quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012
Definição de poderes do CNJ é adiada
Supremo
suspende julgamento sem decidir se conselho pode investigar e processar
magistrados antes das corregedorias locais O Estado de S. Paulo - 02/02
-
O
julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) que delimitará o poder do Conselho
Nacional de Justiça (CNJ) foi suspenso ontem antes que os ministros decidissem
a questão central da ação. Os ministros não decidiram se o CNJ pode abrir
processos contra magistrados suspeitos de irregularidades, mesmo que não tenham
sido investigados pelas corregedorias dos tribunais locais. A sessão será
retomada hoje.
Os
ministros julgam ponto a ponto os artigos da resolução do CNJ que padronizou o
trâmite dos processos administrativos no Judiciário, cuja constitucionalidade
foi contestada pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB). Ontem, os
ministros julgaram só três pontos da liminar concedida pelo ministro Marco
Aurélio Mello em dezembro.
Na
parte mais polêmica abordada, a AMB questionava um ponto que, segundo ela,
permitiria que magistrados condenados em processos administrativos fossem
aposentados compulsoriamente sem receber salário proporcional ao tempo
trabalhado. Na liminar do fim do ano passado, Marco Aurélio afirmou que a
resolução não previa a possibilidade de alterar o que é definido na Lei
Orgânica da Magistratura: o magistrado aposentado compulsoriamente recebe
subsídio proporcional. O entendimento foi referendado por unanimidade - ou
seja, magistrados condenados vão continuar recebendo proporcionalmente ao tempo
de serviço.
No
mesmo sentido, a AMB questionava um ponto da resolução do CNJ que ampliava a
lista de penas para os magistrados condenados e permitia que eles fossem
demitidos, sem que recebessem salário, o que está previsto na Lei de Abuso de
Autoridade. Somente os ministros Cármen Lúcia e Joaquim Barbosa votaram por
manter o texto do CNJ. Os demais entenderam que o conselho usurpou sua
competência ao criar novas penas - o que só poderia ser feito por uma nova Lei
Orgânica da Magistratura. "A resolução (nesse ponto) ultrapassou o poder
constitucional do CNJ", disse o ministro Carlos Ayres Britto.
Hoje,
os ministros decidirão a questão principal: se o CNJ pode abrir processos
contra magistrados suspeitos de corrupção. Pelo prognóstico dos ministros, o
STF deve garantir ao conselho o poder de investigar e processar magistrados
suspeitos, mesmo sem terem sido processados pelas corregedorias locais.
Parte
dos ministros, porém, entende que só corregedorias locais podem abrir processos
contra magistrados. O CNJ atuaria de forma subsidiária e em casos específicos.
Mais
ações. Mesmo que o STF garanta que o Conselho pode abrir investigação contra os
magistrados, o CNJ enfrentará mais dois processos que podem limitar seus
poderes. No primeiro, o STF decidirá se o CNJ poderia investigar magistrados
tendo como base folhas de pagamentos, declarações de bens e rendas e
movimentações bancárias atípicas identificadas pelo Conselho de Controle de
Atividade Financeira (Coaf).
Na
segunda ação, o STF decidirá se o CNJ pode pedir dados sigilosos do Banco
Central e da Receita Federal para instruir processos contra magistrados.
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Não há otimismo, mas sim menor pessimismo
O
grande consenso no fim do ano passado era de que 2012 seria um ano horrível. Valor Econômico - 02/02
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As
incertezas sobre a rolagem de dívidas na zona do euro cresciam, assim como o
temor de um "pouso forçado" da economia chinesa. Fora isso, os bancos
europeus eram tratados como uma bomba-relógio.
No
entanto, o comportamento dos mercados, ao menos por ora, prova exatamente o
contrário. Janeiro terminou como surpresa positiva até para os otimistas e o
primeiro pregão de fevereiro seguiu o mesmo tom.
Ontem,
os ativos de risco tiveram novo dia de forte apreciação, enquanto o dólar
voltou a perder valor no mundo todo.
Por
mais que se questione a validade de tamanho otimismo, não dá para lutar contra.
Segundo
um gestor, o que acontece é algo simples. O ano de 2011 foi algo horrível e,
ainda assim, a economia mundial sobreviveu. Então, qualquer sinal de melhora já
é boa coisa.
"Não
tenho visto gente otimista, o que acontece é apenas uma redução no grau de
pessimismo. O otimismo nem começou ainda", diz esse especialista.
Contribuindo
para essa redução no grau de pessimismo estão os indicadores de atividade apresentados
na Europa, Ásia e Estados Unidos. "Esses dados estão sugerindo que o mundo
está saindo do fundo o poço. Já em dezembro tivermos os primeiros sinais dessa
inflexão, mas o mercado não "comprou" esse sinal", diz.
Por
ora, o foco de melhora parece concentrado no lado da oferta, com o setor
industrial, principalmente nos EUA, dando sinais de recuperação.
Mas
o lado financeiro também tem contribuição vital nessa melhora de percepção. De
acordo com esse gestor, houve uma descompressão financeira gigantesca nos
últimos meses.
Em
boa parte de 2011, a economia mundial teve de lidar com uma contração do
sistema financeiro europeu, que opera em base global. Faltou
"funding" para as instituições, as ações desabaram e os Credit
Default Swaps (CDS em inglês, espécie de seguro contra calotes) dispararam.
"Essa
contração foi sentida até no mercado local, com a redução de linhas externas de
financiamento", exemplifica.
Hoje,
esse quadro foi bastante amenizado em função dos acordos de swaps do Banco
Central Europeu (BCE) e Federal Reserve (Fed), banco central americano, com
outros bancos centrais, bem como pela liberação de dinheiro ao setor financeiro
por meio de empréstimos com condições camaradas.
Um
exemplo dessa descompressão financeira, segundo o gestor, é o CDS de cinco anos
do Banco Santander, que se aproximou dos 500 pontos no ano passado e hoje volta
à linha dos 250 pontos (veja gráfico abaixo).
Não
que os bancos da Europa vão ajudar na recuperação, mas agora eles param de
atrapalhar.
Conforme
discutido neste mesmo espaço, não há consenso sobre esse movimento de melhora.
Para parte do mercado, o momento atual não configura mudança de tendência,
principalmente porque as medidas tomadas pelo BCE e pelo Fed não geram tração
no lado real da economia.
Ampliando
o horizonte de análise, o gestor não acredita em forte crescimento da
atividade. Depois da desalavancagem de bancos, empresas e consumidores, será a
vez dos governos reverem suas contas.
"Os
setores públicos que tomaram risco terão de se desalavancar e esse ajuste
atuará como uma pressão de baixa para atividade", diz o especialista,
apontando que esse processo deve acontecer em 2013.
No
mercado local, o mês começou com firme baixa no preço da moeda americana.
O
dólar comercial encerrou com queda de 0,74%, negociado a R$ 1,734 na venda. Foi
o menor preço desde 31 de outubro, quando o dólar fechou cotado a R$ 1,704. Na
Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), o dólar para março caía 0,73%, a
R$ 1,747, antes do ajuste final.
Os
negócios não só com o dólar, mas com todos os ativos negociados na BM&F
foram interrompidos entre 13h02 e 13h38.
Segundo
a BM&FBovespa "houve um problema no sinal de market data".
Traduzindo, não foi possível operar.
Com
a linha de R$ 1,75 ficando para trás e nenhum sinal do Banco Central (BC), a
expectativa é de que o gatilho para atuação seja a linha de R$ 1,70.
A
previsão é de leilões de compra no mercado à vista, justamente para absorver o
fluxo externo, que não foi nada espetacular na semana encerrada em 27 de
janeiro, mas, segundo operadores, deve continuar forte.
De
acordo com dados do BC, o fluxo cambial em janeiro até o dia 27 foi de US$
6,501 bilhões, sendo US$ 6,291 bilhões na conta financeira e US$ 210 milhões na
conta comercial.
Na
semana compreendida entre 23 e 27, o fluxo foi negativo em US$ 154 milhões,
resultado de saída comercial de US$ 1,362 bilhão e entrada financeira de US$
1,208 bilhão.
Eduardo
Campos é repórter
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Rio+20
discute a criação de uma "OMC ambiental"
Valor Econômico - 02/02
-
Está
crescendo a ideia de se criar uma agência ambiental nas Nações Unidas nos
moldes da Organização Mundial do Comércio, a OMC, ou da Organização Mundial do
Trabalho, a OIT. A proposta de nascimento da World Environment Organization
(WEA) é da União Europeia, vem sendo desenhada pela França e Alemanha, e pode
ser um dos grandes feitos da Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável em junho, no Rio.
Mais
de cem países apoiam o fortalecimento do Pnuma, o Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente (Unep, na sigla em inglês). O Pnuma seria o embrião
natural de uma agência ambiental nova. Vários países sugerem a criação da WEA
ou de órgão similar. O surgimento da agência poderia ser forte chamariz para
atrair grande número de líderes para a Rio+20 e garantir o êxito do evento.
Mas
a criação da Organização Mundial do Meio Ambiente (OMMA, na sigla em português)
tem forte opositores. Os Estados Unidos não querem nem ouvir falar dela.
Historicamente, os EUA costumam não aceitar acordos ou organizações
internacionais que possa interferir em suas próprias decisões internas. E a
resistência americana é um grande obstáculo à ideia. Ironicamente, mas por
razões outras, os EUA estão alinhados nesta oposição com Venezuela, Cuba e
Bolívia. Os latinos temem que uma agência do gênero sirva para encobrir ações
comerciais protecionistas de países ricos.
O
Brasil vê a ideia com reservas, mas não é totalmente contrário. Na ótica do
governo, a proposta fortalece apenas o "pilar ambiental" do desenvolvimento
sustentável. Representantes brasileiros vêm lembrando nos últimos dias que a
Rio+20 é uma conferência de desenvolvimento sustentável com três vertentes -
ambiental, econômica e social. E repetem que ela tem por tema central "a
economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da
pobreza". Favorecer apenas o ambiente "é uma obsessão europeia",
diz uma fonte do governo brasileiro sobre tornar o Pnuma um tipo de "OMC
ambiental".
"A
menos que se fortaleça o ambiente, não haverá desenvolvimento econômico e
social no mundo", rebate o representante de um governo europeu.
O
Pnuma foi criado há 40 anos, tem sede em Nairóbi, no Quênia, e 1.130
funcionários. Seus relatórios são referência ambiental no mundo. No Pnuma, a
valorização de ativos ambientais deixou de ser uma abstração. O
diretor-executivo, Achim Steiner, diz, por exemplo, que uma floresta no Quênia
fornece água para uma dúzia de bacias hidrográficas, umidade para a indústria
do chá e estoca carbono - e que isso representa U$ 1,5 bilhão ao ano para a
economia do país.
Mas
sua força política é restrita. O órgão tem menos de 60 países-membros e vive de
contribuições voluntárias. O orçamento, inferior a US$ 100 milhões anuais, é
bancado principalmente pelo Japão, Reino Unido, países nórdicos e outros
europeus. Mas, quando ministros do meio ambiente se reúnem e decidem, por
exemplo, reduzir a fabricação de determinado produto químico em 10% para tornar
o mundo menos poluente, a decisão tem que ir para a Assembleia Geral da ONU e
pode ser vetada. "Aí vai para o lixo", diz um funcionário da ONU.
"Mas, se ministros da Saúde se reúnem na OMS (a Organização Mundial da
Saúde) e tomam uma decisão, vira lei internacional."
A
reforma institucional defendida pelo Brasil é de estabelecer participação
universal no Pnuma e tornar obrigatória a contribuição dos países. O Brasil
quer ainda mudanças em outra parte da ONU: que o Conselho Econômico e Social
(Ecosoc), órgão no alto do organograma da ONU, mas que nunca decolou, incorpore
o meio ambiente e se torne um Conselho de Desenvolvimento Sustentável.
Mas
os negociadores brasileiros aceitariam a agência ambiental, dependendo de seu
perfil, diz uma fonte. "E se a parte, na ONU, do desenvolvimento
sustentável fosse sólida". Isso significa, na ótica brasileira, que Fundo
Monetário Internacional, Banco Mundial e Organização Mundial do Comércio teriam
que estar neste quebra-cabeças institucional. "Desenvolvimento sustentável
tem que ser paradigma de todos os órgãos da ONU, principalmente dos econômicos",
diz um negociador.
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Novo perfil da ciência :
Devido
a razões históricas, a atividade científica no Brasil se concentrou
principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro. Em 1995, São Paulo contava com
cerca de 40% dos grupos de pesquisa do país, tal como reconhecidos pelo CNPq e
com 47% das publicações científicas brasileiras à época. O Rio de Janeiro
ocupava a segunda posição, contando com 19% dos grupos de pesquisa e
contribuindo com 22% dos artigos publicados. O Globo - 02/02/2012
-
Estes
dados indicavam haver uma grande concentração da atividade científica no
Brasil. Felizmente, iniciativas tomadas ao longo dos últimos 15 anos vêm,
gradativamente, mudando o quadro da distribuição da atividade científica no
Brasil. Entre elas, destacamos: (a) a exigência dos títulos de mestrado e
doutorado para as posições acadêmicas nas universidades e institutos de
pesquisa em todo o país; (b) o estímulo da Capes, do CNPq e de fundações
estaduais de apoio à pesquisa para a criação de cursos de pós-graduação em
todos os estados; (c) o estabelecimento pelo MCT, em 1999, dos fundos setoriais,
com previsão legal de que 30% dos recursos deveriam ser aplicados em
instituições do Norte, do Nordeste e do Centro-Oeste (como consequência, no
período 2000-2010 houve um investimento da ordem de R$ 9 bilhões, sendo que um
terço em instituições das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste), (d) a
decisão do MCT, em 2003, de estabelecer convênios com as FAPs, repassando
recursos desde que com contrapartida financeira; e (e) a criação pelo CNPq e
pela Capes de programas conhecidos como "casadinho" e Procad, em que
cursos de pós-graduação de excelência apoiam os cursos emergentes. Estas
medidas estão levando a uma mudança significativa no quadro da atividade
científica brasileira.
Os
dados de 2010 apontam para a continuidade da liderança de São Paulo, mas agora
com 23% dos grupos de pesquisa e 37,4% dos artigos publicados. O Rio vem em
segundo lugar, com 12% dos grupos de pesquisa e 13,4% dos artigos publicados.
Minas Gerais e Rio Grande do Sul ocupam a terceira e quarta posições, com 9,7%
e 12% dos grupos de pesquisa e 10,6% e 10,5% dos artigos publicados,
respectivamente. Ainda persiste um quadro de concentração, mas, obviamente,
menos dependente de São Paulo e Rio de Janeiro.
Por
outro lado, a análise da série histórica indica uma tendência de maior
distribuição da atividade científica nos estados do Paraná, Ceará, Santa
Catarina, Pernambuco, Bahia e no Distrito Federal. É importante assinalar que a
queda no percentual relativo de publicações em São Paulo (de 46,73% para 37,4%)
e Rio (de 22% para 13,3%) não reflete um decréscimo na atividade científica
desses estados. Todos cresceram significativamente em valores absolutos,
contribuindo para o aumento crescente da produção científica brasileira, que
passou da 23 posição em 2002 para a 13 em 2009.
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Mangue fértil de caranguejos
Quinze
anos após a morte de Chico Science, artistas revelam como a obra musical do
cantor influencia até hoje a cena pernambucana
Discografia
Da
lama ao caos (1994)
Afrociberdelia
(1996) Correio Braziliense - 02/02
-
Era
2 de fevereiro de 1997, prévia do carnaval, e Recife já estava em ritmo de
folia. Por volta das 19h, o cantor e compositor Chico Science, no auge do
sucesso, pegou o seu Fiat Uno branco rumo a Olinda. Mas um acidente fatal mudou o rumo que a
música pernambucana poderia seguir. O carro de Chico chocou-se com um poste na
região do Complexo de Salgadinho.
Na
noite anterior, o cantor esteve com alguns amigos e mostrou as novidades
musicais que ouvira na última viagem à Europa. Foram duas turnês internacionais.
A terceira já estava programada e um produtor japonês flertava com Chico e a
Nação Zumbi.
Em
um dos ônibus que faziam o trajeto Recife-Olinda estava também China, na época,
um adolescente. “Eu tinha uma namorada que vivia em Recife e, obrigatoriamente,
eu passava naquela curva onde o carro bateu. Vi o acidente, mas não sabia que
era o Chico Science. Depois, meu irmão
chegou dizendo que ele tinha morrido. Fiquei espantado. Mas ninguém pensou: ‘Ih
acabou tudo. Recife não vai ter mais nada’. Pelo contrário, a galera tinha uma
vontade de continuar mostrando que Pernambuco é um estado forte culturalmente
falando”, lembra China, ex-vocalista da banda Sheik Tosado, agora cantor em
carreira solo e VJ da MTV. Hoje, ele apresenta, às 23h30, o Especial MTV: Chico
Science — 15 anos depois
Outro
que não consegue esquecer aquele dia é Urêa, percussionista da banda Eddie,
que, com um grupo de amigos, tocava em um bar perto do Mercado da Ribeira, em
Olinda. “Chico passou a frequentar o lugar e assistia às apresentações. Um dia,
chamamos ele para uma participação especial. Ele morreu justamente no dia que
tocaria com a gente. Foi difícil acordar e ir para o velório de um cara que era
meu ídolo. Nunca chorei tanto por uma pessoa que não fosse da minha família”,
revela.
Paulo
André Pires, agente e amigo de Chico Science, foi o primeiro a vê-lo no
hospital. “Ao chegar lá, um policial civil me disse que ele estava morto. Vi
Chico deitado no chão, com o corpo perfeito e uma poça de sangue na altura da
cabeça. Ele morreu com um grande corte na parte direita da nuca. Assumi o
funeral e arrumei tudo. Foi a pior produção da minha vida”, desabafa Paulo,
idealizador e produtor do Abril pro Rock.
Ele
guarda na memória todos os momentos que viveu ao lado de Chico. “Lembro-me dos
shows em Brasília. A cidade tem uma cena musical atuante e recebeu a gente
muito bem. Curitiba, Brasília, Fortaleza e Porto Alegre eram as melhores
cidades para Chico e a Nação. Fora o eixo Rio-São Paulo, esses foram os lugares
onde eles mais estiveram na época”, conta Paulo, que é dono de um vasto acervo
sobre Chico Science e planeja escrever um livro. A ideia não é nova, mas custa
a sair do papel. “São muitas fotos, muito material, preciso me organizar.”
Ícone
de gerações
A
comoção da morte deu lugar à admiração.
Chico Science virou ícone da cultura pernambucana e inspirou uma nova
geração de artistas locais. “A primeira vez que vi um show do Chico Science e
Nação Zumbi foi em 1996, no festival Abril pro Rock. Para mim, foi muito
impactante, porque foi dali que resolvi ser músico. Vi um cara que morava em um
bairro vizinho ao meu, que falava as mesmas gírias que eu, lá no palco. Pensei:
‘Pô, se o cara do bairro vizinho pode, eu também posso’. E muita gente que
estava naquele show se encorajou também. Muitos se tornaram músicos, artistas
plásticos”, conta China.
“Chico
inaugurou o discurso colaborativo, de respeito e admiração mútua. Falava de uma
cena da qual fazia parte, projetando o estado para o resto do Brasil e depois
internacionalmente”, aponta Siba, que conheceu Chico no começo dos anos 1990,
quando ele e a Nação Zumbi comemoravam o contrato com uma gravadora
multinacional. Ao lado de Mestre Salustiano, Siba foi um dos responsáveis pelo
resgate do coco, do cavalo-marinho, do maracatu e de outros elementos da
cultura popular pernambucana.
O
cantor e compositor Lula Queiroga coloca Chico como “uma parabólica apontada
para o mundo” por sua capacidade inventiva e questiona quem nos dias de hoje
teria a mesma atitude. “Para mim, ele foi um grande inventor, por fazer algo
novo a partir da matéria-prima que ele tinha: o próprio som. Ele era uma pessoa
muito expressiva e, no palco, tinha uma das maiores performances que já vi, com
aquele jeito de cantar meio pausado”, analisa.
Caranguejos
com cérebro
Cansados
da inexpressiva produção artística pernambucana, os músicos Fred 04 e Renato
publicaram o manifesto Caranguejos com cérebro, ponto de partida para a criação
do Manguebeat. O movimento musical, criado no início da década de 1990, uniu o
rock brasileiro e influências estrangeiras a gêneros tradicionais da música de
Pernambuco (maracatu, caboclinho, coco e ciranda). Chico Science & Nação
Zumbi e Mundo Livre S/A são apontados como os principais nomes dessa
articulação musical.
Os
herdeiros de Chico
“Chico
Science foi uma influência muito forte. A partir dele, as pessoas passaram a
acreditar que era possível viver de música. Ele foi muito importante, um grande
exemplo por toda a sua liderança e postura no palco. Recife e Olinda cresceram
a partir dele, não só na música, mas também no turismo, na economia”
Isaar,
cantora
“Foi
algo incrível um cara usar o tambor de maracatu na música pop. Antes dele, só
tínhamos como referência Alceu Valença. Imagina um moleque de 15, 16 anos a fim
de ouvir rock e pinta Alceu com Morena tropicana? Não colava. Queríamos outra
coisa, algo mais urgente, que dialogasse com a realidade que a gente vivia. E
Chico Science conseguiu fazer isso também”
China,
cantor
“Chico
Science foi a nossa última revolução musical, aqui em Recife. Ele é idolatrado
como o Bob Marley é na Jamaica, sabe? Existia uma atmosfera, um jeito de tocar
e cantar típico de Pernambuco. Ele, como bom pernambucano, teve a genial ideia
de misturar funk, soul, jazz e rock com ritmos originalmente africanos. Chico
deixou um legado muito vasto”
José
Demóstenes, vocalista do grupo Pouca Chinfra
“Antes,
a gente escutava muito som gringo. A partir de Chico Science, conhecemos mais a
cultura pernambucana, a história da cultura negra e africana. A identidade
brasileira não era tão forte nem exposta a nível mundial. A primeira vez que o
vi pessoalmente, fiquei encantado com aquela musicalidade”
Urêa,
percussionista da banda Eddie
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TEATRO » O
maravilhoso mundo do Moitará
Criado
há 23 anos, grupo desenvolve pesquisa inspirada na commedia dell%u2019arte a
partir de tipos brasileiros Correio Braziliense - 02/02
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As
máscaras compõem os tipos dos personagens inspirados na cultura popular
brasileira. Apenas Caetana, a morte, está desmascarada
Zé
di Riba faz de tudo para evitar um trabalho pesado. Não pega na enxada de jeito
nenhum. Mas é elegante. A malandragem, ele explica com arte. Criado por Venício
Fonseca, o personagem é uma mistura de vários tipos. O dramaturgo e diretor
enxerga em Zé uma espécie de João Grilo mesclado com Macunaíma, algo que
poderia lembrar a esperteza de Arlequim, personagem da commedia dell’arte. A
ideia perpassa Acorda Zé, a comadre tá de pé!, que o Grupo Moitará estreia,
hoje, na Caixa Cultural. Com densa e consistente pesquisa na linguagem das
máscaras, o coletivo teatral coloca no palco uma versão brasileira da tradição
italiana de cobrir rostos de atores e investir em personagens típicos e
presentes em dezenas de histórias.
Zé
é um malandro que precisa dar conta das próprias trapalhadas diante da mulher.
Para complicar a vida da figura, é noite de eclipse e isso traz mau agouro.
Além disso, Maria, a esposa, está grávida. E no Nordeste, pra quem não sabe,
eclipse e mulher grávida dão uma combinação danada de agourenta. Zé é também um
dos 15 personagens desenvolvidos pelo Moitará com base nos tipos criados pelos
italianos da commedia dell’arte. São arquétipos encontrados em qualquer
sociedade.
O
Arlequim, conhecido como contador de histórias e sempre prestes a se safar das
dificuldades, seria o brasileiro Zé, um contador de causos nato. Além de Maria,
estão presentes na história o Rei, o Conselheiro deste e Caetana, nome dado à
morte na cultura nordestina. Com exceção dessa última, todos sobem ao palco com
os rostos mascarados. “É uma história muito genuinamente brasileira”, avisa
Fonseca, fundador do grupo e apaixonado pela técnica milenar. “A máscara é
diferente de um quadro, não vibra sozinha, o ator precisa dar vida a ela,
precisa encontrar seu próprio corpo e seu próprio espírito. Quando isso
acontece, o ator representa uma natureza fora do convencional. Sua fala é uma
música, seu movimento uma dança. Essa simbiose é muito concreta na linguagem da
máscara. Nos tornamos garimpeiros de nós mesmos.”
Morte
sem máscaras
O
trabalho com os personagens é tão intenso e profundo que eles se tornam prontos
para passear por várias histórias. Graças à consistência da pesquisa, o
arcabouço que forma o caráter de cada um é sólido e se sustenta em diferentes
roteiros. Zé di Riba pode estar em várias peças, assim como seus companheiros.
Todas as máscaras são fabricadas pelo Moitará, mas nem todos os personagens
estão mascarados. No espetáculo de hoje, a morte aparece sem o aparato, com a
cara pintada de branco. “A máscara nem sempre é só um objeto. O que ela
propicia ao ator é encontrar uma qualidade de energia, uma forma de ser”, diz o
diretor.
No
mesmo formato, a companhia conta com outros cinco espetáculos, todos montados
com tipos inspirados na cultura popular brasileira, especialmente naquela vinda
do Norte e do Nordeste. No palco, os personagens são acompanhados pelos
brincantes, um grupo de atores responsáveis pela música e cantos da peça. E aí
vale tudo que é muito brasileiro: rabeca, triângulo, pandeiro e sanfona. São 23
anos de pesquisa para chegar ao resultado sofisticado de uma commedia dell’arte
à brasileira. Para contar como tudo acontece, o grupo realiza oficinas por onde
passa. Na Caixa, as 60 vagas foram ocupadas rapidamente. Fonseca pretende
demonstrar o que seus atores fazem no palco diariamente: após um trabalho de
ação física e vocal, as máscaras são capazes de dar vida ao personagem e tornar
o ator um artífice do fazer artístico.
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PATRIMÔNIO CULTURAL »
Cine
Brasília ainda sem reforma
Resultado
da licitação está previsto para o dia 15 de fevereiro Correio Braziliense - 02/02
-
Ano
passado, a previsão da Secretaria de Cultura do Distrito Federal era de que o
Cine Brasília estaria fechado após a realização do Festival de Brasília do
Cinema Brasileiro para que fosse iniciada a segunda etapa da reforma do espaço.
Tornada pública em vinheta do GDF, que antecedia às exibições dos filmes do
festival, a promessa não saiu da criação publicitária. Mesmo com os problemas
estruturais, o público tem aproveitado uma das raras ocasiões em que o cinema
apresenta programação atraente e gratuita com a realização da mostra CCBB em
Cartaz, com retrospectiva do cineasta norueguês Lars von Trier, que segue até 5
de fevereiro.
A
reforma do Cine Brasília depende da publicação do resultado de uma licitação
que deverá ser feita em 15 de fevereiro. “É difícil dizer precisamente uma data
para o início das obras. O resultado da licitação será publicado neste dia.
Pode haver julgamento dos recursos e pode não haver. É provável que após a
mostra do Lars von Trier, o cinema ficará fechado”, explica José Delvinei,
subsecretário do Patrimônio Histórico e Artístico do Distrito Federal.
Mesmo
com o atraso, a nova previsão da Secretaria de Cultura é que o cinema esteja
pronto com um mês de antecedência da realização do Festival de Brasília do
Cinema Brasileiro, que será em setembro. “Essa etapa da obra deverá levar seis
meses para ser concluída. Portanto, a previsão é que termine em agosto”,
calcula Delvinei. Até a realização da 45ª edição do Festival, a expectativa é
que sejam trocadas as instalações elétricas, hidráulicas e feita a substituição
do aparelho de ar-condicionado. Além disso, a atual bilheteria, formada por
apenas um guichê, deverá ser ampliada para três, os aparelhos de projeção devem
ser substituídos e uma rampa de acesso de cadeirantes à sala de projeção será
construída. No total, deverão ser gastos R$ 3,5 milhões só nessa etapa. A troca
das poltronas da sala que deverá alcançar o custo de R$ 1,2 milhão ainda não
foi licitada.
A
ampliação do Cine Brasília com a construção de prédio anexo ao cinema, um
projeto feito pelo arquiteto Oscar Niemeyer em 1991, prevê a instalação de uma
galeria comercial. Porém, o projeto de construção do espaço só deverá ser
incluído no orçamento do ano que vem. “Nós entramos em contato com a Secretaria
de Habitação para que seja feito o loteamento do espaço. Mas, é provável que a
construção do anexo só entre no orçamento de 2013”, afirmou Delvinei.
Teatro
Nacional
A
reforma da fachada do Teatro Nacional iniciada em 2007 com a substituição dos
cubos projetados por Athos Bulcão até hoje não foi concluída. Os recursos
estavam bloqueados pela Justiça por conta do envolvimento da empresa Danluz no
escândalo político da Caixa de Pandora, ainda no governo Arruda. “Nós estamos
licitando a impermeabilização dos cubos, teremos de fazer ajustes, mas isso
ainda não está no bojo da obra que está por vir”, anunciou Delvinei.
O
subsecretário se refere a uma reforma completa do Teatro Nacional, incluindo as
próprias dependências da Secretaria de Cultura que funciona no mesmo prédio e
que deverá custar R$ 80 milhões. “Não é apenas a reforma da Martins Pena e da Villa-Lobos.
São os 45 mil metros quadrados do edifício todo, são 17 espaços incluindos os
foyers e as galerias. O Iphan está com a gente para conseguir esses recursos e
tentar começar esta obra ainda este ano”. Mesmo sem a garantia dos recursos,
segundo o subsecretário, as pautas de uso do espaço deverão ser marcadas apenas
entre os meses de fevereiro e julho.
>>>
O
poder das parcerias público-privadas na educação
Correio Braziliense - 02/02
-
Quando
se fala em parcerias entre governo e setor privado na educação, os ideólogos de
plantão logo saem aguerridamente contra o que consideram proposta tipicamente
neoliberal de privatização da escola pública. Para eles parceria se resume a
uma terceirização da gestão de escolas, característica da experiência americana
com as escolas charter, de efetividade ainda nebulosa.
Fato
é que as parcerias público-privadas (PPP) no Brasil vêm assumindo múltiplas e
criativas formas. Temos, por exemplo, a oferta de vouchers para que os melhores
alunos de escolas públicas tenham acesso a escolas particulares de alta
qualidade, como no caso do programa Smart, desenvolvido pela Fundação Educar.
Outra modalidade é o da criação de escolas modelo, como nas experiências da
Embraer, em São José dos Campos, e da Oi, com o Nave, no Rio de Janeiro.
Outra
possibilidade de PPP na educação seria a de uma organização da sociedade civil
funcionar como laboratório para a concepção e validação de tecnologias sociais,
ou seja, de novas estratégias, capazes de contribuir para que qualquer escola
pública melhorasse seus resultados e, uma vez comprovada a efetividade da
proposta, transferi-la para os sistemas públicos. Isso viria atender a demanda
das redes que, como têm a responsabilidade com a universalização de suas
propostas, acabam encontrando sérias dificuldades na testagem de novos métodos.
Um
exemplo desse modelo é a proposta, desenvolvida pelo Instituto Unibanco,
conhecida como Jovem de Futuro. Trata-se de tecnologia de ação
multidimensional, em que a escola pública de ensino médio que adere ao programa
(querer é fundamental) recebe o apoio técnico para desenvolver uma gestão
escolar para resultados (saber também é básico) e o apoio financeiro, direto na
escola (poder econômico), para que, com autonomia e responsabilidade, possa realizar,
em três anos (tempo de duração do ensino médio), uma grande virada,
possibilitando que os alunos permaneçam e concluam a educação básica com bom
desempenho.
A
proposta foi testada, entre 2008 e 2010, em 42 escolas públicas de ensino médio
do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais. Seu impacto foi aferido por processo
externo de avaliação que utilizava os mais estritos cânones do método
experimental e... bingo! Os resultados foram impressionantes. As escolas do
grupo de intervenção cresceram cerca de duas vezes mais do que as do grupo de
controle.
Frente
a esse resultado, a proposta foi oferecida a todos os estados, sendo
prontamente aceita por seis deles (Pará, Ceará, Goiás, Mato Grosso do Sul,
Minas Gerais e São Paulo). O Ministério da Educação (o programa já constava do
Guia de Tecnologias do MEC) assumiu papel fundamental na parceria, associando
ao Jovem de Futuro seu importante programa Ensino Médio Inovador, que já
previa, entre outras estratégias, o repasse de recurso direto às escolas. A
avaliação de impacto foi assumida pela Secretaria de Assuntos Estratégicos,
formando-se, assim, fantástica parceria público-privada em prol da melhoria do
ensino médio público no Brasil.
Os
estados passam a ser os responsáveis diretos pela implantação do Ensino Médio
Inovador — Jovem de Futuro em suas redes, com o apoio técnico e financeiro dos
demais parceiros. O compromisso desses estados é, em cinco anos, diminuir pela
metade a distância que os separa do Ideb considerado ideal (6). Em outras
palavras, esses estados almejam, quer pela universalização do projeto no
conjunto de suas escolas de ensino médio (PA, CE, GO, MS), quer pela
focalização em escolas de mais baixo Ideb, aumentar substantivamente o valor
desse índice no ensino médio. Um estado que, por exemplo, apresentar Ideb de
3,2 em 2011, compromete-se a alcançar o Ideb de 4,6 em 2016.
Com
essa proposta de universalização ou focalização nesses seis estados, o Ensino
Médio Inovador — Jovem de Futuro vai beneficiar, por meio dessa PPP, um total
de 4.125 escolas e 2,8 milhões de jovens, aproximadamente 40% do total de
alunos matriculados em escolas públicas de ensino médio de todo o país.
Trata-se
de uma PPP que tem, como premissa, a fé inabalável na força transformadora da
escola pública brasileira. A crença de que qualquer escola pública deste país é
capaz de dar a volta por cima quando dispõe de apoio técnico-financeiro e de
incentivos adequados.
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Morre aos 88 a poeta e Nobel de Literatura Wislawa
Szymborska
A
escritora, premiada em 1996, sofria de um câncer de pulmão FOLHA SP 02/02
-
A
poeta polonesa Wislawa Szymborska, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura de
1996, morreu ontem, aos 88 anos, em Cracóvia.
Szymborska
(pronuncia-se Chembórska), conhecida por ser fumante inveterada, tinha câncer
de pulmão e morreu em casa, de acordo com seu assistente pessoal, Michal
Rusinek.
Em
sua premiação, o comitê do Nobel a qualificou como o "Mozart da
poesia", destacando a elegância de sua linguagem. Szymborska também foi
agraciada com o prêmio Goethe, em 1991, e o Herder, em 1995.
A
escritora teve sua primeira compilação lançada em português no ano passado pela
Companhia das Letras, com o título "Poemas".
Também
em 2011, o presidente polonês Bronislaw Komorowski concedeu a Szymborska a
maior distinção do país, o prêmio "Order Orła
Białego" ("Águia Branca"), por sua contribuição à
cultura nacional.
Em
reação à sua morte, o presidente escreveu que ela "inspirou os poloneses
por décadas com seu otimismo e com o poder da beleza e a força de sua
palavra".
O
primeiro-ministro Radek Sikorski afirmou em seu Twitter que a morte da poeta
foi "uma perda irreparável para a cultura polonesa".
Seus
escritos são vistos como uma forte crítica às utopias e tragédias do século 20.
Entre
os admiradores de Szymborska, estão o cineasta Woody Allen e o escritor Umberto
Eco, que já declarou que ela escrevia "de forma descomplicada sobre as
coisas mais importantes".
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PASQUALE
CIPRO NETO. Notícias de Portugal
É,
caro Coutinho, navegar é preciso, naufragar não é preciso, mas parece que a
tripulação da nau lusófona... FOLHA SP 02/02
-
Na
semana passada, em Lisboa, constatei, mais uma vez, que a maior parte dos
portugueses ainda dá de ombros para o "(Des)Acordo Ortográfico". Como
se sabe, entre nós 2012 é o último ano de "acomodação", ou seja, do
período em que valem as duas grafias, a "velha" e a "nova"
(o decreto 6.583, de 29.set.2008, deixa claro isso).
A
observação que fiz no fim do parágrafo anterior se deve ao fato de que parte da
nossa imprensa afirma, erroneamente, que a transição já acabou. Não acabou. Até
o último segundo do ano em curso, pode-se escrever "tranqüilo" ou
"tranquilo", "auto-regulamentação" ou
"autorregulamentação", "pára" (forma verbal) ou a
inacreditável "para".
Lá
vai o que diz o texto legal: " A implementação do Acordo obedecerá ao
período de transição de 1º de janeiro de 2009 a 31 de dezembro de 2012, durante
o qual coexistirão a norma ortográfica atualmente em vigor e a nova norma
estabelecida".
Mas
voltemos a Portugal. Como bem disse nosso companheiro João Pereira Coutinho
("Naufragar É Preciso?", Ilustrada, 10.jan.2012), a barafunda
ortográfica parece imperar na terra de Camões e Pessoa.
Peço
licença a Coutinho para transcrever este trecho de seu artigo: "Em
Portugal é outra história. E não deixa de ser hilariante a quantidade de
articulistas que, no final dos seus textos, fazem uma declaração de princípios:
'Por decisão do autor, o texto está escrito de acordo com a antiga ortografia'.
A esquizofrenia é total, e os jornais são hoje mantas de retalhos. Há notícias,
entrevistas ou reportagens escritas de acordo com as novas regras. As crônicas
e os textos de opinião, na sua maioria, seguem as regras antigas. E depois
existem zonas cinzentas, onde já ninguém sabe como escrever e mistura tudo: a
nova ortografia com a velha e até, em certos casos, uma ortografia
imaginária".
Como
exemplo do que diz Coutinho, cito o site da revista semanal portuguesa
"Visão", em que há uma seção chamada "Actualidades" (note o
"c"). O detalhe é que, no corpo da seção, a revista usa a grafia
"nova", ou seja, escreve "atual", "atualidades"
etc. A também lusitana "Sábado" parece ignorar por completo o
"(Des)Acordo Ortográfico". Nas ruas de Lisboa e do Porto, nada de
nada de nenhum sinal da "adopção" das normas do
"(Des)Acordo". Anúncios publicitários, cartazes, panfletos, placas
públicas etc. ignoram a lambança. O que vale mesmo é a velha grafia lusitana.
Enquanto
isso, na TV, num boletim de dois ou três minutos, que conta com o apoio da
importante Porto Editora, uma repórter vai às ruas e pergunta ao povo como se
escrevem determinadas palavras. Num dos boletins, perguntava-se se
"massagem" se escreve "com 'jota' ou com 'guê'". Sim, com
"guê" (e não com "gê"), como diz a antológica canção
"ABC do Sertão" (Luís Gonzaga e Zé Dantas). Sim, caro leitor, em
algumas regiões do Brasil e em Portugal, o "g" pode ser
"gê" ou "guê".
Ao
dar a resposta, a repórter afirmou que "massagem" se escreve com
"guê", mas... Mas disse que "massajem" (com "j")
é do verbo "massajar". Lambança! A pergunta foi feita sem
contextualização da palavra, portanto não faz sentido dar como correta a forma
"massagem", se existem as duas... Bem, as duas existem em Portugal.
No Brasil, os dicionários e o "Vocabulário Ortográfico" não registram
"massajar" (registram o que se usa entre nós, ou seja,
"massagear"; os dicionários portugueses registram as duas).
É,
caro Coutinho, navegar é preciso, naufragar não é preciso. Só falta os
passageiros e os tripulantes da nau lusófona saberem disso. É isso.
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Coleção mostra diversidade do povo brasileiro
Terceiro
livro, que chega às bancas domingo, reúne importantes fotos antigas do país FOLHA SP 02/02
-
Segundo
o antropólogo Darcy Ribeiro (1922-1997), o fato de que os brasileiros se sentem
parte de um só povo não significa que haja entre nós uma uniformidade. Para
ele, o brasileiro "puro" é mestiço e, como "povo", ainda
está em construção.
É
essa diversidade, portanto, que está retratada no terceiro livro da Coleção
Folha Fotos Antigas do Brasil, "O Povo Brasileiro", que chega às
bancas no domingo, 5/2.
Com
fotografias tiradas entre a segunda metade do século 19 e meados do século 20,
o volume é dividido em duas partes.
A
primeira, "O Registro do Corpo Social", reúne imagens de índios,
imigrantes, escravos e famílias tradicionais feitas por pioneiros da fotografia
como Marc Ferrez (1843-1923), Militão Augusto de Azevedo (1837-1905) e Vincenzo
Pastore (1865-1918).
A
segunda parte, "A Captura do Gesto", se centra nas expressões e na
espontaneidade de brasileiros retratados em diversas situações, desde festas
até bares e mercados.
Estão
reunidas ali diversas fotos nascidas do olhar antropológico de Pierre Verger
(1902-1996), além de outras de Marcel Gautherot (1910-1996) e Hildegard
Rosenthal (1913-1990).
A
Coleção Folha Fotos Antigas do Brasil, dedicada a apresentar algumas das
fotografias mais importantes feitas no país entre 1840 e 1960, traz 20 volumes
organizados de forma temática.
A
série, que procura mostrar grandes acontecimentos e cenas do cotidiano, é um
registro ilustrado da história do país -uma história da sociedade, do
cotidiano, da economia e da política contada por intermédio da fotografia.
As
cenas foram captadas com maestria pelas lentes de fotógrafos renomados e
anônimos que entraram para a história como testemunhas oculares e protagonistas
da consolidação da fotografia como arte no Brasil.
As
cerca de 900 imagens que compõem a coleção fazem parte dos principais acervos
do país, como o Instituto Moreira Salles (apoiador da coleção), o Arquivo
Público do Estado de São Paulo, a Fundação Pierre Verger e o Museu Paulista da
USP.
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NOROESTE »
Agora, índios terão que deixar o bairro
Acordo
entre duas etnias que ocupavam área no novo setor e a Terracap consta do Diário
de Justiça do Distrito Federal. Decisão, no entanto, não define prazo para a
mudança FOLHA SP 02/02
-
Indígenas
bloqueiam caminhão de construtora, em novembro: conflito
Os
integrantes de duas das três etnias indígenas que ocupam parte do Setor
Noroeste terão de deixar o local. A ordem de retirada foi oficializada por
decisão judicial publicada na segunda-feira. A determinação do Tribunal
Regional Federal da 1ª Região (TRF-1)
foi assinada pela desembargadora Selene Maria de Almeida em 16 de dezembro, mas
a publicação no Diário de Justiça do DF ocorreu somente no último dia 30. O
acordo, firmado em 18 de outubro entre as famílias Kariri-Xocó e Tuxá e a
Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap), determina a transferência dos
grupos para a Área de Relevante Interesse Ecológico (Arie) Cruls.
A
Terracap vai doar à União o terreno em que eles deverão se instalar. Conforme o
trato feito em outubro passado, a região terá 12 hectares e será repassada à
Fundação Nacional do Índio (Funai), responsável por demarcar e constituir a
reserva. A Terracap, no entanto, ficou encarregada de providenciar a
infraestrutura necessária para a moradia das famílias.
A
decisão judicial, porém, não definiu prazo para a mudança dos ocupantes. O
documento apenas nega a proposta feita pela defesa dos indígenas, que pretendia
estipular uma indenização de mais de R$ 21 milhões em caso de descumprimento do
acordo. A desembargadora ressaltou que o valor indenizatório foi negado por
“absoluta ausência de previsão nos termos do acordo firmado” e que apenas os 12
itens do documento original deveriam ser cumpridos.
O
acordo, no entanto, não inclui as três famílias da etnia Fulni-ô Tapuya, que
continuam a brigar pela terra. Segundo a defesa das construtoras afetadas, 13
processos judiciais contra as empresas e a Terracap ainda correm na Justiça. “O
acordo não resolveu o processo. Estamos entrando com ações para retomar as
obras de cada um dos edifícios, e esperamos as decisões”, ressaltou o advogado
das companhias, Nader Franco.
Diante
da falta de consenso, a área destinada ao Setor Noroeste virou palco de
confusões no ano passado. As brigas judiciais se agravaram em outubro e
novembro, quando manifestantes passaram a interferir na demarcação dos terrenos
e nas construções que avançavam no espaço do santuário (leia Memória).
Por
enquanto, os indígenas da etnia Fulni-ô Tapuya têm direito a quatro hectares da
terra, até que o litígio seja concluído. Os manifestantes questionaram a
delimitação da área, afirmando que os índios teriam direito a 51 hectares,
dimensão que já foi derrubada em recurso na Justiça e negada pela Fundação
Nacional do Índio (Funai).
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