quarta-feira, 29 de junho de 2011

CARLOS HEITOR CONY

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"A Luta Democrática" Fonte: folha.uol.com.br 28/06

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RIO DE JANEIRO - Este era o nome do jornal que o Tenório Cavalcanti (1906-87), deputado, homem da capa preta e pistoleiro nas horas vagas, publicou durante vários anos.

Sua peça de resistência era o crime em geral; dizia-se que ao se espremer o jornal, jorrava sangue de suas páginas.

Além disso, era famoso por suas manchetes, inclusive esta, sobre um casamento em Duque de Caxias (RJ), feudo do próprio Tenório: "Pau comeu na noite de núpcias".

Ainda há por aí jornais que se dedicam ao crime, pois há uma espécie de convicção segundo a qual o sangue vende mais do que o esporte e tudo o mais.

A verdade é que os jornais sérios, comprometidos com valores mais altos, dedicam ao crime o peso que merece, mas não ao ponto de jorrar sangue de suas páginas.

Pergunto: se espremermos os jornais de hoje, o que jorrará de suas páginas? Acredito que será a corrupção e sua consequência mais visível: o escândalo.

No jornal do Tenório não se inventava nada, os crimes aconteciam com a regularidade dos cometas e dos eclipses.

Não havia espaço para as fontes, para os dossiês. A adúltera assassinada pelo marido era adúltera mesmo, o marido era, de fato, ébrio contumaz.

Com a corrupção, com o escândalo político e econômico, não há tal e tamanha transparência, tudo se dilui, tudo entra em desconstrução, editorialistas e colunistas se esbofam cobrando punições ou reparações, todos cultivam suas fontes capazes de ampliar ou minimizar o problema.

Tirante a previsão do tempo e a cotação do dólar, o que jorra da maioria de suas páginas são as agruras dos partidos, dos cargos, das verbas, dos documentos que confirmam ou negam uma tramoia passada. Ou uma tramoia futura, em gestação nos complicados escaninhos da vida pública nacional.

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Após ataques contra sites da União, Mercadante propõe o Hacker's Day

Fonte: folha.uol.com.br 28/06

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DE SÃO PAULO - Depois do maior ataque aos sites do governo, o ministro Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia) disse ontem que pretende convidar os hackers para um evento.

Chamado de Hacker's Day pelo ministro, a ideia seria fazer uma reunião com desenvolvedores de tecnologia para discutir propostas na área.

"Quero chamar os hackers para ajudarem a construir os indicadores e a forma de transparência", disse. Segundo ele, é preciso distinguir hackers dos crackers, que seriam responsáveis por invasões.

Desde a semana passada sites oficiais têm sido invadidos.

O ministro disse também que vai desmontar hoje no Senado as acusações do caso dos aloprados: "Tratarei de tudo".

Segundo a revista "Veja", o ex-diretor do BB Expedito Veloso disse que Mercadante deu autorização para a compra de dossiê falso contra José Serra.

O ministro citou nota do ex-diretor do BB negando a declaração. A revista disponibilizou áudio da gravação com Veloso na noite de ontem, em seu site.

Para Mercadante, isso voltou à tona após a morte de Orestes Quércia em 2010. Veloso teria dito que Quércia ajudou a comprar o dossiê: "Só eu estou aqui para desmentir".

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A fome do mundo

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Brasil tem vitória ao conquistar chefia de entidade da ONU para a agricultura e deve fazer valer o seu tamanho nesse campo para tentar derrubar subsídios Fonte: folha.uol.com.br 28/06

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A escolha do brasileiro José Graziano, 61, para o comando da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) acontece no momento em que o preço dos alimentos se mantém no patamar mais alto da história.

Fatores sazonais, como secas e inundações, além da especulação no mercado futuro, ajudaram a elevar os preços. Mas a principal força a encarecer o custo dos alimentos é estrutural e permanente.

Na medida em que melhoram as condições de vida em países pobres e emergentes, a população ganha mais acesso à comida e a sua dieta também se diversifica.

Estudo da própria FAO projeta que até 2050 a produção de comida terá de crescer 70% para alimentar os estimados 9 bilhões de habitantes do planeta. É necessária, portanto, uma reforma do sistema agrícola global.

Até aqui, a entidade que Graziano assumirá em 2012, considerada burocrática e dispendiosa por muitos, fracassou nessa missão.

A FAO passa por uma reforma estrutural para que se torne mais eficiente. Mas, na direção contrária, seu orçamento anual encolheu em mais de 20% em 15 anos, para cerca de US$ 1 bilhão. O histórico desfavorável pesou contra.

O Brasil tem uma experiência bem-sucedida na área agrícola, com décadas de incentivos à pesquisa que impulsionaram o aumento da produtividade e a formação de grandes grupos empresariais. O maior desafio agora é acomodar as preocupações crescentes em relação ao ambiente.

A distorção mais perversa na produção global de alimentos vem dos subsídios dos países ricos. Esse apoio desleal à sua agricultura equivale a US$ 365 bilhões ao ano e atinge em cheio as nações mais pobres, que veem negado o acesso de seus produtos aos maiores mercados consumidores.

A eleição de Graziano se deu sem o apoio dos países desenvolvidos, chaves na remodelagem do sistema mundial. Representa, porém, a primeira vitória da atabalhoada diplomacia petista em busca de protagonismo, depois de oito anos acumulando derrotas.

Auxiliar do ex-presidente Lula desde a década de 1980, Graziano comandou o malfadado Fome Zero. Principal vitrine do primeiro ano de mandato, o programa fracassou após denúncias de uso político e porque trazia um diagnóstico ultrapassado acerca do perfil da pobreza no Brasil. Acabou absorvido no Bolsa Família.

Agora, a tarefa de Graziano é semear o consenso e fazer valer o peso do Brasil na agricultura. O sucesso e a expertise do país em inovações no campo deveriam servir como instrumento de pressão e exemplo contra os subsídios das nações ricas a seus agricultores.

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O mapa do amor

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Neurocientista explica a mente apaixonada a partir de estudos de imagens do cérebro

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SOBRE NEURÔNIOS, CÉREBROS E PESSOAS

Roberto Lent

EDITORA Atheneu

PREÇO R$ 57, 272 págs

Fonte: folha.uol.com.br 28/06

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No recém-lançado "Sobre Neurônios, Cérebros e Pessoas" (Atheneu), o médico e neurocientista carioca Roberto Lent, 62, fala sobre descobertas da neurociência em uma língua que todo mundo entende. Nesta entrevista à Folha, ele explica como a desativação de certas partes do cérebro comprovam que o amor é cego e o ser apaixonado, louco.

Folha - O que é o amor do ponto de vista da neurociência?

Roberto Lent - É uma invasão de dopamina que ativa os centros de recompensa do cérebro e produz prazer.

Então age como uma droga?

O mecanismo [no cérebro] é parecido, mas não é igual.

Qual a diferença?

Para cada tipo de prazer, as reações corporais e mentais são diferentes em quantidade e em qualidade.

Quais são as reações ativadas pelo amor?

Do arrepio ao orgasmo, passando pelos intermediários. Você pode corar, suar, ofegar, o coração bate mais rápido. E você exerce os comportamentos de cortejar, se exibe para a pessoa amada.

Essas reações também acontecem quando você está com medo. Significa que ativamos os mesmos circuitos do amor?

Não sabemos com precisão, mas, como são muitas combinações [de circuitos cerebrais], um certo arranjo significa amor, outro medo.

Segundo o pesquisador português Antônio Damásio, cada emoção tem uma combinação do que ele chama de marcadores somáticos. Quando você tem de novo a exata combinação, produz o mesmo sentimento. No caso do amor, fica marcada em seu cérebro uma combinação de circuitos e reações que é ativada quando você encontra a pessoa amada, vê uma foto dela ou apenas pensa nela.

É possível saber qual é essa combinação do amor?

Com estudos usando ressonância magnética funcional, que mostra imagens do cérebro em atividade, conseguimos fazer uma espécie de mapa de regiões que são ativadas em situações relacionadas ao amor.

Qual é o mapa da mina?

As principais regiões ativadas são a ínsula e o núcleo acumbente. Mas a grande descoberta foi que, ao mesmo tempo em que há ativação dessas regiões, outras áreas são desativadas no lobo frontal do cérebro.

As regiões frontais são associadas ao raciocínio, à busca das ações mais adequadas. Desativar essas regiões significa perder o controle. Na paixão, a pessoa deixa de levar em conta certas contingências sociais e faz coisas meio malucas. A expressão "o amor é cego" reflete a percepção dessa desativação do lobo frontal descoberta pela ciência.

As condições culturais podem modificar esses circuitos?

Não creio. Os circuitos são os mesmos, mas as regras mudam. Mas não temos resposta para isso.

Há diferença entre os circuitos do amor e do desejo sexual?

Cada pergunta difícil que você faz... Existe uma sobreposição entre o mapa cerebral da paixão e o do sexo. Mas, como nossa experiência diz que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, certamente existem diferenças entre esses dois mapas.

Somos programados para amar?

Sem dúvida. Animais são programados para reproduzir, mas não podemos dizer que se amam. No nosso caso, há um ingrediente a mais, que é a experiência subjetiva. A função do amor é aproximar pessoas, inclusive aproximações improváveis: como o amor é cego, você pode amar pessoas que normalmente são rejeitadas por outros. Sempre haverá um certo alguém para outro alguém. Sim, significa que mais pessoas vão se juntar. Já pensou se só se aproximassem entre si pessoas loiras de olhos azuis? Seria desfavorável e desagradável para a espécie.

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