sexta-feira, 17 de junho de 2011

"Os EUA abusaram do poder do monopólio da moeda"

Professor de política econômica Benjamin C"Os EUA abusaram do poder do monopólio da moeda"

Professor de política econômica Benjamin Cohen diz que concorrentes ao dólar vão impor "disciplina" aos EUA Fonte: folha.uol.com.br 16/06

Os EUA abusaram do poder de ser os emissores do dólar, que teve por muitas décadas o monopólio como moeda internacional de referência. Essa é a opinião do professor de política econômica da Universidade da Califórnia Benjamin Cohen.

Em entrevista à Folha, ele diz que, com excessivo deficit no balanço de pagamentos e ao passar de credor a maior devedor internacional, os EUA criaram instabilidade na economia mundial.

Folha - O yuan vai se tornar uma moeda internacional?

Benjamin Cohen - O yuan já começou a ter um papel internacional. Hoje, 8% do comércio chinês é feito na moeda. Há dois anos, era praticamente zero.

Já existe um mercado de títulos na moeda, como parte de estratégia do governo chinês de encorajar um papel internacional para o yuan.

A grande vantagem da China é o tamanho do seu comércio exterior, o que torna o uso da moeda no comércio tão natural. Mas o país tem um mercado financeiro subdesenvolvido e controle de capitais muito restritivos, o que torna difícil usar a moeda chinesa para investimentos ou como reserva.

Como uma moeda mantida sob controle pode se tornar referência mundial?

Isso nunca ocorreu. Todas as moedas internacionais até hoje são de mercados abertos. A China tenta ser a exceção.

O governo faz teste em Hong Kong, desenvolvendo lá um mercado de títulos em yuan, de uma forma que não ameace o controle de capitais. Uma questão é quão longe eles irão antes de serem forçados a abrir o mercado.

Quanto mais eles promoverem a moeda, mais difícil será preservar esse controle.

O governo terá que permitir a desvalorização do yuan?

Não. Se você vir o histórico de outras moedas, como a da Holanda no século 17, a libra no século 19 e o dólar no século 20, os valores dessas moedas subiram por décadas depois que começaram a ter um papel internacional, porque a demanda pela moeda cresce.

Portanto, a China não será obrigada a desvalorizar.

A competição entre moedas é saudável para os países envolvidos?

Por quatro ou cinco décadas depois da Segunda Guerra, os EUA tiveram um monopólio no mercado monetário internacional.

O problema com monopólio é que leva a abusos. Os EUA abusaram claramente desse poder, ao crescer demais internacionalmente, ter excessivo deficit no balanço de pagamentos, passar de maior credor a maior devedor internacional. Isso tem sido uma fonte de instabilidade na economia mundial.

Se o dólar tiver um ou dois concorrentes, vai impor uma certa disciplina aos EUA.

O real tem chances de ser uma moeda internacional?

Se a economia brasileira continuar a crescer dessa forma, não há por que o real não se tornar na América Latina o equivalente ao euro na Europa ou o yuan na Ásia.

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Guru de Chico Mendes critica lei florestal

Para Stephen Schwartzman, da ONG Environmental Defense Fund, destaque do Brasil na questão ambiental corre risco

Mortes de ativistas e volta do desmatamento dão a impressão de retorno aos anos 1980, afirma ambientalista Fonte: folha.uol.com.br 16/06

A aprovação do Código Florestal na Câmara, os assassinatos na Amazônia e o licenciamento de Belo Monte põem na berlinda a liderança ambiental internacional do Brasil. A opinião é de Stephen Schwartzman, 59, o homem que introduziu Chico Mendes e Marina Silva ao movimento ambientalista.

À Folha, Schwartzman disse que a liderança alcançada pelo Brasil no debate internacional de mudanças climáticas e florestas "não repercutiu no Congresso", e que a imagem do país-sede da Rio +20, no ano que vem, fica prejudicada. Leia a entrevista.

Folha - O sr. publicou um texto intitulado "O Que Há de Errado com o Brasil?", sobre os acontecimentos recentes na área ambiental. O que há de errado?

Stephen Schwartzman - Tenho a impressão de que a reforma do Código Florestal que passou na Câmara foi feita às pressas e sem fundamento técnico-científico.

Dentro do Congresso, as pessoas também pareciam não entender a dimensão da liderança internacional do Brasil na questão ambiental, pelo desempenho do plano nacional de prevenção e controle do desmatamento.

O sr. também menciona os assassinatos em Rondônia e no Pará como fatores que lembram a Amazônia dos anos 1980. Mas muita coisa mudou de lá para cá, não?

A coisa mais marcante é exatamente como pode acontecer uma coisa dessas depois de tanta mudança.

Quando Chico Mendes foi assassinado, em 1988, a expectativa geral era de impunidade para o crime.

Depois que houve casos marcantes como o dele e o da irmã Dorothy, o governo achou necessário investigar e dar uma resposta.

Não podemos dizer que o problema parou. Mas é mais chocante porque a expectativa era de que esse tipo de coisa não era mais lugar-comum. Parece uma coisa anacrônica. É crucial que o governo responda à altura.

Houve uma falsa impressão de que o desmatamento estava controlado nos últimos anos?

Há muito tempo a gente vem falando que o programa de controle do desmatamento, que é um fato histórico, foi feito em cima de instrumentos de comando e controle, principalmente pela criação das novas áreas protegidas.

Porém, os incentivos positivos para valorizar a floresta ficaram para trás. E coincidiu com uma época de preços baixos das commodities, e quando eles voltassem a subir as pressões voltariam.

Como o sr. encara a crítica da bancada ruralista de que o ambientalismo é movido por interesses internacionais que querem acabar com a competitividade conquistada pela agricultura brasileira?

Esse argumento ignora fatos econômicos importantes. Cada vez mais, os mercados internacionais estão exigindo qualidade ambiental dos seus produtos. Isso significa que quem tem uma legislação ambiental avançada cada vez mais tem vantagens.

Num mundo de 7 bilhões de pessoas, indo para 10 bilhões, onde há uma necessidade premente de aumentar a produção de comida, esse tipo de possibilidade de aumentar a produção em bases sustentáveis será uma vantagem cada vez maior.

ohen diz que concorrentes ao dólar vão impor "disciplina" aos EUA Fonte: folha.uol.com.br 16/06

Os EUA abusaram do poder de ser os emissores do dólar, que teve por muitas décadas o monopólio como moeda internacional de referência. Essa é a opinião do professor de política econômica da Universidade da Califórnia Benjamin Cohen.

Em entrevista à Folha, ele diz que, com excessivo deficit no balanço de pagamentos e ao passar de credor a maior devedor internacional, os EUA criaram instabilidade na economia mundial.

Folha - O yuan vai se tornar uma moeda internacional?

Benjamin Cohen - O yuan já começou a ter um papel internacional. Hoje, 8% do comércio chinês é feito na moeda. Há dois anos, era praticamente zero.

Já existe um mercado de títulos na moeda, como parte de estratégia do governo chinês de encorajar um papel internacional para o yuan.

A grande vantagem da China é o tamanho do seu comércio exterior, o que torna o uso da moeda no comércio tão natural. Mas o país tem um mercado financeiro subdesenvolvido e controle de capitais muito restritivos, o que torna difícil usar a moeda chinesa para investimentos ou como reserva.

Como uma moeda mantida sob controle pode se tornar referência mundial?

Isso nunca ocorreu. Todas as moedas internacionais até hoje são de mercados abertos. A China tenta ser a exceção.

O governo faz teste em Hong Kong, desenvolvendo lá um mercado de títulos em yuan, de uma forma que não ameace o controle de capitais. Uma questão é quão longe eles irão antes de serem forçados a abrir o mercado.

Quanto mais eles promoverem a moeda, mais difícil será preservar esse controle.

O governo terá que permitir a desvalorização do yuan?

Não. Se você vir o histórico de outras moedas, como a da Holanda no século 17, a libra no século 19 e o dólar no século 20, os valores dessas moedas subiram por décadas depois que começaram a ter um papel internacional, porque a demanda pela moeda cresce.

Portanto, a China não será obrigada a desvalorizar.

A competição entre moedas é saudável para os países envolvidos?

Por quatro ou cinco décadas depois da Segunda Guerra, os EUA tiveram um monopólio no mercado monetário internacional.

O problema com monopólio é que leva a abusos. Os EUA abusaram claramente desse poder, ao crescer demais internacionalmente, ter excessivo deficit no balanço de pagamentos, passar de maior credor a maior devedor internacional. Isso tem sido uma fonte de instabilidade na economia mundial.

Se o dólar tiver um ou dois concorrentes, vai impor uma certa disciplina aos EUA.

O real tem chances de ser uma moeda internacional?

Se a economia brasileira continuar a crescer dessa forma, não há por que o real não se tornar na América Latina o equivalente ao euro na Europa ou o yuan na Ásia.

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Guru de Chico Mendes critica lei florestal

Para Stephen Schwartzman, da ONG Environmental Defense Fund, destaque do Brasil na questão ambiental corre risco

Mortes de ativistas e volta do desmatamento dão a impressão de retorno aos anos 1980, afirma ambientalista Fonte: folha.uol.com.br 16/06

A aprovação do Código Florestal na Câmara, os assassinatos na Amazônia e o licenciamento de Belo Monte põem na berlinda a liderança ambiental internacional do Brasil. A opinião é de Stephen Schwartzman, 59, o homem que introduziu Chico Mendes e Marina Silva ao movimento ambientalista.

À Folha, Schwartzman disse que a liderança alcançada pelo Brasil no debate internacional de mudanças climáticas e florestas "não repercutiu no Congresso", e que a imagem do país-sede da Rio +20, no ano que vem, fica prejudicada. Leia a entrevista.

Folha - O sr. publicou um texto intitulado "O Que Há de Errado com o Brasil?", sobre os acontecimentos recentes na área ambiental. O que há de errado?

Stephen Schwartzman - Tenho a impressão de que a reforma do Código Florestal que passou na Câmara foi feita às pressas e sem fundamento técnico-científico.

Dentro do Congresso, as pessoas também pareciam não entender a dimensão da liderança internacional do Brasil na questão ambiental, pelo desempenho do plano nacional de prevenção e controle do desmatamento.

O sr. também menciona os assassinatos em Rondônia e no Pará como fatores que lembram a Amazônia dos anos 1980. Mas muita coisa mudou de lá para cá, não?

A coisa mais marcante é exatamente como pode acontecer uma coisa dessas depois de tanta mudança.

Quando Chico Mendes foi assassinado, em 1988, a expectativa geral era de impunidade para o crime.

Depois que houve casos marcantes como o dele e o da irmã Dorothy, o governo achou necessário investigar e dar uma resposta.

Não podemos dizer que o problema parou. Mas é mais chocante porque a expectativa era de que esse tipo de coisa não era mais lugar-comum. Parece uma coisa anacrônica. É crucial que o governo responda à altura.

Houve uma falsa impressão de que o desmatamento estava controlado nos últimos anos?

Há muito tempo a gente vem falando que o programa de controle do desmatamento, que é um fato histórico, foi feito em cima de instrumentos de comando e controle, principalmente pela criação das novas áreas protegidas.

Porém, os incentivos positivos para valorizar a floresta ficaram para trás. E coincidiu com uma época de preços baixos das commodities, e quando eles voltassem a subir as pressões voltariam.

Como o sr. encara a crítica da bancada ruralista de que o ambientalismo é movido por interesses internacionais que querem acabar com a competitividade conquistada pela agricultura brasileira?

Esse argumento ignora fatos econômicos importantes. Cada vez mais, os mercados internacionais estão exigindo qualidade ambiental dos seus produtos. Isso significa que quem tem uma legislação ambiental avançada cada vez mais tem vantagens.

Num mundo de 7 bilhões de pessoas, indo para 10 bilhões, onde há uma necessidade premente de aumentar a produção de comida, esse tipo de possibilidade de aumentar a produção em bases sustentáveis será uma vantagem cada vez maior.

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