sábado, 31 de março de 2012
Tribunais internacionais devem se complementar, diz
Cançado Trindade
Professor
Emérito da UnB esteve na universidade nesta quarta-feira, para abertura do III
Seminário Latino-Americano de Direitos Humanos unb.br 29/03
-
Recebido
de pé pelo auditório lotado do Memorial Darcy Ribeiro, o professor emérito da
UnB Antônio Augusto Cançado Trindade participou da abertura do III Seminário
Latino-Americano de Direitos Humanos, nesta quarta-feira, 28 de março. Cançado
Trindade, que é juiz da Juiz da Corte Internacional de Justiça, em Haia, veio
da Holanda especialmente para o encontro. Ele proferiu a palestra O acesso da
pessoa humana à justiça internacional na era dos tribunais internacionais na
conferência de abertura. Ele defendeu que os tribunais devem coordenar suas
ações, para garantir a “evolução harmônica de sua jurisprudência”.
A
dinâmica do mundo atual apresenta uma grande diversidade de relações entre os
países e, consequentemente, conflitos diferenciados decorrentes dessas
relações. Uma das características dessa configuração é a quebra de fronteiras,
o que determina uma interação mais próxima entre as pessoas de nacionalidades
diferentes. Ou seja, o aumento de conexões entre países e pessoas e a
intensidade dessas relações geram novos paradigmas de solução de conflitos que
precisam ser resolvidos em níveis internacionais. Segundo o jargão jurídico, as
entidades – Estados ou organizações – que têm direitos e deveres no plano
internacional têm personalidade jurídica internacional.
“A
atual operação no plano internacional de múltiplos tribunais internacionais tem
gerado novas possibilidades de solução pacífica de controvérsias e ampliado o
acesso à justiça em diferentes domínios do direito internacional
contemporâneo”, disse Cançado Trindade. “Esse é um fenômeno próprio dos nossos
tempos”. Para o professor emérito, os diferentes tribunais internacionais são
necessários para acompanhar a expansão da personalidade jurídica internacional.
A responsabilidade dos países sobre as relações que estabelecem com outros
países e com pessoas também aumenta nesse contexto.
Cançado
Trindade considera o aumento de possibilidades na solução de conflitos
internacionais um avanço, mas acredita que ainda há obstáculos ao sistema. “Um
problema é o das reparações devidas às vítimas de violações graves de seus
direitos internacionalmente reconhecidos, ainda não suficientemente
resolvidos”, declara. “Outro problema pendente é o da necessária adequação da
normativa de direito interno à normativa internacional aplicável”. Além disso,
o professor acredita que é importante evitar jurisprudências diferentes nos
tribunais.
Os
tribunais internacionais operam em áreas distintas do Direito Internacional e
trabalham de forma complementar. Cançado Trindade acredita na convergência
entre o Direito Internacional dos Direitos Humanos e o Direito Penal
Internacional, para garantir que a condenação das pessoas não exclua a
responsabilidade dos Estados. “Não se pode esquecer que, em muitos conflitos, o
indivíduo agiu segundo ordem do Estado”, explica.
SOLENIDADE
– O reitor José Geraldo de Sousa Junior participou da mesa de abertura do
seminário e disse que os debates ajudam na construção dos Direitos Humanos. “Um
encontro como esse, que não fica apenas na retórica dos grandes discursos, abre
espaço para a representação de vivências transformadoras”, afirmou. “Na UnB há
uma dimensão de acolhimento para esse tema”. José Geraldo lembrou o fundador da
universidade, Darcy Ribeiro. “Ele colocou como um dos eixos para a construção
institucional da UnB os Direitos Humanos, junto com a sustentabilidade e a
paz”, declarou.
O
reitor mencionou os 25 anos do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação sobre as
Américas (Ceppac), do Instituto de Ciências Sociais, como uma das contribuições
da universidade para os debates sobre Direitos Humanos, além do Decanato de
Extensão, que tem os Direitos Humanos como um dos oito eixos para os projetos,
e o Núcleo de Estudos Para a Paz e Direitos Humanos (NEP), do qual foi um dos
fundadores.
SAIBA
MAIS:
Os
tribunais penais internacionais tratam, basicamente, de crimes ocorridos em
conflitos armados, tanto internos quanto internacionais. Nos tribunais
internacionais de Direito Penal, uma promotoria especializada seleciona casos
de violação de direitos do Estado sobre indivíduos que ficam sob sua
jurisdição.
Nos
tribunais internacionais de Direitos Humanos as vítimas de violações enviam
seus casos, individualmente ou em grupos. Pode haver ou não a interferência de
organismos internacionais.
A
Corte Internacional de Justiça lida com controvérsias entre Estados sobre
assuntos variados e questões relativas à Organização das Nações Unidas (ONU).
Hoje
existem no mundo tribunais penais – que tratam de casos de responsabilidade
individual –, como o Tribunal Penal Internacional (TPI), o Tribunal para a
Ex-Iugoslávia, Tribunal para Ruanda e os tribunais especializados para o
Camboja, para Kosovo, para Serra Leoa, e para o Timor Leste. Os três tribunais
internacionais de Direitos Humanos – cuidam de questões relativas à
responsabilidade do Estado sobre indivíduos – são as Cortes Europeia,
Interamericana e Africana. Há ainda os tribunais que trabalham na integração
regional e no direito do mar.
O
diálogo entre os tribunais ocorre em reuniões periódicas para discutir casos
julgados e desafios comuns. Nos encontros, os juízes trocam informações para
evitar divergências nas jurisprudências.
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LITERATURA. Morre aos 82 anos a poeta Adrienne Rich
Morreu
na última terça, aos 82, a poeta americana Adrienne Rich, ícone da literatura
feminista. Conhecida por suas críticas sociais, Rich recebeu diversos prêmios
literários, como o National Book Award, em 1974. Assumiu-se lésbica e foi
pioneira na luta por direitos civis dos homossexuais. FOLHA SP 30/03
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CARLOS HEITOR CONY.
O homem que vendeu a alma
'La
Bohème' ficou, no consenso de puccinianos ou antipuccinianos, como a sua
obra-prima FOLHA SP
30/03
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TUDO
SE explica: Puccini vendeu a alma ao demônio. Foi essa -e não podia ser outra-
a explicação de seus rivais e inimigos, roídos e moídos não pelo sucesso
popular e financeiro das obras do compositor, mas pela beleza simples, humana,
quase cafona, de suas partituras.
De
Monteverdi a Menotti, todos os autores de ópera, incluindo Mozart, gostariam de
ter escrito alguns dos momentos puccinianos que definem, justificam e eternizam
o gênero lírico no que ele tem de mais autêntico.
Nem
Verdi em todo o seu esplendor nem Wagner em sua empáfia conseguiram aqueles
acordes que atingem não a arte pela arte (Puccini nunca foi disso), mas o belo
pelo belo. E, dentro do seu universo, "La Bohème" ficou, no consenso
de puccinianos ou antipuccinianos, como a sua obra-prima por excelência, pois é
uma ópera intrinsecamente pucciniana.
Nem
sempre solistas, coro, orquestra, "régie", cenário e vestuário
mostram-se adrede para uma "La Bohème" a preceito. É ópera que requer
clima e trabalho. Requer paixão.
Se
o sucesso internacional e histórico da ópera, em si mesma, se deve ao gênio
musical de Puccini, o triunfo de cada récita também pode ser creditado aos seus
montadores famosos, entre outros, Luchino Visconti, Ingmar Bergman, Franco
Zefirelli, e até mesmo Margarita Wallmann, com seus cabelos brancos, sua perna
aleijada, sua visão da arte, do palco, da vida.
Já
perguntei a vários cantores, aqui e no exterior, sobre a ópera que consideram a
melhor, a mais próxima da sensibilidade de cada um. A resposta, geralmente, sai
enrolada para um tipo de pergunta assim. Alguns complicam, fazem distinções
sutis, escondem o jogo como podem.
Mas
depois de um aperto, todos terminam admitindo: "Bem cantada, bem encenada,
'La Bohème' pode não ser a mais nobre das óperas, mas é a mais ópera de
todas".
Afinal,
o temperamento de cada um se identificará com a discutível e não demonstrada
poesia de Rodolfo, a inacabada pintura de Marcello, a música não ouvida de
Schaunard, a filosofia (essa sim, explicitada) de Colline, que não transcende a
uma ária sentimental dedicada ao próprio capote. Conheço filósofos piores.
Cada
vez mais, os divos e divas se recusam a cantar nos ensaios gerais, preferindo
guardar a voz para o espetáculo. Não é nada, não é nada, esse vedetismo acaba
prejudicando os grandes momentos líricos; dificilmente a orquestra tem
condições de se entrosar com o canto e vice-versa. Lembro de anos atrás, quando
Mario Del Monaco fazia três, quatro ensaios com a orquestra, mandando brasa na
sua poderosa e brilhante voz. Na noite do espetáculo, a voz de Monaco não
estava "stanca". Pelo contrário: ficava sempre melhor.
Muitos
garantem que Puccini se apaixonava pelas mulheres que criava: Tosca, Butterfly,
Manon, Mimi. Uma intérprete pucciniana sofre, geme e morre de amor, não por
Mario Cavaradossi ("Tosca"), por Rodolfo ("La Bohème"),
pelo tenente Benjamim Franklin Pinkerton ("Madama Butterfly") ou por
Des Grieux ("Manon Lescaut"). A paixão delas, o "outro",
que está invisível, mas presente em cena, é sempre Puccini.
Visitei
diversas vezes a sua casa em Torre del Lago, não muito longe da sua Lucca
natal, uma das cidades mais típicas da Toscana. Junto com suas armas de caça,
estão as fotos de suas grandes intérpretes, com dedicatórias reveladoras de uma
paixão nem sempre utópica.
Impressionou-me
a da primeira soprano que cantou "Madama Butterfly", uma japonesa que
transcreveu, em cima da foto, um dos versos que ela canta no dueto final do primeiro
ato: "Rinnegata... e felice" -renegada... e feliz.
Realmente,
o compositor era um "homme à femmes". Chegou a ter um problema com a
polícia quando uma de suas empregadas suicidou-se por amor a ele. Outras também
o fizeram, em Paris, Milão, Viena e Nova York.
Aliás,
o sucesso de Puccini nos Estados Unidos foi enorme. Por ocasião de sua primeira
visita, o "New York Times" comparou a sua recepção à de Charles
Lindbergh, o primeiro aviador a atravessar só o Atlântico, pilotando o Spirit
of St. Louis.
Thomas
Edison, o maior inventor de seu tempo, deu a Puccini um de seus primeiros
gramofones, com a enorme tuba em ouro, na qual mandou gravar: "Outros
depois de mim farão inventos melhores, mas ninguém fará melodias mais belas do
que Puccini".
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EMPRESÁRIOS.
Movimento
Brasil Eficiente tem novas adesões e traça estratégias FOLHA SP 30/03
DE
SÃO PAULO - A coordenação do Movimento Brasil Eficiente anuncia hoje, em sua
primeira reunião do ano, a adesão do governador Eduardo Campos (PSB-PE) e do
publicitário Nizan Guanaes, que cuidará da comunicação do movimento.
Criado
em 2010, o movimento reúne empresários e sociedade civil em defesa da
simplificação fiscal e da melhor utilização dos recursos públicos.
Eles
buscam apoios para abaixo-assinado, hoje com 12 mil assinaturas, em favor de um
projeto de simplificação fiscal, a ser enviado ao Congresso.
Também
será discutida uma campanha de arrecadação de recursos para realizar eventos
pelo país. O encontro será às 8h na Escola de Economia da FGV, em São Paulo.
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RIO+20. Manifesto
de cientistas cobra mais atenção a temas ambientais
Em
Londres, grupo de 3.000 acadêmicos pede decisões rápidas FOLHA SP 30/03
-
Cientistas
ligados à área ambiental do mundo todo lançaram ontem, em Londres, manifesto
pedindo mais atenção às questões ambientais na Rio+20, conferência da ONU sobre
desenvolvimento sustentável que será realizada em junho.
Com
3.000 signatários, a "Declaração do Estado do Planeta" diz que não
basta buscar um "ideal distante" e cobra agilidade dos políticos
contra a crise ambiental.
"As
questões que estão sendo debatidas na Rio+20 são as mesmas que foram debatidas
há 20 anos, mas agora é ainda mais urgente enfrentá-las", afirma o texto
do encontro "Planet Under Pressure", última reunião de cientistas
antes da Rio+20.
A
declaração lembra que a degradação ambiental cresceu nas últimas décadas, a
despeito dos acordos feitos na Eco-92, como a convenção de mudanças climáticas.
"O
rascunho zero da Rio+20 [esboço do documento final do encontro] joga a solução
para o futuro. Já fizemos isso há 20 anos e só o que se viu foi aumento da
emissão de CO2, aumento da perda de espécies e 800 milhões de pessoas com fome.
Precisamos sair da mesa de negociação para ações práticas", diz o biólogo
Fabio Scarano, um dos brasileiros que participaram do encontro.
O
governo brasileiro afirma que a Rio+20 tratará dos três pilares do
desenvolvimento sustentável (ambiental, social e econômico) e que as críticas
da comunidade científica não se justificam.
"Considero
uma vitória do ambientalismo promovermos uma conferência baseada nos três
pilares, não apenas com foco no ambiental", disse Samyra Crespo,
secretária do Ministério do Meio Ambiente. Para ela, os ambientalistas estão
ressentidos por não serem as estrelas da Rio+20, como foram na Eco-92.
A
falta de discussões sobre ambiente e clima na Rio+20 já tinha sido abordada em
outras reuniões de cientistas. No Fórum Mundial da Água, há duas semanas em
Marselha, na França, a necessidade de metas sobre água potável e direito à água
nas discussões foi destacada."Vou levar o tema para a conferência",
disse à Folha na ocasião o francês Brice Lalonde, secretário executivo da
Rio+20.
>>>
-
GOVERNO »
Fim das barreiras no MRE
Após
denúncia do Correio, Itamaraty acaba com a regra que obrigava estagiários a
entrarem no ministério por uma porta no subsolo. (…) O Sinditamaraty criticou o
fato de duas comissões criadas recentemente pelo ministério serem compostas
apenas por diplomatas: a Comissão de Ética e uma comissão encarregada de
coordenar o sistema de controle de acesso.(…) Tenho medo de que haja
represálias contra alguns colegas. Não representamos os estagiários, mas
estaremos atentos" Helder Nozima Pereira, presidente da Associação
Nacional dos Oficiais de Chancelaria. CORREIO BSB 31.03
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Carta de protesto
-
O
Sindicato dos Servidores do Ministério das Relações Exteriores (Sinditamaraty)
vai entregar hoje uma carta ao gabinete do chanceler Antonio Patriota
criticando a discriminação que os estagiários, contínuos e funcionários
terceirizados vêm sofrendo ao serem obrigados a entrar no prédio pela garagem. CORREIO BSB 30.03
>>>
GOVERNO » Restringir
acessos é prática na Esplanada
Alegando
segurança, ministérios reservam portaria para convidados e funcionários com
salário superior a R$ 6,8 mil CORREIO BSB 30.03
-
No
Ministério do Esporte, as faxineiras precisam apresentar o crachá ao usar a
entrada principal: no acesso privativo, o documento não é obrigatório
A
discriminação enfrentada por estagiários, contínuos e terceirizados do
Itamaraty se repete em toda a Esplanada dos Ministérios, com a existência de
entradas privativas a ministros e funcionários em cargos de Direção e
Assessoramento Superior (DAS) de nível 4, ou seja, com salários acima de R$
6.843,76. Todos os demais servidores que recebem abaixo desse patamar são
proibidos por seus ministérios de entrar pela portaria especial e devem se
dirigir à entrada principal do prédio. A medida, na prática, cria duas castas
de funcionários: uma composta pela maioria, que geralmente enfrenta filas para
entrar no trabalho e é obrigada a se identificar; e outra especial, dos que
ganham salários mais altos e entram e saem dos ministérios sem grandes
impedimentos.
Cada
ministério tem autonomia para criar as regras sobre o procedimento de acesso ao
prédio. No entanto, todos acabam adotando normas muito parecidas, que separam
as duas categorias de funcionários. Pela entrada privativa, só entram os que
ganham acima de DAS 4, o ministro, o secretário executivo e os convidados do
ministro, desde que tenham seu nome identificado. Nesse grupo, estão deputados,
senadores, magistrados e membros do alto clero. Empresários e profissionais
liberais, desde que autorizados pelo gabinete do ministro, também podem usar
essa porta especial. No Supremo Tribunal Federal, no Superior Tribunal de
Justiça e no Congresso Nacional não há distinção de acesso.
Servidores
da Esplanada ouvidos pelo Correio trataram com naturalidade a diferenciação que
é feita. “Eu acho adequado que existam elevadores específicos para esse grupo
de funcionários para que não haja filas enormes. Na entrada privativa, o
ministro tem o elevador exclusivo dele e os funcionários acima de DAS 4 têm o
deles”, defendeu o servidor Sidney Oliveira, que trabalha na Secretaria de
Comunicação, no Bloco A da Esplanada, e usa a entrada privativa.
O
principal argumento usado pelos ministérios para justificar as duas entradas é
de que o ministro não pode esperar o elevador para chegar a seu gabinete,
tampouco deve, por motivos de segurança, ter a mesma entrada que os demais
funcionários. As justificativas perdem sentido, porém, quando aplicadas aos
funcionários de salários mais altos. No dia a dia, a entrada privativa acaba
servindo também para aqueles que não querem identificar sua entrada no prédio,
como lobistas. O mesmo ocorre com políticos que não querem ter o registro de
suas entradas na portaria principal do prédio. Ontem, o amigo de um funcionário
do gabinete do ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas, tentou entrar
pelo acesso especial. Queria presentear o amigo com uma camisa do
Internacional. Ao ser abordado pelo Correio, recuou e decidiu usar o acesso
normal.
Embora
essa discriminação ocorra em toda a Esplanada, o clima entre servidores ontem
era de revolta com a medida do Itamaraty. Um grupo de faxineiras, na porta do
Ministério do Esporte, criticou a discriminação. “É claro que é preconceito.
Querem separar os funcionários mais simples dos outros”, afirmou uma delas, que
pediu para não ser identificada.
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EDUCAÇÃO » Aluno
especial paga mais
Escolas
particulares cobram ilegalmente taxas extras para matricular estudantes com
síndrome de Down. A prática é condenada pelo Conselho Nacional de Educação e
pela Secretaria de Educação, que pregam o respeito à inclusão CORREIO BSB 30.03
-
Lourdes
Lima, mãe de Lia: "Em uma delas (escolas) queriam me cobrar quatro
mensalidades a mais"
Acabar
com a discriminação e incluir pessoas com distúrbios genéticos na sociedade. O
discurso aparece em leis, em decretos, em organizações públicas ou privadas, na
boca de políticos, além de ser um direito garantido pela Constituição Federal.
Para os portadores da síndrome de Down do DF, no entanto, as dificuldades
começam na escola e pesam no bolso dos pais. Estabelecimentos particulares
cobram taxas extras para matricular esse tipo de aluno. A prática é ilegal,
segundo o Conselho Nacional de Educação (CNE), e a Secretaria de Educação.
Ambos consideram a cobrança discriminação.
O
Correio visitou seis escolas e constatou que três delas exigem a contratação de
um acompanhante no ato da matrícula para fazer companhia à criança especial. O
Colégio Santa Rosa (602 Sul), a Escola Renascença (914 Norte) e a Escola Nossa
Senhora de Fátima (906 Sul) são enfáticos ao ressaltar que o aprendizado só é
garantido com a presença desse profissional. Um docente auxiliar custa, em
média, R$ 600, se sugerido pela instituição; e R$ 1 mil, se contratado por
fora.
O
Dromos (Sudoeste) afirmou fazer uma avaliação prévia da criança para analisar
as reais necessidades de um supervisor. Na instituição, três portadores de
síndrome de Down estão matriculados. Um não precisa de acompanhante, e os
outros dois estão em fase de teste. O colégio permite que os pais escolham o
tutor e paguem diretamente ao profissional. Entre as visitadas, as escolas La
Salle (906 Sul) e Sigma (912 Sul) afirmaram não cobrar nada a mais para receber
as crianças portadoras de necessidades.
O
presidente da Câmara de Educação Básica do CNE, Francisco Aparecido Cordão,
afirma que as estruturas física e de ensino das instituições devem receber a
todos, com qualidade. “Não há qualquer legalidade nesta cobrança. Escolas
públicas e privadas devem ser inclusivas e ter condições para receber os ditos
normais e os especiais. A escola tem que dar tratamento adequado e não
diferenciar quem tem deficiência x ou y.” A educação especial para todos está
prevista na Resolução nº 4 de 2009, do CNE, na Resolução nº 2 de 2001, no
Decreto nº 3.956 de 2001 e em outras normas.
Acompanhante
A
posição do CNE converge com a da Secretaria de Educação. Segundo o chefe da
Coordenação de Supervisão Institucional e Normas de Ensino (Cosine), Marcos
Silvio Pinheiro, órgão que supervisiona e orienta as escolas, a maioria das
instituições não têm condições de receber alunos especiais. “O ideal seria que
todas conseguissem atender bem essas pessoas, realmente educar. A princípio,
esta cobrança é ilegal. Mas teremos que investigar todas elas para dizer o que
pode acontecer.” Segundo ele, é preciso haver apuração de cada caso. “A escola
pública tem os profissionais treinados para ensinar, mas as particulares
enxergam a questão econômica. Temos processos de instituições que rejeitaram
alunos.”
Apesar
da cobrança, nenhuma das escolas visitadas mentiu ou tentou fazer um contrato
com cláusulas obscuras. “Toda vez que a criança precisa de um atendimento
especial, há um aumento no valor. Se ela necessita de um tutor, não posso
dissolver isso nas outras mensalidades. A situação é, sim, legal, tem uma
relação contratual clara”, disse a presidente da Federação Nacional das Escolas
Particulares (Fenep), Amábile Pacios, também proprietária da Dromos. Ela
ressalta que o tutor garante a integridade da criança. “Com a contratação,
garantimos a real inclusão, pois o acompanhante mostra os limites e direciona o
estudo.”
O
Correio ouviu funcionários de três colégios durante as visitas. Na Escola Nossa
Senhora de Fátima, a atendente informou que é uma prática cobrar a mais dos
pais pela contratação de um pedagogo em casos especiais (leia diálogo ao lado).
Apesar disso, a psicóloga da instituição, Rosana Paranhos, afirmou que não há
cobrança de taxa extra. O que há, segundo ela, é um “trabalho diferenciado”.
“Tudo o que fazemos é conversado com os pais. Temos resultados ótimos e somos
referência. As pessoas pedem indicação. Inclusive atendemos a primeira pedagoga
que se formou com síndrome de Down”, disse.
A
reportagem também gravou uma conversa na Escola Santa Rosa.Uma funcionária
admitiu a cobrança de uma matrícula mais para o acompanhamento de alunos
portadores de necessidades. A diretoria do colégio informou, por telefone, que
só daria entrevista pessoalmente. Já o diretor da Renascença, César Augusto
Peixoto, alegou que não cobra nada. “Temos alunos com síndrome de Down e nunca
exigimos acompanhante.” Mas, segundo gravação feita pelo Correio, uma
secretária afirmou não estar preparada para atender alunos com Down e disse
exigir um profissional, escolhido pela família.
Conceito
O
Decreto nº 3.956, que promulga a Convenção Interamericana para a Eliminação de
Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência,
cita que o termo discriminação significa “toda diferenciação, exclusão ou
restrição baseada em deficiência, antecedente de deficiência, consequência de
deficiência anterior ou percepção de deficiência presente ou passada”.
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Os idos de março e os vindos de abril . Hélio Rocha é jornalista e escritor e colunista do
POPULAR
O POPULAR 30.03
-
Tristes
idos de março, tristes vindos de abril. Há exatamente 48 anos, 30 de março de
1964, no Palácio das Laranjeiras, no Rio de Janeiro, o então presidente João
Goulart acabava de se vestir, no começo da noite, para ir a um evento que se
realizaria no Automóvel Clube. O evento era uma inusitada assembleia rebelde
promovida pelos sargentos das forças armadas, abrindo choque hierárquico que
irritaria profundamente os chefes militares, já em conflito acentuado com o
chefe do governo.
Um
comício que havia se realizado em frente à Central do Brasil, também no Rio, no
dia 13 de março, e manifestações como a Marcha da Família com Deus pela
Liberdade, em São Paulo, que reuniu 500 mil pessoas, indicavam riscos que
Goulart parecia ignorar.
Ainda
no quarto do Palácio onde se aprontou, Goulart conversou com três pessoas de
sua confiança: Tancredo Neves, o secretário de Imprensa Raul Riff e o general
Assis Brasil, chefe do Gabinete Militar da Presidência. Os três aconselharam
João Goulart a não comparecer à reunião dos sargentos rebeldes. Ele insistiu e
foi.
No
dia seguinte ao evento do Automóvel Clube, ou seja, 31 de março, o general
Mourão Filho movimentaria tropas em Minas Gerais contra o governo de João
Goulart. Foi o suficiente para que os chefes de todas as regiões militares
tomassem semelhante posição. E assim cairia o governo, imprevidente e imprudente,
e sem a força que ingenuamente supunha ter.
João
Goulart, certamente que mal aconselhado, acreditava que um chamado forte
dispositivo militar, chefiado pelo general Assis Brasil, sufocaria qualquer
levante. E, no entanto, na hora H se viu indefeso, teve de se refugiar no
Uruguai e aconteceu o famoso golpe militar de 31 de março. O presidente da
Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzili, assumiria interinamente a Presidência da
República e a seguir o Congresso fantasiava, diga-se assim, uma eleição presidencial
indireta, colocando o marechal Humberto Castelo Branco no cargo do qual Goulart
fora deposto. Sob pressão dos militares mais duros, Castelo baixou atos
institucionais, na verdade inconstitucionais, e assim abria caminho para a
longa ditadura que durou mais de 20 anos, produzindo retrocessos cujas muitas
decorrências o País sofre até hoje.
João
Goulart, ou Jango, como também o chamavam, fez concessões ao que se designava
de peleguismo, ou seja, a líderes ou, na maioria, supostos líderes sindicais
aproveitadores, mas certamente era sincero em relação ao compromisso com
reformas de base, como agrária, urbana, fiscal, educacional e política. Alguns
supunham que ele alimentava intenções de continuísmo. Era ingênuo, como no caso
do dispositivo militar que se revelou furado – e isto lhe custou caro.
Um
traço muito forte no perfil de João Goulart era o do humanismo. Duas pequenas
histórias mostram isso. Hélio de Almeida, figura luminar da engenharia
brasileira, presidente do respeitado Clube de Engenharia do Rio de Janeiro, foi
ministro da Viação de Goulart. Ele enfrentou uma greve em sua área, foi duro,
teve inicialmente todo o apoio presidencial, mas eis que um dia, chegando de
Brasília ao Rio, o presidente assiste a uma manifestação de mulheres dos
grevistas nas proximidades do Palácio das Laranjeiras, elas portando cartazes
indicando que as famílias já estavam passando necessidades. Goulart convoca o
ministro e determina que atendesse os grevistas.
Jovem,
no Rio, vindo do Rio Grande do Sul, (foi ministro do Trabalho aos 34 anos),
ainda solteiro, João Goulart era boêmio. Entre seus companheiros de boemia,
incluía-se o jornalista Luiz Alípio de Barros. Quando chegou à Presidência,
Goulart ficou sabendo que Luiz Alípio estava casado mas não tinha casa própria.
Certo dia, Alípio recebe um telefonema: era a secretária do presidente da Caixa
Econômica Federal, Elói Dutra, pedindo para ele ir ao gabinete dele. Alípio
foi. O presidente da Caixa lhe entrega uma lista de documentos dizendo:
“traga-me estes documentos com muita urgência. Tenho ordem do presidente João
Goulart Lara para resolver imediatamente o seu problema de casa própria.”
A
exemplo do Brasil, os outros três países do Cone Sul, Chile, Argentina e
Uruguai, igualmente sofreram a dura experiência de ditaduras sob mando militar.
Recuperaram o primado do poder civil e restabeleceram as instituições
democráticas, mas até hoje ainda sofrem vestígios dos efeitos perversos do
regime de exceção.
>>>>>
Criador do frescobol, escritor Millôr Fernandes
morre no RJ
Escritor
e cartunista sofreu um acidente vascular cerebral. Mestre do humor tinha
ligação com o esporte e era amante do frescobol UOL 28.03
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Morreu
na madrugada desta quarta-feira, em sua residência, em Ipanema, Zona Sul do
Rio, o escritor, jornalista e cartunista Millôr Fernandes, aos 88 anos. Millôr
sofreu um acidente vascular cerebral e teve falência múltipla dos órgãos, de
acordo com familiares. O velório será nesta quinta-feira, das 10h às 15h, no
Memorial do Carmo, no Caju. O corpo será cremado em seguida.
Millôr
foi também ilustrador, dramaturgo, fabulista, calígrafo e tradutor. E foi
sempre ligado ao esporte. Ele se gabava de ter sido um dos idealizadores do
frescobol, esporte muito praticado nas praias cariocas que não tem um vencedor
- o objetivo é bater bola com seu companheiro pelo maior tempo possível.
Millôr, inclusive, criou um painel em homenagem ao frescobol na Praça Sarah
Kubitschek, em Copacabana.
O
painel de Millôr em Copacabana, uma homenagem ao frescobol
"O
Frescobol foi um esporte que cheguei a jogar bastante bem. Esporte maravilhoso,
praticado à beira mar - os participantes quase nus - de tempo em tempo
interrompido por um mergulho refrescante, o Frescobol é elegante e dinâmico o
tempo todo, beneficiando-se ainda da sorte inaudita de nunca nenhum idiota ter
tido a ideia de lhe traçar normas, aferir pontos - permanece até hoje uma
atividade pura. Há competição, mas não formalizada, pontificada. Não há
vencidos nem vencedores. Portanto sem possibilidade de violência. Segue meu
princípio; "O importante é nem competir.", diferente do conceito
hipócrita do Conde de Coubertin: "O importante é competir"",
escreveu Millôr.
O
escritor, mestre do gênero do humor, sempre mostrava ligação com o esporte.
Torcedor do Fluminense, não foram poucas as frases que ficaram famosas sobre o
futebol. Frasista assumido, ele participou também de transformações na imprensa
brasileira no século XX e teve passagens por "O Cruzeiro", "O
Pasquim" e "Jornal do Brasil". Ele deixa mulher e dois filhos.
Confira
uma seleção de frases de Millôr sobre o esporte:
"E
no oitavo dia Deus fez o Milagre Brasileiro: um país todo de jogadores e
técnicos de futebol."
"O
futebol é o ópio do povo e o narcotráfico da mídia."
"Futebol
não tem lógica. Mas, se a gente tivesse Garrincha, Pelé, Paulo César, Nilton
Santos, Domingos da Guia e Rivellino de um lado só, a zebra ia ter que
rebolar."
"Chute
de longe é como tirar cara e coroa - dá sempre mais cara do que coroa."
"Há
os que são Flamengo doente. Eu sou Fluminense saudável."
"Mal
comparando, Platão era o Pelé da filosofia."
"Em
1978, lembram?, o Brasil, já na técnica da retranca, perdeu a copa invicto.
Empatou todas. Inventamos uma coisa extraordinária: a Invictória."
"Ninguém
joga futebol tão bem quanto o brasileiro. Isso porque o futebol e o Brasil são
iguaizinhos; não têm lógica."
"Me
autoproclamei campeão de frescobol do posto 9. Quando alguém jogava melhor, eu
provava que ele era do posto 8. Assim vai a glória do mundo." (1971)
"O
futebol se compõe de jogadores, juiz, bandeirinhas, bicheiros, cartolas - e cem
mil não-combatentes."
"Todo
homem tem o sagrado direito de torcer pelo Vasco na arquibancada do
Flamengo."
"O
futebol chega ao máximo do descrédito - é decidido nos pênaltis, com exigência
de tempo ditada pela tevê. Vai acabar sendo disputado na porrinha."
"Segundo
um observador de Marte - depois de examinar os fenômenos Madonna, Michael
Jackson, Ayrton Senna e o Campeonato Mundial de Futebol -, a Terra sofre
permanentemente de histeria coletiva."
"Natação
e Automobilismo: Tenho absoluta incapacidade de admirar um homem apenas porque
ele é melhor do que o outro um centésimo de segundo."
"[Sobre o Xadrez] Jogo chinês que aumenta a
capacidade de jogar xadrez."
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Sexualidade ampliada
Historiadora
americana defende que a realidade humana vai muito além dos conceitos de
heterossexual, homossexual e bissexual CORREIO BSB 31.03
-
“Ele
é um gay muito feminino, mas abriu uma exceção para ela”, a mulher segredou
para a amiga, acreditando não ser ouvida. Na mesma festa, outras pessoas deviam
ter teorias diferentes sobre o estranho casal composto por uma mulher e um
homem feminino — ou seria uma mulher masculina? Uma corriqueira suposição das
pessoas sobre aquela dupla era a de que ela costumava ser lésbica, mas havia
criado gosto por homens afeminados.
Outra,
a de que ele era uma transexual, no início do processo de mudança de gênero.
Qual seria a verdade? Seriam eles hétero ou homossexuais? Nem mesmo o casal
sabia dizer. Aliás, não sabe até hoje.
A
historiadora Hanne Blank, a mulher que integra o casal em questão, explica que
seu companheiro foi “diagnosticado” como homem ao nascer. A definição pareceu,
por muitos anos, adequada, já que ele tinha um pênis perfeitamente funcional. O
passar do tempo foi mostrando, contudo, que a verdade era mais complexa. Ele
carecia de pelos pelo corpo e desenvolveu traços andróginos, como um rosto
delicado, curvas na região do quadril e seios discretamente rotundos. Então, os
médicos descobriram que, ao contrário da maioria das pessoas “diagnosticadas” como
homens, ele não tinha o par de cromossomos XY. Nem sequer o par das mulheres, o
XX. Ele tinha, isso sim, um pouco dos dois: o menos comum trio XXY.
“Os
conceitos de ‘heterossexual’, ‘homossexual’ e ‘bissexual’ partem da ideia de
que há dois, e somente dois, sexos biológicos. O que acontece quando a biologia
se recusa a entrar nesse esquema?”, questiona Hanne, depois de quase duas
décadas de relacionamento, em seu novo livro, não lançado no Brasil, Straight:
The surprisingly short history of heterosexuality (Hétero: a surpreendentemente
curta história da heterossexualidade). “Eu não me sinto hétero, homossexual ou
nada além de um ser humano que ama e deseja outros seres humanos”, completa a
feminista.
Historiadora
renomada, frequentemente convidada para palestras em universidades como
Harvard, Hanne coloca uma questão curiosa: afinal, sabemos o que é a
heterossexualidade? Mais que isso: a heterossexualidade pura existe? Em
entrevista ao Correio, ela discute esses temas.
Cursos
para a COPA. O Instituto de Hotelaria,
Gastronomia e Turismo promove cursos de preparação para Copa de 2014. 9143-7719.
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1964 2012 » A
ditadura segundo o general
testemunho
de ernesto Geisel integra o passado a ser revisto pela comissão da verdade.
Ex-presidente confirma que o Exército matou o operário Manuel Fiel Filho e teve
participação decisiva na morte de vladimir herzog CORREIO BSB 31.03
-
Comissão
da Verdade em Pernambuco e São Paulo
O
Governo de Pernambuco encaminhou, na tarde de ontem, projeto de lei à
Assembleia Legislativa para criar a Comissão Estadual da Memória e Verdade. De
acordo com o texto da matéria, o colegiado, formado por nove integrantes, pelo
menos seis deles da sociedade civil, vai investigar violações aos direitos
humanos ocorridas no estado entre os anos de 1946 e 1988. O projeto determina
que a investigação se estenda por, no mínimo, dois anos. A proposta deve
tramitar em regime de urgência. A expectativa é de que, em 15 dias, seja votada
no plenário da Casa. Em São Paulo, uma comissão semelhante foi aprovada e já
deu início aos trabalhos de resgate da memória.
-
A
poucos dias do anúncio dos nomes da Comissão da Verdade responsáveis por
desvelar os segredos guardados no porões da ditadura militar (1964-1985), um
pouco das histórias escondidas pela repressão foi trazido à luz por uma
entrevista concedida em 1993 pelo general Ernesto Geisel ao Centro de
Documentação e Pesquisa (CPDOC) da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Quarto
presidente a ocupar o Palácio do Planalto depois do golpe de 31 de março de
1964, o “Alemão” confirmou que o regime à época não só praticava a tortura,
como foi o responsável direto pelas mortes do jornalista Vladimir Herzog, em
1975, e do operário Manuel Fiel Filho, em 1976. Geisel chegou a confirmar aos
historiadores Maria Celina D’Araújo e Celso Castro que, ao contrário da versão
oficial difundida à época, Fiel Filho foi, sim, morto por militares: “Num fim
de semana, ele (o então comandante do Exército em São Paulo, general Ednardo
D’Ávila Mello) não estava em São Paulo e mataram o operário”.
Vladimir
Herzog, 1975
O
material recolhido pelos pesquisadores, que deve ser analisado pela Comissão da
Verdade, reúne mais de 36 horas de gravações que traçam um panorama da história
recente do país. Parte já foi publicada no livro Dossiê Geisel, mas vários
trechos permanecem inéditos — como a confissão do assassinato de Fiel Filho
pelo Exército. Maria Celina diz ao Correio que, mais importante do que os
depoimentos dos comandantes militares coletados pela instituição — que encerram
um ciclo até porque muitos morreram —, é avançar na reconstituição dos
aparelhos de terror do Estado, que teriam provocado a morte ou desaparecimento
de cerca de 500 pessoas (Leia quadro ao
lado), segundo dados do Ministério da
Justiça e de ONGs de Direitos Humanos.
Manuel
Filho, 1976
“Os
militares, inclusive Geisel, defenderam a repressão, mas o regime de terror de
Estado teve participação ativa da mídia e de empresários. Essa é a história que
falta levantar. Espero que a Comissão da Verdade avance nesse sentido”,
pressiona Celina. Geisel, explica ela, tentou driblar e desmantelar a esquerda
e a extrema direita durante o seu governo. “Teve êxito no primeiro combate,
pois a esquerda se desmantelou, mas a extrema direita se manteve ativa e
operante até o atentado no RioCentro, em 30 de abril de 1981, durante o show do
1º de maio”, esclarece.
Faltaria
ouvir, portanto, empresários que estão vivos e podem esclarecer o funcionamento
das masmorras. “A sociedade que participou dessa repressão precisa e deve ser
ouvida, como ocorreu na Alemanha pós-Hitler e como ocorre hoje na Espanha em
relação à ditadura de Franco.” Celina está convencida de que, assim, a história
será resgatada e de que a anistia estará em xeque e poderá ser revista. “O
governo do general João Baptista Figueiredo foi o governo dos órgãos de
inteligência e o texto da Lei de Anistia levou em conta essa realidade.” A
historiadora não vê esse resgate da memória como sinal de revanche, mas como
dever de Estado, em nome da verdade histórica.
Maria
Celina contou que não se surpreendeu na manhã de 1993, quando Geisel defendeu a
tortura, porque “o fez em nome da corporação, do Exército”. Descendente de
alemães, o general, que nasceu em Bento Gonçalves (RS) em 3 de agosto de 1907,
teve formação luterana e guardava profundo respeito à hierarquia. Ao defender a
tortura, tratou de dizer que um grupo de militares aprendeu as táticas na
Inglaterra, durante o governo de Juscelino Kubitschek de Oliveira e que, para
evitar mal maior, a tortura se justificava. A confissão, dita em tom seco,
tenta justificar a prática ainda negada pelos militares e será alvo da revisão
histórica da Comissão da Verdade. “Acho que a tortura em certos casos torna-se
necessária, para obter confissões”, defendeu Geisel aos pesquisadores.
Cursos
na Inglaterra
O
general, apesar de manter a visão corporativa da tropa, disse a historiadora,
não se recusou a falar de temas cruciais, como as mortes, durante o seu
governo, do jornalista Vladimir Herzog e do operário Manuel Fiel Filho. Atribuiu
os dois enforcamentos nas dependências da repressão em São Paulo à ausência de
comando e diz que o general Ednardo D’Ávila Mello, do II Comando Militar em São
Paulo, teria abandonado a tropa para atender a convites da alta sociedade de
São Paulo. “Ele ia passear no fim de semana, fazendo vida social, e os
subordinados dele, majores, faziam o que queriam. Ele não torturava, mas, por
omissão, dava margem à tortura.”
Em
outro trecho do longo depoimento, Geisel diz que não se convenceu do resultado
do Inquérito Policial Militar (IPM), aberto por determinação do próprio
ex-presidente, para apurar a morte de Herzog, mas tinha que aceitar para seguir
o rito militar. Naquele momento, porém, suas relações com o general Silvio
Frota, comandante do Exército, começaram a ir para o ralo. Geisel não esconde
que o clima de desconfiança de que subordinados seus agiam nas sombras, sem seu
conhecimento, contaminaram as relações.
Maria
Celina ficou, porém, com a impressão de que o general, acostumado a exibir
galões na farda militar, se sentia aliviado a cada depoimento, como se tirasse
um peso dos ombros. Além dos trechos mais polêmicos, relatou o namoro com Lucy,
com quem teve dois filhos, Amália e Orlando, que morreu em acidente de trem em
1957, causando profunda tristeza na família. Divertiu-se dizendo que os
jornalistas o procuravam com insistência, desde que deixou o poder, em 15 de
março de 1979, passando a Presidência da República ao general João Baptista de
Figueiredo, o último militar a presidir o país no ciclo iniciado em 31 de março
de 1964. “Atendia, mas não dizia nada.”
Na
eleição de Tancredo Neves pelo Colégio Eleitoral, em 1984, Paulo Maluf foi o
candidato apoiado por militares, à exceção de Geisel, que deixou claro o apoio
a Tancredo e também registradas as suas críticas ao político mineiro. Ferino, o
general também não poupava críticas ao voto obrigatório, nem aos bancos, porque
não investiam em infraestrutura nem no desenvolvimento.
Relatos
da caserna
Os
depoimentos de generais, almirantes, brigadeiros, coronéis e tenentes tomados
pelos pesquisadores do CPDOC/FGV deram origem aos livros Visões do golpe: a
memória militar sobre 1964, Os anos de chumbo: a memória militar sobre a
repressão e A volta aos quartéis: a memória militar sobre a abertura, todos coordenados
e organizados por Maria Celina com Celso Castro e Gláucio Soares. Já trechos do
depoimento do general Ernesto Geisel deram origem ao Dossiê Geisel, livro
editado pela FGV, que se encontra esgotado. Apenas para pesquisadores, a FGV
franqueia o acesso aos depoimentos fonográficos e à transcrição completa do
depoimento do general, morto em 1996. O testamento em que fala abertamente da
vida pessoal e militar e de suas impressões sobre o Brasil e a política foi
revisado, página por página, pelo próprio general até 1996, quando morreu, em
12 de setembro, vítima de câncer. A filha, Amália Lucy Geisel, também
historiadora, foi quem deu aval para a FGV divulgar o documento.
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Nobel narra cotidiano pós-apartheid
Escritora
sul-africana Nadine Gordimer lança livro sobre reconstrução social no país após
regime segregacionista FOLHA SP 30.03
-
Aos
88, ela critica a corrupção no país e se diz preocupada com o partido do qual
ela e Mandela fazem parte
-
Na
sala de tamanho modesto de sua casa em estilo colonial, em Johannesburgo, a
escritora sul-africana e Nobel de Literatura Nadine Gordimer, 88, se acomoda
numa poltrona envolta por desenhos de Auguste Rodin (1840-1917), uma escultura
de bronze da cabeça de Balzac -também de Rodin- e livros.
Ao
receber a equipe que a filmaria para o documentário "Mulheres
Africanas", da produtora Cinevideo (leia quadro ao lado), e a Folha, ela
logo afirmou: "Vocês têm sorte de eu ter aceitado, porque não participo de
programas sobre mulher, não gosto da separação por gênero".
Diz
ainda que não acredita em discursos sobre "literatura feminina".
"A
gente não escreve com os órgãos sexuais, a gente escreve com isso", e leva
o dedo indicador à têmpora.
O
que a preocupou, desde sempre, foi o regime de segregação racial sul-africano
(conhecido como apartheid, que durou de 1948 a 1994). Agora, seu olhar se volta
à reconstrução social e, acima de tudo, à corrupção que atinge seu país.
"No
Time like the Present" (nenhum tempo como o presente; sem previsão no
Brasil), livro que Gordimer lançou na última terça-feira, "trata dos
problemas de construir uma nova vida num país após anos de opressão".
A
trama se desenvolve em torno do casal Steve, um professor branco, e Rebecca
Jabulile, uma advogada negra, que se conhecem durante o apartheid, quando as
relações inter-raciais eram proibidas na África do Sul. "O que havia de
mais terno e íntimo na vida das pessoas era crime", relatou.
Steve
e Jabulile haviam sido militantes do ANC -o Congresso Nacional Africano,
partido do qual Gordimer e o ex-presidente Nelson Mandela também fazem parte e
que hoje detém o poder no país.
Os
protagonistas criam os filhos na diferente realidade de reintegração racial,
mas têm de lidar o tempo todo com fagulhas, internas e externas, do
preconceito.
"A
existência desse casal inter-racial apenas complica problemas que são comuns a
todo mundo. Se fossem dois sul-africanos da mesma cor, ainda teriam de lidar
com a corrupção e com o preconceito." A complicação, no entanto, "é
uma realidade deste país", segundo a escritora.
"Você
se livra do colonialismo, mas você esteve colonizado por tanto tempo que todo
tipo de, digamos, tendência neurótica vai aflorar. A corrupção descontrolada,
pelo menos no meu país, vem de um sentimento do tipo 'nosso povo não teve nada
disso desde 1652, então agora queremos tudo'."
Antes
de se retirar para jantar, na mesa simples preparada pelo funcionário
moçambicano Domingos ("ele está aqui há 15 anos, mas o inglês dele é
inexistente, e o meu português também"), ela pede espaço para fazer uma
pergunta a si mesma.
"O
que está me preocupando agora a respeito do meu país?", se questiona.
Responde
logo que é a "lei do sigilo", aprovada pelo Congresso sul-africano em
novembro passado.
O
texto estabelece a criminalização de vazamento, posse e publicação de
informações consideradas pelo governo como confidenciais e prevê até 25 anos de
prisão para infratores.
"Chamam-na
lei para 'proteção da informação' -um outro jeito de dizer censura. Uma espécie
de tribunal para a imprensa. Afeta também gente que escreve ficção, pois se
você criar personagens que sejam parte do governo pode estar sujeito a uma
condenação por supostamente revelar segredos de Estado."
A
lei, no entanto, foi aprovada por um congresso com maioria da ANC -o partido de
Steve e Jabulile, o partido de Gordimer e Mandela, cuja sigla está inscrita no
pôster que adorna a porta do escritório-biblioteca na casa da escritora em
Johannesburgo.
"É
uma grande decepção para mim, porque o ANC é o meu partido. O poder é algo
perigoso mesmo."
A
jornalista ALEXANDRA MORAES viajou a convite da produtora Cinevideo
NO
TIME LIKE THE PRESENT
AUTOR
Nadine Gordimer
EDITORA
Farrar, Straus & Giroux
QUANTO
US$ 27 (cerca de R$ 49, 432 págs.), na Amazon
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ENCONTRO. Evento
em SP celebra a cultura indígena
DE
SÃO PAULO - Para homenagear a cultura indígena, acontece no parque da Água
Branca (r. Ministro Godói, 180; tel. 0/xx/11/2588-5918), durante o mês de
abril, o Oca di Versos - Awê de Literatura Indígena. FOLHA SP 30.03
-
O
evento reúne índios brasileiros de diversas etnias, como guarani, pataxó,
munduruku, pankararu e kaingang, através de oficinas de arte e palestras.
Amanhã,
às 11h, a antropóloga Luciana Galante discute o papel do índio contemporâneo e
promove jogos para as crianças. No dia 14/4, também às 11h, participa o
escritor Daniel Munduruku, vencedor do Prêmio Jabuti em 2004.
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ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR. Tantos
anos de Millôr. A morte de Millôr tem um significado para além do
que ele representava como escritor e humorista FOLHA SP 30.03
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"TRINTA
ANOS de Mim Mesmo", de Millôr Fernandes. O livro não está na mão, li há 38
anos, mas tem coisas que não dá para esquecer. Por exemplo, um dos
"mandamentos" do decálogo do machão: "Machão que é machão não
come mel, come abelha".
Em
outro texto, longo e furioso, no mesmo livro, Millôr rebatia um crítico que
tinha encrespado com a tradução dele para uma peça, acho, de Harold Pinter.
Apelando de novo para a memória, acho que a implicância girava em torno da
palavra "tart" ("vagabunda", "piranha"), à qual
Millôr deu uma versão, para o crítico, pesada demais. Millôr, claro, espinafrou
o infeliz até a última célula.
Aqui,
um reparo. Mal comecei o texto e já fui injusto. Disse que Millôr
"espinafrou" o crítico. É forte demais. Millôr tratava os assuntos
mais sérios de um jeito tão leve, e com tanta clareza, que não se pode dizer
que ele espinafrasse ninguém. Podia reduzir um opositor a pó, mas tudo com
inabalável bom humor.
Outra
inesquecível do polímata (sempre quis usar esta palavra) Millôr Fernandes foi a
polêmica sobre os dizeres da bandeira de Minas Gerais. Eu jurava que isso
também estava em "Trinta Anos...", mas conferi e não encontrei (o
livro acaba de chegar a minhas mãos; ufa, não preciso mais confiar na memória).
A
confusão girava em torno do lema "Libertas Quae Sera Tamen". Seria
"Liberdade, Ainda Que Tardia", como na tradução oficial? Que nada. Na
real, ou pelo menos na real visão milloriana, significa "Liberdade Ainda
que Tardia, Todavia", frase que não quer dizer absolutamente nada e foi
ridicularizada por ele. Saiu na revista "Veja".
O
estado do exemplar de "Trinta Anos de Mim Mesmo" que tenho a minha
frente é lamentável. De tanto ser lido e relido, a lombada se esfarelou. A
contracapa foi para o espaço há algumas décadas, e a capa está toda carcomida nas
beiradas. Uma fita amarela muito pouco adesiva tenta manter junto o que sobrou.
Eu,
como tantos de minha geração, li o livro com 11, 12 anos de idade. Hoje, me
surpreende que tenha marcado tanto. O motivo é simples: eu não devia entender
nem 1% daquilo. Alusões literárias, a artes plásticas, mais política
internacional e sacanagens de todo tipo formavam o cardápio. Até uma mulher
pelada em nu frontal, tirada (pirateada?) da "Playboy" americana.
Isso no Brasil, em 1974!
Também
tenho aqui ao meu lado "Um Elefante no Caos", "Papáverum
Millôr", "Livro Vermelho dos Pensamentos de Millôr",
"Fábulas Fabulosas" (esse, li umas cem vezes também) e "Novas
Fábulas Fabulosas". Mas, para mim, é "Trinta Anos de Mim Mesmo"
que condensa a essência do autor. São textos publicados entre 1942 e 1973.
"Trinta
Anos...", com sua gama tão ampla de temas, explicita por que a morte de
Millôr tem um significado para além do que ele representava como escritor,
tradutor e humorista. Com ele, morre uma geração de faróis intelectuais não
acadêmicos, da qual os maiores exemplos são o próprio Millôr e Paulo Francis
(Ivan Lessa também, mas esse há muito escolheu o isolamento londrino).
Para
minha geração, Millôr e Francis representavam uma espécie de periscópio,
pontificando acima do provincianismo e do isolamento brasileiros.
Com
duas vantagens de Millôr sobre Francis. O texto leve e muito engraçado, sem
abrir mão do rigor intelectual. E a iconoclastia absoluta, de fazer troça de
tudo e todos, não levar nada a sério (exceto a si próprio -e como!-, diriam
alguns detratores que conheço).
Os
mais jovens podem ter levado de Francis, morto em 1997, a imagem do conservador
rabugento ou da figura um tanto exótica da TV.
O
que não tinha nada a ver com o Francis "de verdade", mais
interessante, a metralhadora giratória da "Senhor", do
"Pasquim" e depois da Folha.
Já
Millôr foi sempre Millôr. Os jovens que o conheceram recentemente (e não sei se
são muitos) tiveram contato com o mesmo Millôr que eu e meus contemporâneos, lá
se vão quase 40 anos.
Se
comecei a ler Millôr Fernandes aos 11 anos, posso dizer que passei os últimos
20 ou 25 anos sem acompanhar sua produção. Com certeza, perdi muita coisa boa.
Mas o autor continua vivo nos livros e na internet, que ele tão precocemente
abraçou. Sorte de todos nós.
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