segunda-feira, 12 de março de 2012


Catadora de material reciclável passa em prova e entra na USP FOLHA SP 11.03.12
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Laíssa Sobral, 19, trabalhava como catadora de material reciclável na cooperativa Granja Julieta (zona sul de São Paulo) e nunca gostou muito de estudar, mas percebeu que, com um diploma, teria mais chance de lutar pela cooperativa. Hoje, cursa gestão ambiental na USP.

A informação é da reportagem de Luisa Alcantara e Silva publicada na edição deste domingo da Folha. A reportagem completa está disponível a assinantes do jornal e do UOL, empresa controlada pelo Grupo Folha, que edita a Folha.

Isadora Brant - 2.mar.12/Folhapress         

Laíssa Sobral, 19, em cooperativa na Granja Julieta; ela está cursando gestão ambiental na USP
A jovem teve pouco incentivo na vida escolar, mas estudou e entrou no curso de gestão ambiental da FMU em 2011. Mas a vida era difícil. Faculdade particular: R$ 515 por mês. Transporte: R$ 250. Renda na cooperativa: R$ 800.

Laíssa resolveu, então, transferir a faculdade para a USP. Sem dinheiro para comprar os livros, recebeu ajuda de uma amiga, que fez campanha num blog. Livros começaram a chegar. "Veio até via Sedex", lembra.
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Imperador da língua.     Dois livros recolocam em circulação e em debate a vida e a obra de Antônio Vieira, autor de Os sermões e um dos grandes escritores luso-brasileiros CORREIO BSB 12.03

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O padre Antônio Vieira (1608-1695) passou por Brasil e Portugal como uma nuvem, para usar a imagem criada por ele mesmo ao definir a figura do pregador. Uma nuvem carregada de raios, relâmpagos e trovões: relâmpago para os olhos, trovão para os ouvidos, raio para o coração. A sua voz de pregador era um trovão do céu, que assombrava e fazia tremer. Ela continua ressoando nos volumes da sua vasta obra e volta a circular em dois lançamentos que se complementam: Padre Antônio Vieira essencial, uma antologia de sermões e cartas, com introdução de Alfredo Bosi, e a biografia Antônio Vieira: jesuíta do rei para a coleção Perfis, de Ronaldo Vainfas, ambos pela Companhia das Letras.

Vieira transformou o gênero sermão em obra de arte com sua imaginação e seus voos poéticos. Não é por acaso que ele teve entre os leitores ilustres o cronista Rubem Braga e os poetas Manoel de Barros e Fernando Pessoa, que lhe conferiu o título de “imperador da língua portuguesa”. Vieira recomendava aos missionários que aprendessem lições de oratória com o pregador mais antigo da Terra, o céu, que celebra a glória de Deus com a majestade, o senso de composição e a harmonia do firmamento. No sermão do céu, as palavras são as estrelas, escreve Vieira: “Assim há de ser o estilo de pregação, muito distinto e muito claro”.

 Vieira não foi apenas um orador e um escritor brilhante. Ele é um dos mais fascinantes e contraditórios personagens da história brasileira do período colonial seiscentista. Filho de um armeiro e de uma padeira portugueses, neto de escrava, mulato, ideólogo da monarquia, adversário da escravização indígena, defensor da escravização dos negros africanos, conselheiro de Dom João IV, diplomata, inimigo da Inquisição portuguesa, arauto da repressão contra o Quilombo dos Palmares, crítico ácido da discriminação pela cor e da distinção pelo sangue: “E qual destas é a verdadeira fidalguia? Nenhuma. A verdadeira fidalguia é ação. As ações generosas, e não os pais ilustres, são as que fazem fidalgos. Cada um é suas ações, e não mais nem menos”.

 No Sermão da Sexagésima, ele faz quase que uma profissão de fé na polêmica, avisando logo no início: “Quisera Deus que este tão ilustre auditório saísse daqui tão desenganado da pregação quanto vem enganado com o pregador”. Tudo para concluir que o sermão é bom quando irrita, desencanta e provoca mudanças de atitude do público. “Semeadores do Evangelho, eis aqui o que devemos pretender nos nossos sermões, não que os homens saiam contentes de nós, senão que saiam muito descontentes de si; não que lhes pareçam bem os nossos conceitos, mas que lhes pareçam mal os seus costumes, as suas vidas, os seus passatempos, as suas ambições e, enfim, todos os seus pecados.”

 Vieira sempre misturou os assuntos terrenos com os celestiais com  muito engenho. Para criticar a ganância da classe senhoril do período colonial, dirigiu um sermão aos peixes. Quando Portugal esteve seriamente ameaçado de perder o Brasil para o poderio bélico dos holandeses, ele cobrou dos nobres e dos clérigos que pagassem impostos: “Não há tributo mais pesado que o da morte, e contudo todos o pagam, e ninguém se queixa: porque é tributo de todos. (…) Imitem as resoluções políticas o governo natural do Criador”.

 Superadas as circunstâncias da história colonial, a voz de Vieira continua ressoando em seus sermões, muitas vezes com uma surpreendente atualidade: “Se o que elegestes furta (não o ponhamos em condição, porque claro está que há de furtar), furta o que elegestes, e furta por si e por todos os seus, como costumam os semelhantes; e Deus há-vos de pedir a conta a vós, porque o vosso voto foi causa de todos aqueles roubos”.

Contradições e estalos
 Vieira nasceu em Lisboa, no ano de 1608, e viajou rumo ao Brasil quando tinha 6 anos, quase morrendo durante uma tempestade, perto da Paraíba. Mulato, neto de uma escrava negra, sempre procurou esconder a sua origem humilde, numa época em que as questões de sangue imperavam. Negros, judeus e seus descendentes sofriam o estigma de ter “sangue infecto”. Ronaldo Vainfas se esmera em desmontar o mito e revelar o homem Antônio Vieira em todas as suas contradições.

 Desmistifica a versão propagada pelo biógrafo André de Barros, segundo a qual, Vieira era um aluno medíocre até sofrer um estalo e receber da Virgem Maria Santíssima as luzes da inteligência. O que, provavelmente, deve ter ocorrido, na interpretação de Vainfas, é que Vieira já chegara alfabetizado pela mãe ao colégio dos inacianos e, nos primeiros momentos, se atrapalhou com as cartilhas dos jesuítas. 

 Os sermões de Vieira se tornaram uma atração de Salvador, com as suas imagens desconcertantes e sua oratória poderosa, que o levaram a Portugal, a partir de 1941, para ser conselheiro do rei Dom João IV . Acusado de heresia pela inquisição portuguesa, teve de retornar ao Brasil, vivendo os últimos anos de vida em Salvador.

Vainfas traça um excelente perfil de Vieira, mas o veredicto sumário de que o padre seria “o maior apologista da escravidão” talvez precise ser matizado. Embora, obviamente, Vieira defendesse os interesses imperiais e colonialistas de Portugal não deixou de desfechar críticas agudas à escravidão em seus sermões. Com ou sem a interferência da Virgem Santíssima, sempre teve os seus estalos: “Oh, que feira tão barata! Negro por alma; e mais negra ela que ele! Esse negro será teu escravo esses poucos dias que viver: e a tua alma será minha escrava por toda a eternidade, enquanto Deus for Deus. Este é o contrato que o Demônio faz convosco; e não só lho aceitais, senão que lhe dais o vosso dinheiro em cima”. 

Padre Antônio Vieira Essencial
Seleção e introdução de Alfredo Bosi.
Companhia das Letras,
755 páginas.
Preço: R$ 35.

Antônio Vieira, Jesuíta
do rei
De Ronaldo Vainfas. Companhia das
Letras, 329 páginas. Preço: R$ 44.

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LITERATURA
Livro de Teju Cole vence prêmio Hemingway/PEN FOLHA SP 12.03
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DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS - O escritor Teju Cole ganhou o prêmio da Fundação Hemingway/PEN de melhor obra de ficção por seu romance de estreia, "Open City". O livro é sobre um médico nigeriano que decide explorar Manhattan e outros pontos do mundo depois de terminar com a namorada.

Nascido nos Estados Unidos e criado na Nigéria, Cole também está entre os finalistas do prêmio National Book Critics Circle, cujo resultado será anunciado nesta quinta-feira.


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