segunda-feira, 19 de março de 2012


Mercadante defende correção automática do piso de professor.   No governo Dilma, educação é questão de Estado, diz Mercadante.  Valor Econômico - 19/03/2012
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O terceiro edital do programa Brasil sem Fronteiras, que concede bolsas de estudos para brasileiros no exterior, sairá ainda neste mês e vai incluir parcerias com universidades do Japão, Coreia do Sul, Suécia e Holanda. A prioridade é conceder bolsas nas áreas do conhecimento em que é maior a carência de profissionais no Brasil - carreiras tecnológicas, de ciências médicas, física, química e matemática


Nesta semana o ministro Aloizio Mercadante completa dois meses à frente do MEC. Mas já tem não só uma visão global dos desafios que precisará enfrentar, dos equívocos administrativos que urge remodelar, das correções de rumo em programas que têm sérios problemas de execução, como já visitou, por todo o Brasil, obras e realizações da sua área. O projeto do governo Dilma supõe a educação como uma questão de Estado, à qual serão dados instrumentos e condições para promover o crescimento do país, é como define o ministro.

Nele, destacam-se programas como o Ciência Sem Fronteiras, de bolsas para estudantes brasileiros em instituições estrangeiras, que está sendo agora ampliado. São também instrumentos de qualificação iniciativas como o aperfeiçoamento do exame de avaliação Enem e a fixação do piso salarial do magistério.

Sobre o piso, apesar dos protestos de governadores e prefeitos que acreditam não ter como pagar o piso de R$ 1.451 sem ultrapassar o limite de gastos com pessoal da lei de responsabilidade fiscal, o ministro diz que o professor não pode ser punido pela falta de reformas da previdência nos Estados, e que o piso tem que continuar crescendo. Estuda uma política de reajuste automático, em conjunto com uma comissão do Congresso.

"Custa caro o piso? Custa, mas a ignorância custa mais", afirmou Mercadante nesta entrevista, na quinta-feira, em seu gabinete. O ministro fará apenas correções no Enem, não mudanças radicais, e o exame continuará sendo nacional e não regional como querem alguns especialistas: "O sarrafo republicano tem que ser igual para todos."

Mercadante defende, como absolutamente adequado a esse projeto, que os recursos do pré-sal sejam para a educação. "Ou vamos aplicar esses recursos na estratégia, ou dispersar isso na máquina pública e nos acomodar nesse parasitismo. Nosso projeto é que a educação passe a ser central."

E diante de todo um histórico de manipulação político-partidária desse assunto, faz uma declaração veemente: "O MEC tem que ser despartidarizado, tem que ser política de Estado. Enquanto eu estiver ministro não estarei envolvido em nenhum debate político, partidário e ideológico."

Valor: Há 4 milhões de crianças fora da escola, o ensino tem baixa qualidade em todos os níveis e o Brasil está no piso do ranking mundial nessa área. Qual política será capaz de aproximar a educação do projeto de crescimento do país?

Mercadante: Não basta ser um país rico, ou mesmo rico sem pobreza. O país não pode se acomodar em ser grande exportador de commodities. O Brasil precisa se preparar para a economia do conhecimento, e não seremos competitivos sem inovação, ciência e tecnologia. O Brasil, especialmente com o pré-sal, pode dar o salto estratégico nesse sentido. Ou simplesmente se acomodar com a doença holandesa e agravar as deficiências históricas. Ou vamos aplicar esses recursos na estratégia, ou dispersar isso na máquina pública e nos acomodar nesse parasitismo. Nosso projeto é que a educação passe a ser central. Pela primeira vez o tema da ciência, da tecnologia, da inovação, está no Plano Plurianual.

Valor: A disputa político-partidária polarizada não é destrutiva para instrumentos fundamentais do desenvolvimento, como a política de educação?

Mercadante: O Ministério da Educação é de política de Estado. O governo anterior, de Fernando Henrique Cardoso, trouxe muitos avanços. A universalização do ensino básico, o Fundef (fundo de valorização do magistério) para financiamento, os mecanismos de avaliação do ensino, que depois o Lula transformou no Fundeb, ao incluir o ensino pré-escolar e médio. Além disso, expandiu a rede universitária, fez um grande programa, o Bolsa Família, com exigência de manter crianças na escola, expandiu os institutos federais de ensino técnico. O MEC tem que ser despartidarizado, com relações republicanas, com metas comuns, e com complementariedade com Estados e municípios. A concorrência entre os entes federativos é muito mais uma disputa política eleitoral do que qualquer outra questão racional. Enquanto eu estiver ministro não estarei envolvido em nenhum debate político, partidário e ideológico.

Valor: A expansão do ensino superior no governo Lula parece não ter ocorrido como era a intenção e o crescimento se deu mais na rede privada. As universidades novas têm campus inacabados, abandonados, os alunos não se interessam muito. Estariam assim no interior de Pernambuco, do Ceará, de São Paulo...

Mercadante: Não é verdade. No mundo inteiro o ensino privado é predominante. Demos um salto extraordinário no ensino superior, não só de inserção no ensino privado, através do ProUni e do financiamento subsidiado do Fies. A rede pública universitária melhorou a relação professor-aluno e houve uma desconcentração. O Nordeste tem 27% da população brasileira, mas até alguns anos atrás apenas 1,9% dos nordestinos eram estudantes no ensino superior, percentual que conseguimos elevar para quase 10%. O Proinfra, que é uma parceria entre a Finep e a Capes, faz grandes investimentos nessa expansão. Essa política deu certo. O vestibular da Universidade do ABC é um dos mais concorridos, e como tem foco em engenharia, os alunos chegam com problemas em matemática, em física, há dificuldades de acompanhamento.

Valor: A baixa oferta de engenheiros não é prejudicial ao projeto de crescimento?

Mercadante: Há um problema geral na engenharia que acaba atingindo também matemática e física. No Brasil formamos apenas seis engenheiros para cada mil habitantes, enquanto no Japão são 40. Temos um programa de estímulo à universidade. Temos também déficit de cursos de medicina. Nossa oferta de médicos e engenheiros é muito aquém do necessário. Enquanto isso há oferta muito grande na área de direito, administração, enfermagem e pedagogia, que são 41% das inscrições nas universidades. O foco do programa Ciência Sem Fronteiras é justamente nesses grandes desafios para o desenvolvimento do Brasil: áreas tecnológicas, ciências médicas, física, química e matemática.

Valor: Há planos de ampliação do Sem Fronteiras, programa que inova a política educacional no governo Dilma?

Mercadante: Fechamos na semana passada 20 mil novas bolsas para estudantes brasileiros irem a universidades nos Estados Unidos. Tivemos já dois editais pelo Ciência Sem Fronteira, e no segundo foram mais de 20 milhões de acessos ao portal. O critério de acesso é ter no mínimo 600 pontos no Enem. Ao todo, já temos 546 bolsas para doutorado de quatro anos, 922 bolsas de doutorado de um ano, 629 bolsas de pós-doutorado e 5.783 bolsas para graduação de um ano, porque não queremos graduação plena, queremos que esse estudante volte depois de um ano. Hoje o programa abarca intercâmbios acadêmicos para EUA, Alemanha, França, Reino Unido e Itália. O terceiro edital sairá ainda neste mês e vai incluir parcerias com universidades do Japão, Coreia do Sul, Suécia e Holanda.

Valor: A valorização da carreira e a remuneração digna dos professores, em todos os níveis, especialmente o básico, sempre foram considerados requisitos para uma educação de qualidade. Os governadores, inclusive do PT, reagem à política do piso salarial. Dizem que ou pagam o piso, ou cumprem a Lei de Responsabilidade Fiscal que tem um teto para gasto com pessoal. Como vencer o impasse?

Mercadante: O piso nacional dos professores é essencial para que tenhamos uma educação de qualidade no médio prazo. Se quisermos bons profissionais no setor então precisamos ser competitivos do ponto de vista salarial. Nós precisamos e vamos fazer o piso continuar crescendo em termos reais nos próximos anos. Mas é evidente que um reajuste como o deste ano, de 22,2%, é muito forte, não podemos dizer que não é. É um reajuste do Congresso, eu apenas cumpri a lei que o Congresso aprovou. Mas era fundamental que nesses dois, três primeiros anos déssemos um empurrão no piso para começar a estabilizar a carreira.

Valor: Vai continuar crescendo?

Mercadante: Mesmo com esse reajuste, o piso, de R$ 1.451, é pouco mais de dois salários mínimos, ainda é pouco. O Congresso está criando uma comissão para pensar uma regra de reajuste para o futuro, de forma a atrair os melhores profissionais, porque precisamos fazer o piso continuar crescendo em termos reais.

Valor: Com uma política de reajuste automático como a do salário mínimo?

Mercadante: É, o salário mínimo, por muito tempo, tinha muita tensão, precisava um reajuste forte e o governo segurava. Com o mecanismo PIB mais inflação, esse ano injetamos R$ 27 bilhões a mais na economia devido ao novo salário mínimo. Mas tem havido um crescimento sustentado do salário mínimo, que melhorou a distribuição de renda, os índices de desigualdade social, e diziam que a economia não ia absorver, e a economia absorveu. Custa caro o piso do professor? Custa. Mas a ignorância custa muito mais.

Valor: E a alegação de que se o governador pagar o piso rompe o limite do gasto com pessoal, ferindo a Lei de Responsabilidade Fiscal?

Mercadante: Tem que analisar situações específicas. Em alguns Estados, mais da metade da folha de pagamentos é de aposentados e pensionistas. Então o problema não é o piso dos professores, mas a equação geral da remuneração e a relação entre aposentados e pensionistas. Ou seja, de reformas que não estão sendo feitas.

Valor: Como enfrentar esses desafios com os recursos orçamentários que a educação tem hoje?

Mercadante: A minha prioridade são os royalties do pré-sal. Em vez de pulverizar os recursos na máquina pública, vamos vincular prefeituras, Estados e União para impulsionar a educação.

Valor: A indústria registra altas taxas de rotatividade, fala-se em importação de mão de obra, e se defende criticando a baixa qualificação dos trabalhadores, o que amplia os custos de produção. Como o seu projeto no MEC pode participar da solução?

Mercadante: Temos 1,9 milhão de trabalhadores com carteira assinada na indústria de transformação que são analfabetos funcionais. Estamos fazendo um esforço enorme com o Pronatec, por meio da ampliação de bolsas para Sesi, Senai e redes federais. Além disso, o Fies também pode ser acessado pelas empresas. Ou seja, a companhia financia o estudo e o aprimoramento de seu trabalhador a custo subsidiado pelo Estado. Estamos dando instrumento novo para as empresas, que antes reclamavam que o custo para a bolsa de estudos do trabalhador era coberto com capital de giro. Mas é verdade que indústria tem problemas, ainda que as condições tenham melhorado muito com o dólar a R$ 1,80, com juros de um dígito, e vão melhorar mais com o grande esforço do governo para elevar a infraestrutura do país, com o PAC, além do mercado interno forte, que funciona como âncora.

Valor: Não há uma contradição entre a necessidade de formar mão de obra e o descredenciamento de instituições de excelência que faziam esse trabalho, como a fundação Dom Cabral e o Hospital Sírio-Libanês?

Mercadante: Para oferecer cursos de pós-graduação é preciso ser uma instituição educacional, que passa pela fiscalização e supervisão de educadores e técnicos. O critério foi esse. Mas queremos que haja a constituição de cursos, de instituições de ensino dentro de centros de excelência, claro. Estamos brigando para que hospitais de primeira linha como o Sírio-Libanês, Einstein, e outros, abram seus cursos de medicina, estamos com déficit de médicos.

Valor: O Exame de Ensino Médio (Enem), mecanismo de avaliação importante da política educacional, teve problemas na sua execução nos últimos três anos. Desde administrativos e policiais até de conteúdo e estratégia de aplicação da prova. Que solução o sr. dará a isso?

Mercadante: O Enem é estratégico. Os EUA têm um exame similar há 85 anos. Outros países como Alemanha, Itália, Inglaterra e China também têm. Na China já teve problema, inclusive com a prisão de 65 pessoas. Nos EUA deu problema no ano passado. A primeira dificuldade que temos no Brasil é logística, uma vez que falamos de 5,4 milhões de estudantes que precisam estar no mesmo horário com a prova em mãos. Temos de percorrer 309 mil km, 9,7 mil rotas, levando quase uma tonelada de papel, 71 batalhões do Exército, mais PM e Exército, para garantir o sucesso do Enem. O Senado fez prova de concurso nesta semana com instituição de excelência, com 10 mil provas, e mesmo assim, devido a problemas de logística, algumas provas atrasaram para chegar nos lugares certos. No último Enem não tivemos nenhum problema logístico. Estamos construindo uma experiência, já que o Enem é muito novo, e estamos desenvolvendo um método.

Valor: E o conteúdo da prova?

Mercadante: Tem que ser nacional, o sarrafo republicano tem que ser igual a todos. Como escolho aluno para o Ciência Sem Fronteiras? Pelo Enem. Como escolho os alunos para o ProUni? Pelo Enem. Como escolho os melhores para as melhores universidades? Pelo Enem. Com o Enem a chance passou a ser igual, do filho do reitor ao filho da faxineira. O Enem é necessário a um sistema republicano e democrático de meritocracia do estudante. Estamos tomando medidas para aperfeiçoar o exame.

Valor: Quais medidas estão encaminhadas?

Mercadante: Até agora são dois examinadores para cada redação, e se a nota entre eles registrar uma diferença de 300 pontos, a redação é encaminhada a um terceiro examinador. Estamos concluindo a revisão desse processo, mas devemos alterar para um modelo que reduz a diferença a 200 pontos. Se a diferença de nota entre dois avaliadores for superior a 200 pontos, a redação vai a uma banca de três examinadores. O Inep, que executa a prova, tem novo presidente, vamos fortalecer o Inep. Mas nada disso altera o Enem para os estudantes.

Valor: O ensino médio, sempre esquecido, entra de que forma no novo projeto?

Mercadante: O ensino médio é um setor nevrálgico. Temos hoje 83% estudantes matriculados, mas apenas metade (50,9%) estão na idade certa para a série em que estão. Além disso, temos uma evasão muito alta, de 10%, que se explica pelo mercado de trabalho aquecido, o que atrai esses jovens para o trabalho e não para a escola. Por fim os professores e as escolas não estão conseguindo atrair o jovem no ensino médio. Queremos incluir 2 mil escolas, neste ano, no ensino médio profissionalizante, expandindo o Pronatec. A segunda iniciativa é o tablet para o professor. O professor ainda é um imigrante digital, enquanto o aluno é um nativo digital. O quadro negro é do século XVIII. E o Brasil é o terceiro país onde mais se vende computador no mundo.

Valor: Entre seus novos projetos para o ensino médio e básico há uma reviravolta na educação no campo, certo?

Mercadante: Vamos lançar ainda neste mês o programa Pronacampo, que é fundamental para resolver uma dívida histórica do país. Só 18,4% dos alunos no campo estão na escola. Vamos levar carretas às escolas, com óculos e exames. O equivalente a 11 mil escolas, ou 15% do total, não têm luz, 10,4% não têm água, 14% não têm esgoto, 94% não têm banda larga, e 90% não têm internet. Primeira providência: todo o material didático será do universo rural, queremos criar uma bibliografia que estimule a permanência no campo. Outro problema é o transporte. A partir deste ano vamos distribuir 8 mil ônibus para facilitar o transporte de alunos e criar escolas com alojamento para professores e alunos. Fizemos uma parceria com a Embrapa para saber qual é o tipo de estrutura em cada região para desenhar o ensino profissionalizante. Temos que estudar as cadeias produtivas para isso.

Valor: No ensino básico ainda há analfabetos e milhões fora da escola. Como resolver?

Mercadante: Vamos tornar menos desigual o ensino na faixa de alfabetização, isto é, das crianças de seis a oito anos. No Paraná apenas 4,9% das crianças não se alfabetizaram quando completam oito ano, enquanto que em Alagoas são 35%. No Nordeste e Norte em geral são acima de 20%. Se não alfabetizarmos na idade certa, a evasão no ensino médio está colocada. Vamos fazer duas avaliações: uma aos sete anos, de forma a ter ainda um ano para corrigir se for preciso, e outra aos oito anos.
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Literatura.   Suicídio questionado.   


Vincent van Gogh (1853-1890) não se matou. Folhapress  16/ 03
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 Ele foi assassinado, provavelmente por acidente, afirmam Steven Naifeh e Gregory White Smith, autores de Van Gogh: The Life (Random House, US$ 40; cerca de R$ 72), considerada pelo museu Van Gogh de Amsterdã a biografia definitiva do pintor. Baseada no livro Vincent van Gogh – The Complete Letters, a obra, de 2011, será lançada no Brasil no segundo semestre, pela Companhia das Letras.

“A hipótese do assassinato é mais plausível do que a do suicídio”, afirmou Naifeh. “Até agora, nenhum especialista se opôs a ela.” Leo Jansen, curador do museu, diz, no entanto, que ainda há questões a serem elucidadas, como as circunstâncias do possível acidente e o paradeiro da arma.

A versão do suicídio foi crucial para a fama de Van Gogh, morto em 1890, aos 37 anos. A partir dela se estruturou a narrativa de um fim trágico para uma vida infeliz. Os biógrafos não sabem se o homicídio foi acidental ou intencional. “O tiro teria ocorrido após uma discussão, afetada por bebedeira, entre o pintor e René Secrétan, um estudante de 16 anos”, disse Naifeh.

Segundo os autores, Van Gogh foi atingido numa estrada perto de Auvers-sur-Oise, na França, a 1,5 km da Ravoux, pousada onde se hospedara e à qual voltou ferido. A versão consagrada é a de que ele disparou no próprio abdome em um campo de trigo. “Os médicos concluíram que a bala entrou por um ângulo oblíquo, portanto, sem fazer uma trajetória direta como se esperaria de um suicídio. E o disparo ocorreu a certa distância do Corpo.”

Nenhum dos apetrechos de Van Gogh foi localizado. Não houve autópsia, testemunhas ou bilhete de despedida. Mas, em 1956, René Secrétan contou ao escritor Victor Doiteau detalhes da sua relação com o artista holandês. Apresentado a ele por seu irmão Gaston, Secrétan o azucrinava.

Além da fantasia de caubói, Secrétan andava com um revólver, usado para acertar pássaros e esquilos. Gustave Ravoux, dono da pousada, teria emprestado a arma ao jovem e espalhado o boato do suicídio, registrado pelo pintor Émile Bernard em carta para o crítico Albert Aurier.

Essa versão se transformou em mito com o best-seller Sede de Viver (ed. Record), escrito por Irving Stone em 1934 e adaptado para o cinema por Vincente Minnelli em 1956, com o ator Kirk Douglas. Van Gogh: The Life é um trabalho de dez anos, baseado em mais de mil cartas do pintor. As mais de 28 mil notas explicativas estão no site vangoghbiography.com.
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José Veríssimo e a educação nacional .    Professor de história e filosofia da educação, é membro da Academia Brasileira de Letras e presidente do CIEE/RJ Correio Braziliense - 19/03/2012

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José Veríssimo, nascido em Óbidos (Pará), foi o fundador e primeiro ocupante da cadeira nº 18 da Academia Brasileira de Letras. Durante toda a sua vida, dedicou-se com fervor à causa da educação nacional, escrevendo preciosos artigos e livros, que merecem ser relembrados. Sua pena esteve presente em inúmeros artigos do Jornal do Brasil, quando foi criado o primeiro Ministério da Instrução Pública, Correios e Telégrafos, entregue a Benjamin Constant, que mereceu duras críticas de José Veríssimo, além de alguns elogios, como o pronunciado liberalismo da reforma então realizada.

Vejamos as palavras de Veríssimo: "Em a nossa instrução pública, hoje como ontem, a coisa de que carecemos é de verdade. Precisamos acabar de uma vez com a espetaculosidade de regulamentos, programas, instituições e organizações que ficam na prática sem nenhuma realidade. Não é, pois, sem apreensões que vemos essa faculdade outorgada aos estados, sem o estabelecimento de um meio qualquer de fiscalização que garantisse a verdade desses estudos, meio que se poderia porventura encontrar em um exame de entrada nas faculdades, perante membros das respectivas corporações ou pessoas por elas designadas, exame para o qual se exigiria aquele certificado de estudos secundários.

"Quanto ao ensino particular, aumentou-lhe a reforma a grande liberdade de que já gozava no antigo regimento, o que só pode merecer aplausos dos espíritos verdadeiramente liberais. E, mais determinando, como vimos, que de 1895 em diante cessassem os exames de preparatórios, dispensou os alunos dos cursos particulares dos exames a que o regulamento chamou de finais, sujeitando-os apenas ao de madureza."

Em outro momento, já na introdução à 1ª. edição de A educação nacional, José Veríssimo dá a sua versão sobre o brasileirismo que então se discutia: "É a principal a desmarcada extensão do país comparada com a sua escassa e rareada população. Isolados nas localidades, nas capitanias e depois nas províncias, os habitantes, por assim dizer, viveram alheios ao país. Desenvolveu-se neles antes o sentimento local que o pátrio. Há baianos, há paraenses, há paulistas, há rio-grandenses. Raro existente o brasileiro. É frase comum: "Primeiro sou paraense (por exemplo) depois brasileiro". Outros dizem: "A Bahia é dos baianos, o Brasil é dos brasileiros". Pela falta de vias de comunicação, carestia e dificuldade das poucas existentes, quase nenhuma havia entre as províncias.

"Raríssimo há de encontrar um brasileiro que por prazer ou instrução haja viajado o Brasil. Durante muito tempo os estudos se iam fazer à Europa, muito especialmente a Portugal, Lisboa, e Coimbra. Eram as nossas capitais intelectuais. As relações comerciais foram até bem pouco tempo quase exclusivamente com aquele continente e com aquele estado. Tudo isso vinha não só da geografia do país, mas também da ciosa legislação portuguesa que de indústria procurando isolar as capitanias, longe de acoroçoar as relações entre elas, preferia as tivessem com o reino. Destes diferentes motivos procede o estreito provincialismo brasileiro, conhecido sob o significativo apelido de bairrismo, que hostilizava e refugava de si o mesmo brasileiro oriundo de outra província alcunhando-o, no Pará por exemplo, de barlaventista. A falta de uma organização consciente da educação pública do mesmo passo cooperou para manter esse isolamento e, como quer que seja, essa incompatibilidade entre os filhos e habitantes das diversas provínc as. A educação nacional a que os Estados Unidos recorreram para reduzir e atalhar os perigos que a unidade da nação trouxesse um demasiado espírito local, nunca a houvemos, nem ainda hoje a temos aqui."

Pode-se concluir a contribuição de José Veríssimo à educação nacional com o seu comentário sobre o iletrado brasileiro, segundo ele da ordem de 84% da população, "que nada encontrou que impressionando seus sentidos lhe falasse da pátria e a seu modo fosse também um fator de sua educação. Não há museus, não há monumentos, não há festas nacionais... O que frequentou a escola desadora a leitura e o estudo, não procurando fazer-se a si próprio uma educação patriótica". Há muito o que refletir sobre o pensamento pioneiro do grande escritor paraense.
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Revolução da mulher, evolução da ciência.    Correio Braziliense - 19/03/2012
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Médica mastologista, é presidente da Femama 2013 Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama 2014 e do Imama 2014 Instituto da Mama do RS

Durante muitos séculos, a mulher viveu em segundo plano na sociedade — sem voz, voto ou vontade própria. Era vista como propriedade ou mercadoria. Aos poucos, foi adquirindo liberdade de ação e pensamento. Hoje, a mulher conquistou postura irrefutável diante do mundo. Ganhou novas atribuições na família e se fixou em altos cargos, em diferentes escalões.

Apesar de todo poder e ascensão, a mulher não deixou de ser mortal. Mas algumas correm tanto que se esquecem de si mesmas. Por esse motivo a Femama – Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama trabalha em uma campanha com o conceito "Mamografia — se não fizer por você, faça por mim". A meta é conscientizar a comunidade sobre a importância da detecção precoce do câncer de mama e, especialmente, incentivar as mulheres a terem atitude em relação a isso.

Conforme o Instituto Nacional de Câncer (Inca), deverão ser diagnosticados 52 mil novos casos de câncer de mama no país só em 2012. E já sabemos que quase a metade deles é descoberta quando a doença já está muito avançada. O câncer de mama tem até 95% de cura se descoberto cedo, mas essa informação parece não ser assimilada por muitas mulheres com mais de 40 anos, que deveriam estar fazendo a mamografia anualmente — o que está assegurado pela Lei Federal 11.664, desde 2009, entre outros cuidados. Sem falar nas que deveriam fazer o exame mais cedo, conforme recomendação médica. É preciso acabar com o estigma social de que o câncer de mama é sinônimo de mutilação e morte. Afinal, o mundo já deu incontáveis voltas, a mulher conquistou seu espaço e respeito e a ciência avança cada vez mais.

Vamos voltar no tempo para entender melhor esse cenário, acompanhar as mudanças e participar das que se fazem necessárias. A primeira referência sobre o câncer de mama, de 2.500 anos antes de Cristo, estava registrada em um papiro recuperado no Egito, em 1862. Nele, constava verdadeira sentença de morte para a paciente com câncer: "Uma mama com tumor protuberante e fria ao toque representa uma doença para a qual não há tratamento". Já na Grécia, 460 anos antes de Cristo, Hipócrates, considerado o "Pai da Medicina", também considerava o câncer de mama doença incurável e não recomendava tratamento.

Finalmente, no século 1 depois de Cristo, o médico grego Leônidas tem a coragem de realizar a primeira cirurgia relacionada ao câncer de mama. Centenas de anos depois, apenas no século 18, o primeiro diretor da Academia Francesa de Medicina, Jean Louis Petit, realiza a primeira técnica de mastectomia radical — com a retirada total da mama. Cabe lembrar que a introdução da anestesia só ocorreu em 1846 por William Morton (EUA).

Podemos avançar rapidamente no tempo e destacar que, no final do século 19, o norte-americano William Stewart Halsted, um dos fundadores do Johns Hopkins Hospital, descreve sua técnica de mastectomia radical, que virou padrão de tratamento por mais de 70 anos. Em 1895 é realizada primeira reconstrução mamária pelo cirurgião austríaco Vincent Czerny. No mesmo ano, um estudante de medicina de Boston (EUA), Emile Grubbe, é o primeiro a usar a radioterapia em paciente com câncer de mama. Em 1943, Jacob Gershon-Cohen demonstra, pela primeira vez, a possibilidade de detectar lesões impalpáveis com a mamografia.

Na sequência, os eventos passam a acontecer em espaços de tempo mais curtos. Uma tecnologia avançada de imagem, as próteses de silicone, as técnicas cirúrgicas de conservação da mama, as terapias-alvo, entre outros avanços, até os direitos dos pacientes. O próprio Inca, em suas recomendações de 2011, diz que "toda mulher com câncer de mama deve ser acompanhada por uma equipe multidisciplinar especializada que inclua médicos (cirurgião, oncologista clínico e um radioterapeuta), enfermeiro, psicólogo, nutricionista, assistente social e fisioterapeuta". Nossa presidente Dilma Rousseff disse que foi beneficiada pela prevenção e deseja que todas as mulheres tenham a mesma oportunidade e que a saúde da mulher é prioridade no seu governo.

E agora, contemporâneos da era de aquarius, o que os impede de fazer uso do seu sistema de saúde para viver mais e melhor? Se o serviço não funciona, denuncie. Faça bom uso de seus direitos e da sua cidadania. Mas, para ter voz e vez, é preciso ter valor. Brasileiras, façam um bem para vocês mesmas: cuidem-se e permitam que cuidem bem de vocês.
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Servidor receberá 90% de seu salário se contribuir por 25 anos em novo fundo.  Valor Econômico - 19/03/2012

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O servidor público federal que contribuir para o Fundo de Previdência Complementar (Funpresp) por um período de 35 anos terá direito, ao se aposentar, a 90% do seu salário por um período de 25 anos, de acordo com estimativa feita pelo secretário de Previdência Complementar do Ministério da Previdência Social, Jaime Mariz. A criação do Funpresp foi recentemente aprovada pela Câmara dos Deputados e agora está sendo discutida no Senado.

"Para calcular o benefício, tem que pegar o total acumulado por ele [servidor] durante o tempo de contribuição e dividir pelo período em que vai receber a aposentadoria complementar, que estimamos em 25 anos", afirmou. Pelos cálculos atuariais realizados, ao contribuir, por 35 anos, com até 11% do salário que exceder o teto do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) e a União dando a contrapartida de 8,5%, estabelecida no projeto do Funpresp, o servidor consegue um benefício de 90% do salário mais recente, detalhou o secretário. "Se contribuir só dez anos, a vantagem [benefício] será muito menor", explicou.

Com o objetivo de equalizar as condições para quem tem direito a se aposentar antes do período de 35 anos de contribuição, como mulheres e trabalhadores em função de periculosidade, a proposta do governo é criar um subfundo. Segundo Mariz, um percentual de 0,34% do valor pago para a previdência complementar por todo servidor e pela União seria destinado a cobrir os custos com o segmento de servidores que terá benefícios antes dos 35 anos de contribuição.

Outro mecanismo, chamado de fundo de sobrevivência, também será criado para garantir o benefício ao servidor que viver mais do que 25 anos depois da aposentadoria. O percentual da contribuição que será destinado a esse fundo deverá ficar entre 0,15% e 0,2%.

Caso o servidor morra antes do fim do período de recebimento do benefício (25 anos), a família pode optar por resgatar todo o valor acumulado por ele no Funpresp ou receber a pensão até o término do prazo, informa o secretário. "Isso também vai evitar aquelas pensões dadas de maneira graciosa, porque passa a ser de acordo com o que o servidor acumulou."

O atual regime de previdência dos servidores públicos federais garante aos que ingressaram no setor público até 2004 o último salário integral como benefício ao se aposentar, e aqueles que tomaram posse a partir de 2005 recebem o equivalente a 80% de uma média dos maiores salários que foram recebidos.

A média de idade dos servidores que atualmente se aposentam é de aproximadamente 61 anos no caso dos homens. Para as mulheres, essa média gira em torno de 58 anos, segundo informa o Boletim de Pessoal do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.

Formalizada pelos Ministérios da Fazenda, Previdência Social, Planejamento, Casa Civil e Secretaria de Relações Institucionais, a proposta do plano de benefício do Funpresp deverá ser encaminhada ao conselho deliberativo do fundo de cada Poder, que pode acatá-la ou não. Esses conselhos vão ser formados por três indicados pelo presidente de cada Poder e por três eleitos pelos servidores, conforme estabelecido no projeto que cria o Funpresp.

Se aprovado, esse plano estará na regulamentação do regime do fundo. Isso porque o projeto, que agora tramita no Senado, não detalha essa operacionalização. "A lei autoriza a criação do fundo. Sobre a definição do plano de benefício, o conselho deliberativo vai formatar isso, que vai definir a operação do fundo e do plano", diz o deputado federal Rogério Carvalho (PT-SE), relator, na Câmara, do projeto que instituiu a previdência complementar para os servidores federais. De acordo com o texto, o prazo para que fundo esteja em "funcionamento" é de 240 dias.

Com o Funpresp, o governo visa reduzir gradualmente o déficit da previdência dos servidores públicos federais, que no ano passado causou um prejuízo de R$ 56 bilhões aos cofres públicos. A expectativa do Ministério da Previdência é que esse déficit seja zerado em 2040.

O ministro da Previdência Social, Garibaldi Alves Filho, espera que o projeto do Funpresp seja aprovado pelo Senado ainda neste semestre, apesar da atual crise política instalada na base aliada do governo.

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LUIZ FELIPE PONDÉ.  A síndrome de SchmidtApesar das modas, as mulheres temem a subjetividade masculina como o diabo teme a cruz FOLHA SP 19.03
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Não, não se trata de uma doença nova, caro leitor. Apenas de um filme cujo título é "As Confissões de Schmidt", do diretor Alexander Payne, o mesmo de "Os Descendentes", que concorreu ao Oscar neste ano, mas muito melhor do que esse.

Para começar, Schmidt é Jack Nicholson, o que já garante metade do filme. Mas o filme vai muito

além desse grande ator.

Síndrome de Schmidt, nome que eu inventei, descreve o quadro de total melancolia em que se encontra o personagem central, um homem de 60 anos, após a aposentadoria e morte repentina da sua mulher. Mas qual é o diagnóstico diferencial com relação a outras formas de melancolia? Vejamos.

O filme abre com um discurso de um colega em sua homenagem, quando Schmidt se aposenta da companhia de seguros em que trabalhou a vida inteira (no caso, companhia de seguros carrega todo o peso de viver para ter uma vida segura).

Logo após a morte da sua mulher, ele descobrirá que ela fora amante do colega que discursou em sua homenagem em sua cerimônia de despedida da "firma". A cena da descoberta é feita com requintes de crueldade, porque Schmidt está imerso nas roupas da mulher morta, buscando sentir seu "doce aroma" e assim matar a saudade que sente dela.

Schmidt tem uma filha que casará com um sujeito horroroso, de uma família brega que se julga especial: você conhece coisa pior do que festa de Natal em família? Sim: uma festa de Natal em família em que os presentes são frutos da criatividade ridícula dessa família, como no caso da família do genro de Schmidt.

Schmidt fazia xixi sentado como menina porque sua mulher o proibia de fazer xixi como menino, a fim de não sujar o banheiro.

Esse é sintoma diferencial da síndrome de Schmidt: esmagar-se (mesmo sua fisiologia) para deixar tudo em seu lugar, sem conflitos, amar a paz e o bom convívio em detrimento de si mesmo. No caso

específico, não há "questão de gênero" (já que banheiros estão na moda nesse assunto, vale salientar que aqui não é o caso).

Primeiro porque eu não acredito em questões de gênero, só em questões de sexo. Depois, porque não se trata de falarmos em homens vítimas da opressão feminina (ainda que se trate de alguma "opressão" nesse caso, já que, afinal, sua mulher o obrigava a fazer xixi como menina e o traiu), mas sim de falarmos de alguém que descobre que sua vida foi e é vazia, apesar de ter sido um pai e esposo dedicado, e não um desses canalhas que saem com mulheres fáceis por aí.

A síndrome de Schmidt pode e afeta também mulheres, portanto não é uma questão do sexo masculino. Mas no filme é uma questão masculina (o sexo masculino "suja banheiros") e o é antes de tudo porque, como se sabe, homens trabalham, às vezes até brincam com os filhos, mas são as mulheres que detêm o monopólio da subjetividade e da sensibilidade.

Mulheres "conhecem a si mesmas", homens não. Schmidt é uma caricatura do homem que acreditou que, cumprindo seu papel, estaria a salvo da devastação da falta de sentido da vida e do amor. Apesar das modinhas, as mulheres temem a subjetividade masculina como o diabo teme a cruz.

Homens não sabem falar de si mesmos. E, no fundo, é melhor que continuem assim (pensam as mulheres e os filhos): vivendo como Schmidt, no silêncio da função paterna e marital. Isso muitas vezes é objeto de piadas nas quais homens são comparados a carroças, enquanto mulheres são comparadas a grandes jatos.

Na realidade, a vida comum das famílias supõe que os homens continuem a trabalhar sem crises existenciais; qualquer coisa que se diga ao contrário disso é mais uma mentira da moda.

Isso não significa que não existam exceções, mas essas são apenas exceções. Homens com crises existenciais ficam sozinhos.

No caso de Schmidt, tudo que sua filha quer é seu cheque, e não sua presença. O filme é bom o bastante para mostrar que talvez nessas famílias "normais" não haja mesmo possibilidade de grandes relações entre pais e filhos, muito menos entre pai e filhos.

Talvez esse venha a ser um dos debates do século 21: o que fazer quando os homens começarem a falar?
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Em meio a crise, Planalto ameaça vetar lei ambiental.   Rebelião na base de sustentação faz Dilma repensar estratégias para votações polêmicas no Congresso FOLHA SP 19.03
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Governo trabalha para que Código Florestal fique para depois da Rio+20; Lei da Copa é prioridade na Câmara
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Sob o efeito da rebelião em sua base de sustentação no Congresso, a presidente Dilma Rousseff já ameaça vetar o Código Florestal caso os deputados forcem a aprovação de um texto que não seja de agrado do Planalto.

A bancada ruralista pressiona para que o projeto seja votado logo, mas Dilma já avisou que não tem pressa e trabalha para que a votação fique para depois da Rio +20.

A aprovação, à vésperas da conferência mundial sobre ambiente, do texto que os ruralistas querem poderia representar constrangimento internacional para o governo. O veto presidencial poderia, assim, neutralizar as críticas dos ambientalistas.

Os líderes dos partidos no Congresso definirão amanhã quando o assunto será posto em votação. Segundo fontes do governo, há opções em estudo para evitar novos confrontos com a base.

O código atual poderia ser ajustado às necessidades dos pequenos agricultores por meio de três decretos -já prontos para edição- para flexibilizar regras de recomposição de áreas desmatadas.

O decreto que suspende multas a desmatadores, que vence em 11 de abril, poderia ser prorrogado mais uma vez, até que se forme consenso na Câmara para aprovar a íntegra do texto do Senado, tido por Dilma como o meio-termo possível entre ruralistas e ambientalistas.

Os ruralistas dão sinais de que entenderam o recado. O deputado Moreira Mendes (PSD-RO), líder da bancada, acenou ontem com a possibilidade de aceitar o texto do Senado, se este for incorporado ao parecer do relator na Câmara, Paulo Piau (PMDB-MG). Piau apresentou na sexta-feira parecer que desfigura o texto do Senado, mas disse que é sujeito a mudanças.

"Todos votamos com o relator, não importa o que ele traga", disse Moreira. Segundo ele, porém, deputados insatisfeitos com o texto do Senado podem destacar itens para voto em separado -um risco para o governo.

Nesta semana, a prioridade do governo na Câmara é pôr em votação a Lei Geral da Copa. O novo líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), crê que a votação está "razoavelmente costurada".

Segundo o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), a discussão sobre a venda de bebidas alcoólicas nos estádios da Copa de 2014 não está pacificada em sua bancada. A bancada evangélica é contra essa parte do texto.

Em meio à crise, o Planalto terá que monitorar comissões que analisam matérias polêmicas. Uma delas é a emenda constitucional que transfere do Executivo para o Congresso a decisão sobre demarcação de terra indígena.

A medida provisória que institui a política nacional de proteção à defesa civil perderá a validade se o Senado não a analisar até quarta. O Planalto ainda arrisca não emplacar duas indicações para a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres).

Por fim, Dilma pode ver o PR apoiar a criação de uma CPI para investigar irregularidades na Casa da Moeda ou no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
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RUBENS RICUPERO.   Rio menos 20.   A obstinada negação da realidade e brigar com os fatos conduz os governos a adiar o que deve ser feito FOLHA SP 19.03

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É possível que seja tarde demais para evitar que a reunião a realizar-se no Rio de Janeiro dentro de cem dias faça as deliberações ambientais retroceder ao ponto onde se encontravam em Estocolmo em 1972.

Marco zero da tomada de consciência do problema, deu-se início então a um processo que levaria à assinatura na Rio-92 das duas convenções da ONU para enfrentar as principais ameaças ao planeta: o aquecimento global da atmosfera e a acelerada extinção das espécies vegetais e animais.

O hábito posterior de convocar reuniões comemorativas como a Rio+20 tem o inconveniente de gerar expectativas exageradas, pois eventos capazes de atraírem os maiores líderes mundiais não se repetem facilmente.

Desde então, dar execução às convenções mostrou-se mais árduo do que negociá-las, embora, a cada ano, a ciência aporte elementos mais categóricos de que a ameaça do aquecimento global foi subestimada. Esse é um dos raros setores onde a realidade se tem revelado sempre pior do que as previsões.

Contudo, uma obstinada atitude de negar a realidade e brigar com os fatos conduz os governos a adiar o que deve ser feito. Para isso evita-se chamar a atenção para a gravidade das conclusões das pesquisas recentes.

Esse é um dos dois principais problemas que ameaçam fazer da Rio+20 um retrocesso: a recusa de lançar um honesto grito de alerta sobre os limites do planeta, dissimulando a falta de progresso. O segundo é o de incluir na agenda todos os problemas acumulados e não resolvidos em 50 anos de debate Norte-Sul. Dilui-se a agenda, perde-se o foco específico e, ao insistir que tudo é prioridade, acaba-se não tendo prioridade alguma.

Afirma-se que não se deve privilegiar nenhum dos três pilares do desenvolvimento sustentável: o econômico, o social e o ambiental. Há aí dois defeitos de raciocínio. O primeiro é o de ignorar o que em filosofia se chama condição da possibilidade. O ambiente é a condição da existência do econômico, social, cultural e de tudo o mais.

Se a temperatura média aumentar em cinco graus, não haverá mais condições para a civilização humana, tal como a conhecemos. Mesmo o social, mais importante do ponto de vista do valor humano, não sobrevive sem ambiente favorável.

O segundo erro é esquecer que não se trata apenas de qualquer econômico e social, mas da dimensão ambiental desses componentes do desenvolvimento sustentável. Uma política industrial como a nossa, que se resume em estimular a venda de automóveis, sem exigir contrapartidas de economia de combustível ou de poluição, agrava não só o problema ambiental, mas leva ao colapso do trânsito, como vemos em São Paulo.

O mesmo vale para o consumo: estimular a ampliação do consumismo para milhões e não o consumo racional é imitar o desperdício americano, que, generalizado, exigirá cinco planetas como a Terra! Um assentamento que destrói a Mata Atlântica ou a floresta amazônica é insustentável, ao contrário do que emprega os assentados para replantar matas ciliares ou para conservar a floresta.

O que falta ao Brasil não são boas políticas sociais, mas torná-las ainda melhores, dando-lhes conteúdo ambiental sustentável.
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Greve dos professores do DF completa oito dias JORNAL DE BRASÍLIA 19.03

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O impasse entre os professores e o Governo do Distrito Federal continua e hoje a paralisação completa oito dias. O Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro-DF) foi chamado para reunião hoje, às 15h, na Secretaria de Educação. Mesmo após os vários anúncios do governo sobre a impossibilidade de reajustes salariais, a expectativa da categoria é que seja apresentada uma proposta nesse sentido.
Os professores da rede pública pedem que o governo distrital cumpra acordo feito em abril do ano passado para aplicação do reajuste nos salários e reestruturação nos planos de carreira. O Sinpro afirmou, ainda, que fará uma assembléia amanhã, em frente ao palácio do Buriti.
De acordo com o diretor do Sinpro-DF, Cléber Soares, a reunião  é uma tentativa de negociação por parte da entidade, já que no último encontro entre os representantes, no dia 13, apenas uma carta de intenções foi oferecida pelo governo. "Nós esperamos realmente que nesta próxima reunião tenha uma proposta concreta", afirmou.

A Secretaria de Educação afirma que o governo está impossibilitado de atender todas as reivindicações dos professores em razão da Lei de Responsabilidade Fiscal.

Na semana passada, quando os professores decidiram em assembleia decretar greve, o governador Agnelo Queiroz enfatizou que o governo não tem como dar aumento para nenhuma categoria do governo este ano, devido à LRF. Agnelo destacou que o segmentou foi o que recebeu maior reajuste na atual gestão.
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RIO +20.   Metas do fórum da água serão trazidas para conferência no Rio FOLHA SP 19.03
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Manifestantes protestam por acesso à água durante fórum
Na prática, não é lei e não há nenhuma obrigatoriedade. Mesmo assim, 140 países se comprometeram na última sexta-feira a aumentar o acesso à água potável, ao tratamento de esgoto e a promover o uso inteligente da água na conclusão do Fórum Mundial da Água.

O evento, coordenado por um engenheiro da USP, Benedito Braga, reuniu 20 mil pessoas na semana passada em Marselha, na França.

Mesmo em crise econômica, a França abriu a carteira e doou € 600 milhões para iniciativas de água na África -uma das regiões que mais sofrem no mundo por falta de saneamento básico.

Os acordos tomados em Marselha não têm caráter vinculante. Isso significa que ninguém vai cobrar quem disse que ia fazer e não fez.

A ideia, no entanto, é levar o documento de Marselha para a Rio+20, conferência da ONU para o desenvolvimento sustentável que acontecerá em junho no Brasil.

O tema "água" ficou praticamente de fora do rascunho zero da Rio+20, de onde partem as discussões.

Isso incomodou o Brasil. Ministérios como o do Meio Ambiente e das Relações Exteriores e a ANA (Agência Nacional de Águas) propuseram durante o encontro de Marselha a criação de um Conselho de Desenvolvimento Sustentável na ONU para tratar de temas como a água.

Essa ideia será levada pelos brasileiros para a Rio+20, de acordo com o presidente da ANA, Vicente Andreu.

"Não adianta criarmos uma agência para tratar de ambiente na ONU [que é a proposta dos europeus para a Rio+20]. Precisamos deixar os assuntos como a água mais focados e menos transversais", disse à Folha.

Hoje cerca de 28 agências ligadas à ONU lidam com água sob várias abordagens, como produção de energia e agricultura. Mas a água, por si só, não é o foco do trabalho de nenhuma delas.

O governo brasileiro havia sugerido a criação de uma aliança para a gestão global da água, mas a ideia ficou de fora do rascunho zero.

Para Andreu, o encontro em Marselha serviu para fortalecer a entrada da água na agenda nacional e para melhorar a imagem do Brasil como um produtor de tecnologias sustentáveis.

A delegação do Brasil foi a maior de todas, de acordo com a organização do evento. Eram 250 pessoas -ongueiros, políticos, cientistas e empresários. Todas as hidrelétricas do país estavam representadas no fórum.

O estande do Brasil era o mais frequentado pelos estrangeiros -não se sabe se por causa das iniciativas sobre água ou devido à caipirinha, que era de graça em alguns momentos do dia, acompanhada de samba.

"Somos o país da água. Temos 12% da água doce do mundo", analisa Braga.

Mas há problemas: 70% dela está na bacia amazônica, longe dos maiores centros urbanos. E só 45% dos brasileiros têm água tratada

A jornalista Sabine Righetti viajou a Marselha (França) a convite do Fórum Mundial da Água

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