domingo, 10 de julho de 2011

Falta de lei impede punição de quem superfatura obras públicas, diz perito da PF

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Agência Brasil 09.07

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A maioria dos casos investigados pela Polícia Federal envolvendo obras em rodovias apresenta algum tipo de irregularidade. Uma parcela desses casos se deve ao fato de as empreiteiras não apresentarem, em meio aos registros de gastos, os descontos que conseguem nas compras em larga escala. De acordo com o presidente da Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF), Hélio Buchmüller, um ponto que favorece essas práticas é a falta de uma legislação que tipifique o superfaturamento como crime.

"Recentemente, a criminalística da PF demonstrou por meio de estudos, que as obras de grande porte do país não são orçadas com base nos efeitos da economia de escala (segundo a qual o custo unitário diminui à medida que uma quantidade maior de material é comprada). Logo, já partem com sobrepreço, o que facilita a ação de cartéis", disse Buchmüller à Agência Brasil, tendo por base informações do Serviço de Perícias de Engenharia da PF.

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Anjos da rua

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Artistas que se apresentam nos espaços públicos da cidade contam o desafio de agradar a plateia urbana Fonte: correioweb.com.br 10/07

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Longe do ar condicionado dos teatros ou do ambiente frio das salas de espetáculo, os artistas de rua lidam com o improviso. Enfrentam sol, chuva e, talvez, um certo desprezo de uma plateia nem sempre receptivos à presença de um artista. O Correio percorreu as ruas da cidade para identificar alguns representantes dessa arte plural. Do encontro, sem hora marcada, resultou uma coleção de histórias muito diferentes, mas com um objetivo em comum: levar arte para qualquer parte.

» Rock azul

Muitos podem duvidar da existência de pessoas de cor azul. Sim, elas existem. A prova está na pele do tocantinense Amarildo Alves, 41 anos, a estátua humana que se fantasia de Raul Seixas nas ruas da cidade. Quer entender um pouquinho do porquê do Amarildo se apresentar assim? Dá uma olhada na letra da canção Seres extraterrestres, gravada pela banda Codinome Rapina, em que ele atua como baixista e vocalista: “Abre espaço para a gente que veio de uma nave espacial. Nós viemos ver Raul Seixas, mas ele já foi embora. Nada mais faz sentido porque não tem mais rock por aqui. Onde está Raulzito? Onde está Raulzito?”

“Quando eu vim para Brasília em 1991, eu tinha dois objetivos. Um era me formar em psicologia na UnB e outro era ter uma banda de rock. A banda eu já montei”, admite com pesar. Trabalhando ilegalmente como pintor de paredes na Espanha durante quatro anos, ele soube que poderia estender a permanência naquele país se trabalhasse como estátua. “Eu fazia o Salvador Dalí. Mas, aqui ninguém o conhece. Já pensei em fazer o Juscelino Kubitschek, mas seria meio custoso fazer aquele arco do Memorial JK em fibra de vidro e eu não me pareço fisicamente com ele. Estou tendo umas ideias de outros personagens porque já estou meio enjoado desse aqui”, adianta.

Para sustentar dois filhos e a esposa, e morando em Ceilândia Sul, com uma renda mensal de R$ 800, ele precisa se lambuzar com uma mistura de pasta d’água com corante e usar as peças de roupa todas pintadas com tinta de parede no mesmo tom. Sem ponto fixo, Azulito, ou melhor, Raulzito passa uma semana na Asa Sul e outra na Asa Norte. Assim como o ídolo do rock brasileiro, Amarildo também tem um lado meio místico, potencializado pelo tempo em que fica imóvel. “Às vezes eu só conto o tempo até o sinal fechar. São cerca de 20 segundos. Outras vezes eu viajo e até esqueço de passar pelos carros com o chapéu. Vou para fora do sistema solar.” Falou, bicho!

» Latinos viajantes

A onda do chileno Danilo Diaz, 29 anos e do colombiano Andrés Neira, 25, é viajar pela América Latina se apresentando como artistas de rua. Para Diaz, só falta conhecer o Uruguai. Enquanto Neira não tem carimbo no passaporte em Chile, Uruguai e Venezuela. Os dois se conheceram em Bogotá, na Colômbia, e resolveram excursionar juntos. Ao sul do continente, é mais fácil fazer as performances com visto de turista.

Em relação à contribuição financeira pela arte dos malabaristas e equilibristas, os dois concordam que não há tanta diferença entre os povos latino-americanos. “Depende mais da época do ano. Quando é mais perto do Natal, recebemos mais. Fim de mês diminuem muito as contribuições”, compara o chileno. A única vez que Andrés não se sentiu querido em algum lugar foi no próprio país. “Uma vez estávamos em uma cidade chamada Armenia. Lá, quase ninguém colaborava ou prestava atenção ao nosso número. Mandavam a gente ir trabalhar”, relatou.

O interessante é que a dupla pratica uma técnica circense tipicamente desenvolvida nas ruas. Já que nenhum dos dois teve estudos formais. “Eu andei por um tempo com um circo contemporâneo que não usa animais. Mas, acabei voltando para as ruas por causa da liberdade”, relembra Diaz. Equilibrados em cima de enormes monociclos embaixo da plataforma da Rodoviária, os dois lançam claves um para outro. Quase num pequeno exemplo de integração latino-americana.

» Cristal no trânsito

A estudante de biologia da UnB Louisse Aldrigues, 20 anos, faz parte da geração 2.0. Daí a desenvoltura da garota em aprender a fazer malabarismos pela internet, com a bola de cristal. “Aprendi no YouTube já tem mais ou menos um ano e meio. Alguns amigos me disseram para tentar nos sinais, um dia tomei coragem e comecei a fazer na rua”, relembra. O temor inicial com as freadas bruscas, buzinas e finos de carros ficaram no passado. O maior desafio de Louisse é outro: “Minha mãe chorou muito quando soube. Mas, eu expliquei que era arte como qualquer outra e ela se conformou um pouco. Meu pai ainda não sabe. Alguns amigos me dizem que é loucura, mas eu não ligo. Fico mais feliz em receber sorrisos em troca. As crianças adoram”. O dinheiro adquirido nos sinais de trânsito da Asa Norte garante algumas despesas escolares como xerox e passagens de ônibus. Em duas horas, Louisse contabiliza um ganho de cerca de R$ 30. Em troca, ela distribui poesia de sua própria autoria: “Obrigado, meu amigo. Pelo seu apoio, pelo seu sorriso. Da matéria me alimento. E da alma me sustento. Faço parte da arte. Você da arte faz parte. Aprecio um circuito diferente. Você completa meu consciente. Contente com o contrato entre a gente. Então espero ter-lhe (sic) presenteado. Com o prazer do equilíbrio movimentado”, impresso em papéis distribuídos para os motoristas.

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Bibi da alegria

Um tombo de bicicleta deixou o maranhense João Pinto Figueiredo de molho por uns 15 dias em casa. Não foi um mero tropecinho. Mas, uma baita queda de uns cinco metros, a altura do monociclo que ele pilota em apresentações. “Quando as pessoas souberam do meu acidente e começaram a entregar comida lá em casa, eu notei que tudo que eu faço na vida volta para mim em dobro”, filosofa. Foi um dos raros momentos em que, já vestido como palhaço Bibi, João deixou a seriedade tomar conta da conversa. O outro foi quando ele declarou o seu amor por Brasília, cidade que o fascina e o repele ao mesmo tempo. “Eu a amo muito. Sinto muito não poder morar no Distrito Federal. Estou construindo em Águas Lindas, Goiás. Me considero um vitorioso por poder dar comida e conforto para minha família de 10 filhos”, desabafa.

Em Taguatinga Centro, os lojistas já conhecem a bicicleta formada por guidon e banco, sem quadro. Mas são as crianças, no entanto, que sempre notam a presença de Bibi. Risos e acenos fazem parte da rotina de trabalho. Antes não era nas ruas que Bibi encantava os pequenos. Como todo bom garoto de interior que se encantava com a passagem do circo pela cidade, ele largou a escola e a família para seguir com a trupe. Por causa disso, estudou somente até o ensino fundamental. “Eu fui até o pessoal do circo e cantei e pintei e bordei. Daí minha mãe me deixou seguir com eles”, relembra sobre o começo na vida circense. “É uma pena a crise do circo. O homem evoluiu e tudo evoluiu também. Antes só tinha isso como lazer. Agora, ninguém mais se interessa. Hoje em dia até palhaço anda de avião. Eu comecei com o pé descalço lá no Nordeste”, comenta. Para conseguir o sustento da família (cerca de R$ 1.500 por mês), Bibi está mais diversificado do que nunca. “Eu passo por churrasquinhos, lanchonetes, restaurantes, portas de lojas, faço locução para rádio e carro de som, evento… Não tem tempo ruim. Só que preciso ir embora lá pelas 21h para conseguir chegar em casa às 2h”, calcula.

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LIVRO

Balanço ácido de 1964

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Em Trinta anos esta noite, Paulo Francis reavalia o golpe militar, num misto de crônica histórica, ensaio, memória e confissão Fonte: correioweb.com.br 10/07

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O jornalista e professor José Arbex escreveu que três personagens enlouqueceram com a ditadura militar instalada a partir de 1964: Geraldo Vandré, Glauber Rocha e Paulo Francis. Depois de ser perseguido pelos militares, Vandré compôs uma canção intitulada Fabiana, em homenagem à FAB; a história revelou que havia lucidez no delírio de Glauber ao apoiar a redemocratização proposta por Geisel; e Paulo Francis explica em Trinta anos esta noite, relançamento em coedição da Editora Francis e da brasiliense Verbena Editora, as razões de ter “endireitado” ou supostamente “endireitado”.

No caso, a “loucura” de Francis seria ter se deslocado da esquerda para o centro da social-democracia, depois de ser trotskista na juventude e participar do movimento pelas reformas do país na convulsionada década de 1960 de João Goulart: “Eu fiquei adulto”, se defende Francis. Mas, com o seu ímpeto de franco-atirador, ele transforma o relato pessoal sobre o golpe de 1964 em um híbrido de ensaio, crônica histórica, memória e longa conversa prá lá de marakeshi, mas sempre estimulante. Escreve como poucos, com inteligência, cultura, audácia e verve.

A parte de crônica histórica é muito interessante. Francis estave no centro dos acontecimentos, pois , naquela virada da década de 1960, tinha uma coluna no prestigioso jornal Última Hora. Ele atribui o golpe de 1964 menos a um lance de estratégia política ou audácia militar e mais à indecisão (para não dizer fraqueza) do presidente João Goulart, imprimindo um tom de tragicomédia histórica ao evento. “Que ninguém tenha disparado um tiro pró-Jango é realmente extraordinário. Nada. Nem fogos de artifício”. Leonel Brizola revelou destemor ao ensaiar um movimento de resistência ao golpe, mas foi barrado pela omissão de Jango, que não queria derramamento de sangue: “É raro no Brasil”, elogia Francis. “Em geral, se sopra com dedo molhado no ar até ver para onde o vento sopra e se desembesta atrás.”

E quanto à redemocratização, Francis sustenta que ela não ocorreu em decorrência das lutas dos movimentos sociais, mas sim pela falência econômica do Brasil. Em suma: o país quebrou, não conseguia mais pagar os juros da dívida externa, então o melhor era jogar a bomba nas mãos da sociedade civil.

Nada demais na suposta “loucura” em aderir à social-democracia. O problema é que, em seu afã de convencer que o atraso do Brasil decorreria (essencialmente) da recusa em se abrir ao capitalismo internacional, Francis derrapa nos equívocos mais ingênuos. Apoiou a aventura pseudomodernizante de Fernando Collor e tenta justificar até o suposto projeto de Jânio Quadros: “Não se pode dizer que o brasileiro vote mal. Na eleição de Collor, rejeitou o passado nacionalista e populista de Brizola e Lula. As propostas de Collor eram de modernização capitalista. Como haviam sido as de Jânio. Que se tenham revelado um, cleptolunático, e, outro, não-se-sabe-o-quê, renunciando, não é culpa do eleitor”. Ora, como diria o Nelson Rodrigues, até a minha vizinha gorda e patusca sabia que Collor e Jânio eram demagogos e comediantes sinistros.

Na mesma linha de argumentação, Francis preferiu Collor a Lula, afirmando que se este assumisse o poder, o Brasil se transformaria em uma Albânia; execrou a Petrobras (“Disse a Flávio (Rangel) que a Petrobras era ferro velho, que o melhor seria vendê-la.) e ela se tornou uma das empresas mais lucrativas do mundo; satanizou o nacionalismo (“De Marx a Stalin, nacionalismo foi equacionado com reacionarismo”) . A história desmentiu essas profecias.

Exclusivas

Aos trancos e barrancos, ironicamente, quem deu o salto modernizante não foi Collor, mas sim Lula, guinando da esquerda para a posição de centro da social-democracia, como pregava o próprio Francis.

Francis se esforça para demonstrar sempre que, ele oualgum amigo, estão no epicentro dos acontecimentos, guardando informações ou confidências exclusivas e reveladoras. E é aí que, muitas vezes, se perde, atiçado por uma imensa vaidade. Ao falar do filósofo Jean-Paul Sartre, por exemplo, resvala em um gênero de fofoca impublicável até pela revista Caras: “Sartre gostava de deitar vestido com as mulheres na cama e galinhar. Uma amiga minha, hoje avó respeitável, me contou que foi para a cama com ele. O foreplay, o bate-bola parecia interminável. O cheiro de Sartre também não era dos mais convidativos…”

Paulo Francis foi um dos gatilhos mais rápidos e audaciosos da imprensa brasileira. Mas, dentro dele, haviam dois Paulo Francis se digladiando: o jornalista culto e o apátrida envergonhado de ser brasileiro, o homem público interessado na transformação do Brasil e o descendente de europeu pernóstico, o brasileiro empenhado na autonomia do país e o ex-militante desencantado. Essas contradições estavam inscritas no próprio nome que Franz Paulo Trannin Heilborn adotou como pseudônimo, Paulo Francis, apelido de bailarino de teatro de revista: “A imitação que Chico Anysio fez de mim é uma obra de arte”, escreveu Francis. “(…) era perfeita em pegar meu sorriso, que, não sei por que, juro, parece sempre contradizer o que estou dizendo, um sorriso dialético”. É esse humor que salva Francis, instalando a dúvida e a autocrítica, nos instantes de maior delírio da soberba. Mas, concordando ou discordando, é sempre estimulante entrar em contato com a audácia do seu espírito inconformista diante da pasmaceira ou das verdades embalsamadas.

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Trinta anos esta noite

Paulo Francis

Editora Francis e Verbena. 298 páginas.

Preço: R$ 36

Trechos

“Às vezes acho que aguentei viver tanto no Brasil porque estava em estado etílico na maior parte do tempo.”

“Em Brasília, no chamado Forte Apache, o isolamento em que alguns militares, tipo general Frota, viveram deve tê-los feito ver demônios, que, na sede do Primeiro Exército do Rio, assustariam tanto quanto Pluft, o fantasminha, e seriam ridicularizados amavelmente por amigos civis.”

“Reina a imbecilidade no Brasil. O 1964, porque tolheu nossa já exígua vida cultural, tem culpa no cartório.”

“Acho, hoje, que essas reformas pretendidas pelas esquerdas pouco valiam; logo, no atacado, concordo que devessem ser rejeitadas. Mas a ideia de reforma, de uma social-democracia, que decorresse do enriquecimento do Brasil, me é aceitável e desejável, o que não sei se se pode dizer de muitos opositores de Jango em 1964.”

“Um dos prazeres do jornalismo independente é ser dissonante do barulho infernal que a horda de rinocerontes faz.”

“Muitas vezes, na rua, me deprime ver tanta gente e saber que sou parte dessa parada sem rumo, desse punhado de baratas tontas.”

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