segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012


ÁGUAS DE MARÇO
"Previsíveis, chuvas não são motivo de força maior"
"São as águas de março fechando o verão. É a promessa de vida no teu coração..." O trecho da famosa música de Tom Jobim foi um dos fundamentos usados pelo desembargador Marcelo Buhatem, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, para condenar a Ampla, concessionária de energia elétrica, a indenizar em R$ 5 mil, por danos morais, ums consumidora que ficou alguns dias entre março e abril sem ter luz em casa. CONJUR.COM.BR 12.02.12

-
O desembargador lembrou que é notório o estrago que os temporais provocam em todo o estado nessa época do ano. "A ocorrência de fortes chuvas, apesar de ser inevitável, não constitui fato imprevisível, principalmente, no mês de março", escreveu na decisão.

De acordo com os autos, durante os meses de março e abril de 2010, a cliente da concessionária teve o serviço suspenso por 16 vezes. Ela alegou que, depois de um temporal, no meio do mês de março, o serviço ficou suspenso por 24 horas no bairro onde mora, sendo que na casa dela e em outras cinco vizinhas faltou energia por dois dias. Em abril, voltou a faltar energia. Foi neste mês que aconteceu, em Niterói, cidade vizinha a São Gonçalo, o desmoronamento do Morro do Bumba, onde morreram mais de 50 pessoas depois de ser atingido pelas fortes chuvas.

Ao analisar a ação, o desembargador entendeu que a empresa não comprovou que se empenhou para solucionar o problema. "O dano moral está configurado e decorre da interrupção reiterada de serviço de natureza essencial e do comportamento desidioso da apelada que ignorou as solicitações do autor", disse Buhatem. Para o desembargador, o caso extrapola o simples aborrecimento.

A empresa reconheceu a falta de energia em março, mas alegou caso de força maior. O temporal, sustentou, provocou descargas elétricas que atingiram a rede de alta tensão que atende a consumidora. Também disse que o fornecimento de energia foi normalizado em tempo razoável.

Em primeira instância, a juíza Larissa Pinheiro Schueler, da 4ª Vara Cível de São Gonçalo (RJ), negou o pedido da consumidora. "Houve caso fortuito que gerou a interrupção do serviço", afirmou a juíza, considerando o temporal que atingiu a região no meio de março. Ela também entendeu que cabia à cliente comprovar as demais interrupções, ainda que fosse com o depoimento de testemunhas.

A consumidora recorreu ao TJ fluminense. O desembargador Marcelo Buhatem, relator da Apelação, entendeu que há prova mínima com relação às demais interrupções de energia. Ele levou em conta os diversos números de protocolos abertos juntos à concessionária. "Caberia a ré [concessionária de energia], que não se desincumbiu do seu ônus, de demonstrar a regularidade do fornecimento do serviço à unidade consumidora da autora, nos horários e datas questionados."

>>> 
ELIANE CANTANHÊDE
Pequenas grandes coisas FOLHA SP 12.02
-

BRASÍLIA - Minha filha caçula, orientadora pedagógica e psicóloga de crianças e adolescentes, chorou emocionada ao ouvir pelo rádio a entrevista que o estudante Vitor Soares Cunha deu ao sair do hospital, depois de ser agredido covardemente por jovens como ele.

Vitor, 21, aluno de desenho industrial, passeava com um colega na Ilha do Governador, no Rio, quando viu cinco rapazes bem alimentados espancando um mendigo. Filho de uma assistente social (coincidência?), não pensou duas vezes ao tentar impedi-los. A violência irracional voltou-se contra ele.

Foram socos e pontapés violentos e ininterruptos, atingindo, sobretudo, a cabeça e o rosto de Vitor mesmo quando ele já estava caído no chão, totalmente indefeso.

Depois de horas de cirurgias, placas de titânio na testa e no céu da boca, 63 pinos para recompor os ossos da face e ainda com o risco de perder os movimentos do olho esquerdo, Vitor saiu com sua mãe do hospital e disse, com uma simplicidade atordoante, que não se sentia heroico e que faria tudo novamente.

"Pelo menos uma, duas, três pessoas vão pensar alguma coisa, vão ensinar para os filhos deles. Não adianta pensar que uma atitude vai mudar o mundo, mas pequenas coisas vão mudando", declarou.

Não podemos nem devemos desperdiçar episódios, personagens e frases assim, fundamentais para reforçar que, além do Estado, dos poderosos e dos ídolos, cada um de nós tem de dar o exemplo e ter responsabilidade diante do país e do outro. Uma delas, possivelmente a mais nobre, é a de criar os filhos para o bem.

A comparação entre Vitor e seus agressores nos faz refletir. O Brasil e o mundo serão muito melhores quando pais e escolas educarem as crianças para fazer a coisa certa sem se sentirem heróis, não para se arvorarem fortes e machos ao trucidar um ser humano -ou um animal- jogado na rua, no abandono e na dor.
>>>>>> 
Festival de Curitiba traz oito estreias nacionais
Entre 27 de março e 8 abril, serão apresentadas duas montagens de Nelson Rodrigues FOLHA SP 13.02
-
Uma noite de abertura na companhia de estrangeiros, um olhar sobre o trabalho de novos autores brasileiros e peças em homenagem ao centenário de nascimento de Nelson Rodrigues. Essas são algumas das marcas da 21ª edição do Festival de Curitiba, que acontece entre os dias 27 de março e 8 de abril.

Como no ano passado, a abertura ocupa o espaço público do Largo da Ordem com a apresentação gratuita do espetáculo espanhol "Los Pájaros Muertos".

O trabalho de dança contemporânea é assinado pelo coreógrafo Marcos Morau, diretor da companhia La Verona!, e se inspira na obra do pintor espanhol Pablo Picasso (1881-1973).

Na programação, destaque ainda para oito estreias nacionais, entre elas, duas montagens da companhia carioca Os Fodidos Privilegiados para textos de Nelson Rodrigues (1912-80): "O Casamento" e "Escravas do Amor".

Já o Grupo Galpão, de Minas Gerais, apresenta um espetáculo resultante de uma pesquisa em parceria com o diretor russo Jurij Alschitz, "Eclipse", baseado na obra de Anton Tchékov.

A peça está sendo divulgada como estreia, embora tenha passado por curtíssima temporada em Belo Horizonte.

No total, a Mostra Oficial terá 29 espetáculos de seis Estados brasileiros e duas apresentações internacionais: além de "Los Pajaros Muertos", prevê ainda "1984", uma adaptação do romance homônimo de George Orwell (1903-50) dirigida, em 2006, pelo ator americano Tim Robbins.

O diretor do festival Leandro Knopfholz diz que a curadoria permanece seguindo a diretriz de fazer uma representação do que é produzido hoje no Brasil, embora boa parte das montagens ainda seja formada por peças que fizeram sucesso no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Os espetáculos "O Libertino", dirigido por Jô Soares, "Gargólios", de Gerald Thomas, e "Palácio do Fim", com direção de José Wilker, também estão na programação.

Agradar o público local é uma questão central. Uma pesquisa da Secretaria de Turismo de Curitiba aponta que 86,8% do público do festival é formado por moradores de Curitiba, e 7,1% por moradores da região metropolitana da capital paranaense.

A preocupação de abarcar trabalhos de novos autores brasileiros, diz o diretor do festival, também determina algumas escolhas.

"O Jardim", do jovem e premiado Leonardo Moreira (direção e texto) é um dos espetáculos que representam a nova safra da dramaturgia nacional.

>> 

Tarsila do Amaral é alvo de grande retrospectiva no Rio
Mais de 80 obras, entre pinturas, desenhos, gravuras e parte do diário da artista estão expostos no CCBB.
Também integram a mostra obras-primas, como 'Antropofagia' e versão inacabada da tela 'A Negra'. FOLHA SP 13.02

-
Mais de 30 anos depois de pintar "A Negra", de 1923, retrato de uma antiga ama de leite que virou um ícone do modernismo brasileiro, Tarsila do Amaral tentou fazer uma segunda versão da tela.

Não conseguiu ou não quis, deixando enormes faixas cinzentas atravessando a tela no lugar das cores da original. É essa obra incompleta que norteia a mostra da artista, morta aos 86 em 1973, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio.

Enquanto discursos surrados sobre a artista tendem a ganhar mais força no marco dos 90 anos da Semana de Arte Moderna de 1922, sua "Negra" inacabada aponta para outra direção -Tarsila foi mais volúvel e errática do que a musa moderna que virou depois uma espécie de mito.

Seu quadro inacabado data de um momento conturbado na vida da artista. Em crise financeira e amargando a morte da neta Beatriz, que morreu afogada em 1949, esse retorno tardio à fase áurea da carreira, a década de 1920 em que vivia em Paris, até hoje intriga seus estudiosos.

"Todos os grandes artistas deixam algo inacabado", diz Antônio Carlos Abdalla, curador da mostra. "Reproduzir uma obra anterior numa época em que estava frágil pode ter sido uma espécie de freio."

DIÁRIO

Pelas ausências, como a "Negra" original, consagrada como obra-prima, e o "Abaporu", hoje numa coleção argentina, a mostra no Rio constrói um retrato afetivo da artista, calcado no diário de suas viagens pela Europa, África e Oriente Médio com o marido Oswald de Andrade.

Nesse mesmo diário, Tarsila colou uma fotografia da negra, uma ex-escrava de sua fazenda no interior paulista, que deu origem à tela.

Suas impressões sobre o corpo, o fascínio pela vida urbana, a flora tropical e mais tarde suas telas de cunho social aparecem em trabalhos pontuais. De um nu acadêmico, com discreta influência impressionista, para os corpos geometrizados que fez no ateliê de Fernand Léger, em Paris, Tarsila mostra como absorveu a vanguarda.

Outras telas pontuam a transição da infância numa fazenda cafeeira para a metrópole. Também há uma série da fase surrealista, provável influência de André Breton, mentor do movimento, que frequentava as feijoadas na casa de Tarsila em Paris. (SL)

O jornalista SILAS MARTÍ viajou a convite do Centro Cultural Banco do Brasil.

TARSILA DO AMARAL
QUANDO abre hoje, às 19h, para convidados; de ter. a dom., das 9h às 21h; até 29/4
ONDE CCBB-Rio (r. Primeiro de Março, 66, Rio, tel. 0/xx/21/3808-2020)
QUANTO grátis

>>> 
NOAM CHOMSKY. PROPAGANDA IDEOLÓGICA E CONTROLE DO JUÍZO  PÚBLICO. RIO DE JANEIRO: ACHIAMÉ, S/D.
       * Resenha de Marcelo Agustinho
-
Quer seja por sua reconhecida genialidade ou pela postura combativa o pesquisador

norte-americano Noan Chomsky é um nome que dispensa apresentação. O livro de sua autoria

que ora resenhamos, tal a importância do  conteúdo crítico que possui, é leitura fundamental

para todos que queiram superar a pobreza mental e a monotonia do discurso ideológico  

dominante em nossos dias, municiando-se com arsenal teórico de primeira linha. 

A assertiva da qual Chomsky parte é a de que existe uma guerra contra a classe

trabalhadora. Uma guerra antiga e nunca declarada, pois quem faz a guerra contra os

trabalhadores não quer que se saiba que a está travando. Chomsky afirma que desde a década

de 20 se desenvolve nos EUA uma imensa propaganda corporativa, e seu objetivo bem claro e

consciente é controlar o juízo público, visto que este poderia ser a maior ameaça as

corporações. Segundo Chomsky, o país era livre até então, o poder comercial, forte, e era

difícil, mas não impossível, solicitar a violência do Estado “que detém o monopólio legítimo da

violência física”, para conter questionamentos indesejáveis.

Chomsky observa que apesar do uso da violência ser possível era deveras mais

interessante, para as classes abastadas, controlar as mentes das pessoas. Ele considera que o

livro intitulado Propaganda,  escrito por Edward Bernays, pode ser tomado como um manual

padrão das indústrias de relações públicas. Este manual – produzido nos anos 30 - aborda a

questão da “propaganda ideológica”, uma expressão composta que  foi utilizada muito aberta e

livremente, na época,  com o objetivo de criar princípios capazes de controlar o juízo público.

Entretanto, a partir do pós 45, pelo fato da  expressão ter sido largamente utilizada pelos

nazistas, caiu em desuso, sendo relegada e esquecida. Chomsky afirma, todavia, que este

termo era bastante utilizado nas décadas de 1920 e 1930 na literatura das Ciências Sociais nos

Estados Unidos.

O referido manual, segundo Chomsky, foi escrito para a crescente indústria das

relações públicas, e que, dentre outras coisas, afirmava ser muito importante numa sociedade

democrática a manipulação consciente dos hábitos organizados e das opiniões das massas, e

que arregimentar as mentes das pessoas, tal como os exércitos permanentes o fazem, é um

aspecto crucial da democracia. Chomsky volta ao passado da História americana considerando

que o expoente da convenção que elaborou a Constituição do país, James Madison, entendia que a principal responsabilidade do governo é proteger a minoria dos abastados contra a

maioria, e que no direito ao voto (que seria cada vez mais facultado) residia o perigo. Ora,

para prevenir este perigo eminente, seria necessário dividir o povo em facções, instigando o

ódio, marginalizando as pessoas e promovendo uma propaganda ideológica correta. Então,

retoma Chomsky, foi isso o que aconteceu na década de 1920 de onde enormes quantias

foram despendidas para a manipulação consciente dos hábitos organizados e opiniões das

massas, e os métodos para conseguirem êxito nessa empreitada tinham, a saber: a

propaganda ideológica, o entretenimento, a propaganda ideológica politicamente correta na

mídia, as escolas, etc.

Chomsky relembra como o movimento operário norte-americano foi destruído, nesta

mesma década de 1920, pois os trabalhadores não puderam mais ficar unidos e tiveram de

privatizar suas vidas e aspirações, desenvolvendo estratégias de sobrevivência para si

mesmos, pois os modos de cooperação e a luta comum foram eliminados. Chomsky comenta,

em relação a Madison, que na verdade ele era, sinceramente, um pré-capitalista, pois

acreditava existir uma espécie que poderia ser chamada de plutocracia generosa, ou seja, um

conjunto de homens a quem o poder seria dado para que agissem como “filósofos

benevolentes”, devotando cada dia de suas vidas ao bem estar de todos.

Páginas à frente, Chomsky escreve que Madison teria percebido que os líderes da elite

que ocupavam os postos de poder usavam-no – não como filósofos benevolentes – mas como

“ferramentas de déspotas do governo”. Quase em seguida, Chomsky Volta a falar sobre a

propaganda ideológica e o controle da mente das pessoas e cita Laswell, um dos fundadores

da moderna ciência política norte-americana, no que tange a este afirmar que as pessoas

devem ser deixadas do lado de fora da arena pública, pois não entendem que o propósito do

poder é proteger a minoria abastada da maioria empobrecida. Chomsky recorda ainda que no

final da década de 1930 uma grande campanha anti trabalhadores foi desenvolvida com novas

técnicas.

A técnica principal, chamada de “fórmula de Mohawk Valley” , procurava mobilizar a

comunidade contra os grevistas e os sindicalistas. O retrato apresentado era o da família

americana, ou seja, aquela em que o pai, trabalhador honesto, sai de casa para a labuta todas

as manhãs. Ele leva a sua marmita enquanto sua fiel esposa fica em casa, preparando as

refeições e cuidando das crianças. O patrão trabalha dia e noite  – incansavelmente  - pelo

interesse de seus empregados e o da comunidade. O banqueiro, bom amigo, passa o dia

inteiro procurando pessoas para emprestar dinheiro, visando ajudá-las. Chomsky fala que o

quadro apresentado sintetiza o ideal norte-americano, e a palavra que resume este sentimento

é harmonia. Segundo a fórmula de Mohawk Valley, ao se  chegar em uma comunidade onde

uma greve está em curso, deve-se inundá-la com propaganda ideológica, assumir o comando

dos meios de comunicação, das igrejas, das escolas, incluindo no discurso adotado a “palavra mágica” harmonia, e  então apontar quem são aqueles que querem estragar aquela harmonia

“intrínseca”. São os grevistas, provavelmente anarquistas, comunistas, baderneiros e

desordeiros.

Chomsky diz que o termo ideal a ser adicionado, nessa situação é o do

fundamentalismo e diz que os EUA são uma sociedade bastante fundamentalista e mais até do

que o próprio Irã. Isto, diz ele, já vem de longo tempo em que para esses líderes religiosos as

idéias mais iluminadas são ir à igreja, ouvir ordens, fazer o que eles dizem e calar a boca.

Chomsky explana que as elites tratam as pessoas como crianças que não tem discernimento

para cuidarem de certos assuntos, e não podem tomar decisões importantes, então as elites

devem tomar estas decisões por todos. Ele fala que técnicos, rapidamente encontram um

modelo para manter as massas fora da arena pública e, sobretudo,  fora de qualquer coisa que

tenha a ver com o controle econômico. 

Esse controle, afirma Chomsky, tem de ficar nas mãos da tirania privada. Chomsky fala

ainda da intervenção da CIA na Itália a partir de 1947 até meados da década de 1970,

principalmente pelo forte movimento operário do norte italiano. Logo após esta breve análise,

ele se bate sobre outro tema: o do que ocorreu com o fim da Guerra Fria. Primeiramente,

Chomsky fala sobre um dos pensadores principais do  New York Times  chamado Thomas

Friedman, que afirmou em um artigo que o mundo estava dividido agora em integracionistas e

antiintegracionistas, ou seja, pessoas que são a favor da globalização e outras que são

contrárias a ela, e as que, querem até acabar com ela.

Haveria, também, uma outra divisão entre pessoas que são favoráveis a uma rede de

segurança e aquelas que acham que todo mundo deve ficar na sua e fazer o que estiver a seu

alcance. Chomsky dá uma fórmula para se entender como uma economia funciona. Basta

pegar algum setor dinâmico da economia que seja por nós conhecido e descobrir-se-á que ele

é baseado em uma grande quantia de subsídios públicos e na privatização dos lucros, ou seja,

a população paga os custos e assume os riscos, e os sistemas privados ficam com os lucros, se

algum houver. Isto, diz ele, é passado de uma forma bem sutil, as pessoas não podem saber

que estão sendo enganadas. Para ser um bom mentiroso, afirma ele, você deve convencer-se

a si mesmo da mentira que deseja ser acreditada pelos outros.

           Chomsky explica que desde a infância estamos submetidos à propaganda ideológica,

seja na escola, na mídia ou em outras instituições sociais. Ele observa que poderia achar que

um professor era um idiota, que não poderia falar nada. Se falasse seria expulso da sala, e que

aprendeu a ficar calado, dizendo ok. Afirma ele que quem assim o fizer e for suficientemente

disciplinado e passivo poderá conseguir chegar aos mais altos escalões. Chomsky comenta

ainda que pessoas independentes são consideradas sempre um aborrecimento para o sistema, e tem de ser eliminadas de um jeito ou de outro. Ele chega a dizer que no campo das ciências

naturais tal independência não é mal vista pelo fato de que é necessário o estudo, a

contestação para que pessoas não venham a morrer, por uma doença nova, por exemplo.

É importante citar o destaque que ele dá a um livro de Norman Ware intitulado  The

Industrial Worker, escrito em 1924. Este livro trata do movimento operário no leste de

Massachusetts por volta de 1850 e 1860. O livro é composto basicamente por citações

retiradas da imprensa operária, que, diz Chomsky, são fascinantes. Citações extraídas de

escritos de  factory girls, jovens de 18 anos que vinham do interior para trabalhar como

artesãos em uma fábrica em Boston. Elas produziam a sua própria imprensa, uma impresa

grande, extensiva e ativa. Mais ou menos a mesma quantidade que a imprensa comercial

daqueles tempos. Outra questão importante nesse movimento era que elas consideravam o

capitalismo uma forma de escravidão, isso sem Marx, socialismo ou radicais estrangeiros.

Uma das coisas que se queixavam, à época, escreve Chomsky, era que sua cultura

estava sendo arrancada. Elas diziam que os valores pelos quais lutaram na Revolução NorteAmericana foram arrancados delas e que estavam sendo forçados a um novo tipo de tirania, a

tirania dos sistemas hierárquicos. Os operários também se opunham ao que se chamou de

“espírito da nova era”. Isso em 1850. O espírito da nova era significava adquirir fortuna,

esquecendo-se de tudo o mais, menos de si mesmo. Chomsky assevera que estruturas

baseadas na autoridade e na dominação agirão normalmente mesmo sem pensar nesse fato

para bloquear tendências divergentes. Às vezes, como no manual da indústria das relações

públicas, até pensavam muito nisso, pois estão investindo bilhões de dólares por ano para

controlar o juízo público.

Chomsky relembra que, quando estamos assistindo televisão, talvez a uma série cômica

de TV, não estejamos pensando que estamos sendo expostos a  fórmula de Mohawk Valley,

mas estamos. Outro aspecto importante que brota da indústria de relações públicas  é a

demonização do trabalhador. Ele diz que no final da década de 1950, ainda havia cerca de 800

jornais do movimento operário que atingiam talvez 20 ou 30 milhões de pessoas por semana.

Chomsky nota para o fato de que os líderes da indústria das relações  públicas diziam que,

depois da Segunda Guerra, se teria de três a cinco anos para salvar nosso modo de vida.

E que eles tinham de lutar e vencer, rapidamente o que eles chamam de “eterna luta

pela mente dos homens” e doutrinar as pessoas como o ideário capitalista de maneira tão forte

que elas repitam os nossos discursos em todas as oportunidades. Chomsky diz que nos EUA

muita coisa foi controlada pelas empresas de propaganda corporativa desde o início da década

de 1950. Os times, as igrejas, as universidades foram atacadas. Houve luta e esforço para

evitar isso, diz ele, e essa luta ocorre até hoje.* Mestrando em Ciência Política em Ciência Política IFCS/UFRJ.

>>> 

Nenhum comentário: