segunda-feira, 18 de julho de 2011

Com patente da UnB, empresa vai produzir extrato de pequi em cápsulas

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Descoberta de professor da UnB espera apenas autorização da Anvisa para chegar às gôndolas . www.unb.br

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O professor Cesar Koppe, do Instituto de Biologia da UnB, descobriu uma forma de preservar os pequizeiros do Cerrado: agregando valor ao seu produto, o pequi. Em dez anos de pesquisas, Cesar elaborou um produto em cápsulas que concentra as propriedades antioxidantes e antiinflamatórias do extrato e do óleo de pequi. "Quando comecei a estudar o pequi minha ideia não era ganhar dinheiro com isso. Era dar valor ao fruto do pequizeiro para ele não virar carvão em um saco ou pedaço de madeira em uma fazenda. Temos que agregar valor de forma sustentável", explica. Patenteado pela UnB, o produto fitoterápico que previne o envelhecimento aguarda apenas o registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ter suas cápsulas comercializadas. Uma empresa de Brasília já adquiriu os direitos sobre a patente.

A primeira fase de testes do produto criado por Cesar foi feitas com células em cultura. Já nessa fase, o pesquisador pôde observar a capacidade antioxidante do extrato. Substâncias antioxidantes anulam o efeito dos radicais livres, moléculas responsáveis pelo envelhecimento das células e que são produzidas como resultado de reações químicas do organismo, como a respiração. Na fase seguinte, de testes em camundongos, os resultados foram confirmados.

O óleo e extratos começaram então a ser testados em humanos. O professor selecionou um grupo de 60 maratonistas, que por exercerem atividade extenuante, produzem mais radicais livres. Eles tomaram cápsulas de óleo e extrato de pequi e passaram por uma bateria de exames após as maratonas. Os que tomaram o medicamento tiveram menos danos celulares dos que os que não tomaram.

O professor agora passa para uma nova fase: a de teste em pacientes vulneráveis do Hospital Universitário de Brasília. Ele fará os testes em pacientes com lúpus, que por conta da doença, também produzem mais radicais livres. "Os resultados podem apontar até para medicamentos que previnam o câncer. Radicais livres também podem gerar mutações na células", detalha.

César destaca também a capacidade de limpar a gordura do organismo. O extrato consegue se ligar ao colesterol ruim e impedir que ele forme placas de gordura nas veias e artérias. "É como se fosse um azeite extravirgem. Só que o azeite vem do outro lado do mediterrâneo, e o pequi está aqui do lado", diz.

PATENTE - Para previnir que outros países percebessem o pontencial da fruta e passassem a expolorá-lo o pesquisador, por meio do Centro de Desenvolvimento Tecnológico (CDT) da UnB, patenteou o produto. "Temos que nos proteger, impedir que aconteça o que aconteceu com o açaí, que é nosso mas já foi patenteado por países no exterior", conta. Agora eles correm para fazer o registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que deve sair ainda no próximo semestre.

Ainda durante a fase inicial, Cesar procurou empresários que quisessem investir na pesquisa. "Nossos empresários não enxergam! Preferem pagar royalties do que ser coautores de uma patente", lamenta. Conseguiu que uma empresa farmacêutica apoiasse emprestando equipamentos. E essa empresa começará a comercializar o óleo e extrato de pequi em cápsulas assim que sair o registro da Anvisa. "A missão da universidade não é fazer comércio. A patente é da UnB, mas temos que transferir essa tecnologia. E eles terão que pagar royalties para a unviersidade", diz.

Na hora de transferir a tecnologia, Cesar conta que fez questão de priorizar a empresa que, além de ter ajudado na pesquisa, é da região. "Já havia uma empresa francesa interessada no extrato também", conta.

Para Cesar, o segredo para se preservar o cerrado brasileiro é mapear sua fauna e agregar valor a ela. "Até a mídia virou as costas para o Cerrado. Fala-se muito em mapeamento da Amazônia, mas a situação no cerrado é urgente", defende. "Ainda existem muitas espécies que podem ser trabalhadas: o baru, a arniquinha e o arnicão, todas elas abundantes ainda em áreas de preservação como a Chapada dos Veadeiros", completa.

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Dança das cataratas

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Balé Nacional de Cuba faz apresentação gratuita na quarta-feira e exibe coreografia inspirada em lenda nascida nas águas de Iguaçu Fonte: correioweb.com.br 18/07

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Nem só de socialismo, mojitos e charutos é feita Cuba, a ilha comandada pelo braço forte da família de Fidel Castro. Atualmente, a rumba, a salsa e a nova trova cubana são apenas algumas das manifestações culturais vindas do país caribenho. Mas quem acompanha de perto aquela cena já deve ter ouvido falar no Balé Nacional de Cuba, um dos mais tradicionais da atualidade, célebre por seu repertório clássico. Amanhã (só para convidados) e quarta (entrada franca, às 20h, na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional), a companhia inicia, em Brasília, mais uma turnê internacional, com um espetáculo que conta com um trunfo para sensibilizar a plateia brasileira: A lenda da água grande, com 44 bailarinos no elenco, conta a história de um mito da etnia indígena guarani, inspirado no surgimento das Cataratas do Iguaçu.

Coordenada pela eterna primeira-bailarina da casa, a hoje nonagenária Alícia Alonso, a coreografia foi desenvolvida por seu sucessor no posto de criação, Eduardo Blanco, e passeia pelo romance entre o guerreiro Tarobá e Naipí, uma mulher predestinada ao monstro Mbói Tu’i. Eles fogem e a criatura, furiosa, provoca uma rachadura na pedra, de onde brotam as águas caudalosas das cataratas. Naipí se transforma em pedra e Tarobá, em árvore. O arco-íris, formado por milhares de gotículas de água, os une.

“Uma amiga brasileira, estudante de balé, chamada Tayná Cândido, me sugeriu a ideia de montar uma coreografia sobre a lenda das cataratas. Desde o princípio, a ideia me atraiu. O apoio de Alícia e da Cooperativa Cultural Brasileira tornaram o projeto possível”, revela Blanco. Até o momento, o espetáculo só foi encenado em Cuba, em maio do ano passado. Depois de passar por Brasília, São Paulo e Salvador, A lenda da água grande poderá seguir para o Canadá, país que já demonstrou interesse no ineditismo desse intercâmbio artístico.

Para retratar os costumes da civilização guarani e dos índios caingangues, Blanco, hoje cidadão do mundo e colecionador de prêmios aos 29 anos de idade, passou uma temporada no Brasil. Ao lado do roteirista da companhia, José Ramón Neyra, e do desenhista Frank Álvarez, conversou com especialistas em cultura indígena, visitou museus e bibliotecas e apreciou a natureza da região. “Não exagero quando digo que ter visto as Cataratas foi uma das experiências da qual me lembrarei por toda a vida. Nos impressionou tanto que voltamos para vê-las sempre que pudemos”, afirma o coreógrafo. A exuberância natural não foi o único fator a fisgá-lo. “Estou apaixonado pelo Brasil, por sua música, sua literatura e conheci outras histórias que podem ser transformadas em balé. Significa muito ver meu trabalho aí”, elogia.

O processo de adaptação incluiu selecionar os trechos da narrativa que seriam mais bem traduzidos nas cenas e ainda abarcou elementos de outras histórias do imaginário guarani. “A linha fundamental é a história de amor e a interferência do monstro. Mas há outras personagens importantes, como o xamã e o filho do cacique”, descreve o coreógrafo. Além dos passos clássicos, Blanco introduz movimentos que capturou no gestual das danças indígenas e da dança moderna. “A dança clássica é inesgotável. É uma arte que, sobre a base da tradição, se atualiza e permanece vigente, com toda a sua riqueza e capacidade de transformação”, defende.

O balé, que só se concretizou graças ao apoio da Cooperativa Cultural Brasileira e do Ministério da Cultura, pretende democratizar o acesso aos espetáculos. Em algumas cidades, haverá sessões gratuitas e outras a preços que variam de R$ 15 a R$ 30. Depois de exibir sua versão da lenda brasileira, o Balé Nacional de Cuba retomará sua rotina exaustiva, que inclui ensaios diários no Grande Teatro de Havana e turnês pela ilha e por países estrangeiros. Antes da passagem por terras tupiniquins, eles deram um giro pelos Estados Unidos e, depois seguirão para a Espanha. Com um pé na tradição e o outro na modernidade.

Menino de sapatilhas

Eduardo Blanco se lembra de quando, ainda menino, conheceu Alícia Alonso. Diva absoluta da dança cubana, ela conversou com seu futuro pupilo durante uma visita que fez à escola de balé em que ele estudava, em Santiago de Cuba. “Eu era uma criança e disse a ela: sou coreógrafo. Ela sorriu”, lembra. Sua profecia se cumpriria anos depois, pelas mãos de Alícia. Mas, antes, aos 9 anos, o menino teve uma rápida passagem pelas aulas de violino, antes de vestir as sapatilhas de balé. Depois de aprender as lições básicas em sua cidade natal, ele mudou-se para Havana, frequentou a Escola Nacional de Ballet e deu um salto para o estrelato.

O talento para a criação se revelou de forma prematura. Aos 12 anos de idade, pouco depois de começar sua trajetória como bailarino, Blanco lançou sua primeira coreografia, Baila e Joga, que já conquistou o prêmio de Melhor Interpretação masculina no Festival Provincial de Ballet e Dança Moderna. Desde então, prêmios são uma constante em sua carreira. Depois de integrar a equipe do Ballet Nacional de Cuba, onde graduou-se aos 17 anos, foi

imediatamente integrado ao núcleo de criadores, tornando-se o primeiro recém-graduado a ser coreógrafo. Dois anos depois de assumir o posto, criou o espetáculo de abertura da 20ª edição do Festival Internacional de Ballet de Havana, tendo sob sua orientação centenas de crianças e jovens.

Eles, por sinal, são um marco no trabalho do coreógrafo. Além de criar para grandes estrelas, profissionais e amadores, Blanco acredita que é preciso incluir na dança crianças sem perspectiva e adultos sem experiência. Seguindo esse princípio, já desenvolveu projetos comunitários em diferentes cantos do país, levando princípios elementares do balé a meninos e meninas encantados com este universo. O contato deles com ídolos das sapatilhas é o que alimenta o sonho de dançar, acredita o coreógrafo. E sua influência não está restrita ao território da ilha onde vive. Desde 2007, ele colabora com o Balé da Juventude de Hamilton, no Canadá, com o qual montou versões de Hansel e Grettel e de O quebra-nozes. Já desenvolveu passos e movimentos para diversas coreografias de temática jovem e infantil.

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DIREITOS HUMANOS

Faltam meios de levar as leis ao mundo real

Relatório das Nações Unidas para o Cone Sul indica que o Brasil tem legislação moderna de proteção à mulher, mas há escassez de políticas para as medidas se tornarem efetivas Fonte: correioweb.com.br 18/07

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A efetivação das medidas de proteção previstas na Lei Maria da Penha é um dos desafios no combate à violência contra a mulher no Brasil. A conclusão é do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc). O relatório sobre os mecanismos de resposta a violência de gênero no Cone Sul será apresentado amanhã no Paraguai e destaca a necessidade de respostas mais rápidas por parte da polícia e do Judiciário. O informe regional destaca ainda a baixa cobertura dos serviços — apenas 8% dos municípios brasileiros têm unidades especializadas no atendimento à mulher.

“As políticas públicas precisam chegar até a ponta e não podem ficar restritas aos grandes centros. Precisam funcionar em nível local também, auxiliadas por programas de saúde, educação, segurança pública e prevenção”, afirma o coordenador da Unidade de Prevenção ao Crime e Segurança Pública, Nívio Nascimento. Ele destaca a legislação brasileira — uma das últimas a ser aprovada na região e por isso, é considerada uma das mais avançadas.

“Todos os países da região têm legislações sobre a violência familiar, mas a maioria dessas leis não tem um enfoque de gênero, com exceção para Brasil e Argentina”, destaca o documento. Porém, o Chile é o único país da região que tipifica os femicídios no Código Penal. No Cone Sul, o reconhecimento da violência doméstica começou em 1994, quando Argentina e Chile aprovaram leis para barrar a violência familiar e intrafamiliar.

A pesquisa do Unodc, no âmbito do projeto Fortalecimento das Delegacias da Mulher e da sociedade Civil para Combater a Violência de Gênero na Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai, ressalta a estratégia comum entre os países de criar nos governos locais secretarias de gêneros, chamadas de “área mulher”.

No Brasil , a Secretaria de Políticas para Mulheres, ligada à Presidência da República, foi instituída em 2003, durante o governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A pasta é ocupada atualmente pela ministra Iriny Lopes e tem orçamento para este ano de R$ 109 milhões. Até agora, foram investidos R$ 24 milhões, o que representa 22% do autorizado.

O relatório afirma que apesar da criação de órgãos e de iniciativas de governo na área de proteção à mulher os sistemas funcionam como um “aglomerado de serviços dedicados ao mesmo problema, que podem incluir ações coordenadas, mas sem a necessária consciência das conexões e sem um projeto comum construído a partir de um diálogo.”

Um dos problemas identificados nos países da região é a dupla competência jurídica na análise dos casos: as práticas criminais são remetidas a tribunais criminas e as medidas na área civil são julgadas por juizados de paz. Isso acontece no Paraguai, Argentina, Chile e Uruguai. A Lei Maria da Penha conseguiu resolver esse dilema. “A forma de organização e administração da Justiça em cada um dos países ainda se configura como um obstáculo para o acesso à justiça das mulheres que vivem em situação de violência doméstica de gênero”, diz o texto, completando que os avanços esbarram na orientação tradicional do sistema judicial.

O encontro terá representantes das secretarias das mulheres da região, da ONU Mulheres, peritos na área de gênero e tráfico de pessoas e das forças de segurança pública. Ainda não estava confirmada a participação de integrantes do governo brasileiro.

CPI engatilhada

Deve ser instalada no segundo semestre a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI ou CPI mista) destinada a investigar a violência contra a mulher e apurar denúncias de omissão do Estado na punição desse crime. A previsão de gasto para os trabalhos dessa comissão, que tem mais de 300 assinaturas de parlamentares, é de R$ 200 mil. O requerimento foi lido na semana passada.

Estatísticas incipientes

Em abril, o Correio mostrou, na série de reportagens Fácil de Matar, o fenômeno pouco estudado dos assassinatos por gênero no Brasil. Os femicídios cresceram 30% na última década. O país ainda não produz estatísticas oficiais de homicídios por sexo, na contramão de países da América Latina, que, além de monitorar as mortes de mulheres, tipificam o crime em lei. Costa Rica, Guatemala, Chile, Colômbia e El Salvador incorporaram no ordenamento jurídico a definição do femicídio. Em toda a região, o ritmo acelerado com que esses homicídios crescem indica o massacre por questões de gênero.

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