terça-feira, 28 de junho de 2011

FAO e Fome Zero não podem ser chamados de casos de sucesso Fonte: folha.uol.com.br 28/06

A passagem de José Graziano pelo primeiro governo Lula dificilmente poderia ser descrita como um caso de sucesso. Encarregado do Fome Zero, que tinha por objetivo garantir a segurança alimentar de todos os brasileiros, nem ele nem seu projeto duraram muito.

Foi só o programa se tornar alvo de críticas mais contundentes, pela falta de foco e até pelo equívoco de diagnóstico -em 2003 a obesidade já era um problema mais grave que a desnutrição-, que Graziano caiu e o Fome Zero virou um selinho aposto ao Bolsa Família.

A FAO tampouco representa uma história de sucesso. A ONU e suas agências nunca se notabilizam pela eficácia administrativa ou pela excelência técnica.

Ainda assim podem ser justificadas por constituírem a espinha dorsal do multilateralismo.

O problema da FAO, porém, é que seus padrões de eficiência são constrangedoramente baixos até quando comparados à já dispendiosa estrutura da ONU.

A insatisfação com a performance da agência, criada no pós-guerra com o propósito de combater a fome, teve início nos anos 70 e levou os países-membros a esvaziá-la.

Criaram dois organismos para tentar fazer o que a FAO não conseguia: o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola e o Conselho Mundial de Alimentos (depois extinto e em parte substituído pelo Programa Mundial de Alimentos).

A FAO é um raro caso de organização que consegue ser duramente criticada pela esquerda, pela direita e por seus próprios dirigentes.

Para os conservadores, a FAO é uma caixa-preta, cuja estrutura paquidérmica e mediocridade técnica a tornaram irrelevante.

A esquerda jamais perdoou à agência o fato de ter defendido a utilização de transgênicos no combate à fome.

Foi acusada de ter-se colocado ao lado das grandes corporações.

O ataque mais brutal, entretanto, veio de suas próprias trincheiras. Em 1991, um alto dirigente da organização escreveu críticas demolidoras na revista britânica "The Ecologist". Disse que a agência falhara "desastrosamente" e acusou o então diretor-geral de autocrata preocupado apenas com a própria reeleição.

A pressão foi tanta que a própria FAO se curvou ao peso das evidências e, em 2005, aceitou submeter-se a uma avaliação externa independente. Dois anos depois, a comissão entregou seu relatório, no qual chancelou boa parte das críticas e propôs uma reforma, que, em tese, ainda está em andamento. É Graziano que vai comandá-la a partir de 2012.

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O som do cinema mudo

Coletivo francês cria trilhas sonoras para filmes do início do século 20 num espetáculo de interatividade e sincronia. E melhor: de graça Fonte: correioweb.com.br 28/06

O grupo francês Arfi trabalha com a imaginação. Na maioria das vezes, ela está num universo musical abastecido por referências jazzísticas, mas há um mundo imagético que inspira o grupo há três décadas. A composição de trilhas sonoras para filmes mudos faz parte do repertório de espetáculos do Arfi desde o fim dos anos 1980 e segue uma regra básica: é fundamental não deixar a música minar o filme. “Porque um som pode estragar uma imagem”, ensina Christian Rollet, baterista e um dos fundadores do grupo. Mas, se bem conduzida, a composição pode valorizar o filme a ponto de deixá-lo mais expressivo.

O grupo descobriu isso quando criou uma trilha sonora para O encouraçado Potemkin, de Serguei Einsenstein, há duas décadas incluído no repertório. “A gente tinha ideia de fazer uma música para esse lindo filme e começou como um pequeno projeto. Acabou fazendo um enorme sucesso e já faz 20 anos que o fazemos”, conta Rollet. As trilhas de autoria do coletivo, sempre executadas ao vivo durante a exibição do filme, passaram a fazer parte do repertório do Arfi, que criou as sessões Cine-Concertos para apresentar os trabalhos. O repertório inclui 10 filmes, todos das primeiras décadas do século 20, mas apenas cinco serão apresentados a partir de hoje no gramado do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).

Na época do cinema mudo, era comum os filmes serem apresentados com música ao vivo, geralmente um improviso realizado em um piano embaixo da tela, mas criar uma trilha que dialogue com uma ou duas horas de imagens mudas é algo mais elaborado e delicado. “Trabalhamos num sentido muito afirmativo que corresponde a uma ação estética muito clara em relação às imagens com as quais estamos lidando”, esclarece Roullet.

Ao contrário do que acontecia no começo do século, quando a orquestra ou o instrumentista solo ficava escondido longe dos olhares da plateia, os franceses se apresentam em palco localizado diante da tela de projeção. “Essa prática desapareceu assim que a banda sonora foi incorporada ao cinema. A presença dos músicos executando as trilhas ao vivo no palco dão a ideia de um espetáculo completo. Neste caso, som e imagem não rivalizam. Na verdade se complementam”, acredita o francês Jean Bourdin, um dos curadores da mostra, ao lado do cineasta brasiliense Sérgio Moriconi.

“A seleção primou pelo humor. Preferimos trazer filmes de grandes comediantes. Os desenhos do palhaço Koko são pioneiros como técnica de animação. Os irmãos Fleischer já misturavam linguagens naquela época”, detalha Bourdin. Também foram selecionados títulos importantes em outros gêneros. É o caso de Nanook, o esquimó, produzido pelo cinegrafista e documentarista norte-americano Robert Flaherty, em 1922. Enquanto Chang, sobre um elefante da floresta da Tailândia, é possivelmente um dos primeiros documentários de vida selvagem de todos os tempos.

A frieza dos metais

Os músicos evitam ouvir eventuais trilhas feitas para os filmes antes de se debruçarem sobre a criação. “Nunca tentamos partir de algo que já tenha sido feito”, avisa o baterista. Nanook, por exemplo, exigiu mais que uma pesquisa sonora. O universo glacial e sem som dos esquimós levou os músicos do Arfi a idealizar sonoridades inexistentes no ambiente dos personagens do filme, mas capazes de passar para o público ocidental uma ideia de isolamento e frieza. “Os esquimós vivem numa região que não tem vegetação, não tem animais. São pessoas que sobrevivem e eles não têm instrumentos, não há nada que poderia evocar uma música, apenas alguns tambores xamânicos, às vezes eles cantam mas é só.” Os músicos trabalharam então em temas que pudessem evocar a ideia de frio, com sons de metais arranhados e instrumentos de bambu.

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GOVERNO

Dilma Rousseff ganhará versão cinematográfica

Trajetória política da presidente será retratada nas telas de cinema até o fim de 2012. Marieta Severo é convidada para o papel principal Fonte: correioweb.com.br 28/06

As ligações não param na Editora Faces devido à notícia de que o livro A primeira presidenta, que conta a trajetória política de Dilma Rousseff, terá uma adaptação cinematográfica. “Já ligaram até do The New York Times e do The Guardian”, espanta-se Helder Caldeira, autor da obra, escrita em seis dias e com lançamento oficial apenas em 1° de agosto.

Nas telas de cinema, Dilma deve ser interpretada pela atriz Marieta Severo. “Na sexta-feira fiz o convite, uma vez que só pensei nela (para o papel)”, conta o produtor Antônio de Assis, que destaca outra figura central na história: o ex-marido de Dilma, Carlos Franklin de Araújo, até hoje o “melhor amigo dela”. “O eixo principal do longa não será o da reprodução de notícias ou algo associado ao governo. O filme não levantará bandeiras. Será a biografia de uma mulher com seus conflitos”, antecipa o produtor.

O autor do livro confirma a manutenção da essência de sua obra literária na adaptação ao cinema. “Fechei contrato depois de garantida a supervisão do roteiro para as telas e após ouvir boas referências do produtor. Não escrevi a biografia da Dilma, mas a trajetória política da mulher que surgiu como figura política e pública nos anos 1980. Meu livro traça um paralelo com a história do Brasil pós-democratização”, ressalta Helder Caldeira. “Vamos nos concentrar na imagem da presidenta, pela ascensão do poder feminino, seguindo a onda mundial da ‘mulher-alfa’”, acrescenta.

Helder Caldeira, 32 anos — seis dos quais dedicados a análises políticas em 40 publicações nacionais —, delineia uma fita “sem apologia à imagem de Dilma, com tom crítico e sem endeusamentos”. Caldeira frisa que, a fim de manter a independência do filme, a ideia é contar com “100% de investimentos de recursos privados”. O perfil “diferenciado de governo”, sem caráter “midiático ou ufanista”, está entre os tópicos a serem representados.

A direção do longa ficará a cargo de Leandro Neri. Ele terá a missão de concluir as filmagens para que a obra siga o seguinte cronograma: pré-produção em outubro, produção efetiva em fevereiro do próximo ano e lançamento em dezembro de 2012.

“Concorrente”

Ainda sem título definido, o longa sobre a presidente Dilma Rousseff, curiosamente, entrará em produção em período próximo ao de um filme dirigido por Sandra Werneck centrado na figura de Marina Silva — concorrente da petista na corrida presidencial de 2010.

LULA CHEFIA MISSÃO BRASILEIRA NA ÁFRICA

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva representará oficialmente o Brasil durante a 17ª Assembleia Geral da União Africana, entidade que reúne 53 países daquele continente. O evento ocorre de hoje a sexta-feira, na Guiné Equatorial, e Lula será o chefe da missão especial enviada pelo governo brasileiro. A nomeação de Lula pela presidente Dilma Rousseff foi publicada no Diário Oficial da União de ontem.

O subsecretário do Ministério das Relações Exteriores, Paulo Cordeiro Pinto; a embaixadora do Brasil na Guiné Equatorial, Eliana Puglia; e a embaixadora do Brasil na Etiópia, Isabel Cristina Heyvaert, também integram a missão.

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Usar maconha antes dos 15 anos reduz memória em até 30%

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Efeitos persistem mesmo após um mês sem consumir a droga, diz pesquisa da Unifesp Fonte: folha.uol.com.br 28/06

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O uso de maconha antes dos 15 anos -quando o cérebro ainda está em processo de amadurecimento- prejudica a capacidade de recuperar as informações, reduzindo a memória dos usuários em até 30%.

Os danos são proporcionais à quantidade de droga usada: quanto mais se fuma, maiores são os estragos. E eles persistem mesmo se houver um período de abstinência de um mês.

Os resultados são de uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo apresentada no 7º Congresso Anual de Cérebro, Comportamento e Emoções, em Gramado (RS).

"Os usuários precoces têm resultados significativamente inferiores também em ouras áreas, como a capacidade de controlar seus impulsos", diz a neuropsicóloga Maria Alice Fontes, uma das autoras do trabalho.

Se o uso se inicia após os 15 anos, no entanto, as chances de prejuízo nessas funções diminui.

"Não é que seja o consumo da maconha fique seguro, longe disso. Mas ele se torna menos nocivo, porque o cérebro já passou dessa etapa de desenvolvimento", afirmou a pesquisadora.

O estudo foi publicado na última edição do "The British Journal of Psychiatry".

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Gustavo Dahl, cineasta militante, morre aos 72 na Bahia

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Crítico e gestor cultural, ex-diretor da Ancine esteve à frente dos principais órgãos ligados à atividade audiovisual no Brasil Fonte: folha.uol.com.br 28/06

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Foi na sala de cinema, durante a projeção de um filme, que o coração de Gustavo Dahl parou de bater.

O mais militante dos cineastas brasileiros morreu anteontem, em Trancoso, na Bahia, em decorrência de um infarto fulminante.

Dahl tinha 72 anos e, há cinco anos, gerenciava o Centro Técnico do Audiovisual (CTAV), ligado ao Ministério da Cultura (MinC).

Ali, além de coordenar o apoio à produção de curtas e longas-metragens, cuidou do renascimento da revista "Filme e Cultura", que circulara no país entre 1965 a 1988.

As novas edições da revista, editadas a partir de 2010, podem ser consideradas seu último ato político. Nas páginas da publicação, o cinema brasileiro era tratado como arte e indústria, como artigo cultural e produto econômico. E foi essa, sempre, a bandeira erguida por Dahl.

GESTOR E INTELECTUAL

Entre o grande público, o nome de Dahl pode ser menos conhecido que o de Cacá Diegues ou o de Nelson Pereira dos Santos. Mas, no meio cinematográfico, sempre funcionou como farol.

É que a liderança política de Dahl soube unir duas vertentes: a do gestor público e a do intelectual.

Filho de pai argentino e mãe brasileira, Dahl passou parte da infância em Montevidéu, mas ainda garoto mudou-se para São Paulo.

Apadrinhado por Paulo Emílio Salles Gomes, começou a escrever sobre cinema no Suplemento Literário de "O Estado de S. Paulo", no final da década de 1950. Logo depois, passaria a trabalhar na Cinemateca Brasileira.

Materializava-se assim a paixão que o acompanharia até o fim da vida.

Depois de estudar cinema na Itália e em Paris, Dahl voltou para o Brasil, mas trocou São Paulo pelo Rio.

Primeiro como montador ("A Grande Cidade", "Passe Livre") e depois como diretor ("O Bravo Guerreiro"), foi, ao lado de Cacá Diegues, Paulo César Saraceni e Glauber Rocha, um dos artífices do Cinema Novo.

Mas o set nunca foi o bastante para Dahl. Crítico e ensaísta, escreveu em jornais, revistas e publicações acadêmicas. Assinou, nos anos 1970, um artigo histórico, chamado "Mercado e Cultura", que propunha a superação dessa dicotomia.

EMBATES

E se Dahl entrou para a história do cinema brasileiro é também porque, como gestor público, tentou colocar em prática a tese que sua porção intelectual forjou.

Seu primeiro cargo político foi a superintendência comercial da Embrafilme, numa época em que o cinema nacional chegou a ocupar um terço do mercado. Viriam depois a presidência da Associação Brasileira de Cineastas (1981-1983), o Concine (1985) e, por fim, já no início dos anos 2000, a liderança do Congresso Brasileiro de Cinema, que está na origem da política cinematográfica hoje em vigor no país.

Como primeiro presidente da Ancine (Agência Nacional de Cinema), cargo que ocupou de 2001 a 2006, Dahl, como sempre, enfrentou embates, recebeu críticas e amealhou elogios. Fez, enfim, política. Política e cultura.

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Arte em trânsito

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Panorama do MAM-SP reincorpora brasileiros dois anos após edição polêmica sem representantes do país Fonte: folha.uol.com.br 28/06

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Os brasileiros estão de volta. Após a polêmica edição de 2009, quando o Panorama da Arte Brasileira do MAM (Museu de Arte Moderna de São Paulo), então organizado por Adriano Pedrosa, excluiu artistas nacionais -com uma exceção- da bienal, em 2011 a reserva de mercado nativa está garantida.

Sob a responsabilidade dos curadores Cauê Alves e Cristiana Tejo, o Panorama 2011 terá, desta vez, 33 artistas, sendo apenas um de fato estrangeiro: Raphael Grisey, francês que vive em Berlim.

É preciso descontar, no entanto, artistas como o argentino Nicolas Robbio ou o mexicano Hector Zamora, que vivem e produzem no Brasil.

É possível ainda que um novo nome se agregue à lista obtida com exclusividade pela Folha.

"A primeira pergunta que nos fazem é se vamos ter brasileiros", afirma, rindo, Alves. "Mas a gente não se preocupou em dar uma resposta ao Panorama anterior." Com o título "Itinerários, Itinerâncias", a mostra programada para ser aberta no dia 15 de outubro, "não vai discutir nacionalidade", afirma o curador.

Segundo Tejo, que já foi diretora do Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, no Recife, e trabalha na Fundação Joaquim Nabuco, "para a curadoria, não há mais a questão da nacionalidade, já que nossas raízes são mais fluídas e o que percebemos é que existe um fluxo cada vez mais urgente".

DESLOCAMENTOS

Pois é essa agitação do circuito artístico nacional que será um dos eixos centrais da mostra. "Na última década, cresceu muito o número de residências artísticas no país, e o sistema de arte se alterou muito. Nós nem conseguimos encontrar alguns artistas porque eles viajam o tempo todo", explica Alves.

Ao usar o deslocamento como metáfora, os curadores pretendem também alterar a própria concepção da mostra: "O Panorama não será apenas uma exposição de arte, estamos pensando também no lado educativo do museu e a ele agregando artistas como Jorge Menna Barreto ou Bruno Faria".

E completa: "Teremos uma mostra de cinema e, também, Chiara Banfi e Kassim serão DJ's residentes no programa existente no MAM, entre outras iniciativas".

O mesmo Panorama que aborda as residências artísticas como motor criativo não vai, no entanto, ter uma. "Na última edição, a residência era fundamental, agora não. Mas nós estamos conversando com o Helmut Batista, que há 14 anos organiza residências e talvez tenha sido o primeiro a adotar esse sistema no país, para ver como ele poderia contribuir", diz Tejo.

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Panorama busca arte fora do eixo Rio-SP

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Para curadoria, descentralização de recursos da cultura impulsionou a produção em outras regiões do país

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Mostra no MAM-SP pretende expor painel das artes visuais brasileiras na primeira década do século 21 Fonte: folha.uol.com.br 28/06

A maioria dos artistas selecionados para o Panorama da Arte Brasileira 2011 (19 dos 33 nomes) não tem origem no eixo Rio-São Paulo.

Essa proporção, que contraria parte das mostras com caráter nacional até então realizadas, é resultado, em parte, de políticas públicas adotadas pelo governo Lula (2003-2010) que favoreceram a produção das artes visuais em outras regiões do país.

"Eu sinto na pele a mudança desse paradigma, da descentralização de recursos na cultura, que transformou a precariedade e o anacronismo em certas regiões. Claro que, como a questão das cotas, pode também ter um lado ruim. Mas não posso ser contra já que essa política favoreceu em muito o meu lugar", afirma a curadora Cristiana Tejo, do Recife.

Com a seleção da mostra, ela e Cauê Alves, responsáveis pelo Panorama 2011, pretendem realizar também um balanço do sistema da arte brasileira na primeira década do século 21.

"A redistribuição de verbas na cultura teve o mesmo efeito que o Enem [Exame Nacional do Ensino Médio, que vale para o ingresso em universidades públicas de todo o país] na educação. Ou seja, aumentou a circulação", diz Alves.

PARA EXPORTAÇÃO

Se, por um lado, o Panorama indicará como as políticas públicas refletiram positivamente nas artes visuais, por outro, ele também irá assinalar a voracidade do circuito comercial.

"O mercado de arte é predador. Ele só quer colher a fruta bonita para exportação. Mas, hoje, os artistas podem sair desse problema por editais e, por isso, há locais como Recife, Belém ou Florianópolis, que vivem sem mercado de arte", diz Tejo.

Outra transformação que a mostra deve exibir é a mutação do discurso político. Há dez anos, na edição de 2001, o Panorama apresentou uma série de obras bastante engajadas com o contexto do país.

"Nós percebemos que ser político hoje é o modo como o artista responde ao mercado, como ele lida com esse sistema", complementa Tejo.

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VLADIMIR SAFATLE

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Ricos pagam pouco Fonte: folha.uol.com.br 28/06

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Há alguns dias, uma pesquisa veio mostrar o que todos aqueles que realmente se preocupam com reforma tributária no Brasil sabem: os ricos pagam pouco imposto.

Quem recebe R$ 3.300 por mês, leva para casa, descontados Imposto de Renda e Previdência, 84% do seu salário. Já alguém que ganha R$ 26.600 por mês, leva 74%.

Um profissional holandês, por exemplo, pode contar apenas com 55% de seu salário, e mesmo um norte-americano traz para casa menos que um brasileiro: 70%.

Ao mesmo tempo em que descobríamos a vida tranquila dos ricos brasileiros, chega a notícia de que a quantidade de milionários no Brasil aumentou 5,9% em 2010, atingindo a marca de 115,4 mil pessoas com fortuna de, ao menos, US$ 1 milhão.

O que não deveria nos surpreender. Afinal, vivemos em um país onde o processo de concentração de renda está tão institucionalizado que as classes mais abastadas têm um sistema de defesa de seus rendimentos sem par em outros países industrializados.

Dentro de alguns anos, a chamada nova classe média descobrirá que não conseguirá mais continuar sua ascensão social. Entre outras coisas, ela tomará consciência de como seu orçamento é brutalmente corroído por despesas com educação e saúde.

Um Estado preocupado com seu povo taxaria os ricos e as grandes fortunas a fim de ter dinheiro suficiente para criar um verdadeiro sistema público de educação e saúde.

Por que não criar, por exemplo, um imposto sobre grandes fortunas vinculado exclusivamente à educação? Isto permitiria que essa nova classe média continuasse sua ascensão social.

Tal ascensão seria ainda mais facilitada se a carga tributária brasileira parasse de privilegiar o consumo, e focasse a renda. Uma carga focada no consumo, ou seja, embutida em produtos, é mais sentida por quem ganha menos.

Há pouco, um estudo mostrou como o 0,1% mais bem pago no Reino Unido recebia, em 1979, 1,3% dos salários.

Hoje, recebe 5% e, em 2030, deve receber 14%.

Costuma-se dizer que uma das maiores astúcias do Diabo é nos convencer de que ele não existe. Uma das maiores astúcias do discurso conservador é nos convencer, diante de dados dessa natureza, de que conflito de classe é um delírio de esquerdista centenário.

Mesmo que vejamos um processo brutal de concentração de renda institucionalizado e intocado por qualquer partido que esteja no poder, mesmo que vejamos a tendência de espoliação dos recursos de países industrializados por camadas mais ricas da população, tudo deve ser um complô dos incompetentes contra aqueles que bravamente venceram na vida graças apenas a seu entusiasmo e capacidade visionária, não é mesmo?

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Crescimento da classe C segue firme, aponta FGV

Nem a inflação afeta a redução da pobreza

Fonte: folha.uol.com.br 28/06

O crescimento da classe C observado nos últimos anos no Brasil se mantém firme nos primeiros meses de 2011.

Estudo da FGV (Fundação Getulio Vargas) mostra que 3,7 milhões de pessoas entraram nesse grupo -cuja renda domiciliar vai de R$ 1.200 a R$ 5.174- entre maio de 2010 e maio deste ano.

Esse crescimento ocorreu devido à saída de 1,8 milhão de brasileiros das classes D e E (renda de até R$ 1.200) e à queda de 3,4 milhões de pessoas das classes A e B (renda acima de R$ 5.174).

O economista Marcelo Neri, autor do estudo, diz que a população da faixa de maior renda varia mais e havia crescido muito no ano anterior, o que poderia explicar a redução nos últimos 12 meses.

Ele não considera que a contração recente das classes A e B indique um reversão da melhora de renda no país.

Neri observa que nem mesmo o aumento da inflação está afetando a redução da pobreza e prevê que o processo continuará firme ao longo do ano devido ao mercado de trabalho aquecido.

"Como é uma inflação de salário, o salário está indo na frente e o trabalhador não sentiu ainda", disse.

A pesquisa aponta ainda que o crescimento econômico tem beneficiado mais a população no Brasil do que em outros países.

Enquanto a desigualdade caiu aqui, ela tem crescido nos demais Brics (Rússia, Índia, China e África do Sul).

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Crise do euro exacerba ódio e diferenças

Gregos protestam contra as exigências da Alemanha, e os eleitores do norte não querem pagar a conta dos endividados

Sem órgão fiscalizador, países desrespeitam o tratado de Maastricht, que determinou metas fiscais e de inflação Fonte: folha.uol.com.br 28/06

Nas ruas de Atenas, gregos marcham contra os alemães. Dizem que o governo de Angela Merkel quer impor mais austeridade e obrigar o país a vender o que restou de um Estado à beira da falência.

Ouve-se o mesmo em Portugal e na Espanha.

Na Alemanha, eleitores criticam o uso do dinheiro dos contribuintes para salvar nações onde, dizem, as pessoas não gostam de trabalhar.

O raciocínio é o mesmo na Áustria e na Finlândia.

A Europa de hoje está longe do sonho dos que acreditavam num continente unido e próspero de norte a sul.

A União Europeia, que começou a ser desenhada na metade do século passado, e o euro, moeda única que passou a circular em 2002, vivem sua pior crise.

Se a Grécia não aprovar nesta semana seu novo pacote de austeridade, pode ficar sem dinheiro e ser obrigada a dar um calote em sua dívida, o que levaria outros países e bancos à ruína.

Os mais pessimistas dizem que a moeda pode não sobreviver. Os mais otimistas acham que a UE terá de, no mínimo, se reestruturar.

"Acho até que demorou demais para os problemas se agravarem. A UE foi uma união política, mas não levaram em conta questões econômicas", disse o colunista econômico Johan Van Overtveldt, durante simpósio sobre o futuro do euro.

Seus argumentos são parecidos com os de outros acadêmicos: a zona do euro tratou como iguais economias e culturas diferentes. A Alemanha, com indústria forte, se beneficia da união. Exporta muito e acumula superavits.

Portugal e Grécia, com indústria frágil e leis mais generosas para os empregados, perdem competitividade, exportam pouco, importam muito e acumulam deficits.São também Estados que gastam mais que arrecadam.

Além disso, não há um órgão central que de fato fiscalize as contas dos países.

O tratado de Maastricht, que criou a moeda única, é desrespeitado o tempo todo. Ele determina que nenhum país deve ter deficit superior a 3% do PIB. O da Grécia deve fechar o ano em 9,5%.

A dívida pública não poderia ser superior a 60% do PIB. A grega passa de 150%.

MINISTÉRIO ÚNICO

Muitos acreditam que a solução seria criar um Ministério da Economia para o bloco, para determinar a política fiscal de todos.

Na proposta original, ficou definido que não haveria transferência de dinheiro entre os países --os ricos não dariam ajuda para os pobres.

Essa pode ser uma solução econômica, mas de difícil realização política.

Os eleitores do norte não querem ouvir falar nisso, e quem ganha terreno são os partidos que advogam mais fronteiras e menos união.

A crise derrubou os governos de Irlanda e Portugal. O grego está por um fio, e cresce o número dos que acreditam que a Europa precisa se preparar para a era pós-euro.

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