terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
Entidades querem fim de foro privilegiado
Representantes
de juízes e procuradores defendem que autoridades sejam processadas em primeira
instância. Reportagem da Folha revela que
omissões arrastam por anos decisão de processos contra políticos FOLHA SP 27.02.12
-
A
corregedora do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), Eliana Calmon, e as
principais entidades representativas de juízes e procuradores da República
defenderam ontem a extinção do foro privilegiado no país.
A
Folha mostrou ontem, no caderno "A Engrenagem da Impunidade", que
falhas e omissões atrasam os processos contra políticos.
A
reportagem analisou 258 processos e inquéritos sobre 166 políticos. A íntegra
dos casos passou a ser divulgada pelo projeto "Folha Transparência".
Os primeiros 21 casos já estão no ar.
Segundo
a legislação, parlamentares federais, ministros e outras autoridades só podem
ser processados e julgados no STF (Supremo Tribunal Federal) em matéria criminal.
Os governadores são julgados no STJ (Superior Tribunal de Justiça).
A
mudança, pela qual todas as autoridades passariam a ser processados na primeira
instância do Judiciário, só poderia ser feita com uma emenda à Constituição.
"O
foro é próprio de 'república das bananas', para deixar a salvo as pessoas que
querem ficar à margem da lei", disse ontem Calmon.
O
ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) disse que a impunidade incentiva a
criminalidade. Segundo o presidente da AMB (Associação dos Magistrados
Brasileiros), Nelson Calandra, o foro "é, para muitos casos, sinônimo de
impunidade".
Para
Gabriel Wedy, presidente da Ajufe (Associação dos Juízes Federais), há também
"razão filosófica" para a extinção do foro. "Não é crível que o
cidadão comum seja julgado por um juiz e o político seja julgado por
outro."
O
presidente da ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República),
Alexandre Camanho, disse que "Se os casos fossem para a primeira
instância, creio que haveria um efeito didático, porque começariam a haver
condenações."
O
presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Ophir Cavalcanti, disse que
"o foro é um escudo para proteger os políticos".
Para Claudio Weber Abramo, diretor-executivo da
Transparência Brasil, o Ministério Público se tornou "um órgão
opaco". "Percebemos que as investigações muitas vezes não vão para
frente por falta de vontade."
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Estudo de professora do IPOL ganha prêmio
internacional
Associação
de estudos latino-americanos escolheu livro de Marisa von Bülow entre trabalhos
publicados de 2008 a 2011 em quatro línguas diferentes UnB.br 27/02
-
A
professora Marisa von Bülow, do Instituto de Ciência Política da Universidade
de Brasília, conquistou o prêmio Luciano Tomassini de 2012 com o livro Building
Transnational Networks: Civil Society and the Politics of Trade in the
Américas. A láurea foi oferecida pela Associação de Estudos Latino-Americanos
(Lasa, sigla em inglês) pela primeira vez este ano e avaliou trabalhos
produzidos de 2008 a 2011. A Lasa é uma das mais importantes de estudos
latino-americanos e conta com 7 mil pesquisadores de todas as disciplinas sobre
América Latina e Caribe.
O
prêmio de US$ 1 mil será entregue em cerimônia do XXX Congresso Internacional
da Associação, em maio, na cidade de São Francisco. Fruto da tese de doutorado
em Ciência Política concluída na Universidade Johns Hopkins, nos Estados
Unidos, o livro de Marisa von Bülow conta a história de como organizações da
sociedade civil reuniram-se para contestar negociações de livre comércio nas
Américas.
Com
base em pesquisas realizadas no Brasil, Chile, México, Estados Unidos e Canadá,
a professora fez uma análise da criação de redes da sociedade civil organizada
e engajada na discussão sobre os impactos de acordos comerciais ao longo de 15
anos. O estudo engloba desde o Acordo de Livre Comércio na América do Norte
(Nafta) até as negociações para a criação da Área de Livre Comércio das
Américas (Alca). Marisa von Bülow analisou movimentos sindicais, de
trabalhadores rurais e organismos de defesa de direitos humanos e do consumidor
críticos aos acordos de livro comércio.
INTERNACIONALIZAÇÃO
– Em quatro anos de pesquisa de campo e mais de 200 entrevistas em vários
países, a professora concluiu que as relações entre as organizações estão cada
vez mais densas e heterogêneas mostrando uma integração da América Latina que
favorece políticas públicas. “Não é que esteja sendo criada uma sociedade civil
global, mas há um processo de internacionalização cada vez maior de
organizações que mantêm suas raízes domésticas e que colaboram com organizações
de outros países”, explica Marisa. “O comércio virou um tema transversal, toda
a sociedade passou a se interessar”.
Para
Marisa, a sociedade civil passou a ter consciência do impacto do livre comércio
no cotidiano. “As pessoas fizeram um vínculo muito claro entre o global e o
local”, afirma. “É cada vez mais difícil ver uma organização da sociedade civil
ser eficiente olhando só para dentro do seu país”.
Como
os acordos entre os países incluem questões além das tarifas, como propriedade
intelectual e meio ambiente, as organizações que criticam os acordos
ressaltaram as limitações que eles podem impor à capacidade do governo em implementar
políticas públicas, como, por exemplo, no caso de possíveis restrições ao
acesso de medicamentos por causa de lei de patentes.
EDIÇÃO
BRASILEIRA – O livro em inglês foi publicado pela editora da Universidade de
Cambridge. No Brasil, a Fundação Editora Universidade Estadual Paulista (Unesp)
publicará a versão em português, que traduzida ao pé da letra, chama-se
Construindo redes transnacionais: Sociedade Civil e a Política de Comércio nas
Américas. “É importante porque haverá mais acesso do público brasileiro à
pesquisa”, diz Marisa.
A
notícia da publicação no Brasil chegou praticamente junto com o prêmio, motivo
de grande orgulho para a pesquisadora. “Me senti honrada. É o reconhecimento de
um trabalho feito ao longo de muitos anos”, diz.
A diretora do Instituto de Ciência Política,
Marilde Loiola, classificou o prêmio da Lasa como uma “grande honraria
acadêmica”. “Certamente é uma das associações internacionais mais importantes”,
declara. “Esse prêmio tem uma enorme importância para a Academia e para o
Instituto de Ciência Política, porque demonstra que nossos professores estão na
ponta do conhecimento”, comenta. “Não é surpresa que Marisa tenha ganho,
porque, de fato, é só a premiação de uma trajetória acadêmica feita com muito
brilhantismo”, elogia.
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CINEMA » ...
E foram modernos para sempre
Livro
do pesquisador Michel Marie analisa os fatores que fizeram a nouvelle vague
entrar para a história, sem um grupo coeso nem regras formalizadas CORREIO 28/02
-
Jean-Paul
Belmondo e Jean Seberg em cena de Acossado, de Jean-Luc Godard: o filme é
considerado o "manifesto" do movimento francês
O
impacto da nouvelle vague na história do cinema pode ser comparado ao efeito do
asteroide que dizimou os dinossauros da superfície terrestre e permitiu o surgimento
de novas espécies no planeta. A nouvelle vague e Godard, livro do ensaísta
Michel Marie, destina-se a investigar e derrubar alguns mitos criados em torno
de cineastas/autores que nunca se organizaram como um grupo coeso. “Só vejo um
ponto em comum entre os jovens cineastas: todos eles jogam, de modo bem
sistemático, nos caça-níqueis, ao contrário dos velhos diretores, que preferem
as cartas e o uísque”, ironizou Jean-Luc Godard sobre a ausência de unidade
entre os realizadores nouvelle vagueanos.
A
nouvelle vague nunca formalizou as regras do jogo — como aconteceu, por
exemplo, com o manifesto Dogma 95, dos cineastas dinamarqueses. “Godard, Rohmer
e Rivette vieram de uma escola crítica, a dos Cahiers du Cinéma, que defendia
valores estéticos novos, opostos ao cinema tradicional”, justificou Michel
Marie em entrevista ao Correio. “É isso que chamo em meu livro de uma escola
artística fundada em uma estética e um modo de produção. Os meios foram aqueles
de novos produtores, com pequenos orçamentos, ausência de estrelas a altos
cachês. Como esses novos cineastas foram, em princípio, críticos e jornalistas
célebres, eles souberam notavelmente promover seu movimento, graças ao rádio e
à imprensa (escrita).”
As
origens do movimento são bem conhecidas. O termo foi usado como slogan na
revista L’Express para batizar uma nova geração de profissionais franceses em
todas as áreas. Entre eles, cineastas. A nouvelle vague (no cinema) se fixou
como fenômeno midiático impulsionado pela premiação de Os incompreendidos por
melhor direção — para François Truffaut — no Festival de Cannes em 1959. O
livro de Marie, só agora publicado no Brasil, não se destina a narrar uma
história amplamente conhecida, mas dissecar os fatores que permitiram que o
movimento entrasse para a história (com H maiúsculo).
Na
falta de uma sistematização, Acossado (1960), dirigido por Godard e roteirizado
por Truffaut, foi transformado numa espécie de manifesto do movimento (leia
entrevista ao lado) pelas mesmas razões que fazem de Breathless (o título que
recebeu em inglês) um filme tão moderno estilisticamente hoje quanto na época
do lançamento. Michel Marie foi minucioso na revisão de Acossado. Dedicou a
segunda parte do livro apenas a esse longa e examinou até mesmo a duração de
suas sequências.
Jovens
turcos
Os
“jovens turcos”, como eram chamados os novos críticos que dominaram as páginas
da revista Cahiers du Cinéma, na época comandada por André Bazin, transformaram
o neoformalismo de análises críticas numa espécie de questão moral e, por fim,
política. Ao transferirem o potencial criativo das páginas impressas para os
celuloides, eles dirigiram filmes polêmicos e pouco convencionais, criados em
clara oposição à velha escola de cinema francesa (o artigo incendiário de
Truffaut, “Uma certa tendência do cinema francês”, é exemplar).
“Os cineastas da nouvelle vague se opunham, de
saída, ao cinema engajado e militante. Eles queriam se exprimir em primeira
pessoa. Mas descobriram rapidamente o engajamento político. Essa evolução é bem
visível na carreira de Godard, por exemplo, entre O pequeno soldado, que filma
um personagem de extrema direita, mas desertor do Exército, e A chinesa, sobre
os estudantes maoístas”, discorre o ensaísta, que já lecionou na Universidade
de Campinas (Unicamp) e atualmente é professor na Universidade Paris III —
Sourbonne Nouvelle, na França.
A
nouvelle vague e Godard De Michel Marie. Editora Papirus, 272 páginas. Preço:
R$ 56.
Trechos
“Nesses
slogans, há uma grande parcela de provocação, que o crítico utiliza com brio
inegável. Muitos cineastas reconhecidos nunca perdoarão por esse discurso
iconoclasta. Propositalmente, Truffaut subestima a censura e, mais ainda, a
pré-censura dos roteiros, que impede qualquer cineasta de evocar as guerras
coloniais no momento em que a sociedade francesa é influenciada cotidianamente
por elas.”
“Podemos então lamentar que essas obras tão vivas
tenham sido recuperadas pelo circuito da mercadoria e do gadget: as fotos dos
filmes são encontradas em pôsteres e cinzeiros. É o reverso inevitável do
sucesso na ‘sociedade do espetáculo’ . Resta se consolar indo descobrir ou
rever os próprios filmes em uma sala de cinema, como no primeiro dia da
apresentação pública.”
>>
CINEMA.
Quatro brasileiros disputam Guadalajara FOLHA SP 28.02
-
Os
longas brasileiros estão na competição do Festival de Cinema de Guadalajara, no
México, que acontece entre 2 e 10 de março. Competem os filmes "Corações
Sujos", de Vicente Amorim; "Sudoeste", de Eduardo Nunes;
"Transeunte", de Eryk Rocha; e "Vou Rifar Meu Coração", de
Ana Rieper.
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JORGE GUIMARÃES.
O ensino
superior no país está crescendo FOLHA SP 28.02
-
É
preciso um olhar enviesado para defender o oposto; em SP, há, com a criação da
UFABC e as expansões da Unifesp e da UFScar, bem mais vagas federais
À
primeira vista, o artigo publicado na Folha de 23 de fevereiro assinado pelo
diretor científico da Fapesp, Carlos Henrique Brito Cruz ("A parada no
crescimento do ensino superior"), pode até assustar. Não é preciso.
Suas
inferências e conclusões, na verdade, decorrem de um olhar enviesado dos dados
do último censo da educação superior.
Trata-se
de uma estranha análise vinda de um físico renomado, que ainda serviu de base
para o editorial publicado em 24 de fevereiro ("Universidade
reprovada").
Em
primeiro lugar, inexplicavelmente, o físico se esqueceu da educação a
distância. No Brasil, por decisão autônoma, universidades federais e estaduais
formam uma rede denominada Universidade Aberta do Brasil, que oferece cursos de
graduação e pós-graduação a distância.
Outro
dado que escapou ao professor Brito é o total de formados no país. Em 2010, o
Brasil superou a marca de 973 mil formados (quase três vezes mais do que em
2000), sendo 829 mil em cursos presenciais.
Estranhamente,
também, o professor Brito e a Folha utilizam a categoria administrativa
"públicas" para dizer que Lula "não se sai bem" na educação
superior e afirmar que houve diminuição no número de concluintes. Na verdade,
nas universidades federais eram 72 mil em 2002. Foram 99 mil em 2010.
Uma
observação pertinente: um ingressante na educação superior pode levar quatro,
cinco ou até seis anos, dependendo do curso, para ser um concluinte. Para se
ter uma ideia, em 2004 a rede federal atendia 592 mil estudantes (49% do total
de todas as públicas). Em 2010, atendia a 938 mil (57% do total das públicas).
Não
se pode ignorar, ainda, o aumento no número de ingressantes. Em 2004, 293 mil
novos alunos ingressaram na rede pública de educação superior, sendo 127 mil na
rede federal. Em 2010, eram 302 mil ingressantes na rede federal. Um acréscimo
de 120% no período -a rede estadual cresceu somente 7%, e a rede municipal
encolheu 28%.
Mas
o mais estranho em toda a análise é o professor Brito reclamar que os jovens de
São Paulo não têm acesso às vagas públicas.
No
Estado, observamos um significativo aumento nas vagas federais, com a expansão
da Unifesp e da UFSCar e a criação da UFABC.
Ademais,
o país faz um esforço enorme para tornar nacional a seleção às universidades
federais. O jovem paulista, antes adstrito a algo em torno de 10 mil vagas nas
públicas, agora possui acesso a mais de 140 mil vagas por ano, por causa do
Sisu e da expansão das federais.
Também
na pós-graduação, a análise do professor Brito está propositalmente enviesada.
Ela observa a taxa de crescimento anual, sabidamente um fator influenciado pelo
tamanho dos números absolutos.
Vejamos:
entre 1998 e 2002, foram titulados 26.998 doutores, uma média de 5.400
titulados ao ano. No período entre 2006 e 2010, foram titulados 52.674 doutores,
média de 10.535 ao ano. É praticamente o dobro do quinquênio anterior.
Quem
analisa a expansão do ensino superior no Brasil deve levar em consideração o
número de ingressantes, o estoque total de matrículas e o tempo médio de
conclusão dos cursos. Com todos os dados apresentados, é impossível negar que a
expansão do ensino superior federal brasileiro está no rumo certo.
JORGE
GUIMARÃES, 73, é presidente da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior). Foi docente em oito universidades brasileiras, entre elas a
Unifesp, a UFRJ e a Unicamp
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"Elefante branco" da floresta tenta
conseguir atenção. Valor Econômico - 28/02/2012
Comum
na Amazônia, a copaíba é um exemplo do imenso potencial da biodiversidade local
que poderia, mas não vem sendo explorado. Cascas e óleo da árvore são bastante
utilizados pela medicina popular, por sua eficácia no tratamento de
inflamações, mas até agora o país não conseguiu agregar valor à sua utilização.
Entre 1999 e 2009, o Brasil era o país com mais publicações sobre copaíba (76),
mas sequer aparecia na lista dos que depositaram patentes sobre o insumo. No
mesmo período, os EUA tinham registro de 17 patentes.
Essa
contradição é um dos muitos argumentos utilizados pelos cientistas e
pesquisadores do Centro de Biotecnologia do Amazonas (CBA) para atrair olhares
para o quadro da instituição, cuja missão é promover o desenvolvimento
sustentável da Amazônia, por meio da inovação tecnológica.
Com
12 mil m2 de construção, 25 laboratórios bem equipados e uma qualificada equipe
de cientistas e pesquisadores, o prédio é, há dez anos, o "elefante
branco" da floresta. Sem definição de um modelo de gestão, o investimento
de R$ 91 milhões feito em 2002 não passou, até agora, de sua fase de implantação.
"Não conseguimos sequer emitir um cheque porque não temos CNPJ", diz
João Augusto da Silva Cabral, coordenador da área de produtos naturais do CBA e
responsável por quatro laboratórios criados para estudar espécies vegetais de
interesse econômico.
Cabral
é um dos 70 cientistas dos laboratórios que resistem, trabalhando como bolsista
no CBA. Segundo ele, embora engessada, a instituição está preparada para
coletar e receber amostras da biodiversidade, preparar, produzir, analisar e
testá-las mediante demanda dos setores bioindustrial, agroindustrial,
farmacêutico e cosmético. Mas não consegue avançar por falta de definição do
modus operandi e por depender de fluxos irregulares de recursos.
O
secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior (MDIC), Alessandro Teixeira, assegura que a situação do CBA vai mudar.
"Temos orientação expressa da presidenta Dilma para dar prioridade ao
centro, que é vital para potencializar novos polos na região", diz. De
fato, a instituição foi criada para atuar em áreas pouco exploradas na Zona
Franca de Manaus: cosméticos, bioterápicos (uso humano e animal), alimentos
funcionais e nutracêuticos, energias alternativas e novos materiais, em
parceria com os governos federal e estadual, institutos de pesquisa,
universidades e empresas.
Atualmente,
o CBA administra alguns projetos em parceria com empresas, estuda a utilização
de insumos naturais e identifica oportunidades de utilização em produtos
finais, como "Derris, Ryania e Quassia" na produção de inseticidas
naturais, e de frutos com funções especiais (fenóis, polifenóis, probiótico) na
fabricação de alimentos naturais. "Poderíamos fazer muito mais e mais
rápido", diz Maria Luiza Ricart, coordenadora do núcleo de produção de
extratos, das unidades pré-pilotos, que simulam a manipulação de cosméticos,
medicamentos e alimentos funcionais, e da planta de processos industriais.
Uma
das áreas do CBA que vem conseguindo responder à demanda interna e externa é a
Central Analítica, formada por laboratórios de química analítica,
espectroscopia, ressonância magnética, preparação de amostras e proteínas. As
unidades realizaram no ano passado 1.452 análises, um número expressivo, mas
que vem caindo desde 2008, ano em que o número de análises passou de 2.000,
informa o coordenador da área, Massayoshi Yoshida.
Os
integrantes do comitê interministerial responsável pela definição do modelo de
gestão já foram designados, mas até agora o modelo não foi definido. A mais
recente conquista do CBA, em 2011, foi a autorização do Conselho de Gestão do
Patrimônio Genético de acesso ao patrimônio genético da Amazônia "com a
finalidade de constituir e integrar coleção que visa a atividades com potencial
de uso econômico, como a bioprospecção ou desenvolvimento tecnológico."
Enquanto
essa estrutura não decola, projetos de empresas de TI ganham espaço. É o caso
do Instituto Nokia de Tecnologia (INT), situado ao lado da fábrica da Nokia, em
Manaus. Cerca de 300 pessoas trabalham no INT para desenvolver aplicações de
serviços em telefonia móvel no Brasil. "O foco foi na área de pesquisa em
mecânica", conta André Erthal,diretor técnico do INT. O instituto também
se destaca no desenvolvimento de aplicativos para celulares.
>>
Escritores pela liberdade. O Estado de S. Paulo - 28/02/2012
-
Os
tempos mudam, mudam as urgências. Qual a bandeira do escritor brasileiro nos
tempos atuais, em que os inimigos estão ocultos sob nomenclaturas cheias de
vaguidão, como "mercado", "urgências sociais" e outras?
Mesmo sem vaca e sem bandeira, ó Neruda, e muitas vezes sem editora, o escritor
continua sendo o sustentáculo de qualquer política cultural consistente, em
qualquer país. Ele reflete, rememora, inaugura, antecipa, testemunha, sugere,
incentiva. E debate. Foi o que fizemos, 600 de nós, durante o Congresso
Brasileiro de Escritores de 2011, que foi realizado em Ribeirão Preto.
Debatendo
durante quatro dias, nós nos dispusemos a cobrar dos poderes públicos a
proteção, a defesa e o apoio à produção literária e a incentivar as famílias a
intervirem no processo da formação de leitores. O manifesto que resultou do
nosso congresso já foi encaminhado aos ministros Aloizio Mercadante, da
Educação, e Ana de Hollanda, da Cultura. E, neste espaço com que o jornal O
Estado de S. Paulo nos privilegia, queremos ampliar a divulgação das nossas
decisões.
Nós,
escritores, protestamos contra modalidades de censura ainda em vigor, como as
restrições judiciais que impedem a circulação de biografias e outras pesquisas,
a pretexto de defender sucessores ou pesquisados, porque representa evidente
cerceamento à liberdade criadora do escritor e também limita o direito dos
leitores de conhecerem mais opiniões acerca de determinada figura pública ou de
certos acontecimentos.
Restrições
dessa natureza resultam em prejuízo para a pluralidade de opiniões e levam à
superficialidade do pensamento. Em suma, empobrecem a própria educação. Também
por isso, entendemos ser prioridade a defesa intransigente da qualidade da
educação no Brasil, esperando do Estado os investimentos necessários à
qualificação e ao aprimoramento dos professores e à manutenção de escolas e
equipamentos; em especial, que seja resgatado o ensino da literatura nas
escolas, com atenção ao conteúdo e ao valor, tanto pedagógico quanto artístico,
das obras adotadas para leitura e exame, com ênfase para a produção nacional,
com critério, mas sem censura.
Sustentamos,
como premissa, que o governo brasileiro implante e defenda política cultural
nacional, equilibrada, justa, democrática e aberta, da qual o Estado participe
como facilitador, e não como mentor, exigindo a defesa, o incentivo e a
proteção de toda criação artística, pautada pelo respeito ao direito autoral, à
liberdade de expressão, à busca de ampla divulgação e publicidade, em
atendimento aos preceitos do desenvolvimento cultural de um país: educação,
cidadania, democracia, igualdade, liberdade, diversidade, direitos humanos e
preservação do acervo e do patrimônio cultural, estético, artístico e ecológico
do País.
Não
se chegará a isso sem a imprescindível ampliação dos programas em curso,
especialmente de órgãos do Ministério da Cultura, para estimular a leitura e
promover a difusão da literatura brasileira, assim enfrentando o dramático
descompasso, em nosso país, de índices de leitura de livros e, correlatamente,
do alarmante analfabetismo funcional.
Requeremos,
igualmente, por parte dos órgãos públicos, consistência e regularidade nos
programas de difusão da literatura brasileira no exterior, apoiando traduções
de obras, mostras e apresentações de autores, a exemplo do que é feito,
rotineiramente, pelos governos de outros países.
Esperamos
esforços equivalentes das administrações estaduais e municipais, para que
desenvolvam políticas culturais em consonância com esse esforço; especialmente,
ao manterem e equiparem bibliotecas públicas e programas de promoção da
literatura e incentivo à leitura, e pela boa divulgação da produção nacional em
seus equipamentos culturais e meios de comunicação.
Repudiamos
frontalmente programas de difusão de livros e incentivo à leitura,
especialmente na área educacional, que exijam a renúncia a direitos autorais e
de edição. Declaramos inadmissível qualquer equiparação da tradução literária
ou qualquer escrita criativa à prestação de serviços, obliterando ou suprimindo
direitos autorais. Exigimos transparência nas prestações de contas a autores
por parte de editores e, por isso, propomos, como tópico da lei de direitos
autorais ora em exame, a inserção de informe da tiragem pela gráfica nas
edições em maior escala; e, naquelas em impressão digital ou nos livros por
encomenda, que as editoras numerem cada exemplar. E, ainda, que em livros
eletrônicos ou quaisquer edições no meio digital seja garantido ao autor o
conhecimento a qualquer tempo da quantidade de exemplares adquiridos por esse
meio; e, também, que seja assegurada, nas compras de grandes quantidades de
livros por órgãos públicos, a comprovação pelo editor de que o titular de
direitos autorais foi informado da compra.
Lutaremos
pelo fim dos privilégios no fomento à produção artística; pela reestruturação
do Fundo Nacional de Cultura, de modo que este receba recursos originados do
Imposto de Renda devido pelas empresas, a serem destinados a projetos aprovados
por um conselho de representantes da sociedade civil que analisarão projetos a
serem financiados por leis de incentivos, assim retirando das empresas
patrocinadoras o poder decisório sobre a destinação final de tais recursos.
Aproveitamos
para confessar as nossas próprias faltas e prometer os nossos melhores esforços
para que a literatura brasileira cumpra o seu papel social, que é o de
registrar nossa identidade, perscrutar nossa alma, brasileira e universal, e
dar voz ao sentimento do mundo. E assim contribuir para a História. Talvez não
como queremos, mas como podemos.
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A Bienal precisa acontecer O Estado de S. Paulo -
28/02/2012
-
A
Fundação Bienal de São Paulo deve comemorar, em 2012, a realização de sua 30.ª
exposição internacional. Desde sua criação, em 1951, passou por períodos de
altos e baixos. Por duas vezes deixou de organizar a exposição, reconhecida
como umas das principais entre as grandes mostras internacionais de arte. Neste
momento, questões administrativas e burocráticas - não de gestão - ameaçam a
sua realização em setembro.
Como
amplamente noticiado, em fins de 2011 o Ministério da Cultura (MinC) questionou
a Fundação Bienal no tocante às prestações de contas de 13 convênios assinados
no período 1999-2007. Apesar dos esclarecimentos, o MinC novamente incluiu a
instituição no seu cadastro de inadimplentes no início de janeiro e bloqueou os
recursos destinados à 30.ª Bienal. A fundação entrou imediatamente com ação
judicial, com pedido de desbloqueio dos patrocínios captados via Lei Rouanet em
2010 e 2011. A liminar solicitada foi negada e a apelação até hoje não foi
julgada.
O
bloqueio das contas pegou de surpresa a atual diretoria, comandada com
competência por Heitor Martins, que desde que assumiu tem procurado - com
sucesso - resolver as pendências anteriores à sua gestão, devolvendo a Bienal
aos seus bons tempos. Na prática, o que ocorre é que o bloqueio dos bens da
fundação não permite a utilização dos recursos (R$ 12 milhões), captados
recentemente via Lei Rouanet, para a realização da mostra deste ano. A
imobilização desses bens, assim, torna inviável a captação de mais R$ 8 milhões
já comprometidos por empresas, também via incentivo fiscal. Somente R$ 5
milhões estão livres, mas o valor é insuficiente para a realização da Bienal,
orçada em pelo menos R$ 18 milhões.
A
decisão do MinC de bloquear os bens da Fundação Bienal está repercutindo
fortemente no meio artístico: curadores, galeristas e gestores culturais no
Brasil e no exterior. Nossa Bienal, do porte da Bienal de Veneza e da Documenta
de Kassel, desde sua fundação passou a fazer parte do calendário das artes
internacionais. Exposições paralelas organizadas por galeristas brasileiros e
museus, realizadas simultaneamente à mostra internacional, poderão ser
canceladas. Se o impasse persistir, a própria existência da fundação está ameaçada,
num momento justamente de maior projeção internacional do Brasil, o que poderá
afetar nossas credibilidade e imagem no exterior.
O
que acontece com a Bienal é mais um exemplo da falta de sensibilidade para com
o interesse público e o real prejuízo que sua suspensão ou seu desaparecimento
representariam para o Brasil. Não se trata de ignorar os erros do passado, mas
de encontrar uma fórmula para separar o joio do trigo. É o que se tenta fazer
agora para que a mostra possa tornar-se viável em setembro.
A
divulgação da arte brasileira, cada vez mais conhecida e reconhecida
internacionalmente, é em grande parte resultado de um trabalho eficiente dos
agentes culturais e galeristas brasileiros, que vão sentir na pele as
consequências de um eventual cancelamento da Bienal. Por outro lado, deveria
ser de nosso interesse que a arte contemporânea se torne mais acessível ao
grande público no País.
Como
corretamente parece reconhecer o MinC, há interesse em que a Bienal de São
Paulo seja realizada dentro do calendário previsto. Apesar dos entraves
burocráticos, o MinC tem consciência de que sua realização é importante para o
desenvolvimento e a projeção do Brasil lá fora, e que ela pode servir para
ampliar as perspectivas de intercâmbio cultural com o exterior. Sabe ainda que
a mostra tem o papel de proporcionar ao público brasileiro a possibilidade de
conhecer diretamente o que de melhor está sendo produzido na arte contemporânea
brasileira e internacional. Reconhece, igualmente, que o interesse do público
brasileiro e estrangeiro (colecionadores, galeristas e críticos de arte) pela
Bienal é crescente (cerca de 700 mil pessoas a visitaram na última edição) e
que com isso o turismo cultural seria incentivado.
Com
a realização no Brasil de eventos internacionais importantes, como a
conferência Rio+20, pouco antes da Bienal, da Copa do Mundo e da Olimpíada, o
cancelamento da mostra prejudicaria a percepção externa quanto à nossa
capacidade de organizar eventos de grande porte. A repercussão no exterior do
eventual cancelamento será maior ainda pela visibilidade que o Brasil hoje
desfruta.
Situações
excepcionais - como a que ocorre neste momento - devem justificar soluções
diferenciadas, sempre respaldadas do ponto de vista legal, mas devidamente
motivadas pelo claro interesse público.
Enquanto
se busca uma solução definitiva para as questões financeiras pendentes, a
Bienal, por meio de sua diretoria e membros de seu conselho, apresentou uma
sugestão para, de imediato, solucionar o problema. Os projetos amparados pela Lei
Rouanet seriam transferidos para um novo proponente, ou seja, uma nova
instituição, que passaria a ser responsável pela realização do evento, como
forma possível de tornar a mostra viável. A Pinacoteca do Estado, por exemplo,
poderia gerenciar a execução da Bienal mediante um termo de ajustamento de
conduta. Precedente existe e, segundo se sabe, o MinC estaria demonstrando boa
vontade para encontrar uma fórmula que atenda a todas as partes envolvidas.
O
mundo artístico e a sociedade em geral esperam que todos os interessados,
Bienal, MinC, Controladoria-Geral da União, Tribunal de Contas da União,
Ministério Público Federal e Estadual se empenhem para chegar a um acordo.
A
Bienal tem de ser vista sob uma dimensão mais ampla, e não como questão
isolada. Sua suspensão, em decorrência da falta de sensibilidade oficial, seria
uma perda irreparável para São Paulo e para o Brasil.
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Filtro verde.
Chamada de
árvore milagrosa por suas várias utilidades - que vão do fornecimento de
nutrientes ao uso na fabricação de sabonetes -, a moringa oleifera pode também
ser usada na purificação de água para consumo humano CORREIO BSB 28/02
-
Sementes
de moringa oleifera: a técnica pode beneficiar comunidades mais pobres
A
moringa oleifera, árvore nativa da Índia, é o que se pode chamar de ser
multiuso. Além de nutritiva — seus frutos, folhas, flores e sementes são ricos
em vitamina A e C, cálcio, ferro e fósforo —, a planta produz um óleo usado na
fabricação de sabonetes, cosméticos ou combustível para lamparinas. Daí, o
apelido de “árvore milagrosa” atribuído a ela. Agora, uma pesquisa feita pelo
Departamento de Engenharia Química da Universidade da Pensilvânia, nos Estados
Unidos, descobriu mais uma função à espécie: uma proteína presente em sua
semente, quando combinada com areia, é capaz de purificar e clarear a água de
maneira rápida e barata.
O
estudo foi publicado na edição mais recente do informativo especializado
American Chemical Society. Stephanie Velegol, uma das principais autoras,
explica que a “filtragem” da água é possível graças a um mecanismo químico que
ocorre entre a proteína e os elementos presentes na água, responsáveis por
deixar o líquido turvo. “Os micro-organismos e partículas são, em sua maioria,
carregados negativamente, então, eles ‘grudam’ em partículas positivas”,
detalha. “A proteína catiônica das sementes faz com que essas partículas
negativas se unam e se depositem no fundo do recipiente.” Ela completa que essa
estrutura molecular também é capaz de destruir as paredes celulares das bactérias,
o que as torna inativas e incapacitadas de se reproduzir.
Stephanie
esclarece que a comunidade científica já tinha conhecimento das propriedades de
filtragem da proteína presente na semente da moringa. O que não se sabia ainda
era como fazer com que as sementes não deixassem resíduos de matéria orgânica
na água após o processo. Uma vez que esses restos eram usados pelos
micro-organismos para sujar a água novamente, o armazenamento do líquido por
muito tempo era inviável. “Alguns pesquisadores isolaram a proteína ativa, mas
seus métodos eram bastante trabalhosos e não sustentáveis no campo”, analisa
Stephanie. “Nossa abordagem baseou-se em absorver as proteínas para a areia.”
As
proteínas absorvidas fazem com que os grãos de areia, normalmente carregados
negativamente, adquiram carga positiva — e se tornem capazes de capturar e
matar as bactérias. Ao fim do procedimento — que exige apenas areia, sementes e
água —, basta escoar o material orgânico remanescente (veja arte).
Após
ler o estudo, Gilberto Kerbauy, professor do Departamento de Botânica do
Instituto de Biociência da Universidade de São Paulo (USP), acredita que a
pesquisa americana terá utilidade especialmente em países mais pobres, onde não
há muitas opções para garantir água em condições de consumo. “É um filtro
biológico interessante que, ao mesmo tempo em que tira a partícula em
suspensão, mata bactérias como a Escherichia coli, causadora da diarreia”,
analisa. Kerbauy, porém, frisa que a pesquisa ainda não pode ser imediatamente
posta em prática. “Tudo foi feito em condições laboratoriais”, lembra. “A areia
era especial, com um tamanho adaptado e purificada.”
O
desafio, segundo o botânico, é encontrar uma maneira de realizar a técnica com
areia comum e com o extrato bruto da semente, já que os cientistas isolaram a
proteína específica para viabilizar o estudo. “Cabe aos países interessados
avançarem nessas pesquisas, para trazê-las a um nível de aplicabilidade real”,
reforça.
Outras
utilidades
Luciano
Coelho Milhomens, botânico e professor de Ciências Biológicas da Universidade
Católica de Brasília, estima que a prática de limpar água com a ajuda da
semente de moringa, como mencionado por Stephanie Velegol, já ocorre há, pelo
menos, cinco anos. Ele destaca que outras pesquisas demonstraram que a planta
tem também potencial medicinal e alimentar, uma vez que é composta por diversas
vitaminas e minerais. “Antes de usar qualquer planta com propriedades
medicinais, porém, é preciso verificar se há estudos sérios que comprovem a
eficácia. Só a experiência popular não é suficiente”, alerta.
Para
o botânico, a importância de pesquisas como a da Universidade da Pensilvânia se
dá na medida em que o tratamento da água da forma como é feita,
industrialmente, tem preço elevado e tem se tornado cada vez mais complicada e
inacessível. “É sempre interessante minimizar os custos para a população
carente”, reforça. A praticidade do método, que precisa apenas da semente de
uma árvore que cresce durante o ano inteiro, também é um detalhe que merece
destaque. “O processo só teria o custo de plantar e regar a árvore.”
Além
da moringa oleifera, Milhomens ressalta que há outras espécies vegetais
consideradas emblemáticas — como o buriti, palmeira comum no Centro-Oeste.
“Dele se aproveita tudo. Como diz o ditado popular, é como se fosse uma vaca em
que só não se aproveita o berro”, brinca. A palma, árvore originária da Malásia
e muito usada na produção de óleo, também está entre os exemplos de “árvores
maravilhosas”. “Ela é muito usada para alimentar animais e consegue sobreviver
a climas tropicais com temperaturas elevadas.”
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LANÇAMENTO » A mais bela roupa da viola
Roberto
Corrêa: peças compostas exclusivamente para o instrumento CORREIO BSB 28/02
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Entusiasmado
estudioso das mais diversas manifestações da viola no país, Roberto Corrêa
percorreu uma longa trajetória de discos, livros e publicações acadêmicas até
chegar a este momento, que considera um marco em sua carreira. O novo disco,
Viola de arame, tem som de sonho que se concretiza. “Acabei indo por outros
caminhos, mas nunca desisti desse trabalho que estou retomando”, explica, ao
falar de sua iniciativa, que ficou engavetada desde a década de 1980.
Quando
estudou física na Universidade de Brasília (UnB), Roberto descobriu os encantos
da viola e, em suas pesquisas, encontrou pouco material disponível sobre o
instrumento. Pior: constatou que não havia um método formal de ensino da viola.
Iniciou, então, um périplo Brasil adentro, visitando violeiros, registrando
diferentes toques e afinações, autodidata no método que o levaria a realizar
seu sonho: tornar-se um solista, um intérprete do instrumento, algo
extremamente incomum naquela época.
Firme
nesse propósito, ele encomendou a alguns mestres peças para a viola. Marco
Pereira, seu professor de violão, escreveu Forrozal. Em uma viola emprestada
por Corrêa, o maestro Jorge Antunes compôs Prelúdico em mi. Eustáquio Grilo,
também mestre de Roberto Corrêa nas cordas, compôs Rapsódia caipira. Maurício
Carrilho assina Juriti azul. “Soube que Claudio Santoro estava compondo uma
obra para a viola, mas faleceu antes de finalizar”, conta o músico.
As músicas acabaram ficando engavetadas porque
os rumos de sua carreira o encaminharam para a composição, mas o desejo de
gravá-las seguiu latente. A ideia renasceu quando o violeiro teve acesso à obra
de Ascendino Theodoro Nogueira, primeiro músico com formação erudita a compor
músicas para a viola. De seu repertório, foram gravados sete prelúdios para
viola brasileira. Reunido o material, o violeiro passou cerca de um ano e meio
dedicado ao projeto.
Viola
de arame
Álbum
do violeiro Roberto Corrêa. Lançamento Viola Corrêa, 11 faixas. Preço sugerido:
R$ 20.
Corrêa
reuniu, neste trabalho, as primeiras obras de que se tem notícia para viola.
Pode soar contraditório, já que o instrumento chegou ao Brasil muito antes de
seu parente mais prestigiado, o violão. Mas sempre foi olhado com certa reserva
entre os músicos. “O violão foi visto como mais poderoso, mais encantador, com
mais recursos. A viola ficou mais associada a tradições populares e muito
vinculada ao meio rural”, descreve o violeiro, lembrando que o Brasil sofreu
processo intenso de urbanização, e acabou voltando as costas para suas raízes
profundas.
Cada
uma das peças em seu disco tem uma cara peculiar. Ascendino Nogueira fez uma
miscelânea de referências ao universo do instrumento que ele conhecia. Marco
Pereira fez uma composição rítmica em torno de um forró. A Rapsódia caipira
lança mão de influências múltiplas, entre elas o aboio, canto típico do interior
do Nordeste e de Minas Gerais. O carioca Maurício Carrilho explorou sua
convivência com músicos nordestinos. Jorge Antunes criou uma composição
eletroacústica, com direito a chocalho de cascavel e batidas na madeira do
instrumento. Em todas as faixas de Viola de arame, Corrêa resgata seu plano
original: atua como solista de viola.
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Brasília tem 4,4% das unidades de hospedagem do
país, mostra pesquisa Fonte: Agência Brasil 28.02
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A
capacidade de hospedagem nas 27 capitais brasileiras totaliza 554.227 pessoas.
Ao todo, a rede de hospedagem nesses locais é formada por 5.036
estabelecimentos, que oferecem 250.284 unidades habitacionais, como suítes,
apartamentos, quartos e chalés, e 373.673 leitos, entre simples e duplos. Com
isso, a capacidade média nas capitais chega a 110 hóspedes por estabelecimento.
Com
19.216 leitos disponíveis, Brasília aparece em sétimo lugar em um levantamento
sobre o serviço de hospedagem nas capitais brasileiras divulgado nesta
terça-feira (28) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A
capital federal fica atrás de São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Natal ,
Fortaleza e Florianópolis. Ao todo, Brasília tem 222 estabelecimentos de
hospedagem – entre hotéis, motéis, flats, pousadas e albergues –, o que corresponde
a 4,4% do total nacional.
A
Pesquisa de Serviço de Hospedagem 2011 revelou que os hotéis correspondem a
67,1% das unidades de hospedagem de Brasília, seguidos por motéis, com 20,7%, e
pousadas, com 9%.
O
levantamento mostrou que apenas 12,27% dos estabelecimento de hospedagem da
capital brasileira são considerados de “luxo” ou com “qualidade superior”. O
restante é enquadrado nas categorias de “qualidade média”, “econômica” e
“simples”.
No
quesito número de leitos por estabelecimento, Brasília aparece em terceiro
lugar entre as capitais avaliadas, com 87 – atrás do Rio de Janeiro (106) e
Natal (92). Brasília também aparece em terceiro na lista de capacidade média de
hóspedes por estabelecimentos, com 123 pessoas por unidade comercial. Novamente,
a capital do país fica atrás do Rio, com 157 hóspedes por estabelecimento, e de
Natal, com capacidade de 140 pessoas.
O
estudo, apresentado pela primeira vez, foi feito em parceria com o Ministério
do Turismo, para mapear o setor e ajudar no planejamento do país para receber a
Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. O IBGE vai divulgar em
abril um complemento com informações sobre as regiões metropolitanas.
De
acordo com o levantamento apresentado hoje, a maior capacidade média de
hospedagem foi observada no Rio de Janeiro, onde cada estabelecimento pode
receber, em média, 157 visitantes. Em seguida, aparece Natal (140 turistas por
estabelecimento).
Já
em números absolutos, São Paulo lidera o ranking, com capacidade de hospedagem
para 114.212 turistas. O Rio de Janeiro aparece na segunda colocação, com
67.536 vagas de hospedagem; e em seguida, vem Salvador, com 34.424.
O
estudo revela, ainda, que a maior parte dos estabelecimentos que compõem a rede
de hospedagem nas capitais brasileiras é formada por hotéis (52,1%), que têm em
média 50 unidades e 74 leitos por estabelecimento; seguidos por motéis, com uma
fatia de 23,5% do total; e por pousadas, respondendo por 14,2%.
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