quarta-feira, 15 de junho de 2011

Retrato de uma chacina

O longa-metragem Vinte e um mão na cabeça - Vigário Geral contará a ação criminosa de policiais militares na favela carioca. Fonte: correioweb.com.br 15/06

Em 2013, às vésperas da Copa do Mundo no Brasil, o cineasta Milton Alencar — um torcedor ferrenho, que chegou, inclusive, a dirigir Garrincha: estrela solitária — pretende lançar um filme de impacto, com potencial para amargar parte da imagem festiva verde e amarela reverberada no exterior: Vinte e um mão na cabeça — Vigário Geral. No período que pressupõe a corrente pra frente de nossa torcida, a atenção maior do diretor estará no compromisso dele, no papel de cidadão empenhado em reavivar uma chacina que, em 1993, resultou na morte de 21 pessoas da comunidade. “O país não pode colocar pra debaixo do tapete a verdade. Não vamos esconder isso, só pela Copa do Mundo, por exemplo. Quero estar torcendo, mas houve um fato que não pode ser ignorado. A evolução do processo judiciário no Brasil tem que passar por isso: reler a sua história, tirar os esqueletos do armário e andar para a frente”, avalia.

De passagem pela capital, o diretor carioca — que atualmente capta recursos para o filme — registrou imagens da exposição Lembrar para não esquecer. Não esquecer para transformar — Um olhar sobre a vítima para resgatar o direito à vida, montada no Salão Negro do Palácio da Justiça. Oito familiares de vítimas, que atuam em associação dedicada à memória dos chacinados, estiveram presentes à abertura da exposição. “As emoções sempre aparecem, porque foi uma coisa muito violenta. E aquilo está sempre retornando: há 18 anos, quem sobreviveu fala daquilo, o tempo todo. A vida deles ficou tomada por esse assunto. A cada visita aos locais que serão mostrados no filme, as emoções brotam de maneira muito intensa. Às vezes, sentimos o peso da tristeza e, outras vezes, vem a raiva da impotência”, observa Milton Alencar, em torno das pessoas traumatizadas.

“Vamos mostrar os policiais bandidos entrando na favela e matando, sim. Sabemos que 53 homens entravam lá, e não vamos esconder isso. Desses, 33 foram indiciados pela Justiça e apenas meia dúzia foi condenada. As pessoas foram inocentadas por não haver provas incontestáveis”, comenta Tauxo Francisco Domingues, um dos roteiristas do filme, que ainda terá assinatura de José Louzeiro (autor do livro Pixote, a lei do mais fraco). Sem pretender “a espetacularização” do caso, Tauxo quer abraçar via diversa de Carandiru, por exemplo, “muito cru, e que entra no âmago daquela história, mostrando bastidores da vida dos presidiários”. Por seis meses, o roteirista teve acesso a todo o processo e “mergulhou profundamente” nas histórias, com total apoio da Justiça do Rio de Janeiro.

Apelo real

Os dados para o embasamento verídico do longa Vinte e um mão na cabeça — Vigário Geral desembocaram no documentário Lembrar para não esquecer, produzido ao longo do último ano. A expectativa é de que o filme seja exibido, simultaneamente, no Rio de Janeiro e em Brasília, em 29 de agosto, data que demarca os 18 anos dos crimes. Demonstrar a transparência jurídica no Brasil está entre os intuitos do roteirista Tauxo Domingues. A visão dos espectadores gringos, daí, poderá sofrer uma guinada: “O público do exterior está acostumado ao registro da violência pela violência”.

O diretor de Garrincha, sempre atento a “personagens da cultura popular”, pregou o olho nos exemplos de Tropa de Elite e Ônibus 174. “Me chamaram a atenção, pela violência com que foram narrados. Com o mesmo tema, em Vinte e um, espero dar esperança para essa situação complicada, que a Justiça não resolveu. Ainda assim, não quero me omitir da carga de violência do que ocorreu”, reforça Milton Alencar. “Não teremos um tratamento à la Walt Disney. Vamos nos ater à vida das vítimas: pessoas que viam tevê e, subitamente, foram metralhadas na sala de casa. Um senhor de 70 anos, uma senhora de 60, uma menina de 10, uma moça de 21 (grávida), um trabalhador saindo com a marmita, numa noite de domingo”, completa Tauxo Domingues.

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LIVRO

Saga de amor e ódio

Com ilustrações de Marcílio Godoi, em Matinta, o bruxo, Paulo César Pinheiro inventa uma narrativa engenhosa para contar as aventuras de um sertanejo traído que se torna jagunço

Matinta, o bruxo

De Paulo César Pinheiro. Ilustrações de Marcílio Godoi. Editora Leya, 112 páginas. Preço: R$ 29, 90. Fonte: correioweb.com.br 15/06

Quando se fala que um compositor decidiu escrever um romance, logo se acende um sinal de desconfiança. Mas Paulo César Pinheiro não é uma celebridade; é um poeta. À medida que enveredamos por Matinta, o bruxo, segunda ficção de Pinheiro, a dúvida vai se desfazendo. Para quem não se lembra, ele é autor de sambas clássicos (Lapinha, Aviso aos navegantes, Samba do perdão, entre outros) e, na verdade, o seu livro nasce da fusão de duas canções: Matita-perê, em parceria com Tom Jobim, e Sagarana, com João de Aquino. Desde o início, fica claro que o caso não vai render nenhum happy end.

É uma história de amor e vingança, simples, mas engenhosa e escrita com um luxo barroco de linguagem e um estilo contundente, para ser lida de um só fôlego. A trama narra a trajetória de João, um pacato lavrador, que se encanta perdidamente e se casa com Doralinda, uma mulata de olhos felinos e formas barrocas. Aliás, o desenho das mulheres é um dos pontos altos da narrativa pela sensualidade e vivacidade que Paulo César Pinheiro insufla nas figuras femininas: “Doralinda tinha o cabelo de caramelo queimado, escorrendo achocolatado até as espáduas. A morenez que se quer na pele gramada de penugem de ouro fino cintilante. Seios de suculentas pêras querendo, maliciosamente, cabriolar do decote. (…) Quando vi Doralinda no campo quis colher sua flor. Em ramaria aveludada, todavia, espinho embutido. Invisível pra quem ama”.

Certo dia, ao voltar da lida no campo, João flagra a sua mulher em pleno ato de traição com o filho do poderoso coronel Graciano e, em um rompante, mata os dois com uma violência desmedida. A partir daí, João passa a ser um cabra marcado para morrer, perseguido implacavelmente pelos capangas do coronel Graciano, errando nos descampados do sertão, armando guerrilhas, alertado da presença dos inimigos pelo canto do pássaro Matinta-perê.

Dramaticidade

Com o desencadear dos acontecimentos, a narrativa se impregna de intensa dramaticidade, pois, apesar de toda a astúcia sertaneja de João na arte da guerra, o encontro com a morte é mera questão de tempo, medido em contagem regressiva: “No início da madrugada, farfalho de folhame e estalido de ramo seco delatavam intrusa presença de criaturas. Animais noturnos são silentes, portanto era espécie humana. Ligou radar de andirá. Acionou visão de caburé. Aguçou olfato de suçuarana. Conectou sonar de guaracão. E com tal tecnologia avançada aguardou a investida de milícia”.

Matinta, o bruxo pressupõe Guimarães Rosa. O compadre Amâncio, poeta cego, sempre soprando sábias prescrições, evoca o personagem do Compadre Quelemém, de Grande Sertão: Veredas, filósofo sertanejo, ajudando a explicar o inexplicável sob a luz dos ensinamentos espíritas do kardecismo. “Com mulher que não consegue recusar, não se deve enamorar”, havia sentenciado mestre Amâncio, quando João se engraçou por Doralinda.

Mas, apesar da filiação a Guimarães Rosa, Pinheiro fala com voz própria. Há aspectos engenhosos na narrativa, tais como as múltiplas máscaras que João usa para dissimular a sua verdadeira identidade e escapar dos seus perseguidores: Chico, Antônio, Matias, Pedro e Horácio. A cada nome corresponde uma metamorfose do ser, de lavrador a jagunço, em uma gradação cada vez mais alta de convicção e violência. O reparo a se fazer é que, algumas vezes, a truculência parece ser representada com uma brutalidade que soa gratuita em uma prosa tão permeada de ardilezas. No entanto, o melhor do livro está na fluência barroca, no luxo da linguagem e nas epifanias de Paulo César ao desfiar as aventuras e desventuras deste personagem empurrado para a solidão extrema, acuado no próprio corpo: “A mudança ocorrera. Não havia mais temor em seu comportamento. Só prudência. Andarilhava, a partir daí, na diretriz do perigo, em rota de confrontação”.

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Brasileiros "pagam" para tocar no exterior

Cachês recebidos pelas bandas não cobrem nem o investimento feito com passagens Fonte: folha.uol.com.br 15/06

A primeira viagem internacional do Garotas Suecas, em julho de 2008, ia ser turística. Um ex-guitarrista morava em Nova York e chamou os amigos para passarem as férias com ele.

Os cinco, que estavam no Brasil, compraram as próprias passagens e se hospedaram no quarto-e-sala do colega, no Brooklyn.

Sem planejamento nenhum, marcaram cinco shows. Os cachês nunca passavam de US$ 100 (cerca de R$ 158). Conseguiram também fazer uma apresentação no programa de TV "Fearless Music". E conheceram uma mulher que acabou virando a agente deles nos EUA.

Três anos, cinco turnês internacionais e um disco depois, o Garotas Suecas conseguiu montar uma estrutura para crescer no mercado estrangeiro. Eles têm um selo, um agente e um assessor de imprensa americanos.

A trajetória deles virou parâmetro para outras bandas alternativas brasileiras.

"Atingir o mercado independente, principalmente o dos EUA, do Canadá e da Europa, é fazer parte de um circuito. O Garotas Suecas conseguiu", diz o empresário e DJ Dago Donato, que agencia a banda Holger.

Grupos independentes como Holger, Some Community, Macaco Bong e Black Drawing Chalks já fizeram turnês internacionais. Mas tiveram que desembolsar dinheiro para isso.

A tentativa de conquistar um público estrangeiro tem um preço. Fabrício Nobre, empresário da banda Black Drawing Chalks, que está na segunda turnê estrangeira, calcula que a banda gastou, do próprio bolso, cerca de R$ 15 mil para se apresentar no Canadá em 2008.

O montante é mais ou menos o equivalente ao que seria gasto gravando um disco. "Eles ficaram endividados o ano inteiro. Parcelaram as passagens, e eu emprestei dinheiro para eles", conta.

O quinteto paulistano Some Community fez sua primeira turnê pelos EUA neste ano. "Gastamos muito dinheiro do nosso bolso com passagens e hospedagem", diz a baixista Verônica Vacaro. Ela conta que o grupo pretende viajar de novo em outubro, para tentar cobrir gastos. E mais uma vez, em 2012, para ganhar dinheiro.

A estratégia das bandas é sempre a mesma: pagar para tocar numa primeira vez, fazer uma segunda turnê na qual receitas e despesas se equilibram e, na terceira vez, lucrar com as apresentações.

Não é só o mercado estrangeiro que as bandas miram quando tocam fora do país. O bochicho gerado nos EUA ou na Europa repercute no Brasil também.

O Garotas Suecas (que só ganhou dinheiro na terceira turnê) apareceu na mídia brasileira como a banda que "caiu no gosto de celebridades como Drew Barrymore e Kirsten Dunst".

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Produção árabe está longe de se organizar em um único bloco Fonte: folha.uol.com.br 15/06

O Festival de Cinema Árabe expõe não somente o mal-estar que antecedeu a atual onda de revoltas, como também o papel do cinema nas sociedades da região.

Longe de formar um bloco monolítico, o cinema árabe reflete a diversidade de contextos no qual é produzido. Fazer filmes tem significado diferente em cada país.

Não é por acaso que o Egito há tempos tem a produção mais farta e mais visível. O país é o mais populoso da região e passou as últimas décadas governado por militares laicos que estavam mais preocupados em reprimir grupos oposicionistas do que artistas.

Os principais centros urbanos do Marrocos, tido como um dos países árabes mais tolerantes política e moralmente, também têm programação variada.

Boa parte dos filmes marroquinos de sucesso nos últimos anos, como "Casanegra", mostram sem complexo o submundo de miséria, sexo e drogas, numa crueza de retrato impensável em muitos outros países.

Os religiosos mais conservadores chiam e dizem que os cineastas marroquinos não passam de provocadores educados na Europa. Mas o rei não dá a mínima.

A sociedade do Iêmen, por outro lado, tende a ser extremamente conservadora. Ver filmes é tido como uma diversão ocidental. Os protestos antirregime devem selar o fim das poucas salas de cinema da capital, Sanaa.

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13º Fica

Em cena, o meio ambiente

Festival começa hoje com seleção de filmes que abordam diferentes aspectos da relação entre o homem e a natureza Fonte: opopular.com.br 14/06

Quanto será que o seu neto vai pagar por um copo de água daqui a algumas décadas? Como você vai chegar ao trabalho daqui a alguns anos? Será que aquele tamanduá-bandeira atropelado na rodovia tinha filhotes? Como vivem os operários que fizeram o seu tênis de marca importado? Se rezarmos para os deuses e cumprirmos suas regras para lidar com a natureza, teremos menos secas e enchentes? Perguntas como essas podem parecer que não têm nada em comum, mas elas abarcam um universo de questões que estão entrelaçadas: o meio ambiente, tema do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental de Goiás, que começa hoje, na antiga Vila Boa, e prossegue até domingo.

No festival, a mostra competitiva principal apresenta 31 obras que oferecem diferentes perspectivas da relação do homem com a natureza. Além dos filmes, debates, palestras e oficinas apresentam para o público os problemas mais urgentes dessa intrincada relação, apontando, além de críticas, soluções possíveis.

Com linguagens diferentes, as obras de curta (14 títulos), média (6 títulos) e longa-metragem (7 títulos) abordam em tom de denúncia, poesia ou até humor temas como a nova onda da monocultura dos canaviais para a produção de etanol, caso do filme em curta-metragem Acercadana , documentário pernambucano sobre uma brava senhora ilhada por latifúndios de cana-de-açúcar.

As milhares de toneladas de lixo produzidas por uma cidade maravilhosa como o Rio de Janeiro são a inspiração do documentário Lixo Extraordinário , que concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro. O filme, uma ideia do artista plástico Vik Muniz, coloca em cena as disparidades entre o mercado internacional de arte e a vida dos catadores de material reciclável no lixão do aterro Gramacho, considerado o maior da América Latina.

Escravos

No interior de Minas Gerais, uma comunidade descendente de escravos do auge do garimpo protagoniza o documentário Terra Deu Terra Come , média-metragem vencedora do último Festival Internacional de Documentários - É Tudo Verdade. Em cena, a relação dos anciãos com a terra, mediada por antigas crenças que misturam a cultura africana e portuguesa. No curta-metragem Teias do Cerrado , o cenário é Teresina de Goiás, na Chapada dos Veadeiros, onde o artesanato se conjuga com ações comunitárias.

Muitas vezes não nos damos conta do quanto o tema ambiental é amplo e o curta cearense Fractais Sertanejos é uma boa mostra disso. O filme conta a história de um operário da construção civil que, depois de sobreviver a um coma, torna-se um escultor. Suas obras abstratas assemelham-se às formas estudadas na física e na matemática do caos, conceitos que norteiam muitas pesquisas sobre meio ambiente.

A polêmica dos transgênicos é o tema do documentário O Preço da Semente , da Argentina. Em foco, o sistema de colonização do país, que se estruturava em torno da concentração de terras nas mãos de poucos.

Com a evolução da ciência e o passar do tempo, as condições no campo mudaram pouco para, depois, voltarem ao sistema de monocultura e pioraram com a implantação da soja transgênica, que teve como resultado a limitação ainda maior da oferta de empregos no campo. Isso sem falar da discussão sobre a segurança alimentar dos transgênicos

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