quarta-feira, 20 de julho de 2011

LITERATURA

Contos de subversão

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Volume de prosa de Glauco Mattoso é um making of de sua produção poética: livre das regras dos sonetos, o "poeta maldito" continua espetando a moral e os bons costumes Fonte: correioweb.com.br 20/07

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Quando Glauco Mattoso, que completou 60 anos no último 29 de junho, era menino, já sabia que a cegueira, algum dia, chegaria para ficar, como um pesadelo noturno que se tornaria um desespero real. “Minha doença era uma forma muito grave de glaucoma, que nem a do Ray Charles.

Com operações, consegui adiar”, conta. O mal que tirou definitivamente sua visão grudou nos olhos do escritor paulistano em 1995. E Pedro José Ferreira da Silva, inserido em mais uma esfera de discriminação — ele é gay e tem fetiche por pés — preferiu se levar menos a sério do que, quem sabe, “enlouquecer com a limitação”. Ele fez de Glauco Mattoso o pseudônimo que ri dos problemas de saúde.

E, da sua escrita, a impressão do desabafo. Em Tripé do tripúdio e outros contos hediondos, publicado numa edição cuidadosa do selo Tordesilhas, ele leva os extremos da sua literatura — entre o bom humor e a crítica que combate a hipocrisia cruel dos costumes sexuais — para a prosa, em textos que aproximam o poeta do contista. Numerados, alguns dos seus mais de 4.500 sonetos são complementados com narrações que desnudam uma ligação permanente entre vida e arte.

Para Mattoso, não existe ficção desgarrada de experiências particulares: especulação e invenção estão, de alguma maneira, firmadas na realidade. “Acredito que toda literatura, pelo menos a forte, a autêntica, tem que ter um vínculo com a vida pessoal do autor. Não acredito naquela totalmente inventada, fantasiosa, que você tira do nada. Mas é claro que você tem uma certa dose de liberdade para, não digo fantasiar, mas pelo menos distorcer um pouco”, argumenta.

A voz de um excluído

Nas 25 histórias de inspiração própria, de seus poemas, ele é personagem — ora protagonista, ora ouvinte curioso — de relatos ofensivos à moral sexual considerada sadia, que entorta o nariz para fetiches, vícios e taras. Além da já conhecida podolatria, a afronta de Mattoso chega ao sadomasoquismo e à escatofilia: perversões redigidas com a verve de um solitário que fala de si e dos outros. “Me identifico e me solidarizo com outros excluídos. Incorporo ao meu imaginário experiências de outros, relatadas por terceiros”, informa.

Mattoso é um libertário, mas não um adepto da poesia livre. É o inverso: exige de si atenção irrestrita à métrica, como se estivesse escrevendo sob a pressão de regras imutáveis. “No Brasil, , depois do modernismo, teve essa história de que o soneto é coisa parnasiana. A geração de 1945 recuperou o soneto, mas era uma coisa considerada retrógrada, como se o que valesse mesmo fosse a vanguarda concretista. Não é verdade. Existe espaço para a vanguarda. Mas não se pode sepultar o soneto. Poesia rimada e metrificada estimula um desafio. Você tem uma disciplina e tem que corresponder. É um chicote literário e um incentivo. Considero o soneto quase como um vício, como se tivesse que fazê-lo para me manter vivo”, constata.

Nas páginas de Tripé, ele exibe uma espécie de lado b do “poeta maldito”, que, aliás, também é compositor e já caminhou com seu espírito venenoso de paródia no terreno das histórias em quadrinhos e na imprensa, nos anos 1980 e no início da década seguinte. “Cada conto tem a ver com o tema de um poema que já tinha feito. É contar o soneto com outras palavras. É, também, uma forma de se envolver com o tema, não ficar preso ao que é contado no soneto”, avalia. Mundano e underground, Mattoso transgride a frágil superfície que ampara convenções e preconceitos de cabeça erguida — e com um espesso par de óculos escuros.

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CRÍTICA DOCUMENTÁRIO

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Filme revê a origem dos Novos Baianos e seu padrinho famoso

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Moraes Moreira, Galvão e outros integrantes lembram como João Gilberto mexeu com eles e redefiniu o grupo Fonte: folha.uol.com.br 20/07

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"Filhos de João" se destaca na onda de documentários musicais brasileiros por dois motivos: joga luz sobre a criação do grupo Novos Baianos, não exatamente um nome popular hoje, e escolhe como fio condutor comentários de um Tom Zé inspiradíssimo.

O filme do diretor Henrique Dantas, que entra em cartaz na próxima sexta, é carinhoso, divertido e dedica boa parte da metragem a uma louvação a João Gilberto, que um dia visitou o apartamento que os ainda "roqueiros" baianos dividiam no Rio de Janeiro.

O depoimento emocionado de Moraes Moreira sintetiza o impacto de João na rapaziada. "Ele ficou ali tocando, aquela coisa perfeita, e pensei em largar a música." Ele e os outros acharam que nunca poderiam chegar perto daquilo que o ídolo fazia.

João Gilberto mostra a eles uma "overdose" de samba, de compositores como Assis Valente, e forma a partir dali a sonoridade do grupo. O filme tem muito mais do que a bênção de João. Começa com o encontro do letrista Galvão com o músico Moraes Moreira, nos anos 1960, parceria incentivada por Tom Zé.

Paulinho Boca de Cantor, jovem mas já rodado em palcos, se junta a eles e aos poucos o grupo vai se formando. Quando se mudam para um apartamento no Rio, sua comunidade já é grandinha, com Pepeu Gomes, Baby Consuelo, Dadi e muitos outros. A profissão de fé hippie é extremamente didática para as novas gerações. Unidos pela música e pelo futebol, os Novos Baianos resgataram pandeiro e cavaquinho para o público jovem e urbano.

O filme mostra como eles mudaram o Carnaval baiano, saindo em 1976 com o primeiro trio elétrico com cantores. Mesmo sem depoimentos de Baby, que não quis participar, "Filhos de João" serve como aula de MPB, retrato do sonho hippie e capítulo vital para entender o Brasil.

FILHOS DE JOÃO - O ADMIRÁVEL MUNDO NOVO BAIANO

PRODUÇÃO Brasil, 2011

DIREÇÃO Henrique Dantas

COM Novos Baianos, Tom Zé

QUANDO estreia nesta sexta-feira (22); circuito a definir

AVALIAÇÃO ótimo

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ANÁLISE

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Sem respostas, cineastas humanizam indústria da mídia Fonte: folha.uol.com.br 20/07

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O fato de dois documentários lançados quase simultaneamente nos EUA voltarem as lentes para a indústria jornalística não é um acaso. Reflete o momento de dúvidas sobre a viabilidade do negócio, sua credibilidade em tempos de reações instantâneas e seu papel social. "Page One" conta a história da equipe que escreve sobre mídia no respeitabilíssimo "New York Times" para falar dos percalços que o jornal (o específico ou de forma geral) enfrenta na era da internet e da síndrome do déficit de atenção.

E há "Tabloide", filme de Errol Morris ("Sob a Névoa da Guerra", 2003), que foca a bizarra história da ex-miss Joyce McKinney. Ela foi acusada, no fim dos anos 1970, de perseguir e "sequestrar" um ex-namorado mórmon para obrigá-lo a fazer sexo por três dias.

No pano de fundo, está o negócio do sensacionalismo em um tempo em que os tabloides eram mais pueris, mas já apelavam para recursos como escutas telefônicas e outros expedientes heterodoxos que a trupe de Rupert Murdoch, 20 anos depois, levaria a níveis inimagináveis.

Morris não se preocupa, porém, em tomar posição sobre ética e sobre como os jornais britânicos exploraram o caso McKinney, fazendo da moça de heroína ingênua a vilã hipersexualizada. Ele se contenta em contar todas as versões para dar ao espectador o poder de julgar sozinho.

De forma análoga, Andrew Rossi, de "Page One", acerta ao usar o colunista David Carr como figura central e mostrar tropeços e trunfos no dia a dia dos jornalistas. E fica para o espectador tirar suas conclusões sobre o lugar do jornalismo no futuro.

São respostas difíceis, se é que alguém as tem. De qualquer forma, é uma surpresa confortante ver essa indústria, nos últimos anos tão resumida a números e discussões abstratas, humanizada. Hiper-humanizada, até.

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Maior concurso de design do país tem inscrições abertas

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Prêmio do Museu da Casa Brasileira comemora 25 anos e anuncia seus vencedores no dia 22 de novembro

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Além da premiação em dinheiro, instituição selecionará candidatos para bolsas de estudos em curso em Milão Fonte: folha.uol.com.br 20/07

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Começam hoje e vão até 29 de agosto as inscrições para o maior concurso de design do país, o do Museu da Casa Brasileira, que faz 25 anos.

Anualmente, centenas de estudantes e profissionais inscrevem no concurso seus produtos ou projetos, como mobiliário, utensílios, iluminação, têxteis, equipamentos de construção, equipamentos de transporte e trabalhos escritos. Em 2010, foram 538 inscritos. Os premiados de 2011 serão anunciados em 22 de novembro, e a mostra fica até dezembro no Museu da Casa Brasileira, em São Paulo.

Além da premiação em dinheiro, o museu selecionará candidatos para bolsas de estudos em curso da Domus Academy, em Milão. O Prêmio MCB continua sendo considerado o mais importante do país, embora hoje tenha a companhia de muitos outros (veja texto nesta página).

Vencedores atuantes, visibilidade no maior centro econômico do país e proximidade com a indústria são atrativos do prêmio. "Minha primeira premiação foi o MCB, em 2003", diz Fernando Prado, um dos mais destacados designers de iluminação do Brasil. Atualmente, Prado inscreve seus produtos no MCB, no Idea Brasil, no Idea USA, no Good Design USA, do iF design e no Red Dot Design, os dois últimos na Alemanha.

ORIGEM

O Prêmio MCB nasceu em 1986, num momento de entusiasmo pelo design, afirma a crítica Adélia Borges no livro que conta os dez primeiros anos dessa história.

"Havia não só vontade política de realizá-lo mas também uma conjuntura extremamente favorável. O Plano Cruzado reduzira a inflação, permitindo o crescimento da produção e um consumo recorde", escreve Adélia.

Um dos vencedores de 1986 foi o arquiteto Paulo Mendes da Rocha, com versão modernizada da cadeira Paulistano (a primeira versão fora usada na área da piscina do clube Paulistano, nos anos 60).

Desde então, muita coisa mudou no cenário do design no país. Há 25 anos, os cursos conhecidos de design no Brasil eram a Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI), no Rio, e os cursos de design do Mackenzie e da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Hoje, são mais de 600 cursos de graduação no país, pelo menos dez mestrados e dois doutorados, segundo o consultor e professor de design Auresnede Pires Stephan, da Faap, da ESPM, do Santa Marcelina e do IED.

NOVIDADES

Também para se adequar ao crescimento das escolas de design no país, o Prêmio MCB instituiu a modalidade trabalhos em desenvolvimento ou protótipos para todas as categorias.

O MCB também é o que mais destaque dá a ensaios sobre design, abrindo espaço para teses de mestrado e doutorado.

Outra modificacão importante foi a inclusão de segurança e proteção ambiental como critérios de avaliação, além de originalidade, concepção formal, inovação tecnológica, adequação ao mercado e viabilidade industrial. Informações em www.mcb.org.br/premiodesign.

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JUSTIÇA

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Mutirão do CNJ para rever prisões ilegais começa hoje em São Paulo

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DE BRASÍLIA - Começa hoje um mutirão, organizado pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça), para analisar quase 100 mil processos de presos que cumprem penas em regime fechado no Estado de São Paulo.

A força-tarefa, que deverá acontecer até dezembro, tem como objetivo analisar quais destes presos já cumpriram suas penas e continuam encarcerados ilegalmente, além de encontrar aqueles que poderiam passar para um regime menos rígido e, por falta de organização do poder público, estão em regime fechado.

Não há uma estimativa de quantos devem ser soltos, mas se levar em conta a estatística dos mutirões que já aconteceram em outros Estados, mais de 10 mil presos poderão deixar a prisão durante a análise e outros quase 20 mil poderão ser beneficiados com a progressão de regime. Fonte: folha.uol.com.br 20/07

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País tem cerca de 20 premiações de diversos perfis

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Existem hoje cerca de 20 premiações ou seleções de design de destaque no Brasil, com diferentes perfis. Uma das mais promissoras é a seleção para a Bienal Brasileira de Design, que ocorre em Belo Horizonte em 2012. Fonte: folha.uol.com.br 20/07

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Entre os prêmios, o Planeta Casa, da Editora Abril, incentiva design sustentável (economia de energia, uso de recursos naturais, reaproveitamento da água e reciclagem doméstica).

Premiada pelo MCB, a designer Baba Vacaro cita como importantes o Design Excellence, que seleciona produtos para o IF Design, na Alemanha, e o Prêmio Objeto Brasil, que estimula a produção artesanal e comunitária. O Idea Brasil atrai competidores pela visibilidade no mercado norte-americano.

O Prêmio Tok&Stok, para estudantes, revela talentos e confecciona protótipos. Em abrangência, destaca-se a premiação da Casa Brasil e a do MovelBrasil, em Bento Gonçalves (RS), com latino-americanos e europeus. Com 12 anos, o Prêmio House&Gift Fair de Design estimula empresas e estudantes. Já o Prêmio Sebrae de Minas Gerais incentiva a produção local, enquanto o Prêmio Top XXI Design Brasil, da Arc Design, divulga novos talentos, conceitos e inovações.

Há também o Alcoa, o Prêmio Embalagem Marca, a Mostra Jovens Designers, o Prêmio de Design Abimóvel, o Anglo Golden Ashanti de joalheria, a Mostra Senai-SP de Design, o Concurso Universitário Faber Castell e o prêmio CNI de Inovação em Design.

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Lei florestal pode encarecer indenizações

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Novo código em debate no Congresso aumenta áreas produtivas de propriedades, valorizando desapropriações

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Especialistas estimam que custo extra para reforma agrária ou criação de reservas seria de bilhões de reais Fonte: folha.uol.com.br 20/07

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A reforma no Código Florestal, em análise no Senado, deve ter um impacto econômico até agora insuspeito: no valor das desapropriações para reforma agrária e criação de unidades de conservação.

Ao mudar os parâmetros de área de preservação no interior de propriedades, a nova lei aumentará a área produtiva ""passível de indenização pelo poder público para fins de desapropriação.

Para especialistas ouvidos pela Folha, o prejuízo aos cofres públicos pode chegar a dezenas de bilhões de reais.

"É uma caixa preta, cujos cálculos ninguém fez ainda", disse Herman Benjamin, ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça) e conselheiro do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente).

Ele cita uma única indenização, na década de 1990, para a criação do parque nacional da Serra do Mar, em Ubatuba (SP). Foi desapropriada uma área de 13 mil hectares, por R$ 1 bilhão. Hoje, o Estado de São Paulo deve mais de R$ 7 bilhões em desapropriações ambientais.

De acordo com o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), o tema chegou a ser discutido entre o instituto e o Ministério do Meio Ambiente.

Como o código ainda não foi aprovado, não foi feito um cálculo de qual seria o gasto adicional em indenizações.

MUDANÇAS

O texto do novo Código Florestal sugere mudanças tanto em APPs (Áreas de Preservação Permanente) quanto em reservas legais. No caso das APPs, áreas hoje consideradas intocáveis, como encostas, passarão a ter possibilidade de uso agrícola.

Acontece que hoje as APPs não são contabilizadas como área produtiva de propriedades. Por isso, não são passíveis de indenização para fins de reforma agrária ou criação de unidade de conservação caso sejam ocupadas.

"No instante em que você legaliza, especialmente áreas de pasto, isso passa a ter valor econômico", diz Benjamin. "Haverá alteração de todas as ações indenizatórias, não só em curso, mas já transitadas em julgado e em etapa decisória. Serão bilhões de reais", afirma o ministro.

Flávio Botelho, professor de agronegócio da UnB (Universidade de Brasília), explica que desapropriações poderão ocorrer em áreas de expansão agrícola ""como no sul da Amazônia, em Mato Grosso, no Maranhão e no Piauí. "Regiões como o Sul e o Sudeste, que são mais ocupados, tendem a sofrer menos modificações", afirma.

Benjamin diz que a discussão sobre o tema não pode ser fundamentada em "miudezas", mas no debate das linhas principais do código.

"A lei jamais contará com a unanimidade. É evidente que haverá divergências se forem discutidos os pormenores. Ruralistas e ambientalistas devem reconhecer que todos perderão um pouco."

Para ele, as grandes linhas de orientação da reforma são a separação entre o futuro e o passado ""determinar quais áreas são passivo ambiental e precisam ser recuperadas"" e o esclarecimento de que os dispositivos futuros não serão flexibilizados no tratamento das florestas existentes daqui para a frente.

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Brasil supera Índia em lista de inovação

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País avançou 21 posições de 2010 para 2011 em ranking mundial da área que considera mais de 50 indicadores

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Para especialistas, alta abrupta de posições e superação do país asiático podem indicar ineficiência do ranking Fonte: folha.uol.com.br 20/07

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O Brasil avançou 21 posições no ranking mundial de inovação de 2011, elaborado pela Confederação da Indústria da Índia em parceria com o instituto de administração europeu Insead e a Organização Mundial de Propriedade Intelectual (Wipo, na siga em inglês).

A alta no ranking representa mais uma recuperação de uma queda do que uma grande evolução. Em 2009, o país ocupava a posição de número 50 na lista das 125 nações. Caiu para o 68º lugar no ano passado e voltou a subir neste ano, para o posto de 47.

Ficou à frente de Rússia e Índia, perdendo apenas para a China no grupo dos Brics. Suíça e Suécia lideram o ranking neste ano.

A classificação é feita a partir da ponderação de mais de 50 indicadores, agrupados em dois subitens.

Uma divisão reúne informações sobre o ambiente de inovação, com dados desde educação e infraestrutura até a incidência de impostos.

Na outra ponta aparecem os resultados no campo da inovação. São dados como produção de patentes, artigos científicos e exportação de bens criativos.

O Brasil vai melhor nessa segunda área. Enquanto o país foi o 32º nos resultados, figurou no 68º lugar na lista por ambiente de inovação.

A relação entre os dois deu destaque ao país, que ficou na 7ª posição na classificação de eficiência. Significa dizer que o Brasil conseguiu um bom saldo na área de inovação com um ambiente ainda desfavorável.

A parte dos resultados é também a que gerou a oscilação de posições nos últimos anos. Nesse subitem, o país ganhou mais de 40 posições de 2010 para este ano. Boa parte da explicação para tamanha mudança está na incorporação de novos indicadores, como a produção nacional de filmes, que passou a ser considerada neste ano.

INDICADOR

Roberto Nicolsky, diretor-geral da Protec (Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica), questiona a liderança do Brasil em relação à Índia. Para ele, a grande variação do país sugere a ineficiência do indicador.

A Índia perdeu posições por conta de seus indicadores de ambiente para inovação. No item capital humano, que reflete políticas educacionais, o país caiu mais de 60 posições em um ano.

Nicolsky cita o deficit de serviços e produtos de alta tecnologia e média-alta tecnologia como justificativa. A cifra saiu de US$ 20 bilhões em 2006, para mais de US$ 80 bilhões em 2010.

O presidente da Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica, Luiz Antônio Antoniazzi, considera que houve uma melhora na cultura de inovação e cita a exigência de conteúdo nacional para o setor de petróleo como exemplo de política de incentivo. Ainda assim, ele afirma não ser possível comparar Brasil e Índia.

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ANÁLISE

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Aquecimento do mercado de trabalho preocupa especialistas

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EXISTE UM LIMITE PARA A QUEDA DO DESEMPREGO A PARTIR DO QUAL AS CONSEQUÊNCIAS NEGATIVAS SUPERAM AS POSITIVAS Fonte: folha.uol.com.br 20/07

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Ótimo para trabalhadores, difícil para empresas, preocupante para economistas.

É mais ou menos dessa forma que o aquecimento do mercado de trabalho brasileiro tem sido vivido atualmente por diferentes grupos (embora a generalização peque em alguns aspectos pelo simplismo).

Profissionais dizem se surpreender com a abundância de ofertas de emprego, sustentada por forte recuperação de investimentos nos últimos anos. Empresas relatam dificuldades para contratar mão de obra.

Parece raciocínio perverso atribuir tom de preocupação a esse cenário, em que cada vez menos gente padece pela falta de emprego e em que a renda sobe.

Mas há uma explicação econômica razoável que justifica a cautela. Existe um limite para a queda da taxa de desemprego a partir do qual as consequências negativas superam as positivas.

Esse piso é atingido mais ou menos quando, para atender a demanda da população por bens e serviços, as empresas começam a ter que contratar por salários cada vez mais altos profissionais muito pouco qualificados e ineficientes.

Chega a um ponto em que a situação se traduz em um aumento de custos tão elevado que começam a ser repassados aos preços. O resultado é inflação mais alta.

Há economistas que temem que o Brasil esteja passando por um momento assim. Mas esse temor não é sinônimo de certeza.

É difícil auferir essa taxa de desemprego "mínima", de equilíbrio. Pior ainda no caso do Brasil.

Faltam por aqui séries longas de dados confiáveis, e o retrato mensal do emprego no país é feito a partir de estatísticas de apenas seis regiões metropolitanas.

Tudo indica que, salvo uma nova e forte recessão global, o ciclo de investimentos no Brasil continuará forte (as obras necessárias para os eventos esportivos que vêm pela frente ajudam a sustentar essa hipótese).

Com isso, é possível que o desemprego recue ainda mais, o que pode aumentar o risco para o cenário de inflação no país.

Essa situação pode se traduzir em ganhos ou perdas para o governo com eleições municipais à vista (em outubro de 2012).

Se prevalecer a sensação de bem-estar e estabilidade, aumentam as chances de ganhos. Se a inflação disparar, crescem os riscos de perdas.

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ELIO GASPARI

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A arte das propinas elegantes

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A China tem o que ensinar ao Brasil, seu maior falsário de obras de arte trabalhou em Mogi das Cruzes Fonte: folha.uol.com.br 20/07

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NUMA ÉPOCA EM que a China é um modelo de progresso, as roubalheiras nacionais recomendam que se dê uma olhada na estética da corrupção no Império do Meio. Os larápios que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá. É isso o que mostra Antony Ou, da universidade inglesa de Sheffield num artigo precioso, intitulado "A arte chinesa das propinas elegantes". É um passeio pela prática secular da distribuição de jabaculês usando obras de arte como moeda.

Até aí nada de novo, pois mesmo em Brasília veem-se casas bem decoradas com presentinhos. Com 4.000 anos de história e uma cultura na qual a autoria de uma obra é avaliada por critérios diferentes daqueles que vigoram no Ocidente, as "propinas elegantes" são crimes perfeitos.

Antony Ou expõe diversos cenários. No mais sofisticado, o empresário entrega a uma galeria uma peça falsa. O burocrata vai à loja e a compra pelo valor pedido. Como a obra era verdadeira, ele comprou por US$ 200 uma peça que vale US$ 20 mil e tem todos os papéis em ordem.

Uma das estrelas desse mercado de peças falsas-verdadeiras é o pintor Zhang Daqian (1899-1993), um dos maiores artistas chineses do século 20. Mestre da cópia, ele bateu de longe o holandês Hans van Meegeren, que falsificava Vermeers, e quebrou o paradoxo de Michelangelo. (Um busto romano falsificado por ele no Quinhentos é um Michelangelo ou uma falsificação?) Um Zhang falso do Seiscentos pode valer mais que uma obra verdadeira.

Tremendo personagem, Zhang passou boa parte da vida estudando e copiando desenhos seculares. Era um sujeito miúdo, com uma enorme barba de flocos brancos. Em 1948 ele fugiu da China e em 1953 instalou-se em Mogi das Cruzes, no interior de São Paulo. Ali viveu até 1972. Apesar de expor pelo mundo afora, poucos registros deixou em Mogi, onde é praticamente desconhecido. Sabe-se que deu aulas de pintura. Uma de suas estudantes, Judy Shen, vendeu há poucos meses um desenho do mestre por US$ 312 mil na casa Sotheby's. Ele gastou uma pequena fortuna construindo na sua propriedade um "Jardim das Oito Virtudes".

Cópias de desenhos do século 12 feitos por Zhang valem fortunas. Um de seus quadros (verdadeiro) foi vendido em maio por US$ 24,5 milhões. Em 2007, o Museu de Arte de Boston o honrou com uma exposição dignificante pelo título: "Zhang Daqian, pintor, colecionador, falsário". A instituição tinha em seu acervo três obras de Zhang, uma dele mesmo; outra, falsificada por ele, e a terceira, atribuída a ele, fraudada por outro artista.

Durante os 19 anos em que viveu em Mogi Zhang viajou com frequência e expôs na Ásia, nos Estados Unidos e na Europa. Em 1956, visitou Pablo Picasso, trocaram quadros e posaram para uma fotografia divulgada como marco do encontro da arte oriental com a ocidental. Em 1997, seu painel "A beira do rio" foi considerado a mais antiga paisagem monumental da história, verdadeira Mona Lisa da arte chinesa. Se fosse verdadeiro, teria sido pintado no primeiro século da era cristã. É provável que Zhang tenha vendido o painel em 1956, quando vivia em Mogi.

O artigo de Ou "The Chinese art of elegant bribery" está na rede. Ele menciona Zhang, mas não chega a Mogi.

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