segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012
Entrevista Roberto
DaMatta
“Temos alergia à igualdade” CORREIO BSB 05.02
-
Autor
de clássicos como Carnavais, malandros e heróis e do mais recente Fé em Deus e
pé na tábua — como e por que você enlouquece dirigindo no Brasil, o antropólogo
Roberto DaMatta afirma que vive em estado permanente de irritação com a falta
de educação das pessoas nas ruas e com a administração pública ineficiente.
Para ele, o brasileiro não está acostumado a olhar o próximo como igual e o
avanço econômico vai acentuar o conflito entre Estado e sociedade. Veja os
principais trechos da entrevista que ele concedeu ao Correio Braziliense.
A
melhora de vida do brasileiro com o crescimento econômico foi acompanhada dos
mesmos avanços em termos de comportamento social?
No
geral, não mudou nada. Você varre sua calçada e coloca o lixo na calçada do
vizinho. Na ponte aérea, ninguém é educado para ver o outro como igual. Se acha
que o outro é superior, não dá bom-dia e trata o sujeito de cara feia e com
raiva porque tem inveja. Se o outro é pessoa humilde, fica com raiva também,
porque está viajando de avião ao seu lado, quando deveria estar num pau de arara,
num caminhão. Isso acontece desde João VI e seus filhos e netos, os Braganças,
que desbragançaram o Brasil. Como é isso? Estamos todos treinados para olhar e
classificar verticalmente os outros, jamais os classificamos como um igual.
Nosso grande problema, no fundo, não é a desigualdade, é a igualdade. Temos
alergia à igualdade.
Ou
seja, fala-se muito, mas a igualdade não é algo desejável de fato...
Temos,
no Brasil, a despeito de tudo, aversão à igualdade, que é a chave do futuro e
da democracia liberal. Temos dúvida se vamos realmente adotar igualdade em
todas as esferas da vida política e social ou se continuaremos com o velho
sistema de mandonismo, de coronelismo disfarçado. O que falta quando falamos em
educação são programas que eduquem para a igualdade e para essa lógica da
igualdade, que não vem do governo, que sempre joga com dois pesos e duas
medidas. É, penso eu, a grande luta do Brasil contemporâneo. É preciso educar,
mas para quê? Para virar erudito? Não. Para a democracia — para competir como
num jogo de futebol, com honestidade, decência, obedecendo aos juízes. E todos
seguindo as regras do jogo.
Na
relação da sociedade com o Estado, houve mudanças?
Para
mim, em termos de cidadania, o conflito vai se acentuar entre pessoas e
governos. O que vemos hoje no Brasil é que os cargos e as pessoas não têm
correspondência. São escolhidas à revelia de competências, e — sobretudo — de
projetos para o Brasil, até mesmo das necessidades mais óbvias que são
colocadas nas relações entre meios e fins.
A
mudança no país é só econômica...
Existe
um desequilíbrio. De um lado, o Brasil é um país economicamente moderno, com um
mercado que funciona de maneira moderna, com competição entre os agentes, etc.
De outro, há um estado cuja meta é arrecadar modernamente e distribuir
tradicionalmente. Arrecada-se por meio digital, distribui-se através da
feudalização do poder. Esse negócio de coalização é eufemismo para uma clara
feudalização do poder.
Há
esperança?
O
que é importante é que essas contradições fazem parte de um processo. Não há
sociedade no mundo que transita estancando o passado porque ele aparece no
presente. Ele faz parte do presente. A paisagem humana não é a de uma casa que
desaparece com uma reforma. No mundo humano, o antigo surge com força diante do
novo. O passado permanece, fazendo intromissões no presente, como é o
coronelismo neste nosso Brasil globalizado e digitalizado, com moeda forte e
inflação controlada. O Imposto de Renda que a pessoa paga é através do
computador, o governo recolhe rapidamente, mas gasta de maneira tradicional,
com os amigos, em função da permanência no poder e não das necessidades reais.
Consequentemente, o projeto mais importante é a educação. Para quê? Para criar
sistema mais competitivo e mais igualitário.
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ENCONTRO COM O FUTURO » Um
Brasil à espera da ética e da cidadania
Prosperidade
não é sinônimo de civilidade: população ainda tolera o "jeitinho", a
corrupção e o lixo nas ruas, que custam muito caro ao país CORREIO BSB 05.02
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A
menina Camila mostra que é possível revolucionar os hábitos. Ela ensina aos
pais, Alexandre e Ângela, a importância de se separar o lixo reciclável
A
pequena Camila Andrade Soares, 7 anos, tem resposta na ponta da língua sobre o
que quer ser quando crescer. E não tem nada a ver com direito ou medicina.
Ainda criança, ela planeja ser bióloga. Nas suas palavras, poderá cuidar dos
animais e das plantas. “Eu me preocupo com o meio ambiente”, resume. O projeto
de futuro de Camila, que começou na escola, já causou uma revolução nos hábitos
de sua casa. Há três anos, ao chegar das aulas, a brasiliense ensinou aos seus
pais, o web designer Alexandre Soares, 36, e a bancária Ângela Cristina
Andrade, 40, como fazer a separação do lixo seco do úmido. A resposta foi imediata.
Até hoje, em vez de colocar todos os resíduos em um só recipiente, a família
usa duas lixeiras: uma verde, para restos orgânicos, e uma branca, para papéis,
plásticos e outros produtos recicláveis.
Um
exemplo para o país, Camila está longe de ser a regra. Mais de duas décadas
depois da promulgação da Constituição de 1988, também chamada de cidadã, a
realidade é que o brasileiro pouco avançou no respeito ao próximo e ao que é de
todos. O Brasil ainda é um país de grandes contrastes. O crescimento econômico,
o aumento da renda e do consumo, a oferta mais generosa de emprego e a busca
pela maior escolaridade não foram acompanhados do aumento da cidadania, o
exercício pleno e igualitário dos direitos e deveres de cada um frente ao outro
e ao Estado.
“Está
tudo andando para frente, o país está engatilhado, conseguimos equacionar a
economia, as finanças do Brasil e o sistema financeiro, tudo o que é importante
para uma sociedade moderna. O problema é de comportamento, das concepções de
poder, da ocupação do espaço público, da construção da sociedade democrática
liberal”, afirma o antropólogo Roberto DaMatta.
Redução
da pobreza
Gilberto
Velho, outro gigante da antropologia brasileira, concorda. A seu ver, o país
está ainda muito longe de ter uma cidadania plena, como a dos países avançados.
Velho cita a melhora em diversos indicadores sociais, como a redução da pobreza
absoluta, o mercado de trabalho mais forte e a ascensão social de milhões de
famílias, mas avalia que existe uma certa euforia, inclusive alimentada pela
mídia, de como o Brasil está bem e é a sexta potência do mundo. Mas continua um
país muito atrasado e desigual.
“Vemos
isso nas ruas, na falta de civilidade geral. As cidades são sujas, as pessoas
não dão atenção a certos modos de comportamento essenciais, como respeitar os
mais velhos, obedecer à passagem de pedestres, a cordialidade no trânsito, a
valorização do bem público”, enumera o antropólogo, referência no Brasil e no
exterior. Predomina, diz ele, o pouco caso com os bens e as necessidades
públicas”.
Nesse
ambiente, a corrupção se multiplica. A falta de respeito ao outro e ao bem
público se traduz em números. Dados da Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo (Fiesp) mostram que, numa estimativa realista, anualmente, a
corrupção, marca do “jeitinho” brasileiro, causa um rombo de R$ 50,8 bilhões
aos cofres públicos. Com esse dinheiro, seria possível pavimentar 39 mil
quilômetros de rodovia, construir 78 aeroportos ou oferecer rede de esgoto a
15,7 milhões de lares.
Um
investimento como esse poderia também iniciar uma mudança no filme que o Brasil
reprisa ano após ano, o das enchentes e das catástrofes. Os perigos não se
restringem aos caprichos da natureza. Além da falta de infraestrutura, com
barracos que proliferam em ruas sem traçado, sem asfalto e sem esgoto, pesa a
falta de educação dos brasileiros. O lixo jogado nas vias entope, a cada chuva,
canais, galerias, bocas de lobo, bueiros e a rede de esgoto de modo geral. O
resultado são rios poluídos e enchentes que causam devastação e mortes. Em
2011, conforme dados do Ministério da Integração Nacional, o governo federal
gastou R$ 695 milhões nas reconstruções e ações de resposta a desastres, como
socorro e assistência. O valor foi 24 vezes maior que os R$ 28,9 milhões
destinados à prevenção.
Direitos
humanos
Alternativa
para o dinheiro que vai pelo ralo por causa da corrupção seria melhorar a
educação, um dos maiores entraves para que o Brasil ostente uma qualidade de
vida de Primeiro Mundo. O estudo da Fiesp revela que os recursos poderiam ser
utilizados, por exemplo, para manter nada menos que 24,5 milhões de alunos, ao
longo de um ano letivo, nas séries iniciais do ensino fundamental. Também seria
possível construir 57,6 mil escolas para esses mesmos estudantes.
Na
avaliação de Nair Bicalho, coordenadora do Núcleo de Estudos para a Paz e os
Direitos Humanos da Universidade de Brasília (UnB), o Brasil acumulou
conquistas no que diz respeito à cidadania material, com resposta a
necessidades como alimentação, emprego, moradia, acesso à escola e combate à
fome. Mas precisa investir na qualidade do ensino. “É preciso avançar na
educação em direitos humanos, no trabalho com as crianças. No momento em que
houver uma briga ou em que um preconceito se manifestar, o professor deve ser
capaz de orientar o estudante, ensinar a conviver com a diversidade. Toda a
cidadania nasce na família, mas se enraiza na escola”, afirma Nair.
Pai
de Camila, Alexandre concorda que a escola é um parceiro fundamental no ensino
da cidadania. Mas o exemplo dos pais, diz o web designer, é fundamental.
Atentos a isso, ele e a mãe dela, Ângela, concentraram as atividades de sua
filha perto de seu apartamento, na Asa Sul. Para a natação, por exemplo, ela
vai de bicicleta. “Incentivamos as atividades ao ar livre. Descemos para a
quadra, vamos para o parque. A ideia é que a nossa filha veja Brasília como ela
é. Dentro do carro, não é possível conhecer os problemas da cidade”, diz. O
esforço tem dado certo. “Vejo as pessoas jogando lixo no chão. É feio. Tem
gente que não se importa, vai matando os animais e eles acabam”, comenta
Camila.
Para
saber mais
A
palavra cidadania vem do latim civitas, que quer dizer cidade. Ela designa, de
modo geral, o conjunto de direitos e deveres que uma pessoa possui em
determinada sociedade e também em relação ao Estado. É o conjunto de valores
morais que orienta os comportamentos dos indivíduos de um grupo ou de uma
sociedade. Também pode ser entendida como o campo da filosofia que reflete
sobre os costumes e a moral.
"O
professor deve ser capaz de orientar o estudante, ensinar a conviver com a
diversidade. Toda a cidadania nasce na família, mas se enraiza na escola”
Nair
Bicalho, coordenadora do Núcleo de Estudos para a Paz e os Direitos Humanos da
UnB
>>>
O instante decisivo
A
Folha localizou o fotógrafo do cadáver de Herzog FOLHA SP 05/02
-
RESUMO
A foto de Vladimir Herzog morto nas dependências do DOI-Codi em outubro de 1975
tornou-se um símbolo da repressão promovida pela ditadura (1964-85). A
tentativa falhada de simular o suicídio do jornalista enfraqueceu a linha dura.
Pela primeira vez, o fotógrafo Silvaldo Leung Vieira fala à imprensa.
HENRI
CARTIER-BRESSON, fundador da mítica agência Magnum e mestre francês da
fotografia, definiu num célebre ensaio de 1952 a arte do fotógrafo como a
capacidade de captar um instante decisivo, para o qual deve estar alerta.
"Enquanto
trabalhamos, precisamos ter certeza de que não deixamos nenhum buraco, de que
exprimimos tudo; depois será tarde demais, e não haverá como retomar o
acontecimento às avessas", escreveu ele.
O
instante decisivo na vida do fotógrafo santista Silvaldo Leung Vieira foi
também um instante decisivo para a vida política brasileira. Aluno do curso de
fotografia da Polícia Civil de São Paulo, Silvaldo fez em 25 de outubro de 1975,
aos 22 anos, a mais importante imagem da história do Brasil naquela década: a
foto do corpo do jornalista Vladimir Herzog, pendurado por uma corda no
pescoço, numa cela de um dos principais órgãos da repressão, o DOI-Codi
(Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa
Interna).
Publicada
na imprensa, a imagem corroborou a tese de que o "suicídio" de Herzog
era uma farsa. No mesmo local, três meses depois, o mesmo fotógrafo
testemunharia a morte do metalúrgico Manoel Fiel Filho. Assassinado sob
tortura, ele também foi apresentado pelo regime como "suicida".
Historiadores
são unânimes: ambas as mortes foram decisivas para mudar os rumos da ditadura.
A
Folha localizou Silvaldo em Los Angeles, onde vive desde agosto de 1979, quando
saiu de férias do cargo de fotógrafo do Instituto de Criminalística para nunca
mais voltar. Pela primeira vez, ele contou detalhes sobre sua atuação na
polícia técnica de São Paulo. "Ainda carrego um triste sentimento de ter
sido usado para montar essas mentiras", afirmou, por telefone.
Sentindo-se
ameaçado e perseguido pelo regime a que serviu, ele afirma não ter tido
alternativa a não ser abandonar o emprego no serviço público e também o país.
CONCURSO
O "Diário Oficial" do Estado de São Paulo de 6 de junho de 1975
informou, na página 59, o nome dos 24 aprovados no concurso de fotógrafo da
Polícia Civil. Silvaldo era o de número 17. As aulas preparatórias, na Academia
de Polícia, no campus da USP, começaram no dia 8 de outubro. Deixou a casa da
mãe, em Santos, e juntou-se aos estudantes "forasteiros" no
alojamento da escola, na Cidade Universitária.
Nascido
em 1953, de pai chinês e mãe paulista, Silvaldo se envolveu com fotografia
ainda criança, por influência da família. Foi fotógrafo da prefeitura e atuou
no jornal "Cidade de Santos". Em 1974, vislumbrou na fotografia
científica a oportunidade de "desvendar crimes" e "produzir
provas técnicas", além de se aprimorar usando novos equipamentos.
Dezessete
dias depois de iniciar o curso, Silvaldo foi convocado para sua primeira
"aula prática" no último fim de semana do mês. "Disseram apenas
que era um trabalho sigiloso e que eu não deveria contar para ninguém. A
requisição veio do Dops", afirma.
O
Departamento de Ordem Política e Social, o principal centro de repressão da
Polícia Civil, estava sob a influência do delegado Sérgio Paranhos Fleury, que
tinha livre trânsito na linha dura das Forças Armadas.
Um
motorista levou Silvaldo até um complexo na rua Tutoia, em São Paulo, cidade
que até hoje ele diz não conhecer bem.
SUICÍDIOS
No Brasil de 1975, os "suicídios" nos porões da repressão eram quase
uma rotina. Um deles foi o do tenente reformado da PM paulista e militante do
PCB José Ferreira de Almeida, o Piracaia, que morreu após ser detido no DOI-Codi,
em agosto. Segundo o relato oficial, Piracaia se enforcou amarrando o cinto do
macacão à grade da cela.
Os
"suicídios" eram fonte de discussão no governo Geisel (1974-79) e de
atritos entre militares e o governador de São Paulo, Paulo Egydio Martins. Em
1975, segundo "Direito à Memória e à Verdade" (2007), livro editado
pela Presidência da República, 14 militantes foram mortos por agentes do
Estado.
A
ditadura completava mais de uma década tendo aniquilado quase a totalidade da
esquerda armada nas grandes cidades e engrossava a caçada aos militantes do
Partido Comunista Brasileiro. Mais de 200 pessoas foram presas.
Entre
os detidos na ofensiva contra o PCB estava Vladimir Herzog. Aos 38 anos, casado
e pai de dois filhos, Vlado, como era conhecido, era diretor de jornalismo da
TV Cultura. Profissional com experiência internacional e apaixonado por teatro,
ele militava no partido, mas, segundo amigos, não exercia atividades
clandestinas, nem poderia ser apontado como um quadro fixo do partido, que
àquela altura já considerava a luta armada um grande erro.
Na
sexta, 24 de outubro, Vlado foi procurado por agentes da repressão em casa e no
trabalho. Decidiu se apresentar espontaneamente no DOI-Codi na manhã seguinte.
Nas sete horas em que esteve detido na rua Tutoia, no Paraíso, onde ficava o
centro do Exército, o jornalista prestou depoimento e passou por acareações.
Segundo testemunhas, morreu após ser barbaramente torturado.
Quando
Silvaldo chegou ao DOI-Codi para fotografar o cadáver de Herzog, a cena do
"suicídio" estava montada. Numa cela, o corpo pendia de uma tira de
pano atada a uma grade da janela. As pernas estavam arqueadas e os pés, no
chão. Completavam o cenário papel picado (um depoimento que fora forçado a
assinar) e uma carteira escolar.
Na
mesma cela morrera Piracaia, segundo o livro "Dos Filhos deste Solo"
(Boitempo), de Nilmário Miranda e Carlos Tibúrcio.
VIBRAÇÃO
Silvaldo chegou ali com uma Yashica 6x6 TLR, câmera tipo caixão, biobjetiva,
com visor na parte de cima, semelhante a uma Rolleiflex.
"Eu
estava muito nervoso, toda a situação foi tensa. Antes de chegar na sala onde
estava o corpo, passei por vários corredores", conta ele.
"Havia
uma vibração muito forte, nunca senti nada igual. Mas não me deixaram circular
livremente pela sala, como todo fotógrafo faz quando vai documentar uma morte.
Não tive liberdade. Fiz aquela foto praticamente da porta. Não fiquei com nada,
câmera, negativo ou qualquer registro. Só dias depois fui entender o que tinha
acontecido."
Ele
diz ter começado a montar o quebra-cabeça no domingo, quando o jornalista foi
velado, ao descobrir que tinha fotografado o corpo de Vladimir Herzog. Depois,
viu a foto no "Jornal do Brasil", o primeiro veículo da imprensa a
publicar a imagem, ainda em 1975. No início dos anos 80, a revista
"Veja" a publicaria creditando o autor: "Silvaldo Leung Vieira,
Depto. de Polícia Técnica, Secretaria de Segurança Pública, São Paulo,
1975".
"Tudo
foi manipulado, e infelizmente eu acabei fazendo parte dessa manipulação",
lamenta-se. "Depois me dei conta que havia me metido em uma roubada. Isso
aconteceu, acho, porque eles precisavam simular transparência."
NOTA
OFICIAL Já antes da divulgação da foto, a versão do suicídio, dada pelos
militares em nota oficial, foi recebida com suspicácia. "Cerca das 16h, ao
ser procurado na sala onde fora deixado, desacompanhado, foi encontrado morto,
enforcado, tendo para tanto utilizado uma tira de pano. O papel, contendo suas
declarações, foi achado rasgado, em pedaços, os quais, entretanto, puderam ser recompostos
para os devidos fins legais", dizia o texto do 2o Exército.
A
nota não batia com o relato da mulher do jornalista, Clarice, que foi avisada
por Vladimir de que se apresentaria espontaneamente para depor. Amigos dele,
como os jornalistas Rodolfo Konder e Paulo Markun, presos no DOI-Codi no mesmo
dia, afirmaram que era possível ouvir gritos e gemidos de Herzog enquanto era
torturado.
O
Exército afirmou que a tira de pano amarrada no pescoço de Vladimir Herzog,
visto pela repressão como um agente da KGB, o serviço secreto da União
Soviética, seria a cinta do macacão que usava. Mas os macacões do DOI-Codi não
tinham cinta.
Embora
o laudo do Instituto Médico Legal afirmasse que a causa mortis foi
"asfixia mecânica por enforcamento", Herzog não foi sepultado na ala
dos suicidas do cemitério israelita do Butantã, conforme a tradição judaica. A
decisão do rabino Henry Sobel foi considerada um desafio ao regime militar.
A
foto de Silvaldo mostrava que Vlado "se enforcou" atando o nó na
primeira barra da janela, a 1,63 metro de altura. A imagem divulgada à época,
contudo, fora cortada: descobriu-se depois, nos arquivos do SNI (Serviço
Nacional de Informações), uma versão sem corte, segundo o jornalista Elio
Gaspari. Essa imagem mostra a barra superior da janela, que Herzog poderia ter
usado se quisesse de fato se enforcar, subindo na carteira escolar e se
projetando em vão livre.
SÉ
Na semana seguinte à morte do jornalista, São Paulo continuava convulsionada.
Além da agitação estudantil na USP (Universidade de São Paulo) que prenunciava
as manifestações de 1977, a missa de sétimo dia de Vlado, na catedral da Sé,
transformou-se num ato ecumênico de repúdio à ditadura.
Silvaldo
conta que "uns dez colegas" seus da Academia de Polícia foram
escalados para fotografar alguns dos presentes na Sé. Eles deviam atuar
"como fotógrafos de jornal", para identificar supostos subversivos.
Edson
Wailemann, 57, formou-se na turma de Silvaldo. Ele ainda se lembra do colega,
apesar de não conhecer a história da foto de Herzog. É fotógrafo policial há 37
anos, atuando exclusivamente em casos de homicídio. "Naqueles anos, a
polícia técnica sempre atendia a esses chamados, inclusive para os trabalhos
dentro das dependências do Exército", confirmou à Folha. "Era
comum".
Um
ex-agente do antigo SNI que atuava nessa época em São Paulo disse à Folha, sob
condição de anonimato, que a história do fotógrafo não é verossímil.
Segundo
ele, o DOI-Codi, sob comando do militar Audir Santos Maciel, era um dos lugares
mais herméticos do aparato de repressão. Antes de Maciel, o DOI-Codi fora
chefiado por Carlos Alberto Brilhante Ustra. Parentes de desaparecidos que
estiveram presos lá tentam responsabilizá-los judicialmente, até agora sem
sucesso. Ustra e Maciel negam participação em torturas e assassinatos.
A
colaboração dos profissionais do Instituto de Criminalística com a repressão,
principalmente fotógrafos e peritos, era tão comum que, na virada dos anos 70
para os 80, foi criada uma equipe especial para atender exclusivamente os
crimes ou casos políticos. Até ela ser formada, no entanto, vários
profissionais foram requisitados.
A
conexão da Polícia Civil (Dops) com o Exército (DOI-Codi), mais do que notória,
era feita por intermédio de Fleury, entre outros.
"Havia
um comando paralelo no Exército, e é bem provável que houvesse também um
comando anarquista na Secretaria de Segurança Pública", disse à Folha o
ex-governador (1975-79) Paulo Egydio Martins, 84. "Esse era um problema
absolutamente crítico, que infelizmente saiu do controle."
AULA
PRÁTICA Oitenta e quatro dias depois de fotografar o cadáver de Herzog,
Silvaldo foi convocado para outra "aula prática" no DOI-Codi. Era
janeiro de 1976, e ele ouviu as mesmas recomendações de que não falasse nada
sobre o trabalho. Novamente, a ordem partira do Dops.
O
objetivo era forjar outra farsa: a morte do metalúrgico Manoel Fiel Filho,
também "enforcado" nas dependências do Exército. Nas contas que Elio
Gaspari faz em seu livro "A Ditadura Encurralada" (Companhia das
Letras), Fiel Filho "fora o 39º suicida do regime, o 19º a se enforcar.
Como Cláudio Manuel da Costa, com as meias, sem vão livre". (O poeta e
inconfidente mineiro Cláudio Manuel da Costa foi o patrono dos
"suicidas" nas prisões brasileiras. Morreu enforcado com uma meia
comprida, em 1789.)
Segundo
testemunhas Fiel Filho fora detido pelos agentes do DOI-Codi de sandálias e sem
meias. "Fiz fotos do local onde o corpo foi encontrado, mas não me
deixaram ver o cadáver. Antes de fotografá-lo, recebi uma ordem de que deveria
deixar o local", afirma Silvaldo.
Assim
como ocorreu na morte de Vlado, o 2º Exército, responsável pelo Estado de São
Paulo, divulgou nota atestando o "suicídio". Mas não houve
publicidade da imagem do morto no DOI-Codi.
"Eu
sabia que eles tinham feito merda, mas nessa segunda vez eu estava mais
relaxado, fiz até um comentário: 'Aqui acontecem coisas estranhas'",
lembra Silvaldo. "Um oficial do Exército que me acompanhava, que parecia
ser muito jovem, me ameaçou: 'É melhor ficar calado e não comentar nada. Se
você não calar, a gente te cala'."
Não
se sabe se o cadáver do metalúrgico foi fotografado dentro do DOI-Codi. "O
que se conhece é uma imagem do corpo dele nu, no necrotério", conta o
jornalista e cineasta Jorge Oliveira, que a expôs no documentário que produziu,
"Perdão, Mr. Fiel", em que narra, como diz o subtítulo do filme, a
história do "operário que derrubou a ditadura no Brasil".
Separados
por poucos meses, os assassinatos de Herzog e Fiel Filho expuseram o
descontrole e a anarquia dos porões. A linha dura, que não aceitava a distensão
"lenta e gradual" que o presidente Ernesto Geisel pretendia levar a
cabo, resistia, com o argumento de que o Brasil ainda estava ameaçado pelo
comunismo.
A
queda de braço da linha dura com Geisel e seu ministro Golbery do Couto e Silva
(1911-87), que levou à queda do general Ednardo D'Avila Mello, chefe da Força
em São Paulo, em 1976, e do ministro do Exército, Sylvio Frota, em 1977, é
narrada em detalhes por Elio Gaspari em "A Ditadura Encurralada".
"Tenho
para mim que esses acontecimentos foram a raiz das Diretas-Já", avalia o
ex-governador Paulo Egydio Martins.
TAREFAS
Em abril de 1979, quando o país discutia a Lei da Anistia, Silvaldo recusou-se
a participar de uma tarefa -da qual ele diz não se lembrar. Desde julho de
1976, já estava efetivado como fotógrafo da Polícia Civil de São Paulo, segundo
seu registro funcional da Secretaria de Segurança Pública.
No
documento, vê-se que passou pela delegacia de Santos, a de acidentes de
trânsito e, por fim, a Darc, Delegacia de Arquivos e Registros Criminais, onde
era responsável por registrar os presos condenados antes que fossem
transferidos para os presídios.
"Mas
o trabalho ia sempre além", conta, "e muitas vezes tinha que
fotografar também presos políticos, alguns que acabavam de sair das sessões de
tortura. Eu não aguentava aquilo, reclamava que minha atribuição não me
permitia fazer esse serviço. E quanto mais eu questionava, mais a situação
ficava delicada."
Silvaldo
diz que os superiores passaram a fritá-lo por sua atitude questionadora: não
podia tirar férias e chegou a ser suspenso.
Segundo
registro da Polícia Civil ao qual a Folha teve acesso, Silvaldo foi afastado
por três dias, nos termos da lei estadual no 207, de 1979, por
"descumprimento dos deveres e transgressão disciplinar". Em agosto,
finalmente tirou férias e deixou o Brasil.
EUA
Em Los Angeles, onde está radicado desde então, Silvaldo conta ter feito um
pouco de tudo: como imigrante ilegal, ganhou dinheiro jogando xadrez e até como
aprendiz de ourives, emprego que conseguiu graças a um empresário grego
radicado nos EUA que era casado com uma conhecida dele de Santos.
De
lá, acompanhou o apagar das luzes da ditadura e viu a União ser condenada pela
morte de Manoel Fiel Filho, em 1995 -no caso Herzog, a primeira condenação da
União ocorreu ainda em 1978. (Ainda assim, setores das Forças Armadas
frequentemente divulgam informações dando conta que Herzog e Fiel Filho se
mataram, omitindo os assassinatos. Em 1993, um relatório da Marinha dizia que
Vlado se suicidou no DOI-Codi.)
Em
1986, foi favorecido pela Lei da Anistia da Imigração Americana, promovida pelo
governo de Ronald Reagan (1981-89); dois anos depois, ganhou o visto de
residência temporária; em 1989, veio o selo de residente permanente. Hoje
trabalha no Good Shepperd Center, instituição beneficente voltada para mulheres
e crianças sem-teto.
O
abandono do cargo público ainda lhe traz problemas. No governo de Fernando
Henrique Cardoso (1995-2002), convidado a trabalhar no setor cultural do
Consulado em Los Angeles, não pôde assumir o posto: a infração administrativa
até hoje o impede de voltar ao serviço público.
Silvaldo
protocolou pedido em 2008 na Comissão da Anistia do governo federal para tentar
receber indenização pelo tempo de serviço como fotógrafo da Polícia Civil.
Alega ter abandonado o cargo por causa da perseguição política.
"Infelizmente
eu estava no meio do caldeirão, sempre foi muito difícil para mim entender todo
esse processo", conta. "O único conforto é pensar que a foto que fiz
do Herzog ajudou a desmontar toda a farsa". Separado e sem filhos, ele
planeja voltar para o Brasil para ficar ao lado da mãe octogenária.
Ele
não pretende voltar apenas para casa, mas também para a fotografia. Admirador
dos fotógrafos Sebastião Salgado e Gale Tattersall (britânico que se
especializou em fotos para o cinema), Silvaldo programa uma viagem ao Alasca
com um grupo de Los Angeles, para registrar paisagens, em uma espécie de
workshop.
"Preciso
me atualizar, comecei na fotografia na era do preto e branco. Mudou
muito."
Pela
primeira vez, Silvaldo contou detalhes de sua atuação na polícia de São Paulo.
"Ainda carrego um triste sentimento de ter sido usado para montar essas
mentiras", disse
O
Exército afirmou que a tira de pano amarrada no pescoço de Herzog seria a cinta
do macacão que usava. Mas os macacões do DOI-Codi não tinham cinta
Silvaldo
diz que os superiores passaram a fritá-lo por sua atitude questionadora: não
podia tirar férias e chegou a ser suspenso. Em agosto de 1979, tirou férias e
deixou o Brasil
>>>
CRISTOVAM BUARQUE
- Ministério da Educação de Base
Na
verdade, o MEC é o Ministério do Ensino Superior e Escolas Técnicas; pouca
importância é dada à educação de base FOLHA SP 05/02
-
Durante
os meses em que fui ministro do presidente Lula, recebi centenas de
parlamentares em audiências. Apenas um deles fez um pedido relacionado ao
ensino fundamental. Poucos falaram sobre as escolas técnicas. Quase todos
trataram do ensino superior.
Na
verdade, o MEC (Ministério da Educação) é um Ministério do Ensino Superior e
das Escolas Técnicas. As ações educacionais de base para crianças e
adolescentes estão sujeitas à falta (e à desigualdade) de recursos dos Estados
e municípios.
O
ministro comemora as suas realizações e assume responsabilidades apenas no que
se refere ao ensino superior. Ele não assume a responsabilidade pelo
analfabetismo e pelo atraso educacional.
Os
governos FHC e Lula aumentaram o número de alunos no sistema superior e criaram
novas escolas técnicas, mas o Brasil não saiu da vergonhosa tragédia de sua
educação de base. E tanto a ampliação do sistema universitário quanto a do
ensino profissional estão fracassando por falta de base educacional de seus
alunos.
Temos
uma história de apoiar o ensino superior, menosprezando a educação de base.
Temos um programa "Universidade para Todos", mas não temos um
programa ambicioso para "Todos Alfabetizados". Não há também o
"Todos com Ensino Médio de Qualidade".
Assumimos
o ensino superior como questão nacional e deixamos a educação de base como
questão local, Estadual ou municipal.
A
prova é que, em 2009, o governo federal cobriu apenas 3% dos gastos diretos com
a educação de base, chegando a 13% se incluirmos o ensino profissional.
Graças
ao programa Bolsa Escola, que não é mais administrado pelo MEC, foi possível
avançar na universalização da matrícula, mas não na frequência, na assistência
e na permanência -e ainda menos no aprendizado.
Lula
sancionou a lei do Senado para o piso salarial do professor, mas o valor é
mínimo e até hoje não é cumprido pela maioria dos Estados e municípios.
O
Brasil precisa de um ministério que se dedique à educação de base, como no
passado fez com a saúde, com a cultura e com o esporte.
Para
cada setor da sociedade, temos um ministério. Só na área econômica, são cinco.
Mas não há qualquer autoridade nacional responsável pela educação de base.
Em
diversos países, além do ministério da educação de base, há outro dedicado
apenas ao ensino superior. Sugeri isso ao presidente Lula antes da sua posse.
Hoje, com 38 ministérios, é difícil justificar mais um. Mas é possível
concentrar o MEC na educação de base, migrando a Secretaria de Ensino Superior
para o MCT, que passaria a ser o Ministério da Ciência, Tecnologia, Ensino
Superior e Inovação.
A
principal justificativa para isso é político-administrativa. O ministro
dedicado apenas à educação de base terá de concentrar a sua atenção nesse
setor. Há também uma justificativa do ponto de vista estratégico: criar no
Brasil um sistema nacional do conhecimento, que será eficiente quando todos
receberem uma boa educação de base.
Esse
é um passo necessário e decisivo para transformar o setor que mais emperra o
avanço civilizatório do Brasil, propiciando o salto para economia baseada no
conhecimento e quebrando a desigualdade social por meio da igualdade no acesso
à educação de base.
Esse
é o objetivo do projeto de lei do Senado 518/2009.
CRISTOVAM
BUARQUE, 67, é professor da UnB (Universidade de Brasília) e senador pelo
PDT-DF
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Estudo inédito da WWF mostra que o Pantanal está
ameaçado
O
Pantanal está ameaçado pela agricultura intensiva e pelo desmatamento UOL CIÊNCIAS 02/02/2012
-
Os
jacarés descansam nos bancos de areia enquanto uma iguana se lança no mangue:
no Pantanal, a natureza é generosa, mas este santuário de biodiversidade no
coração da América do Sul está ameaçado pela agricultura intensiva e pelo
desmatamento.
Ambientalistas
do World Wildlife Fund (WWF) soaram o alarme por ocasião do Dia Mundial das
Zonas Úmidas, celebrado todos os dias 2 de fevereiro desde 1997, para resgatar
este santuário do Mato Grosso.
Os
cientistas da ONG se apoiam em um estudo inédito publicado após três anos de
pesquisas, realizado por cerca de 30 especialistas de quatro países (Brasil,
Paraguai, Bolívia e Argentina), que compartilham a bacia do rio Paraguai, que
nasce no Mato Grosso e percorre 2.600 km antes de desaguar no Rio Paraná, na
Argentina.
Segundo
o WWF, esta região que se estende por 1,2 milhão de km2 corre um grave risco
ecológico.
O
biólogo Glauco Kimura, coordenador do programa "Water for Life"
("Água para a vida") do WWF, é categórico: "o Pantanal está
ameaçado. Isto pode parecer surpreendente, mas é a triste realidade. Nosso
estudo demonstra que 14% da bacia do rio Paraguai deve ser protegida de maneira
urgente".
Antes
de percorrer de barco as curvas do rio Cuiabá, sobrevoado por algumas aves de
rapina e por uma série de papagaios coloridos, Kimura e sua equipe se detêm na
floresta da Chapada dos Guimarães.
A
vista é excepcional. Mostra, de longe, o exuberante Pantanal, verdadeiro
santuário ecológico. Mas é do alto, no Planalto (conhecido também como
"Cerrado"), que vem o perigo.
"Comparo
esta região a um prato", explica o ecologista. "O Planalto nas bordas
e o Pantanal no fundo do prato. E o segundo sofre com os excessos do
primeiro".
O
desmatamento, a agricultura excessiva, o desenvolvimento urbano ou a
multiplicação de represas hidroelétricas são alguns dos riscos para as águas
que alimentam o Pantanal.
Percorrendo
o Cerrado, são descobertos milhares de hectares de explorações agrícolas,
sobretudo de soja. Em meio dos campos que se perdem de vista, um trator lança
um líquido amarelo com um forte odor químico. São herbicidas.
Cerca
de 15% da cobertura vegetal do Pantanal já foi destruída pelos cultivos de soja
e pelos pastos para o gado, estima o WWF.
Isto
alarma o canadense Pierre Girard, especialista em hidrologia do Centro de
Pesquisas do Pantanal (independente), outro dos autores do estudo.
"A
soja é cultivada onde nascem os rios que alimentam e formam posteriormente o
Pantanal. Há riscos de erosão, mas também de contaminação do Pantanal",
assegura.
Realizado
igualmente em colaboração com a ONG The Nature Conservancy, o estudo do WWF
insiste na necessidade para os países e as regiões envolvidas de unir seus
esforços.
"Não
há mais lugar para os cultivos abundantes como se existisse um estoque infinito
de floresta nativa a destruir e de água doce a contaminar", afirma Kimura.
Para
o biólogo, a proteção da bacia do rio Paraguai - onde apenas 11% do território
é atualmente uma zona protegida - é vital para conservar a extraordinária
riqueza da fauna e da flora, que possui 4.500 espécies diferentes.
"Portanto, é necessário proteger as fontes de
água, criar mais zonas protegidas e melhorar as práticas
agroalimentícias", assegura Kimura.
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Fim da aposentadoria integral
A Câmara dos Deputados deve aprovar até a
quarta-feira o Fundo de Previdência Complementar do Servidor Público Federal
(Funpresp). Modificada pelo relator, deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), a
reforma cria três fundos de previdência complementar para os futuros servidores
públicos federais: um para o Executivo, outro para o Legislativo e um terceiro
para o Judiciário. Setores do funcionalismo criticam o projeto, mas a avaliação
do governo é de que eles não têm poder de mobilização para inviabilizar a
aprovação. Correio Bsb 05.02
COLUNA: luizazedo.df@dabr.com.br
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Os funcionários contratados após a sua vigência
terão as aposentadorias equiparadas ao teto máximo do regime geral da
previdência: R$ 3.916,20. Ou seja, o mesmo teto das aposentadorias dos
trabalhadores com carteira assinada. O governo, enquanto patrocinador do fundo,
contribuirá com 8,5% sobre a parcela da base de contribuição que exceder esse
teto. Já a alíquota do servidor será decidida pelo próprio funcionário. Correio Bsb 05.02 COLUNA:
luizazedo.df@dabr.com.br
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O
líder do governo, Cândido Vaccarezza, acredita que a aprovação da nova
Previdência terá ampla maioria. “O PT teve suas emendas aceitas pela Fazenda.
Também fechamos um acordo com o PSDB, o DEM e o PPS para garantir a votação”. A
aprovação do projeto permitirá que o Ministério da Previdência equilibre suas
contas. Sem a reforma, argumenta o governo, o sistema previdenciário entraria
em colapso daqui a 30 anos. Correio Bsb 05.02 COLUNA:
luizazedo.df@dabr.com.br
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CINEMA 1
Festival de Roterdã premia filme brasileiro
"O
Som ao Redor", longa de Kleber Mendonça Filho, foi um dos vencedores do
evento holandês, levando o Fipresci, prêmio da crítica internacional. O
canadense "Monsieur Lazhar", de Philippe Falardeau, que concorre ao
Oscar de melhor filme estrangeiro, foi o preferido do público. FOLHA SP 06.02
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Ambientalistas temem revés na Amazônia
SÃO
PAULO, Brasil - O Brasil tem feito nos últimos anos grandes progressos na
redução do desmatamento da Amazônia, mostrando ao mundo o seu compromisso com a
proteção da floresta. FOLHA SP 06.02
=
A
taxa de desmatamento caiu 80% nos últimos seis anos, período em que o governo
reservou cerca de 60 milhões de hectares para a conservação -uma área quase do
tamanho da França- e reprimiu a devastação ilegal da floresta. Marina Silva,
ex-ministra do Meio Ambiente, se tornou internacionalmente respeitada como
defensora da Amazônia.
Mas,
desde que Dilma Rousseff foi eleita presidente, no fim de 2010, há sinais de
uma mudança na atitude do governo em relação à Amazônia. Uma medida provisória
atualmente autoriza a presidente a reduzir a extensão de terras destinadas à
preservação, e o governo tem demonstrado maior flexibilidade no licenciamento
ambiental de grandes projetos de infraestrutura.
"O
que está acontecendo no Brasil é o maior retrocesso que jamais poderíamos
imaginar no que diz respeito às políticas ambientais", disse Marina, que
disputou a Presidência em 2010.
Agora,
um projeto de reforma do Código Florestal, que existe há 47 anos e é uma peça
central da legislação ambiental, transformou-se no maior teste da política
ambiental do governo Dilma desde o início do mandato. Antes da posse, a
presidente prometeu vetar qualquer revisão do código que levasse a uma anistia
a proprietários de terras que tivessem desmatado a Amazônia.
Depois,
o governo negociou uma versão do código, aprovada em dezembro no Senado, que
concederia anistia a quem tivesse violado a lei antes de 2008 - desde que esses
proprietários rurais aceitassem plantar novas árvores. A Câmara deve voltar a
debater o projeto em março.
A
polêmica em torno do Código Florestal reacendeu a antiga briga entre
desenvolvimentistas e conservacionistas no Brasil. Dilma, ex-ministra de Minas
e Energia, até agora ostenta uma posição mais pró-desenvolvimento, segundo
ambientalistas, alterando o equilíbrio visto no governo Lula, que teve Marina
como ministra.
Em
maio, a Câmara aprovou uma anistia mais abrangente para quem tivesse desmatado
ilegalmente a Amazônia, o que deixou ambientalistas e cientistas indignados.
Marina
renunciou ao ministério em 2008, devido às resistências políticas que
enfrentou. Mas ela deixou o que ambientalistas consideram ser uma política
eficaz para controlar a devastação da Amazônia. Entre outras táticas, o governo
Lula usou imagens de satélite para identificar desmatadores, organizou ações
policiais e criou uma lista negra dos piores violadores.
Dias
depois da votação na Câmara, uma pesquisa Datafolha mostrou que 85% dos
brasileiros consideravam que o novo Código Florestal deveria priorizar a
proteção de rios e florestas, mesmo que em detrimento da produção agrícola. A
agricultura representa 22% do PIB brasileiro.
O
projeto aprovado em dezembro no Senado é um pouco mais palatável aos
ambientalistas. Em vez de conceder anistia incondicional a quem tiver desmatado
no passado, essa versão permite que os proprietários rurais evitem as multas
replantando árvores. O texto agora volta para a Câmara.
Se
a lei for respeitada, cientistas preveem que até 2020 há chances de a Amazônia
se transformar em um "sequestrador de carbono", em que a quantidade
de floresta replantada supera a área desmatada e as emissões decorrentes disso.
"A
presidente Dilma está extremamente ciente disso", afirmou Gilberto Câmara,
diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que monitora o
desmatamento na Amazônia. "Quando eu disse isso a ela, ela quase caiu da
cadeira."
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A esperança das editoras de livro
Amazon
avança e pressiona a Barnes & Noble
A
livraria que é a esperança das editoras THE NEW YORK TIMES 06.02
-
William
Lynch, presidente da Barnes & Noble, tenta avançar no mercado de livros
eletrônicos, sem abrir mão das lojas físicas
-
Tentando
salvar o setor editorial com um eletrônico
A
Barnes & Noble, gigante que ajudou a tirar do mercado tantas livrarias
independentes, trava agora a luta da sua vida. E seu Nook, concebido em segredo
numa antiga padaria, é a grande esperança eletrônica da rede e, na verdade, de
muita gente do setor editorial.
O
Nook -e por extensão a própria B&N- parece ser a única coisa que separa as
editoras tradicionais da irrelevância.
Dentro
das grandes editoras -nomes como Macmillan, Penguin e Random House- há
inquietação com o futuro da B&N, que é a última grande rede de livrarias.
Primeiro, as megalojas expulsaram as pequenas, depois as redes foram engolidas
pela migração dos consumidores para a internet.
Ninguém
acha que a B&N irá sumir da noite para o dia. A preocupação é que ela
míngue lentamente, conforme mais leitores adotem os e-books. E se a B&N
virar pouco mais do que um café com um ponto de conexão digital? Tais temores
vieram à tona no começo de janeiro, quando a empresa previu que sofrerá neste
ano um prejuízo ainda maior do que Wall Street esperava. Suas ações caíram 17%
naquele dia.
À
espreita por trás disso tudo está a Amazon, força dominante no comércio
eletrônico de livros. Muitos profissionais do ramo editorial enxergam a Amazon
como um inimigo que, se não for controlado, poderá ameaçar toda a indústria e o
ganha-pão dessas pessoas.
As
editoras estão cortando custos e demitindo funcionários. Os livros eletrônicos
estão bombando, mas não são muitos os editores que desejam que eles substituam
os livros impressos. Já o presidente da Amazon, Jeff Bezos, quer eliminar os
intermediários -ou seja, os editores tradicionais- ao lançar e-books por conta
própria.
Por
isso, a B&N agora parece tão crucial para o futuro do setor. Em muitas
localidades, suas lojas são as únicas com uma ampla seleção de títulos. Se algo
acontecer com a B&N, a Amazon pode se tornar ainda mais poderosa.
"Seria
como 'A Estrada'", disse um executivo de editora, referindo-se, meio de
brincadeira, ao romance de Cormac McCarthy. "O mundo editorial
pós-apocalíptico, com editores empurrando carrinhos de compras pela
Broadway."
Mas
William Lynch, presidente da B&N, se diz preparado para a batalha. Com
apenas três anos de experiência como livreiro, ele precisa encontrar um
equilíbrio: preparar um futuro digital para a rede, mas sem abrir mão do seu
passado com livros físicos - e tudo isso em meio às pressões sobre o valor das
ações da empresa, com os clientes fugindo para a internet e com a Amazon
rondando.
Lynch,
que foi criado no Texas e tem a intensidade nervosa de um executivo de
tecnologia, considera disparatada a ideia de que equipamentos como o Nook, o
Kindle ou o iPad levarão as livrarias à obsolescência.
"Nossas
lojas não vão para lugar nenhum", disse Lynch. Ele citou um faturamento
surpreendentemente robusto no fim do ano passado. E, no segundo semestre de
2011, a B&N capturou uma grande fatia do negócio deixada por um concorrente
quebrado, a rede Borders.
Mas,
em 5 de janeiro, a B&N anunciou que deve ter um prejuízo de até US$ 1,40
por ação no ano fiscal de 2012. E Lynch disse que os acionistas parecem estar
subestimando tanto o potencial do Nook que talvez a empresa estivesse melhor se
abandonasse o negócio digital.
Wall
Street chiou e as ações da B&N ainda não se recuperaram totalmente. Uma
pequena boa notícia para a empresa é que ela agora detém cerca de 27% do
mercado do livro eletrônico, segundo Lynch. A Amazon tem pelo menos 60%.
Em
20 de janeiro, a Amazon divulgou um comunicado dizendo que "as vendas
unitárias do Kindle, tanto do Kindle Fire quanto de leitores de e-book,
aumentaram 177% sobre o mesmo período do ano passado".
A
B&N não tem exatamente o mesmo charme (nem o dinheiro) de um Google ou um
Facebook. "Não vemos todas aquelas ações, o sushi bar gratuito e todo o
resto que você encontra no Google, mas existe muita responsabilidade",
disse Bill Saperstein, 62, vice-presidente de engenharia de equipamentos
digitais da Barnes & Noble. "Era algo em que eu acreditava fortemente,
que é a leitura."
No
mês passado, engenheiros nos laboratórios da empresa no Vale do Silício faziam
os últimos acertos no quinto leitor de e-books da empresa. Paralelamente, Lynch
trabalha para reformular as lojas B&N. No ano passado, a empresa ampliou as
seções de jogos e de brinquedos, e criou novas vitrines para promover o Nook. O
executivo espera eliminar dentro de dois anos as seções dedicadas a CDs e a
DVDs. E também pretende testar formato de lojas ligeiramente menores.
Alguns
analistas se perguntam se Lynch não teve os olhos maiores do que a boca. No
entanto, a B&N talvez tenha de se adaptar às novas realidades, ou morrer
tentando.
"Acho
que eles percebem que não podem continuar no ritmo que estão indo", disse
o consultor editorial Jack Perry. "Eles precisam de mais dinheiro para
investir, para poder brigar."
Desde
2002, os EUA perderam cerca de 500 livrarias independentes. Umas 650 sumiram quando
a Borders deixou de funcionar no ano passado.
Alguns
editores de Nova York já tentaram imaginar o setor sem a B&N, e a ideia não
é nada boa: haveria menos lugares onde vender livros. Os independentes
respondem por menos de 10% e os grandes magazines têm seções de livros menores
do que as livrarias tradicionais.
Sem
a B&N, a proposta de marketing das editoras desmorona. A ideia de que as
editoras são capazes de identificar, moldar e publicar novos talentos e, então,
levar as pessoas a comprar livros a preços que façam sentido economicamente, de
repente, parece forçada. Divulgar livros pelo Twitter, ou depender de críticas,
propaganda e talvez uma aparição na TV não parece ser um plano vencedor.
O
que as editoras esperam da livraria é o "efeito folheada". As
pesquisas indicam que, das pessoas que entram em uma livraria e saem com um
livro, apenas um terço já chegou com o desejo específico de comprar algo.
"O
espaço de exposição que eles têm na loja é realmente um dos lugares mais
valiosos que existem neste país para comunicar ao consumidor que um livro é um
grande negócio", disse Madeline McIntosh, presidente de vendas da Random
House.
A
venda de livros mais antigos, que tradicionalmente responde por algo entre 30%
a 50% da receita das grandes editoras, sofreria terrivelmente.
"Para
todas as editoras, é importante que o varejo físico sobreviva", disse
David Shanks, presidente do Grupo Penguin nos EUA. "Quanto mais
visibilidade um livro tem, mais inclinado o leitor fica [a comprá-lo]."
Carolyn
Reidy, presidente da Simon & Schuster, diz que o maior desafio é, em
primeiro lugar, dar às pessoas uma razão para entrar nas lojas B&N.
"Eles descobriram como usar a loja para vender e-books", disse ela.
"Agora, tomara que a gente descubra como fazer com que esse ciclo se
complete, e ver como os e-books podem vender os livros impressos."
Bezos,
por exemplo, não está esperando. A Amazon já criou sua própria editora. E a
cada dia as Bolsas dão um soturno aviso de que Bezos tem os bolsos mais
fornidos que Lynch.
John
Sargent, presidente da Macmillan, disse que a questão não interessa apenas às
editoras. "Qualquer um que seja um autor, um editor ou que ganhe a vida
distribuindo propriedade intelectual em forma de livro fica seriamente
prejudicado se a B&N não prosperar."
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