quarta-feira, 28 de março de 2012


Projeto que institui Funpresp é aprovado. O GLOBO 28.03
>>>> 
Cerca de 75% dos brasileiros jamais pisaram em uma biblioteca, diz estudo.  O Estado de S. Paulo - 28/03/2012
-
Pesquisa do Instituto Pró-Livro mostra que 71% da população têm fácil acesso a uma biblioteca


O desempregado gaúcho Rodrigo Soares tem 31 anos e nunca foi a uma biblioteca. Na tarde desta terça-feira, ele lia uma revista na porta da Biblioteca São Paulo, zona norte da cidade. "A correria acaba nos forçando a esquecer essas coisas." E Soares não está sozinho. Cerca de 75% da população brasileira jamais pisou numa biblioteca - apesar de quase o mesmo porcentual (71%) afirmar saber da existência de uma biblioteca pública em sua cidade e ter fácil acesso a ela.

Vão à biblioteca frequentemente apenas 8% dos brasileiros, enquanto 17% o fazem de vez em quando. Além disso, o uso frequente desse espaço caiu de 11% para 7% entre 2007 e 2011. A maioria (55%) dos frequentadores é do sexo masculino.

Os dados fazem parte da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, do Instituto Pró-Livro (IPL), o mais completo estudo sobre comportamento leitor. O Estado teve acesso com exclusividade a parte do levantamento, cuja íntegra será divulgada nesta quarta-feira em Brasília.

Para a presidente do IPL, Karine Pansa, os dados colhidos pelo Ibope Inteligência mostram que o desafio, em geral, não é mais possibilitar o acesso ao equipamento, mas fazer com que as pessoas o utilizem. "O maior desafio é transformar as bibliotecas em locais agradáveis, onde as pessoas gostam de estar, com prazer. Não só para estudar."

A preocupação de Karine faz todo sentido quando se joga uma luz sobre os dados. Ao serem questionados sobre o que a biblioteca representa, 71% dos participantes responderam que o local é "para estudar". Em segundo lugar aparece "um lugar para pesquisa", seguido de "lugar para estudantes". Só 16% disseram que a biblioteca existe "para emprestar livros de literatura". "Um lugar para lazer" aparece com 12% de respostas.

Perfil. A maioria das pessoas que frequentam uma biblioteca está na vida escolar - 64% dos entrevistados usam bibliotecas de escolas ou faculdades. Dados sobre a faixa etária (mais informações nesta página) mostram que, em geral, as pessoas as utilizam nessa fase e vão abandonando esse costume ao longo da vida.

A gestora ambiental Andrea Marin, de 39 anos, gosta de livros e lê com frequência. Mas não vai a uma biblioteca desde que saiu dos bancos escolares. "A imagem que tenho é de que se trata de um lugar de pesquisa. E para pesquisar eu sempre recorro à internet", disse Andrea.

Enquanto folheava uma obra na Livraria Cultura do Shopping Bourbon, na Pompeia, zona oeste, diz que prefere as livrarias. Interessada em moda, ela procurava livros que pudessem ajudá-la com o assunto. "Nem pensei em procurar uma biblioteca. Nas livrarias há muita coisa, café, facilidades. E a biblioteca, onde ela está?", questiona. Dez minutos depois, passa no caixa e paga R$ 150 por dois livros.

O estudante universitário Eduardo Vieira, de 23 anos, também não se lembra da última vez que foi a uma biblioteca. "Moro em Diadema e lá tem muita biblioteca. A livraria acaba mais atualizada", diz ele, que revela ler só obras cristãs. "Acho que nem tem esse tipo de livro nas bibliotecas."
>>> 
Governo quer criar um time de 'campeões em orgânicos'   Valor Econômico - 28/03
-
O governo federal vai eleger os 30 grupos de produtores rurais mais avançados hoje na agricultura familiar orgânica para transformá-los em uma "tropa de elite" do segmento, voltados à exportação e ao atendimento de grandes varejistas nacionais. A construção dessas futuras empresas-âncoras, que vêm sendo tratadas como prioridade, visa não só alcançar as prateleiras mais cobiçadas dos EUA, da Europa e do Japão - tradicionais consumidores desses alimentos -, mas preparar o terreno para a primeira Copa do Mundo orgânica e sustentável, em 2014, a ser anunciada nos próximos meses.

O passo inicial para montar esse time de ponta orgânico foi dado em janeiro passado, com a assinatura de um convênio entre o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e o Instituto de Promoção do Desenvolvimento (IPD) do Paraná para a estruturação das glebas de alto potencial em negócios de fato. Ao longo desses 12 primeiros meses (renováveis) estão previstos investimentos de R$ 3 milhões para um "intensivo" em capacitação no campo, o elo inicial e também o mais fraco da cadeia produtiva de orgânicos. Há hoje no Brasil 52 empreendimentos de agricultura familiar - cooperativas ou associações, representando 12 mil famílias - computadas pelo MDA que já embarcam produtos ao exterior, ainda que com frequência bastante irregular.

"Nós temos compradores ávidos de orgânicos, mas que não são pessoas que compram em qualquer circunstância. Precisamos qualificar o produtor para chegar à prateleira", diz Arnoldo Campos, diretor de geração de renda e agregação de valor do MDA. "Precisamos criar empreendimentos capazes de acessar mercados. Então, vamos turbinar 30 dos 52, os mais preparados".

De acordo com o último Censo brasileiro, 90 mil produtores rurais afirmaram ser orgânicos no país. Na prática, há muito menos que isso, já que a grande maioria são pequenos agricultores que desconhecem a regulamentação para esse tipo de agricultura e não contam com certificação.

Para Ming Liu, coordenador da Organics Brasil, o braço do IPD que trabalha na promoção dos produtos orgânicos brasileiros no exterior, o planejamento estratégico é essencial se o Brasil quiser aumentar a sua participação no mercado global, que movimentou no mundo US$ 55 bilhões em 2011. E também para atender a demanda do mercado interno, aquecido pela guinada no poder de compra de uma vasta classe média. Mas a falta de estrutura da cadeia produtiva continua sendo um fator limitante. "Há muitos fabricantes que não encontram matéria-prima orgânica disponível", afirma Ming Liu.

No chão de fábrica, isso é uma realidade preocupante. A Mãe Terra, empresa que tem crescido a uma taxa média de 30% ao ano, quase interrompeu a produção da sua linha de cookies no mês passado porque o fornecedor de trigo desistiu do "trabalhão" que é ser orgânico. "O principal fornecedor nacional jogou a toalha", diz o diretor-geral Alexandre Borges, ex-fundador do Flores Online que migrou para o segmento de orgânicos com o intuito de diversificar a oferta nacional de produtos. De imediato, a empresa se viu obrigada a recorrer a um outro fornecedor menor para dar continuidade às operações. Mas terá que complementar com importações de trigo orgânico da Argentina. "A priori queremos manter nosso fornecimento no Brasil, mas está muito difícil", afirma o executivo.

Com 55 produtos em seu portfólio, a Mãe Terra já desistiu de alguns itens por problemas semelhantes. "Paramos com o feijão orgânico, por exemplo, porque ele chegava úmido e com caruncho. Nosso grande desafio é desenvolver uma cadeia produtiva. Já perdemos muito dinheiro com isso por qualidade ruim e falta de consistência no fornecimento".

A Nutrimental, das barrinhas de cereais, e a Tozan, que comercializou soja entre 1991 e 2010, são outros casos de empresas que desistiram dos orgânicos por quebra de contrato de entrega. "Vendíamos 11 mil toneladas ao ano de soja ao exterior, mas deixamos o mercado porque não dá para produzir no Brasil. Tivemos casos de contaminação química nos carregamentos entregues à Europa. O fornecimento simplesmente não era confiável", diz Mauro Fujisawa, da Tozan.

Descontinuidade de operações é tudo o que o governo não quer nesse momento. A corrida contra o tempo começou, e o MDA sabe que já está atrasado. Está no forno a Política Nacional de Agricultura Orgânica e Agroecológica, que será anunciada na Rio+20, em junho, e ajudará a tirar do papel a Copa orgânica. Discutida há mais de um ano pelos Ministérios dos Esportes, do Meio Ambiente, do Desenvolvimento Agrário, pelo Sebrae e pelo setor privado, o evento esportivo mais popular do mundo tem a ambição de ser memorável além dos gols previstos. A ideia é colocar nos menus dos restaurantes e hotéis das 12 cidades-sede da Copa brasileira um cardápio orgânico e de diferentes biomas.

Resta saber se a oferta atenderá a demanda que virá. "Sem estruturação, não iremos a lugar algum", admite Campos, do MDA.
>>>> 
CINEMA    Sancionada lei para modernizar cinemas
Foi sancionada ontem pela presidente Dilma Rousseff a lei que institui o Recine, regime que suspende cobrança de impostos federais sobre investimentos na construção e modernização de salas de cinema no país. A previsão é que até 1.800 salas sejam digitalizadas com os incentivos fiscais. FOLHA SP 28.03
>>>>> 
CINEMA    "Xingu" tem pré-estreia grátis amanhã FOLHA SP 28.03
-
A Folha e o Cine Livraria Cultura promovem amanhã, às 20h, pré-estreia grátis de "Xingu", filme de ficção que mostra a saga dos irmãos Villas Bôas. Após a sessão, haverá debate com o diretor, Cao Hamburger. Senhas uma hora antes no local (r. Padre. João Manoel, 100; tel. 0/xx/11/3285-3696; 12 anos).
>>> 
Festival destaca cinema metalinguístico   Títulos do É Tudo Verdade mostram processos cinematográficos suspensos ou condenados ao esquecimento FOLHA SP 28.03


Na seleção, há filme que Fellini sonhou sem realizar e visita a balneário enquadrado por Saraceni em 1959
-
Resgatar. Restaurar. Revelar. Esses verbos, conjugados com maior ou menor precisão com aspectos da realidade e da história, fornecem sentido e vigor aos documentários exibidos no festival É Tudo Verdade.

Neste ano, o cinema recebeu um foco especial no evento, com títulos que levam a ver nas imagens um tipo de elo perdido.

Múltiplas são as possibilidades que se oferecem de resgatar, restaurar ou revelar processos suspensos ou condenados ao esquecimento.

De um filme que Fellini (1920-93) sonhou sem nunca ter realizado a um exercício de admiração de uma cineasta pelo trabalho pioneiro do fotógrafo britânico Richard Leacock (1921-2011). Da perambulação do roteirista Jean-Claude Carrière à redescoberta de Claudio Caldini, realizador experimental argentino cuja obra foi interrompida pela ditadura militar e que hoje trabalha como caseiro.

O Brasil ficou particularmente bem representado nesse conjunto, com títulos que ultrapassam o exercício de homenagens e devolvem projeções do país imaginado -do sonho do futuro ao pesadelo convertido em realidade ou à ressaca da utopia.

"Dino Cazzola - Uma Filmografia de Brasília" resgata os 30% que sobreviveram de registros feitos pelo cineasta que fugiu para o Brasil depois de sua cidade italiana ser destruída durante a Segunda Guerra. Aqui, ele se apaixonou pelas promessas de "novo mundo" associadas à construção da capital no fim dos anos 1950.

Das imagens aéreas do cerrado, espaço escolhido para abrigar a cidade, aos esforços de concretização dos traços abstratos de Niemeyer e Lúcio Costa (1902-98), tudo o que Cazzola documentou com obstinação em grande parte já desapareceu.

O que veio em seguida, na forma de excessos de poder e desvitalização do espaço público, ressurge intacto no material que o cineasta nos legou com lucidez histórica.

PAÍS DESFEITO

"Xaréu - Memórias do Arraial" revisita os remanescentes da população filmada por Paulo Cesar Saraceni no curta "Arraial do Cabo", um dos faróis do Cinema Novo.

O choque entre o trabalho artesanal e o industrial em 1959 deu lugar, hoje, à falta de perspectivas com a modernidade convertida em ruínas e a urbanização predadora. No meio, aparece um país desfeito, refeito e imperfeito.

"Mr. Sganzerla - Os Signos da Luz" projeta outra visão, anárquica e irônica, a partir do percurso do diretor Rogério Sganzerla (1946-2004) e, sobretudo, de sua capacidade de devorar e vomitar referências definidoras do Brasil. Orson Welles (1915-85) e Oswald de Andrade (1890-1954) encontram-se embalados por versos de Noel Rosa (1910-37) e acordes de Jimi Hendrix (1942-70) para alimentar um sonho de cinema sem limites.

A longa entrevista de "Coutinho Repórter" completa o lote de demonstrações de que, sem a visão oferecida por esses cineastas, não existem imagens de um povo.
>>> 
Mostra dá a arte popular status de contemporânea   Exposição no Instituto Tomie Ohtake é parte de processo de valorização FOLHA SP 28.03
-
Sorte dos artistas ditos populares começou a mudar em 2000, com a entrada deles nas grandes exposições
Primeiro, foram retirados de cena os termos "naify" e primitivo. Agora, no livro "Teimosia da Imaginação" (WMF Martins Fontes, R$ 120), o crítico Rodrigo Naves dá um passo além e põe de escanteio o adjetivo "popular".

"[Reunimos] um material que ajuda a colocar em xeque a concepção que vê na produção artística das camadas mais pobres da população um caráter exclusivamente singelo e lírico", diz Naves.

Somados o livro, a exposição de mesmo nome e dez documentários que serão exibidos pela TV Cultura a partir de 4 de abril, temos, como resultado, uma pergunta: por que não tratar os artistas populares, simplesmente, como artistas contemporâneos?

"Durante muito tempo, achou-se que a arte popular estava morta", responde a galerista Vilma Eid. "O mercado ficou restrito aos ícones", diz, referindo-se a José Antonio da Silva (1909-1996), Vitalino (1909-1963) e G.T.O. (1913-1990).

VERNIZ

A sina dos artistas que chegam ao Instituto Tomie Ohtake começou a mudar no início dos anos 2000, quando, na mostra "Brasil 500 Anos", Emanoel Araújo montou o módulo de arte popular. Seis anos depois, Lisete Lagnado colocaria o acreano Hélio Melo na Bienal de SP.

O mercado, como era de se esperar, abriu os olhos: os preços nos leilões subiram e, em galerias especializadas, os artistas receberam uma mão de verniz, tendo catálogos assinados por grifes da arte dita erudita e vernissages com champanhe.

"Vivemos um momento de reconhecimento da beleza e da verdade dessa arte", diz Roberto Rugiero, da Brasiliana, a mais antiga galeria dedicada ao gênero em São Paulo. Parte do reconhecimento vem do exterior.

A Fundação Cartier, de Paris, por exemplo, exibirá obras de Veio, José Bezerra e Nilson Pimenta.

Por aqui, os preços de alguns artistas dobraram em um ano. Estão, é claro, longe de Adriana Varejão ou Waltercio Caldas, mas batem na casa dos R$ 20 mil.

"Em vista do que eu era, tô milionário. Antigamente, se tivesse na roça, tava ganhando vinte real por dia. Hoje, graças a Deus, faço minha roça no quadro", diz Pimenta. "Em Santa Teresa, tive a ideia de criar o bondinho. Todo mundo ficou entusiasmado. Deu no 'Jornal do Brasil', daí passei para 'O Globo', fiquei conhecido", conta Getúlio Damado.

O que os dez artistas de "Teimosia da Imaginação" têm em comum é o ponto de partida e o ponto de chegada. Partiram da lavoura ou do trabalho braçal nas cidades. Chegaram a uma linguagem própria e cheia de significado -ou seja, à arte.

TEIMOSIA DA IMAGINAÇÃO

QUANDO amanhã a 13/5 - ter a dom das 11h às 20h
ONDE Instituto Tomie Ohtake (r. Coropés, 88; tel. 0/xx/11/2245-1900)
QUANTO grátis
CLASSIFICAÇÃO livre
>>> 
'Imprensa Gay no Brasil' é lançado hoje com debate.   Encontro acontece às 19h, no MAM, com a presença do deputado Jean Wyllys (PSOL)
-
A visão da imprensa sobre a comunidade gay é tema de um debate que acontece hoje, às 19h, no MAM.

O encontro vai reunir a jornalista Flávia Péret, o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ), o crítico e romancista João Silvério Trevisan e o psicanalista e colunista da Folha Francisco Daudt.

Após o debate, às 20h15, haverá o lançamento do livro "Imprensa Gay no Brasil" (Publifolha), de Péret.

A obra, que reconstrói quase meio século de história da imprensa, venceu a primeira edição do Folha Memória -iniciativa da Folha de financiar pesquisas sobre a formação do jornalismo no Brasil, com patrocínio da Pfizer.

Em 1978, durante o regime militar, surgiu o "Lampião da Esquina", o primeiro jornal brasileiro assumidamente homossexual. Fazem parte do livro a história da origem dessa e de outras publicações dirigidas ao público gay.

Para participar, basta enviar, das 14h às 18h, nome, RG e telefone para evento@grupofolha.com.br.

As inscrições para a terceira edição do programa estão abertas até 30/4, no folhamemoria.folha.com.br.

OS GAYS NA VISÃO DA IMPRENSA BRASILEIRA

QUANDO hoje, às 19h (debate) e às 20h15 (lançamento)
ONDE MAM (av. Pedro Àlvares Cabral, s/nº, parque Ibirapuera; tel. 0/xx/11/5085-1300)
QUANTO grátis
>>> 
Rio vê nascer nova geração de músicos   Jovens artistas se dividem entre os herdeiros da Orquestra Imperial, as vozes da Lapa e seguidores de Maria Gadú FOLHA SP 28.03

-
Maioria das bandas e dos cantores se prepara para estrear em disco ou está para lançar segundo trabalho

É uma questão numérica. A abundância de primeiros ou segundos álbuns lançados nos últimos meses por artistas cariocas (ou ligados ao Rio) indica incontestável renovação na cena local.

São trabalhos que apresentam cantores e compositores novos -quase sempre bem jovens (alguns não chegaram aos 25 anos). A maioria nasceu na cidade ou a adotou.

Segundo o produtor Plínio Profeta, a diversidade de estilos é imensurável. Mas há três correntes principais.

A primeira é ligada à vanguarda, que ele chama de "cena criativa". São "filhos da Orquestra Imperial", "big band" fundada no começo dos 2000 que reuniu alguns dos artistas mais interessantes daquela década, como Kassin, Domenico Lancellotti, Rodrigo Amarante, Thalma de Freitas e Nina Becker.

Dessa ramificação, além dos próprios integrantes da Orquestra (Rubinho Jacobina prepara seu segundo CD), vêm meninos assumidamente influenciados por eles.

É o caso do cantor Cícero e das bandas Tono (cujo guitarrista é Bem Gil, filho de Gilberto Gil), Do Amor e Letuce.

Formado pelo casal Letícia Novaes e Lucas Vasconcellos, o Letuce acaba de lançar "Manja Perene", o segundo disco, de canções com títulos nada convencionais, feito "Sempre Tive Perna", "Medo de Baleia" e "Cataploft".

O experimentalismo exacerbado incomodou alguns fãs da primeira viagem da banda, bem mais romântica.

"A gente se apaixonou, casou e agora faz manutenção dessa história", responde Letícia aos insatisfeitos. "O amor também é broxante. Então, há momentos broxantes na nossa música. Mas há bem mais coisa do que isso."

Profeta diz que, no Rio, a "cena criativa" é a que mais carece de público. "São Paulo, nesse sentido, está bem na frente. Lá, o cenário independente aparece mais."

LAPA

A segunda corrente que se evidencia na nova cena carioca tem raiz na Lapa.

Revitalizada também nos anos 2000, a região serviu então de cenário para a recolocação do samba no centro nevrálgico do pop nacional. Lá, atuavam Teresa Cristina, Pedro Miranda (que conclui terceiro CD) e Moyseis Marques (do grupo Casuarina).

Marques, que lança agora "Pra Desengomar", diz que a Lapa passou por um momento inicial, nos anos 2000, que era "muito reverente".

"Estávamos deslumbrados com a redescoberta daquele repertório clássico, Nelson Cavaquinho, Zé Kéti, que, para nós, era novidade."

Ele diz que foi só no meio da década que seus pares tomaram coragem para fazer os primeiros sambas autorais. Mas ainda eram comparados a Chico Buarque, Cartola e Paulinho da Viola.

"Eu mesmo procurava essas semelhanças", diz. "Hoje, estamos um momento adiante: Teresa Cristina, que só cantava Candeia, canta agora Adriana Calcanhotto junto com Marisa Monte."

Nessa configuração mais pop, os sambistas vêm se aproximando da Zona Sul e fazem shows para público que não frequentava a Lapa.

A terceira nova corrente tem uma paulista, Maria Gadú, como força motriz. Antes de estourar nacionalmente com "Shimbalaiê", em 2009, a cantora já tinha uma turma, batizada Varandistas (porque se reuniam na varanda do cineasta Caio Sóh, na Barra).

Enquanto "filhos da Orquestra" trabalham pela não canção -ou em embate com as fórmulas clássicas-, Varandistas atuam a favor dela.

Sete músicos com essas características foram reunidos no CD e DVD "Sarau", editado pela Universal Music: os cariocas Gugu Peixoto, Aureo Gandur, Fred Sommer e Taís Alvarenga, o brasiliense Daniel Chaudon, e os paulistas João Guarizo e Toni Ferreira.

"Gadú descortinou para as gravadoras o que estava acontecendo", diz Clemente Magalhães, produtor do "Sarau". "É um movimento da canção, das rodas de violão nas festas. Todos são compositores hiperativos."

A gravadora quer lançar trabalhos individuais de todos. Chaudon, o primeiro, com "Me Conta uma Música" (já nas lojas), vem sendo chamado de "Gadú de calça".
>>> 
Filme de Herzog enfoca pena capital sem ceder a dramatização maniqueísta FOLHA SP 28.03


-
Na faceta documental de sua obra, o cineasta Werner Herzog habituou o público a segui-lo nos extremos.

As condições rarefeitas da sobrevivência em tempos de guerra, as paisagens geladas do fim do mundo, o isolamento humano em meio à natureza ou o tempo perdido no fundo de uma caverna pré-histórica foram algumas das experiências-limite que o diretor já registrou.

Com "Ao Abismo: Um Conto de Morte, Um Conto de Vida", a câmera do alemão volta a enfrentar o extremo ao abordar o tema da pena capital e confrontar a corrente de pensamento, predominante em parte dos EUA, que defende o direito de matar.

O filme parte de uma entrevista com Michael Perry, rapaz de 28 anos acusado de um triplo homicídio no Texas em 2001. Dentro de uma cabine de segurança, Perry responde com lucidez ao questionamento de Herzog, inteirado de que só lhe restam oito dias de vida antes da execução.

O testemunho do condenado completa-se com o depoimento de seu cúmplice, de familiares das vítimas e de profissionais da lei, incluindo um ex-carrasco.

A opção pelo tratamento multifocal, no entanto, não mira o ideal de imparcialidade, já que Herzog impõe seus pontos de vista por meio da voz explícita, que interroga e acua os entrevistados.

A força do conjunto vem da superposição de experiências e por não ceder ao apelo da dramatização maniqueísta.

A cada testemunho, "Ao Abismo" traz à tona a dimensão dostoievskiana do crime e sua punição, ordena os argumentos e expõe uma lógica em que se confundem justiça e vingança. No documentário, a morte paira como o limite impossível de transpor.

(CÁSSIO STARLING CARLOS)

AO ABISMO: UM CONTO DE MORTE, UM CONTO DE VIDA

EXIBIÇÕES Espaço Itaú de Cinema Botafogo, Rio (hoje, às 22h30, e amanhã, às 17h)
QUANTO grátis
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO bom
>>> 
Ameaça sobre o legado de Jorge Amado    O cenário de "Gabriela, Cravo e Canela", referência em turismo sustentável, está ameaçado pela construção de 2 portos, que vão trazer navios de grande porte FOLHA SP 28.03
-

Às vésperas da Rio+20, o governo baiano propõe implantar no sul da Bahia um "projeto de desenvolvimento" com uma visão de progresso do século 20: a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), com o objetivo de exportar commodities e minério de ferro através da construção de dois portos em Ilhéus.

O governo do Estado assume a responsabilidade pelo licenciamento ambiental dessa infraestrutura portuária perante o Ibama, ainda que um dos portos seja de uso privativo da Bamin (Bahia Mineração).

O minério de ferro basicamente será explorado por essa empresa em uma mina no município baiano de Caetité. Sua vida útil seria de quinze anos, e a sua implantação comprometeria 27 cavernas.

Vale lembrar que, pela sua importância, as cavernas são consideradas bens da União pela Constituição. Ela são ainda protegidas pela Constituição da Bahia.

Importa aqui chamar a atenção para a real vocação do sul da Bahia, ainda mais no ano de celebração dos 100 anos de Jorge Amado, o mais popular escritor brasileiro do século 20.

Todos sabem que seus livros são ambientados no sul da Bahia -o mais conhecido, "Gabriela, Cravo e Canela", acontece em Ilhéus.

É importante lembrar também que a região é uma referência em turismo sustentável no Brasil. Isso se viabilizou graças aos investimentos públicos financiados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento nos últimos anos.

A implantação do projeto coloca em risco toda essa economia geradora de postos de trabalho e renda para a população local.

Com relação ao projeto original de se implantar o terminal privativo na Ponta da Tulha, houve inegável avanço em se reconhecer que aquela localização comprometeria os frágeis atributos ecológicos lá existentes, especialmente os recifes de corais.

A Bahia é um dos poucos litorais no Atlântico Sul com ocorrência de corais, algo que foi assinalado por Charles Darwin em seu livro "The Structure and Distribution of Coral Reefs" ("A Estrutura e a Distribuição dos Recifes de Corais").

A nova localização, Aritaguá, oferece graves riscos à região, com possibilidade de que as praias do litoral norte sofram sérios problemas de erosão. Isso, aliás, consta dos estudos ambientais, sem que uma resposta efetiva tenha sido dada.

Os navios de grande porte para o transporte de minérios podem provocar danos irreversíveis aos corais da região. Há ainda, obviamente, a incompatibilidade entre um destino turístico com características tão especiais com uma infraestrutura de exportação de minérios e com a eventual transformação daqueles municípios em um polo industrial.

Todos são a favor de que se encontre uma solução para os problemas do sul da Bahia. É preciso criar postos de trabalho, melhorar o IDH da região e, enfim, gerar oportunidades para a população lá residente.

Por outro lado, implantar uma economia na região às custas do patrimônio ecológico e cultural significa privilegiar uma visão estreita, de curtíssimo prazo, que está na contramão de uma economia verde sintonizada com os limites ecológicos da região e do planeta.

É a consagração do atraso em nome do progresso.

FABIO FELDMANN, 56, é ambientalista. Foi deputado federal por três mandatos e candidato a governador do Estado de São Paulo pelo PV

Nenhum comentário: