terça-feira, 27 de março de 2012
Direito de resposta, direito universal. Luiz
Martins da Silva UNB.BR 26/03/2012
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Passou
no Senado e está na Câmara um projeto de lei em favor de quem se sentir
injuriado, difamado ou caluniado pela mídia. Trata-se, finalmente, de se
regulamentar o que já assegura a Constituição Federal, no seu Artigo 5º, Inciso
V: “é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da
indenização por dano material, moral ou à imagem”. Como se trata do próprio
Poder Legislativo, desta vez, dificilmente o lobby das grandes corporações de
mídia conseguirá, como de costume, carimbar a iniciativa como sendo mais “um
atentado à liberdade de imprensa”, chantagem utilizada mesmo quando o Congresso
baniu da TV aberta a publicidade de cigarros.
Perdeu
tempo a Associação Nacional de Jornais (ANJ) de não ter levado à frente uma
proposta que em seu seio já lograva consenso há vários anos, que era a de se
criar para a imprensa brasileira saída semelhante ao Conar (Conselho Nacional
de Auto-Regulamentação Publicitária), com o seu respectivo Código Brasileiro de
Auto-Regulamentação Publicitária, mecanismo que assegura amplo espaço para a
solução consensual de queixas e idêntica oportunidade de defesa do acusado.
Mesmo
uma solução nos moldes do Código de Defesa do Consumidor seria mais amena do
que o império de um sistema que possa resvalar para a chamada “indústria da
indenização”, isto porque as reparações previstas nesse modelo decorrem sempre
de negociações entre as partes – intermediadas pelos Procons – e nunca podem
ser arbitradas acima do valor original do produto, bem ou serviço em causa
(acrescido de correção inflacionária). É verdade que o serviço noticioso da
imprensa não pode ser confundido com simples mercadoria e que é muito complexo
traduzir em cifras um dano moral.
Em
termos de “imaginação sociológica”, a Universidade de Brasília, por meio de um
projeto de extensão intitulado “SOS-Imprensa” já havia projetado um “Procom da
Mídia”, de autoria da então bolsista de iniciação científica, Rachel Librelon,
hoje jornalista atuando no mercado. Isto foi há mais de uma década, quando
ainda existia alguma chance de o Brasil ter um Conselho Nacional de Comunicação
(efetivo e em favor da sociedade), fórmula adotada em numerosos países, ou, quem
sabe, uma Ouvidoria Pública de Imprensa, como funciona no Uruguai.
O
fato é que o equilíbrio entre Liberdade e Responsabilidade nunca foi bem
entendido no Brasil. De um lado, responsabilizações penais por algo civil (a
imprensa é um espaço público que viabiliza uma esfera pública numa sociedade
democrática e plural). De outro, empresas que sempre confundiram liberdade de
impressão (print) com liberdade de expressão (speech) e de opinião (press).
Resultado, o pior possível, como sentenças judiciais, em alguns casos maiores
do que o valor integral dos negócios do réu, leia-se: a falência como
condenação.
Se
herdamos do modelo anglo-saxão a mentalidade de que a imprensa é um poder
fiscal, possivelmente trazemos da mesma origem o cacoete de que reputação pode
ser traduzida em dinheiro. De fato, imagem é um direito que equivale a um bem e
a um patrimônio, mas imateriais. Simbólicos, diga-se. Há, nos Estados Unidos,
uma anedota de que teriam escrito na cédula monetária a expressão In God we
trust (Acreditamos em Deus), com vergonha de escrever In gold we trust
(Acreditamos no ouro). Convertem no vil metal os chamados crimes de honra:
injúria, difamação e calúnia. E é bom aproveitar-se a oportunidade para
traduzi-los. Em geral, os advogados pedem recompensas pelos três,
conjuntamente. No entanto, injúria é ofender ao decoro (xingamentos,
preconceitos, depreciações etc); difamação é difundir má fama (atingir, por
exemplo, a reputação profissional de alguém); e calúnia, o mais grave deles, é
imputar falsamente crime a alguém. De qualquer forma, lá, nos EUA, a
preferência é pela reparação em dinheiro, quando, na verdade, direito de
resposta é direito de defesa, com réplica de autoria do próprio ofendido. A
indenização financeira seria reservada para situações em que o dano moral
implicou prejuízos materiais.
Com
o banimento da velha Lei de Imprensa, quase sempre acompanhada da alcunha de
“entulho autoritário”, desregulamentou-se o direito de resposta nela contido.
Na lacuna de uma regulamentação constitucional atualizada, o assunto gravitou
automaticamente na direção do Código Penal e da mercê da arbitragem judicial,
cara e lenta. E com o risco de prevalecerem penas arrasadoras ou, de acordo com
o libertarismo do juiz, um vale-tudo em nome da liberdade, em nome da qual
adoramos encher a boca com expressões do tipo “A liberdade é um valor
absoluto”. A mesma epígrafe não tem valido para outro valor igualmente elevado:
a responsabilidade.
Honra
se repõe com honra e no espaço onde ela foi arranhada ou destruída: o espaço público.
Liberdade e responsabilidade; ofensa e reparação. Ocorre-me, aqui, um episódio
em que um direito de resposta (matéria de capa de uma revista de âmbito
nacional) veio a ser publicado vários anos depois da reportagem, quando o
ofendido já era morto. Até o momento, direito de resposta é, em geral, tarefa
de advogados e em juridiquês, linguagem totalmente diferente do texto que o
público massivo compreende. Em síntese, o público guardará para sempre a versão
injuriosa-difamatória-caluniosa, já que nada entendeu da “resposta” jurídica e
anacrônica.
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Pesquisador analisa relações entre campo e cidade . Professor da Universidade de São Paulo, Francisco
Scarlato lotou o auditório da Reitoria em aula inaugural da Geografia UNB.BR
26/03/2012
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As
grandes cidades tornaram seus moradores estrangeiros. A afirmação é do
professor Francisco Scarlato, da Universidade de Brasília, e deu o tom da aula
ministrada na manhã desta segunda-feira, no auditório da Reitoria, a calouros,
professores e pós-graduandos do Departamento de Geografia da Universidade de
Brasília. Mestre e doutor em Geografia Humana pela USP, o professor foi o
convidado da aula inaugural do curso.
Francisco
Scarlato analisou o comportamento humano ao longo da história, desde a formação
e o desenvolvimento das cidades, passando pelas diferenças entre o meio rural e
o urbano. “Viver a cidade é uma coisa difícil hoje em dia. Os trabalhadores que
vão de uma ponta à outra da cidade não a conhecem. Sejam ricos ou pobres, eles
somente passam por ela”, refletiu o docente. “Em São Paulo, onde nasci e
cresci, me sinto um estrangeiro. As pessoas se enclausuram e acham que só há
segurança dentro de suas casas”, destacou.
Para
Mário Diniz, professor do Departamento de História, o pesquisador soube
relacionar a Geografia e a História com muita propriedade. “Isso é fundamental.
São ciências que deveriam andar de mãos dadas sempre. A História nos dá a visão
do tempo e a Geografia nos insere no espaço”, analisou.
CONCEITOS
– Agnes Serrano, aluna de mestrado da UnB, gostou da palestra, ainda que o tema
abordado não tivesse qualquer relação com o tema de sua pesquisa. Ela estuda o
centro metropolitano de Brasília. “Ele deu muitas informações importantes. É
bom para os calouros, porque quando entramos na universidade não temos idéia da
complexidade dos assuntos como espaço, território e cidades”, afirmou a estudante.
“É preciso que os alunos de Geografia saibam que não estão lidando com qualquer
objeto de pesquisa. O espaço geográfico é construído pelo homem e por isso é
tão complexo”, completou.
A
vinda do professor Scarlato à UnB faz parte de um estreitamento de relações com
outras universidades. Segundo Fernando Luiz Sobrinho, diretor do Departamento
de Geografia, um ano após a inundação que destruiu salas de aula da Geografia,
um ciclo de eventos e debates serve para motivar os jovens alunos, reunir os
professores e intercambiar conhecimento.
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Reitor da Universidade Columbia vê risco de
internet 'globalizar' censura. Lee
Bollinger afirma que diferenças legais entre países já limitam direito de livre
expressão. Autor(es): Sergio Pompeu. O Estado de S. Paulo - 27/03/2012
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Estudioso
da Primeira Emenda da Constituição Americana, que protege a liberdade de
discurso e de imprensa, o reitor da Universidade Columbia, Lee Bollinger,
acredita que o debate sobre a censura - iniciado nos Estados Unidos no século
18 - precisa ganhar escala mundial. Porque, com a globalização e a internet,
"censura em um lugar é censura em todos os lugares". Para ele, não se
trata só de uma visão altruísta, baseada em princípios, mas de uma constatação:
diferenças entre sistemas legais tornam responsáveis por conteúdos publicados
em um país vulneráveis a processos em outros países.
"Numa
conversa recente, o administrador de um grande jornal nos EUA me disse que
desistiu de publicar uma notícia específica. Não quis ficar vulnerável a uma
ação de indenização... na Grã-Bretanha!", contou. "Mesmo que você não
apareça no tribunal, pode ser condenado ou obrigado a pagar reparações. E essas
coisas não são de sistemas jurídicos de terceira classe, estou falando de
sistemas jurídicos conhecidos pela abertura."
O
reitor esteve em São Paulo na semana passada para representar Columbia no ciclo
Grandes Universidades, da Fundação Estudar. Deu aula magna no Insper, zona sul
de São Paulo, sobre liberdade de expressão, na qual apresentou seis ideias para
reforçar as garantias a esse direito.
Como
no caso das assimetrias do Judiciário, o reitor acredita que o debate não deve
ficar atrelado à proteção dos direitos humanos. Num mundo interdependente,
informação tem valor estratégico. "É algo muito prático: precisamos da informação
produzida em cada sociedade."
Crises.
"O desenvolvimento econômico acontece muito rápido, negócios e
investimentos podem se mover com a rapidez de um raio comparados a política,
educação e outras coisas. Entre as coisas que caminham muito atrás estão
informação, discussão, ideias, como vamos pensar o que fazemos", disse
Bollinger. "Basta olhar para as últimas grandes crises: não pudemos prever
a bolha da tecnologia; estávamos errados sobre as armas de destruição em massa
no Iraque; não previmos a Grande Recessão nem a Primavera Árabe. Não sabíamos o
que estávamos fazendo em eventos quase cataclísmicos e cometemos erros de
políticas muito sérios."
Além
da discussão de normas legais que ultrapassem fronteiras, Bollinger propôs
aprofundar estudos sobre a relação entre desenvolvimento econômico e grau de
abertura de uma sociedade; atrair a comunidade de negócios para a defesa da
livre imprensa; a busca de apoio em instituições como a Organização Mundial de
Comércio (OMC); a adoção do princípio de fronteiras abertas para jornalistas e
o estímulo à qualidade, com a valorização de escolas de Jornalismo e a criação
de um Serviço Mundial Americano, inspirado na BBC.
No
que se refere à discussão de normas legais internacionais, o reitor elogiou a
América Latina. "E a área mais promissora do mundo para ter jurisprudência
do tipo da Primeira Emenda", disse, mencionando o artigo 13 da Convenção
Americana sobre Direitos Humanos, de 1969 - apesar de o texto fazer ressalvas
ao direito de expressão em casos de "proteção da segurança nacional, da
ordem pública, ou da saúde ou da moral públicas".
É
para ganhar argumentos novos no debate que ele sugeriu analisar mais a fundo a
relação entre liberdade e prosperidade. "Não vamos convencer a China a
abrir mão da censura porque eles devem aceitar um modelo de democracia. Esse
argumento vale nos EUA." Nesse aspecto, o reitor de Columbia criticou a
relutância da OMC em entrar no debate sobre liberdade de expressão. "Ela
não quer que grupos de pressão interfiram na discussão", diz. "Mas
deveria pensar em como você não pode ter comércio internacional sem
informação."
>>>
EDITORIAL A recuperação dos mananciais. O
Estado de S. Paulo - 27/03/2012
-
Os
R$ 4,3 bilhões que o poder público está investindo para recuperar dois dos
principais mananciais do sistema de abastecimento de água da Grande São Paulo e
para urbanizar as favelas que se formaram em suas margens nas últimas décadas
sintetizam o custo, para os contribuintes, do descaso com que esse mesmo poder
tolerou a ocupação ilegal dessas áreas. Com recursos de R$ 2,8 bilhões, a serem
aplicados até 2016, o Programa Mananciais, de recuperação das Represas Billings
e Guarapiranga, chega agora à sua terceira e última etapa (as duas anteriores
custaram R$ 1,5 bilhão). Essa etapa beneficiará diretamente 46,5 mil famílias
que vivem em seu entorno, mas indiretamente atingirá cerca de 5 milhões de
pessoas abastecidas com água proveniente dessas represas.?
A
leniência das autoridades e a ganância de loteadores, que sistematicamente
desrespeitaram as leis de proteção das áreas dos mananciais, estimularam a
formação de conjuntos habitacionais e de favelas no entorno das duas represas.
Pelo número de pessoas que lá vivem, é irrealista qualquer tentativa de fazer
cumprir a legislação, por meio da remoção dessa população. Era indispensável e
urgente, porém, conter o processo de degradação ambiental e de poluição cada
vez maior das represas. Ao mesmo tempo, era necessário oferecer infraestrutura
urbana mínima à população que vive nessas áreas e assegurar que sua presença
não resulte em lançamento de mais material poluente nos mananciais.?
O
Programa Mananciais foi concebido no âmbito municipal na gestão de Luiza Erundina
(1989-1993) e iniciado na gestão Paulo Maluf (1993-1997) para evitar a
degradação ambiental contínua das regiões das Represas Billings e
Guarapiranga.?
Essas
regiões, no entanto, se estendem por outros municípios da Grande São Paulo,
razão pela qual o governo do Estado - por meio das Secretarias do Meio Ambiente
e de Saneamento e Recursos Hídricos, além da CDHU - se associou ao
empreendimento. Mais recentemente, as obras de recuperação dos mananciais da
Grande São Paulo passaram a fazer parte do Programa de Aceleração do
Crescimento, do governo federal. A terceira etapa tem a participação dos três
níveis de governo. Recursos do Banco Mundial - que apoiou outros programas da
área ambiental no Estado de São Paulo - foram essenciais para a execução da primeira
fase do programa.?
Na
busca do equilíbrio entre a ocupação urbana descontrolada e a preservação dos
mananciais, o programa inclui urbanização de favelas e comunidades de baixa
renda, construção de conjuntos habitacionais, implantação ou melhoria de sistemas
de esgotos e de abastecimento de água e implantação de parques.?
Na nova fase, como explicou ao Estado (13/3) o
coordenador do programa, Ricardo Sampaio, serão removidas as famílias que vivem
na faixa de 50 metros dos mananciais. Nessa faixa, incluída na Área de Proteção
Permanente (e por isso não poderia ter habitações), é impossível instalar
sistemas de coleta de esgoto. A área desocupada servirá para a criação de
parques que contornarão as duas represas. O governo pretende estimular o
turismo ecológico na região, "que tem enorme potencial", segundo
Sampaio.?
Estima-se
que 13 mil famílias serão removidas de suas casas e transferidas para conjuntos
habitacionais a serem construídos na mesma região. Enquanto as novas habitações
não ficarem prontas, essas famílias receberão auxílio-aluguel.?
Um
exemplo de como ficará a região depois da desocupação, da reurbanização e da
instalação dos parques é a comunidade Cantinho do Céu, localizada na margem da
Represa Billings. Os esgotos captados pela rede ligada às residências são
lançados no coletor-tronco e, dali, bombeados para a rede da Sabesp, que os
conduzirá até a estação de tratamento. Não há mais lançamento de dejetos
diretamente na represa e, por isso, sua água, límpida e sem cheiro, além de
melhor para o abastecimento da Grande São Paulo, serve para o lazer das
crianças da comunidade.
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Meio ambiente fora da Rio+20. Conferência
sob pressão. Cientistas, governos e ONGs criticam a
falta de foco e de uma agenda consistente.
O Globo - 27/03/2012
-
Omais
importante evento ambiental antes da Rio+20 começou ontem em Londres com
críticas à falta de foco da conferência que será realizada no Brasil em junho.
Batizado de Planeta sob Pressão, o evento reúne alguns dos maiores
especialistas do mundo em meio ambiente. Nas palestras de ontem, não houve
otimismo. O representante do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação em
Londres, Carlos Joly criticou duramente, na abertura da reunião, os
preparativos do Brasil.
—
Esperávamos mais dos documentos e da agenda oficial — afirmou. — Entendo que
não é uma conferência ambiental, e sim calcada em três pilares, social,
econômico e ambiental. Mas o que está acontecendo é que clima e biodiversidade,
por exemplo, estão de fora da conferência.
Falta
ciência. Estamos perdendo espécies num ritmo sem precedentes. Somos um dos
países de maior biodiversidade, e não discutiremos isso na Rio+20. Não teremos
os pilares econômico e social sem o ambiental.
Joly
afirmou ainda que falta peso político à conferência. Segundo ele, dos 60 chefes
de Estado que já confirmaram presença, a grande maioria é da América Latina e
da África.
—
Os mais importantes (neste tema) não estão lá, os que têm peso político, como
EUA, União Europeia, China, Japão. E essa será uma oportunidade única, não
podemos esperar mais 20 anos.
O
representante do ministério disse que o rascunho do documento é vago demais.
—
O Brasil tem um corpo diplomático reconhecido por sua capacidade de negociação
e articulação — disse. — Como anfitriões, deveríamos nos colocar mais
presentes, ter um papel diferenciado, liderando mudanças. Precisamos de um
esforço conjunto para evitar um fracasso. Por exemplo, se os chefes de Estado
estiverem lá e concordarem que o planeta tem limites que devemos considerar,
entender e respeitar, já é meio caminho andado. Mas, sem isso, fica muito
difícil.
Do
outro lado do Atlântico, as expectativas não eram melhores. Na terceira rodada
de negociação informal, em Nova York, os países em desenvolvimento, reunidos no
chamado G-77, grupo do qual o Brasil faz parte, temiam que o calendário
apertado de reuniões preparatórias resulte num documento generalista,
desperdiçando a oportunidade política de criar uma coordenação multilateral
sobre o tema e de se implementarem ações concretas em escala global. Por
acreditar que não há tempo para costurar consenso, o grupo começou a pressionar
o comitê executivo da Rio+20 por mais rodadas de negociação.
Apesar
disso, o secretário-executivo da comissão brasileira da Rio+20, embaixador Luiz
Alberto Figueiredo Machado, está otimista. Ele acredita que já há convergências
importantes.
Chegou
ontem às mãos do secretário-executivo da Rio+20, Sha Zukang, uma carta-denúncia
contra a exclusão dos direitos humanos do documento final que será apresentado
na conferência, em junho, no Rio. Uma cópia da carta também foi entregue ao
secretário-geral das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, e a negociadores na
organização. A retirada de temas considerados fundamentais, como o direito à
água potável e ao saneamento adequado, era um temor que acabou se confirmando.
Intitulado
"Rights at risk at the United Nations" (Direitos em risco nas Nações
Unidas), a carta, assinada por representantes globais da sociedade civil e
movimentos sociais de todo o mundo, denuncia que, "de forma
alarmante", a ONU estaria sendo usada como plataforma para atacar direitos
que, por definição, deveria defender. Os tópicos excluídos do documento incluem
desde o direito à alimentação e à nutrição adequada até promover acesso à terra
especialmente a mulheres, povos indígenas e outros grupos vulneráveis
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Meio Ambiente.
Movimentos
sociais se organizam para atuar de forma coesa na Rio+20
Agência
Brasil 27/03
-
Os
movimentos sociais que terão
representantes na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento
Sustentável (Rio+20), programada para junho próximo no Rio, estão se
organizando para tentar atuar de forma mais coesa, disse Iara Pietrikovski, do
Comitê Facilitador da Sociedade Civil na Rio+20. Ela faz parte também da
coordenação da Rede Brasil sobre Instituições Financeiras Multilaterais (Rede
Brasil) e é codiretora do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc).
Entre
as organizações não governamentais que marcarão presença na conferência oficial
da ONU e na Cúpula dos Povos, que ocorrerá paralelamente à Rio+20, no Aterro do Flamengo, Iara citou a Via Campesina, os Movimentos das Mulheres e dos
Indígenas, a Rede Brasil, o Fórum
Brasileiro de Organizações Não Governamentais (ONGs) e Movimentos Sociais para
o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Fboms). “São vários segmentos que fazem
parte da Cúpula (dos Povos) e que estão acompanhando o processo oficial”, disse
a coordenadora.
Ela
ressaltou que na conferência da ONU, as ONGs querem “defender radicalmente os
direitos humanos e todos os princípios e tratados que foram acordados desde 1992. A gente quer uma
mudança radical de paradigma”. Observou, entretanto, que cada grupo é autônomo
para defender a sua posição política. “Nosso slogan básico é defesa da justiça
social e ambiental, dos bens comuns e contra a mercantilização da vida. Mas
cada um vai lutar de forma diferenciada”, reiterou.
Iara
Pietrikovski participou, no fim da semana passada, de reunião sobre a Rio+20,
em Nova Iorque. Ela manifestou decepção com o que viu e ouviu. “Os governos não
estão assumindo a sua postura, não estão
defendendo aquilo que eles próprios foram signatários no passado”. Segundo informou,
o documento para a conferência oficial
está com cerca de 200 páginas. “E não há negociação”.
Iara
criticou os governos pela posição que
vêm assumindo para a Rio+20. “É frágil, desconectada, pouco audaciosa. Não
rresponde à expectativa, ao tamanho e à profundidade dos problemas que estão
hoje colocados na agenda, nos três tripés: econômico, ambiental e social.
Estamos, até o presente momento, muito frustrados”.
Para
a representante do comitê, o ideal seria que a Rio+20 estabelecesse uma série
de indicadores, metas e decisões
relacionados aos países ricos. “Eles têm que ser os pagadores”. Alertou que
isso deveria seguir o princípio de que o país que polui, paga, o princípio das
responsabilidades comuns, porém diferenciadas, o princípio da precaução. “São
todos princípios que deveriam estar orientando. Isso significa que o ônus maior
ficaria para os países ricos. Mas eles não querem ser onerados nessa dimensão.
Então, estão bloqueando qualquer coisa”.
Ela
advertiu que isso não significa que a posição dos países em desenvolvimento
seja melhor que a das nações industrializadas. Na sua opinião, ninguém está
querendo abrir mão do próprio processo. Segundo Iara, os países em
desenvolvimento estão no que chamou de posição de resistência. “Porque eles querem
ter o mesmo padrão, o mesmo modelo dos
países ricos. Só que (é) um padrão insustentável”, concluiu.
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CNJ analisa uso de Lei da Ficha Limpa no Judiciário. Valor
Econômico - 27/03/2012
-
Diante
da possibilidade de o Poder Judiciário aplicar a seus funcionários as regras
previstas na Lei da Ficha Limpa, integrantes do Conselho Nacional de Justiça
(CNJ) manifestaram ontem preocupação de o órgão de controle externo
eventualmente extrapolar suas funções e acabar legislando sobre a nomeação ou
não de servidores.
A
proposta de aplicar a legislação para tribunais já recebeu três votos
favoráveis - do relator, Bruno Dantas, e dos conselheiros Marcelo Nobre e Jorge
Hélio. Mas o futuro presidente do CNJ, ministro Carlos Ayres Britto, que
presidiu a sessão plenária de ontem, alertou sobre a eventual falta de
fundamentação jurídica da proposta. A discussão foi interrompida por um pedido
de vista do conselheiro Tourinho Neto. O CNJ deve retomar a discussão dentro de
duas sessões.
A
proposta prevê, por exemplo, que servidores em cargos em comissão ou de
confiança em tribunais só poderão permanecer em suas funções se não tiverem
contra si condenações por órgão colegiado e em segunda instância por crimes
previstos na Lei da Ficha Limpa. O projeto em debate estabelece o prazo de até
90 dias para a exoneração desses servidores não concursados e proíbe a
renovação de contratos com empresas que atuam por meio de terceirização nos
tribunais e que tenham entre seus funcionários condenados pelos crimes da Lei
da Ficha Limpa.
Na
abertura das discussões, Ayres Britto se disse "preocupado com o aspecto
legal da questão". Ele relembrou que o inciso 9º do artigo 116 da Lei nº
8.112, de 1990, que institui o Regime Jurídico dos Servidores Públicos, já
estabelece entre os deveres do funcionário público manter "conduta
compatível com a moralidade administrativa". Para o magistrado, o papel do
CNJ não precisa ser o de listar, de imediato, situações para o preenchimento de
um cargo no Judiciário, mas sim o de atestar que a norma jurídica aplicada no
artigo 116 deve ser interpretada também no contexto de moralidade estabelecido
pela Lei da Ficha Limpa.
"Deveríamos
dizer que essa conduta, compatível com a moralidade administrativa, deve ser
interpretada e aplicada pelos tribunais na perspectiva da Lei da Ficha Limpa.
Teríamos uma base legal no âmbito federal, que seria o artigo 116, e como
condição de investidura no cargo, mas não estaríamos criando uma lei
propriamente", disse Ayres Britto.
O
risco de o CNJ extrapolar suas funções também foi manifestado pelo conselheiro
José Lúcio Munhoz, que integrou a Comissão de Eficiência Operacional e Gestão
de Pessoas, grupo formado por três conselheiros para analisar previamente a
proposta de ficha limpa para o Judiciário. Embora tenha sido voto vencido
dentro da comissão, Munhoz conseguiu que o relator da proposta, Bruno Dantas,
retirasse do texto a obrigação de os Tribunais de Justiça enviarem às
Assembleias Legislativas projetos de lei para impedir, com base na Lei da Ficha
Limpa, a admissão de servidores e magistrados aprovados em concurso.
Para
Munhoz, a atribuição de competência jurídica aos TJs para propor esses
projetos, poderia, por exemplo, ferir o princípio de separação entre os poderes
e provocar contestações judiciais. "Estou fazendo adaptações no voto e no
texto da resolução. Vou promover todos os ajustes e enviar novamente para os
colegas", disse Dantas após as ponderações dos demais conselheiros do CNJ.
Sancionada
em 2010, a Lei da Ficha Limpa determina que não podem receber registro para
disputar cargos eletivos condenados em segunda instância e em decisão colegiada
por crimes como formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, abuso de
autoridade, crime contra a administração pública e contra o sistema financeiro.
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Educação. Professores
realizam assembleia para decidir sobre greve
Os
professores da rede Estadual de Educação decidirão nesta terça-feira (27) pela
continuidade ou suspensão da greve, que já dura 51 dias. A categoria se reunirá
no Jóquei Clube e, após a assembleia, deve realizar passeata na capital. O POPULAR GO 27.03
-
Os
professores reivindicam o retorno das gratificações por titularidade, retiradas
no início deste ano para adequar o salário da categoria ao piso nacional da
Educação, exigido pelo Governo Federal. Os professores alegam que houve
achatamento das carreiras com a medida.
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Literatura.
Poesia
diária. José Mendonça Teles lança hoje edição especial de
Amor/Diário, livro que traz poemas em forma de calendários e que foi ilustrado
por sua filha, Alessandra Teles O POPULAR GO 27.03
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José
Mendonça Teles: poesias reeditadas com ilustrações e calendários
Ilustrações
de Alessandra Teles para os poemas de José Mendonça Teles
A
nova edição de Amor/Diário, livro de poemas que José Mendonça Teles lança hoje,
a partir das 18h30, no estande da Construtora GPL, no Jardim América, é a 35ª
obra de sua carreira, mas marca algo inédito nessa longa trajetória. É a
primeira vez que o escritor e historiador terá um trabalho seu ilustrado por
sua filha, a artista plástica Alessandra Teles. “Ela e o Iúri Rincon, da
Contato Comunicação (empresa responsável pela publicação desta nova edição do
título), conceberam todo o projeto”, revela José Mendonça.
Uma
concepção que mudou totalmente a cara deste livro, que chega à sua quarta
edição com um formato completamente diferente. As poesias de Amor/Diário e as
ilustrações de Alessandra servem para formar um grande calendário, que começa
em abril de 2012 e vai até abril de 2015. Em cada mês, versos de amor do autor
e, entre eles, ilustrações em cores vivas de Alessandra.
“Esses
poemas têm mais ou menos 25 anos de idade”, informa José Mendonça. “Eu os
escrevi porque fiquei absolutamente encantado com a leitura do livro Tois et
Mois, do escritor francês Paul Geraldy. Fiquei apaixonado por todas as mulheres
e comecei a escrever os versos. Escrevia um por dia para homenageá-las.”
A
edição respeita a ordem em que os poemas foram escritos e logo no início o
leitor se depara com versos que José Mendonça faz questão de citar na entrevista.
“Você me pede um poema./ Eu pergunto:/ – Pra quê?/ Se todo o poema que faço/ só
tem uma rima:/ você.” As outras poesias de Amor/Diário têm esse mesmo espírito
apaixonado, em que o gênero feminino é idealizado e a ele são prestadas as
devidas vênias. A edição, para além de seu caráter literário, tem uma função
bem prática. Ela é, de fato, um calendário, com as datas dos feriados e de dias
festivos. O livro tem tiragem limitada de 150 exemplares.
>>>
AINTERVENÇÃO URBANA » Concretamente poética. Artistas
transformam a parada de ônibus da 703/704 Sul num espaço lúdico. Foi nesse
mesmo lugar que, há 15 anos, cinco
jovens de classe média incendiaram o índio pataxó Galdino Jesus do Santos. CORREIO BSB 27.03
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Poemas
e páginas de revistas cobriram o ponto da 703/704 Sul: banho artístico envolveu
a parada próxima ao local da morte do índio Galdino
De
segunda a sábado, Conceição do Carmo, de 57 anos, pega condução de volta para
casa na parada de ônibus da 703/704 Sul. Ela trabalha como empregada doméstica
ali perto. E sabe que a espera pela linha que a leva até Samambaia Norte é
longa, às vezes insuportavelmente demorada. Sábado passado, ela fez um trajeto
incomum para quem está acostumado à rotina paciente de passageiro do transporte
público. Em vez de buscar abrigo do sol forte, estacou no meio do caminho para
observar uma estranha movimentação atrás do ponto de ônibus.
Clarice
Gonçalves e Marina Mara alteraram a cinza paisagem cotidiana
Ela
flagrou a poeta Marina Mara e outros artistas lambuzando folhas coloridas de
cola e pressionando os papéis contra a parede, cobrindo o bege sem vida do muro
com páginas do livro Sarau sanitário, escrito por Marina e ilustrado com
reproduções de pinturas a óleo de
Clarice Gonçalves. O olhar atento e o sorriso comedido de Conceição — “é melhor
e mais bonito que pichação”, ela disse — registraram algumas das primeiras
cenas de uma parada, literal e concretamente, poética.
Num
dia inteiro de ocupação e intervenção artística, com música, roda de capoeira e
uma porção de outras atividades, a Parada poética atraiu curiosos e artistas. O
epicentro foi o envelopamento do ponto de ônibus, que acordou descolorido e foi
dormir embalado pelos versos de Marina. Foi nesse mesmo lugar que, há 15
anos, cinco jovens de classe média
incendiaram o índio pataxó Galdino Jesus do Santos. Ele apenas dormia no banco
da parada. Morreu em decorrência às graves queimaduras 20 horas depois do
crime. “A gente quer dar uma exorcizada, deixar só boas energias. Vamos limpar
esse lugar com arte”, adiantou Marina, antes da colagem.
Lúcia
Lina interagiu com a proposta e reclamou de mulher "siliconada"
Arte
democrática
Depois,
ficou extasiada com o resultado. “Renato Matos disse que eu ia mais atrapalhar
do que ajudar os passageiros, porque muitos deles perderiam o ônibus para poder
ler as poesias. Vi muitas crianças e senhorinhas participando também. Foi
lindo”, avaliou. Foi o caso da família de Uirá Felipe Lourenço. Com os filhos
Iuri, 3, e Cauã, 4, montados numa bicicleta, e a mulher, Ronieli Barbosa, logo
atrás na comitiva, ele pedalava pela quadra quando deparou com o atraente
mosaico de cores e letras.
Sem
trocar palavra alguma com Marina, Uirá pareceu entender perfeitamente o
conceito da “invasão” poética: dar outro significado a um local público de
passagem, de idas e vindas e, quase sempre, de maçantes intervalos ociosos de
tempo. “Vejo isso como uma ação de vanguarda. Traz um clima bacana para a
cidade, de convivência”, achou o biólogo, de 33 anos. “Precisamos de mais
coisas assim, que embelezem a cidade, deem vida a espaços públicos largados,
esquecidos, pichados”, continuou.
No
aglomerado de gente, a senhora Lúcia Lina, de 82 anos, reagiu mal a uma das
imagens pinceladas por Clarice: uma mulher com os seios à mostra, que ela
tachou de “siliconados”, a deixou espantada. “Acho que a beleza tem que ser
natural”, ela reclamou. “É bom que isso provoque algum sentimento, alguma
manifestação”, comentou Clarice. “A parada de ônibus revela as distâncias de um
lugar como Brasília, em que as pessoas que fazem a cidade moram longe. Então,
pelo menos aqui, você agora pode chegar e ter algo para ver, ler. A pessoa não
precisa pegar outro ônibus para ir a uma galeria”, acrescentou.
"A
gente quer dar uma exorcizada, deixar só boas energias. Vamos limpar esse lugar
com arte”
Marina
Mara, poeta
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Em pauta, a sobrevivência da humanidade. Lázaro
Guimarães. Magistrado e professor
(jlaz@uol.com.br) CORREIO BSB 27.03
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O
embaixador Rubens Ricupero escreveu dias atrás lúcido artigo demonstrando a
necessidade de os organizadores da conferência Rio+20 elaborarem uma pauta
concentrada nas questões ambientais mais relevantes, de modo a evitar dispersão
que gera discussões intermináveis e nenhuma solução. O certo é que, apesar das
controvérsias teóricas a respeito, por exemplo, do aquecimento global, as
repetidas catástrofes naturais, com inaudita frequência, já não deixam dúvida
de que algo de muito grave acontece e provoca mudanças climáticas de
consequências devastadoras.
Cidades
inundadas, estradas destruídas, tufões, tornados e furacões causam vítimas aos
milhares, prejuízos incontáveis e não são, como antes, eventos isolados, raros,
mas obedecem ao ritmo alucinante. Não é mais preciso discutir se tudo isso
decorre do efeito estufa, do assoreamento dos rios, do desflorestamento e da
expansão urbana desordenada. O que importa é adotar, com urgência, medidas
efetivas de combate a práticas que ameaçam o meio ambiente.
Fenômeno
só recentemente anunciado, mas que merece especial atenção, é o do afundamento
de amplas áreas de cidades como Shangai, com 19 milhões de habitantes, na
China, em consequência da profusão de poços artesianos. Algo parecido, embora
ainda em proporções menores, ocorre no bairro de Boa Viagem, em Recife. Na
capital pernambucana, há ainda o estouro em série de tubulações de água,
abrindo imensas crateras nas ruas. A exploração de petróleo sem as devidas precauções
tem causado acidentes que contaminam os rios, como o Guarapiche, na Venezuela,
onde uma maré negra sucedeu o rompimento de oleoduto, e nos mares, compôs nos
poços da Chevron no México e no Brasil.
Recente
pesquisa publicada por organismo internacional revela que 1/3 da população
mundial carece de água encanada. São centenas de milhões de pessoas que têm
muitas vezes de percorrer quilômetros a pé para conseguir tomar banho ao
relento e recolher um ou dois litros de água para a limpeza dos alimentos e
para beber. Esse quadro não é estranho ao Nordeste brasileiro, mas se insere na
realidade de algumas áreas do Sul, assoladas pela estiagem prolongada. O Brasil
está bastante atrasado em matéria de transportes públicos. A maioria das
grandes cidades não conta com metrô, nem com ligações ferroviárias decentes. A
malha ferroviária brasileira, que no início dos anos 1960 subsistia a duras
penas, foi engolida premeditadamente pelo transporte rodoviário, menos
funcional, mais caro e poluente. Por isso é que Ricupero adverte: “Uma política
industrial como a nossa, que se resume a sustentar a venda de automóveis, sem
exigir contrapartidas de economia de combustível ou de poluição, agrava não só
o problema ambiental, mas leva ao colapso do trânsito, como vemos em São
Paulo”.
Pior
é que esse colapso não é só paulista, mas também brasiliense, recifense,
soteropolitano, carioca, de quase todas as capitais, que hoje não se distinguem
tanto dos congestionamentos colossais de Seul e Nova Délhi. Vivemos um estado
de esquizofrenia coletiva, em meio a explosões naturais causadas por nosso
delírio consumista, à deformação da paisagem, ao medo generalizado da
contaminação das águas, do ar e da terra, daí os constantes surtos de
violência, em toda parte. Os assassinos seriais não são obras do acaso. Bem
informados e substancialmente desligados do real, clicamos no sítio que prega a
união na busca de Joseph Koni, esquecido que esse hoje é um senhor menor da
guerra e da crueldade, na África arrasada há séculos pela voracidade ocidental.
Então, será possível reunir todos esses males do mundo poluído e criar uma
pauta enxuta e pragmática para a Rio+20? É bastante difícil, mas vale a pena
tentar, porque está em jogo a sobrevivência da humanidade.
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