quarta-feira, 22 de junho de 2011

REGGAE

Mixagem de ritmos Fonte: correioweb.com.br 22/06

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O reggae de Brasília gerou um dos maiores fenômenos do estilo no Brasil: o Natiruts. Agora, ex-integrantes da banda de “surfistas do lago Paranoá” se juntam no InNatura que apresenta o primeiro CD Bossa Ragga, lançado durante show no último dia 12. Izabella Rocha, Bruno Dourado, Kiko Péres e outros músicos mostram um trabalho que mistura ao ritmo jamaicano batidas do rock, do folk e do pop.

Bossa Ragga não tem um estilo definitivo, o trabalho é uma mistura de tendências que fazem parte da vida dos músicos que lideram o projeto. Por exemplo, é possível perceber uma presença marcante das batidas de percussão ao longo do trabalho, fruto da influência de Bruno Dourado — que era o percussionista do Natiruts.

“Nosso estilo é difícil de definir porque é uma mistura de ritmos diferentes. Flertarmos com a MPB, com o rock, com a MPB. É claro que a presença do reggae é bem marcante”, comenta a vocalista Izabella Rocha. Ela enfatiza que esse mix de diversas influências é uma escolha do InNatura. “O disco resume uma história de 10 anos de estrada, da experiência de tocar em vários lugares do mundo”.

A influência do reggae do Natiruts pode ser percebida ao longo das 12 faixas que compõem o álbum Bossa Ragga. Para Izabella, isso é um processo natural, afinal os principais integrantes do InNatura se formaram como músicos dentro da banda. “Os 11 anos que a gente passou lá dentro nos ensinaram muito sobre música, palco e outras coisas importantes”, comenta.

Repertório

A maior parte das 12 faixas do álbum é de autoria de Izabella Rocha e de Bruno Dourado. “Não são todas músicas inéditas, há algumas canções que existem desde 2002”, explica a cantora. A inspiração para as composições está nas situações enfrentadas pelos músicos. Um exemplo é a faixa Alguém como você, que conta com o músico Tonho Gebara, falecido em 2004. “Perdemos o Tonho, mas ele nos deixou essa que foi sua última canção”, conta Bruno.

Em Nova vida, o casal faz uma homenagem à filha Gabriela em uma melodia que conta com as batidas eletrônicas, principalmente o drum’n’bass.

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A qualidade da universidade brasileira

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ROGÉRIO CEZAR DE CERQUEIRA LEITE

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Sabemos por que nossas universidades são deficientes; resta ver se temos vontade política para mudar, o que ainda não conseguimos fazer Fonte: folha.uol.com.br 22/06

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Há exatos 35 anos, em 22/6/1976, escrevi o artigo inaugural da seção "Tendências/Debates", intitulado "Tecnologia e humanismo". Desde então, especialmente nos últimos dez ou 12 anos, ficou universalmente reconhecida a importância das universidades ditas de pesquisas para o desenvolvimento econômico de seus respectivos países.

Como consequência, proliferaram diferentes esquemas de avaliação, em que se incluem ordenações por qualidade (ranking).

Embora opiniões sobre o que seja qualidade divirjam, é notável a convergência das classificações das universidades de todo o mundo, realizadas com critérios distintos. Exemplo expressivo é o fato de que, dentre as dez primeiras classificadas, estão quase sempre as mesmas sete ou oito americanas e as duas ou três inglesas, quaisquer que sejam os critérios.

Essas características ocorrem até pelo menos a ducentésima posição, embora sem a mesma acuidade que no caso das dez primeiras. A pertinência dessas avaliações, incômodas, para dizer o menos, para certos acadêmicos, não surpreendentemente é contestada.

Se no Brasil as avaliações negativas de suas universidades serviram apenas para provocar ressentidos diatribes inconsequentes, em países maduros e em outros emergentes elas ao menos produziram tentativas de identificação das razões das deficiências de suas instituições de ensino superior; em alguns casos, reformas já foram encetadas.

O presidente da Universidade Yale (EUA), Richard C. Levin, em recente artigo na revista "Foreign Affairs", mostra como a China elegeu nove universidades (denominadas C9) para concentrar recursos, o que já havia acontecido com Japão, Coreia do Sul e Taiwan.

A agenda da Índia é ainda mais ambiciosa, com 14 universidades escolhidas. Os países que estão se desenvolvendo mais aceleradamente no Oriente imitam nesse aspecto os EUA e a Inglaterra.

A França encomendou um estudo a um grupo de intelectuais provenientes de vários países (a "Missão Aghion"), com a finalidade justamente de identificar as diferenças entre as grandes universidades do exterior e as francesas.

O relatório resultante serve melhor ao Brasil que à França. Abaixo, listamos as diferenças essenciais entre as universidades brasileiras e as universidades mais bem qualificadas dos EUA e da Inglaterra.

1 - O órgão máximo no Brasil, o conselho universitário, é constituído essencialmente por membros da corporação interna (70 na Unicamp e cem na USP), enquanto nas grandes universidades do exterior o órgão colegiado supremo é formado por uma grande maioria de cidadãos prestantes externos à universidade (entre dez e 15), frequentemente empresários, dirigentes de instituições da sociedade civil etc.

2 - Enquanto no Brasil eleições de reitores e diretores se fazem entre e por grupelhos da corporação interna, desnaturando a atividade acadêmica, nas boas universidades do exterior o conselho escolhe um comitê de busca para procurar seus reitores e diretores, principalmente fora da universidade.

3 - No Brasil, tudo favorece a endogenia ("inbreeding"), enquanto no exterior uma pluralidade de mecanismos é adotada para eliminá-la em todos os níveis da carreira universitária. São escolhidos fora da universidade os professores titulares e, por vezes, os associados.

4 - Finalmente, nas universidades americanas o pesquisador-docente só alcança estabilidade, e assim mesmo precária, no fim da carreira; aqui, começa como vitalício. Sabemos, portanto, por que nossas universidades são deficientes.

Resta ver se temos vontade política para mudar, o que não fizemos nesse intervalo de 35 anos.

ROGÉRIO CEZAR DE CERQUEIRA LEITE, 79, físico, é professor emérito da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), presidente do Conselho de Administração da ABTLuS (Associação Brasileira de Tecnologia de Luz Síncrotron) e membro do Conselho Editorial da Folha.

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ESPLANADA

Novo recuo no sigilo de 50 anos

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Após protagonizar um vaivém de posturas e deixar no ar a hipótese de vetar a lei de segredo eterno de documentos, governo confirma que dará aval ao limite para divulgação de arquivos ultrassecretos, em trâmite no Senado. Respaldo do Itamaraty e da Defesa foram decisivos Fonte: folha.uol.com.br 22/06

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Com o “sim” do Itamaraty e do Ministério da Defesa, a presidente Dilma Rousseff decidiu que vai apoiar a publicação de documentos ultrassecretos após um período de, no máximo, 50 anos, caso o Senado aprove o texto da Lei de Acesso à Informação igual ao votado pela Câmara. As únicas resistências à proposta de quebrar o sigilo eterno das informações sobre formação territorial, relações internacionais e soberania nacional vêm do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e do senador Fernando Collor de Mello(PTB-AL). Para eles, há documentos estratégicos que merecem segredo indefinido.

O Palácio do Planalto adota uma postura vaivém nessa questão dos documentos ultrassecretos. Primeiro, a presidente manifestou apoio à publicação das informações depois de 25 anos, renovável por igual período, completando 50 anos. Depois, admitiu o recuo, sustentando argumentos dos ministérios da Defesa e de Relações Exteriores para que alguns documentos possam ser mantidos em segredo indefinidamente. Essa mudança de postura provocou fortes atritos e críticas de defensores do direito à memória e à verdade. Dilma, então, determinou aos ministros que não era mais para brigar no Congresso, mas manteve em suspenso a possibilidade de vetar a proposta.

Agora, vem o recado claro: “As manifestações do Itamaraty mostram que não há problema na divulgação de documentos. O entendimento da presidente é que haverá respeito ao que for aprovado pelo Congresso”, afirmou a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti. Ou seja, a tendência de o Senado aprovar o prazo de 50 anos será preservada. O Itamaraty e a Defesa relataram que não enxergam empecilhos nesse prazo. “O que é inegociável é que os documentos sobre direitos humanos estão livres de classificação”, emendou a coordenadora política do Palácio do Planalto.

O argumento em defesa do período limitado é garantir o direito de uma geração a ter acesso aos fatos reais de sua história. O deputado Mendes Ribeiro Filho (PMDB-RS) — relator do projeto de lei na Câmara— defendeu a proposta aprovada e não o texto original do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que permitia o sigilo eterno. “Essa lei muda o conceito de informação no país. A informação passa a ser regra e não o sigilo”, afirmou o parlamentar.

Urgentíssimo

Em paralelo, o governo também decidiu acelerar a tramitação do projeto de lei da Comissão da Verdade na Câmara e aprová-lo em três semanas. Como nem sequer houve a instalação da comissão especial que discutirá o projeto, o governo vai pedir que o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), solicite a urgência urgentíssima da proposta.

“A Comissão depende do ritmo do Congresso, mas se tivermos a possibilidade de urgência, urgentíssima, isso será bem visto pelo governo”, afirmou Ideli. O presidente da Câmara afirmou que só tomará a decisão depois de ser oficialmente comunicado pelo Palácio do Planalto. Mendes Ribeiro sustentou que não haverá dificuldade para aprovação da proposta. “Ninguém vai votar contra a verdade. Tem projetos, como uma medida provisória que trata de flexibilização da lei de licitações, que são fáceis de criticar. Esse não”, afirmou o peemedebista referindo-se à aprovação por MP do Regime Diferenciado de Contratações, criado especialmente para as obras dos aeroportos da Copa do Mundo e das Olimpíadas 2016.

Collor criticado

O projeto de Lei de Acesso à Informação tramita com urgência. Antes de ir a votação no plenário do Senado, precisa passar pela Comissão de Relações Exteriores, presidida pelo senador Fernando Collor. O relator da proposta, Walter Pinheiro (PT-BA), favorável aos 50 anos para documentos ultrassecretos, critica o colega alagoano, dizendo que Collor não tira da gaveta o projeto por ter interesse em retardar a aprovação.

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ANTONIO DELFIM NETTO

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Melhor gestão Fonte: folha.uol.com.br 22/06

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Temos insistido, nesta coluna, que a ideia ingênua e simplista de que todos os nossos problemas seriam resolvidos com a redução da carga tributária é irrealista. Pela simples e boa razão que ela contraria a preferência "revelada" na Constituição de 1988.

Gostemos ou não, na Assembleia Nacional Constituinte, por seus representantes livremente escolhidos, a sociedade brasileira "revelou" o seu desejo de construir um processo civilizatório apoiado em três pilares:

1º) Um regime republicano onde todos, inclusive o poder incumbente, devem estar sujeitos à mesma lei;

2º) Um sistema de escolha democrático, em que o poder incumbente deve ser submetido, de maneira periódica, ao voto universal absolutamente desimpedido;

3º) Um processo de construção paulatina de uma sociedade razoavelmente justa que amplie, continuamente, a igualdade de oportunidades para todo cidadão pela universalização gratuita do direito à saúde e à educação, sem distinção de qualquer natureza (origem, etnia, religião etc.).

Trata-se de um projeto grandioso (envolve uma necessária dose de utopia) que vale a pena perseguir.

Como é evidente, ele exige uma carga tributária maior que a dos países com o nosso mesmo nível de renda per capita, mas que têm objetivos menos ambiciosos.

Em compensação, tal construção precisa de um Estado enxuto preocupado prioritariamente com:

1º) A eficiência de seus agentes;

2º) O controle rigoroso e exigente das políticas públicas de transferência de renda.

O problema não é a alta tributação, mas o lamentável nível de sua devolução à sociedade com serviços públicos oferecidos em pequena quantidade e baixa qualidade, que salta aos olhos nas comparações internacionais.

A complicação -nos três níveis de governo- não é propriamente a carga tributária, e sim a tragédia com os recursos que são dissipados pela ineficiência dos serviços públicos.

O grave é que esse desperdício é mais manifesto na prestação de serviços de má qualidade na saúde e na educação, exatamente os setores críticos para o aumento da igualdade de oportunidades necessária para acelerar o desenvolvimento sustentável e inclusivo que o país mostrou desejar na Constituição de 1988.

A boa notícia é que a presidente Dilma Rousseff montou uma nova estrutura de apoio externo para tentar fazer mais e melhor com os recursos de que já dispõe o setor da saúde.

É o primeiro passo para a melhoria da gestão dos recursos públicos, exatamente no setor que o Brasil mais precisa.

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Três inúteis Poderes de Estado?

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CELSO LIMONGI

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O Judiciário tem meios para atuar com independência, desde que não navegue sem rumo, por falta de vento nas velas ou de coragem dos juízes Fonte: folha.uol.com.br 20/06

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A paz social exige seja nosso livre-arbítrio moldado. Ao Legislativo cabe moldá-lo. E o legislador é paradoxalmente dotado de arbítrio. Mas quem vai impedir o Estado, conhecido por seu vampirismo tributário, por exemplo, de exagerar na tributação?

O legislador deve produzir leis para o bem comum da sociedade.

Porém, produz leis para segmentos sociais próximos a ele. O legislador é atento e ágil, quando lhe interessa, na defesa de corporações e oligarquias. Editada uma lei, precisamos todos apurar quem está por detrás dela, a quem ela serve, ler a lei nas entrelinhas...

O legislador tem o dever de ser imparcial. Mas, se ele produz uma lei parcial, protegendo certo segmento social, como fica o juiz, que deve ser imparcial? Aplicando uma lei parcial, será também parcial.

Se o jui z for apenas a boca da lei, como um ser inanimado, estará cumprindo a missão democrática de destinar tratamento de igualdade a todos? Para Paulo Bonavides, os governantes são os autores da ingovernabilidade, porque "se apartaram da concretização dos fins que fazem legítimo o exercício do poder na complexidade social contemporânea".

Falta aos governantes o senso ético de que deveriam trabalhar exclusivamente para o bem comum.

Contudo, enquanto corporações se veem protegidas, a massa popular fica sem voz no Congresso: os 27 partidos políticos que deveriam representá-la pensam em seus próprios interesses.

Estamos mais distantes do núcleo político das decisões, porque os eleitos não decidem.

Decidem o mercado, a Bolsa de Valores, o FMI, o Banco Mundial, a reconhecer o ocaso da democracia representativa.

O Executivo é o responsável pela "ruptura na adequação dos meios aos fins, do quebrantamento da unidade, harmonia, independência e equilíbrio dos Poderes" (Bonavides). O Executivo, na sua função típica, administra, mas legisla (poder de sanção ou veto) e, em muitos temas, só ele dispõe da iniciativa da lei. Expede medidas provisórias.

É o responsável pelo Orçamento. Dispõe de milhares de cargos comissionados, a favorecer a barganha política. Obriga o Congresso a deglutir projetos de seu interesse.

O Judiciário assume vital importância na defesa dos direitos fundamentais do homem. Interfere gravemente no espaço reservado aos demais Poderes, ao controlar políticas públicas. Precisa, pois, de independência político-administrativa.

Se instrumentos legais lhe faltam, são, porém, suficientes para que exerça com independência sua atividade, desde que não fique a bordejar, navegando sem rumo, por falta de vento nas velas, ou de coragem de seus juízes e, principalmente, dos tribunais superiores, que não devem se associar à tibieza do Legislativo e se conformar com a hipertrofia do Executivo...

CELSO LIMONGI é desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo, do qual foi presidente.

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Teatro, resistência e luta

Esquecidas pelo poder público, pequenas companhias de cidades do DF ensaiam ou se apresentam debaixo de árvores, garagens ou espaços alternativos, como auditórios de escolas e administrações regionais. Fonte: correioweb.com.br 22/06

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A alguns quilômetros do Plano Piloto, o teatro tem outro nome: resistência e luta. Ele sobrevive com pouco. Ensaios, só em locais particulares, e apresentações, relegadas à pauta de auditórios de escolas e administrações regionais. Entre as cidades do Distrito Federal que não possuem uma sala específica para recepcionar produções teatrais, Planaltina enfrenta a de situação mais preocupante: os 13 grupos simplesmente não têm onde se instalar.

“O espaço utilizado para as artes cênicas é o auditório da administração regional. Mas está fechado desde janeiro. Sem condições de uso”, informa Renato Telles, gerente de cultura e diretor da companhia Quebrando o Gelo — que, por sinal, se reúne na sala ou na garagem da casa de Telles. Em reformas, a previsão de reabertura é agosto, enquanto a construção de um complexo cultural está emperrada, dependendo de liberação de orçamento. Coisas da burocracia.

Isabel Cavalcante, funcionária da Secretaria de Educação, converteu essa carência em motivação. No Centro de Ensino Fundamental 4, ela, com a ajuda das famílias dos estudantes, construiu uma sala para a trupe Língua de Trapo, formada de meninos de 7 a 20 anos e participantes do programa Altas Habilidades, para jovens superdotados. Lá, investe em ensaios dos espetáculos Auto da Compadecida, Chapeuzinho vermelho e Segredo bem guardado. Porém, vê-los no tablado, somente daqui a no mínimo dois meses.

“Vamos abrir a temporada no segundo semestre. Não temos muita ajuda, é tudo no braço mesmo. O espaço mais acessível era a administração. Este ano, fiquei sem chão”, desabafa Isabel Cavalcante. Ela cuida de 48 integrantes matriculados no ensino público ou particular e mais 12 que continuam no coletivo mesmo sendo egressos do ensino médio. Isabel ensina teatro em sala de aula desde 1996 e foi convidada para o programa em 2005.

Outro que apelou para o próprio terreno é Preto Rezende, da companhia Senta que o Leão é Manso, composta de 25 membros. O miniteatro Lieta de Ló, com 42 lugares, que está em construção no terreno de sua casa há quatro anos, será aberto em agosto, mês em que o grupo comemora 25 anos de existência. “A gente não tinha lugar para ensaiar. Numa hora, debaixo do pé de manga. Em outra, na quadra esportiva ou na garagem”, diz Rezende. O pai, Elias, faleceu há 21 anos e deixou uma promessa: reservar uma área do lote para abrigar o teatro. “Já está bem adiantado, terá espaço para apresentação, mas a gente quer transformar a entrada, que é uma garagem, numa sala de exposição de fotos do espetáculo que estiver em cartaz”, descreve. Rezende pretende abrir caminho para oficinas e outras atividades culturais no espaço. Ele lamenta o desuso do salão da administração regional, que tanto utilizou a bordo do coletivo. “A gente usava muito aquela área, mas depois passou a ser concorrido, com a chegada de outros grupos. Infelizmente a sala passou a servir como ponto de encontro de reunião para outras atividades, como de vendedores de Avon, da associação de carroceiros, servia para tudo”, diz.

Outras praças

No Cruzeiro, quem faz teatro depende de três locais: auditórios dos centro educacionais 1 (230 pessoas) e 2 (200) e do Centro Cultural Rubem Valentim (130). Getúlio Cruz, professor de artes cênicas e diretor do grupo Cutucart, comanda ensaios e apresentações com equipamentos próprios: cortinas e iluminação são trazidas de casa. Nesses espaços, os 14 filiados, todos adolescentes de colégios locais ou jovens universitários, disputam a pauta dos espaços com atividades escolares, reuniões administrativas e até eventos de igrejas. No centro cultural, a aparelhagem de som está acobertada de poeira. No Centro Educacional 1, utilizado com mais frequência pelo Cutucart, a situação é precária: há infiltrações nas pilastras, as cadeiras mal se sustentam em pé, um descaso total.

No orçamento participativo, lembra Getúlio Cruz, está prevista a construção de uma casa de cultura, no Cruzeiro Novo. Por enquanto, nada de concreto.

Em Sobradinho, o único teatro da cidade é administrado pela gerência de Educação. Em setembro, o espaço, devidamente adaptado, vai receber projeções da mostra competitiva do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. No resto do ano, porém, os grupos teatrais concorrem com reuniões administrativas e religiosas. Raquel Lima, que fundou a companhia Carlitos, em 1984, atualmente com 12 integrantes, derrubou paredes da própria residência para poder conduzir ensaios e oficinas. “Na minha casa, 80% do espaço eu destino ao teatro, e 20% a mim”, detalha. Com produção voltada ao público infantil e jovem, ela lamenta a agenda apertada do único tablado público destinado às performances. “O auditório é bom, comporta 300 pessoas, mas não temos iluminação própria nem som para teatro. Não é suficiente para comportar um espetáculo bem elaborado”, conta.

Brazlândia também possui um único salão para as artes: o auditório do Centro de Ensino Médio 1. O enorme Balneário Veredinha, atualmente fechado para reformas, pode acolher, no futuro, um centro cultural. “A previsão é que se encerre em meados de 2012. O interesse da secretaria de obras é de fazer dali um espaço cultural”, conta Mara Luana, gerente de cultura.

Valdecir Duarte, artista autônomo de teatro desde os anos 1980, lamenta o descaso das autoridades com a cultura local. “O auditório do Centro 1 é o único que usamos para eventos. Mas ele já foi melhor, tinha cadeiras confortáveis, banheiros bons”, relata.

Apesar das quatro opções em Samambaia — auditórios do Centro de Ensino Especial, do Centro de Ensino Fundamental 619, da Biblioteca Pública, e o Espaço Imaginário Cultural —, Verônica Moreno, da companhia Cobaia das Artes, diz que não é o bastante. “O Imaginário é um teatro de bolso e os das escolas fazem parte das escolas. Falta um espaço com boa estrutura, acústica, vara de iluminação e outros equipamentos necessários para uma sala de teatro. Nossa luta maior é que possa ser construído um complexo cultural”, analisa. “A secretaria de Cultura poderia visitar esses espaços. Porque parece que somos do estado de Goiás, que não pertencemos à jurisdição do DF”, completa.

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Literatura

Estreia no romance

Itamar Pires lança hoje – 21 Lygia Entre os Dragões, seu primeiro livro no gênero Fonte: opopular.com.br 21/06

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O escritor e jornalista Itamar Pires lança hoje - 21, às 20 horas, seu primeiro romance, Lygia entre os Dragões (Editora Kelps). O volume é o sétimo de uma obra literária que transita por diferentes gêneros como poemas, contos, ensaios e peças de teatro. A noite de autógrafos será na sede da União Brasileira de Escritores - Seção Goiás (UBE-GO).

Neste seu romance de estreia, Pires adota uma narrativa não linear, em ritmo de flashback e de cunho investigativo, em que Goiânia aparece como cenário para entrelaçar várias histórias. O escritor informa que demorou sete anos no processo de elaboração do romance que, segundo ele, às vezes chega ao limite do hiperrealismo na descrição de lugares, memórias e personagens.

A narrativa se desdobra a partir de um personagem que descobre pedaços de bilhetes numerados dentro de um LP. "Ele fica então obcecado. Não sabe se é uma brincadeira, se houve uma tragédia, se é um pedido de socorro. Daí nasce uma obsessão por descobrir esta história. Há desdobramentos de cunho político, quando no governo Figueiredo grupos terroristas ainda colocavam bombas em bancas de jornal. Da chamada abertura política, quando exilados retornavam ao Brasil e presos políticos eram libertados, mas que também foi marcada pela ação de grupos de extrema direita que ainda se aventuravam em atentados e ações para apagar o rastos de seus crime", conta o autor.

Pires admite que Lygia entre os Dragões traz experiências autobiográficas. Uma delas é a homenagem que presta ao cineasta, já morto, Eduardo Benfica, que lhe contou em certa ocasião uma história sobre um assassinato ocorrido nos anos 50, numa boate perto do Lago das Rosas, em que o corpo de uma mulher foi jogado no lago.

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Análise/13º Fica

Olhar autônomo

Filme vencedor do Fica se destaca por abordar a questão indígena fugindo do exotismo Fonte: opopular.com.br 21/06

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O júri do 13º Fica, presidido por Cacá Diegues, causou surpresa ao premiar como melhor obra do festival o média-metragem Bicicletas de Nhanderum , um belo documentário, mas que não estava entre os favoritos, caso do famoso Lixo Extraordinário , que concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro, ou O Processo do Amianto , tema polêmico em todo o mundo e, principalmente, em Goiás, que abriga uma grande indústria de extração do mineral.

Porém, ao lembrar uma das primeiras manifestações de Cacá Diegues sobre os critérios que iriam nortear a premiação, não é tão difícil entender os critérios do júri. Ele falou que, em primeiro lugar, a produção deveria causar uma empatia natural e, em segundo, que suas qualidades cinematográficas estivessem a serviço da questão ambiental, pois o festival é temático. Bicicletas atende a esses requisitos, pois, com certa leveza, fala de uma aldeia indígena no sul do Brasil que é cercada por plantações de soja.

Um dos diretores do filme Ariel Ortega é participante do projeto Vídeo nas Aldeias, ONG fundada nos anos 90 cujo trabalho consiste na capacitação audiovisual junto a populações indígenas de várias regiões do País. Assim, ao contrário da vasta filmografia sobre os índios brasileiros, neste caso é o próprio índio quem fala e conduz o olhar acerca de seus costumes e maiores problemas.

Questões como o processo de aculturação, pressões por causa da posse de terra e pobreza perpassam todo o média-metragem, mas sem aquele olhar hoje comum que costuma tornar exótico algo que nos deveria ser próximos, afinal, embora muitos povos indígenas tenham sido exterminados, muitos de seus descendentes se misturaram nas camadas mais marginalizadas da nossa sociedade.

Bicicletas de Nhanderum conquista o público sem apelar para a facilidade do discurso de eterna vítima, mostrando que os índios agora, com o conhecimento do recursos audiovisuais, têm uma nova ferramenta para denunciar os crimes de que são vítimas. Sobretudo, como disse o próprio Ortega, a câmera de vídeo é usada para registrar suas tradições, mas também como se adaptam os índios de hoje diante de tantas ameaças à sua própria sobrevivência como povo e cultura.

Autocrítica

Premiado como melhor longa, Os Soldados do Arco-Íris , produção da Holanda, apresenta alguns dos pioneiros do movimento ambientalista, em particular o Greenpeace. Em meados dos anos 60 e começo dos anos 70, eles eram rotulados com o estereótipo dos hippies, da cultura pop do paz e amor. Ao longo dos anos, o movimento se mostrou forte e coordenado, crescendo em vários países, tanto com ações espetaculosas, de forte efeito midiático, como também com projetos e estudos junto a governos de diversos países, atacando em várias frentes, desde a proteção de raposas da neve até questões amplas como o aquecimento global.

No conjunto, tiveram papel crucial para a organização de outros movimentos sociais e, claro, na popularização do conceito de ecologia em todo o mundo. Os Soldados do Arco-Íris , se não chega a ser uma obra-prima, cumpre sua proposta didática ao fazer este regaste histórico, mas vai além com a instigante pergunta que lança sobre as milhares de ONGs e entidades semelhantes que surgiram no rastro dos pioneiros, em boa parte mais interessadas em lucrar com a fachada ecológica do que em contribuir efetivamente com os causas ambientais.

Cinema em estado bruto, o documentário mineiro Polis, ganhador do troféu de melhor curta-metragem, não usa uma palavra, mas comunica bastante com sequências sobre o dia a dia de uma grande cidade, o meio ambiente de uma parte considerável dos seres humanos. A alta produtividade das fábricas, a quase automação dos passageiros dos trens e ônibus, o congestionamento nas ruas e estradas. Como nos locomovemos, ganhamos nossa sobrevivência, comemos ou terminamos os nossos dias são histórias contadas no filme, numa clara homenagem ao cinema vertoviano, que faz das imagens e planos sobrepostos uma linguagem tão ou mais eficiente, em termos de comunicação com o público, que o cinema clássico hollywoodiano.

A ideia do paraíso, presente em várias culturas, é uma das pontas do filme O Desejo da Vila de Changu , premiado como melhor média-metragem. Filmado no noroeste da China, o filme mostra a difícil labuta de alguns aldeões para impedir que o pequeno oásis onde vivem, cercado por desertos, seja tomado de vez pelas areias. A riqueza do filme, de narrativa convencional, consiste em, através do cotidiano destas famílias, mostrar como tudo está interligado na natureza. Qualquer passo em falso pode ser definitivo para romper as finas teias que sustentam o nosso meio ambiente, seja no extremo oriente ou em nossa própria casa, lembra o filme.

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CARLOS HEITOR CONY

O nó da questão Fonte: folha.uol.com.br 22/06

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RIO DE JANEIRO - Considero um saco abordar assunto que é comentado por toda a mídia. Talvez seja uma expressão do espírito de porco do qual a natureza me dotou, desde o berço distante até o túmulo próximo. Mas vamos lá.

No momento, discute-se em vários níveis a questão do sigilo ou do segredo de documentos oficiais ou oficiosos. Como bem lembrou a Eliane Cantanhêde, há coisas do arco da velha na anexação do Acre e na Guerra do Paraguai que podem comprometer a glória de alguns vultos do panteão nacional, como o barão do Rio Branco e o duque de Caxias. Não são temas da atualidade, mas de interesse dos historiadores profissionais e pesquisadores especializados.

O clamor da sociedade neste início de século, o nó da questão é contra o sigilo (ou o segredo) dos documentos relativos aos anos de repressão do regime militar (1964-85), dos quais a nação não tem conhecimento. Há pouco, tivemos uma polêmica entre o Persio Arida e o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o primeiro revelando as torturas que sofreu, o segundo negando-as. Esta é uma questão que não diz respeito apenas aos dois, mas a todos os que precisam conhecer como as coisas se passavam entre nós, contemporâneos. Uma questão que servirá de exemplo e advertência aos nossos descendentes.

Bem ou mal, a anistia que tivemos foi um acordo que possibilitou o fim da ditadura e o regime democrático em que vivemos. Não entrou em jogo a punição de culpados que hoje é reclamada por diversos escalões da vida pública. Mas há a necessidade de todos conhecermos o que realmente se passava nos chamados "porões da ditadura".

JK reclamava que os diversos inquéritos e depoimentos prestados por ele às autoridades militares não fossem divulgados. No mesmo caso estão milhares de brasileiros que sofreram e morreram nas mãos de assassinos e torturadores.

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JUSTIÇA DO TRABALHO

DF é a unidade que mais investe no país

Pesquisa do TST aponta que recursos aplicados no Distrito Federal superam a média nacional. Dado se reflete na qualidade do atendimento à população Fonte: correioweb.com.br 21/06

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O Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região, que inclui Distrito Federal e Tocantins, é o que apresenta o maior investimento por habitante, segundo a pesquisa Consolidação Estatística 2010, divulgada ontem. Naquele ano, a região aplicou R$ 95,48 por pessoa, enquanto a média nacional é de R$ 61,24. De acordo com o relatório, produzido anualmente, 10 dos 24 tribunais regionais apresentaram, no ano passado, volume de recursos superior à média. Na prática, as cifras traduzem a qualidade e a disponibilidade dos serviços oferecidos.

Um dos fatores para os valores verificados no DF é a relação entre a estrutura do Judiciário e a população local. A 10ª região, por exemplo, conta com 2,65 magistrados para cada 100 mil habitantes, enquanto a média nacional é de 1,89. A menor despesa foi constatada na 16ª Região (Maranhão), que tem 0,84 magistrado por 100 mil habitantes.

Os dados foram apresentados ontem pelo presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), ministro João Oreste Dalazen, que também realizou a primeira edição do Prêmio Excelência. A proposta da iniciativa era reconhecer e valorizar os órgãos da Justiça do Trabalho que se destacaram pelos serviços prestados à sociedade. “Essa é uma nova política de gestão, destinada a reconhecer a atuação dos nossos tribunais. É apenas o nosso primeiro passo”, afirmou Dalazen.

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