quinta-feira, 14 de julho de 2011

POLÍTICAS PÚBLICAS

Prevenção ainda é negligenciada

Governo gasta apenas 13% das verbas previstas. Operação investiga esquema de desvio de recursos em municípios do Rio Fonte: correioweb.com.br 13/07

-

Seis meses depois da maior tragédia climática registrada no país, a situação na Região Serrana do Rio de Janeiro no que diz respeito à prevenção a desastres naturais pouco mudou. As mais de 900 mortes ocorridas em janeiro parecem não ter sido suficientes para fazer com que o governo federal — em parceria com estados e municípios — injetasse mais recursos em obras preventivas, tanto no interior do Rio como no restante do país. Somente 13% dos recursos federais previstos exclusivamente para a contenção de encostas, canalização de rios e capacitação de agentes foram utilizados este ano.

Os maiores gastos são com empreendimentos para reparar os estragos. Além disso, a promessa do Planalto de criar um sistema nacional de alerta e prevenção de desastres naturais, que funcionaria plenamente até 2014 como principal mecanismo de segurança de defesa civil, só agora começa a sair do papel.

A maioria das obras emergenciais, que não precisam passar por licitação para ter seguimento, está em ritmo lento ou não foi iniciada. Mas o principal problema apontado pelo Ministério Público Federal (MPF) não é a demora, mas um esquema formado por políticos de alguns municípios atingidos que teria desviado cerca de R$ 30 milhões destinados à reconstrução de sete cidades da região.

Ontem, oficiais de Justiça e policiais federais cumpriram mandados de busca e apreensão na prefeitura de Nova Friburgo para recolher cópias de 40 contratos firmados sem licitação com empresas privadas. Auditores do Tribunal de Contas da União (TCU) também já encontraram irregularidades nos repasses. Um relatório da Corte mostra que algumas empresas teriam prestado serviços idênticos numa mesma localidade, no mesmo dia. Além disso, algumas intervenções foram realizadas sem a assinatura de contratos.

Enquanto os órgãos de fiscalização investigam a aplicação dos recursos, o Ministério da Integração Nacional explica que a baixa execução do programa de prevenção está ligada a inadimplências ou a restrições dos entes que buscam recursos federais e deficiências técnicas de projetos básicos e planos de trabalho, além de pendências referentes à documentação.

A pasta afirma que os projetos adequados aos padrões exigidos por lei serão contemplados em 2011, e que cerca de R$ 100 milhões já foram empenhados (reservados no orçamento) para ações voltadas à prevenção de desastres neste ano.

Monitoramento

Entre as medidas previstas para tentar evitar tragédias decorrentes de chuvas já no próximo verão, o governo federal autorizou, no último dia 1º, a criação do Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, que será chefiado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT).

O Núcleo Inteligente do sistema será responsável por gerenciar as informações emitidas por radares, pluviômetros e previsões climáticas e funcionará em Cachoeira Paulista (SP).

No começo das operações, 25 cidades serão observadas. A ideia é ampliar esse número à medida que outras localidades apresentarem estudos geotécnicos completos. “Só é possível fazer uma boa previsão de deslizamentos quando temos um bom mapa de áreas de risco”, explicou ao Correio Carlos Nobre, secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do MCT, responsável pelo sistema. O centro deve ser inaugurado até o fim de novembro.

-

>>>

-

DIREITOS HUMANOS

Falta dinheiro para as idéias

Secretaria de políticas voltadas às mulheres analisa pedidos que somam R$ 99 milhões em combate à violência, mas só tem R$ 36 milhões. Fonte: correioweb.com.br 13/07

-

A política nacional de combate à violência contra as mulheres encontra problemas financeiros para atender as demandas da sociedade. Apenas neste ano, a Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) da Presidência da República recebeu mais de 700 projetos de unidades da Federação, municípios e sociedade civil voltados à implementação de ações nessa área, que somam R$ 99 milhões de investimentos. No entanto, em 2011, a verba da Subsecretaria de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres está reduzida a R$ 36 milhões — dos quais apenas 22% foram gastos, segundo a assessoria da pasta. A diretora da subsecretaria, Ane Cruz, afirmou que as propostas ainda estão sendo analisadas para a definição de prioridades. Nos últimos dois dias, ela esteve reunida em Brasília com 26 gestoras da área nos estados. “Esse encontro foi fundamental para avaliarmos a situação de cada estado e cruzar os dados com os projetos recebidos”, afirmou Cruz.

Segundo a diretora, a grande quantidade de projetos recebidos para a área é considerada positiva. “Os projetos significam que municípios e estados estão engajados com a causa. Estamos trabalhando na garantia do programa e já conversamos com o Ministério do Planejamento para aumentar a nossa verba”, afirmou. De 2007 — quando o Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência Contra a Mulher foi lançado — a 2010, a SPM investiu R$ 73,8 milhões na construção e reforma de serviços especializados da rede de atendimento a mulher, como casas abrigo, casas de passagem, defensorias e delegacias.

O fortalecimento da rede de atendimento e a implementação da Lei Maria da Penha são os eixos de atuação onde foram observados os principais resultados do pacto nacional. Outros três eixos integram o programa: proteção dos direitos sexuais e reprodutivos e enfrentamento da feminização da Aids; combate à exploração sexual da mulher e dos adolescentes e ao tráfico de mulheres; e promoção dos direitos humanos das mulheres em situação de prisão. As metas do pacto foram criadas para serem implementadas entre 2008 e 2011.

Segundo Ane Cruz, um quinto eixo será adicionado à segunda fase do pacto, com duração de 2012 a 2015: a garantia da autonomia das mulheres em situação de violência e a ampliação de seus direitos. A diretora explicou ainda que mulheres ainda são vítimas da violência em função da dependência financeira em relação aos companheiros. “Muitas dão um depoimento de que não se separaram dos maridos que as violentam porque são eles que mantêm a família. Mas vamos buscar a autonomia dessas mulheres. Essa é uma orientação da própria política de enfrentamento da miséria e da pobreza por parte da presidente Dilma”, afirmou Cruz.

Mulheres vítimas de violência terão prioridade em programas sociais do governo federal, como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida. Em relação à aplicação da Lei Maria da Penha, a diretora disse que ainda não existem metodologias exatas para se mensurar a aplicação da legislação. Ela destacou, no entanto, o aumento nos registros da Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180) — de janeiro a junho de 2010, foram feitos 343.063 atendimentos, um aumento de 112% em relação ao mesmo período do ano passado. Os crimes de ameaça e os de lesão corporal somam 70% dos registros do Ligue 180.

-

>>>

-

Rio+20: novos conceitos, velhos dilemas?

-

Espera-se, sobretudo, que a Rio+20 possa nos remeter à essência da primeira reunião sediada no Rio de Janeiro: o desenvolvimento sustentável Fonte: folha.uol.com.br 14/07

-

Em junho de 2012, o Rio de Janeiro sediará uma das mais esperadas cúpulas mundiais -a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, popularmente chamada de Rio+20.

O encontro reunirá os mais importantes líderes mundiais e ocorre 20 anos após a primeira grande conferência mundial sobre mudança do clima, que propôs o conceito de desenvolvimento sustentável.

Após duas décadas, as promessas ambiciosas não foram cumpridas, a essência do conceito de desenvolvimento sustentável se perdeu e deu lugar ao termo "economia verde", que se refere à redução dos atuais riscos ambientais e das limitações ecológicas, aliadas ao aumento do bem-estar humano e da equidade social.

O foco oficial da Rio+20 é direcionar a transição para a economia verde global. O conceito de "economia verde", além de vago, é substancialmente otimista.

Acredita-se que a adoção de tecnologias ecoeficientes em setores-chave, com mecanismos de mercado, seriam suficientes para conduzir à sustentabilidade.

Existe, contudo, um grande debate sobre quais deveriam ser consideradas "tecnologias verdes" e quais indicadores devem ser usados. Além disso, o debate não prega um processo de mudança profunda na produção e no consumo, baseado em inovações radicais.

A Rio+20 será palco de uma disputa entre os países desenvolvidos e os em desenvolvimento e emergentes. Para as economias em desenvolvimento, o debate é crucial, já que, além da dimensão ambiental, existe a necessidade urgente de atender à dimensão social.

A interação entre políticas de cunho social e ambiental carece de um debate mais robusto.

São raros os casos em que existe a complementaridade entre políticas de proteção social, de redução de risco ambiental e de adaptação a mudanças climáticas.

Historicamente, o esforço empregado pelas Nações Unidas tem sido primordial para fomentar o debate sobre o desenvolvimento sustentável e, mais recentemente, sobre a transição para a economia verde. O sistema ONU tem conduzido o debate político, atentando para a individualidade de países e regiões específicas quanto a suas dimensões sociais, ambientais, econômicas e políticas particulares.

A Rio+20 será um grande fórum de oportunidades. Espera-se que o conceito de economia verde possa ser melhor delineado, com implicações práticas. Espera-se que possa ser eficaz, ao atentar para as particularidades de regiões e de povos diferentes. Espera-se que possa atender às necessidades dos mais pobres e reduzir as vulnerabilidade dos mais desprotegidos dos efeitos das mudanças climáticas.

Espera-se, sobretudo, que possa nos remeter novamente à essência da primeira reunião sediada no Rio: o desenvolvimento sustentável.

CLÓVIS ZAPATA, doutor em economia pela Universidade de Cardiff (Reino Unido), é pesquisador sênior do Centro Internacional em Políticas para o Crescimento Inclusivo (IPC-IG) das Nações Unidas.

-

>>>

-

PASQUALE CIPRO NETO

-

"Se à inocência denigre a vil calúnia..."

-

Não é raro a leitura de um texto literário ir por água abaixo pela falta de percepção da ordem indireta Fonte: folha.uol.com.br 14/07

-

ESCREVO ESTE texto em Sacramento (MG), a caminho de Ouro Preto, onde, nesta sexta, participo do Festival de Inverno, ao lado do músico e compositor mineiro Celso Adolfo. Entre outras maravilhas, Celso compôs "Nós Dois", "Brasil, Nome de Vegetal", "Coração Brasileiro" e as canções do tocante CD "Estrada Real de Villa Rica", que, por sinal, serão o objeto da nossa apresentação na cada vez mais bela Ouro Preto.

A Estrada Real e a tricentenária Ouro Preto nos lembram a Inconfidência e os seus personagens, um dos quais é o poeta árcade Tomás A. Gonzaga, que, embora português (nasceu no Porto, em 1744), integrou-se à Inconfidência, em 1789.

Para entrar no clima da minha participação no festival, reli parte da obra de Gonzaga. Em "Marília de Dirceu", encontrei passagens que podem pôr em dificuldade o leitor que não domina a sintaxe ali presente. Na "Lira XXI", por exemplo, encontram-se estes versos: "Se à inocência denigre a vil calúnia,/ que culpa aquele tem, que aplica a pena?/ Não é o Julgador, é o processo/ e a lei quem nos condena".

Tomemos o verso "Se à inocência denigre a vil calúnia", em que se nota um torneio frasal comum no arcadismo -e nas outras estéticas literárias, do barroco até o modernismo. Refiro-me à inversão da ordem natural dos termos (chama-se "hipérbato" a essa inversão).

Voltemos ao verso de Gonzaga ("Se à inocência denigre a vil calúnia"). Antes que me esqueça, convém pedir à turma do politicamente correto que não mande (de novo) para o degredo o poeta árcade, desta vez pelo uso de "denegrir"... Concedido o "perdão" a Gonzaga, vamos ao ponto: qual é o sujeito de "denigre"? Quem denigre quem?

Se você pensou em "à inocência" como sujeito, lembro que o "à" que antecede "inocência" não por acaso recebe o acento grave, indicador de crase. O sujeito de "denigre" é "a vil calúnia". É ela que denigre (mancha, conspurca) a inocência. Na ordem direta, o verso fica assim: "Se a vil calúnia denigre a inocência".

Como o leitor deve ter percebido, na passagem para a ordem direta o acento grave desaparece. A razão é simples: "denegrir" não rege preposição (se alguém denigre, denigre algo ou alguém). A preposição "a" que integra o "à" ("à" = "a" + "a") que antecede "inocência" não ocorre por exigência de "denegrir", mas pela necessidade de que o texto tenha a mensagem pretendida.

Explico: se Gonzaga tivesse escrito "Se a inocência denigre a vil calúnia" (sem o acento grave), o sujeito de "denigre" seria "a inocência", e não "a calúnia", ou seja, seria a inocência que denegriria a vil calúnia. O acento grave de "à inocência" foi empregado justamente para que não se alterasse o sentido do verso, escrito na ordem indireta. Na ordem direta, não existiria esse risco, o que tornaria inútil o acento grave.

Não é raro a leitura de um texto literário ir por água abaixo pela falta de iniciativas elementares, uma das quais é a percepção da ordem indireta. Um chato de galochas talvez diga que os escritores deveriam sempre escrever na ordem direta, mas... Bem, a chatos de galochas é melhor não dizer coisa alguma.

Aproveito o mote para lembrar versos (muito posteriores aos de Gonzaga) do "Soneto de Fidelidade" (de Vinicius de Moraes) em que também há o emprego da ordem indireta. Lá vão: "De tudo ao meu amor serei atento/ Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto". A ordem direta seria esta: "Serei atento ao meu amor antes de tudo, e com tal zelo, e sempre, e tanto...". Agora parece mais fácil entender por que o soneto é de fidelidade, não?

Estarei em férias por duas semanas. A coluna volta em 4/8. É isso.

-

>>>

-

Ney Matogrosso leva para os palcos obra de João do Rio

.

Artista dirige amigo Marcus Alvisi em monólogo que reúne dois contos do precursor de Nelson Rodrigues

.

Conhecido pelo caráter performático de seus shows, cantor optou por limitar movimentação do ator na montagem Fonte: folha.uol.com.br 14/07

-

Ney Matogrosso volta ao teatro após um jejum de 11 anos, desde que foi diretor do musical "Somos Irmãs". Ele dirige agora "Dentro da Noite", monólogo que reúne dois contos de João do Rio (1881-1921), que estreia em São Paulo amanhã.

Conforme conta à Folha, ele busca ampliar seus domínios artísticos e colocar o precursor de Nelson Rodrigues "na roda". (GABRIELA MELLÃO)

-

Folha - O que trouxe você de volta ao teatro?

Ney Matogrosso - Antes de ser cantor, trabalhava como ator. Na verdade, nunca me afastei do teatro, levei o teatro para a música.

O que o atraiu em "Dentro da Noite"?

O [ator Marcus] Alvisi encenava esses contos como performance, em livrarias. Quando vi, fiquei louco. Não conhecia João do Rio. Ele me fez entender a loucura de Nelson Rodrigues.

De que forma?

Eles dialogam na doença, na linguagem erotizada e nos relacionamentos bizarros. Nelson admitia ter sido influenciado por João do Rio.

O que une os dois contos? A linguagem. No mais, eles são bem diferentes. "Dentro da Noite" conta a história de um camarada que descobre o prazer sexual quando fura a noiva com uma agulha. "O Bebê de Tarlatana Rosa" fala sobre um Carnaval do começo do século. Nosso Carnaval é completamente careta se compararmos com o descrito no conto.

Qual o prazer da direção?

É um grande prazer colocar João do Rio na roda. Ele foi uma figura importantíssima na literatura, mas a gente não sabe nada sobre ele, por conta dessa coisa irritante que é a falta de memória do brasileiro. Outro prazer é dirigir um amigo de muitos anos.

Por que um homem performático por natureza como você limitou a movimentação do ator ao essencial?

Há uma performance muito poderosa do ator, mas a intenção foi privilegiar a palavra. O gesto é mesmo mínimo. Eu via o que o Alvisi fazia em livrarias, e seu gestual não tinha significado. Era o gesto pelo gesto. Agora ele acrescenta, acentuando o emocional dos personagens.

Você interferiu na trilha do espetáculo?

A trilha foi feita pelo Alvise, já estava pronta. É a mesma usada em suas performances. É muito boa, me chamou atenção na época.

Você voltou ao teatro e ao cinema, no filme "Luz nas Trevas", de Helena Ignez (continuação de "O Bandido da Luz Vermelha", de Rogério Sganzerla, e que entra em cartaz em 2012). Esse movimento indica um desejo de explorar novas formas artísticas?

Meu interesse é pela arte. Não acho que o fato de ser cantor deva me restringir. Entre os ensaios e as temporadas, o teatro ocupa tanto meu tempo quanto a música. Mas eu gostaria de fazer mais cinema.

DENTRO DA NOITE

QUANDO sex. e sáb., às 20h; até 27/8

ONDE Sesc Pinheiros (r. Paes Leme, 195, tel.0/xx/11/3095-9400)

QUANTO de R$ 5 a R$ 20

CLASSIFICAÇÃO 16 anos

-

>>>>

-

CINEMA

Presença brasiliense

-

Os atores Mariana Nunes e Juliano Cazarré contracenam no longa Febre de rato, de Claudio Assis, que fechou a programação do Festival de Paulínia Fonte: correioweb.com.br 14/07

-

Paulínia(SP) — Filha de professores, a atriz brasiliense Mariana Nunes foi a única da família a optar pela carreira artística. Para tanto, fez cursos de teatro na capital e estudou artes cênicas na Faculdade Dulcina de Moraes. Morou algum tempo em São Paulo, passou uma temporada estudando na Espanha e agora está no Rio de Janeiro. Em Brasília, trabalhou com o diretor Geraldo Moraes em O homem mau dorme bem. No Rio, participou da série A cura, que foi ao ar no ano passado.

Filho do escritor e jornalista Lourenço Cazarré, o ator Juliano Cazarré já carrega no DNA a vontade de ser artista. Nascido no Rio Grande do Sul, mas criado em Brasília desde bebê, o ator estudou cênicas na Universidade de Brasília (UnB). Deixou Brasília há alguns anos para trabalhar no eixo Rio-São Paulo. A decisão de sair do Distrito Federal deu certo. Cazarré esteve no elenco do maior sucesso de bilheteria do cinema brasileiro, Tropa de Elite, de José Padilha .

Apesar de terem iniciado a carreira em Brasília mais ou menos na mesma época, os dois nunca haviam trabalhado juntos. Isso até o convite do diretor pernambucano Cláudio Assis para integrar o elenco do longa-metragem Febre do rato, filme programado para encerrar a competição de longas de ficção do 4º Festival de Cinema de Paulínia ontem à noite. “Eu havia escrito o papel da Rosângela para uma atriz amiga nossa, que é loira. Mas, quando eu vi a Mariana, achei que deveria ser dela”, relembra Assis sobre o encontro com a atriz negra Mariana Nunes durante uma das edições do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, no Hotel Nacional. Cazarré estava no elenco de A festa da menina morta, dirigido por Matheus Natchtergaele e pareceu a Cláudio que unir os dois daria um bom caldo.

Fábrica

No filme pernambucano, Mariana é Rosângela, a moça que decide morar com o namorado Boca Mole (Cazarré) e mais dois amigos encarnados pelo pianista Vitor Araújo e pelo músico Hugo Gila, numa fábrica abandonada. “Não é uma decisão ideológica. Eles decidem que vão fazer isso e fazem. Eles simplesmente vivem. A minha personagem não sofre por alguma questão moral”, resumiu Mariana. “É mais uma atitude punk do que de uma comunidade hippie. Eles decidem que vão invadir e pronto”, complementa Cazarré.

Os dois atores se viraram como puderam para dar veracidade a personagens tão diferentes dos intérpretes da vida real. Um problema em especial também precisava ser superado: como alcançar um sotaque pernambucano crível no período de filmagens?

“Para me enturmar, eu andava na rua, conversava com as pessoas. Anotava expressões que ouvia. Só quando eu ia para o hotel é que eu virava o Juliano de novo”, recorda o ator. “Eu grudei nos amigos que fiz lá, principalmente o Vitor e o Gila”, recorda Mariana. “Os dois se adaptaram muito bem. Brasília tem isso mesmo ”, reconheceu o diretor sobre a participação dos dois num elenco todo pernambucano.

Apesar do distanciamento de questões políticas, os moradores da fábrica se reúnem ao poeta Zizo (Irandhyr Santos) em missão de distribuir o jornal panfletário Febre de rato. Mariana gostou muito da convivência com os pernambucanos: “O Cláudio é um grande provocador”, comenta Mariana. “Ele sempre disse que o filme não era só dele. Era também da gente. Isso dava um sentido de responsabilidade maior”.

Nenhum comentário: