segunda-feira, 5 de março de 2012


Educação.  Escolas têm até segunda-feira para participar de Iniciação Científica Júnior
Agência Goiana de Comunicação 04/03  O POPULAR/GO 04.03
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Escolas públicas interessadas em participar do programa de Iniciação Científica Júnior, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), devem preencher até segunda-feira (5) o formulário disponível no site www.fapeg.go.gov.br, além de construir internamente um Comitê Institucional de Seleção para indicar alunos e professores interessados em acompanhar o trabalho de pesquisadores de instituições de ciência e pesquisa do Estado.

O programa contempla estudantes selecionados para bolsas de iniciação científica júnior com R$ 100 mensais. Para apoio técnico, o professor tutor recebe R$ 300.

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Música na prisão.  (...)  A economia psíquica do Brasil não está na pobreza que ainda nos ameaça, mas na riqueza da libido do nosso povo que não pode se realizar completamente. PAULO DELGADO é sociólogo .  O Globo - 05/03/2012
O que a presidente fez até agora que mereça uma popularidade tão grande? Perguntou a professora da Universidade de Harvard dias atrás, quando lá estive. Respondi: nada que o povo brasileiro não possa fazer por si só. Num mundo masculino acostumado a grandes peripécias políticas para explicar a rotina democrática, pareceu-me a resposta mais adequada e menos acadêmica na ocasião. Aos poucos, a desembaraçada simpatia que demonstrava pela presidente e pelo Brasil foi se revelando. Fui caprichando mais na argumentação e em pouco tempo percebi como são limitados os esquemas explicativos das ciências sociais, sua busca por doutrinas e teorias, diante do rio raso das notícias políticas produzidas por nosso país.

O Brasil escreve um romance novo, muito pouco ao gosto compreensível da política moderna, onde o governante considera uma perda ideológica não poder afirmar sua posição todos os dias. Um inédito governo discreto, suficiente, que não cultiva a imagem de pessoa modesta, corajosa, prática, intelectual ou popular como é de nossa tradição. Nossa realidade continua mais gelatinosa do que efetiva, mas aumentou a compreensão que nem tudo é culpa do governo. Se as colheitas apodrecem, as fábricas não distribuem seus produtos, os carros e aviões andam devagar, o Parlamento se lambuza, o Judiciário se enrola, ministros se demitem, qual parte do Estado deve ser chamada para socorrê-los ou para fazer as coisas em seu lugar? Claro que cientistas políticos acabam dizendo que tudo anda possível porque vivemos numa época de cidadãos inertes. Mas é certo também que este fenômeno mundial tem beneficiado mais a estúpida economia do que o cidadão estúpido que acredita na boa política.

O prestígio da nossa presidente é correspondente ao do país no exterior e só pode ser danificado pela associação de seu governo com as ameaças a esta liderança internacional. Que pode vir da administração da política interna se esta virar as costas ao que ocorre no mundo. No mais, o estilo é uma natureza, e o da presidente é o que é, cuidadoso. É especial lembrar que na prisão, de sua vitrola, oferecia a quem sofria a voz suave de Paulinho da Viola. E para isso usava versos da música com que o compositor homenageava a professora de Recife que o chamava de filho nos tempos da insensatez.

Clássico, o bom governante sabe que muitas das arvoradas necessidades do Estado e dos indivíduos são quase inúteis. Revelam a dimensão dos desejos das pessoas e assim acabarão expostos. Excentricidades democráticas. Não é outra coisa a nomeação de um pescador de almas para o Ministério da Pesca. Mas não é desse modelo que sairá a força dos argumentos para enfrentar a hostilidade do governo norte-americano contra a Embraer, uma das nossas marcas mundiais.

Como também não virá das escaramuças políticas deste oceano de partidos, intenções e condutas a força para conter o sistema financeiro que nos trata como um cassino. O governo já percebeu que é preciso conter a fúria das despesas nas áreas onde reina a incompetência e o despreparo para a competição aberta. Não é tarefa fácil num mundo de juros zero desmontar a armadilha bancária que fez o Brasil atrativo para agiotas, que nos atacam vorazmente.

A economia psíquica do Brasil não está na pobreza que ainda nos ameaça, mas na riqueza da libido do nosso povo que não pode se realizar completamente. Por isso, é essencial a autoridade discreta e conectada com este tempo de falsidades contábeis. Pois se elas produziram esta crise mundial que nos beneficia é bom saber que a efusão das cerimônias, ou a abundância das possibilidades eventuais, nem sempre oferecem satisfação permanente.

O Brasil é um jogo em andamento. À noite, em Boston, não resisti à metáfora inevitável de um sul-americano. Afirmei os benefícios da continuidade sobre a ruptura institucional desde a redemocratização e ressaltei o fato que, desde que chegamos ao poder, a sociedade não é mais mobilizada para insultar o capitalismo, como vocês andam fazendo por aqui, diverti-me.

Ao pagarmos a conta do jantar, caí na real. Descobri que nos Estados Unidos a vida está mais barata do que aqui.


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As muitas caras do Chico
O povo que mora às margens do Rio São Francisco é fonte de inspiração para os textos de Gustavo Nolasco e as fotos de Leo Drumond CORREIO BSB 05.03
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Imagens da região de Penedo, em Alagoas

Quando Gustavo Nolasco visitava os lugares turísticos à beira do Rio São Francisco, procurava evitar os monumentos. Preferia sair à cata das pessoas. Fascinado pelas histórias ribeirinhas do maior rio da região central do Brasil, o jornalista ficava incomodado com a literatura sobre as populações do São Francisco. No que lia, encontrava uma maçaroca de povos que pareciam viver do mesmo jeito, falar com o mesmo sotaque, comer as mesmas coisas e contar as mesmas histórias. “E eu sabia que não era assim”, conta Nolasco. “Resolvi fazer um projeto para mostrar a diversidade da cultura oral do Rio São Francisco.”

Os Chicos — Prosa & Fotografia, uma radiografia poética e sensível da vida ao longo de um rio que será lançada amanhã no Balaio Café, tomou forma graças às pessoas. Acompanhado do fotógrafo Leo Drumond, Gustavo percorreu cinco estados, 2.770km e mais de 60 comunidades em busca de relatos pessoais que espelhassem também a história da região. O projeto rendeu dois livros — um de reportagem e outro de fotografias — e um retrato da diversidade ribeirinha. “Pincei cidades que me dariam a cara daquela região, porque cada região tem uma particularidade: a forma de falar, a culinária, as tradições folclóricas, a vegetação, a história oral e o que o rio representa para aquela comunidade.”

No entanto, a maior diferença Nolasco encontrou no papel do São Francisco para as economias locais. As Minas Gerais são riscadas por diversos outros rios e, segundo o jornalista, não retiram a subsistência do Velho Chico. Mas quando as águas chegam ao Nordeste, o cenário muda completamente. “Em Minas Gerais, ninguém sobrevive do São Francisco. Na Bahia, todo mundo sobrevive do rio.” Nolasco estabeleceu alguns critérios na busca por personagens. Que todos se chamassem Francisco ou Francisca era um deles. “Porque não existe nada mais bonito, quando você ama um lugar, que colocar o nome daquele lugar no seu filho”, destaca.

Com a determinação de entrevistar apenas homônimos do rio, o jornalista se deparou com relatos capazes de remeter à história da região em séculos passados. Uma família de latifundiários nomeia os filhos Francisco desde o século 17, uma espécie de homenagem e reverência às águas das quais retiraram suas riquezas. A pesca e a variedade de peixes retirados do cânion do rio pelos garotos Preto e Pretinhos (ambos Franciscos) nas Alagoas revelam o problema trazido pelas cinco hidrelétricas construídas no Velho Chico: a cada ano, nota-se a escassez na variedade de espécies disponíveis.

Dificuldades
Um certo Francisco Fernandes, diretor de teatro, revela que a cultura no sertão do rio também é contemporânea e há palco para o drama em Juazeiro. Mas se há poesia, há também muita tragédia à beira do rio. Assassinatos, estupro, suicídio e pobreza aparecem nas histórias como reflexos e consequências das dificuldades enfrentadas pela exploração desordenada das águas do São Francisco. Nas imagens de Leo Drumond, o que se vê não são os rostos dos personagens descritos nos textos, mas o ambiente no qual vivem, o universo no qual as histórias acontecem.


No início, quando optou por mapear a diversidade da região, Nolasco pensou também em encontrar características comuns entre as populações ribeirinhas, aspectos que pudessem conferir uma certa unidade ao mapeamento. Afinal, um mesmo fluxo de águas une povos de cinco estados brasileiros. “Essa característica é que quem mora ao lado do rio ama o rio.” É por isso que, para lançar o livro em Brasília, o jornalista organizou o evento Homenagem ao Velho Chico, no Balaio Café. Além da projeção de fotos de Leo Drumond e de show do compositor Aloísio Brandão, o público poderá assistir ao curta-metragem Os Chicos, realizado pelos autores durante a execução do projeto. “A gente quer que esse encontro seja a oportunidade para as pessoas que são dessa região se encontrarem, trocarem ideias e lembrarem histórias do rio”, avisa Nolasco.


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Reatar laços com a imaginação criadora  » HAMILTON PEREIRA
Secretário de Cultura do Distrito Federal CORREIO BSB 05.03

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Criar as condições para realizar a I Bienal Brasil do Livro e da Leitura de Brasília se torna um dos mais importantes desafios da Política Pública de Cultura do Distrito Federal neste ano de 2012. Sobretudo porque se trata de iniciativa que restabelece o laço indispensável com as Políticas de Educação Pública, inseridas no Plano do Livro e da Leitura do Distrito Federal.

Trabalhar duramente para declarar o Distrito Federal território livre do analfabetismo é objetivo estratégico do governo Agnelo Queiroz. A I Bienal Brasil do Livro e da Leitura de Brasília se afirmará como momento simbólico importante desse esforço e do compromisso da sociedade e do poder público, no momento do aniversário da cidade, entre os dias 14 e 23 de abril.

Esse objetivo confere grandeza ao esforço de fazer convergir a ação do Estado na fixação dos valores simbólicos herdados das tradições culturais do nosso povo com a produção, reprodução e difusão desses mesmos valores por meio da rede escolar. Confere transcendência às políticas culturais porque permite a elas ir além do evento que se evapora no apagar das luzes do espetáculo. E recupera para o poder público a responsabilidade de induzir processos culturais antes entregues exclusivamente à lógica do mercado.

Abrir espaço para que a poderosa criação literária contemporânea de África e América Latina seja exposta, lida e debatida com seus criadores, os poetas e escritores convidados — mais do que evento contemporâneo de mercado, como costuma ocorrer em outras capitais do país e do mundo, em Brasília, a I Bienal do Livro e da Leitura se converterá em exercício de cidadania cultural como nunca ocorreu desde a fundação da cidade. Trata-se de um esforço para reerguer a autoestima de Brasília à altura dos seus fundadores, com o espírito cosmopolita que lhe deu impulso, e reatar os laços com a imaginação criadora na busca de soluções para um mundo em crise.

Dois continentes, duas paixões. O melhor testemunho de que o Brasil se reencontra consigo mesmo neste momento da história é o gesto de aproximação com os países africanos e com nossos irmãos do continente sul-americano, traduzido numa política que alterou, já não sem tempo, os fundamentos que determinaram as relações internacionais do país desde a Guerra Fria. Além de estimular as relações econômicas e comerciais legítimas — e, de resto, inevitáveis — , reforçar relações culturais e não renunciar ao pensamento, à busca intelectual e política para compreender os dramas humanos numa sociedade pulverizada como a sociedade contemporânea e conferir a essa busca um sentido de justiça e solidariedade ausente da lógica suicida que o sistema financeiro busca impor aos povos, como ocorre nestes dias na União Europeia.

Homenagear a inteligência. Homenagear a sensibilidade do nigeriano Wole Soyinka e do mineiro de todos os Brasis, Ziraldo, como exemplos da criatividade e da liberdade humanas revela que aos poucos, Brasília, depois de mais de uma década submetida ao provincianismo rasteiro, hoje trabalha para redefinir a qualidade do seu desenvolvimento. Prepara-se para se reafirmar como uma capital sintonizada com a sociedade do conhecimento e com as demais agendas do mundo contemporâneo. Como disse, não apenas pela necessária dimensão econômica, mas pela percepção do direito à cultura, concebido como direito básico dos cidadãos e cidadãs.

O projeto político em curso no Distrito Federal procura arduamente restabelecer a sintonia com os novos padrões de desenvolvimento do Brasil e ir além: fazer da capital do país exemplo de gestão democrática e republicana, de combate às desigualdades sociais e padrão de desenvolvimento ambientalmente sustentável.


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Lições indianas.  Crescimento da produção científica na Índia, baseado na prioridade à inovação tecnológica e na participação da iniciativa privada, é destaque na revista Science. Para especialistas, o modelo do país asiático tem o que ensinar ao Brasil CORREIO BSB 05.03

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Alunas de engenharia participam de feira de ciência: número de pesquisadores que deixam a Índia para trabalhar em outros países diminuiu


Omundo vive um período de mudanças em que as tradicionais potências mundiais, como os Estados Unidos e a Europa, perdem espaço econômico e político para as chamadas nações em desenvolvimento. Movimento semelhante ocorre no terreno científico, com a Índia podendo ser considerada a “bola da vez”. Tanto é que o conhecimento produzido naquele país foi tema recentemente de um especial publicado na renomada revista científica Science. Para especialistas, o florescimento da ciência na Índia — que na última década elevou a quantidade de publicações em periódicos internacionais de 2,2% para 3,4% — pode inspirar o Brasil, que também segue uma trajetória de expansão em suas pesquisas e já foi alvo de atenção da mesma publicação científica (leia Para saber mais).

Parte do sucesso indiano vem dos investimentos em inovação e da participação da iniciativa privada. Em entrevista à Science, o primeiro-ministro Manmohan Singh explica que a meta é direcionar pelo menos 2% do PIB (soma das riquezas do país) para o setor. “Precisamos gastar muito mais com as áreas de desenvolvimento ativamente ligadas à evolução da ciência, da tecnologia e da inovação”, afirma. “O que destinamos do PIB para pesquisa e desenvolvimento em ciência e tecnologia é praticamente a mesma porcentagem que os outros países em desenvolvimento. Mas é no setor privado que nosso país tem muito mais a fazer”, completa.

Durante muito tempo, as pesquisas indianas estiveram ligadas principalmente a foguetes e artefatos atômicos. Pesquisadores de outras áreas tinham apenas duas opções: penar para conseguir minguados recursos ou sair do país em busca de melhores condições de trabalho. A maioria preferia o segundo caminho e, assim como o Brasil, a Índia funcionava como celeiro de bons pesquisadores aproveitados por outras nações.

           
Lançamento de satélite: no passado, setor espacial monopolizava recursos


Retorno ao país
Hoje, o país experimenta um movimento inverso. Doutores e pós-doutores retornam para casa, onde sobram recursos para a área tecnológica. A farmacologia e o desenvolvimento de novas drogas, que representavam 4% da produção científica indiana em 1999, passaram para 7% em 2009. Química pulou de 3% para 5%. Em 10 anos, o desenvolvimento de novos materiais, que representavam pouco mais de 2% dos artigos publicados no país, pulou para mais de 4%, segundo a Science. A evolução também é qualitativa. De acordo com a base de dados Thomson Reuters Web of Knowledge, o impacto das pesquisas indianas pulou de 40% para 60% da média mundial.

Para a presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, o que a Índia conseguiu enxergar antes do Brasil é que gastos com inovação são, na verdade, investimento. “Em 2009, no auge da crise, o governo Barack Obama aumentou os investimentos em ciência e tecnologia”, exemplifica a pesquisadora, para quem os impactos desse movimento serão sentidos a médio e longo prazos. “O resultado não será sentido agora, mas no futuro. Sem ciência e tecnologia, o Brasil será eternamente um país que vive do extrativismo. É como se você estivesse matando o que vai te sustentar daqui a alguns anos”, opina Nader, que lamenta a diminuição de recursos recentemente anunciada no Brasil, que atualmente investe cerca de 1% do PIB no setor.

O governo federal determinou um corte de R$1,48 bilhão, cerca de 22% do que havia sido originalmente proposto na Lei Orçamentária Anual (LOA). “Isso é um verdadeiro crime”, afirma a cientista. Procurado pelo Correio, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) respondeu por meio de nota que “está discutindo e avaliando, internamente e com suas unidades, as possibilidades de readequação orçamentária de modo a preservar as ações prioritárias no contexto da Estratégia Nacional de Ciência e Tecnologia 2012-2015”.

           
Montagem de equipamento em empresa: participação da iniciativa privada


Demandas
Diversificar as áreas de excelência, como a Índia vem fazendo, é uma demanda brasileira antiga. Se os indianos, por muito tempo, se preocuparam quase exclusivamente com foguetes, por aqui a agricultura, as pesquisas contra o câncer, as ciências espaciais e o meio ambiente são prioridade. A queixa é que pesquisadores de áreas como linguística, ciências humanas, artes e ciência pura — que estuda questões mais básicas do saber — se sentem abandonados pelos órgãos de financiamento. “Com o corte nos investimentos em ciência, o problema tende a se tornar generalizado. Nossos investimentos estão muito aquém do necessário”, alerta Helena Nader.

Outro obstáculo que a Índia teve de vencer foi mudar a sua reputação no exterior. Em 1974, quando o país fez seu primeiro teste nuclear, uma série de nações passou a impor sanções ao país e impedir a compra de uma série de seus produtos tecnológicos. Muitos pesquisadores que nada tinham a ver com a questão nuclear viam suas pesquisas paradas por falta de insumos que precisavam ser importados. Um acordo com os Estados Unidos em 2007 apaziguou a comunidade internacional sobre a expansão do armamento nuclear indiano.

No Brasil, alguns episódios negativos nos últimos tempos, embora não tenham manchado completamente a fama do país, como aconteceu com a Índia, geraram insatisfação de líderes de grandes projetos. A dificuldade em enviar os recursos necessários e a demora do Congresso Nacional em aprovar grandes projetos geraram algumas reclamações — públicas ou não — em relação à ação brasileira. Em 2007, o país foi “convidado a se retirar” do projeto da Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) por não conseguir entregar os equipamentos cujo desenvolvimento ficou sob sua responsabilidade. Outro exemplo: embora há anos em negociação, o Brasil ainda não ratificou o tratado em que ingressa oficialmente no Observatório Europeu do Sul (ESO). Em janeiro, o presidente do ESO, Tim de Zeeuw, atribuiu à demora brasileira “uma das razões para o projeto do Extreme Large Telescope (E-ELT) ainda não ter saído do papel”. O MCTI não comentou sobre esses episódios na nota enviada à reportagem.

Episódios como esses mostram que nações em desenvolvimento, apesar de viverem uma expansão significativa, precisam enfrentar muitos obstáculos para alcançar o patamar em que estão Estados Unidos e Reino Unido, como aponta Lytton Leite Guimarães, pesquisador do Núcleo de Estudos Asiáticos da Universidade de Brasília (UnB). “A corrupção ainda é um problema para todos os Brics (grupo que reúne Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul). E a burocracia também atrapalha o desenvolvimento de grandes projetos”, analisa.

Além disso, Guimarães vê problemas específicos de cada país que prejudicam a produção do conhecimento e o tratamento dado à ciência. “O governo indiano ainda investe muito pouco em infraestrutura. As grandes ferrovias do país, por exemplo, são herança do tempo em que a Inglaterra dominou o país”, comenta o pesquisador, lembrando que o problema da pobreza na Índia é ainda maior que o do Brasil. “Hoje, vejo os dois países de maneira equilibrada. A Índia tem mais problemas sociais e de infraestrutura, mas investe mais. Em longo prazo, se não ampliar os investimentos, o Brasil pode ficar para trás”, completa.

Citações
O índice de impacto de uma pesquisa se refere a quanto aquele estudo influenciou pesquisas posteriores em sua área. Para aferi-lo, a Thomson Reuters mapeia os artigos publicados em milhares de periódicos e verifica quais artigos são citados como fontes nas novas pesquisas publicadas. Quanto mais citado, maior impacto causou a pesquisa.
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Brics devem se unir também na cultura, diz chefe da MTV China.  Países querem "blocão" para frear importações de Hollywood FOLHA SP 05.03


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Chefona da MTV chinesa, Yan Mei bate o olho numa reportagem sobre ela publicada na revista "Serafina", da Folha. Quer saber o que significa o "xing-ling" no título.

Para Mei, expressões e hábitos do Brasil são uma grande interrogação. A recíproca é verdadeira: a China é muito mais do que uma nação sob mordaça cultural do governo, diz a filha de um antigo censor e, hoje, diretora-executiva de um dos canais ocidentais pioneiros no país.

Não à toa, ela foi uma das estrelas do RioContentMar-ket, evento que discutiu o audiovisual para TV na semana passada, no Rio.

Se querem ser parceiros, Brasil e China precisam se entender. "Os chineses adoram vocês, mas o que sabem é superficial. Futebol, Carnaval. Você tem de saber mais sobre o produto. Não é como vagar pelo supermercado e escolher um a esmo", disse à Folha.

Mei participou de debate que serviu, justamente, para entender como se digere uma feijoada de cinco países tão distintos entre si, mas ligados pela economia pujante.

A sigla Brics reúne Brasil, China, Índia, Rússia e, agora, África do Sul. E, na opinião de representantes, ninguém deveria esnobar um bloco de quase 3 bilhões de pessoas (40% da população).

Só a Índia movimentou, no setor audiovisual, R$ 6 bilhões em 2011. Cofundador da Miditech, produtora de reality shows como "Indian Idol", Nirat Alva ressalta a vocação superlativa do país. "Um programa com 1 milhão de espectadores não é grande coisa."

Ex-secretário do Audiovisual, o brasileiro Silvio Da-Rin defende um "blocão" cultural. Isso traria "um gigantesco mercado potencial de consumo" e "todos os tipos de locações: praias, lagos, desertos, savanas, florestas, metrópoles..."

Ele corta uma bola levantada pelos Brics: "Não faz sentido comprarmos a vida inteira formatos hollywoodianos".

Na prática, o que o Brasil tem a oferecer? As novelas são pop. Mei diz que "adoraria levar superstars brasileiros a China". Ou tudo pode acabar em samba. "E se o Brasil reproduzir o Carnaval na China?", questiona a executiva.
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Código Florestal deve anistiar 75% das multas milionárias. Texto, pronto para votação final, prevê perdão a punição anterior a julho de 2008Valor total perdoado com a nova regra será de R$ 492 milhões, somados apenas os maiores desmatadores FOLHA SP 05.03
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A aprovação do novo Código Florestal, prevista para esta semana, deve levar à suspensão de três em cada quatro multas acima de R$ 1 milhão impostas pelo Ibama por desmatamento ilegal.

A Folha obteve a lista sigilosa e atualizada das 150 maiores multas do tipo expedidas pelo órgão ambiental e separou as 139 que superam R$ 1 milhão. Dessas, 103 (ou pouco menos que 75%) serão suspensas se mantido na Câmara o texto do código aprovado no Senado. Depois, ele segue para a sanção da presidente Dilma Rousseff.

Pelo texto, serão perdoadas todas as multas aplicadas até 22 de julho de 2008, desde que seus responsáveis se cadastrem num programa de regularização ambiental. As punições aplicadas depois disso continuarão a valer.

Para conseguir o perdão, o produtor terá três alternativas: recompor a reserva legal (metade da área pode ser com espécies exóticas), permitir a regeneração natural ou comprar área de vegetação nativa de mesmo tamanho e bioma do terreno desmatado.

As multas milionárias que devem ser anistiadas somam R$ 492 milhões (60% do total das multas acima de R$ 1 milhão) e se referem à destruição de 333 mil hectares de vegetação -equivalente a duas cidades de São Paulo.

Quando contadas as multas de todos os valores, a anistia chega a R$ 8,4 bilhões.

A maioria das infrações milionárias foi aplicada pelo Ibama entre 2006 e 2008. Nenhuma foi paga até hoje.

Ao menos 48 desses produtores também respondem a processos judiciais por crimes contra o ambiente. A punição a esses crimes deverá ser extinta. Dez foram processados também por manter trabalhadores em condições análogas à de escravo.

A maior parte dos infratores é dona de fazendas e de empresas agropecuárias, mas há também ligados a madeireira, agroindústria, frigorifico, curtume, imobiliária e posto de gasolina.

Só os dez maiores desmatadores destruíram 98 mil hectares e receberam multas no valor de R$ 166 milhões.

O maior, Léo Andrade Gomes, do Pará, sofreu infrações que somam R$ 32,2 milhões. Derrubou 15 mil hectares de florestas, ou 150 km².

O ex-deputado federal Ernandes Amorim (PTB-RO) foi multado em R$ 2,4 milhões por danos ambientais numa área de 1.600 hectares.

A infração de maior valor da lista de 150, R$ 23,3 milhões, foi aplicada à agropecuária Santa Bárbara Xinguara, em São Félix do Xingu (PA), que tem o empresário Daniel Dantas como acionista e investidor. Mas essa não poderá ser perdoada porque a autuação ocorreu em 2010.

Auditores do Ibama e procuradores federais avaliam que a anistia vai atrasar ainda mais os processos administrativos e judiciais, além de sinalizar a impunidade, estimulando novos crimes.

A ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva afirma que o novo código "promove a anistia dos grandes desmatadores, reduz a proteção do meio ambiente e vai aumentar o desmatamento". "Quem desmatou mais será favorecido porque suas propriedades estão mais valorizadas."

O presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, deputado Moreira Mendes (PPS-RO), defende o modelo de anistia proposto.

"Há 20 anos, não havia preocupação com o ambiente. Seguíamos a tradição dos nossos pais. Essa preocupação evoluiu muito. Mas temos que considerar a situação de fato e fazer a transição. O que está feito, está feito."

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Terceirização submete saúde pública ao mercado
Arcebispo de São Paulo critica modelo de gestão de hospitais; saúde é tema da campanha da fraternidade FOLHA SP 05.03

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"Ah! Quanta espera, desde as frias madrugadas, pelo remédio para aliviar a dor! Este é teu povo, em longas filas nas calçadas, a mendigar pela saúde, meu Senhor!"
O trecho acima faz parte do hino da Campanha da Fraternidade deste ano, cujo mote central é a saúde pública.
É a segunda vez que a Igreja Católica elege o tema -a primeira foi em 1984.
"A saúde vai muito mal do Brasil", afirma o arcebispo de São Paulo, dom Odilo Pedro Scherer. O cardeal também critica as OS (Organizações Sociais) em São Paulo.
"Na medida em que se terceiriza os serviços de saúde, vira comércio, eles acabam sendo submetidos às leis de mercado", afirma.
O arcebispo de São Paulo também comentou a notícia do nascimento de uma criança com a finalidade de doar células-tronco para a irmã que sofre de uma doença hematológica. "Não podemos aplicar de maneira irrestrita todas as possibilidades do conhecimento científico."
A seguir, trechos da entrevista exclusiva concedida à Folha na semana passada, no Mosteiro de São Bento.



Folha - A saúde é pela segunda vez tema da Campanha da Fraternidade. Agora, há cânticos bem críticos em relação à saúde pública. A situação piorou?
Odilo Pedro Sherer - A primeira vez que abordamos o tema foi mais focado no doente. Agora, o olhar está voltado para o acesso aos serviços, para as políticas em saúde pública, os atendimentos médicos e hospitalares, a falta de acesso a medicamentos. A situação está muito séria na adequação do SUS. Os pobres, que não têm possibilidade de ter plano de saúde, dependem de um sistema de saúde deficitário, que está longe de atender os requisitos básicos. A saúde vai muito mal no Brasil.

Anteontem, o Ministério da Saúde divulgou um relatório de avaliação do SUS em que a nota média ficou em 5,4...
É, foi muito mal avaliado. Não basta que poucos tenham condições de ter acesso a ótimos hospitais. É uma questão de fraternidade, solidariedade, levantar a questão, reclamar, mostrar a situação real nos grotões do país, nas periferias das grandes cidades. E não é só isso. A saúde pública vive um processo de terceirização, de comercialização.

O sr. se refere às Organizações Sociais em São Paulo?
Sim. Na medida em que se terceiriza os serviços de saúde, vira comércio, eles acabam sendo submetidos às leis de mercado. Isso pode comprometer o atendimento dos pacientes. Saúde é um bem público, um direito básico, fundamental. Impostos são recolhidos para esse fim.

A Igreja não poderia ser mais atuante na promoção de saúde, fazendo campanhas de prevenção a diabetes, hipertensão durante as missas, por exemplo?
Já fazemos isso constantemente nas pastorais da saúde, da criança. Trabalhamos arduamente não só para atender os doentes mas também para promover saúde.

Recentemente, foi noticiado o nascimento de uma criança gerada com a finalidade de doar células-tronco para a irmã que sofre de uma doença hematológica. Como a Igreja vê isso?
Nem tudo que é possível em ciência é bom eticamente. Não podemos aplicar de maneira irrestrita todas as possibilidades do conhecimento científico. Não podemos produzir bebês com a finalidade "para". O ser humano nunca pode ser usado como meio para atingir fins. Ele, por si só, já é o fim.

Mas mesmo que o objetivo tenha sido para salvar uma outra vida?
O ser humano agora pode ser um embrião, um feto, um bebê. Nessa fase posso fazer o que for do meu agrado para atingir meus objetivos. Mas depois ele se torna uma pessoa adulta. Como ele vai avaliar a minha ação? Eu fui usado, eu fui manipulado em função de, me usaram para. Está faltando dignidade para o ser humano, que é único.

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