terça-feira, 13 de março de 2012
Trabalho escravo - O Ministério Público do Trabalho está processando
as Casas Pernambucanas por exploração de mão de obra escrava de trabalhadores
bolivianos na cadeia de produção de duas de suas fornecedoras, Argonaut e a
Vanguard. O POPULAR 13.03
-
“Não deve haver tratamento de subordinação por
parte da advocacia.”
Durval
Ramos Neto, conselheiro federal da OAB sobre pedido feito ao CNJ para afastar
dispositivo que prevê advogado de pé diante de juiz O POPULAR 13.03
-
Ministério
Público cobra relatório sobre violações de direitos humanos em Belo Monte O POPULAR 13.03
-
O
juiz de Caiapônia Thiago Soares de Castro avisa que será lançado, no dia 26, o
projeto A Justiça Vai à Escola nas Eleições 2012, que visa explicar e debater a
dinâmica eleitoral O POPULAR 13.03
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JORNALISMO.
Edson Flosi
lança coletânea de reportagens
O
jornalista, advogado e professor Edson Flosi lança hoje, às 18h30, o livro
"Por Trás da Notícia" (Summus Editorial, R$ 51, 168 págs.), na
Livraria Martins Fontes (av. Paulista, 509, tel. 0/xx/11/2167-9900). A obra
reúne 15 grandes reportagens escritas entre 1968 e 1980, algumas publicadas na
Folha. FOLHA SP 13.03
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URBANISMO
»
Luta
pela preservação
Ao
receber a segunda visita da Unesco em 10 anos, o governo dá ênfase à
valorização do patrimônio e do conjunto arquitetônico de Brasília CORREIO BSB 12.03
-
No
Bloco L da 310 Norte, as coberturas ficam aparentes e deixam em evidência o
desrespeito à padronização
As
visitas da Unesco nos países inscritos como patrimônio mundial não são rotineiras.
As missões acontecem apenas em caso de sucessivas denúncias de agressões — como
aconteceu em Brasília. Ao longo da última década, líderes comunitários e
entidades de defesa do patrimônio da capital federal enviaram dossiês à Unesco
e ao Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos), entidade
responsável pelo monitoramento dos bens e das cidades que ganharam o título de
patrimônio da humanidade. Diante das denúncias, o Comitê do Patrimônio Mundial,
reunido em Paris em junho do ano passado, aprovou o envio da missão.
Para
a presidente do Icomos no Brasil, Rosina Parchen, o fato de Brasília receber a
segunda visita de representantes da Unesco em 10 anos é “preocupante” e
demonstra que o Brasil não tem conseguido demonstrar empenho em preservar esse
patrimônio. “Essas visitas não são periódicas, só acontecem quando a situação
está complicada. Mas tenho uma grande expectativa com relação a essa missão da
Unesco e acho que ela pode contribuir para colocar a cidade nos eixos”, avaliou
Rosina.
A
Unesco informou que os consultores terão contato com autoridades, mas também
com representantes de entidades de defesa do patrimônio. O presidente do
Instituto dos Arquitetos do Brasil no DF, Paulo Henrique Paranhos, pretende
debater o assunto com os especialistas. Para ele, é necessário conscientizar a
população sobre a importância do fato de Brasília figurar na lista do
patrimônio mundial. “Muitas pessoas mal-intencionadas espalham por aí a tese de
que o tombamento engessa a cidade. Mas, neste momento, temos que tomar uma
postura mais didática para aproveitar os debates sobre o assunto e explicar
sobre a importância disso.”
Educação
O
secretário de Desenvolvimento Urbano e Habitação, Geraldo Magela, promete que o
governo vai investir em educação patrimonial. “Essa é uma ótima oportunidade
para que o tema seja debatido amplamente pelos brasilienses, para que a cidade
se aproprie desse título. Vamos dar publicidade e transparência, abrindo espaço
para o debate”, garantiu Magela.
Na
última quarta-feira, o governador Agnelo Queiroz deu posse aos integrantes do
Comitê Executivo do Ano de Valorização de Brasília como Patrimônio Cultural da
Humanidade. O grupo terá a responsabilidade de definir o calendário de ações e
comemorações pelos 25 anos da inscrição de Brasília na lista do patrimônio
mundial. Em janeiro, o governador havia assinado o decreto que estabelece 2012
como ano da valorização do patrimônio. O Governo do Distrito Federal também
lançou um site (www.brasiliapatrimonio dahumanidade.df.gov.br) para divulgar
suas ações nessa área.
Uma
das críticas feitas pela Unesco na última missão foi a falta de articulação
entre os governos local e federal com o objetivo de garantir a preservação.
Entre as recomendações incluídas no relatório final da entidade estava a necessidade
de “estabelecer responsabilidades e tarefas claras para cada uma das
instituições envolvidas na preservação” e de “assegurar a efetiva e eficiente
implementação do acordo de cooperação técnica entre o Iphan, o governo e a
administração local”.
Ao
contrário do sugerido pela Unesco, não há hoje uma sinergia entre as diferentes
esferas de governo. Isso ficou claro durante a divulgação da Portaria nº
68/2012 do Iphan, que criou a zona de proteção da área tombada de Brasília. Ela
abrange 10 cidades do DF e cria novas restrições para construções, com a
finalidade de diminuir o impacto sobre a visibilidade na zona protegida.
Logo
depois da publicação da legislação, o GDF anunciou publicamente que não havia
sido consultado durante a elaboração da portaria e, alguns dias depois, lançou
o Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília (PPCUB), com regras
diferentes para essa zona tampão em volta do Plano Piloto. Os dois instrumentos
legais serão analisados durante a visita internacional.
A
coordenadora de Cultura da Unesco no Brasil, Jurema Machado, diz que é
necessário buscar uma uniformidade de entendimentos. Para ela, um dos problemas
mais graves que existem hoje é a falta de coerência entre a legislação
distrital e as normas brasileiras que estabeleceram o tombamento. “No caso de
Brasília, essa questão fica exacerbada porque a cidade é o centro de uma grande
região metropolitana. Existe hoje um problema institucional e legal, além de
uma fiscalização precária”, critica.
Reconhecimento
Além
de Brasília, apenas outra criação que representa o movimento modernista está na
lista da Unesco. É o conjunto arquitetônico Bauhaus, nas cidades de Weimar e
Dessau, na Alemanha. O reconhecimento internacional só veio em 1996, quase uma
década depois de Brasília conquistar o mesmo título. A cidade indiana de
Chandigarh, planejada por Le Corbusier, também pleiteia a inscrição na lista do
patrimônio mundial da Unesco, mas ainda não foi incluída.
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URBANISMO »
Patrimônio vistoriado
Dois
especialistas indicados pela Unesco chegam a Brasília amanhã para analisar as
constantes irregularidades cometidas na capital federal. Relatório da visita
será avaliado em abril por representantes de mais de 180 países que integram o
Conselho do Patrimônio Mundial CORREIO BSB 12.03
-
-
Na
Vila Planalto, as antigas casas deram lugar a prédios de quitinetes
Brasília
surgiu a partir do cruzamento de duas linhas. A simplicidade do traçado de
Lucio Costa é a essência do Plano Piloto. Os monumentos marcantes de Oscar
Niemeyer complementaram a paisagem e transformaram a capital em um símbolo do
movimento modernista. Há exatos 25 anos, a importância dessas ideias inovadoras
foi reconhecida e a cidade recebeu o título de patrimônio mundial da
humanidade. Mas hoje a leveza do desenho de Brasília, vencedor do concurso que
escolheu o projeto da nova capital, contrasta com a vulgaridade e com a falta
de padronização das construções irregulares. Moradores, comerciantes e
empresários da construção civil invadem áreas públicas, cercam os pilotis,
constroem acima do permitido e desfiguram o projeto original.
É
essa realidade que a missão da Unesco, prevista para chegar amanhã a Brasília,
vai se reunir. Os dois especialistas estrangeiros indicados pela organização
percorrerão a cidade, conversarão com autoridades, se reunirão com
representantes de instituições de defesa do patrimônio e, por fim, farão um
relatório. Em abril, esse documento será analisado pelos representantes dos
mais de 180 países que integram o Conselho do Patrimônio Mundial, com sede em
Paris. Os problemas dos brasilienses ganharão dimensões internacionais e serão
escancarados para o mundo inteiro. O argentino Luís Maria Calvo e o espanhol
Carlos Sambrício são os consultores indicados pela Unesco para a missão, que
vai durar cinco dias.
Especialistas
ouvidos pelo Correio acham improvável que Brasília seja incluída na lista dos
países com patrimônio em risco. A possibilidade de a cidade perder sumariamente
o título é quase nula, de acordo com técnicos de várias instituições
consultados pela reportagem. Mas é certo que o relatório dos consultores da
Unesco virá recheado de críticas e recomendações às autoridades brasileiras. A
expectativa das entidades de defesa do patrimônio é que esse puxão de orelha
sirva como alerta e ajude a mudar a realidade de descaso com o projeto original
da cidade (leia Para saber mais).
Essa
será a segunda missão da Unesco a desembarcar na capital brasileira em pouco
mais de uma década. Em 2001, dois representantes da organização visitaram
Brasília e algumas irregularidades chamaram a atenção desses especialistas. Mas
quase nenhuma das recomendações foi seguida. À época, eles sugeriram que o
governo controlasse a construção de edifícios residenciais na beira do Lago
Paranoá. Mas, de lá para cá, condomínios luxuosos se multiplicaram nas margens
do espelho d’água, com apartamentos de até quatro quartos para famílias de
classe alta.
Os
técnicos da Unesco também indicaram a necessidade de controlar a ampliação da
Vila Planalto, recomendação ignorada. Na região, as antigas casas de um
pavimento deram lugar a prédios de quitinetes residenciais. A quantidade de
edifícios acima da altura permitida chama a atenção e mudou completamente a
paisagem da antiga área de pioneiros.
Há
11 anos, os representantes da organização pediram ainda pressa ao governo para
criar uma zona de proteção ao redor da área classificada como patrimônio
mundial e recomendaram que o governo desse prioridade à elaboração de um plano
diretor para a região protegida. Essas duas medidas só saíram do papel no mês
passado, com atraso de mais de uma década e às vésperas da chegada da segunda
missão a Brasília.
Pressão
Filha
do urbanista Lucio Costa, a arquiteta Maria Elisa Costa (leia entrevista na
página 18) acompanha com atenção as discussões a respeito da preservação do
projeto original de Brasília — elaborado por seu pai, em 1957. Para ela, apesar
das inúmeras irregularidades que persistem na cidade, a capital não corre o
risco de perder o título porque a essência das ideias de Lucio Costa está
preservada. “Valorizar demais coisas menores (como invasões de áreas públicas)
acaba desmoralizando indevidamente o tombamento do essencial. E esse é o sonho
dos especuladores”, comentou.
A
arquiteta acredita que a melhor forma de acabar com as irregularidades que
comprometem a concepção de Brasília é reduzir a pressão sobre a área central.
“Acho que, mesmo com os problemas que existem, retirar Brasília da lista do
patrimônio mundial seria uma desmoralização até mesmo para a Unesco. O
interessante seria que alertassem para os riscos existentes, indicando
alternativas para resolvê-los como, por exemplo, estimular o desenvolvimento de
pólos criadores de empregos e aliviar a pressão sobre o Plano Piloto”, explica
a especialista.
O
superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(Iphan), Alfredo Gastal, compartilha da mesma opinião. Segundo ele, é
imprescindível olhar o DF como área metropolitana. “Levando em consideração a
população dos municípios vizinhos, essa região tem uma população que chega a
3,2 milhões de habitantes. Mas, hoje, 60% dos empregos estão no Plano Piloto e
é essa a origem de todos os problemas”, justifica Gastal. “Não é possível
preservar uma cidade tombada sem olhar para a região metropolitana. Essa é a
única saída para proteger o Plano Piloto e, ao mesmo tempo, garantir qualidade
de vida a todos”, acrescenta Gastal.
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Brasileiros desconhecem a Rio +20. Por quê?
Paulo
Itacarambi. Vice-presidente do Instituto
Ethos CORREIO BSB 13.03
-
Pesquisa
realizada neste início de ano por uma parceria entre a empresa Market Analysis
e a ONG Vitae Civilis mostrou que apenas 11,5% dos brasileiros têm alguma
informação a respeito da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento
Sustentável, a Rio+20, que vai ocorrer no Rio entre os dias 14 e 22 de junho
deste ano.
A
pesquisa foi realizada por telefone, em nove capitais, com 806 pessoas de 18 a
69 anos de idade. Dos entrevistados, 4% pertencem à classe A, 29% à B, 49% à C
e 18% às classes D e E. Entre todos, apenas 4,4% ouviram "muito"
sobre a Rio+20, enquanto 7,1% disseram ter ouvido "alguma coisa".
Dos
11,5% que conhecem a Rio+20, 73% se interessam pelos assuntos relacionados ao
evento. Os mais mencionados foram desenvolvimento sustentável, economia verde,
combate à violência, combate ao tráfico de drogas, Copa de 2014, erradicação da
pobreza, meio ambiente (geral) e combate à poluição.
O
Rio de Janeiro, onde será realizada a conferência, é a cidade do país em que a
população tem mais conhecimento a respeito: 24%. Por que tão pouca gente está
interessada na Rio+20?
Na
minha opinião, as discussões ocorridas até agora têm colocado foco apenas nas
negociações, sem se preocupar em esclarecer a sociedade sobre as mudanças que o
evento poderá trazer ao mercado e à vida das pessoas. A mídia também passa ao
largo do debate e não provoca os órgãos e entidades envolvidos a dar esses
esclarecimentos para, com isso, aumentar o interesse da população e, em
consequência, a relevância da conferência para os diversos segmentos da
sociedade.
Quais
podem ser os impactos da Rio + 20? São muitos e requerem profunda reflexão. Por
isso, a Conferência Ethos 2012 vai discutir A empresa e a nova economia — o que
muda com a Rio + 20, entre os dias 11 e 13 de junho, em São Paulo. Serão
analisados em profundidade os temas que vão ser objetos de negociação na Rio +
20.
As
discussões vão desenhar cenários para verificar o impacto do que poderá ser
decidido — e também do que não for decidido — no mercado e na vida das pessoas.
Haverá também o aprofundamento das reflexões sobre os temas estruturantes da
nova economia e o aperfeiçoamento das propostas de mecanismos que ajudem a
internalizar as premissas do desenvolvimento sustentável na economia e na
política.
Vamos
construir um cenário com duas das propostas em discussão. Suponhamos que a
Rio+20 aprove a orientação já estabelecida em seu "rascunho zero"
oficial (documento que está orientando as discussões da conferência) de
"eliminar gradualmente subsídios que exerçam efeitos negativos sobre o
meio ambiente". Uma das consequências dessa decisão seria, por exemplo,
políticas econômicas totalmente reformuladas, levando em conta os critérios
decididos na Rio + 20.
No
caso brasileiro, o governo não poderia reduzir o IPI dos carros e da linha
branca sem exigir contrapartidas que diferenciassem produtos poluentes de não
poluentes. E a indústria, para se beneficiar de isenções e outros incentivos
fiscais, precisaria investir numa produção mais verde. O cidadão teria à
disposição, por exemplo, carros menos poluentes e geladeiras mais eficientes em
consumo de energia, a preços menores.
Se
a Rio+20 resolvesse se apresentar como a saída para a crise, então poderíamos
imaginar uma transformação radical nos negócios e no nosso modo de vida, pois
as premissas do desenvolvimento sustentável norteariam as decisões dos governos
e das empresas.
Um
dos aspectos mais cruéis do nosso modelo insustentável de civilização é a crise
financeira atual, que aumenta a cada nova onda e vai levando consigo a
confiança no mercado e nas instituições democráticas, os valores que norteiam
as relações humanas e os recursos materiais e naturais das sociedades e do
planeta.
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São
Pixinguinha
Exposição
inédita detalha toda a trajetória de um dos principais nomes da música
brasileira do século 20 CORREIO BSB 13.03
-
Na
infância, Alfredo da Rocha Vianna Filho era chamado de “Pizindin”, expressão do
dialeto africano que significa menino bom. À época, primeira década do século
20, em meio a uma epidemia que se alastrou pelo Rio de Janeiro, o menino
contraiu bexiga (varíola), que deixou marcas em seu rosto. Da
Essa
e outras — muitas — histórias sobre um dos maiores gênios da música popular
brasileira, são contadas em livros por diversos autores. A música desse notável
compositor, flautista e saxofonista, registrada numa infinidade de discos,
gravados por ele e por músicos que o têm reverenciado ao longo do tempo, mantém
viva sua memória.
Algo
mais abrangente sobre o criador de temas antológicos como Carinhoso, Ingênuo,
Lamento, Naquele tempo e Rosa, poderá ser apreciado pelos brasilienses a partir
de hoje, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). É Pixinguinha, a exposição
inédita e interativa, integrada por instrumentos musicais, gravações, vídeos,
fotos, imagens de época e objetos pessoais desse grande brasileiro.
Hoje,
às 20h, na Sala Villa-Lobos, a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional, sob a
regência do maestro Claudio Cohen, apresentará o concerto Pixinguinha
Sinfônico, com a participação de Odette Ernest Dias (flauta), Carlos Malta
(sopros) e Hamilton de Holanda (bandolim). O acesso é gratuito.
Desconhecido
do grande público, esse concerto, criado entre as décadas de 1930 e 1960, é um
precioso conjunto de arranjos sinfônicos escritos por Pixinguinha para
composições como Carinhoso, Stela e Rancho abandonado. O repertório está
registrado em CD, gravado pela Orquestra Petrobras Sinfônica, sob a regência do
maestro Sílvio Barbato, há quatro anos.
Ícone
O
Pixinguinha Sinfônico faz parte de uma série de três discos — os outros são
Pixinguinha Sinfônico Popular e Pixinguinha no Cinema — lançada em 2009. Quem
teve a iniciativa de criar a série foi a produtora carioca Lu Araújo, com a
intenção de apresentar ao público o lado menos conhecido do ícone de nossa
música.
Lu foi além. Curadora da mostra, ela reuniu e
organizou todo o material exposto, a partir de garimpagem em instituições
públicas, como Fundação Banco do Brasil, Arquivo Nacional, Museu da Imagem e do
Som, Museu Villa-Lobos, Funarte; e particulares, em especial o Instituto
Moreira Salles. O projeto foi idealizado em parceria com o neto do artista,
Marcelo Vianna, que disponibilizou o acervo familiar; e com o maestro Caio
César, responsável pela direção musical da exposição.
“Vamos
mostrar os principais pontos da vida de Pixinguinha e desfazer alguns nós que a
história não conta”, adianta Lu. O visitante poderá ver de perto o saxofone e a
flauta usados pelo músico, seus documentos pessoais, o passaporte, gravatas,
chapéu, discos, condecorações e, principalmente, fotografias — mais de 800 — e
vídeos que recuperam imagens de época. “O brasiliense terá o privilégio de
tomar contato, em primeira mão, com todo esse importantíssimo acervo”,
acrescenta.
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PERFIL » Um
autor no comando
Melhor
diretor em Cannes por Drive, Nicolas Winding Refn desponta como um dos nomes
mais cultuados do cinema contemporâneo CORREIO BSB 13.03
-
Filmo
a serviço das emoções dos personagens. Quanto melhores as emoções, melhor o filme"
Nicolas
Winding Refn, cineasta
Na
programação do 2º FicBrasília, organizado em abril de 2000 na Academia de
Tênis, o nome do dinamarquês Nicolas Winding Refn não merecia o destaque
conferido aos longas mais recentes de Carlos Saura (Goya), Mike Leigh
(Topsy-Turvy) e Takeshi Kitano (Verão feliz). Não foram poucos, aliás, os
espectadores que preferiram dispensar os filmes do cineasta, na época um
desconhecido. Mas foi nas sessões de Pusher (1996) e Bleeder (1999) que a
cidade descobriu, antes dos circuitos de Rio e São Paulo, um estilo que seria
acolhido, mais tarde, como símbolo cult.
Onze
anos antes de vencer o prêmio de melhor diretor no Festival de Cannes por
Drive, thriller em cartaz nos cinemas brasilienses, Refn recebeu o convite para
visitar a capital. Antes, conversou com o Correio por telefone, listando os
“padrinhos” de um cinema apaixonado por filmes: Alfred Hitchcock, François
Truffaut e… “Devo tudo a eles e a mais um: Zé do Caixão”, acrescentou. Nos
jornais, o cineasta era descrito como representante da “nova geração do cinema
dinamarquês”. Desde então, parece empenhado em mostrar que é mais: um cineasta
de alcance mundial.
Oitavo
projeto da carreira, Drive foi o primeiro filmado nos Estados Unidos. Antes
disso, dirigiu um épico sobre as Cruzadas (Valhalla rising, de 2009) e uma
cinebiografia sobre o inglês Michael Gordon Peterson (Bronson, de 2008).
Convidado pelo ator Ryan Gosling, aceitou conhecer a cidade-habitat do
protagonista do livro de James Sallis: uma Los Angeles soturna, misteriosa,
recortada em flashes de luzes coloridas. Ainda hoje, Refn admite que conhece
muito pouco sobre aquela paisagem — quando teve que se mudar para a América,
nos anos 1980, foi Nova York o pouso escolhido. Tampouco é um fissurado por
carros: após oito tentativas, desistiu de tirar a carteira de habilitação. Mas
sentiu a receptividade de uma equipe que não queria atrapalhá-lo. Conseguiu
fazer, por isso, um filme que não trai em nada as próprias manias.
“Adoro
a linguagem do silêncio”, comentou, em entrevista ao The A.V. Club. “Os grandes
heróis são sempre mais silenciosos. Existe toda uma mitologia nesse sentido. O
homem mais silencioso é o mais imprevisível”, observou. É por essas e outras
que Drive parece dar sequência à galeria de anti-heróis de filmes como Pusher e
Medo X (2003), que começam a atiçar a curiosidade do público brasileiro
principalmente via internet (nenhum deles teve lançamento comercial no país). A
identidade do personagem de Gosling, sem nome, é um enigma a ser desvendado
pelo público: dublê em fitas de ação, motorista e criminoso, ele despista o
espectador a cada cena; e sem pronunciar muitas palavras.
Troféu
Em
Cannes, no ano passado, a composição desse homem-enigma impressionou boa parte
da crítica internacional e o presidente do júri, Robert de Niro. Numa
competição dominada por nomes conhecidos, como Terrence Malick (vencedor da
Palma de Ouro, com A árvore da vida), Lars von Trier (Melancolia) e Pedro
Almodóvar (A pele que habito), ficou com Refn um dos troféus mais cobiçados da
mostra. “Receber um prêmio de Robert de Niro fechou o ciclo do filme de uma
forma inusitada. Foi estranho ser reconhecido pelo homem que personificou, em
Taxi driver, o tipo de personagem que Gosling interpreta em Drive”, observou.
O
longa de Martin Scorsese, sobre um taxista transtornado em Nova York, não foi a
única referência para que Refn criasse o universo de um filme que simula a
atmosfera de um certo cinema comercial dos anos 1980. Na mesa de montagem, o
“hit” Negócio arriscado (1983), com Tom Cruise, serviu de modelo para a cena
dos créditos iniciais. E, acima do trabalho de cineastas como Michael Mann e
William Friedkin, importante era evocar os contos de fadas dos irmãos Grimm. “O
filme é sobre as aventuras numa cidade quase mitológica. Eu queria que o filme
provocasse, por isso, as sensações de uma história que os Grimm teriam
escrito”, despistou, à revista Slant.
Emoções
Combinar
referências pop como quem seleciona freneticamente um punhado de fitas
videolocadora é um dos traços que Refn preserva desde o primeiro filme. Para os
detratores, essas homenagens são feitas de forma frívola, sem substância. Mas o
próprio cineasta reconhece o tom fetichista de uma arte referencial, composta a
partir da colagem de imagens e sensações. “Filmo à serviço das emoções dos
personagens. Quanto melhores as emoções, melhor o filme”, afirmou o cineasta de
41 anos, nascido em Copenhague, filho de um editor de filmes, Anders Refn (que
trabalhou em Anticristo e Ondas do destino, de Lars von Trier), e de uma
fotógrafa, Vibeke Winding.
A
repercussão de Drive, como era de se esperar, aqueceu as expectativas para os
próximos projetos do cineasta. São dois: Only god forgives, que não vai fugir
muito do repertório do diretor, trata de lutas de boxe e gângsters, e está
sendo rodado na Malásia com Ryan Gosling. Mais ambicioso será o remake de
Logan’s run, fita de ficção-científica setentista. Nesse segundo projeto, Refn
conta com o apoio das “pessoas inteligentes” que conheceu em Hollywood. Mas
está pronto para desembarcar num território temido por muitos autores cult: a
estrada perigosa do cinema comercial.
Cine
cult
Quatro
filmes de Refn que, inéditos no Brasil, provocam paixões na web.
»
Pusher (1996)
Grande
sucesso na Dinamarca, trata o submundo do tráfico de drogas em Copenhagen como
combustível para um thriller sangrento à la Tarantino. Teve duas continuações.
»
Medo X (2003)
O
thriller psicológico com John Turturro afundou na bilheteria e levou a
produtora de Refn à falência. Mas há quem diga que é um dos melhores do
cineasta.
»
Bronson (2008)
Refn
injeta estilo na cinebiografia sobre Michael Gordon Peterson, considerado um
dos criminosos mais perigosos do Reino Unido.
»
Valhalla rising (2009)
Numa
mudança surpreendente de tema, o cineasta vai a mil anos depois de Cristo para
contar a saga de um guerreiro silencioso no tempo das Cruzadas.
DRIVE
(EUA,
2011, thriller, 100min, não recomendado para menores de 16 anos). De Nicolas
Winding Refn. Com Ryan Gosling, Carey Mulligan e Bryan Cranston. Confira salas
e horários no Roteiro.
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URBANISMO » Brasília
sob inspeção
Dois
representantes da Unesco iniciam hoje visita pela cidade para conferir se as
regras do tombamento estão sendo cumpridas. A viagem foi motivada por denúncias
de agressões ao projeto de Lucio Costa
Notícia
Gráfico CORREIO BSB 13.03
-
Nos
próximos cinco dias, os brasilienses poderão cruzar com dois peculiares
visitantes em passeio pelas ruas da cidade. Os consultores enviados pela Unesco
chegam hoje à capital para uma missão e vão percorrer os principais pontos do
Plano Piloto com o intuito de verificar como anda a preservação do projeto
original de Brasília. O argentino Luís Maria Calvo e o espanhol Carlos
Sambrício são os especialistas designados pela organização para essa visita. O
Centro de Patrimônio Mundial da Unesco decidiu enviar representantes à cidade
por conta das inúmeras denúncias de agressão ao patrimônio, concebido pelo
urbanista Lucio Costa. Hoje à tarde, os consultores vão apresentar detalhes do
trabalho que será feito em um encontro com a imprensa, representantes dos governos
local e federal e de entidades não governamentais.
A Unesco não divulgou detalhes da agenda dos
especialistas para os cinco dias que passarão em Brasília. Mas a organização
informou que Sambrício e Calvo vão verificar pontos levantados durante a última
missão da entidade, realizada em 2001. À época, os representantes apontaram uma
série de problemas e fizeram 19 recomendações ao governo brasileiro, mas a
maioria foi ignorada. Desta vez, eles vão rever irregularidades como
construções de apartamentos na beira do lago e o caos dos puxadinhos nas
entrequadras comerciais das asas Sul e Norte.
Entre
os assuntos destacados pela Unesco para serem avaliados durante essa visita,
está o impacto das obras de infraestrutura para a Copa de 2014. Os técnicos da
Unesco querem saber como o governo está implementando as benfeitorias
necessárias ao evento, sem que haja comprometimento do projeto original da
cidade. Eles também querem analisar legislações relacionadas à preservação do
patrimônio, como o Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília
(PPCUB), apresentado no mês passado, e o Plano Diretor de Ordenamento
Territorial (Pdot), cujo projeto de revisão está parado na Câmara Legislativa.
Sambrício
e Luís Calvo terão até abril para elaborar um relatório sobre a visita. O
documento será posteriormente avaliado e discutido durante a próxima reunião
anual do Centro de Patrimônio Mundial, que, em 2012, será realizada em São
Petesburgo, na Rússia. Na próxima sexta-feira, os dois consultores participarão
de uma segunda entrevista coletiva, em que farão um balanço dos dias em
Brasília.
Qualidade
de vida
O
arquiteto e professor da Universidade de Brasília (UnB) Cláudio Queiroz,
ex-superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(Iphan), explica que a preservação do projeto original de Brasília representa
uma garantia de qualidade de vida para a população. O maior desafio, segundo
ele, é aliar a proteção ao crescimento natural. “A cidade não foi tombada
quando já estava pronta, pelo contrário, ela continua em construção. E esse
crescimento precisa respeitar as escalas” justifica. “Hoje, o que vemos é a
contradição entre os interesses de grupos econômicos e de construtoras com a
preservação do patrimônio. Mas Brasília precisa ser protegida porque é uma
referência para o mundo, foi a primeira cidade moderna a ser tombada”,
acrescenta Queiroz.
Durante
reinauguração do Centro de Saúde
nº
1 de Brazlândia, o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), falou
ontem sobre a visita de dois especialista da Unesco à capital federal. “Eles
vêm num período em que o governo está adotando o patrimônio como eixo
fundamental do desenvolvimento. Estamos invertendo a lógica do passado, na qual
a especulação, a ilegalidade e a anarquia estavam destruindo não só o
patrimônio, mas a qualidade de vida da população do DF”, avaliou. Para o
governador, Brasília não corre o risco de perder o título. “Não haverá
problemas, a não ser alguns corriqueiros de anos de descaso. Agora é hora de se
ajustar e defender esse patrimônio”, concluiu.
Colaborou
Thaís Paranhos
Currículos
Quem
são os especialistas que participam dessa missão em Brasília:
»
Luís Maria Calvo
Arquiteto
pela Universidade Católica de Santa Fé, Argentina, é doutor em “História da
Arquitetura na Iberoamérica” pela Universidade Pablo de Olavide, Sevilha,
Espanha, e especialista em história urbana e conservação de patrimônio. Calvo é
professor e pesquisador da Faculdade de Arquitetura, Desenho e Urbanismo da
Universidade Nacional do Litoral, Santa Fé, Argentina. Como membro do Conselho
Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos), já realizou missões de
monitoramento em outros sítios do Patrimônio Mundial.
»
Carlos Sambrício
É
professor titular de arquitetura e urbanismo da Escola Técnica Superior de
Arquitetura de Madri desde 1986. Tem doutorados pela Universidade Complutense
de Madrid e pela l’École des Hautes Etudes de Sciences Sociales, de Paris. É
professor visitante do Centro de Humanidades Getty em Los Angeles, na
Universidade de Harvard, Estados Unidos, e no Centro para Arquitetura
Canadense, em Montreal, além de professor visitante no Bauund
Stadtbaugeschichte da Academia de Artes Visuais em Hamburgo, Alemanha, e
Universidade Politécnica da Escola de Arquitetura de Milão.
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RIO+20. ENTREVISTA / RUBENS RICUPERO. Governo brasileiro e ONU diluíram agenda da
Rio+20
PARA
O EX-MINISTRO, AUSÊNCIA DE METAS VEM DO RECEIO DE EXPOR AS CONTRADIÇÕES ACERCA
DAS QUESTÕES AMBIENTAIS FOLHA SP 13.03
-
O
governo brasileiro é atrasado em matéria de economia verde e, por isso, tem
sido cúmplice das Nações Unidas na diluição da agenda da conferência Rio+20.
Quem acusa é o embaixador e ex-ministro do Meio Ambiente (1993-1994) Rubens
Ricupero.
Um
dos principais negociadores brasileiros na Rio-92, Ricupero, 74, coordena um
grupo de políticos, intelectuais e cientistas que deve encaminhar ao governo um
documento que critica as baixas ambições do país nessa área, especialmente em
comparação com China e Coreia, e pede a criação de um ministério da economia verde.
Em
entrevista à Folha, ele manifesta o temor de esvaziamento da Rio+20. "Se
você faz uma agenda modesta, está dando argumentos para que o pessoal não
venha."
Folha
- O governo tem dito que a Rio+20 não pode ser comparada à Eco-92. Isso é medo
de criar expectativa demais?
Rubens
Ricupero - É receio de desapontamento e expressão das contradições que existem
no governo em matéria de definições ambientais.
Como
o governo é pouco claro nisso, procura acentuar mais temas econômicos e
sociais. Você nota isso no desejo de inserir a Bolsa Família como um dos êxitos
brasileiros na luta contra a desigualdade, que estaria em um dos três pilares
da conferência. Não deixa de ser verdade, mas é preciso levar em conta que, no
desenvolvimento sustentável, dois pilares, o econômico e o social, são
definidos em função do ambiental. A Bolsa Família é meritória, mas não tem
muito a ver com ambiente.
De
outro lado, há o receio de não conseguir repetir aquele êxito extraordinário.
Em 1992, a conferência começou com a assinatura de duas convenções-quadro da
ONU, a de mudanças climáticas e a de biodiversidade, coisas que você não pode
repetir toda hora. Não me surpreenderia saber que muitos chefes de Estado
talvez não venham.
Mas
o próprio desenho modesto da agenda da conferência não torna a Rio+20 à prova
de fracasso, e portanto atrativa para os chefes de Estado?
Se
você tem medo de que não dê certo e por isso começa a diminuir a expectativa e
faz uma agenda modesta, está dando argumentos para que o pessoal não venha.
É
difícil que essas figuras que estão batalhando com a crise do euro venham se a
conferência for só uma declaração. Talvez esse formato de reunião já condene a
um anticlímax. Uma comemoração nunca é a mesma coisa, é uma evocação, não uma
repetição do fato.
Então
não havia como a agenda da conferência ser mais ambiciosa do que ela é?
Você
poderia fazer uma coisa honesta. Admitir que a conferência talvez não
conseguisse resolver todos os problemas, mas dizer: nós não vamos varrer para
debaixo do tapete os problemas que nos ameaçam, que são a questão climática e a
do ritmo acelerado de extinção da biodiversidade. Uma maneira de fazer isso foi
aventada pelo ex-senador americano Tim Wirth [que era subsecretário de Estado
dos EUA na Eco-92].
A
ideia era adiar a Rio +20 para o fim do ano, e que ela fosse antecedida pela
Convenção do Clima e a da Biodiversidade. O pessoal ficou apavorado (risos).
Com medo de que elas dessem em nada.
Nos
documentos que o Pnuma [Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente]
preparou para uma reunião há duas semanas, havia um sobre como medir avanço ou
retrocesso em tudo: camada de ozônio, tóxicos, aquecimento, extinção. Isso
permitiria saber para onde as coisas estão indo.
Indicadores
de desenvolvimento sustentável.
É.
Se tivesse havido coragem, poderiam ter preparado uma reunião que não
escamoteasse a gravidade dos problemas. O que se está procurando fazer, e não
somos só nós -a conferência é da ONU- é disfarçar isso.
Como
isso se manifesta?
Uma
das formas é a diluição da agenda. O governo brasileiro diz uma coisa que é
difícil de criticar em si: que o desenvolvimento sustentável tem três pilares,
o ambiental, o econômico e o social. Mas a forma como isso está se traduzindo é
que tudo entra na agenda, até a reforma do sistema financeiro. O problema
ambiental, que na verdade é a razão principal, acaba sendo um entre 678.
Houve
sequestro da agenda da conferência pela agenda do governo brasileiro?
Não.
A ONU baixou o nível de expectativa. O Brasil só se aproveitou disso. O governo
é atrasado no tema de economia verde, a maioria das pessoas nem compreende esse
conceito, há contradições.
O
maior exemplo é o Código Florestal. Estamos na véspera da conferência com esse
pessoal ruralista querendo votar uma coisa que é a negação da conferência. Como
o governo tem essas contradições, a saída é diluir.
A
ministra Izabella Teixeira (Meio Ambiente) disse que ninguém tem mais
credenciais verdes do que o Brasil.
Isso
é em parte verdade, por causa do etanol, das hidrelétricas. Mas tem outro lado.
Estão fazendo mais termelétricas. O governo nunca conseguiu fazer um plano de
transição para uma economia de baixo carbono.
A
única medida de política econômica que eu conheço que o Brasil tomou nos
últimos anos com um conteúdo ambiental foi o favorecimento a produtos de linha
branca [eletrodomésticos] que economizavam energia.
O
que você não tem é um projeto de país, de governo, em direção à economia verde,
como a China está fazendo, com investimentos pesados em inovação. No dia em que
eles tornarem a energia solar competitiva, vamos ter de comprar deles, porque
eles estão investindo, nós não.
Por
que não?
Falta
um lugar onde se possa pensar essa política, porque isso não é uma política do
Ministério do Meio Ambiente. Você precisa integrar o conceito de baixo carbono
no planejamento econômico. Mas você tem planejamento econômico no Brasil onde?
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JOÃO PEREIRA COUTINHO. O
racismo tem cura? Que valor moral terá
um ser humano que só consegue controlar o seu racismo por influência
medicamentosa? FOLHA SP 13.03
-
Samuel
Fuller é um dos meus diretores de eleição. E o seu "Cão Branco"
(1982) está no topo da lista. O leitor conhece?
Se
não conhece, aconselho. É a história, inicialmente idílica, de uma jovem atriz
de Hollywood que encontra um pastor alemão branco a vaguear, perdido, pela
vizinhança. A moça apaixona-se pelo cão. E vice-versa. Inevitável: o bicho é
doce, a moça, idem. Uma história de amor.
Só
existe, digamos, um probleminha: sempre que o cão encontra um negro pela
frente, o seu instinto é atacá-lo e matá-lo com uma violência digna de Dr.
Jekyll e Mr. Hyde.
O
cão branco é um "cão branco" -e não me refiro à cor do pelo. Foi
treinado para atacar negros desde a infância por um dono que lhe transmitiu
esse ódio assassino.
Horrorizada
com essa "dupla personalidade", a moça procura ajuda para o cão. E,
na era da terapia, também existem terapeutas caninos dispostos a
"curar" o racismo do bicho. Pormenor magistral: o terapeuta que
aceita tratar o cão é negro.
Lembrei
de Samuel Fuller depois de ler a descoberta recente da Universidade de Oxford
de que existem drogas que diminuem o nível de racismo nos seres humanos.
As
drogas nem sequer são invenção recente: são meros betabloqueadores que os
pacientes cardíacos conhecem muito bem e que os alunos estressados antes dos
exames orais conhecem ainda melhor.
A
medicação diminui o ritmo cardíaco, reduz as manifestações de ansiedade do sistema
nervoso periférico -e a pessoa conhece umas horas de paz com o mundo, sem
exteriorizar a sua tempestade interior. A máscara perfeita.
Assim
foi: através de testes psicológicos, os candidatos que tomaram a droga
manifestaram uma "abertura à diferença" maior do que o grupo de
controle, a quem foi ministrado um placebo.
Curiosamente,
a droga só parece funcionar com o preconceito racial; não é eficaz com outros
preconceitos (religiosos, sexuais etc.).
Conclusões?
O racismo nasce do medo, dizem os pesquisadores. E acrescentam, com um rasgo de
otimismo: é possível controlar esse medo e suas manifestações exteriores.
Ainda
que tudo isso seja verdade -clinicamente falando-, a questão fundamental não
passa por saber se é possível controlar esse medo por via farmacológica. A
questão começa por ser ética: será desejável que assim seja?
Ou,
dito de outra forma, que valor moral terá um ser humano que só consegue
controlar o seu racismo por influência medicamentosa? E que valor terá a
sociedade a que ele pertence -uma sociedade disposta a medicalizar, e
perversamente a desculpar, qualquer comportamento racista?
Se
eu fosse negro, a resposta seria ainda mais fácil: valor nenhum. E, mal por
mal, antes uma sociedade na qual os racistas são identificáveis e identificados
do que uma farsa médica onde a repugnância que sentem pela minha pele é
controlada por uma cortina farmacológica.
Uma
cortina onde nenhum gesto é autêntico; nenhuma palavra; nenhum afeto; nem
sequer nenhum desafeto.
Uma
sociedade civilizada aceita a imperfeição humana e o cortejo de preconceitos
que fazem parte dessa natureza. E, claro, pune criminalmente os comportamentos
desviantes que podem brotar desses preconceitos.
Mas
não é papel de uma sociedade civilizada operar sobre os homens uma espécie de
"engenharia da tolerância" que, no limite, apenas desculpa o
indesculpável e falsifica qualquer relação social. Um racista é um racista, não
um doente. O que implica a séria possibilidade de o racismo não ter cura.
No
filme de Samuel Fuller, o "cão branco" inicia os seus tratamentos.
Lentamente, perigosamente. Progressos, alguns: o cão ladra menos quando o
terapeuta negro se aproxima dele; há mais confiança, menos hostilidade; e, por
momentos, até acreditamos que a cura milagrosa é possível. O "cão
branco" será apenas mais um cachorro de pelo branco.
Fatalmente,
não será: na última e decisiva sequência do filme, tudo o que vemos é a
ferocidade incontida de um animal para lá de qualquer salvação.
O
filme termina com o único momento de paz a que se permite: quando o cão é
matéria inerte, abatido no centro da arena.
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Joca Terron lança misto de novela com HQ. Em
"Guia de Ruas sem Saída", escritor cuiabano acompanha duas vidas em
ruínas FOLHA SP 13.03
-
O
escritor Joca Reiners Terron, 44, levou ao extremo a ideia de uma narrativa
fragmentada no recém-lançado "Guia de Ruas sem Saída".
Além
de intercalar texto e quadrinhos em tramas que se cruzam no tempo e no espaço,
a novela acompanha dois homens caindo aos pedaços. Inclusive no sentido
literal.
Um
deles, incapaz de concatenar ideias, perambula expelindo chips eletrônicos
enquanto perde partes do corpo. O outro, prestes a passar por um transplante
num país longínquo, constata que seu casamento está em ruínas.
"A
história é toda quebrada. Ela está se desmantelando, como personagens que a
narram", resume o escritor.
Aos
pensamentos de um e outro somam-se sequências de imagens em páginas inteiras,
sem texto, como num "filme mudo surrealista", conforme define o
escritor. Das 256 páginas do livro, 135 foram ilustradas por André Ducci.
Juntar
todos esses pedaços tomou mais de dez anos de Terron, que chegou a pensar em
ilustrar sozinho a novela.
"Dois
anos atrás, quando percebi que estava sendo megalomaníaco e nunca conseguiria
escrever e desenhar tudo a tempo, convidei o Ducci, cujo trabalho conheci
fazendo uma pesquisa sobre quadrinistas brasileiros."
O
tempo em questão foi o surgimento de um prazo que "inspirou" Terron a
concluir o trabalho: em 2007, ele ganhou da Petrobras uma bolsa de criação
literária para o livro, e 2011 era a data-limite para apresentação do texto.
"Já
estava no bico do corvo. Precisei voltar a acreditar na história, que tinha
deixado de ser o que era no início. A ponto de eu precisar lutar por seis meses
contra a burocracia do MinC para mudar o título do meu próprio livro."
(Para
constar, o livro fora inscrito sob o pomposo título "A Extinção da
Infância".)
SÓSIAS
Terron,
que vive em São Paulo, e Ducci, em Curitiba, não se conheciam pessoalmente
quando conversaram sobre as ilustrações.
Terron
descreveu o personagem principal -alto, grande, barbudo, careca, algo como ele
próprio.
"Quando
o Ducci mandou os desenhos, falei: 'Você me desenhou? Ficou igual a mim!' E ele
respondeu: 'Não, na verdade eu tava me desenhando", lembra o escritor.
"Aí ele mandou uma foto dele. Não temos nada a ver um com o outro, mas o
desenho também parecia com ele."
A
prova dos nove foi tirada na semana passada, no lançamento, em São Paulo, com
os dois presentes. Por maioria absoluta, ficou decidido que o personagem é mais
parecido com Terron.
INDEPENDENTE
"Guia
de Ruas sem Saída" marca um retorno do escritor -que começou a carreira
literária publicando livros por sua própria editora independente- a uma pequena
casa depois de publicar livros pela Companhia das Letras. O livro saiu pela
Edith, selo criado no ano passado pelo escritor Marcelino Freire.
"Retornei
ao gostinho de projetar como eu bem entendia o livro. Sou punk velho e meu lema
sempre foi 'do it yourself' [faça você mesmo]."
GUIA
DE RUAS SEM SAÍDA
AUTOR
Joca Reiners Terron
ILUSTRAÇÕES
André Ducci
EDITORA
Edith
QUANTO
R$ 35 (256 págs.)
>>>
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