terça-feira, 20 de março de 2012


Procurador quer acabar com auxílio de juízes.    O Estado de S. Paulo - 20/03/2012
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Por meio de ação popular ao STF, Carlos Studart requer suspensão "imediata" de verba para alimentação e outros benefícios concedidos à toga


Um procurador federal de Mossoró (RN) quer impedir no Supremo Tribunal Federal (STF) o pagamento do auxílio-alimentação e outros benefícios a todos os juízes do País, federais, estaduais e do Trabalho. Por meio de ação popular, Carlos André Studart Pereira requer "imediata suspensão" dos efeitos da Resolução 133 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), de junho de 2011, que prevê a concessão daquelas vantagens à toga.

O procurador atua na Advocacia Geral da União (AGU) desde 2006. Ele sustenta inconstitucionalidade da resolução. Usa como argumento o gasto, estimado em R$ 82 milhões, que o Tesouro terá com alimentação dos juízes federais e do Trabalho - valor retroativo a 2004. Anota que a Constituição confere exclusivamente à Lei Orgânica da Magistratura (Loman) poderes para criar benefícios à classe.

A ação é subscrita pelo advogado Jonas Francisco da Silva Segundo. Em 18 páginas, representando o procurador federal, assinala que o CNJ "diante de carência legal e sob o fundamento da simetria constitucional existente entre a magistratura e o Ministério Público, concedeu administrativamente várias vantagens aos membros do Judiciário, ofendendo os princípios da legalidade e da moralidade".

A ação pede alternativamente - caso não seja decretada suspensão da resolução -, congelamento das regras do CNJ e dos tribunais que impliquem pagamento imediato de pecúnia ou de qualquer desembolso relativo a parcelas atrasadas e acumuladas.

"O CNJ concedeu vantagens indevidas a magistrados, não previstas em lei, invocando, dentre outras questões, a necessidade de se preservar a magistratura como carreira atrativa face à paridade de vencimentos e a inadequação da Loman frente à Constituição", afirma Jonas Segundo.

Perdas. O presidente da Associação dos Juízes Federais (Ajufe), Gabriel Wedy, reagiu à ação do procurador. "A simetria constitucional entre o Judiciário e o Ministério Público Federal está prevista na Lei das Leis, a Constituição, ápice do ordenamento jurídico. A magistratura, nos últimos sete anos, acumula perdas inflacionárias de 33% no seu subsídio. O CNJ, em decisão exemplar, declarou o que já estava previsto na Constituição: igualdade de direitos entre juiz federal e procurador da República."

Wedy é taxativo. "Já vi cogitação também de ajuizamento de ação para impugnar as verbas que os advogados da União recebem sem base legal, ancoradas em medidas provisórias ou portarias. O STF ainda não foi chamado para se manifestar sobre o caso da advocacia pública. A decisão do STF deve ser igual para todas as carreiras jurídicas, sem discriminar a magistratura que vem sofrendo perdas progressivas nos seus quadros nos últimos anos."
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Piora a situação na Pasta da Cultura    Valor Econômico - 20/03/2012
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A falta de interlocução com o setor e as recentes críticas de artistas e intelectuais à atual gestão do Ministério da Cultura deterioraram a situação política da ministra Ana de Hollanda. Pelo menos por ora, a presidente Dilma Rousseff não deu sinais públicos de que substituirá a auxiliar, mas no Congresso lideranças do governo dão sua queda como certeza para esta semana. Só uma recomposição, no momento improvável, com a classe artística manterá a ministra no cargo.

A solução para a questão não é considerada simples por auxiliares da presidente. Caso eventuais mudanças na cúpula do Ministério da Cultura sejam levadas adiante, o PT tentará manter a Pasta sob o controle do partido. "Creio que cria uma dificuldade, porque tem intelectuais de peso [assinando manifestos pedindo a exoneração da ministra] e o meio está em campanha aberta contra ela. Cria uma situação visível de enfraquecimento, ela fica extremamente frágil", comentou um influente deputado petista.

Uma ala de artistas tem defendido a nomeação do diretor do Sesc São Paulo, Danilo Santos de Miranda. Uma carta que será endereçada à Casa Civil é clara: "Um sonho acalentado por muitos e muitos anos pelos artistas e produtores culturais brasileiros é o de ter no Ministério da Cultura um grande gestor de nossas atividades criativas, que hoje representam 5% do PIB do país. A nomeação do técnico e gestor Marco Antônio Raupp para o Ministério da Ciência e Tecnologia reacendeu as esperanças da área cultural. Assim, na hipótese de haver a decisão de substituição do titular da Pasta da Cultura - tema veiculado na mídia, mas não necessariamente verdadeiro - a classe cultural, aqui representada em suas diversas linguagens e regiões, vem dar sua contribuição cívica, político participativa, e apresentar um nome que, certamente, faria a diferença na história do Ministério da Cultura e aglutinaria os mais diversos segmentos ao seu redor: Danilo Santos de Miranda."

Há ainda grupos que patrocinam outros candidatos, como a atriz Carla Camurati, presidente do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. E o meio político também acompanha com atenção os desdobramentos do caso. No ano passado, a presidente Dilma chegou a cogitar a substituição de Ana de Hollanda pela deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) durante a crise que atingia o ex-ministro do Esporte Orlando Silva. Assim, o PCdoB assumiria o Ministério da Cultura e, em troca, o PT passaria a chefiar o Ministério do Esporte. No entanto, as articulações foram interrompidas depois que informações a respeito da troca vazaram.

Outra situação pendente que pode ser definida pela presidente nos próximos dias é a do Ministério do Trabalho. Diante do apoio das centrais sindicais à nomeação do deputado Brizola Neto (PDT-RJ), a maioria da bancada do PDT no Congresso passou a defender a indicação do deputado Vieira da Cunha (RS). Ambos os nomes agradam ao Palácio do Planalto, mas Dilma quer evitar atritos com um dos lados. Por isso, aguarda que as negociações cheguem a acordo.

Num primeiro momento, Vieira da Cunha, integrante do PDT gaúcho que Dilma ajudou a fundar e deixou quando filiou-se ao PT, era considerado favorito. A cúpula do PDT, entretanto, tentou emplacar no comando do Ministério do Trabalho o secretário-geral da sigla, Manoel Dias. Diante da divergência, Brizola Neto conseguiu o apoio dos sindicalistas e colocou-se na dianteira da disputa, o que gerou um impasse.

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Desafios da Rio+20    Correio Braziliense - 20/03

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De 13 a 22 de junho, o Brasil receberá 80 chefes de Estado e representantes de mais de 190 nações com o propósito de estabelecer condições mais favoráveis ao desenvolvimento sustentável. Vinte anos após a Rio-92, o resgate dos princípios estabelecidos pela conferência mundial sobre o meio ambiente significa, mais do que um referendo de intenções, a incômoda constatação de que as questões ambientais permanecem em plano secundário na agenda global. Em duas décadas, há poucas razões para acreditar que problemas relevantes como o aquecimento global, a carência alimentar e acesso a recursos hídricos merecerão tratamento adequado nos próximos anos. As principais economias do mundo terão, a médio prazo, que concentrar esforços para alcançar o equilíbrio fiscal e gerar empregos. Falta espaço para outros elementos nessa equação.

No contexto brasileiro, a Rio+20 também será realizada em um momento delicado. O governo de Dilma Rousseff deu demonstrações que podem ser interpretadas como uma política de crescimento econômico descolada da preservação ambiental. A construção da usina de Belo Monte e a pesada negociação em torno do Código Florestal reforçam a linha desenvolvimentista, que pressupõe a expansão industrial e de serviços como objetivos primários. Se havia algum romantismo em favor da ecologia em 1992, foi enterrado pelo pragmatismo. Some-se a isso a complicada relação estabelecida no Congresso, com as feridas ainda abertas na base aliada, e uma eleição marcada para outubro.

De um ponto de vista mais abrangente, a questão ambiental permanece em situação delicada porque governos têm o velho hábito de atender a outras prioridades. Até o momento que a natureza se encarrega de dar um alerta definitivo. O debate mais relevante em termos ambientais nos últimos meses não ocorreu em virtude de um consenso internacional. Nasceu sob o signo de uma tragédia no Japão. O vazamento nuclear em Fukushima, decorrente do tsunami, provocou uma onda de discussões sobre os perigos dos atuais modelos de produção de energia.

Com esse panorama, é pouco provável que a Rio+20 resulte em mudanças substanciais. Há um risco concreto de se tornar apenas um encontro de notáveis com boas intenções.
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O corvo e suas várias vidas.  Livro dedicado a versões da obra de Edgar Allan Poe recupera trabalhos de Fernando Pessoa e Machado de Assis CORREIO BSB 20.03
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A fantasmagoria permanente de O corvo, o célebre e popular poema de Edgar Allan Poe, não é cultuada apenas pelos leitores fãs do escritor norte-americano. No campo literário, o pesadelo do jovem narrador, tragado em espiral de loucura com o aparecimento de um corvo sobrenatural, também ressoou no cotidiano de outros grandes, como o francês Charles Baudelaire, o português Fernando Pessoa e o brasileiro Machado de Assis. Críticos e escritores tentaram decifrar os versos de Poe de uma maneira produtiva e desafiadora: traduzindo-o em outras línguas. O poeta e crítico Ivo Barroso, acostumado a manuscritos de William Shakespeare, Hermann Hesse e Umberto Eco, dedica um livro inteiro ao assunto, em O corvo e suas traduções (Leya).

No compêndio, prefaciado por Carlos Heitor Cony, Barroso reúne, além do original, em inglês (The raven), o artigo A filosofia da composição, publicado por Poe um ano após o poema, em 1846, e 11 traduções (três francesas e oito em português). “O texto concentra uma tremenda energia poética, extravasada pela sua dicção. É um poema mais para ser dito que lido. O caso de ter tantas traduções é por ser de estrutura muito difícil. Tem um tipo de estrofe próprio, métrica totalmente diversa dos outros poemas em língua inglesa e macetes, como a mesma rima três vezes num verso e uma quantidade incrível de aliterações. Conseguir equivalência em qualquer outra língua exige um trabalho cuidadoso e demorado”, conta o autor.

A melhor versão em português de O corvo, para ele, vem do punho de Milton Amado, de 1943. “Acho que nada supera a tradução dele na língua portuguesa. Tem identidade física e espiritual parecida com a de Poe. Ele também viveu uma vida meio precária, triste, no interior de Minas Gerais. Milton Amado encontrou em O corvo o poema que ele adoraria ter feito. E se dedicou de tal forma a ele que conseguiu uma obra-prima da tradução. Consegue transmitir toda a emoção do original”, explica.

Tradução é autoria
Barroso defende uma tradução que seja absolutamente fiel ao material de origem. Mas, no caso da poesia, a adequação vocabular, a cadência dos versos e as rimas demandam esforços ainda maiores. “O tradutor sempre está em cima de uma casca de banana, porque ele pode não conhecer todos os idiomatismos (mecanismo próprio de um idioma) da língua e traduzir gato por lebre”, reforça o organizador.

Pior do que uma transcrição equivocada, diz o pesquisador, são as tentativas de modernização de conteúdo ou estilo. “É uma coisa desagradável. Li versões de Coração, de Edmondo De Amicis, com palavras e expressões como ‘guimba’, ‘cara’, ‘deu um safanão’. Gírias são muito perigosas. O texto não deve soar arcaico em português, mas também não deve incorrer em linguagem comum. Na belíssima tradução de Nilson Moulin (Cosac Naify), não tem essas bobagens”, completa.

» No cinema
Uma dramatização dos últimos dias do autor norte-americano, chamada O corvo, deve chegar aos cinemas nacionais em 27 de abril. Apesar do título, o filme nada tem a ver com o poema. Na produção, dirigida por James McTeigue (V de vingança), John Cusack interpreta o poeta. Ele persegue um serial killer que imita os assassinatos narrados nas histórias de Poe.

O CORVO E SUAS TRADUÇÕES
De Edgar Allan Poe. Organização de Ivo Barroso. Leya, 160 páginas. R$ 34,90.

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As traduções / (Início do poema O corvo, de Edgar Allan Poe) CORREIO BSB 20.03

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Machado de Assis, 1883

Em certo dia, à hora, à hora
Da meia-noite que apavora,
Eu, caindo de sono e exausto de fadiga,
Ao pé de muita lauda antiga,
De uma velha doutrina, agora morta,
Ia pensando, quando ouvi à porta
Do meu quarto soar devagarinho,
E disse estas palavras tais:
“É alguém que me bate à porta de mansinho;
Há de ser isso e nada mais”.

Fernando Pessoa, 1924

Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de alguém que batia levemente a meus umbrais.
“Uma visita”, eu me disse, “está batendo a meus umbrais.
É só isto, e nada mais”.

Milton Amado, 1943

Foi uma vez: eu refletia, à meia-noite erma e sombria,
a ler doutrinas de outro tempo em curiosíssimos manuais,
e, exausto, quase adormecido, ouvi de súbito um ruído,
tal qual se houvesse alguém batido à minha porta, devagar.
“É alguém — fiquei a murmurar — que bate à porta, devagar;
sim, é só isso e nada mais.”


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Alta da gasolina a caminho CORREIO BSB 20.03
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Com aumento de R$ 0,03 no litro pela BR Distribuidora, o repasse deverá chegar aos consumidores em breve. Por enquanto, os postos aguardam para saber se o aumento é permanente. O sindicato dos revendedores nega que tenha ocorrido uma queda no preço do etanol



O preço da gasolina deverá subir nas bombas nos próximos dias. A BR Distribuidora, principal revendedora de combustível no Distrito Federal, reajustou o litro do combustível em R$ 0,03 nos últimos 15 dias, segundo informações do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis Automotivos (Sindicombustível). Apesar do aumento, a rede Gasol, responsável por um terço do mercado brasiliense, afirmou que não tem previsão de repassar o reajuste ao consumidor.

Em compensação, o etanol baixou e pode ser encontrado até 8% mais barato em alguns postos do DF. O valor caiu de R$ 2,29 para R$ 2,09 e, de acordo com a tabela da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a média da última semana foi de R$ 2,18. (veja quadro). Há 15 dias, a média era de R$ 2,27. A queda do preço é contestada pelo presidente do Sindicombustível, José Carlos Ulhôa. De acordo com ele, a justificativa da Petrobras para o aumento da gasolina foi justamente a alta do etanol anidro, usado na composição da gasolina. "Acho prematuro falar em queda do preço do álcool. A nova safra está vindo agora", afirmou.

Oferta
Apesar da negativa de queda no valor do etanol pelo Sindicombustível, os consumidores encontram postos com o preço promocional. Mesmo assim, o motorista não deve trocar ainda o combustível por causa do rendimento do álcool 30% inferior em relação a gasolina. Custando, em média, R$ 2,85, a gasolina sai mais vantajosa ao bolso, principalmente se os postos mantiverem a tabela atual. "Não vamos repassar o reajuste ao consumidor porque estamos esperando para ver se a alta é momentânea ou se vai permanecer fixa nas compras daqui por diante", explicou José Miguel Gomes, gerente comercial da rede Gasol.

O aumento da gasolina na distribuidora ocorre um mês depois da posse da nova presidente da Petrobras Maria das Graças Foster, que assumiu o comando da estatal com a bandeira de elevar os preços dos combustíveis no Brasil. Porém, por meio de sua assessoria de imprensa, a BR Distribuidora não confirmou o aumento e alegou que a empresa não comenta a tabela de preços porque o valor final na bomba é livre em cada posto. Além disso, informou que cada cliente tem um contrato específico com a BR Distribuidora e, portanto, os valores negociados podem variar.

Estoque em alta
Em relação ao etanol, a União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica) informou que os preços abaixaram em alguns postos porque as refinarias estão vendendo mais barato o combustível. De acordo com Sérgio Prado, representante da Unica em Ribeirão Preto, a queda do preço se deu porque na safra passada o etanol foi vendido mais caro devido à grande demanda. Para conseguir lucro, os postos repassaram um preço alto ao consumidor que preferiu abastecer com gasolina. O resultado é muito comerciante com etanol estocado. Com a colheita e moagem de cana da próxima safra a partir de abril, a maioria dos revendedores de combustíveis pretende liquidar o estoque para ter dinheiro em caixa. "A baixa do preço do etanol é uma questão circunstancial. Com a vinda da nova safra, a demanda pode aumentar e o preço subir de novo", explicou Prado.

Variação

Média de preços ao consumidor:
Etanol:
19/2 - 25/2    R$ 2,278
26/02 - 3/3    R$ 2,183
4/3 - 10/3    R$ 2,23
11/3 - 17/3    R$ 2,18
Gasolina:
19/2 - 25/2    R$ 2,849
26/2 - 3/0    R$ 2,846
4/3 - 10/0    R$ 2,848
11/3 - 17/3    R$ 2,845
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Estratégia evolutiva
Estudo comprova que a mudança de líder em um grupo de primatas pode levar as fêmeas a abortarem. Assim, elas evitam que o novo macho dominante mate os filhotes quando eles nascem e aumentam suas chances de procriar com um parceiro mais forte CORREIO BSB 20.03
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Fêmeas da espécie Theropithecus gelada com seus filhotes em parque da Etiópia: aborto provocado por reação hormonal

O roteiro lembra os dramas épicos: um membro do grupo conspira contra o líder e, depois de assumir seu lugar, mata todos os descendentes de seu antecessor. Essa história, no entanto, não acontece apenas entre homens. É vivida também por algumas espécies de mamíferos cujos machos, ao tomar o controle do bando, tiram a vida dos filhotes que não são seus. Agora, pesquisadores norte-americanos comprovaram que a prática pode fazer com que fêmeas grávidas passem por abortos espontâneos ao notar a ascensão de um novo macho, uma estratégia para evitar que o organismo gaste energia gerando uma vida que, necessariamente, será destruída.

Esse efeito sobre as fêmeas foi descrito pela primeira vez pela bióloga Hilda Bruce em 1959. Só agora, porém, cientistas conseguiram constatá-lo em animais selvagens por meio de um estudo mais aprofundado, realizado com babuínos Theropithecus gelada, no Parque Nacional das Montanhas de Siemens, na Etiópia. Pesquisadores da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, constataram que o chamado efeito Bruce afeta as fêmeas grávidas da espécie cerca de 80% das vezes em que um estranho chega à comunidade.

O estudo, publicado recentemente na revista científica Science, demorou cinco anos para ser feito e agregou evidências demográficas e hormonais que atestaram o processo. “O infanticídio (matar filhos de outros indivíduos que ainda estão na fase da amamentação) é uma estratégia reprodutiva comum dos machos de espécies de mamíferos que passam por períodos de infertilidade devido à lactação”, afirma a autora da análise, Jacinta C. Beehner, professora de psicologia e antropologia e vice-diretora do projeto de pesquisa sobre geladas da Universidade de Michigan. “Quando eles fazem isso, as mães desses filhotes voltam a ficar férteis, permitindo que o macho infanticida procrie com elas mais cedo”, destaca.

Essa é a perspectiva masculina da história. Já na visão feminina, é um custo muito grande para a mãe perder sua cria, motivo pelo qual algumas espécies desenvolveram uma adaptação para minimizar esse problema. Jacinta acrescenta que, talvez, o estresse psicológico e os feromônios produzidos pelo novo macho causem uma alteração nos hormônios femininos, a ponto de fazê-las perderem o bebê.

A professora do Departamento de Zoologia da Universidade de Brasília (UnB) Regina Helena Ferraz Macedo explica que, embora o aborto não seja uma escolha consciente da fêmea, o processo é um tipo de escolha fisiológica, uma reação do organismo à situação em que os macacos se encontram. “Além disso, quando um novo macho chega ao grupo, as fêmeas voltam a entrar no cio, estado em que ficam férteis. Como esse macho pode ser mais dominante do que o atual líder, para elas se torna vantajoso fazer um novo investimento reprodutivo”, esclarece a especialista em comportamento animal.

           
A pesquisadora Jacinta C. Beehner durante o estudo: comprovação empírica de antiga teoria

Pesquisas
O efeito Bruce foi documentado pela primeira vez em ratos e amplamente estudado em animais de laboratório. De acordo com a zoóloga Cristiane Cäsar, do grupo de Conservação, Ecologia e Comportamento Animal da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), essas pesquisas levaram à sugestão de que o fenômeno aconteceria com primatas, leões e cavalos selvagens. “Esse comportamento acontece porque, em algumas situações, o gasto energético para a fêmea terminar uma gravidez é menor do que o investimento na gestação e na amamentação de um filhote com poucas chances de sobrevivência. Ou seja, ela evita investir nesse animal”, descreve. Regina Ferraz sublinha que não chegar a ter o bebê evita o sofrimento de perder o ente querido. “O instinto maternal pode ser considerado uma forma de apego. No ser humano é consciente, mas, nos animais, é instintivo mesmo.”

Os resultados da análise norte-americana representam um importante avanço científico porque apresentam as primeiras evidências conclusivas do efeito Bruce em uma população selvagem. O estudo também apoia a hipótese de que o fenômeno é uma estratégia adaptativa das fêmeas grávidas em populações caracterizadas pelo infanticídio causado por questões sexuais. “Apesar de esse conceito ser cada vez mais aceito, até obtermos esses dados, não havia respaldo empírico”, afirma Jacinta Beehner.

Segundo Cristiane Cäsar, uma das características mais interessantes da pesquisa é ter conseguido demonstrar o mecanismo reprodutivo em uma espécie de primata em ambiente natural, o que, ressalta, é muito difícil de fazer. Para ela, projetos como esse são muito relevantes, pois demonstram como alguns animais, a fim de garantir sua sobrevivência e de sua prole, lidam com mudanças bruscas na estrutura social ou física do grupo.

Simulação
Há espécies de babuínos cujas fêmeas grávidas adotaram uma estratégia curiosa para manter a vida de seus filhotes quando um novo macho comanda o grupo. O organismo das que estão esperando um filhote do macho que foi expulso, na presença do novo líder, simula fisiologicamente que elas estão no cio. Com isso, elas cruzam com o macho e o fazem ter a ideia de que o filhote é dele, e não de seu antecessor. Desse modo, os macacos, ao nascerem, terão suas vidas poupadas.
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Shaun Tan radiografa em contos a alienação da vida nos subúrbios.   Autor australiano cria fábulas sobre os aspectos mais estranhos da existência citadina vistos pela ótica de jovens FOLHA SP 20/03
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Shaun Tan, escritor e ilustrador nascido em 1977 na Austrália, tornou-se conhecido com "A Chegada" (SM, 2011), "graphic novel" sem texto que explora o estranhamento do exílio.

Em "Contos de Lugares Distantes", surge outro tipo de alienação, a vida nos subúrbios, por meio de contos tradicionais que se apoiam na excelência das ilustrações, mas sem o frescor inventivo da narrativa em imagens.

A existência citadina em seus aspectos mais estranhos fornece o tema de fábulas nas quais a moral é subjacente, emergindo sob forma de melancolia.

Ainda como o antepassado de "A Chegada", que imigrava em busca de vida melhor, os personagens desses contos parecem ter esquecido de onde vieram.

Elementos da periferia das grandes cidades compõem a paisagem: estradas e o emaranhado das ferrovias; túneis e outdoors e trevos e nenhuma placa que indique "saída". E então, a súbita eclosão do absurdo.

Em "Ressaca", um dugongo (o primo australiano do peixe-boi) surge de hora para outra no gramado do jovem casal briguento da vizinhança. Nas histórias de Tan, mais estranhos do que qualquer grande animal aquático são os vizinhos, entreouvidos por meio de seu ranger de dentes no meio da noite.

Quase sempre sob a ótica de crianças e adolescentes, privilegiados observadores da magia do mundo, os contos de Tan promovem improváveis encontros entre John Cheever, o bardo da vida suburbana, e Neil Gaiman, o Franz Kafka infanto-juvenil.

JOCA REINERS TERRON é autor de "Do Fundo do Poço se vê a Lua" (Companhia das Letras)

CONTOS DE LUGARES DISTANTES
EDITORA Cosac Naify
AUTOR Shaun Tan
TRADUÇÃO Érico Assis
QUANTO R$ 45
AVALIAÇÃO bom

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'Macunaíma' tropicaliza romance de Mário de Andrade FOLHA SP 20/03
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"Macunaíma" (Canal Brasil, 22h, 12 anos) não apenas atualiza o romance de Mário de Andrade (aos tempos em que a guerrilha ainda desafiava a ditadura), como de certa forma o tropicaliza (e o traz ao gosto do momento, 1969, marcado mais por Oswald do que por Mário).

Há quem o acuse de oportunismo por se apossar de certas propostas de outro cinema, que, no mesmo momento, era encostado como marginal. Pode até ser. Mas como recusar o encanto dos de Paulo José e Grande Otelo ou uma Dina Sfat pela primeira vez vista como uma atriz bonita e não (só) como séria?

Ao mesmo tempo, porém, às 22h, o TCM entra com um dos melhores John Ford: "O Homem que Matou o Facínora", de 1962.

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