BRASÍLIA 51 ANOS DA CAPITAL DO PODER
Fonte: Almandrade
(artista plástico, poeta e arquiteto)
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“Nenhum rosto é tão surrealista quanto o verdadeiro rosto de uma cidade”
Walter Benjamin
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Cinqüenta anos depois, a bossa nova da arquitetura e do urbanismo,
mostra suas rugas e os sintomas de um envelhecimento precoce. O
símbolo maior da modernidade e da ideologia desenvolvimentista que
projetou o Brasil como um país novo, revela o que é a cidade moderna,
o lugar da afirmação e do poder da máquina e das restrições do domínio
público. Com uma malha rodoviária e amplos espaços que ultrapassam a
escala humana, Brasília foi concebida nas pranchetas de Oscar Niemeyer
e Lúcio Costa sob a orientação do presidente Juscelino Kubitschek para
responder ao desenvolvimento industrial, em particular, a indústria
automobilística em ascensão, e hoje representa o fim do sonho e das
ilusões desenvolvimentistas.
Sem dúvida, Brasília é uma das mais importantes contribuições
brasileira para a arte do século XX, juntamente com a Bossa Nova, a
Arte Concreta e o Cinema Novo, que resiste aos escândalos políticos
que assolam a capital. As estruturas de suas construções permanecem
intactas, o concreto armado parece eterno. Uma cidade cartesiana
implantada no interior do país, sob o cerrado, distante do litoral,
uma aventura quase que impossível. Nas palavras do critico de arte
Mário Pedrosa, "se Brasília foi uma imprudência, viva a imprudência".
A nova capital era uma resposta à crítica de um Brasil litoral, de
costas para o seu interior, desde os tempos do Marques de Pombal. Esta
experiência urbanística foi estimulada por uma opção de
desenvolvimento que se desejava para o Brasil o qual estamos sofrendo
suas conseqüências.
Mais do que uma simples cidade, Brasília é um discurso, símbolo de uma
nova situação que direcionou a vida e a economia do país. Uma cidade
com uma arquitetura governamental, monumental e moderna. O trançado
urbano e a arquitetura arte criaram a cidade como uma realidade
moderna, imagem e símbolo do Brasil industrial, país da tecnologia e
da democracia para os que dispõem de meios mecanizados para dominar os
grandes espaços vazios. A cidade que arquiteto francês, nascido na
Suíça e mestre dos arquitetos brasileiros, Le Corbusier não teve a
oportunidade e o privilégio de construir. O centro principal e
simbólico da capital do poder é a praça dos três poderes, na
organização do espaço as hierarquias e os interesses de classe não
ficam ausentes.
Falar de Brasília não se pode deixar de lado as manobras processadas
na economia e da política dos anos de 1950. “o avanço dos 50 anos em
5 anos” meta do governo JK. A sede de democracia, agitações, debates
inflamados e o avanço da indústria. A população vivia o impacto da
confiança no futuro. A nova capital refletia uma sociedade otimista
disposta a realizar utopias. Brasília foi pensada para ser um centro
político, cultural e administrativo para o desenvolvimento do
Centro-Oeste, mas não contava com o crescimento desordenado e
populacional, que acabou comprometendo o plano urbanístico de Lucio
Costa e trouxe os problemas e os desastres que assolam os grandes
centros urbanos. Com o regime militar, implantado em 1964, a cidade
criada em um período raro de democracia acreditando que a sua
localização no interior estaria mais protegida de ataques militares,
foi associada ao totalitarismo, mas resistiu com seu chame como uma
expressão artística que colocou o Brasil internacionalmente num
patamar de respeito.
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Joe agora quer viver
Um dos convidados mais aguardados da 9ª edição da Flip, Joe Sacco conta ao Correio que não pretende mais fazer quadrinhos sobre guerra e está em busca de histórias ligadas à natureza da condição humana Fonte: correioweb.com.br 09/07
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Paraty (RJ) — Joe Sacco achou difícil andar em Paraty. As ruas de pedras não facilitam a caminhada, mas nada excepcional para quem já andou pelas ruas de Gaza. O que ele gostou mesmo foi de ver a literatura no pedestal. “Autores e artistas dão tanto de si! E o que você realmente lembra é o que eles deixam. A maioria das pessoas não se lembra dos generais ou das batalhas, mas se lembra de reis e rainhas porque artistas fizeram seus retratos. E alguns países vivem disso. Quem vai à Itália e não quer ver o que 300 pessoas fizeram na Renascença?”, repara o quadrinista, que participa hoje de uma das mesas mais disputadas da 9ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). História em HQ só perde em concorrência para Lugares escuros, com James Ellroy.
Sacco ficou conhecido por transformar em quadrinhos as reportagens realizadas em zonas de conflito. Em Palestina: uma nação ocupada e Palestina: na Faixa de Gaza, ele narrou o conflito entre árabes e israelenses. Também fez livros sobre a Chechênia, a Bósnia e o Iraque. “Conflitos sempre estiveram no mundo, são parte da condição humana e desde que a literatura existe virou uma coisa central”, comenta. “Muitas sociedades no mundo são envolvidas por bombardeios. Antes, os exércitos ficavam no campo de batalha. Hoje, envolve todo mundo. E cada vez mais civis. Hoje, um soldado é morto para cada nove civis.”
Armadilha
Em entrevista ao Correio, Sacco conta que ninguém o levava a sério quando ele começou. “Até achar a minha própria voz, havia um monte de críticos dizendo o que fazer, como fazer”, diz. Conciliar quadrinhos, uma linguagem originalmente de entretenimento, e guerra, ele acredita, é o que faz da HQ algo “subversivo”. Até porque as pessoas podem não querer mergulhar num assunto como a Palestina, mas compram um livro como o dele, cheio de imagens, e acabam aprendendo algo sobre o tema.
“Parece mais fácil, mas pode ser muito profundo”, acredita. “Você pode realmente incomodar o leitor com a informação e pode educá-lo exatamente como faria um documentário. Talvez de forma mais compacta do que um autor faria, mas coloca o leitor em um lugar escuro onde ele achou que não iria. As pessoas pensam que isso é entretenimento ou é mais light, e não é necessariamente assim. É como uma armadilha.”
Depois de tantos anos, Joe Sacco não quer mais fazer quadrinhos sobre guerra. Diz que tudo que olha começa a ter cara de conflito, e ele não quer mais isso. Fez um livro sobre a migração de africanos para a Europa, outro sobre a pobreza na Índia. “Não há tiros, mas é conflito”, afirma. “Estou tentando me afastar de tudo isso. Estou interessado no lado filosófico, não preciso mais ir lá e ver outro conflito. Estou mais interessado em neurociência, neurobiologia, evolução biológica humana e o que há dentro de nós.”
» Alternativa literária
» Filas imensas e ingressos esgotados não assombram a programação paralela da 9ª Flip. Na Off Flip, criada há sete anos para fazer face à agenda oficial da festa, as ruas e os bares do centro histórico servem de palco e tenda para encontro com autores e apresentações de artistas. Não é preciso comprar ingressos nem reservar lugares. Basta entrar, se sentar e assistir. E, se der vontade, levantar a mão e perguntar. Este ano, a Off Flip reúne 80 autores de Paraty e de todo o Brasil, 46 a mais que a programação oficial da Flip.
Gustavo Bernardo, que lançou O gosto do apfelstrudel na Off Flip, entende a paralela como um espaço de resistência. “Ela dimensiona um evento que cresceu muito e que hoje tem a cara do mercado. A Flip fica uma coisa elitista, porque é difícil achar ingresso, e acaba privilegiando autores de determinadas editoras. A Off quebra um pouco isso. É muito rico. É melhor fazer uma coisa dessas do que ficar esbravejando contra a Flip.”
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