quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012
Literatura
Anos de poesia
Editora
Global conclui coleção que faz amplo panorama da poesia brasileira, de suas
origens aos nomes importantes da contemporaneidade. Há goianos na lista O popular/GO 15.02
-
Cecília
Meireles
Adélia
Prado
Gabriel
Nascente
Mario
Quintana
Afonso
Félix de Sousa
Tomás
Antonio Gonzaga
O
projeto começou em 2006, com a publicação de volumes que traziam alguns poemas
de autores de três importantes escolas literárias brasileiras: Simbolismo,
Arcadismo e Parnasianismo. Depois de cinco anos, foram lançados no finalzinho
de 2011 os dois últimos volumes do Roteiro da Poesia Brasileira, da Editora
Global, contemplando poetas das décadas 1960 e 1990. Desta forma, fecha-se um
grande ciclo que abarca desde os primeiros autores a escrever versos na maior
das colônias portuguesas à poesia muitas vezes publicada em blogues da
internet, o que ocorre com cada vez mais frequência hoje em dia.
É
um imenso panorama de todas as principais vertentes da poesia nacional em 500
anos, nas mais diferentes épocas, em que convivem os mais variados estilos e
inspirações, todo tipo de métrica e mote e que demonstra como evoluiu a nossa
lírica e que caminhos estéticos optou por trilhar.
A
coleção, composta de 15 volumes, foi toda dirigida pela pesquisadora e
escritora Edla van Steen, que desde os anos 1980 trabalha organizando projetos
dessa natureza. Ela, por exemplo, é responsável pelas séries de livros Os
Melhores Poemas, Os Melhores Contos e As Melhores Crônicas, todos da Global,
que resgatam textos de dezenas de escritores nacionais, dos mais conhecidos aos
mais esquecidos.
“Foi
um trabalho hercúleo”, diz Edla. “Os primeiros livros, que chegaram até o
Modernismo, traziam obras de domínio público, o que foi mais fácil de realizar.
A partir daí, tivemos que lidar com muitos herdeiros, vários deles nem sempre
dispostos a ajudar. Não existe nada pior para a obra de certos autores que seus
herdeiros”, desabafa a organizadora. “Além daqueles em que a negociação foi
complicada, há alguns que não dão a mínima para a obra de seus pais ou avós.
Estes são até mais difíceis. Tivemos de deixar vários nomes de fora por causa
disso.”
Em
Roteiro da Poesia Brasileira, oito escritores goianos foram destacados, além de
Miguel Jorge, que nasceu em Campo Grande (MS), mas que fez sua carreira em
Goiás. Cronologicamente, o primeiro autor do Estado a ser lembrado no projeto é
o simbolista Érico Curado, natural de Pirenópolis. Depois dele vêm José Godoy
Garcia, nascido em Jataí e que figura entre os principais poetas da geração de
40; Afonso Félix de Sousa, natural de Jaraguá, que também está entre os autores
dos anos 1940; Gilberto Mendonça Teles, de Bela Vista de Goiás, incluído no rol
dos escritores dos anos 1950; o goianiense Gabriel Nascente, que ganhou
destaque entre os poetas dos anos 1960; a crítica e poeta Darcy França
Denófrio, de Itarumã, está entre os nomes dos anos 1980; e Caio Meira, de
Goiânia, um dos selecionados dos anos 1990.
Uma
ausência é notada, a da poeta Cora Coralina, que não teve seus versos
mencionados no projeto por nenhum dos organizadores, muitos deles autores de
grande expressão no cenário da poesia nacional. “Tivemos o cuidado de chamar
especialistas que sabem de tudo sobre aquele período da poesia brasileira a que
foram designados”, conta Edla. “A minha sorte é que todo esse pessoal é meu
amigo e atendeu ao convite. Foi muito importante, por exemplo, ter a Walnice
Nogueira Galvão selecionando os autores e os poemas do Modernismo, assim como o
Antônio Carlos Secchin responsável pelo Romantismo e o Ivan Junqueira pelos
poetas dos anos 1930.” Edla salienta que a enorme antologia em que se
transformou Roteiro da Poesia Brasileira é algo inédito no Brasil. “Havia essa
lacuna. As coleções, geralmente, são organizadas por temas e não pela qualidade
do trabalho. Tivemos esse desafio a mais. É o projeto mais importante de que já
participei”, afirma.
Mosaico
rico e curioso
Uma
coleção que reúne o Boca do Inferno Gregório de Mattos Guerra e a candura de
Mario Quintana; a Marília de Dirceu do arcadista Tomás Antônio Gonzaga e os
sonetos sedutores de Vinicius de Moraes; o romantismo derramado de Casimiro de
Abreu e a poesia um tanto marginal do gaúcho Paulo Scott só pode ser chamada de
rica. Uma riqueza que vem de seu ecletismo. Ecletismo que vem dos muitos
movimentos que moveram a construção de nosso patrimônio poético. O que o
Roteiro da Poesia Brasileira expressa, de forma incontestável, é que o País,
que muitas vezes não dá o devido valor à sua literatura – em especial aos
versos que produz –, é capaz de gerar poetas do porte de Carlos Drummond de
Andrade, João Cabral de Melo Neto, Manuel Bandeira, Cruz e Souza e Augusto dos
Anjos. Autores tão diferentes e tão magistralmente originais em seus estilos e
suas épocas.A grande seleção é também surpreendente em muitos casos. Há a
inclusão de autores como Ariano Suassuna – bem mais conhecido por suas peças de
teatro e seu O Romance da Pedra do Reino –, do escritor Aníbal Machado – que
escreveu textos em prosa conhecidos como João Ternura e A Morte da
Porta-Estandarte e Outras Histórias – e Manoel Carlos, o homem que escreveu
novelas de sucesso na Rede Globo, como Laços de Família e Mulheres Apaixonadas.
Ao lado de gente que surge inesperadamente, a coleção traz versos de escritores
do calibre de Ana Cristina César, Adélia Prado, Manoel de Barros, Murilo
Mendes, Alice Ruiz, Paulo Leminsky, Affonso Romano de Sant’Anna, Ferreira
Gullar, José Paulo Paes, Raul Bopp, Guilherme de Almeida, Mário Faustino, Jorge
de Lima, Thiago de Mello. Autores do Amazonas, do Maranhão, da Bahia, do Rio
Grande do Sul, do Paraná, do Mato Grosso, do Rio Grande do Norte, do Ceará, de
Minas Gerais, dando a dimensão da diversidade estilística e geográfica do projeto.
Também
vale a pena prestar atenção nos volumes que tratam da produção poética nacional
mais antiga. É sempre bom recordar como se formaram nossas tradições poéticas e
reler versos de escritores que tinham influências tão distintas das atuais e
que escreviam de forma tão diferente da de hoje. No volume Raízes, por exemplo,
estão os versos do padre José de Anchieta, que fundou a cidade de São Paulo, e
de Manuel Botelho de Oliveira, que publicou o primeiro livro de poesia do
Brasil.
Entre
os arcadistas, destaque para o inconfidente Cláudio Manuel da Costa e para os
homens que compuseram verdadeiros clássicos de nossa literatura, como José
Basílio da Gama (O Uraguai) e Frei José de Santa Rita Durão (Caramuru). No
volume sobre o Parnasianismo, lá estão Olavo Bilac, Martins Fontes e até
Machado de Assis.
No
livro dedicado ao Romantismo, versos de Fagundes Varela, Sousândrade e Álvares
de Azevedo. A coleção, de fato, reúne o que há de mais representativo em nossa
história poética.
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Política
Relator do Código Florestal pode excluir restrição a pastagens em morros
Agência
Câmara 15.02
-
O
relator do projeto do novo Código Florestal (PL 1876/99), deputado Paulo Piau
(PMDB-MG), afirmou que vai pedir um parecer técnico sobre as restrições a
pastagens em morros, previstas na versão do texto aprovado pelo Senado. O
assunto foi debatido nesta terça-feira (15), na Assembleia Legislativa de Minas
Gerais, e foi motivo de reclamações de pecuaristas leiteiros.
O
texto do Senado proíbe o pastejo em pastagens artificiais em encostas acima de
25 graus de declividade. “Estamos pedindo um parecer técnico para respaldar e
ver se realmente é incompatível ou não [retirar a proibição do texto]",
disse Piau.
O
deputado lembrou que a regra afeta principalmente os produtores de leite da
região Sudeste (Sul e Zona da Mata de Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de
Janeiro).
Licença
ambiental
O
relator também avalia a possibilidade de retirar do texto a exclusividade do
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama) no licenciamento ambiental de áreas com a presença de espécies em
extinção. Segundo Paulo Piau, essa exclusividade do Ibama poderá atrasar os
processos de licenciamento.
Para
evitar a lentidão do processo, o deputado poderá propor que os órgãos
ambientais estaduais atuem nesse licenciamento.
Paulo
Piau anunciou que vai apresentar seu relatório final sobre o novo Código
Florestal na semana seguinte ao Carnaval. A votação em Plenário está prevista
para 6 e 7 de março.
Posição
do governo
A
reunião que o relator teria com o governo nesta terça-feira foi cancelada por
problemas de agenda da ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti. A
nova data ainda não foi marcada, mas o deputado disse que essa reunião é
fundamental para evitar futuros vetos da presidente Dilma Rousseff.
O
coordenador da Frente Parlamentar da Agropecuária, deputado Moreira Mendes
(PSD-RO), disse que é necessário alterar o texto do novo Código Florestal
aprovado pelo Senado.
"Algumas
modificações introduzidas pelo Senado terão de ser revistas aqui na Câmara,
pois são prejudiciais aos interesses do produtor. Em vez de resolver conflito,
vão criar mais embaraços e mais problemas. Temos de encontrar uma solução de meio
termo."
Já
o coordenador de Florestas da Frente Parlamentar Ambientalista, deputado Márcio
Macêdo (PT-SE), afirmou que não há clima para aprofundar os debates sobre o
Código Florestal. "O projeto que veio do Senado ainda deixa a desejar do
ponto de vista ambientalista, mas, diante das condições políticas e objetivas
do País neste momento, não é adequado reabrir [o texto] para mudanças, em
virtude de que pode se reproduzir um debate muito intenso, que dificulte a
aprovação do código em condições sustentáveis."
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ARTES VISUAIS »
Poesia urbana
O
paranaense Geraldo Zamproni brinca com a contraposição entre leve e pesado ao
substituir os pilares da Funarte por imensas almofadas CORREIO BSB 15.02
-
A
obra de Zamproni, que pode ser vista também no Museu Nacional da República,
chama a atenção pelo aspecto lúdico: objetos frágeis substituem a rigidez da
arquitetura
Um
primeiro olhar engana. A marquise da Funarte parece estar sustentada por uma
sucessão de almofadas vermelhas. Os pilares sumiram e as imensas estruturas de
36m² e 2,30m de altura seguram o teto do abrigo de um dos mais importantes
complexos artísticos da cidade. A obra é do paranaense Geraldo Zamproni e vai
mudar a paisagem da Funarte até março, como um dos projetos vencedores do
Prêmio Atos Visuais de 2011. Zamproni cultiva um prazer lúdico em subverter
estruturas pesadas. A possibilidade da contraposição entre materiais leves e
cargas faz o artista se divertir quando se depara com elementos arquitetônicos
passíveis de se submeterem à brincadeira. Ele também levou as almofadas
coloridas para a rampa do Museu Nacional de República, como parte da exposição
Diálogos da resistência.
Formado
em arquitetura e há muito tempo afastado das pranchetas, Zamproni deixou para
trás a confecção de estruturas e trocou a seriedade do projeto pela brincadeira
com a arte. Não que a seriedade esteja dissociada do fazer artístico — há algo
de muito sério em propor a reflexão por meio do lúdico, é preciso quebrar
amarras para conseguir entrar na proposta — mas a arte pode se dar ao luxo de
levar o jogo para o espaço do austero. “Basicamente, é o aspecto lúdico da
intervenção que chama a atenção: uma estrutura tão rígida como a arquitetura
substituída por algo tão frágil. E são elementos do cotidiano, só muda a
escala”, explica o artista.
Batizada
de Estrutura volátil, a instalação também resgata uma intimidade do cotidiano
como estratégia para fisgar o visitante. “Almofada é algo do íntimo e do
cotidiano”, lembra Zamproni. “Algo tão corriqueiro do dia a dia que pode ser
inserido em algo maior. Acho que isso ajuda a tirar um pouco de seriedade das
coisas, o peso que tem a arquitetura, e dar certa leveza à vida, ao olhar, ao
perfil de uma cidade, que é sempre tão rígida.”
A
mesma rigidez que chocou a mineira Isabela Prado, também ganhadora do Atos
Visuais. Na galeria Fayga Ostrower, ela apresenta Entre rios, um conjunto de
instalação, objeto, vídeos e desenhos traçados com base no mapa hidrográfico
subterrâneo de Belo Horizonte. Em 2006, quando Isabela voltou de um mestrado
nos Estados Unidos, se deparou com uma pequena e silenciosa catástrofe: o rio
Arrudas, referência para os habitantes da capital mineira, estava sendo coberto
para receber uma via ironicamente chamada de Linha Verde. Ao mesmo tempo,
Isabela recebeu um e-mail de uma amiga coreana que narrava o retorno à
superfície de um rio importante para a Coreia do Sul. O contraste das duas
situações alimentou a poesia contida em Entre rios.
Para
a instalação Repaisagem, a artista gravou o barulho dos rios subterrâneos da
cidade e recortou trechos de seus leitos em manta magnética. O visitante é
convidado a reconstruir a hidrografia da região a partir dos pedaços de rios.
Na série de desenhos em relevo, Isabela reproduz a mesma hidrografia de forma
sutil enquanto nos vídeos de Montante/Justante ela aprende a tocar violino
sobre os trechos cobertos. A artista recuperou os locais exatos graças a mapas
emprestados pela prefeitura. Ao visitar casas erguidas nessas regiões, percebeu
que a umidade vinda do subsolo desenhava riscos nas paredes, traçados
impossíveis de serem contidos e prova da força da natureza enterrada sob o
concreto. Mapa mofo é uma edição em vídeo das fotografias realizadas nas casas.
Para
completar, Isabela desenhou um molde em escala reduzida dos únicos 950m do
Arrudas ainda ao ar livre e fez uma joia em ouro. “O trabalho é uma metáfora do
que ainda existe desse rio, um trecho na saída da cidade, muito sujo. É um
trabalho que procura chamar a atenção para essa preciosidade e como ela deve
ser cuidada”, diz Isabela. “Não é uma questão de ser a favor ou contra. É muito
mais para aflorar o pensamento a respeito disso, do contraste entre a dureza
urbana e a força da natureza, que oscila, que é mais orgânica.”
Estrutura
volátil e entre rios
Exposições
de Geraldo Zamproni e Isabela Prado,respectivamente. Visitação até 11 de março,
de segunda a domingo, das 9h às 21h, na Funarte (Complexo Cultural Funarte —
Eixo Monumental, Setor de Divulgação Cultural).
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Dicas de português. Por Dad Squarisi
dadsquarisi.df@dabr.com.br CORREIO BSB 15.02
-
Inimigos
da nota 10
Quem
liga o rádio ou a tevê espera ouvir uma língua correta. Quem assiste a uma aula
também. Quem telefona para empresa, banco, órgão público idem. Correta não
significa rebuscada ou exibida. Significa apenas o elementar respeito a
flexões, concordâncias, regências, pronúncias. Deslizes não passam
despercebidos. Ao contrário. Ecoam.
Leitores
preocupados pediram ajuda à coluna. “Quais os tropeços mais comuns?”, perguntam
eles. A resposta: são vários. Eles partem da gentileza, passam pela fonética,
dão uma paradinha na morfologia, estacionam na sintaxe. Valha-nos, Senhor! Xô,
inimigos da nota 10. Eles aparecem na relação abaixo em ordem alfabética. À
esquerda, a forma que maltrata ouvidos e corações. À direita, jeito de fugir
dela. Vamos lá?
Não
use
a
nível de – a forma é ao nível de (= à altura de): Recife fica ao nível do mar.
adéquo
– adequar só se conjuga nas formas em que a sílaba tônica cai a partir do u:
adequamos, adequais, adequei, adequarei. (Na dúvida, substitua-o por adaptar.)
colocar
uma questão – fazer uma observação, fazer uma pergunta.
correr
atrás do prejuízo – correr do prejuízo.
criar
novas – só se cria o novo. Basta criar.
de
formas que, de maneiras que – locuções conjuntivas se usam no singular: de
forma que, de maneira que.
de
menor – use menor de idade ou diga a idade (2 anos, 16 anos, 40 anos).
esteje
– a forma é esteja.
estrear
novo – só se estreia o novo. Basta estrear.
extorquir
alguém – extorquir é arrancar. Não se arranca alguém. Arranca-se alguma coisa
de alguém: extorquir dinheiro de alguém, extorquir informações de alguém.
fazem
dois anos – fazer, na contagem de tempo, é invariável. Só se conjuga na 3ª
pessoa do singular: faz dois anos, fez cinco meses.
gratuíto
– gratuito se pronuncia como fortuito e circuito. O ui forma ditongo, sem
acento.
houveram
– no sentido de existir ou ocorrer, o verbo é impessoal. Só se conjuga na 3ª
pessoa do singular: Houve distúrbios. Houve três acidentes.
intermedia
– intermediar se conjuga como odiar: odeio (intermedeio), odeia (intermedeia),
odiamos (intermediamos), odeiam (intermdeiam).
interviu
– intervir deriva de vir: eu vim (intervim), ele veio (interveio), nós viemos
(interviemos), eles vieram (intervieram).
medio
– mediar se conjuga como odiar: odeio (medeio), odeia (medeia), odiamos
(mediamos), odeiam (medeiam).
meio-dia
e meio – meio-dia e meia (hora).
panorama
geral – todo panorama é geral. Basta panorama.
pequeno
detalhe – todo detalhe é pequeno. Basta detalhe.
plano
para o futuro – todo plano é para o futuro. Basta plano.
se
eu caber – se eu couber.
se
eu deter – se eu detiver.
se
eu pôr – se eu puser.
se
eu trazer – se eu trouxer.
se
eu ver – se eu vir.
seje
– a forma é seja.
subsídio
– pronuncie o s como em subsolo.
vítima
fatal – morto.
vou
estar mandando & similares – vou mandar, mandarei.
Gentilezas
Há
palavras que machucam. As impiedosas carregam tal carga de preconceito que a
simples referência a elas fere mais que punhaladas. Que tal ser gentil? Em vez
de aidético, diga pessoa com HIV. Em lugar de bêbado, prefira alcoólatra ou
alcoólico. Leproso e mongol? Nem pensar. Fique com pessoa com hanseníase e
pessoa com síndrome de Down. Melhor idade? É preconceito. Diga idoso ou a
idade: 65 anos, 80 anos, 100 anos.
Leitor
pergunta
Alguns
jornais têm o costume de usar a frase: “Fulano foi socorrido para o Hospital
João XXIII”. A regência está correta?
Sueli
Santos, BH
Ops!
Olhe confusão. Dá-se para socorrer a regência de encaminhar. O fulano foi
encaminhado para o hospital. Mas foi socorrido no hospital.
Recado
“Comumente
levo mais de três semanas a preparar um bom discurso improvisado.”
Mark
Twain
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BRASIL BUROCRÁTICO
País é o mais lento dos Brics para abertura de empresas
Apesar
de melhora de 20% em cinco anos, abrir negócio leva 120 dias
Estrangeiro
precisa dar endereço de companhia, mas que só pode sair após registro do
executivo no país FOLHA SP 15.02
-
O
tempo que se leva para abrir uma empresa no Brasil encolheu 20% nos últimos
cinco anos, mas segue entre os maiores do mundo, segundo dados do Banco
Mundial.
Os
atuais 119 dias de processo já foram 152 em 2007. Apesar da melhora, somente
quatro países exigem hoje mais paciência dos futuros empresários: Guiné
Equatorial (137 dias), Venezuela (141), República do Congo (160) e Suriname
(694 dias).
A
burocracia empurra o Brasil para o 179º lugar no ranking global com 183 países.
E em último entre os emergentes chamados Brics, grupo que inclui ainda Índia
(29 dias), Rússia (30), China (38) e África do Sul (19 dias).
O
Banco Mundial considera a maior cidade de cada país; no Brasil, São Paulo.
"Para
abrir uma empresa no Brasil, são necessários registros nas três instâncias
[federal, estadual e municipal] e, muitas vezes, é preciso esperar sair um
documento para pedir o outro", diz Jorge Zaninetti, advogado e sócio do
setor tributário do escritório Siqueira Castro.
Em
número de procedimentos, segundo o Banco Mundial, o Brasil exige 13 -menos que
os 17 de cinco anos atrás- para a abertura de uma empresa, como registro na
Receita Federal e na Junta Comercial, inscrição na Previdência Social e
obtenção do alvará municipal para funcionamento.
E,
na maioria das cidades, todos os pedidos são feitos separadamente em cada
órgão, o que contribui para deixar o processo mais lento e mais caro.
ESTRANGEIROS
"No
exterior, é comum que a inscrição da empresa seja feita em uma única instância,
que integra os procedimentos", diz Zaninetti. Na China, abrir um negócio
custa um sétimo do preço do Brasil.
De
acordo com o Banco Mundial, abre-se uma empresa com apenas um procedimento
legal no Canadá e na Nova Zelândia. Já a liberação sai em um dia na Nova
Zelândia, e em cinco no Canadá.
Se
a empresa interessada em se instalar no Brasil vier do exterior, o número de
procedimentos exigidos sobe para 15, pois envolve a regularização do executivo
estrangeiro no país e o cadastro da empresa no Siscomex (Sistema Integrado de
Comércio Exterior), da Receita Federal.
Para
o estrangeiro se tornar responsável pela futura empresa no Brasil, precisa,
primeiro, fornecer o endereço dessa companhia -que, por sua vez, depende do
registro do executivo no país para ser aberta.
Assim,
cria-se um "mercado" para resolver esse tipo de impasse, com
brasileiros entrando como sócios em uma fase inicial para que um endereço seja
informado e aceito. Depois que a empresa é aberta, altera-se o endereço.
"Muitas
vezes esse 'serviço' é oferecido por escritórios de contabilidade. Não é
ilegal, mas é cobrado", diz Martim Machado, sócio do escritório Campos
Mello Advogados. "É difícil para o estrangeiro entender como todo esse
processo é lento e complicado no Brasil. Ele não chega a desistir, mas precisa
rever e estender os prazos."
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MARCELO COELHO
Quando o cinema era "real"
"O
Artista" expõe a desgraça do antigo galã, esquecido com a chegada do
cinema falado
FOLHA SP 15.02
-
A
Academia de Hollywood gosta de contrariar, por vezes, sua preferência pelos
"filmões" ("Titanic", "O Poderoso Chefão",
"A Lista de Schindler" etc.). Dependendo do ano, há chances de uma
produção menos grandiosa, e até com alguma inovação, levar o prêmio de melhor
filme.
"O
Artista", de Michel Hazanavicius, talvez tenha ousadias demais para
concorrer com "Cavalo de Guerra", de Spielberg, e com outros
candidatos a melhor filme deste ano.
Como
se sabe, é um filme praticamente mudo do começo ao fim, imitando -até no uso
dos letreiros- o cinema dos anos 1920. Trata-se, o que é incomum, de uma
produção franco-americana. Não tem atores famosos no elenco.
Encerrado
o capítulo das ousadias, que não são poucas, "O Artista" conta apenas
uma clara e simpática história de amor intrépido e de orgulho punido. E
corresponde sobretudo a um velho hábito hollywoodiano, "oscarizável"
como poucos: o das homenagens ao próprio cinema.
No
caso, a homenagem é em grau duplo, porque "O Artista" se inspira
principalmente em "Cantando na Chuva" e "Crepúsculo dos
Deuses", dois filmes que, por sua vez, já eram sobre o cinema; mais
especificamente, sobre a passagem do cinema mudo para o cinema falado.
Ao
contrário desses dois filmes americanos, que afinal eram falados, a delicadeza
de Michel Hazanavicius, diretor e roteirista do atual concorrente ao Oscar, foi
a de fazer uma homenagem ao cinema mudo que fosse muda ela também.
"O
Artista" expõe (até um pouco longamente, a meu ver) a desgraça do antigo
galã, esquecido com a chegada do cinema falado. Mas leva ao extremo sua
simpatia pelo personagem, ressuscitando, "só para ele", o mundo em
que ele se sentia bem.
Mais
do que uma referência ao mundo do cinema, o filme celebra a capacidade que o
cinema tem de "criar o mundo" -a ponto de, num momento brilhante de
metalinguagem, surgir como pesadelo, como coisa irreal, um cotidiano onde
subitamente tudo se tornasse audível.
O
exercício de fazer um filme à moda dos anos 1920, com citações em penca até na
trilha musical, corre o risco de maravilhar o espectador no começo, e cansá-lo
da metade em diante.
Mas
aos poucos a ideia da "recriação do mundo" pelo cinema se fortalece.
Passamos a acreditar num tipo de personagem, num gênero de amor, numa espécie
de comportamento edificante, que só faziam sentido nos tempos de Rodolfo
Valentino. Ou será que não? O elogio do amor eterno, que vai do cachorrinho e
do motorista ao coração da mocinha, é também metáfora de outra fidelidade -a
fidelidade ao cinema. E quando o ator decadente, em crise alcoólica, incendeia
rolos e mais rolos de celuloide, talvez o lado mais francês de "O
Artista" se revele.
O
filme faz o discurso fúnebre da filmagem em película, com atores de carne e
osso, face ao advento das câmeras digitais e das animações.
A
cinefilia, paixão francesa por excelência, já foi ato de vanguarda, com a
nouvelle vague dos anos 60. Era uma vanguarda esquisita, por gostar do cinema
americano; mas era vanguarda.
A
cinefilia ganhou o mundo, pelas mãos americanas, com os remakes, citações e
pastiches dos anos 1980. A voga "retrô" é agora não mais apenas
celebrada, mas "vivida" em "O Artista", como se pudéssemos
entrar dentro da tela, e não mais sair de lá, enquanto a realidade, esta, a
cada dia se torna mais digital, mais cheia de efeitos, mais inconfiável do que
nunca.
PS
- No artigo de 7/12, sobre o livro "Confie em Mim, Eu sou o Dr.
Ozzy", referi-me aos sustos e doenças que o roqueiro Ozzy Osbourne
experimentou, em função de seu abuso de drogas. Ele escreve que chegou a
"receber positivo num exame de HIV (meu sistema imunológico havia sido
derrubado pela bebida e pela cocaína, não pelo vírus)." Reproduzindo essa
ideia, escrevi: "Ele chegou a dar positivo num exame de HIV, tão baixa a
sua imunidade".
Sem
ser médico, não me dei conta de que com isso poderia dar a impressão, a
soropositivos ou não, de que a presença de uma simples queda na imunidade é
sintoma que se confunda com a presença do vírus da Aids. Uma coisa é uma coisa,
e outra coisa é outra coisa -e se Ozzy deu "positivo" para vírus de
Aids, tratava-se de equívoco no diagnóstico, como o próprio roqueiro diz no
livro.
coelhofsp@uol.com.br
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