segunda-feira, 5 de março de 2012
Educação. Escolas têm até segunda-feira para participar de
Iniciação Científica Júnior
Agência
Goiana de Comunicação 04/03 O POPULAR/GO 04.03
-
Escolas
públicas interessadas em participar do programa de Iniciação Científica Júnior,
da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), devem preencher
até segunda-feira (5) o formulário disponível no site www.fapeg.go.gov.br, além
de construir internamente um Comitê Institucional de Seleção para indicar
alunos e professores interessados em acompanhar o trabalho de pesquisadores de
instituições de ciência e pesquisa do Estado.
O
programa contempla estudantes selecionados para bolsas de iniciação científica
júnior com R$ 100 mensais. Para apoio técnico, o professor tutor recebe R$ 300.
>>>>
Música na prisão.
(...) A economia psíquica do Brasil não está na
pobreza que ainda nos ameaça, mas na riqueza da libido do nosso povo que não
pode se realizar completamente. PAULO DELGADO é sociólogo . O Globo - 05/03/2012
O
que a presidente fez até agora que mereça uma popularidade tão grande?
Perguntou a professora da Universidade de Harvard dias atrás, quando lá estive.
Respondi: nada que o povo brasileiro não possa fazer por si só. Num mundo
masculino acostumado a grandes peripécias políticas para explicar a rotina
democrática, pareceu-me a resposta mais adequada e menos acadêmica na ocasião.
Aos poucos, a desembaraçada simpatia que demonstrava pela presidente e pelo
Brasil foi se revelando. Fui caprichando mais na argumentação e em pouco tempo
percebi como são limitados os esquemas explicativos das ciências sociais, sua
busca por doutrinas e teorias, diante do rio raso das notícias políticas
produzidas por nosso país.
O
Brasil escreve um romance novo, muito pouco ao gosto compreensível da política
moderna, onde o governante considera uma perda ideológica não poder afirmar sua
posição todos os dias. Um inédito governo discreto, suficiente, que não cultiva
a imagem de pessoa modesta, corajosa, prática, intelectual ou popular como é de
nossa tradição. Nossa realidade continua mais gelatinosa do que efetiva, mas
aumentou a compreensão que nem tudo é culpa do governo. Se as colheitas
apodrecem, as fábricas não distribuem seus produtos, os carros e aviões andam
devagar, o Parlamento se lambuza, o Judiciário se enrola, ministros se demitem,
qual parte do Estado deve ser chamada para socorrê-los ou para fazer as coisas
em seu lugar? Claro que cientistas políticos acabam dizendo que tudo anda
possível porque vivemos numa época de cidadãos inertes. Mas é certo também que
este fenômeno mundial tem beneficiado mais a estúpida economia do que o cidadão
estúpido que acredita na boa política.
O
prestígio da nossa presidente é correspondente ao do país no exterior e só pode
ser danificado pela associação de seu governo com as ameaças a esta liderança
internacional. Que pode vir da administração da política interna se esta virar
as costas ao que ocorre no mundo. No mais, o estilo é uma natureza, e o da
presidente é o que é, cuidadoso. É especial lembrar que na prisão, de sua
vitrola, oferecia a quem sofria a voz suave de Paulinho da Viola. E para isso
usava versos da música com que o compositor homenageava a professora de Recife
que o chamava de filho nos tempos da insensatez.
Clássico,
o bom governante sabe que muitas das arvoradas necessidades do Estado e dos
indivíduos são quase inúteis. Revelam a dimensão dos desejos das pessoas e
assim acabarão expostos. Excentricidades democráticas. Não é outra coisa a
nomeação de um pescador de almas para o Ministério da Pesca. Mas não é desse
modelo que sairá a força dos argumentos para enfrentar a hostilidade do governo
norte-americano contra a Embraer, uma das nossas marcas mundiais.
Como
também não virá das escaramuças políticas deste oceano de partidos, intenções e
condutas a força para conter o sistema financeiro que nos trata como um
cassino. O governo já percebeu que é preciso conter a fúria das despesas nas
áreas onde reina a incompetência e o despreparo para a competição aberta. Não é
tarefa fácil num mundo de juros zero desmontar a armadilha bancária que fez o
Brasil atrativo para agiotas, que nos atacam vorazmente.
A
economia psíquica do Brasil não está na pobreza que ainda nos ameaça, mas na
riqueza da libido do nosso povo que não pode se realizar completamente. Por
isso, é essencial a autoridade discreta e conectada com este tempo de
falsidades contábeis. Pois se elas produziram esta crise mundial que nos
beneficia é bom saber que a efusão das cerimônias, ou a abundância das
possibilidades eventuais, nem sempre oferecem satisfação permanente.
O
Brasil é um jogo em andamento. À noite, em Boston, não resisti à metáfora
inevitável de um sul-americano. Afirmei os benefícios da continuidade sobre a
ruptura institucional desde a redemocratização e ressaltei o fato que, desde
que chegamos ao poder, a sociedade não é mais mobilizada para insultar o
capitalismo, como vocês andam fazendo por aqui, diverti-me.
Ao
pagarmos a conta do jantar, caí na real. Descobri que nos Estados Unidos a vida
está mais barata do que aqui.
>>>>
As muitas caras do Chico
O
povo que mora às margens do Rio São Francisco é fonte de inspiração para os
textos de Gustavo Nolasco e as fotos de Leo Drumond CORREIO BSB 05.03
-
Imagens
da região de Penedo, em Alagoas
Quando
Gustavo Nolasco visitava os lugares turísticos à beira do Rio São Francisco,
procurava evitar os monumentos. Preferia sair à cata das pessoas. Fascinado
pelas histórias ribeirinhas do maior rio da região central do Brasil, o
jornalista ficava incomodado com a literatura sobre as populações do São Francisco.
No que lia, encontrava uma maçaroca de povos que pareciam viver do mesmo jeito,
falar com o mesmo sotaque, comer as mesmas coisas e contar as mesmas histórias.
“E eu sabia que não era assim”, conta Nolasco. “Resolvi fazer um projeto para
mostrar a diversidade da cultura oral do Rio São Francisco.”
Os
Chicos — Prosa & Fotografia, uma radiografia poética e sensível da vida ao
longo de um rio que será lançada amanhã no Balaio Café, tomou forma graças às
pessoas. Acompanhado do fotógrafo Leo Drumond, Gustavo percorreu cinco estados,
2.770km e mais de 60 comunidades em busca de relatos pessoais que espelhassem
também a história da região. O projeto rendeu dois livros — um de reportagem e
outro de fotografias — e um retrato da diversidade ribeirinha. “Pincei cidades
que me dariam a cara daquela região, porque cada região tem uma
particularidade: a forma de falar, a culinária, as tradições folclóricas, a
vegetação, a história oral e o que o rio representa para aquela comunidade.”
No
entanto, a maior diferença Nolasco encontrou no papel do São Francisco para as
economias locais. As Minas Gerais são riscadas por diversos outros rios e,
segundo o jornalista, não retiram a subsistência do Velho Chico. Mas quando as
águas chegam ao Nordeste, o cenário muda completamente. “Em Minas Gerais,
ninguém sobrevive do São Francisco. Na Bahia, todo mundo sobrevive do rio.”
Nolasco estabeleceu alguns critérios na busca por personagens. Que todos se
chamassem Francisco ou Francisca era um deles. “Porque não existe nada mais bonito,
quando você ama um lugar, que colocar o nome daquele lugar no seu filho”,
destaca.
Com
a determinação de entrevistar apenas homônimos do rio, o jornalista se deparou
com relatos capazes de remeter à história da região em séculos passados. Uma
família de latifundiários nomeia os filhos Francisco desde o século 17, uma
espécie de homenagem e reverência às águas das quais retiraram suas riquezas. A
pesca e a variedade de peixes retirados do cânion do rio pelos garotos Preto e
Pretinhos (ambos Franciscos) nas Alagoas revelam o problema trazido pelas cinco
hidrelétricas construídas no Velho Chico: a cada ano, nota-se a escassez na
variedade de espécies disponíveis.
Dificuldades
Um
certo Francisco Fernandes, diretor de teatro, revela que a cultura no sertão do
rio também é contemporânea e há palco para o drama em Juazeiro. Mas se há
poesia, há também muita tragédia à beira do rio. Assassinatos, estupro,
suicídio e pobreza aparecem nas histórias como reflexos e consequências das
dificuldades enfrentadas pela exploração desordenada das águas do São
Francisco. Nas imagens de Leo Drumond, o que se vê não são os rostos dos
personagens descritos nos textos, mas o ambiente no qual vivem, o universo no
qual as histórias acontecem.
No
início, quando optou por mapear a diversidade da região, Nolasco pensou também
em encontrar características comuns entre as populações ribeirinhas, aspectos
que pudessem conferir uma certa unidade ao mapeamento. Afinal, um mesmo fluxo
de águas une povos de cinco estados brasileiros. “Essa característica é que
quem mora ao lado do rio ama o rio.” É por isso que, para lançar o livro em
Brasília, o jornalista organizou o evento Homenagem ao Velho Chico, no Balaio
Café. Além da projeção de fotos de Leo Drumond e de show do compositor Aloísio
Brandão, o público poderá assistir ao curta-metragem Os Chicos, realizado pelos
autores durante a execução do projeto. “A gente quer que esse encontro seja a
oportunidade para as pessoas que são dessa região se encontrarem, trocarem
ideias e lembrarem histórias do rio”, avisa Nolasco.
>>>
Reatar laços com a imaginação criadora »
HAMILTON PEREIRA
Secretário
de Cultura do Distrito Federal CORREIO BSB 05.03
-
Criar
as condições para realizar a I Bienal Brasil do Livro e da Leitura de Brasília
se torna um dos mais importantes desafios da Política Pública de Cultura do
Distrito Federal neste ano de 2012. Sobretudo porque se trata de iniciativa que
restabelece o laço indispensável com as Políticas de Educação Pública,
inseridas no Plano do Livro e da Leitura do Distrito Federal.
Trabalhar
duramente para declarar o Distrito Federal território livre do analfabetismo é
objetivo estratégico do governo Agnelo Queiroz. A I Bienal Brasil do Livro e da
Leitura de Brasília se afirmará como momento simbólico importante desse esforço
e do compromisso da sociedade e do poder público, no momento do aniversário da
cidade, entre os dias 14 e 23 de abril.
Esse
objetivo confere grandeza ao esforço de fazer convergir a ação do Estado na
fixação dos valores simbólicos herdados das tradições culturais do nosso povo
com a produção, reprodução e difusão desses mesmos valores por meio da rede
escolar. Confere transcendência às políticas culturais porque permite a elas ir
além do evento que se evapora no apagar das luzes do espetáculo. E recupera
para o poder público a responsabilidade de induzir processos culturais antes
entregues exclusivamente à lógica do mercado.
Abrir
espaço para que a poderosa criação literária contemporânea de África e América
Latina seja exposta, lida e debatida com seus criadores, os poetas e escritores
convidados — mais do que evento contemporâneo de mercado, como costuma ocorrer
em outras capitais do país e do mundo, em Brasília, a I Bienal do Livro e da
Leitura se converterá em exercício de cidadania cultural como nunca ocorreu
desde a fundação da cidade. Trata-se de um esforço para reerguer a autoestima
de Brasília à altura dos seus fundadores, com o espírito cosmopolita que lhe
deu impulso, e reatar os laços com a imaginação criadora na busca de soluções
para um mundo em crise.
Dois
continentes, duas paixões. O melhor testemunho de que o Brasil se reencontra
consigo mesmo neste momento da história é o gesto de aproximação com os países
africanos e com nossos irmãos do continente sul-americano, traduzido numa
política que alterou, já não sem tempo, os fundamentos que determinaram as
relações internacionais do país desde a Guerra Fria. Além de estimular as
relações econômicas e comerciais legítimas — e, de resto, inevitáveis — ,
reforçar relações culturais e não renunciar ao pensamento, à busca intelectual
e política para compreender os dramas humanos numa sociedade pulverizada como a
sociedade contemporânea e conferir a essa busca um sentido de justiça e
solidariedade ausente da lógica suicida que o sistema financeiro busca impor
aos povos, como ocorre nestes dias na União Europeia.
Homenagear
a inteligência. Homenagear a sensibilidade do nigeriano Wole Soyinka e do
mineiro de todos os Brasis, Ziraldo, como exemplos da criatividade e da liberdade
humanas revela que aos poucos, Brasília, depois de mais de uma década submetida
ao provincianismo rasteiro, hoje trabalha para redefinir a qualidade do seu
desenvolvimento. Prepara-se para se reafirmar como uma capital sintonizada com
a sociedade do conhecimento e com as demais agendas do mundo contemporâneo.
Como disse, não apenas pela necessária dimensão econômica, mas pela percepção
do direito à cultura, concebido como direito básico dos cidadãos e cidadãs.
O
projeto político em curso no Distrito Federal procura arduamente restabelecer a
sintonia com os novos padrões de desenvolvimento do Brasil e ir além: fazer da
capital do país exemplo de gestão democrática e republicana, de combate às
desigualdades sociais e padrão de desenvolvimento ambientalmente sustentável.
>>>
Lições indianas.
Crescimento
da produção científica na Índia, baseado na prioridade à inovação tecnológica e
na participação da iniciativa privada, é destaque na revista Science. Para
especialistas, o modelo do país asiático tem o que ensinar ao Brasil CORREIO BSB 05.03
-
Alunas
de engenharia participam de feira de ciência: número de pesquisadores que
deixam a Índia para trabalhar em outros países diminuiu
Omundo
vive um período de mudanças em que as tradicionais potências mundiais, como os
Estados Unidos e a Europa, perdem espaço econômico e político para as chamadas
nações em desenvolvimento. Movimento semelhante ocorre no terreno científico,
com a Índia podendo ser considerada a “bola da vez”. Tanto é que o conhecimento
produzido naquele país foi tema recentemente de um especial publicado na
renomada revista científica Science. Para especialistas, o florescimento da
ciência na Índia — que na última década elevou a quantidade de publicações em
periódicos internacionais de 2,2% para 3,4% — pode inspirar o Brasil, que
também segue uma trajetória de expansão em suas pesquisas e já foi alvo de
atenção da mesma publicação científica (leia Para saber mais).
Parte
do sucesso indiano vem dos investimentos em inovação e da participação da
iniciativa privada. Em entrevista à Science, o primeiro-ministro Manmohan Singh
explica que a meta é direcionar pelo menos 2% do PIB (soma das riquezas do
país) para o setor. “Precisamos gastar muito mais com as áreas de desenvolvimento
ativamente ligadas à evolução da ciência, da tecnologia e da inovação”, afirma.
“O que destinamos do PIB para pesquisa e desenvolvimento em ciência e
tecnologia é praticamente a mesma porcentagem que os outros países em
desenvolvimento. Mas é no setor privado que nosso país tem muito mais a fazer”,
completa.
Durante
muito tempo, as pesquisas indianas estiveram ligadas principalmente a foguetes
e artefatos atômicos. Pesquisadores de outras áreas tinham apenas duas opções:
penar para conseguir minguados recursos ou sair do país em busca de melhores
condições de trabalho. A maioria preferia o segundo caminho e, assim como o
Brasil, a Índia funcionava como celeiro de bons pesquisadores aproveitados por
outras nações.
Lançamento
de satélite: no passado, setor espacial monopolizava recursos
Retorno
ao país
Hoje,
o país experimenta um movimento inverso. Doutores e pós-doutores retornam para
casa, onde sobram recursos para a área tecnológica. A farmacologia e o
desenvolvimento de novas drogas, que representavam 4% da produção científica
indiana em 1999, passaram para 7% em 2009. Química pulou de 3% para 5%. Em 10
anos, o desenvolvimento de novos materiais, que representavam pouco mais de 2%
dos artigos publicados no país, pulou para mais de 4%, segundo a Science. A
evolução também é qualitativa. De acordo com a base de dados Thomson Reuters
Web of Knowledge, o impacto das pesquisas indianas pulou de 40% para 60% da
média mundial.
Para
a presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena
Nader, o que a Índia conseguiu enxergar antes do Brasil é que gastos com
inovação são, na verdade, investimento. “Em 2009, no auge da crise, o governo
Barack Obama aumentou os investimentos em ciência e tecnologia”, exemplifica a
pesquisadora, para quem os impactos desse movimento serão sentidos a médio e
longo prazos. “O resultado não será sentido agora, mas no futuro. Sem ciência e
tecnologia, o Brasil será eternamente um país que vive do extrativismo. É como
se você estivesse matando o que vai te sustentar daqui a alguns anos”, opina
Nader, que lamenta a diminuição de recursos recentemente anunciada no Brasil,
que atualmente investe cerca de 1% do PIB no setor.
O
governo federal determinou um corte de R$1,48 bilhão, cerca de 22% do que havia
sido originalmente proposto na Lei Orçamentária Anual (LOA). “Isso é um
verdadeiro crime”, afirma a cientista. Procurado pelo Correio, o Ministério da
Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) respondeu por meio de nota que “está
discutindo e avaliando, internamente e com suas unidades, as possibilidades de
readequação orçamentária de modo a preservar as ações prioritárias no contexto
da Estratégia Nacional de Ciência e Tecnologia 2012-2015”.
Montagem
de equipamento em empresa: participação da iniciativa privada
Demandas
Diversificar
as áreas de excelência, como a Índia vem fazendo, é uma demanda brasileira
antiga. Se os indianos, por muito tempo, se preocuparam quase exclusivamente
com foguetes, por aqui a agricultura, as pesquisas contra o câncer, as ciências
espaciais e o meio ambiente são prioridade. A queixa é que pesquisadores de
áreas como linguística, ciências humanas, artes e ciência pura — que estuda
questões mais básicas do saber — se sentem abandonados pelos órgãos de
financiamento. “Com o corte nos investimentos em ciência, o problema tende a se
tornar generalizado. Nossos investimentos estão muito aquém do necessário”,
alerta Helena Nader.
Outro
obstáculo que a Índia teve de vencer foi mudar a sua reputação no exterior. Em
1974, quando o país fez seu primeiro teste nuclear, uma série de nações passou
a impor sanções ao país e impedir a compra de uma série de seus produtos
tecnológicos. Muitos pesquisadores que nada tinham a ver com a questão nuclear
viam suas pesquisas paradas por falta de insumos que precisavam ser importados.
Um acordo com os Estados Unidos em 2007 apaziguou a comunidade internacional
sobre a expansão do armamento nuclear indiano.
No
Brasil, alguns episódios negativos nos últimos tempos, embora não tenham
manchado completamente a fama do país, como aconteceu com a Índia, geraram
insatisfação de líderes de grandes projetos. A dificuldade em enviar os
recursos necessários e a demora do Congresso Nacional em aprovar grandes
projetos geraram algumas reclamações — públicas ou não — em relação à ação
brasileira. Em 2007, o país foi “convidado a se retirar” do projeto da Estação
Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) por não conseguir entregar os
equipamentos cujo desenvolvimento ficou sob sua responsabilidade. Outro
exemplo: embora há anos em negociação, o Brasil ainda não ratificou o tratado
em que ingressa oficialmente no Observatório Europeu do Sul (ESO). Em janeiro,
o presidente do ESO, Tim de Zeeuw, atribuiu à demora brasileira “uma das razões
para o projeto do Extreme Large Telescope (E-ELT) ainda não ter saído do
papel”. O MCTI não comentou sobre esses episódios na nota enviada à reportagem.
Episódios
como esses mostram que nações em desenvolvimento, apesar de viverem uma
expansão significativa, precisam enfrentar muitos obstáculos para alcançar o
patamar em que estão Estados Unidos e Reino Unido, como aponta Lytton Leite
Guimarães, pesquisador do Núcleo de Estudos Asiáticos da Universidade de
Brasília (UnB). “A corrupção ainda é um problema para todos os Brics (grupo que
reúne Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul). E a burocracia também
atrapalha o desenvolvimento de grandes projetos”, analisa.
Além
disso, Guimarães vê problemas específicos de cada país que prejudicam a
produção do conhecimento e o tratamento dado à ciência. “O governo indiano
ainda investe muito pouco em infraestrutura. As grandes ferrovias do país, por
exemplo, são herança do tempo em que a Inglaterra dominou o país”, comenta o
pesquisador, lembrando que o problema da pobreza na Índia é ainda maior que o
do Brasil. “Hoje, vejo os dois países de maneira equilibrada. A Índia tem mais
problemas sociais e de infraestrutura, mas investe mais. Em longo prazo, se não
ampliar os investimentos, o Brasil pode ficar para trás”, completa.
Citações
O
índice de impacto de uma pesquisa se refere a quanto aquele estudo influenciou
pesquisas posteriores em sua área. Para aferi-lo, a Thomson Reuters mapeia os
artigos publicados em milhares de periódicos e verifica quais artigos são
citados como fontes nas novas pesquisas publicadas. Quanto mais citado, maior
impacto causou a pesquisa.
>>>>>
Brics devem se unir também na cultura, diz chefe da
MTV China. Países querem "blocão" para frear
importações de Hollywood FOLHA SP 05.03
-
Chefona
da MTV chinesa, Yan Mei bate o olho numa reportagem sobre ela publicada na
revista "Serafina", da Folha. Quer saber o que significa o
"xing-ling" no título.
Para
Mei, expressões e hábitos do Brasil são uma grande interrogação. A recíproca é
verdadeira: a China é muito mais do que uma nação sob mordaça cultural do
governo, diz a filha de um antigo censor e, hoje, diretora-executiva de um dos
canais ocidentais pioneiros no país.
Não
à toa, ela foi uma das estrelas do RioContentMar-ket, evento que discutiu o
audiovisual para TV na semana passada, no Rio.
Se
querem ser parceiros, Brasil e China precisam se entender. "Os chineses
adoram vocês, mas o que sabem é superficial. Futebol, Carnaval. Você tem de
saber mais sobre o produto. Não é como vagar pelo supermercado e escolher um a
esmo", disse à Folha.
Mei
participou de debate que serviu, justamente, para entender como se digere uma
feijoada de cinco países tão distintos entre si, mas ligados pela economia
pujante.
A
sigla Brics reúne Brasil, China, Índia, Rússia e, agora, África do Sul. E, na
opinião de representantes, ninguém deveria esnobar um bloco de quase 3 bilhões
de pessoas (40% da população).
Só
a Índia movimentou, no setor audiovisual, R$ 6 bilhões em 2011. Cofundador da
Miditech, produtora de reality shows como "Indian Idol", Nirat Alva
ressalta a vocação superlativa do país. "Um programa com 1 milhão de
espectadores não é grande coisa."
Ex-secretário
do Audiovisual, o brasileiro Silvio Da-Rin defende um "blocão"
cultural. Isso traria "um gigantesco mercado potencial de consumo" e
"todos os tipos de locações: praias, lagos, desertos, savanas, florestas,
metrópoles..."
Ele
corta uma bola levantada pelos Brics: "Não faz sentido comprarmos a vida
inteira formatos hollywoodianos".
Na
prática, o que o Brasil tem a oferecer? As novelas são pop. Mei diz que
"adoraria levar superstars brasileiros a China". Ou tudo pode acabar
em samba. "E se o Brasil reproduzir o Carnaval na China?", questiona
a executiva.
>>>
Código Florestal deve anistiar 75% das multas
milionárias. Texto,
pronto para votação final, prevê perdão a punição anterior a julho de 2008. Valor total perdoado com a nova regra será de R$
492 milhões, somados apenas os maiores desmatadores FOLHA SP 05.03
-
A
aprovação do novo Código Florestal, prevista para esta semana, deve levar à
suspensão de três em cada quatro multas acima de R$ 1 milhão impostas pelo
Ibama por desmatamento ilegal.
A
Folha obteve a lista sigilosa e atualizada das 150 maiores multas do tipo
expedidas pelo órgão ambiental e separou as 139 que superam R$ 1 milhão.
Dessas, 103 (ou pouco menos que 75%) serão suspensas se mantido na Câmara o
texto do código aprovado no Senado. Depois, ele segue para a sanção da
presidente Dilma Rousseff.
Pelo
texto, serão perdoadas todas as multas aplicadas até 22 de julho de 2008, desde
que seus responsáveis se cadastrem num programa de regularização ambiental. As
punições aplicadas depois disso continuarão a valer.
Para
conseguir o perdão, o produtor terá três alternativas: recompor a reserva legal
(metade da área pode ser com espécies exóticas), permitir a regeneração natural
ou comprar área de vegetação nativa de mesmo tamanho e bioma do terreno
desmatado.
As
multas milionárias que devem ser anistiadas somam R$ 492 milhões (60% do total
das multas acima de R$ 1 milhão) e se referem à destruição de 333 mil hectares
de vegetação -equivalente a duas cidades de São Paulo.
Quando
contadas as multas de todos os valores, a anistia chega a R$ 8,4 bilhões.
A
maioria das infrações milionárias foi aplicada pelo Ibama entre 2006 e 2008.
Nenhuma foi paga até hoje.
Ao
menos 48 desses produtores também respondem a processos judiciais por crimes
contra o ambiente. A punição a esses crimes deverá ser extinta. Dez foram
processados também por manter trabalhadores em condições análogas à de escravo.
A
maior parte dos infratores é dona de fazendas e de empresas agropecuárias, mas
há também ligados a madeireira, agroindústria, frigorifico, curtume,
imobiliária e posto de gasolina.
Só
os dez maiores desmatadores destruíram 98 mil hectares e receberam multas no
valor de R$ 166 milhões.
O
maior, Léo Andrade Gomes, do Pará, sofreu infrações que somam R$ 32,2 milhões.
Derrubou 15 mil hectares de florestas, ou 150 km².
O
ex-deputado federal Ernandes Amorim (PTB-RO) foi multado em R$ 2,4 milhões por
danos ambientais numa área de 1.600 hectares.
A
infração de maior valor da lista de 150, R$ 23,3 milhões, foi aplicada à
agropecuária Santa Bárbara Xinguara, em São Félix do Xingu (PA), que tem o
empresário Daniel Dantas como acionista e investidor. Mas essa não poderá ser
perdoada porque a autuação ocorreu em 2010.
Auditores
do Ibama e procuradores federais avaliam que a anistia vai atrasar ainda mais
os processos administrativos e judiciais, além de sinalizar a impunidade,
estimulando novos crimes.
A
ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva afirma que o novo código
"promove a anistia dos grandes desmatadores, reduz a proteção do meio ambiente
e vai aumentar o desmatamento". "Quem desmatou mais será favorecido
porque suas propriedades estão mais valorizadas."
O
presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, deputado Moreira Mendes
(PPS-RO), defende o modelo de anistia proposto.
"Há
20 anos, não havia preocupação com o ambiente. Seguíamos a tradição dos nossos
pais. Essa preocupação evoluiu muito. Mas temos que considerar a situação de
fato e fazer a transição. O que está feito, está feito."
>>>
Terceirização submete saúde pública ao mercado
Arcebispo
de São Paulo critica modelo de gestão de hospitais; saúde é tema da campanha da
fraternidade FOLHA SP 05.03
-
"Ah!
Quanta espera, desde as frias madrugadas, pelo remédio para aliviar a dor! Este
é teu povo, em longas filas nas calçadas, a mendigar pela saúde, meu
Senhor!"
O
trecho acima faz parte do hino da Campanha da Fraternidade deste ano, cujo mote
central é a saúde pública.
É
a segunda vez que a Igreja Católica elege o tema -a primeira foi em 1984.
"A
saúde vai muito mal do Brasil", afirma o arcebispo de São Paulo, dom Odilo
Pedro Scherer. O cardeal também critica as OS (Organizações Sociais) em São
Paulo.
"Na
medida em que se terceiriza os serviços de saúde, vira comércio, eles acabam
sendo submetidos às leis de mercado", afirma.
O
arcebispo de São Paulo também comentou a notícia do nascimento de uma criança
com a finalidade de doar células-tronco para a irmã que sofre de uma doença
hematológica. "Não podemos aplicar de maneira irrestrita todas as
possibilidades do conhecimento científico."
A
seguir, trechos da entrevista exclusiva concedida à Folha na semana passada, no
Mosteiro de São Bento.
Folha
- A saúde é pela segunda vez tema da Campanha da Fraternidade. Agora, há
cânticos bem críticos em relação à saúde pública. A situação piorou?
Odilo
Pedro Sherer - A primeira vez que abordamos o tema foi mais focado no doente.
Agora, o olhar está voltado para o acesso aos serviços, para as políticas em
saúde pública, os atendimentos médicos e hospitalares, a falta de acesso a
medicamentos. A situação está muito séria na adequação do SUS. Os pobres, que
não têm possibilidade de ter plano de saúde, dependem de um sistema de saúde
deficitário, que está longe de atender os requisitos básicos. A saúde vai muito
mal no Brasil.
Anteontem,
o Ministério da Saúde divulgou um relatório de avaliação do SUS em que a nota
média ficou em 5,4...
É,
foi muito mal avaliado. Não basta que poucos tenham condições de ter acesso a
ótimos hospitais. É uma questão de fraternidade, solidariedade, levantar a
questão, reclamar, mostrar a situação real nos grotões do país, nas periferias
das grandes cidades. E não é só isso. A saúde pública vive um processo de
terceirização, de comercialização.
O
sr. se refere às Organizações Sociais em São Paulo?
Sim.
Na medida em que se terceiriza os serviços de saúde, vira comércio, eles acabam
sendo submetidos às leis de mercado. Isso pode comprometer o atendimento dos
pacientes. Saúde é um bem público, um direito básico, fundamental. Impostos são
recolhidos para esse fim.
A
Igreja não poderia ser mais atuante na promoção de saúde, fazendo campanhas de
prevenção a diabetes, hipertensão durante as missas, por exemplo?
Já
fazemos isso constantemente nas pastorais da saúde, da criança. Trabalhamos
arduamente não só para atender os doentes mas também para promover saúde.
Recentemente,
foi noticiado o nascimento de uma criança gerada com a finalidade de doar
células-tronco para a irmã que sofre de uma doença hematológica. Como a Igreja
vê isso?
Nem
tudo que é possível em ciência é bom eticamente. Não podemos aplicar de maneira
irrestrita todas as possibilidades do conhecimento científico. Não podemos
produzir bebês com a finalidade "para". O ser humano nunca pode ser
usado como meio para atingir fins. Ele, por si só, já é o fim.
Mas
mesmo que o objetivo tenha sido para salvar uma outra vida?
O
ser humano agora pode ser um embrião, um feto, um bebê. Nessa fase posso fazer
o que for do meu agrado para atingir meus objetivos. Mas depois ele se torna
uma pessoa adulta. Como ele vai avaliar a minha ação? Eu fui usado, eu fui
manipulado em função de, me usaram para. Está faltando dignidade para o ser
humano, que é único.
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