sexta-feira, 23 de março de 2012
VISãO DO CORREIO »
Remédios
mais caros CORREIO BSB 22.03
-
É
preocupante o anúncio de elevação do preço dos medicamentos a partir de 1º de
abril. O aumento pode chegar a 5,85% — percentual correspondente à inflação
oficial entre fevereiro de 2011 e março de 2012. A variação do índice depende
da participação dos genéricos na rentabilidade da empresa. Se for igual ou
superior a 20%, o reajuste bate no teto. Se ficar entre 15% e 19%, pode chegar
a 2,8%. Se inferior a 15%, há a possibilidade de redução do custo em 0,25%.
Os
critérios para a pancada no bolso do consumidor merecem considerações. A
introdução dos remédios sem marca no país acenderam a esperança de finalmente o
brasileiro ter a possibilidade de se tratar sem despender recursos extorsivos.
Por não serem obrigados a investir em propaganda, os fabricantes abasteceriam o
mercado com produtos da mesma qualidade dos apresentados com grife porém com
preço reduzido.
Ocorre
que, passados mais de 12 anos, a indústria mostrou-se incapaz de produzir
genéricos em grande escala apesar das condições favoráveis de que desfruta. O
investimento é praticamente sem risco porque o sistema SUS compra quase a
metade da produção. Com o mercado cativo, era de esperar que houvesse
investimento maior que o realizado. Não é, porém, o que se verifica.
O
governo também fabrica pouco. Manguinhos, da Fiocruz, a Fundação do Remédio
Popular (Furp), o Instituto Butantã estão mais voltados para o remédio “de
pobre”, fatia por que os laboratórios multinacionais não têm interesse em razão
da baixa rentabilidade. Além disso, algumas empresas de genéricos se desviaram
do rumo. Investem em propaganda e, pouco a pouco, se aproximam dos remédios de
marca.
Ao
autorizar aumento maior nos segmentos em que os genéricos têm maior
participação na produção e nas vendas, o governo quer estimular a competição,
que, teoricamente, induziria a reajustes menores. Mas de nada adianta esse
incentivo se não for atacado o principal problema do setor: a pesada carga
tributária. Os impostos médios pagos pelos brasileiros ao comprar um simples
comprimido é de 33,9%. A média mundial não ultrapassa 6%. Reino Unido, Canadá,
Colômbia, Suécia, Estados Unidos e México não tributam o setor.
O
Brasil conquistou o indesejável rótulo de país caro. Comparado, o preço de
carros, imóveis, roupas, sapatos, alimentos, bebidas é muitas vezes mais alto
aqui que na maioria dos Estados vizinhos ou distantes. Não é por acaso que
brasileiros viajam não em busca de lazer, mas de produtos mais baratos.
Tornou-se corriqueiro grávidas comprarem enxoval do filho em Miami, ou noivas
adquirirem o tradicional vestido no exterior. Não será surpresa se remédios
passarem a contribuir para o excesso de peso na bagagem.
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ARTES VISUAIS »
Liberdade
ponto a ponto
Exposição
reúne telas bordadas por mulheres chilenas para driblar o silêncio imposto pela
ditadura militar CORREIO BSB 22.03
-
Vicaria
de la solidaridad: aspecto lúdico disfarça o tom de denúncia
Em
uma ditadura, os espaços de denúncia costumam ser quase inexistentes. Não há
diálogo, e quem ousa exigir transparências
e verdades acaba sendo alvo da repressão. Entre 1973 e 1990, quando o Chile
esteve dominado pelos militares, um grupo de mulheres pobres, na maioria
habitantes de periferias e favelas, encontrou na arte um espaço de liberdade
para falar sobre os problemas que assolam sociedades oprimidas.
Com
linhas e tecidos, elas contaram as tragédias que costumam acompanhar a vida de
estados autoritários em pequenas obras de arte que a colecionadora e ativista
Roberta Bacic garimpou durante toda a vida. Arpilleras da resistência política
chilena reúne a partir de hoje, na Biblioteca Nacional de Brasília, um conjunto
de 28 peças criadas em meados dos anos 1970 e reunidas pela curadora sob o tema
da repressão política.
As
arpilleras são bordados em tecido, sempre muito coloridos e narrativos, cujo
objetivo é contar uma história. Fazem parte de uma tradição espalhada por toda
a cadeia de montanhas dos Andes e podem ser encontradas do Chile ao México. Nem
sempre têm um viés político, mas carregam invariavelmente as histórias de uma
comunidade ou população. No caso das arpilleras chilenas colecionadas por
Roberta, ex-professora de filosofia que trocou a universidade pela assistência
às famílias de desaparecidos políticos, o contexto da ditadura permeia os
trabalhos.
As
peças expostas em Brasília foram produzidas na periferia de Santiago e
funcionaram como instrumentos de denúncia das barbaridades cometidas durante o
período ditatorial. Roberta começou a colecioná-las para enviar aos filhos e
amigos exilados no exterior. “Era uma maneira de contar o que acontecia no
nosso país. Interessava-me muito o poder dessas mulheres de responder a coisas
tão terríveis de maneira tão criativa”, conta a curadora, hoje radicada na
Irlanda do Norte. “Elas narravam suas experiências. Havia histórias da
ditadura, mas também histórias resultantes do impacto da ditadura. Como não
tinham um tribunal onde fazer reclamações, faziam isso nas ruas e nas
arpilleras.”
O
hábito de usar os bordados tradicionais para protestos políticos foi uma maneira
de suprir o silêncio imposto à sociedade chilena durante os sete anos de
domínio militar. Os bordados começaram timidamente em certas comunidades e
ganharam proporções internacionais. Passaram a ser exportados como retratos
lúdicos do drama chileno.
Quando
os militares notaram o alcance dos trabalhos, as arpilleras foram proibidas.
“Então fazê-las se tornou muito difícil, e exportá-las também, porque eram
histórias da resistência, da memória e da sobrevivência. As arpilleras
proporcionaram um espaço solidário para compartilhar cenas e situações, mas
também foram a oportunidade de poder comercializar, porque essas mulheres
exportaram esses trabalhos”, conta Roberta. Nem todas as peças expostas em
Brasília tratam diretamente da repressão, mas todas trazem o reflexo de um
regime opressor na vida cotidiana.
A
capital será a primeira cidade brasileira a ver a mostra, um projeto
contemplado pelo edital Marcas da Memória, da Comissão da Anistia do Ministério
da Justiça, e que depois segue para Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte e
Rio de Janeiro.
A
opressão é retratada em No a la impunidad, Donde están los desaparecidos e Sala
de torturas
Arpilleras
da resistência política chilena
Curadoria:
Roberta Bacic. Visitação até 29 de março, de segunda a sexta, das 9h às 20h45,
sábados e dmongios das 9h às 17h45, na Biblioteca Nacional de Brasília (Setor
Cultural Norte, Lote 2).
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Desafios do ensino médio do brasileiro » Wanda Engel
Doutora
em educação pela PUC-RJ CORREIO BSB 22.03
-
Em
um país que se alinha às principais economias emergentes do mundo, com
influência crescente no panorama político e econômico internacional, os
problemas sociais só se explicam pelos ainda altos níveis de desigualdade.
Nenhum outro fator influencia tanto essa questão quanto a escolaridade, que
guarda relação direta com as condições de emprego e renda, o que por sua vez
implica oportunidades educacionais de mais baixa qualidade para as novas
gerações, alimentando um processo de reprodução da pobreza e da desigualdade.
Romper esse círculo vicioso requer políticas que garantam, ao filho do pobre,
condições para que conclua sua educação básica, pré-requisito essencial para a
inserção no moderno mercado de trabalho.
Por
seu lado, hoje não pairam dúvidas sobre a estreita correlação entre os baixos
índices de escolaridade de nossa população e os entraves que enfrentamos no
processo de desenvolvimento sustentável. Nenhum país tem possibilidades de
competição no mundo globalizado sem que a escolaridade média de sua gente seja
de, no mínimo, 11 anos. Infelizmente, nossa média nacional ainda é de apenas
7,2 anos de estudo e, mesmo entre jovens de 20 a 24 anos, ela alcança somente
9,6 anos. Ou seja, em média, nossa juventude consegue apenas terminar o ensino
fundamental.
Assim,
a prevalência de uma formação escolar abaixo do patamar mínimo exigido para a
inclusão profissional responde, tanto por altos níveis de desemprego entre os
jovens, quanto por uma sensível escassez de recursos humanos. Os resultados da
Pnad de 2010 mostram, entretanto, que o problema está longe de ser equacionado.
Dos 10,3 milhões de jovens entre 15 e 17 anos, apenas 50,9% estão no ensino
médio. O pior é que, dos 3,3 milhões que ingressaram em 2008 no 1º ano do
ensino médio, apenas 1,8 milhões concluíram o 3º ano em 2010 (Censo
Escolar/MEC/Inep). Uma verdadeira sangria.
Podemos
identificar causas internas e externas para essa sangria. Por um lado, a
inadequação da escola oferecida para a maioria de nossos jovens. Por outro,
questões socioeconômicas que os empurram precocemente para o mercado de
trabalho.
Nosso
ensino médio tem um currículo enciclopédico (13 componentes curriculares
obrigatórios e mais 7 temas transversais), sem nenhuma flexibilidade e
divorciado do mundo do trabalho (não chega a 10% o percentual dos alunos que
cursam o ensino profissionalizante). Em outras palavras, mais de 90% de nossos
jovens estão sendo “preparados” para uma universidade na qual a maioria não
pisará, por meio de uma enxurrada de conteúdos superficialmente tratados, e sem
nenhuma adequação a seus interesses.
Praticamente
não existem alternativas de trabalho e renda associadas à escola, como projetos
de monitoria (trabalho na escola), estágios remunerados ou programas ligados à
Lei de Aprendizagem, que possibilitem o estabelecimento de nexos entre educação
e trabalho e promovam a permanência na escola, de preferência evitando a
optação pelo noturno.
Felizmente,
podemos observar que nos últimos anos, após a conquista da universalização do
acesso ao ensino fundamental, o ensino médio começa a entrar na agenda pública.
Como fruto dessa preocupação temos, por exemplo, a Emenda Constitucional nº
59/2009, que amplia a obrigatoriedade de escolarização entre 4 e 17 anos de
idade, e a recente Resolução n.2 do Conselho Nacional de Educação de 30/1/2012
que estabelece as novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio
(DCNEM). As novas diretrizes não enfrentam o problema do excesso de componentes
curriculares obrigatórios, mas propõem alternativas de flexibilização, mediante
a oferta de diferentes formas de organização curricular no âmbito da escola.
Outro
avanço das diretrizes foi a proposta de um exame universal e obrigatório ao
final do ensino médio, hoje inexistente (o Saeb é amostral e o Enem é
facultativo). Para que o Enem cumpra esse papel, entretanto, é necessário que
seja repensada sua Matriz de Competências, em função de uma pergunta: Que
competências um indivíduo precisa necessariamente ter desenvolvido ao final de
seus estudos básicos para entrar no mercado de trabalho ou prosseguir em seus
estudos? Em outras palavras, quais as expectativas de aprendizagem para o final
do ensino básico? Somente a partir dessa definição, os diferentes componentes
curriculares devem ser chamados a identificar sua contribuição específica. Se
for feito ao contrário, iniciando-se pelos infindáveis componentes, teremos uma
megamatriz e um Enem para superdotados.
Há
muitos desafios a serem superados, mas conhecer a realidade que se quer
transformar é o primeiro passo para que seja possível adequar o atendimento,
planejar e estruturar estratégias de contenção do abandono, avaliar e promover
melhorias significativas e eficazes. Para isso, precisamos contar com a
sinergia de toda a sociedade na promoção da garantia, às novas gerações, do passaporte
mínimo para a inserção no moderno mercado de trabalho – a conclusão e o bom
desempenho no ensino médio.
>>
De olho na saúde dos servidores
Correio
Braziliense - 22/03/2012
Ministério do Planejamento faz pente-fino
sobre programas de atenção à saúde do funcionalismo a fim de melhorar o sistema
e evitar desvios, como o pagamento de benefícios indevidos a quem busca
afastamento do trabalho alegando algum tipo de doença
Gustavo
Henrique Braga
Preocupado
em barrar o pagamento de benefícios indevidos para quem se afasta do trabalho
alegando algum tipo de doença, o governo decidiu dar mais um passo a fim de
aprimorar o sistema de saúde aos servidores federais. O Ministério do Planejamento
lançará, no mês que vem, um sistema que compilará todos os programas de atenção
à saúde dos diferentes órgãos da administração federal. A iniciativa não só
ajudará a localizar com mais facilidade programas de atendimento aos
servidores, como permitirá a troca de experiência e a comparação do que está
dando certo para o funcionalismo, a fim de melhorar o tratamento dispensado aos
trabalhadores.
O
programa de promoção à saúde será o terceiro módulo dentro do Sistema de
Atenção à Saúde do Servidor (Siass), lançado em 2009, que já reúne bancos de
dados sobre perícias médicas e exames periódicos de 61% dos funcionários
públicos federais. A meta é alcançar 100% até 2013, quando a inclusão das
informações será obrigatória. Sérgio Carneiro, diretor do Departamento de
Saúde, Previdência e Benefícios do Servidor (Desap), explicou que, assim que o
novo módulo for lançado, os órgãos do governo poderão cadastrar todas as
informações no sistema. "O desafio que a gente enfrenta é para juntar um
conjunto de recursos e um histórico de informações a fim de potencializar
ações", explicou.
Atualmente,
o Siass conta com cerca de 60 unidades de atendimento espalhadas pelo país. O
objetivo é que, até 2014, esse número suba para 150. Por enquanto, os serviços
oferecidos variam conforme o órgão onde o posto está instalado e a capacidade
de oferta: alguns contam apenas com perícia médica; outros, com atendimentos
adicionais, como de psicólogos e assistentes sociais. "Estamos em um
processo de padronização não só de profissionais, mas de atividades",
destacou Carneiro.
O
governo já trabalha também no desenvolvimento do quarto módulo dentro do Siass,
que servirá para construir um mapeamento de todos os ambientes de trabalho do
governo federal. As informações poderão ser usadas pelos gestores públicos, por
exemplo, na hora de definir quem, de fato, tem direito a receber benefícios
como adicional de insalubridade e de periculosidade. Assim, será possível dar
critérios técnicos a uma discussão que, na maioria das vezes, é tratada como
moeda de troca no âmbito das negociações salariais.
Prevenção
de acidentes
O
Ministério do Planejamento também pretende anunciar, em 1º de maio, Dia do
Trabalhador, a criação da Comissão Interna de Saúde e Segurança do Trabalhador
(Cisste), órgão que funcionará de forma equivalente à Comissão Interna de
Prevenção de Acidentes (Cipa) comum na iniciativa privada. A proposta é de que
os membros da Cisste se reúnam ao menos uma vez por mês para debater questões
que envolvem a saúde do servidor.
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CONGRESSO » Disputa por terras indígenas
Bancada
do agronegócio na CCJ mostra força e aprova PEC que transfere ao Legislativo o
poder de demarcar terrenos CORREIO BSB 22.03
-
Protesto
na Câmara: PEC representa derrota do Planalto por esvaziar atribuições de
órgãos do Executivo
Com
o voto favorável de 10 deputados do PMDB, a Comissão de Constituição e Justiça
(CCJ) da Câmara aprovou ontem a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que
retira do Executivo a atribuição de demarcar terras indígenas, unidades de
conservação e comunidades quilombolas. A derrota do Palácio do Planalto só
ocorreu em função da adesão à proposta por parte dos deputados do principal
partido aliado ao governo. Os 10 votos do PMDB correspondem à maioria dos 38 a
favor da PEC nº 215, de 2000.
Pelo
projeto validado na CCJ, a demarcação de terras indígenas, de parques federais
e de espaços ocupados por quilombolas passa a ser atribuição exclusiva do
Congresso. Em vez de decretos presidenciais, leis ordinárias — apresentadas,
discutidas e validadas por deputados e senadores — serão os instrumentos para
novas demarcações, caso o Congresso aprove a PEC 215. Depois de ser votada na
CCJ da Câmara, a proposta segue para uma comissão especial, que ainda será
constituída, e em seguida para o plenário da Casa.
A
bancada ruralista na Câmara, capitaneada pelo PMDB, provou mais uma vez ter
facilidade para derrotar o governo, a exemplo da aprovação e da completa
alteração do novo Código Florestal. Esse projeto, depois de aprovado no Senado,
já retornou à Câmara e corre risco de ser validado conforme os interesses da
bancada ruralista. A PEC 215 segue o mesmo roteiro, inclusive com o apoio
inicial do próprio Planalto. No fim do ano passado, o então líder do governo na
Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), participou de um acordo político que
garantia a colocação da PEC 215 na pauta da CCJ já no início deste ano
legislativo.
O
PT e o PV tentaram ontem manobras para barrar a votação, com pedidos de
adiamento por cinco sessões da CCJ. Recursos semelhantes foram usados na
terça-feira. A PEC 215 acabou aprovada por 38 votos favoráveis e dois
contrários. Lideranças indígenas acompanharam toda a sessão. Ao final,
protestaram contra o resultado da votação. Um princípio de confronto chegou a
ocorrer entre índios e seguranças da Câmara. Eles saíram em protesto do
plenário da CCJ, no anexo das comissões, até o Salão Verde da Casa.
Na
prática, caso a PEC 215 seja validada, três órgãos perderão a função na
demarcação de terras indígenas, unidades de conservação e comunidades
quilombolas: a Fundação Nacional do Índio (Funai), vinculada ao Ministério da
Justiça; o Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICMBio),
ligado à pasta do Meio Ambiente; e a Fundação Cultural Palmares, subordinada à
Cultura. À proposta original, sobre demarcação de terras indígenas
exclusivamente pelo Congresso, foram apensados mais 11 projetos, que incluíram
parques e quilombolas.
“A
PEC é gritantemente inconstitucional”, afirma o deputado Alessandro Molon
(PT-RJ). “Criação de terra indígena virou anarquia. Alguns antropólogos malucos
da Funai acham um caquinho de cerâmica e dizem que aquilo ali se trata de terra
indígena”, rebate Moreira Mendes (PSD-RO), presidente da Frente Parlamentar da
Agropecuária.
"Criação
de terra indígena virou anarquia. Alguns antropólogos malucos da Funai acham um
caquinho de cerâmica e dizem que aquilo ali se trata de terra indígena”
Moreira
Mendes, deputado do PSD-RO, presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária
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RIO+20. Existe
um abuso do conceito de 'sustentabilidade'
CRIADORA
DA EXPRESSÃO 'DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL', GRO BRUNDTLAND DIZ QUE O IDEAL NÃO
FOI POSTO EM PRÁTICA AINDA. A norueguesa
Gro Brundtland em conferência da OMS em Bruxelas. Fonte: Reuters 22.03
-
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O
conceito de desenvolvimento sustentável e sua irmã, a sustentabilidade, têm
sofrido abusos. Quem diz é a mãe das crianças, a norueguesa Gro Harlem
Brundtland. Ex-premiê da Noruega, Brundtland, 73, chefiou a comissão que em
1987 produziu o relatório "Nosso Futuro Comum", onde o conceito foi
cunhado. O relatório serviu de base para a Eco-92.
Ela
diz que o desenvolvimento sustentável ainda não foi implementado. E que, mesmo
com o sequestro da noção de sustentabilidade por empresas que não têm práticas
sustentáveis, o termo não deve ser abandonado. Brundtland abre hoje em Manaus o
Fórum Mundial de Sustentabilidade. Em entrevista à Folha, ela falou de suas
expectativas para a Rio+20.
Folha
- A senhora cansou do termo "sustentabilidade"?
Gro
Brundtland - A expressão é "desenvolvimento sustentável". Nos últimos
dez anos, as pessoas começaram a usar "sustentabilidade" como forma
alternativa. Sempre tive cuidado em não usar a palavra
"sustentabilidade" sozinha enquanto conceito. Precisamos de
sustentabilidade em diversas áreas, mas também precisamos de desenvolvimento
sustentável. E não estou de saco cheio disso, porque não aconteceu ainda.
A
senhora não acha que houve abuso do conceito? Ele parece ter sido sequestrado
por empresas para fazer "greenwash" (dar aparência verde).
Sim.
Acho que há mais abuso quando se fala de sustentabilidade. Essa palavra foi
introduzida depois, como se entregasse aquilo que o desenvolvimento sustentável
significa. Você precisa olhar cada empresa para saber se ela está adotando a
sustentabilidade ou a responsabilidade social corporativa. Palavras sempre
podem ser mal usadas. Mas você não pode dizer: "Esse conceito foi
distorcido, então o deixamos de lado". Não acho que possamos encontrar uma
maneira nova e melhor de descrever do que trataram a nossa comissão e a Rio-92.
Não vale a pena reinventar a roda porque alguém tentou roubá-la. Ela vai ser
roubada de novo.
Vinte
e cinco anos depois do Relatório Brundtland e 20 anos depois da Eco-92, o
desenvolvimento sustentável entregou o que prometeu?
A
totalidade do conceito, a visão dos pilares econômico, ambiental e social numa
abordagem de longo prazo não aconteceu em lugar nenhum. Mas muitas mudanças
aconteceram. O Protocolo de Montréal, entre a minha comissão e a Rio-92, é um
exemplo. O mundo se livrou das substâncias que afetam a camada de ozônio.
Mas
críticos dizem que isso só aconteceu porque já era de interesse das empresas.
Já
ouvi isso. Mas a história não é assim tão simples. As pessoas mais
progressistas na indústria entenderam que aquilo não podia continuar. Mas, é
claro, não houve sucessos globais semelhantes, e os gases de efeito estufa são
um exemplo de abordagem ampla e global que envolve todos os setores da
economia. Daí a dificuldade de se chegar a um resultado.
O
financiamento ao desenvolvimento sustentável pode impedir um acordo no Rio?
Pode
ser. Mas, se você se lembrar de Copenhague, mesmo sob pressão da crise houve um
compromisso de finanças. Isso pode acontecer novamente no Rio.
Países
emergentes reclamam de que os ricos já usaram todos os recursos naturais e
agora o ônus ficou conosco. Eles têm razão em reclamar?
Essa
litania está aí desde a comissão. E no relatório da comissão nós reconhecemos
que não podemos dizer ao mundo em desenvolvimento "desculpem, nós já
enchemos a lixeira e agora vocês não podem mais jogar o seu lixo".
Precisamos transferir tecnologia, ajudar o mundo em desenvolvimento a superar a
pobreza, dando dinheiro. Aí a pergunta é: o mundo desenvolvido fez isso? E a
resposta é: não o bastante.
Quais
foram os principais avanços nestes 20 anos?
Houve
uma mudança considerável no uso de energia. O que você pode ganhar aumentando a
eficiência energética está longe de estar realizado.
Existe
algum país que possa liderar na economia verde?
A
Coreia do Sul fez muitos esforços nessa direção.
Como
o Brasil está indo?
Há
uma melhora na questão do desmatamento na Amazônia, que pode ser medida. Mas
está muito melhor agora do que quando viemos em 1985. Eu me lembro que estive
em Manaus com um governador famoso [Gilberto Mestrinho] que achava uma
estupidez isso de os ambientalistas virem dizer o que fazer com a Amazônia.
Quanto estivemos em Cubatão, aquilo era um dos casos mais graves de poluição
industrial. Hoje é um exemplo de como as coisas mudam.
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O desafio de retomar os investimentos. Coluna
Econômica de Luiz Nassif - 22/03/2012
-
Hoje
a presidente Dilma Rousseff reunirá 15 dos maiores empresários brasileiros para
estimulá-los a investir mais no Brasil. Constatou-se que os grandes grupos
estão com o caixa cheio e com alguma indecisão ainda em retomar investimentos
graúdos. A intenção da presidente é estimular o chamado “espírito animal” do
empresário.
Para
deflagrar uma nova onda de investimento privado, no entanto, é importante
entender melhor a dinâmica do desenvolvimento.
***
O
primeiro e mais relevante passo é a criação de um mercado interno robusto. Já
se tem, tanto no mercado de consumo de massa quanto no que se convencionou
chamar de “gargalos” – que nada mais são do que pontos de demanda não atendida.
Além
disso, o pré-sal criará uma demanda adicional incalculável para os setores de
máquinas e equipamentos, naval, de mobiliário etc.
Tendo-se
a demanda, o passo seguinte é viabilizar a produção. Para tanto, há que se ter
duas condições especiais: capital para financiar o investimento e condições de
competitividade em relação ao produto importado.
***
A
primeira condição será alcançada com a mera redução da taxa Selic. A única
influência da taxa é nas decisões de investimento. Baixando a Selic, os fundos
de pensão, fundos de investimento, as próprias grandes companhias, terão que
sair do conforto da renda fixa para a renda variável.
Hoje
em dia já se tem um mercado de capitais bastante sofisticado para promover essa
reciclagem da poupança.
***
Resta
o último grande desafio: a competitividade do parque industrial brasileiro.
Há
duas maneiras de tornar o produto brasileiro competitivo: qualidade (mais
inovação tecnológica) e preço.
Há
uma lógica nos modelos cambiais: quando a economia é pouco competitiva,
compensa-se com câmbio fraco, moeda desvalorizada. Isso faz com que se consiga
competir nos mercados globais com preços baratos. Depois, à medida que as
empresas vão ampliando as vendas, ganham fôlego para investir em pesquisa,
inovação, novos produtos.
Todo
grande modelo de desenvolvimento mundial – Inglaterra, Japão, Itália e Alemanha
no pós-guerra, Coreia, China – percorreu esse caminho. A lógica é simples: só
depois de ampliar as vendas externas, ganhar dimensão, ter escala, mercado, a
empresa conseguirá fôlego para investir em pesquisa e inovação.
***
Há
outros fatores relevantes na definição de preço: o chamado custo Brasil. Entram
nessa equação a estrutura de juros, o peso dos impostos, a infraestrutura, a
burocracia pública. Quanto menos se avançar nesses itens, maior será o peso do
câmbio.
***
Na
entrevista que me concedeu, algumas semanas atrás, a presidente Dilma Rousseff
enfatizou que seu grande desafio será a consolidação do parque industrial
brasileiro.
Por
enquanto, a Fazenda tem avançado apenas em questões pontuais de defesa
comercial ou desoneração tributária de um ou outro setor.
Trata-se de um anacronismo – em termos de política
industrial. E, nesse ponto, os mercadistas têm razão: em vez da proteção de um
ou outro setor, como que querendo tapar os furos de uma peneira, há que se
avançar em soluções sistêmicas, que abranjam toda a economia brasileira.
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Woody Allen - Genial... Na
minha próxima vida, quero viver de trás para frente.
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Começar
morto, para despachar logo o assunto.
Depois,
acordar num lar de idosos e ir me sentindo melhor a cada dia que passa.
Ser
expulso porque estou demasiado saudável, ir receber a aposentadoria e começar a
trabalhar, recebendo logo um relógio de ouro no primeiro dia.
Trabalhar
40 anos, cada vez mais desenvolto e saudável, até ser jovem o suficiente para
entrar na faculdade, embebedar-me diariamente e ser bastante promíscuo.
E
depois, estar pronto para o secundário e para o primário, antes de me tornar
criança e só brincar, sem responsabilidades.
Aí
torno-me um bebê inocente até nascer.
Por
fim, passo nove meses flutuando num "spa" de luxo, com aquecimento
central, serviço de quarto à disposição e com um espaço maior por cada dia que
passa, e depois - "Voilà!" - desapareço num orgasmo.
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De crise em crise, as pedras no sapato de Ana de
Hollanda. O Globo - 23/03/2012
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Ministra
da Cultura consegue se manter apesar de críticas e abaixo-assinado
A
história vem se repetindo por todos os lados desde o início do ano passado,
quando a cantora Ana de Hollanda assumiu o Ministério da Cultura (MinC), em
janeiro: a cada crise da pasta, é dada como certa sua demissão. Mas Ana vem se
mantendo no governo, apesar das críticas contra sua gestão, de um manifesto
público de intelectuais pedindo sua saída e até de um abaixo-assinado - com
signatários do porte de Fernanda Montenegro, Fernando Meirelles, Maria Adelaide
Amaral, Regina Duarte, Lázaro Ramos e Ivan Lins - sugerindo o nome do sociólogo
Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc-SP, para o cargo.
Os
problemas, de acordo com os setores descontentes com o MinC, passam pela falta
de diálogo da ministra com o Congresso e por uma dificuldade em dar
continuidade aos projetos iniciados no governo Lula.
Os
ataques a Ana de Hollanda começaram logo no início do governo Dilma Rousseff.
Em sua primeira entrevista coletiva, poucos dias após ser confirmada no cargo,
em dezembro, Ana afirmou que o projeto da nova Lei do Direito Autoral, que
vinha sendo preparado pelas gestões de seus antecessores, Gilberto Gil e Juca
Ferreira, poderia ser revisto.
Entre
as mudanças previstas pelo que seria a nova lei estavam uma maior
flexibilização dos direitos do autor e a fiscalização do Escritório Central de
Arrecadação e Distribuição (Ecad), órgão responsável pelo recolhimento e pelo
pagamento de direitos autorais da música no Brasil.
Em
janeiro, a ministra ordenou a retirada, do site do MinC, do selo do Creative
Commons, uma licença para a reprodução não comercial de conteúdo.
Parte
da classe artística, que vinha se manifestando a favor da permanência de Juca
Ferreira no MinC, arregalou os olhos. E já ali começaram os comentários sobre
as políticas da ministra nas redes sociais, justamente onde até hoje ecoam as
vozes mais fortes contrárias à sua gestão.
-
Toda a sociedade percebe um distanciamento dos compromissos que haviam sido
assumidos no governo Lula - afirma o curador de artes Moacir dos Anjos, um dos
intelectuais que assinaram esta semana um duro manifesto endereçado a Dilma
Rousseff pedindo o afastamento da ministra:
-
Há um certo espanto em relação a alguns retrocessos e ao abandono de alguns
alinhamentos da gestão passada, como no caso do direito autoral e dos Pontos de
Cultura.
Os
Pontos de Cultura, de investimento em centros culturais em todo o país, eram o
principal projeto cultural do governo Lula, mas sofreram cortes orçamentários
durante a gestão de Ana de Hollanda.
Além
disso, os movimentos sociais reclamam que o governo cancelou editais que haviam
sido lançados pela gestão passada - o MinC diz que os editais tinham problemas
jurídicos e foram cancelados ou suspensos para que pudessem ser refeitos.
-
Há um sentimento de inoperância administrativa. Os manifestos surgem porque há
a percepção de falta de projeto estratégico e de problemas internos - afirma a
deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), presidente da Frente Parlamentar
da Cultura na Câmara.
Outra
das dificuldades da ministra está em explicar as acusações de que o MinC teria
relações próximas com o Ecad. Na quarta-feira, a ministra participou de uma
audiência pública na Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados,
onde apresentou projetos para o ano. Em resposta a deputados, a ministra disse:
"Acho que existe certa insinuação, até por parte da imprensa, de uma
relação específica com o Ecad, o que é inverídico. Há setores que insistem em
insinuar, em fazer acusações levianas, de má-fé".
Na
última terça-feira, quando os boatos sobre a mudança no MinC estavam mais
fortes, Helena Chagas, secretaria de Comunicação Social da Presidência, declarou
a jornalistas que a ministra não estava deixando o governo.
Procurada
ontem, Ana de Hollanda não retornou até o fechamento desta edição.
>>>>>>
Sem compromisso ambiental. O
Globo - 23/03/2012
-
Ex-premier
da Noruega diz que discursos dos governos não saem do papel
MANAUS.
A falta de comprometimento dos governos com as questões ambientais foi apontada
pela ex-primeira-ministra da Noruega Gro Harlem Brundland como o principal
problema para o desenvolvimento de políticas para a sustentabilidade econômica,
ambiental e social no mundo. Gro Harlem abriu ontem os debates no primeiro dia
do Fórum Mundial de Sustentabilidade, realizado em Manaus. O evento, que
prossegue hoje e amanhã, reúne líderes empresariais, autoridades, políticos e
ambientalistas.
A
diplomata e líder internacional em desenvolvimento sustentável e saúde pública
disse que muito se discute sobre sustentabilidade, economia verde e energia
limpa, mas, na prática, a maior parte dos discursos não sai do papel. Para ela,
falta mais comprometimento e liderança governamental para tratar esses temas:
-
Todos os avisos apontam para o aquecimento global, mas a maioria dos governos
não realiza ações concretas para ajudar a preservar o meio ambiente para esta e
as futuras gerações.
Gro
Harlem também falou com preocupação sobre o envolvimento dos países com a
Conferência das Nações Unidas sobre desenvolvimento sustentável, a Rio+20, que
será realizada de 13 a 22 de junho deste ano, no Rio de Janeiro. Ela lembrou o
acordo firmado pelos países na Conferência do clima em Copenhague e destacou
que pouco foi feito de fato para cumpri-lo.
Já
o diretor-executivo da Rio+20, Brice Lalonde, disse que este é o momento de o
Brasil liderar a conferência e criticou outros governos:
-
Estamos cansados de discurso. O problema de não avançarmos é a lentidão dos
governos. Agora é hora de implementar.
Segundo
Brice, a Rio+20 contribuirá para definir a agenda do desenvolvimento
sustentável para as próximas décadas.
Entre
os palestrantes de hoje está o ex-presidente da República Fernando Henrique
Cardoso (PSDB).
MEC
suspeita que mais 30 universidades inflaram nota
Mais
30 universidades são suspeitas de terem "inflado" as notas do Enade
Autor(es):
Paulo Saldaña -
O
Estado de S. Paulo - 23/03/2012
Ministério
da Educação observou grandes disparidades nas notas das instituições
Além
da Universidade Paulista (Unip), outras 30 instituições são suspeitas de
fraudes para inflar as notas no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes
(Enade), uma das ferramentas de avaliação do ensino superior. O Ministério da
Educação (MEC) descobriu grandes disparidades nas notas dessas universidades de
um ano para o outro.
Questionado,
o MEC não revelou a lista das instituições. Também não há definição sobre quais
serão as providências em relação a esses casos, mas o ministério afirmou que
vai "agir com o mesmo rigor" que demonstrou com a Unip. O Estado
apurou que o assunto tem sido tratado com cautela, porque a pasta não teria
estrutura para uma intervenção mais decisiva em todas essas instituições.
Os
casos não foram descobertos agora pelo MEC. Já eram conhecidos pela pasta ainda
na gestão do ministro Fernando Haddad (PT), que deixou o cargo em janeiro. A
pasta não informou exatamente quando apurou as possíveis irregularidades e por
que não tomou providências até agora ou se já pediu esclarecimentos às
instituições.
As
suspeitas recaíram sobre as universidades porque elas apresentaram melhoras
consideradas incoerentes nos índices do exame. Esse salto nos índices foi o que
ocorreu com a Unip.
Inflar.
Conforme o Estado revelou no início do mês, a Unip apresentou grandes saltos
nas notas de alguns cursos. No curso de Nutrição, por exemplo, a nota subiu
207% do Enade de 2007 para o de 2010, muito acima da melhora na média nacional,
de 25%. Segundo especialistas, seria impossível transformar e melhorar um curso
superior em um prazo tão curto.
Para
inflar as notas no exame, a Unip é acusada de lançar mão de um esquema para que
apenas os melhores alunos façam a prova. Quanto menor o número de inscritos,
melhor é o resultado da instituição. Estudantes de desempenho acadêmico médio
para baixo ficam com notas em aberto na época em que as instituições devem
fazer as inscrições dos alunos para o Enade.
Em
2010, estavam aptos a fazer o exame alunos do último ano que tivessem
completado pelo menos 80% da carga horária do curso até o dia 2 de agosto. Com
as notas em aberto, os piores não completam 80% da carga horária e só os
melhores da classe fazem o exame.
A
Unip nega selecionar os melhores alunos para os exames. Atribui a melhora no
Enade à criação de uma comissão para analisar os cursos.
O
MEC não sabe se as outras 30 instituições usaram a mesma estratégia da Unip,
mas as suspeitas vão nessa direção. O Enade é feito pelos calouros e formandos
do ensino superior para avaliar os estudantes. O exame também compõe o conceito
de qualidade das graduações. Grande parte das universidades do País usam o
desempenho no Enade em peças publicitárias para atrair novos alunos.
Mudanças.
Após as denúncias, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, alterou as
regras do próximo Enade para tentar conter tentativas de fraudes.
Além
dos alunos que se formarem em dezembro de 2012, como previa a norma atual,
terão de fazer a prova, em novembro, estudantes que concluírem o curso seis
meses depois, em agosto de 2013. Isso resolveria o problema de postergar a
formatura de um grupo de alunos por um semestre para fazer com que só os
melhores façam o exame.
O
MEC também estuda medida que diz respeito a alunos transferidos de uma universidade
a outra no último ano da graduação. A ideia é fazer com que a nota do estudante
seja atribuída à instituição onde ele estava originalmente matriculado. A
medida visa a evitar que universidades reprovem em massa estudantes de baixo
desempenho antes do Enade.
>>
CNJ descobre vendas suspeitas de precatórios. Correio Braziliense - 23/03/2012
-
Segundo
o conselho, brasileiros negociam créditos devidos por governos locais com
deságio de até 90%. O esquema conta com a ajuda de desembargadores e beneficia
as empresas compradoras, que chegam a receber 100% do valor estipulado por
sentença judicial
Nem
só de falta de pessoal, de organização e de uma ordem cronológica transparente
sofrem os sistemas de precatórios no Brasil. O Conselho Nacional de Justiça
(CNJ), ao percorrer até agora oito estados para estruturar os setores de
pagamentos de débitos dos governos locais, decorrentes de sentenças judiciais
em favor dos cidadãos, encontrou fraudes de toda ordem. Em Alagoas, foi identificado
um esquema de venda dos créditos, com deságio de até 90% e documentação
irregular, a empresas, que rapidamente conseguem receber 100% dos valores em
compensação tributária (veja quadro). A estimativa é de que cerca de R$ 1
bilhão tenha sido movimentado dessa forma, envolvendo 500 credores — entre eles
desembargadores, juízes, promotores e procuradores.
A
falta de controle era tão grande que o Tribunal de Justiça alagoano tenta
rastrear, agora, quem já recebeu por essa via, para evitar pagamentos em duplicidade.
"Mandei ofício à Procuradoria do Estado e à Secretaria de Fazenda pedindo
nomes e valores, mas, até agora, não recebemos retorno", destaca Diógenes
Tenório, juiz responsável pelo setor de precatórios. Um problema crucial,
verificado ao longo do trabalho de organização realizado pelo CNJ no estado,
foi a emissão de certidões de crédito, por parte das varas de Fazenda Pública,
especialmente a 17ª, sem organização alguma. Tal documento, que não traz o
valor devido, era calculado e negociado por escritórios de advocacia a
empresas, principalmente a Telemar, hoje Oi.
Para
o negócio ser concretizado, porém, a Procuradoria-Geral de Alagoas certifica o
cálculo feito pelos advogados e envia o débito para a Secretaria de Fazenda.
Duas leis estaduais que, na avaliação de conselheiros do CNJ, deveriam ser
declaradas inconstitucionais, permitem essa negociação de créditos — débito
reconhecido pelo Judiciário que, para se tornar precatório, na formalidade do
termo, basta que a parte interessada peça a execução. Mas as lacunas de
informação — que começam na emissão sem controle das certidões por parte das
varas de Fazenda Pública — e a falta de critérios sobre os pagamentos são o
início de uma história que deverá ser aprofundada pela Corregedoria do CNJ.
"Alagoas
é o único estado em que o crédito pode ser negociado, isso traz dificuldades no
cumprimento de princípios constitucionais, como moralidade, publicidade,
eficiência", diz Diógenes. O advogado Marcos Mello, dono do escritório
identificado em 95% dos casos, ressalta haver "total transparência"
nas negociações. "Tudo é publicado no Diário Oficial do estado, os nomes
das pessoas estão lá. Só o nome das empresas é que não constam porque caso
contrário elas seriam bombardeadas de gente querendo vender, já que o estado
demora muito", afirma Mello, que também tem dívidas a receber na mesma
ação em que se verificou tal prática, mas nunca vendeu seus créditos.
A
Oi, por meio da assessoria de imprensa, informou que segue "limites e
condições" para negociar com titulares dos créditos e com o estado
"expressamente previstos em legislação pertinente". Não disse o
quanto já abateu de impostos por essa via, afirmando se tratar de informações
econômicas da companhia e, portanto, "estratégicas". Sobre se já
havia sido chamada por algum órgão para tratar do assunto, destacou que
"periodicamente, os órgãos relacionados com esse procedimento mantêm
contato com a empresa para quaisquer esclarecimentos."
Já
Emanuele Pacheco, presidente da Comissão de Certificação de Créditos da
Procuradoria-Geral de Alagoas, disse que não recebeu ofício do TJ-AL com pedido
de nomes e valores de pessoas que negociaram seus créditos nem tem conhecimento
de suspeitas sobre as operações. "Nunca houve uma ação do Ministério
Público questionando nada sobre isso. Se há suspeitas, defendemos que sejam
apuradas", disse. Ela ressaltou, entretanto, desconhecer que as empresas
consigam receber 100% dos créditos, informando que a Secretaria de Fazenda faz
um cálculo para definir o valor a ser descontado em impostos. O advogado Mello,
entretanto, afirmou que as companhias recebem 100%, dentro da lei. "Por
que elas comprariam os créditos se fosse para receber o que pagaram aos
credores?" A Secretaria de Fazenda não retornou os contatos da reportagem.
"Caso
de polícia"
Sem
mencionar casos específicos, a ministra Eliana Calmon, corregedora do CNJ, diz
que o órgão tem encontrado uma série de "desmandos" no Brasil com
relação ao tema. "O comércio de precatórios neste país é uma das coisas
mais injustas que nós temos. Existem precatórios que são cedidos com deságio de
90%. As pessoas, para não morrerem sem receber, recebem o que for oferecido. E
quem tem feito isso? As grandes empresas, os grandes escritórios de advocacia,
que recebem informações privilegiadas dos tribunais e entram em contato com os
credores para, dessa forma, negociar os precatórios. Isso é caso de
polícia", disse a ministra, em palestra no Tribunal de Justiça do DF nesta
semana. "São Paulo, por exemplo, segundo relatos da Ordem dos Advogados
Paulistas, já perdeu na fila dos precatórios 80 mil pessoas que estavam na fila
e já morreram", completou.
Eliana
recebeu, nesta semana, em seu gabinete em Brasília, as pensionistas Valdomira
Cancelli dos Santos, de 71 anos, e Cecília Terezinha dos Santos Silva, de 68,
moradoras do Rio Grande do Sul. Há seis anos, Cecília teve que vender seu
precatório devido a um aneurisma cerebral. "Eu me arrependo de ter
vendido, mas era uma questão de necessidade, de saúde", afirma a mulher,
que, com o dinheiro recebido, metade do valor integral, também ajudou a filha
em um transplante de córneas. Valdomira ainda espera pela dívida. "A
gente, quando deve, tem que pagar. O governo, não", reclama. Elas fazem
parte de dezenas de credoras que vão, às quartas-feiras, para frente do Palácio
Piratini, sede do governo gaúcho, tricotar, como forma de protesto.
Colaborou
Diego Abreu
Prática
de décadas
O
esquema suspeito de pagamentos de créditos foi verificado em ações de 20 anos
atrás ajuizadas por todos os servidores públicos estaduais. Eles ganharam o
direito de receber do estado de Alagoas os pagamentos para compensar perdas
salariais decorrentes da Unidade Real de Valor (URV) e de planos econômicos. Os
processos envolvem cerca de 18 mil servidores do estado, de diferentes órgãos.
Hoje, Alagoas tem precatórios formalizados (sem contar os créditos que ainda se
transformarão em precatórios, depois que o advogado pede a execução) no valor
de R$ 380 milhões.
O
ESQUEMA
Devido
à demora nos pagamentos, credores de uma ação gigantesca ganha por vários
sindicatos contra o estado de Alagoas venderam seus créditos em um esquema
suspeito. Veja o passo a passo da negociação:
1.
Certidões sem controle
Nas
varas da Fazenda Pública (principalmente na 17ª e 18ª), os credores obtinham
certidões atestando a existência dos créditos, sem qualquer controle. Não havia
informação do recebimento ou da negociação daquele crédito para a vara —
abrindo brecha para que uma mesma dívida seja negociada e paga mais de uma vez.
2.
Escritórios de advocacia
Advogados
especializados no ramo faziam o cálculo da dívida que o estado teria de pagar,
uma vez que na certidão de crédito não constava essa informação. Em seguida,
vendiam o crédito, com deságio que chegava a 90%, para empresas, principalmente
a Telemar. A transação é permitida por lei estadual.
3.
Certificação do crédito
A
Procuradoria-Geral do Estado de Alagoas certificava os créditos, concordando
com os valores calculados pelo escritório de advocacia, e publicava no Diário
Oficial do Estado. A Telemar, então, passava a ser a credora, conseguindo
compensar rapidamente o valor integral do crédito, por meio de desconto no
pagamento de impostos.
R$
1
bilhão
Estimativa
do dinheiro movimentado com a venda de precatórios em Alagoas
>>>
Conferência precisa ouvir sociedade civil, diz
Greenpeace. Valor Econômico - 23/03/2012
-
"Parece
que todos os negociadores sofrem de uma doença, parece que todos têm problema
em não escutar direito", disse Kumi Naidoo, diretor executivo do
Greenpeace Internacional, ontem, em Manaus. Ele se referia aos diplomatas
envolvidos com negociações internacionais do gênero das que precedem a Rio+20.
"Não ouvem o que a ciência está dizendo. Ainda temos algumas semanas antes
da conferência. Espero que os representantes de governo possam internalizar em
suas discussões o que outros estão falando."
Naidoo
falava de dentro do Rainbow Warrior, o barco mais novo e sustentável da ONG,
que chegou ao Brasil para as comemorações dos 20 anos de Greenpeace no país e
para as campanhas da Rio+20. "Com a Rio+20, em junho, temos que mandar uma
mensagem à presidente Dilma", prosseguiu Naidoo. "Ela tem uma
oportunidade única de dar ao mundo uma mensagem-chave: que o Brasil está
comprometido em acabar com a destruição florestal", continuou. "O
Brasil é hoje a sexta maior economia do mundo. E o mais importante: o país
tornou-se a sexta maior economia do mundo reduzindo o desmatamento. O Brasil
não precisa destruir a floresta para demonstrar que é um país forte."
Naidoo
participou do lançamento de uma campanha da ONG para que o país tenha uma lei
de desmatamento zero. A intenção é levar ao Congresso uma proposta de lei de
iniciativa popular. Para tanto, a ONG precisa arrecadar assinaturas de 1,4
milhão de pessoas, o que corresponde a 1% dos eleitores brasileiros. Até o fim
de 2013, o Greenpeace espera conseguir arrecadar assinaturas suficientes para
encaminhar a proposta ao Congresso. O Rainbow Warrior que descerá a costa
brasileira e chegará ao Rio de Janeiro para a conferência, será utilizado nesta
iniciativa.
"As
mudanças que estão sendo debatidas no Código Florestal são sobre o passado,
sobre como resolver o problema de quem desmatou", explica Marcio Astrini,
da campanha Amazônia do Greenpeace. "Nossa ideia, agora, é beneficiar a
floresta. É uma ideia para o futuro. O Brasil não precisa desmatar mais para se
desenvolver, nem a agricultura precisa abrir mais áreas para dobrar a produção
de alimentos", continua. Pela proposta do Greenpeace, ficaria proibido o
corte de floresta nativa e novos desmatamentos. Há exceções para grupos
indígenas, extrativistas e quilombolas e um prazo de 5 anos para que os
agricultores familiares tenham capacitação técnica para o uso sustentável da
floresta.
>>>
Há agência mundial até de turismo, por que não de
ambiente?
Valor
Econômico - 23/03/2012
-
O
francês Brice Lalonde, 66 anos, foi ministro do Meio Ambiente da França,
candidato à presidência da República pelo partido verde francês e agora é um
dos dois coordenadores-executivos da Rio+20 - a outra é Elizabeth Thompson, de
Barbados. O segundo homem na hierarquia da ONU para a Rio+20 tem como
atribuição fazer, antes e durante a conferência, o elo dos governos com a
sociedade civil. Lalonde adianta o que pode ser um dos trunfos da Rio+20, um
ponto que está em negociação e ainda tem muito caminho pela frente: um conselho
ou comitê de desenvolvimento sustentável, nos moldes do Conselho de Direitos
Humanos da ONU, para implementar, monitorar, diagnosticar problemas e
implementar as decisões da conferência sobre desenvolvimento sustentável que
acontecerá no Rio, em junho.
Neste
possível novo órgão - proposta defendida pelo Brasil - empresas, ONGs e outros
setores da sociedade civil poderiam ter assento, defende. Lalonde também
simpatiza com a outra proposta que está na mesa de negociações, impulsionada
pelos europeus e africanos - a de transformar o Programa das Nações Unidas para
o Meio Ambiente (Pnuma), em uma agência ambiental global.
O
Pnuma existe há 40 anos, mas não tem orçamento fixo e tem pouca força política.
"Existe uma agência mundial para comida, para saúde, há até uma para o
turismo. Por que não ter uma para o ambiente?". Lalonde reforça que não é
diplomata, diz que fica impaciente com o processo lento das negociações, mas é
conciliador quando o tema são as mudanças institucionais que a Rio+20 pode
promover. "Todos concordam que o tema ambiente, na ONU, é muito fraco e
que é preciso fortalecer este pilar", diz. "Mas, claro, é preciso ter
um lugar que integre o desenvolvimento sustentável na ONU".
Lalonde
concedeu esta entrevista ao Valor em passagem recente pelo Rio de Janeiro e
também quando esteve em Nairóbi, no Quênia, em encontro do Pnuma. A seguir,
alguns trechos:
Valor:
A Rio+20 está, finalmente, aquecendo?
Brice
Lalonde: Mais e mais pessoas estão interessadas, mais gente diz que virá e as
expectativas estão crescendo, o que é bom. Mas se trata de um processo em
andamento, sem momentos espetaculares. O importante é manter as coisas andando.
E não se pode esquecer que não há muito dinheiro, devido à crise financeira
forte. Aliás, esta é uma preocupação que surge.
Valor:
Em que sentido?
Lalonde:
Os preços no Rio. Mais pessoas e organizações estão querendo alugar um espaço
para fazer um evento e esbarram com o preço alto. O preço dos hotéis é muito
caro. Algumas organizações estão pedindo se é possível abaixar estes preços.
Esta é uma grande preocupação.
Valor:
Não está claro, há menos de três meses da conferência, quantos chefes de Estado
virão, não é?
Lalonde:
Acho que no fim todos virão. É aquela coisa, se há uma festa e a rainha da
Inglaterra diz que vai, a rainha da Suécia também tem que ir. E é muito bom se
os líderes começam a dizer que vêm, isso quer dizer que teremos um bom
resultado. É a história do ovo e da galinha, tem que ter os dois. Para um bom
resultado, tem que ter os líderes, mas para ter os líderes, tem que ter um bom
resultado.
Valor:
Na Rio 92 houve muita negociação antes e no Rio fecharam os tratados. Mas aqui
o caminho é inverso: a Rio+20 abre processos.
Lalonde:
É muito mais aberta. Decidimos fazer a Rio+20 porque temos que proteger o clima
e a biodiversidade, combater a pobreza, traçar objetivos de desenvolvimento
sustentável. Mas o problema é: uma vez que os chefes de Estado e governo e
diplomatas se decidiram por ela, como fazer? Como vamos viver nas cidades? Como
será a nova agricultura tendo nove bilhões de pessoas no mundo e sem usar mais
água ou fazer pressão sobre as florestas? Como vamos produzir mais energia sem
usar combustíveis fósseis e garantindo que todos tenham acesso? As emissões
continuam crescendo, a biodiversidade segue ameaçada. O problema é como fazer.
Valor:
Era diferente, há 20 anos?
Lalonde:
O problema é que muita gente pensa, mas pouca gente age. E temos que agir. Na
ONU tem havido muita discussão entre ricos e pobres: "Deem-nos mais
dinheiro, é sua responsabilidade". Agora é assim: todo mundo quer reduzir
a pobreza, mas como podemos fazer de uma maneira prática? Oceanos,
biodiversidade, atmosfera, todos querem fazer algo, mas o problema é como.
Valor:
Há uma preocupação muito maior, nesta conferência, em fazer com que a sociedade
civil participe. Como isso acontece?
Lalonde:
Eu era de uma ONG durante a Rio 92, estava com a Amigos da Terra, e não me
deixavam participar. Agora vejo gente jovem dentro das negociações. Eles
cresceram verdes, isso é natural neles. E é particularmente importante porque
Rio+20 é mais 20, ou seja, mais 20 anos daqui em diante, estamos abrindo um
novo ciclo. O Brasil tem dito que esta conferência é para os próximos 20 anos.
Mas isso é verdade para o Brasil também, que nos próximos 20 anos terá muito
mais poder do que tem hoje. Então é preciso pensar como será o Brasil de 2030,
um país incrivelmente bonito e forte, otimista, jovem, com muitos recursos.
Valor:
Uma das suas atribuições é fazer o elo entre os debates de governos e a
sociedade civil. Como isso está andando?
Lalonde:
Há muitas frentes. Uma delas, os chamados Diálogos Sustentáveis com a Sociedade
[os quatro dias antes da cúpula da Rio+20] estão ficando mais definidos. Na
segunda-feira, em Nova York, junto com o embaixador André Correa do Lago
[negociador-chefe brasileiro para a Rio+20] vamos explicar aos vários grupos da
sociedade civil como eles podem fazer diferença no Rio. As iniciativas da
sociedade civil no processo são tão importantes como as iniciativas do governo.
Os Diálogos com a Sociedade farão recomendações à cúpula que podem ser muito
importantes para a conferência e para o legado da Rio+20.
Valor:
Mas, no final, quem decide são os governos.
Lalonde:
Sim. Mas há a participação maior dos "major groups", o conceito que
engloba a sociedade civil, vem de 1992 e deveria ser modernizado, mas que
permite que ONGs, empresas e outros falem. Não é um tempo muito longo, mas
podem falar.
Valor:
Nas mudanças de governança, há a ideia, que o Brasil vê com bons olhos, de se
criar um conselho ou comitê de desenvolvimento sustentável. Como seria?
Lalonde:
Todo mundo concorda que a sociedade civil tem que ter um lugar bem maior também
nas decisões. Uma das propostas em discussão é a de se criar um Conselho de
Desenvolvimento Sustentável nas Nações Unidas, de ter algo que poderia
acompanhar as metas e os resultados da Rio+ 20 e ver o que se conseguiu. Talvez
empresas e ONGs pudessem estar dentro deste conselho. Os governos sabem que não
podem mais fazer as coisas sozinhos. O modelo que está sendo pensado é a do
Conselho dos Direitos Humanos da ONU. Ali as pessoas discutem o que está
acontecendo, o que tem que ser feito, os problemas. O Conselho de
Desenvolvimento Sustentável pode ser o melhor lugar para se saber o que está
acontecendo com as decisões da Rio+20. Mas, claro, esta é uma das propostas em
discussão.
Valor:
O senhor pode explicar qual a proposta da França para a nova agência?
Lalonde:
O que conheço é a ideia de transformar o Pnuma, o Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente, em uma agência. Existe uma agência para comida, para
saúde, existe até uma para o turismo! Por que não ter uma para o meio ambiente?
Se você quer participar da corrida de Daytona, tem que ter um carro forte e não
uma pequena bicicleta, não é? A mesma coisa com o Pnuma. Se queremos fazer algo
no ambiente, temos que ter uma organização global forte. A ideia de criar uma
agência ambiental é apoiada pela Europa, por todos os países africanos, por
países da Ásia, por muitos.
Valor:
Qual é o consenso neste ponto?
Lalonde:
Todos concordam que o tema ambiente no sistema das Nações Unidas é muito fraco,
que é preciso fortalecer este pilar. O Pnuma hoje é só um programa. Os países
pagam só se quiserem pagar. Também é um órgão sem poder de decisão, as decisões
têm que ir para a Assembleia Geral. Então, toda vez que há um grande problema
ambiental é preciso criar alguma outra coisa para decidir - criamos convenções,
de clima, de biodiversidade. Toda vez que temos um problema ambiental
enfraquecemos o Pnuma. É paradoxal. Mas temos que encontrar uma maneira para
fazer isso e todos têm que concordar. Isso é a negociação.
Valor:
É possível que, no final da Rio+20, tenhamos uma agência global de ambiente e
um conselho de desenvolvimento sustentável?
Lalonde:
Sim. É isso que eu acho. É o que eu lutaria para ter.
Valor:
Como está avançando a proposta de Colômbia e Guatemala de a Rio+20 desenhar
objetivos de desenvolvimento sustentável?
Lalonde:
É uma boa ideia porque coloca foco nas ações: vamos ter metas para todo mundo,
não só para os mais pobres. Antes, nas negociações na ONU, os países pobres
diziam: "deem-nos algum dinheiro e algum tempo e vamos alcançar
vocês". Alcançar gente que está consumido muito, que está gastando demais.
Não, esse não é o jeito que queremos viver, não é possível. Temos que mudar o jeito
que estamos produzindo, e esta é uma abordagem completamente diferente. Os
objetivos não serão apenas para bilhões de pobres, mas também para bilhões de
ricos. Claro, este é um debate difícil.
Valor:
Que tipo de metas?
Lalonde:
Uma que parece ter consenso é a meta proposta por Ban Ki-moon, em energia. Ela
tem três submetas que seguem a arquitetura do desenvolvimento sustentável, do
social, econômico e ambiental. Fala em garantir energia sustentável para todos,
inclusive para quem cozinha com fogões a lenha - o que tem apelo social. O
segundo ponto é multiplicar por dois a eficiência energética por unidade de
produção, o que significa cortar pela metade o consumo de energia em 2020 para
produzir a mesma coisa, o que é econômico. E, finalmente, dobrar a participação
das energias renováveis no mix nos próximos 20 anos, o que é ambiental. O mais
importante é que podemos começar já em 2013.
Valor:
Como as empresas poderiam participar melhor da Rio+20?
Lalonde:
Precisamos das empresas par alavancar a economia de baixo carbono. Negócios são
como políticos, alguns são melhores que outros. O problema é que não temos
ainda o Adam Smith da economia verde. Por isso é difícil. Governos têm que
tomar decisões para o mercado, e o mercado é míope. Pensa apenas em como ter
dinheiro este semestre. Precisamos ter líderes e negócios orientados para a
nova economia, o que significa olhar para a natureza e transformar isso em
dinheiro. Precisamos dos negócios. Nunca vamos conseguir sem eles, sem
tecnologia. De outro modo, sem tecnologia, como faremos células solares?
>>>
MPF denuncia professor da UFMA que teria mandado
universitário nigeriano "clarear a pele"
UOL
22/03
-
O
MPF (Ministério Público Federal) do Maranhão denunciou à Justiça, nesta
quarta-feira (21), o professor da UFMA (Universidade Federal do Maranhão) José
Cloves Verde Saraiva. Ele é acusado de racismo, injúria racial e xenofobia
contra um aluno nigeriano negro. As ofensas teriam ocorrido em sala de aula, em
junho de 2011. Na ação, o MPF ressaltou que “o professor se referiu ao
estudante, inúmeras vezes, de maneira ofensiva, inclusive afirmando que o
universitário deveria ‘clarear a sua pele’ e ‘voltar para a África em um navio
negreiro’”.
Segundo
denúncias relatadas à Polícia Federal e entregues ao MPF, o profesor, logo no
primeiro dia de aula, fez “chacotas racistas” contra o aluno ao realizar a
chamada com o nome dos estudantes. Colegas de sala de Nuhu Ayúba disseram ainda
que outros fatos ocorreram ao longo de 2011, o que levou o jovem a se sentir
prejudicado no desempenho escolar, tirando notas abaixo da média em cálculo
vetorial e geometria analítica – disciplina ministrada pelo professor –, ao
contrário das que obtinha em outras disciplinas.
O
autor da ação, o procurador da República Israel Gonçalves Santos Silva,
afirmou, em nota, ser “inaceitável qualquer prática racista ou preconceituosa,
principalmente a lançada no seio de um ambiente acadêmico, que deveria prezar
pelo acolhimento da mais ampla diversidade sociocultural e étnico-racial, dada
à pluralidade dos cidadãos que compõem o povo brasileiro".
Caso
Saraiva seja condenado por todos os crimes denunciados, a pena aplicada poderá
chegar a 15 anos de prisão e pagamento de multa indenizatória. Além da ação
denunciando o crime de racismo, o MPF também moveu uma ação de improbidade
contra Saraiva. Caso seja condenado, o professor perderá o cargo público e os
direitos políticos por cinco anos.
O
procurador da República destacou que Saraiva também incidiu “ato de improbidade
administrativa, uma vez que, descumpriu o dever de não discriminar, ofendendo,
pois, princípios básicos da administração pública, como da legalidade, impessoalidade
e moralidade, e, ainda em desacordo com os princípios que regem o ensino
público federal e o exercício do magistério.”
Abaixo-assinado
Logo
após os atos, em protesto às atitudes do professor, colegas de turma de Nuhu
Ayúba fizeram um abaixo-assinado com 7.634 pessoas. Os alunos ressaltaram as
agressões verbais contra o nigeriano e relataram que “o professor Cloves
Saraiva vem sistematicamente agredindo nosso colega de turma Nuhu Ayúba,
humilhando-o na frente de todos os alunos da turma”.
De
acordo com o abaixo-assinado, na entrega da primeira nota dos alunos na
disciplina de cálculo vetorial e geometria analítica, “o professor não anunciou
a nota de nenhum outro aluno, apenas a de Nuhu, bradando em voz alta que tirou
uma péssima nota", além de fazer chacota ao nome do nigeriano,
relacionando a pronúncia com um palavrão.
Os
alunos de engenharia química também postaram na Internet um vídeo relatando o
fato e leram uma carta em protesto às atitudes do professor.
Segundo
a UFMA, o nigeriano Nuhu Ayúba participa do Programa de Estudantes – Convênio
de Graduação (PEC-G), que faz parte de um protocolo celebrado entre o
Ministério das Relações Exteriores e o Ministério da Educação.
O
convênio oferece oportunidades de graduação superior a cidadãos de países em
desenvolvimento com os quais o Brasil mantém acordos educacionais e culturais.
Neste Programa, o país de origem do aluno é o responsável pela manutenção no
local onde estudante realiza a graduação superior.
Outro
lado
Em
nota enviada nesta tarde, a UFMA informou que instaurou processo administrativo
disciplinar "para apurar a responsabilidade do professor por suposto
cometimento de desvio de conduta funcional", mas a comissão entendeu ao
final que "não havia provas suficientes e solicitou o arquivamento do
processo."
O
documento foi encaminhado à Procuradoria Federal, e segundo a UFMA, o órgão não
concordou com o arquivamento do processo e apontou que houve falhas na
apuração. "A Procuradoria Federal solicitou a nulidade do processo e
imediata instauração de um novo processo administrativo disciplinar",
informou a nota da UFMA sem detalhar se outro inquérito foi aberto e qual o posicionamento
da Universidade em relação à denúncia do MPF feita à Justiça.
O
UOL entrou em contato com o Departamento de Matemática da instituição e foi
informado que o professor não se encontrava no local na manhã desta
quinta-feira (22). O departamento disse ainda que não tinha autorização para
repassar o número do telefone de Saraiva.
Em
junho de 2011, o professor Saraiva divulgou uma nota de retratação pública
pedindo desculpas a Nuhu. Ele ressaltou que ocorreu uma “interpretação dúbia do
aluno nigeriano Nuhu Ayúba, que durante as aulas de cálculo vetorial, no curso
de Engenharia Química da UFMA, sentiu-se ofendido.”
Saraiva
afirmou que durante a chamada dos alunos ao pronunciar o nome de Nuhu Ayúba não
ocorreu nenhum sentido jocoso, “visto que sua pronúncia no seu idioma induz
isto no nosso e que foi esclarecida por ele mesmo como o equivalente deste a
Noé Josué.”
O
professor disse ainda que chamou a atenção de Nuhu e de outros alunos “que não
compareciam as aulas, nem fizeram os exercícios". Saraiva disse que fez o
“dever de professor cobrando o bom entendimento da disciplina, tendo formado
excelentes alunos durante todo esse tempo.” “Veja que a maioria dos seus
colegas de classe cumpriu seus deveres, e a turma passada não teve problemas
deste tipo. Embora sabendo que você tem suas dificuldades naturais, como
qualquer estrangeiro, deveria pelo menos se explicar, evitando interpretações
errôneas sobre o seu atual comportamento como estudante da UFMA”, afirmou o
professor.
>>>
Filme
escancara a real força das manifestações no Egito FOLHA SP 23.03
-
Tanques,
bombas de gás, correria, sangue. Palavras de ordem contra o ditador, choro,
medo, fogo. Boa parte do documentário "1/2 Revolução" mostra isso:
cenas nervosas dos manifestantes que tomaram a praça Tahrir, no Cairo, e
desencadearam o movimento que derrubou o egípcio Hosni Mubarak há pouco mais de
um ano.
Da
sacada de um apartamento, os cineastas Omar Shargawi e Karim El Hakim escutaram
o ruído do protesto e resolveram filmar o que estava acontecendo lá em baixo.
Fizeram o que definiram como "uma história pessoal da Primavera
Árabe".
El
Hakim (egípcio-americano) e Shargawi (dinamarquês-palestino) partiram para a
empreitada com amigos egípcios ou de raízes árabes. Desembarcam nos protestos
com filmadoras e celulares e os acompanham por 11 dias.
Num
vaivém, eles correm da rua para o apartamento, tentando escapar da polícia e
das violentas gangues de partidários do regime que desmoronava. Falam ao
telefone com parentes, contabilizam mortes e arranham
análises-relâmpago
de conjuntura. A rotina na casa é a outra parte do filme.
Se
o pulsar da rua oscila entre uma praça de guerra e um festival de música, no
apartamento a trupe também vive a euforia e a apreensão.
Às
vezes, enxergam a vitória da revolução -e se emocionam ao perceber que fazem
parte dela, não são meros observadores. Em outros momentos, preveem um banho de
sangue -e discutem se vale a pena correr o risco de ficar no meio da convulsão.
Focado
nesse grupo de classe média, o documentário não se preocupa em oferecer um
contexto maior.
Poucos
são os manifestantes que exclamam palavras contra o desemprego, a falta de
moradia, os preços altos. As greves, fundamentais para a queda do regime, não
são mencionadas. Organizações e partidos são esquecidos.
Junto
com os cineastas, o espectador cai de paraquedas na insurreição. Essa imersão
nas tensões das batalhas das ruas é o ponto forte do filme. A câmera treme,
fica desfocada, mostra a escuridão: faz o registro essencial.
No terreno das ambiguidades aparece também, embora
de forma lateral, um personagem central dessa história: o Exército egípcio.
Instituição basilar do país, deixou seus tanques serem pichados e tomados pela
multidão.
No
filme, quando essas máquinas de guerra chegam ao centro do Cairo, um manifestante
grita: "O Exército está contra nós?". A pergunta pode ecoar
perfeitamente nos dias de hoje. Os militares, que assumiram o poder após a
queda de Mubarak, enfrentam protestos na difícil transição para a democracia.
Sim,
o processo de mudança não se completou. O documentário não mostra o todo, mas
escancara uma metade crucial: a força das manifestações no Egito.
1/2
REVOLUÇÃO
DIREÇÃO
Omar Shargawi e Karim El Hakim
PRODUÇÃO
Dinamarca
ONDE
Cinesesc (hoje, às 19h), CCBB-RJ (25/3, às 20h30; 27/3 às 18h30); CCBB-SP
(29/3, às 19h)
CLASSIFICAÇÃO
16 anos
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CARLOS HEITOR CONY.
Nuremberg e
a verdade
É
necessário que atos e fatos do nosso passado recente sejam conhecidos em sua
plenitude FOLHA SP 23.03
-
Em
crônica da semana passada, na página 2 ("Quem paga o pacto"), toquei
perifericamente num assunto que continua a provocar polêmica, inclusive com
manifestos de militares da reserva, que são contra, e com o massivo apoio de
vários e numerosos setores da sociedade, que são a favor.
A
Comissão da Verdade, que ainda não entrou em funcionamento, mas é exigida e
combatida por interessados numa ou noutra solução, ameaça um tema que
fatalmente provocará debates -e queiram os fados que fique apenas nos debates,
até que surja uma solução consensual.
Tomando
conhecimento das opiniões veiculadas na mídia e em reuniões que especificamente
tratam do caso, desconfio que o terreno seja movediço, uma vez que há margem
para equívocos sempre que se apela para "a verdade". O próprio
Cristo, no processo que o levou à morte no Calvário, deixou sem resposta a
pergunta de Pilatos: "Quid est veritas?" -o que é a verdade?
No
caso em questão, alguns militares e civis nostálgicos dos tempos duros da
repressão política acreditam que se trata de um revanchismo, do olho por olho,
dente por dente; uma vez que o resultado da comissão possa gerar processos na
Justiça, é de boa doutrina que certos crimes não prescrevam.
Mortes,
torturas, desaparecimentos e exílios são atentados habituais nos regimes de
força, tanto os da direita como os da esquerda: exemplos antigos e atuais são
do conhecimento geral. Um país que se proclama democrático e moderno não pode
nem deve esconder a sua história. Milhares de brasileiros clamam pelas vítimas
da brutalidade do Estado. Eu inclusive.
É
necessário e urgente que atos e fatos do nosso passado recente sejam conhecidos
em sua plenitude, não por exigência de uma vingança que pode até ser
considerada natural, mas como consciência e exemplo de nossa própria história.
Dentro
desse enquadramento, a Comissão da Verdade deve entrar logo em funcionamento
para que a nação fique sabendo como e com quem o arbítrio foi instaurado e
prevaleceu durante mais de duas décadas.
Acontece
que são muitos aqueles que desejam mais, contestando a anistia que foi
negociada duramente entre os últimos governos militares (Geisel e Figueiredo) e
as lideranças civis, e que, expressando a legítima vontade do povo, tornou
possível a redemocratização do país.
Foi
aceito por ambos os lados o conceito da anistia plena, geral e irrestrita para
todos os crimes políticos de determinado período, cometidos em nome da ordem
reinante ou em nome da justiça social e econômica, violentada pela mesma ordem
então reinante.
Volta
e meia é invocado o exemplo do Tribunal de Nuremberg, que puniu com morte e
prisão a barbárie do regime nazista. Não houve pacto, mas uma guerra violenta
vencida pelos aliados. As sentenças daquele tribunal, que respeitou inclusive o
direito de defesa dos acusados, condenando muitos à forca e outros a diversas
graduações de pena, foram um momento digno da própria humanidade.
No
caso de Nuremberg, não houve vingança nem justiça retardada. Os nazistas não se
entregaram, Roosevelt liderou a cúpula aliada, exigindo a rendição
incondicional do adversário, negando-se a qualquer acordo ou negociação com o
inimigo.
É
sabido que alguns militares e políticos, dentro e fora da Alemanha, incluindo
nazistas de primeiríssimo escalão, tentaram antecipar o fim da guerra com um
pacto que foi recusado prontamente pelo "Big Four" (Roosevelt,
Stálin, Churchill e de Gaulle), apesar das centenas de milhares de vítimas dos
dois lados que ainda seriam sacrificadas.
No
caso do Brasil, sobretudo após a decretação do AI-5, de 13 de dezembro de 1968,
surgiram vários movimentos e tentativas (algumas desesperadas) de derrubar a
ditadura com a luta armada (várias, por sinal), que deram aos militares o
pretexto para o brutal endurecimento do regime, que afinal caiu de podre, mas
ainda em condições de negociar com a nação a anistia.
Quanto
mais o governo de dona Dilma retardar o funcionamento pleno, efetivo e justo da
Comissão da Verdade, maior será o risco de uma fenda na sociedade, colocando-se
o país à disposição de demagogos e aventureiros, fardados ou não, de um ou de
outro lado.
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Raul Seixas.DOC
Longa-metragem
sobre a história do cantor baiano, um dos maiores ídolos da música brasileira,
chega hoje aos cinemas. "Ele morreu de amor", afirma o diretor Walter
Carvalho CORREIO BSB 23.03
-
Quando
aceitou o convite para dirigir o documentário Raul — o início, o fim e o meio,
Walter Carvalho tinha como missão abordar um artista já biografado em dezenas
de livros, assunto de incontáveis reportagens, cultuado como poucos cantores no
Brasil. Para o trabalho, o cineasta paraibano, 65 anos, também conhecido como
um dos mais requisitados e premiados diretores de fotografia do país, realizou
quase uma centena de entrevistas (54 delas estão no filme), vasculhou acervos de
emissoras de TV, reuniu fotos e conseguiu registros audiovisuais raros de Raul
Seixas (1945-1989).
A
produção durou três anos, entre pesquisa, realização das entrevistas e montagem
do documentário. Das 400 horas de material coletado sobre Raul Seixas, duas
terminaram no filme. Muitas das imagens são inéditas: cenas da infância de
Raul, seu “casamento satânico” com Gloria Vaquer, bastidores de gravação, até o
reencontro do cantor baiano com Paulo Coelho, no camarim de um show, depois de
15 anos sem se verem.
Por
falar em Paulo Coelho, o antigo parceiro de composição de Raulzito protagoniza
um dos melhores momentos do longa-metragem. Em entrevista em sua casa, na
Suíça, o escritor dá declarações reveladoras (“Mostrei todas as drogas para o
Raul. Só não sei se apresentei a droga do mal, a cocaína”) e atenta para uma
mosca que o ronda durante a filmagem. “Em Genebra não tem mosca”, diz o mago. É
dessa forma, se fazendo presente mesmo quando não está lá, aparecendo em falas
emocionadas de amigos, ex-mulheres, familiares e admiradores que Raul, sua vida
e obra, são apresentas no documentário.
Idealizado
pelo produtor Denis Feijão, codirigido por Evaldo Mocarzel e Leonardo Gudel
(também autor do roteiro), Raul — o início, o fim e o meio, não esgota o
assunto do ícone do rock brasileiro. E nem tem essa pretensão. “Raul é uma
história que não acabou”, afirma Walter Carvalho. E adianta: “O extra do DVD
será o maior da história”.
Quatro
perguntas - Walter Carvalho
Teve
alguém que você gostaria de ter entrevistado, mas não conseguiu?
Eu
gostaria muito de ter entrevistado a mãe do Raul, que já morreu. Mas todos os
outros foram acessíveis, generosos, sem nenhum problema. As ex-mulheres do
Raul, sobretudo. Todas elas são apaixonadas por ele até hoje — não sei se dá
para perceber isso no filme.
Até
a Edith, primeira mulher dele?
Acho
que ela “virou a página” legal, de verdade. Quando o Raul começou a fazer
sucesso, conheceu outra mulher e abandonou a Edith. Ela é americana, voltou
para os Estados Unidos com a filha deles, Simone, e nunca mais deixou o Raul
ver a menina. Ele sofreu para o resto da vida por causa disso. A mãe do Raul
dizia que ele chorava sempre que falavam perto dele da Edith e da filha. Eu
acho que o Raul morreu por amor.
Você
codirigiu Cazuza — o tempo não para. Seu irmão, Vladimir Carvalho, lançou
recentemente o documentário Rock Brasília, que tem Renato Russo como um dos
protagonistas. Acha que estamos ficando carentes de artistas que causem esse
tipo de impacto no público?
Acho
difícil surgirem novos Rauls, Renatos ou Cazuzas. O contexto político de onde
esses caras vieram, um momento de repressão, não existe mais. A atitude desses
três artistas era contestadora, libertária. Hoje em dia, não é o artista que se
impõe ao mercado, é o mercado que produz o artista — que não precisa acontecer,
basta estar na mídia e isso já é a notícia, o acontecimento em si. Serão
necessárias décadas para surgir a química que deu no Raul.
Que
pergunta você faria para Raul?
Ninguém
nunca me perguntou isso (fica em silêncio por alguns segundos)… Semana passada
fui a Salvador, fazer a pré-estreia do filme. Olhando do avião, eu tinha a
impressão de que poderia encontrar Raul lá embaixo em qualquer esquina — talvez
por todo o tempo que passei ouvindo sua voz cantando e falando e vendo sua
imagem todos os dias. A única coisa que eu faria se o encontrasse seria
perguntar: você que ver o meu filme que eu fiz sobre você?
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Comentário sobre "revolução da educação" CORREIO BSB 23.03
-
Ph.D.
em educação (Universidade de Londres); mestre de ciências em educação (Purdue
University, Indiana, EUA); mestre em educação brasileira (UnB)
Publicação:
23/03/2012 02:00
Para
comentar o assunto acima, temos que voltar ao passado. É necessário lembrar,
por exemplo, que as bases políticas da educação pública sempre foram fracas e
que, na maior parte do século 20, a educação não era um assunto na sociedade.
Apesar dos esforços de um grupo de educadores que, nos anos 30 do século
passado, ousaram lançar um “Manifesto ao Estado e ao Povo” em defesa da
educação, tal ato não logrou entusiasmar as massas.
Cinco
décadas depois, precisamente em 1988, forças políticas democráticas se
estabeleceram no Brasil. Foi o período no qual apareceram os primeiros indícios
de que a educação do povo era um desafio que demandava reação do povo. Apesar
dos esforços para a conscientização dessa ideia, não foi possível quebrar a
letargia acumulada durante tantos anos. Em alguns momentos, surgiram propostas
de mudança que não foram devidamente debatidas, tanto pelo Estado quanto pelos
professores. Estudo sobre a relação do Estado com a educação apontou tal fato
como uma das causas que determinaram o fracasso das intenções de mudança.
Portanto, é necessário esclarecer os principais problemas que permanecem no
sistema educacional brasileiro e as forças internas e externas responsáveis por
eles.
Entre
as forças internas, a formação dos professores e diretores continua sendo o
problema mais resistente à mudança. A ciência mostra que professores e
diretores de escolas devem ter conhecimentos teóricos e conhecimentos práticos.
Por sua vez, os dirigentes de escolas e de universidades devem saber como
conduzir as mudanças necessárias em suas instituições. Outra força importante é
a escolha de professores e de gestores capazes de criarem e manterem o ensino
de qualidade em suas instituições. Na maioria dos países que conseguiram mudar
a qualidade de sua educação, os professores foram escolhidos entre os alunos
que conseguiram os melhores resultados em seus cursos.
Os
percalços que acontecem na formação de professores e diretores muitas vezes
advêm da falta de percepção dos seus formadores. Eles devem observar o
desenvolvimento intelectual dos futuros mestres e despertar neles o prazer de
ensinar. Isso lhes dará segurança para enfrentar dificuldades que surgem no
relacionamento com alunos. Em suma, ser professor não é uma tarefa fácil. No
tocante à formação de diretores de instituição educacional, a literatura mostra
como diretores de instituições educacionais podem ser líderes com sabedoria.
Países engajados na mudança da sua educação também usam a ajuda de acadêmicos
que orientam pessoalmente os processos de mudança, algo impensável anos atrás.
Outra
faceta a ser considerada em uma “revolução da educação” se refere a forças
externas que impingem sobre escolas e universidades. Forças vindas da família
do educando são as mais importantes. Elas deveriam ser sempre positivas,
contudo, a pobreza e a ignorância de alguns pais são fatores que impedem que
isso aconteça. Existem também famílias que não cultivam valores, transferindo
para as escolas essa responsabilidade, algo que a maioria delas não consegue
suprir. Por outro lado, “grupo de amigos adolescentes” substitui a família sem
ter maturidade ou valores constituídos para esse papel. Tais jovens, por vezes,
cultuam hábitos negativos, tais como a droga, a violência, a criminalidade, a
gravidez precoce e irresponsável; forças negativas que acabam por penetrar nas
escolas e universidades.
Ainda
no tocante às forças externas que entram na escola, e especificamente em nosso
país nos últimos anos, as ideologias e partidarismo político têm sido
responsáveis por desviar a atenção de docentes da sua função precípua de
educar. Um assunto pouco debatido por professores.
Finalmente,
resta-nos comentar recente entrevista de uma jornalista sobre a educação
norte-americana. Ela ficou impressionada como os professores seguem regras e
demonstram alegria e gentileza no trato com os alunos, e os alunos com os
professores, apesar de estarem também sujeitas às forças negativas, tais como
graves crimes e drogas. Como mencionado acima, o segredo para tal
“resiliência”, isto é, capacidade das instituições educacionais voltarem ao seu
estado de equilíbrio e qualidade, é o cultivo de forças positivas criadas e
conservadas pela educação ao longo da história.
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