É um horror
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Cenas extremas de pedofilia e morte estão no longa censurado na Europa que tem inspiração política e está no festival RioFan Fonte: folha.uol.com.br 18/07
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Há muito tempo um filme não causava tanta polêmica. Por onde passou (ou tentou passar), "A Serbian Film: Terror sem Limites" -longa que o RioFan, festival de cinema fantástico do Rio, exibe no próximo sábado- causou um grande barulho e chocou plateias e críticos.
Sua ficha corrida fala por si: é o filme mais censurado dos últimos 16 anos no Reino Unido (só foi liberado para exibição após 49 cortes).
Na Noruega, está vetado; na Espanha, rendeu um processo ao diretor do festival que o exibiu.
Também teve problemas com a lei na Alemanha (onde o laboratório que fez as cópias as destruiu após se dar conta do conteúdo) e em seu país de origem, a Sérvia.
"Isso tudo é espantoso para mim", diz o diretor, o estreante sérvio Srdjan Spasojevic, 35, à Folha.
"Estamos no século 21, seria de imaginar que tudo já foi dito e visto, mas de novo estamos vendo uma caça às bruxas porque alguém não gostou de um filme."
Não que se possa culpar alguém por não gostar de "A Serbian Film". O longa tem incesto, pedofilia, necrofilia, violência a granel (incluindo dois assassinatos em que a arma é um pênis) e, em seu momento mais polêmico e chocante, o estupro de um recém-nascido.
"Quando terminei de assistir, senti um mal-estar, fiquei pensando "meu Deus, o que foi isso que eu vi?'", conta Raffaele Petrini, 26, o responsável pela distribuição do filme no Brasil.
Dono de uma microdistribuidora maranhense criada neste ano, Petrini diz que pensava em lançar o filme apenas em DVD.
As polêmicas internacionais, no entanto, o fizeram considerar uma distribuição nos cinemas -ele passou em festivais em Porto Alegre e em São Luís anteontem, e tem data de lançamento programada para 5 de agosto, apesar de ainda não ter salas previstas nem classificação do Ministério da Justiça.
"Depois dos escândalos, assisti de novo, de modo objetivo, e vi que era um filme bom, apesar das cenas de violência. Ele é bem repugnante, mas não exalta a pedofilia nem a necrofilia."
METÁFORA
"A Serbian Film" conta a história de um astro pornô aposentado que, por uma fortuna, aceita fazer um último filme, uma obra pornográfica com pretensões artísticas. Durante as filmagens, ele é drogado e forçado a cometer atrocidades sexuais.
"A ideia básica era expressar meus sentimentos sobre minha região e o mundo em geral. Por isso, o protagonista é um ator pornô, como uma metáfora para qualquer profissão onde as pessoas são violentamente exploradas", explica Spasojevic.
O diretor também afirma que seu filme é uma alegoria política -a história se passa na Sérvia, como o título indica, e tem referências pontuais às turbulências recentes do país.
"Era inevitável ter esses elementos no filme. Cresci num período muito turbulento da Sérvia, com várias guerras durante minha infância, bombardeios da Otan. Como artista, fui inspirado por essas coisas, e elas não me inspiram a fazer nada bonito."
Spasojevic não convenceu seus críticos, que o acusam de querer dar um verniz respeitável a um exercício sensacionalista e depravado.
"É um pesadelo de horror pornô mal atuado e mal dirigido, que aspira a ser uma sátira do lado negro da Sérvia moderna", escreveu Peter Bradshaw no jornal britânico "The Guardian".
Kim Newman, crítico da revista "Empire", foi mais ponderado. "Cabe ao público julgar se o elemento político do filme é uma justificativa espúria para um exercício cínico e chamativo de quebra de tabus -mas deve ser o público, não os censores, a tomar essa decisão."
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O transbordamento verde
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ALFREDO SIRKIS
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O nosso transbordamento significa libertar-se de luta interna e canalizar energias para os sonhos que afloraram na campanha de Marina Silva Fonte: folha.uol.com.br 18/07
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A crise do Partido Verde nos remete a uma reflexão mais profunda sobre o inglório destino dos partidos numa vida política dominada pela cultura cartorial-clientelista.
Aquele partido que se propunha portador de novas ideias e de novas formas de fazer política ora naufraga, ingloriamente, numa tragédia de erros quase caricatural, mas altamente emblemática daquilo que há de errado e anacrônico no fazer política brasileiro.
Embora possa haver entre nós nuances em relação ao "timing" da coisa, sou profundamente solidário com o gesto de Marina Silva em resposta ao tratamento ignóbil que recebeu por parte dos burocratas que controlam o partido como cartório de mediocridades patenteadas.
Negaram aquele mínimo de oxigênio democrático à coerência entre o funcionamento interno do partido e as suas ideias generosas para a sociedade.
Lidamos com três círculos sociais diferentes. O eleitorado e a opinião verde na sociedade, que não são todos os 20 milhões de votos de Marina Silva na eleição de 2010, mas parte considerável que se identifica com ecologia, sustentabilidade e cidadania.
O segundo é o dos militantes mobilizados ou mobilizáveis pela causa verde, suas lutas e projetos, que participam sem pertencer a uma estrutura partidária regular.
O terceiro -e minúsculo- circulo é aquele da burocracia partidária, da "copa & cozinha" do PV, em que se enfrentam idealismo e clientelismo, que optou pelo atraso com requintes de cegueira política suicida. É o espaço do cartório eleitoral, das capitanias hereditárias, da presidência por tempo indeterminado, quiçá vitalícia.
Nosso enfrentamento ocorreu nesse último e minúsculo círculo, mas que aparece na mídia e no establishment político como o institucional, o que vale, não obstante a patética falta de representatividade eleitoral ou de conteúdo.
Nossa resposta será esquecê-los em sua redoma, abandoná-los aos seus conchavos e partir em busca daqueles dois outros círculos maiores: o dos ativistas das causas verdes e de cidadania e o dos eleitores que confiaram a Marina Silva seus votos não apenas como uma personalidade carismática, mas como portadora de esperança para uma política diferenciada.
Nosso movimento dos verdes e da cidadania vai se estruturar capilarmente em todo o país, a partir de bairros, cidades, regiões, locais de trabalho, estudo, congregação, movimentos e lutas afins, com apoio dos meios digitais hoje disponíveis, das estruturas em rede, democráticas e inclusivas, que a maioria da cúpula do PV negou-se tão enfaticamente a experimentar.
Não será, a princípio, um partido político, pois formar um partido agora, apressadamente, seria se expor a mais do mesmo.
Não desejamos caracterizar nossa ação como mais um "racha" típico de partido, embora possa assim parecer. Foi mais um transbordamento de uma estrutura apequenada, que não soube nem quis assimilar o potencial extraordinário gerado pelos 20 milhões de votos conquistados em outubro de 2010.
Nosso movimento continuará a ajudar e a apoiar quadros e candidaturas, no PV e em outros partidos, com os quais possamos estabelecer vínculos programáticos claros e laços de confiança e afinidade.
Nosso transbordamento significa simplesmente libertar-se de uma luta interna desgastante, sem perspectivas, para poder canalizar energias para os sonhos, os propósitos e as expectativas que afloraram tão intensamente na campanha de Marina Silva, no ano passado, e dos quais não podemos descuidar ao focar no cartório em detrimento da sociedade. Pois rumo a ela transbordamos.
ALFREDO SIRKIS, 60, jornalista e escritor, é deputado federal pelo PV-RJ e autor dos livros "O Efeito Marina" e "Os Carbonários", entre outras obras.
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