se para montar mais um texto: em setembro, estreia Terra de vento. Até lá, amplia parcerias, a exemplo do Teatro do Concreto, cujo espetáculo Entrepartidas, em cartaz até domingo, no CCBB, tem texto alinhavado por ele. O artista expõe em suas criações o que lhe move. Não há militâncias, nem uma defesa explícita a nenhuma causa. Só o desejo febril de fazer teatro. Aí guardem as bandeiras, porque Jonathan Andrade é sempre o protagonista de sua história.

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MEMÓRIA

Augusto Boal, patrimônio do mundo

Viúva do criador do Teatro do Oprimido quer falar com Dilma Rouseeff e os ministros da Educação e Cultura sobre o acervo que vai para os Estados Unidos Fonte: correioweb.com.br 28/07

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Um misto de vergonha e indignação. Foi assim, impotentes, que muitos brasileiros reagiram, nas redes sociais, à notícia de que o acervo do teatrólogo Augusto Boal estava destinado aos Estados Unidos por possível falta de apoio em terras brasileiras. Um dos maiores nomes das artes cênicas do Brasil e do mundo teria parte do material catalogado ao longo da vida nos palcos tutelado à New York University (NYU), instituição onde ele teve parceria afetiva e profissional, lecionando ao longo de quatro décadas. O sentimento de dor estava associado ao fato de que, nas reportagens, a viúva e guardiã da obra, a psicanalista Cecília Boal, teria revelado as negativas do governo brasileiro em recuperar e preservar documentos, vídeos e registros de interesse mundial.

Nunca disse isso. Não acho de maneira alguma que o governo deva ser responsabilizado por essas situações. Apenas contei para uma pessoa amiga que a Universidade de Nova York tinha entrado em contato comigo e isso se transformou em notícia de jornal, coisa que me surpreendeu. Claro que concordei depois em ser entrevistada. Mas devo esclarecer que eu pessoalmente nunca procurei ninguém, nem ministro nem presidenta. Nem tenho como afirmar que recebi uma recusa. Boal sempre gostou do PT, sempre o apoiou e devo dizer que eu também sinto muita simpatia por esse governo. Talvez não tenha havido falta de apoio, senão de comunicação. Pretendo sim procurar agora, tendo constatado o grande interesse que existe pela obra do meu marido, coisa que muito me alegra, anuncia.

Encontro com Dilma

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Diante da repercussão carinhosa e solidária da notícia da ida de parte do acervo para os Estados Unidos, Cecília Boal se enche de entusiasmo para procurar as autoridades máximas que podem inferir nesse assunto — a presidenta Dilma Rouseeff, a ministra da Cultura, Ana de Hollanda, e o ministro da Educação, Fernando Haddad. Gostaria de tirar um tempo da agenda apertada de psicanalista para vir a Brasília expor a situação do acervo de Boal, que está guardado em condições adversas num quartinho alugado em Botafogo.

— A minha rotina? Não tenho! Trabalho muitíssimo no meu consultório e me ocupo do acervo em todos os momentos livres que tenho, ajudada pelo meu filho e outras pessoas da nossa família. Cuidei do meu marido durante 43 anos, é muito tempo! Vou continuar cuidando agora, conta Cecília, num apertado intervalo do trabalho.

Cecília quer conversar sobre as possibilidades de parcerias institucionais que podem ser feitas entre a Universidade de Nova York e as instituições brasileiras para que esse acervo alcance a maior visibilidade possível, já que Augusto Boal é celebrado no mundo.

Não quero ocupar a presidenta com esse assunto do acervo ficar ou não no Brasil. Mas adoraria apontar essas parcerias institucionais. Boal deu aula em todo o mundo, fez isso a vida inteira. Seria muito bom ir a Brasília e propor essa rede de instituições.

Em 22 de outubro, ela pretende vir à cidade para participar do projeto Mitos do Teatro Brasileiro em homenagem a Augusto Boal, no Centro Cultural Banco do Brasil, com as participações de Aderbal Freire-Filho e Amir Haddad. A missão de Cecília Boal neste momento é grandiosa: difundir outros aspectos da obra de Augusto Boal, já que considera o Teatro do Oprimido bastante conhecido e praticado no Brasil e no mundo. Hoje, está presente em mais de 70 países. Assim, a criação do Instituto Augusto Boal visa consagrar outros aspectos da construção artística do homem, eleito embaixador mundial da Unesco e indicado ao Nobel da Paz.

Alem de cuidar do acervo, queremos resgatar o trabalho do Teatro de Arena, favorecer montagens de peças, algumas inéditas, e também a publicação de textos igualmente inéditos. É do nosso interesse chamar a atenção para as qualidades de Boal como escritor, por exemplo. Ele era fantástico, cheio de humor e criatividade.

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Um teatro moderno

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FLORIANO PESARO

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Da Semana de Arte Moderna de 1922 às Viradas Culturais, o Theatro Municipal vem deixando sua marca no país; com a nova lei, seguirá assim Fonte: folha.uol.com.br 28/07

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Em 1896, a Câmara Municipal de São Paulo aprovou a lei de número 200, autorizando a construção de um Theatro Municipal na cidade.

Previa a lei que "o Theatro Municipal constará de um grande edifício e jardins, iluminados a luz elétrica, e construído segundo os modernos e mais adiantados sistemas".

Em 1903 começaram as obras, conforme projeto dos arquitetos italianos Claudio e Domiziano Rossi.

Em 12 de setembro de 1911, ele era inaugurado com a ópera "Hamlet", de Ambroise Thomas.

Cem anos depois, sob a batuta de Carlos Augusto Calil, secretário municipal de Cultura, o Municipal vive as mais profundas transformações de sua história.

Por dois anos, ele passou por reforma das suas instalações, realizada pela prefeitura com o apoio de recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

A fachada e seus interiores foram restaurados, recriando-se a pintura interna original. Os vitrais foram pela primeira vez retirados, restaurados e recolocados.

E o palco, por onde já passaram estrelas do quilate de Maria Callas, Enrico Caruso, Arturo Toscanini, Mikhail Baryshnikov e Ella Fitzgerald, entre outras, foi modernizado em sonorização, acústica e luz.

Com a sanção, pelo prefeito, do projeto de lei nº 9/2010, que relatei na Câmara Municipal, a modernização do Theatro Municipal chegou também à sua gestão.

A lei garante o caráter público do teatro, ao criar a Fundação Theatro Municipal, órgão municipal de direito público, para gerir atividades.

A fundação tem agora diretrizes definidas por um conselho deliberativo formado por onze membros, sendo apenas dois representantes da prefeitura; os demais são escolhidos entre a sociedade civil, a comunidade artística, os corpos artísticos do Theatro, seus servidores e patrocinadores.

Fica garantida em lei a estrutura organizacional do Theatro, única no mundo, reunindo duas escolas públicas de excelência, a de dança e a de música, além de corpos como a Orquestra Sinfônica, a Orquestra Experimental de Repertório, o Balé da Cidade, o Quarteto de Cordas e os corais Lírico e Paulistano.

Mas o maior ganho para o Theatro é a possibilidade de regularização do vínculo profissional dos artistas. A situação de trabalho do corpo artístico do Municipal se arrastava há anos, embora jamais tenha comprometido a excelência das apresentações.

Depois de décadas de insegurança, realizando atividades por meio de contratos temporários, que não lhes garantiam direitos trabalhistas, os corpos estáveis do Theatro passam a ser contratados por meio de uma organização social especializada, que celebrou contrato de gestão com a Fundação nos termos da legislação.

Da Semana de Arte Moderna de 1922 às Viradas Culturais do século 21, o Theatro Municipal vem deixando sua marca na cidade e no país. Com a nova lei, mais que nunca, estão garantidas as condições para que continue sendo assim.

FLORIANO PESARO, sociólogo, é vereador de São Paulo pelo PSDB. Foi relator do projeto de lei nº 9/ 2010.

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Cotidiano das mulheres ganha espaço na cena humorística

Produções em cartaz abordam universo feminino para fazer rir Fonte: folha.uol.com.br 28/07

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O humor, território até hoje ocupado por um time essencialmente masculino, vive fase de transformação. A mulher ganhou espaço na cena teatral cômica do país. Em vez de imitar as habituais piadas diretas de seus opostos, instala-se em posto próprio, transpondo aos palcos a graça de seu cotidiano.

Desse modo, faz rir trocando objetividade por subjetividade, síntese por excesso e, claro, misturando humor com drama. "Na vida feminina, o cômico se confunde com o trágico", resume a jornalista e dramaturga Célia Forte, autora de "Ciranda". A peça, dirigida por José Possi Neto e em cartaz na cidade, faz uma reflexão sensível sobre a vida ao contar a história de três gerações de mulheres de uma família.

O humor e a ironia nascem da visão de mundo e da intensidade de emoções dessas personagens. Apesar de distintas entre si, as três vivem em constante embate com o turbilhão de sentimentos que habita --e endoidece-- toda mulher.

"Dramaturgicamente, a loucura feminina é muito mais rica do que a objetividade do homem", acredita Veridiana Toledo, atriz que estreia no próximo dia 5 de agosto "Meu Trabalho É um Parto", solo dirigido por Marcelo Galdino e Helô Cintra.

Escrita a partir de depoimentos reais, a peça transforma em comédia as situações mais dramáticas da gravidez. Definida pela atriz Denise Fraga como um "'Big Brother' de qualidade", "Sem Pensar", espetáculo da jovem londrina Anya Reiss, é outro exemplo de um texto feminino que extrai graça do universo da mulher.

A peça, cuja temporada termina no final do mês, escancara a disfuncionalidade de uma família. "A autora leva cenas cotidianas às últimas consequências", diz Denise, que rouba a cena como mãe relapsa e mulher em crise no casamento.

'LADO PATÉTICO'

Cristiane Wersom, uma das integrantes do grupo de humor As Olívias Palitam --formado por quatro mulheres altas e magras, daí o nome--, também conta ter a realidade feminina como principal alimento. "A gente busca o lado patético presente no cotidiano da mulher", conta.

Seu espetáculo, que fica em cartaz na cidade até setembro e é batizado com o nome do grupo, cria esquetes cômicos a partir de pequenas tragédias do dia a dia feminino. "Falar de mulher dá mais samba", afirma.

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Chaplin vai ao museu

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Em outubro, Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, abriga exposição sobre o ator e diretor que transformou o cinema mudo combinando riso com melancolia Fonte: folha.uol.com.br 28/07

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Um chapéu, um par de sapatos pretos, um bigode e uma bengala criaram um ícone. A partir da primeira semana de outubro, o Instituto Tomie Ohtake consagra uma exposição a Charles Chaplin exibindo mais de 200 documentos, imagens e vídeos em torno de sua figura. A mostra, concebida há alguns anos pelo curador francês Sam Stourdzé, rodou a Europa e foi exibida no México e nos Estados Unidos antes de desembarcar por aqui.

Graças à proximidade com a família de Chaplin, Stourdzé foi um dos primeiros pesquisadores convidados a explorar o acervo dos documentos do ator e cineasta.

Passou quase quatro anos imerso nas cerca de 10 mil imagens. E é deste "baú" chapliniano que saíram 80% da exposição --outros 20% vieram de coleções privadas.

No conjunto, estão filmogramas, fotos, desenhos e cartazes de filmes, formando um todo iconográfico que atravessa a vida de Chaplin (1889-1977) e suas facetas de ator, produtor, comediante, dançarino e roteirista. "A cada nova exibição vão sendo acrescentados novos elementos", disse o curador à Folha, por telefone, de Lausanne (Suíça), onde hoje dirige o Musée de L'Elysée, um dos importantes centros de fotografia da Europa.

"Incluímos principalmente cartazes de filmes impressos em diferentes países do mundo. Acho que ainda há muito a ser encontrado." Segundo ele, a exposição nasce da tentativa de, via Chaplin, contar a história da "revolução" que representou a passagem do cinema mudo ao cinema falado e relembrar a situação política do período que vai da Primeira Guerra à ascensão do nazismo.

"Chaplin foi um dos raríssimos cineastas a falar de Hitler no calor do momento. As pessoas tendem a esquecer que 'O Grande Ditador' começa a ser rodado em 1938", ressalta.

Para Stourdzé, um dos desafios centrais do trabalho foi o de transformar um registro primordialmente audiovisual em uma exposição coerente, combinando diferentes suportes de exibição.

"Como levar o cinema para o museu? Esse é um campo relativamente recente de investigação para a curadoria. Dez anos atrás, era impossível fixar uma tela na parede como se fosse um quadro. A tecnologia tornou isso viável, mas é preciso criar um diálogo entre o cinema e as imagens fixas que faça sentido e conte uma história."

MÍMICO E DIRETOR

Nascido em Londres, em 1889, o comediante trabalhou no teatro de variedades como mímico até sua ida para os Estados Unidos, em 1913. Ali, fez carreira, montou seu próprio estúdio e acompanhou de perto a crise de 1929 até ser exilado na Suíça em 1952, acusado se ser "simpatizante do comunismo" em tempos de Guerra Fria.

A máquina que ele havia retratado tão bem no filme "Tempos Modernos" (1936) não podia parar. Chaplin é uma figura difícil de abordar, especialmente porque se confunde com o personagem que criou, Carlitos, o vagabundo. Talvez por isso causem impacto as imagens do homem longe do traje que o celebrizou --há algumas delas na mostra. Carlitos é o resultado de um processo de maturação. Em sua "primeira versão", o personagem era apenas trapalhão de comédia pastelão. Aos poucos foi ganhando os contornos do melancólico solitário que possui a dignidade de um cavalheiro, mas passa fome e usa sapatos esfarrapados visivelmente maiores que seu número.

Ele se tornaria o protagonista das grandes produções de fôlego rodadas por Chaplin nos anos 30 --"Tempos Modernos" e "O Grande Ditador", já mencionados, além de "Luzes da Cidade" (1931), seu grande filme de amor. Mas o impacto de Chaplin em sua época não ficou restrito ao cinema. Impressionados com a popularidade de sua figura, artistas dos anos 1920 e 1930 viram, em seus movimentos líricos e mecânicos, uma encarnação da modernidade.

Foi graças ao poeta Guillaume Apollinaire que uma boa parte do meio artístico de vanguarda entrou em contato com o cinema de Chaplin. Impactado, o artista francês Fernand Léger criou quatro gravuras "Carlitos Cubista", um dos destaques da exposição em tempos pós-modernos.

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Promessas verdes

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Kassab (PSD) descumpre sua própria lei ambiental, o que decerto não favorece a candidatura do secretário Eduardo Jorge (PV) em 2012 Fonte: folha.uol.com.br 28/07 (Editorial FSP)

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Em meados de 2009, a gestão do prefeito Gilberto Kassab aprovou na Câmara Municipal de São Paulo a Lei de Mudanças Climáticas. De acordo com ela, o governo da cidade passava a assumir a partir daquele momento uma série de compromissos na área ambiental.

Passados dois anos, à luz dos resultados obtidos, o saldo não é nada positivo. A prefeitura está em dívida flagrante com a legislação que ela própria criou.

Tome-se como exemplo o artigo 49 da lei nº 14.933. Ele estipulava que o poder público municipal implementaria programa obrigatório de coleta seletiva de resíduos no município, bem como promoveria a instalação de ecopontos em cada um dos distritos da cidade, no prazo de dois anos, a contar da entrada em vigor do diploma.

São Paulo tem 96 distritos. Conforme revelou ontem reportagem deste jornal, no entanto, há apenas 42 ecopontos em funcionamento. Deles, 38 já existiam antes da promulgação da lei. Ou seja, quase nada foi feito.

O ecoponto é um local de entrega voluntária de pequenos volumes de entulho. Estima-se que sejam produzidas em torno de 12 mil toneladas desses detritos por dia apenas nas pequenas obras da capital. Menos da metade chega aos aterros oficiais do município. Ao mesmo tempo, existem cerca de 1.500 pontos de deposição clandestina de entulho na cidade.

É ainda mais desoladora a situação da coleta seletiva de lixo. A prefeitura capta só 155 toneladas diárias de resíduos reaproveitáveis. Isso equivale a menos de 1% do que é gerado diariamente em São Paulo (17 mil toneladas).

Como a lei não prevê punição alguma à prefeitura, sobrevém a desmoralização de um governo que descumpre tão cabalmente o que promete. Pode-se argumentar que as metas eram ambiciosas demais -ideia com que mesmo vários ambientalistas concordam.

É bastante improvável que as emissões de gases do efeito estufa sejam reduzidas em 30% até 2012, em relação ao ano de 2005. É, no entanto, o que está fixado na Lei do Clima. A não ser que se tome o documento como peça de ficção, ou como gesto inconsequente de adesão à onda verde que varre o planeta, o mínimo que se pode dizer é que a iniciativa da prefeitura, em si mesma positiva, foi tratada de forma leviana por seus autores.

É mais preocupante quando se sabe que o secretário do Meio Ambiente da atual gestão, Eduardo Jorge, do PV, desponta como nome preferido do prefeito para concorrer à sua sucessão. O que se vê até agora, faltando pouco mais de um ano para a eleição, não é um cartão de visitas muito animador.

A frustração de compromissos assumidos na área ambiental se soma ao que aconteceu com outras promessas: novos 66 km de corredores de ônibus, construção de três hospitais ou solução do deficit de vagas em creches (há mais de 120 mil crianças na fila). Nada disso se concretizou.

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A velhice dos tempos modernos

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IVES GANDRA DA SILVA MARTINS

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A expressão "conservadores" seria mais aplicável aos que repetem "costumes flexíveis", e não os valores abraçados pelos construtores das civilizações Fonte: folha.uol.com.br 28/07

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O desconhecimento da história e a pouca atenção que, nas grades escolares, principalmente universitárias, se dá à importância do estudo de toda espécie de acontecimentos passados, principalmente na política e nos costumes, faz com que aquele que vive o momento presente termine por repetir os mesmos erros, vícios e "novidades" pretéritas.

Na política, como procurei demonstrar em meu livro "Uma Breve Teoria do Poder", o homem pouco evoluiu. Se uma democracia formal foi conquistada a duras penas, a verdade é que nem por isso a sociedade consegue controlar a figura do detentor do poder, que quer o poder pelo poder, sendo a prestação de serviços públicos apenas efeito colateral de seu exercício.

A corrupção endêmica nas entidades estatais, nos tempos modernos, é tão velha quanto a dos primeiros tempos. Apenas mais sofisticada. Carl Schmitt ("O Conceito do Político") e Maquiavel ("O Príncipe") continuam atualíssimos.

Nos costumes, a denominada liberdade sexual, em que dar vazão aos instintos é modelo da modernidade, remonta, pelo menos, ao tempo da decadência babilônica, quando as mulheres conseguiam seus dotes para o casamento entregando-se livremente no templo, ou à decadência do Império Romano.

Políbio ("História"), este historiador grego que viveu em Roma, demonstrou que tal liberdade estava desfazendo as famílias romanas, prevendo o fim do Império pela deterioração dos costumes.

É de se lembrar que, no período anterior, quando da República, as famílias respeitavam valores e a sociedade se representava perante o Senado e os cônsules por meio do Tribunato da Plebe (Fustel de Coulanges, "A Cidade Antiga"). A cidadania romana tornou-se um bem que protegia não só os romanos, mas aqueles que a conquistavam dentro de suas fronteiras.

É de se lembrar que, antes da queda de Esparta, a liberdade sexual das mulheres espartanas faria inveja às mais desinibidas senhoras da atualidade. O próprio homossexualismo, praticado em Atenas, tornou-se bem evidente quando do início de sua decadência, que termina, de rigor, com a derrota na Guerra do Peloponeso, tão bem narrada por Tucídides.

Tais breves e perfunctórias reminiscências históricas sobre costumes e política objetivaram apenas mostrar que as denominadas conquistas dos tempos modernos são muito velhas e, quase sempre, coincidem com a decadência de civilizações formadas, como o Império Romano, à luz de valores diferentes.

Parece-me, portanto, que a denominação "conservadores" seria mais aplicável àqueles que repetem, através da história, "costumes flexíveis" -para adotar uma terminologia politicamente correta-, e não os valores abraçados pelos verdadeiros construtores das civilizações, que, como Toynbee afirma ("Um Estudo da História"), nasceram, fundamentalmente, dos preservados pelas grandes religiões.

Uma última observação, de caráter apenas explicativo.

Nos tempos de costumes condenáveis, em que as mulheres, em algumas nações, tinham um estatuto inferior, foi Cristo que abriu a perspectiva da igualdade entre o homem e a mulher, ao dar ao matrimônio a dignidade de Estado, com obrigações e direitos mútuos rigorosamente idênticos, com deveres de lealdade e fidelidade necessários para criar os valores próprios para a correta educação da prole que geravam. E elevou uma mulher à condição de mais importante figura da humanidade, para os católicos, acima de todos os homens, ou seja, santa Maria.

Política e costumes merecem sempre uma reflexão histórica.

Pouco comum, mas necessária.

IVES GANDRA DA SILVA MARTINS, 76, advogado, professor emérito da Universidade Mackenzie, da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e da Escola Superior de Guerra, é membro das Academias Paulista de História e de Letras, da Academia Brasileira de Filosofia e da Academia Internacional de Cultura Portuguesa (Lisboa).

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