domingo, 12 de fevereiro de 2012


EDITORIAL DA FSP  .  Estado da educação
Enem, currículo mínimo, ensino infantil e qualificação de professores são os desafios que Mercadante encontra no MEC como legado de Haddad
A troca de ministros na pasta da Educação renova oportunidades e temores quanto ao setor apontado como o mais estratégico para o desenvolvimento do país. FOLHA SP 12.02

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Após seis anos e meio, Fernando Haddad deixou o MEC em janeiro para candidatar-se a prefeito de São Paulo pelo PT. Foi o terceiro ministro que mais tempo permaneceu no cargo. Perde só para Paulo Renato Souza (1995 a 2002) e Gustavo Capanema (1934 a 1945).

Nos padrões brasileiros, foi tempo suficiente para deixar alguma marca, e Haddad o fez. Qualquer análise do que acontece na educação, no entanto, precisa considerar que sucessos e fracassos de hoje resultam, principalmente, da acumulação de erros e acertos no passado.

O descaso histórico com o setor não poderia resultar em diagnóstico diverso do formulado pelo movimento Todos Pela Educação, que mostra apenas 11% dos formandos do ensino médio com nível de aprendizado adequado em matemática e 8% da população entre 4 e 17 anos fora da escola.

No entanto, mesmo diante de fotografia tão lamentável, é urgente evitar a autoflagelação estéril.

Os indicadores nacionais e internacionais de avaliação mostram que houve alguma melhoria na qualidade da educação, especialmente no começo do ensino fundamental. O Ideb, índice que combina numa escala de 0 a 10 o desempenho dos alunos e as taxas de aprovação, aumentou 0,8 ponto. Foi de 3,8 para 4,6 -ainda uma nota vermelha- no antigo primário, entre 2005 e 2009.

Os últimos resultados do Pisa, um exame internacional padronizado, mostram que se reduziu a distância diante dos países desenvolvidos, mas o abismo permanece. O país é o 53º colocado numa lista de 65 nações comparadas, e um jovem de 15 anos na escola está, em média, dois anos atrasado em proficiência de leitura, na comparação com estudantes da mesma idade em países ricos.

É preocupante a quase estagnação do ensino médio no país. Além de ser o setor em que menos se avançou, é também um nível de ensino cujo acesso ainda não foi universalizado, pois quase metade dos jovens de 15 a 17 anos estão ausentes de suas salas.

Melhorar o desempenho médio dos alunos, ao mesmo tempo em que os jovens pobres sejam incluídos na etapa final do ensino básico, é um desafio que exigirá esforço maior do que o realizado até agora.

As marcas mais visíveis deixadas por Haddad foram a criação do ProUni, que deu 920 mil bolsas para jovens frequentarem a universidade, a eleição de metas de qualidade no ensino básico, a serem atingidas em colaboração com municípios e Estados, e a ampliação do investimento público em educação, de 3,9% para 5% do PIB.

Acertou também ao dar continuidade a políticas herdadas do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Foi o caso da distribuição e da avaliação de livros didáticos, das avaliações educacionais e do Fundef, fundo de financiamento do ensino fundamental ampliado em 2007 para abranger também a educação infantil e o ensino médio, depois rebatizado como Fundeb.

Deixa para o seu sucessor, o também petista Aloizio Mercadante, vários e enormes problemas por resolver. O mais notório é o Enem. Trata-se de uma boa ideia, que deveria ajudar a nortear o ensino médio, mas que se revelou um verdadeiro fiasco, com sucessivas falhas.

É também imperioso avançar na formulação de um currículo mínimo nacional, que, ao contrário dos parâmetros curriculares atualmente em vigor, seja preciso e enxuto. Os professores de hoje carecem de orientações claras sobre o que a sociedade espera que os alunos aprendam em cada série.

Dar mais recursos ao ensino infantil, ampliar programas para reciclar e pagar melhor os docentes, reformar currículos de cursos universitários de formação de professores -eis alguns dos outros desafios que precisam de mais atenção do governo federal. A União tem a responsabilidade de liderar Estados e municípios nessa matéria.

Os desafios são muitos, mas o atual e os futuros ministros da Educação contarão com uma ajuda preciosa da demografia. Nos últimos 30 anos, a queda nas taxas de fecundidade levou à diminuição do número absoluto de crianças nascidas a cada ano. Isso facilitará a inadiável tarefa de aumentar os investimentos per capita na infância.

Além do mais, os alunos que hoje ingressam nas escolas são filhos de mães com maior instrução. Em 1981, apenas um quarto das mulheres em idade fértil tinha completado o ensino fundamental. Em 2009, a proporção passou a ser de 70%.

Como essa é uma das variáveis de maior impacto no desempenho do aluno, isso significa que, pela própria inércia demográfica, há condições para dar um salto no aprendizado. Mas, para que o futuro nos aproxime das nações desenvolvidas, os governantes do presente precisam agir com o discernimento de quem enxerga muito além do calendário eleitoral.
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Livro explora reação às novas tecnologias
Em "O BlackBerry de Hamlet", William Powers propõe busca por "um equilíbrio entre vidas digitais e não digitais"
Historiador e jornalista, autor recorre a Sócrates e a Shakespeare para abordar transições para períodos mais modernos FOLHA SP 12.02
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Na peça de Shakespeare, quando o fantasma do pai pede que se lembre dele, Hamlet promete apagar todos os registros "da tábua da minha mente" para se concentrar na memória do pai -e na vingança de sua morte.

A tábua, "table" no original, é "O BlackBerry de Hamlet", título do livro de William Powers que sai no Brasil um ano e meio após entrar para os mais vendidos do "New York Times", nos EUA.

Powers, formado em literatura e história pela Universidade Harvard, busca saídas para limpar a mente do excesso de informação que a tecnologia trouxe com computadores e internet, hoje.

Mas nega ser um ludita -como é descrito o movimento que reagiu às máquinas nas fábricas têxteis inglesas, no século 19. "Não, não", diz, em entrevista por telefone.

No livro, ele explora historicamente como foram as primeiras reações a várias revoluções tecnológicas e como é possível fazer a transição sem que o homem seja sufocado pela nova tecnologia.

No caso de Hamlet, em meio ao excesso de informação trazido pela invenção da imprensa, Shakespeare recorre a um equipamento recém-lançado e que era febre em Londres na virada do século 16: uma prancheta com novo papel que permitia apagar o que fosse escrito.

O título surgiu quando Powers visitou uma exposição de tábuas da época, na Folger Shakespeare Library, em Washington. Daí o enunciado irônico, comparando-as a um aparelho BlackBerry ou iPhone.

"O BlackBerry de Hamlet faz paralelo com o nosso tempo. Era uma invenção que as pessoas amavam e na qual eram viciadas, durante uma revolução tecnológica."

Mas não era uma invenção que trazia mais informação, pelo contrário.

"Usava uma tecnologia, a escrita à mão, que as pessoas pensavam que morreria na era da imprensa. E que se tornou mais útil, num tempo em que as pessoas se sentiam oprimidas por todos aqueles impressos empilhados ao seu redor. Elas podiam escrever algo temporariamente e fazer com que desaparecesse."

EQUILÍBRIO

A mesma contradição entre abraçar o excesso de informação e sobreviver a ele é explorada em passagens de outros autores clássicos.

Abrindo o livro, é exposta no diálogo "Fedro", de Platão. O texto mostra "o amor de Sócrates pela cidade e pela comunicação oral" em contraste com Fedro, que "entende, mas precisa de alguma distância da conectividade", ou seja, da cidade, "para fazer algo de útil com ela".

Mostra também como "Sócrates é cético com a novíssima tecnologia que chegou, a palavra escrita", descreve

Powers, em contraste com o próprio autor, Platão, "que, é claro, decidiu usar a tecnologia que Sócrates condena para registrar o diálogo".

O que Powers sugere, diante da revolução de hoje, é buscar "um equilíbrio entre as nossas vidas digitais e não digitais", para poder "trazer as nossas próprias conclusões e conexões" ao ambiente digital. Não propõe um aparelho, mas simplesmente "desconectar-se", resguardar alguma vida sem acesso digital, o fim de semana, talvez.

Mas ele próprio já está de volta ao turbilhão tecnológico. Com o livro, Powers havia se afastado da cobertura de mídia e cultura, à qual se dedicou por duas décadas, no "Washington Post" e depois no "National Journal".

Agora se uniu a Deb Roy, professor e diretor do grupo de Máquina Cognitivas do MIT (Massachusetts Institute of Technology), em uma "startup" que vai "identificar padrões e extrair significados da conversação de mídia social" durante a campanha presidencial americana.

"É uma tentativa de ir mais fundo, como eu escrevo no livro, de levar a tecnologia para lugares mais profundos", descreve Powers.

O BLACKBERRY DE HAMLET
AUTOR William Powers
EDITORA Alaúde
TRADUÇÃO Daniel Abrão
QUANTO R$ 34,90 (232 págs.)

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Coleção destaca crenças e templos do Brasil
Quinto volume da série reúne importantes fotografias tiradas no país entre 1860 e 1960 FOLHA SP 12.02


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Primeiro havia apenas as religiões indígenas. Com a chegada dos portugueses, difundiu-se fortemente o catolicismo, ainda hoje predominante no Brasil.

Nos séculos seguintes, também chegaram ao país as crenças de origem africana e, mais à frente, imigrantes trouxeram o judaísmo e o budismo, entre outras.

Assim como o povo brasileiro é diverso em suas origens, cores e etnias, ele é também plural na religiosidade.

É dedicado às mais diferentes manifestações de fé dos brasileiros o quinto volume da Coleção Folha Fotos Antigas do Brasil, "Crenças e Templos", nas bancas no próximo domingo, dia 19.

O livro, que reúne importantes imagens feitas entre 1860 e 1960, é dividido em quatro partes temáticas: "Cristianismo", "Rituais de Origem Africana", "Outras Religiões" e "Templos".

Cada uma delas traz fotografias de grandes nomes como Vincenzo Pastore, (1865-1918), Marcel Gautherot (1910-1996), Pierre Verger (1902-1996), Guilherme Gaensly (1843-1928) e Marc Ferrez (1843-1923).

A coleção, dedicada a apresentar algumas das fotografias mais importantes feitas no país entre 1840 e 1960, traz 20 volumes organizados de forma temática.

A série, que procura mostrar grandes acontecimentos e cenas do cotidiano, é um registro ilustrado da história do país -uma história da sociedade, do cotidiano, da economia e da política, contada por intermédio da fotografia.

As cenas foram captadas com maestria pelas lentes de fotógrafos renomados e anônimos que entraram para a história como testemunhas oculares e protagonistas da consolidação da fotografia como arte no Brasil.

As cerca de 900 imagens que compõem a coleção fazem parte dos principais acervos do país, como o Instituto Moreira Salles (apoiador da coleção), o Arquivo Público do Estado de São Paulo, a Fundação Pierre Verger, o Museu Paulista da USP e a Biblioteca Nacional.
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Reino Unido celebra bicentenário do escritor Charles Dickens
O Reino Unido celebrou na última terça-feira, dia 7, o bicentenário de Charles Dickens (1812-1870), novelista que retratou as transformações sociais da era industrial e que descreveu a vida na maior metrópole da época, a cidade de Londres. FOLHA SP 12.02


Portsmouth, onde o autor nasceu, teve festas de rua. Londres, onde passou a maior parte da vida, teve cerimônias na abadia de Westminster, onde Dickens foi enterrado, e na catedral de Southwark.

Uma das casas em que morou, a única remanescente, na região central de Londres, hoje abriga o Museu Charles Dickens, que recebeu a visita do príncipe Charles e de sua mulher no dia 7.

O autor também é tema de uma exposição no Museu de Londres, que leva o título "Dickens e Londres" e fica em cartaz até o mês de junho.

Ali, o visitante poderá contemplar manuscritos originais de obras como "David Copperfield" e "Grandes Esperanças" ou a primeira edição de "Um Conto de Natal", cujo protagonista, o ranzinza Ebenezer Scrooge, foi eleito o personagem mais popular de Dickens por uma pesquisa da editora Penguin.

Objetos da época, mapas e telas relacionadas ou inspiradas em suas obras completam a exposição.

Ao fim das cinco galerias, é exibido um curta-metragem sobre a vida à noite em Londres, uma homenagem ao notívago Dickens, que, insone, tinha o hábito de caminhar pelas ruas da cidade durante as madrugadas.

TRAJETÓRIA

Jornalista no início da carreira, soube retratar em seus livros os diversos dialetos e sotaques que faziam parte da sociedade vitoriana, além de mostrar suas injustiças.

Ele tinha conhecimento de causa para tanto: aos 12 anos, com o pai preso por conta de dívidas, começou a trabalhar em uma fábrica de graxa para sapatos, local escuro e de condições degradantes.

A compaixão pelos pobres se tornou uma das marcas de seu trabalho. Para o príncipe Charles, em comunicado oficial, "apesar dos muitos anos que se passaram, Dickens segue um dos maiores autores de língua inglesa, alguém que usou seu gênio criativo para advogar apaixonadamente por justiça social".

Claire Tomalin, autora da biografia "Charles Dickens - Uma Vida", publicada no fim do ano passado, escreveu no jornal "Guardian" uma carta celebrando o aniversário.

No texto dirigido ao escritor, Tomalin especula sobre como ele reagiria às mudanças tecnológicas do século 21 e diz que a desigualdade por ele retratada permanece.

"Você veria o mesmo abismo entre os ricos, tranquilamente aproveitando seu dinheiro e poder, e os pobres, dependendo da comida descartada pelos mercados, de doações e temendo por seus empregos."

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Vagabundo eterno
Autor de livro sobre a trajetória do ícone criado pelo cinema fala ao Correio e destaca como Charlie Chaplin permanece atual CORREIO bsb  12.02
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Mesmo quando estava no orfanato, quando perambulava pelas ruas tentando achar o que comer para conseguir sobreviver, mesmo nesses dias, eu pensava em mim mesmo como o maior ator do mundo”, assim se definia Charles Spencer “Charlie” Chaplin (1889-1977), cuja arte atravessa três séculos incólume e atual. Declarações como essta, inúmeros documentos e dezenas de fotos estão no livro recém-lançado no Brasil Chaplin — Uma biografia definitiva, do crítico e pesquisador britânico David Robinson.

Como se passasse um escâner na vida do maior ícone do cinema, o principal biógrafo de Charlie Chaplin traça em detalhes a trajetória solitária, cheia de polêmicas e de poesia do menino pobre que sempre buscava a perfeição, mesmo que ela chegasse à dor física. David Robinson, 81 anos, especialista em cinema mudo, considera Chaplin um sobrevivente: o pai alcoólatra, a mãe com graves problemas mentais e um lar desfigurado são ingredientes para uma tragédia, mas o menino franzino optou pela comédia. Nesta entrevista exclusiva ao Correio, Robinson fala de Carlitos e dos rumos do cinema atual.

Entrevista - David Robinsom

O que levou o senhor a investir em uma biografia de Chaplin?
Meu pai era um entusiasta de Charlie Chaplin. Quando eu era criança, sempre que havia um filme de Chaplin em cartaz — novo ou velho — meus pais me levavam. Além disso, desde cedo me interessei pela arte popular — circo, music hall, cabaré, comédia… ou seja, qualquer tipo de expressão que alcançasse o maior número de pessoas. E a obra de Chaplin é o melhor exemplo disso. Sempre quis escrever sobre ele, mas havia tantos livros sobre o artista, parecia que tudo já havia sido dito. Porém, no fim de sua vida, encontrei com ele uma ou duas vezes, e expliquei meu desejo. Depois que ele morreu, sua viúva, Oona, disse que eu poderia ver os arquivos em Vevey (Suíça), pois ninguém naquela época tinha sido autorizado a ver. Então, finalmente, eu tinha algo novo para colocar em um livro. Foi irresistível.

O que, na sua opinião, foram as principais qualidades e defeitos de Chaplin?
Bem, para mim, ele realmente não tem defeitos. Conheço um monte de gente, particularmente os ingleses, que dizem que ele é muito sentimental. Pessoalmente, acho que é porque eles (especialmente os britânicos) são demasiadamente cínicos. E você não pode ser cínico e amar Charlie Chaplin — as duas coisas não andam juntas. Um exemplo é o simbólico discurso feito em O grande ditador.  Charlie realmente sai do personagem e fala seus próprios pensamentos apaixonados sobre o que estava errado com o mundo. Quando o filme saiu, em 1940, a esquerda política disse que o discurso era ingênuo, a direita ressaltou que era propaganda marxista perigosa. Quando assistimos ao discurso hoje, parece mais revelador do que nunca, com frases maravilhosas como “A cobiça envenenou a alma dos homens”. Se você ver o que está acontecendo hoje, perceberá que o discurso dele está ainda atual. É grande!

Em seu livro, Hannah, mãe de Charlie Chaplin, desempenha um papel decisivo na ida do filho ao palco. Além de Hannah, que artistas que você citaria como responsável pela formação do “Little Tramp” Chaplin?
Acho que a grande influência sobre Chaplin era o próprio Chaplin. Ele passou os primeiros 10 anos de sua vida em condições de grande pobreza nas ruas de Londres. Ele testemunhou a morte, e a loucura e o alcoolismo, sofreu com fome e a vida em orfanatos. Aos 10 anos, tinha visto a parte mais triste da vida do que a maioria das pessoas. A maioria das crianças teria desistido e morrido em tais circunstâncias. Mas Chaplin sobreviveu e, em seguida, passou a trabalhar como artista. Jogou tudo isso nos palcos com sua forma de expressão: a mímica e a comédia. E o que ele expressou foi a vida como ele sabia — em todas as suas profundezas da comédia e da tragédia — como sempre dizia: as duas estão muito próximas. É claro que uma parte muito importante da sua formação foi quando conviveu com o disciplinado Fred Karno e seu esquetes.

Já famoso, Chaplin teve acesso a informações sobre o cinema falado 10 anos antes dessa tecnologia dominar o mercado. Por que ele não investiu nessa nova experiência? Descaso, talvez?
 Descaso não, pois ainda não era um bom negócio. Ele tinha construído sua fama com o personagem clown, que era conhecido em todo o mundo — todo o mundo, porque a sua linguagem era universal: a mímica. Se o Little Tramp começasse a falar — e falar em inglês — sua plateia no mundo teria um choque. Ele também pensou: todo mundo tinha sua própria fantasia de como era a voz do Vagabundo, apenas por meio das músicas e dos efeitos sonoros, e isso foi capaz de prolongar o cinema mudo — consequentemente, Vagabundo — por oito anos após a chegada do som. E, quando finalmente decidiu que era hora de abandonar o Vagabundo e tentar novos temas, ele lidou com o som muito bem.

A postura política de Chaplin preocupava os grandes estúdios e até mesmo o governo dos EUA. Hoje não há artistas que enfrentam o establishment, por quê?
Chaplin, por sua natureza, fez filmes sobre os excluídos, o que era muito suspeito para a direita americana e muito atraente para a esquerda. Então, os amigos de Chaplin eram principalmente as pessoas de esquerda, o que o fez ainda mais um objeto de suspeita pela direita. Ele era particularmente detestado por J. Edgar Hoover, que gastou uma fortuna de dinheiro do FBI tentando provar que Chaplin contribuiu para causas comunistas — o que o artista nunca fez.

Por  que, na opinião do senhor, a arte de Chaplin continua atual?
Porque está sempre ligada às questões mais fundamentais do ser humano: problemas, desafios, tristezas, alegrias verdadeiras e simples. Sua arte não está presa a uma época particular (e lembre-se: ele começou a trabalhar no palco no século 19). Temas de Chaplin são fundamentais e eternos.

Cada vez mais, o poder de Hollywood ocupa espaço no cenário mundial. Isso é saudável? Os diretores europeus estão sendo seduzidos pela estética norte-americana?
       É claro que isso é um desastre com o qual vivemos. Hollywood domina as bilheterias em todos os lugares. O seu poder econômico impede que outros cinemas nacionais sejam competitivos. Talentos fora de Hollywood irão ocasionalmente acontecer e até rivalizar com os filmes americanos, mas não serão suficientes para uma mudança.

Novas tecnologias, como 3D, vieram para ficar? Haverá uma transição drástica,como o fim do cinema mudo?
Bem, o 3D não é uma tecnologia tão nova. Houve ondas 3D no cinema do século passado. A maior foi em 1950, quando o cinemascope e o 3D foram trazidos para combater a ameaça da televisão. Mas, na verdade, o 3D sempre provou ser uma forma temporária, e depois de alguns meses ou um ano ou dois se desvanece, afastado-se até a próxima vez. O problema é que o 3D é uma tecnologia muito antiga, e ainda cara, além da questão de sempre ter de distribuir óculos para o público. (Havia uma vez, temporariamente, um sistema russo que não usava óculos, mas não funcionou muito bem). Eu diria que em dois anos as pessoas terão esquecido o 3D novamente. . . até a próxima vez.

           

De David Robinson. Editora Novo Século. Tradução de Andrea Mariz. Número de páginas 792.
Preço: R$ 79,90.


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O QUE ELES PENSAM - ANA MARIA MACHADO »
"A ABL reflete o seu tempo"
Recém-eleita presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), Ana Maria Machado não considera a instituição  conservadora e, sim, mantenedora de um quinhão substancial da memória cultural nacional. Nesta conversa com o Correio, a escritora defende a efetiva união entre poder público, escola e professor para reduzir a deficiência do ensino. Fala também sobre os anos de ditadura e como ela tinha de enfrentar os censores quando era jornalista: %u201CAprendi que a censura cresce no anonimato, como toda forma de covardia%u201D. CORREIO bsb  12.02


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O que a senhora acha da maneira política como a ABL concede as cadeiras? Considera isso 
um problema?
Desculpe, mas essa premissa parte de um equívoco: a ABL não concede cadeiras. Os candidatos se inscrevem livremente e concorrem a elas. Para se candidatar a uma cadeira da Academia, basta ser brasileiro nato e ter escrito pelo menos um livro, conforme estabelecido nos estatutos da Casa. Qualquer um nessas condições pode pleitear um lugar nela, quando houver vaga. Aquele que obtém a maioria absoluta dos votos está eleito. O critério de escolha é de cada acadêmico, inexistindo qualquer maneira institucional de orientação que não seja a preferência de cada um.

É possível modernizar a instituição? De que forma? E o que seria modernizar a ABL na sua concepção?
A Academia sempre refletiu seu tempo. Nos dias atuais, ela tem procurado manter-se atenta à velocidade dos acontecimentos e das circunstâncias. Na nossa gestão, a dinâmica dos últimos anos será mantida, com as indispensáveis e compreensíveis adaptações. Mas convém lembrar também que a ABL é uma instituição (aliás, uma das mais antigas instituições culturais brasileiras) e, por isso, é naturalmente mais lenta que um indivíduo. Não tem, nem lhe compete ter, o dinamismo dos movimentos de vanguarda, que fazem avançar tendências por meio de tentativas e erros, e que lançam ou seguem modismos. Sua função é mais de preservação do que de lançamento. A cultura de uma sociedade engloba esses dois tipos de agentes e precisa que ambos existam — o do experimentalismo e o da experiência. Ou, em outras palavras, o da transitoriedade da moda e o da permanência. A ABL representa muito mais a segunda opção que a primeira. Encarna experiência e permanência, embora não se feche às novidades. Mas diante do dilema, a tendência é girar pelas cercanias do verso de Drummond: “E como ficou chato ser moderno, agora serei eterno”.

A ABL ainda é uma instituição muito conservadora? Em que sentido?
Se você considerar “conservadora” como “mantenedora”, a ABL é, sim, uma instituição mantenedora de parte substancial da memória cultural nacional, mantenedora de suas tradições e da excelência de sua atuação. Se por “conservadora” estiver sugerindo uma casa estagnada, ela está muito longe disso. Trata-se de uma instituição dinâmica, afinada com a contemporaneidade. Sua administração recorre a meios modernos. O setor de lexicografia mantém na internet seu tira-dúvidas, A ABL responde, um serviço de utilidade pública. É uma instituição antenada com o que considera não ser apenas um modismo passageiro e efêmero. Mas não é inovadora nem pretende ser, na medida em que não cria nem lança propostas culturais. Como expliquei antes, se o objetivo for descobrir o último grito ou o hit das paradas, a busca deverá ser feita em outro lugar — e há muitos excelentes neste país jovem, inquieto e novidadeiro. Com alguns deles fazemos parcerias ocasionais. Mas seria até ridículo um grupo de quarenta pessoas entre 60 e 95 anos pretender exercer esse papel.

Falta cultura popular na ABL? Por que ela não está representada?
Não falta. A ABL é hoje um dinâmico Centro Cultural do Brasil e oferece ao público uma variada e intensa oferta de serviços culturais (que, recentemente, tem discutido de feiras populares a HQ, de grafite a cordel, e apresentado os mais variados espetáculos). Além disso, temos uma visão ampla de cultura, não necessariamente segmentada e pulverizada por etiquetas. Procuramos privilegiar a cultura criadora individualizada. E, como explica o acadêmico Alfredo Bosi em seu livro Dialética da colonização, só essa cultura criadora individualizada é capaz de amorosamente fundir elementos da cultura erudita com a popular e a cultura de massa. Basta ver o que fizeram em suas obras acadêmicos como Manuel Bandeira, Dias Gomes e Jorge Amado entre os que nos precederam, ou Ariano Suassuna e João Ubaldo Ribeiro, atualmente, para nos darmos conta da força dessa presença.

A senhora estudou artes plásticas, chegou a iniciar uma carreira de pintora, mas desviou para a literatura. O que resta daquela pintora na escritora de hoje?
Optei por privilegiar as palavras, mas continuo pintando até hoje.

O que a senhora, que já foi professora, acha necessário para impulsionar a educação o Brasil?
Apesar dos muitos avanços, a educação no Brasil, em todos os níveis, continua muito deficiente — e as estatísticas recentes são bem a prova disso. Sempre propus uma transformação que envolva fundamentalmente o trinômio poder público/escola/professor. Sem que nos empenhemos por ações efetivas que mobilizem recursos de toda ordem no sentido de mudar o atual quadro, não devemos contar com melhorias no curto prazo. 

O que significa uma mulher presidir a ABL pela segunda vez em duas décadas?
Significa, sobretudo, muito trabalho e um desvio de minhas funções de escritora. E não creio que haja nada diferente nesse peso pelo fato de eu ser mulher. Na verdade eu não queria o cargo, inicialmente. Sou uma pessoa que escreve por necessidade. Além disso, publico muito. Não houve uma articulação para eu ser a presidente. Mas, por rodízio, acabei sendo a candidata, eleita por unanimidade, o que me honra muito, envaidece, claro, mas também significa uma grande responsabilidade, de que farei o máximo esforço para dar conta.

Como era lutar contra a censura nos anos de chumbo da ditadura?
Era uma guerrilha cotidiana, que buscava ser sutil e inteligente. E exaustiva, frustrante. Principalmente porque dirigi o jornalismo da Rádio JB por sete anos e minha experiência foi sobretudo com radiojornalismo — o último nicho a ver abolida a censura prévia, muito depois que ela foi suspensa para a mídia impressa, mas continuou atuando sobre rádio e televisão, serviços concedidos pelo governo e sujeitos à cassação sumária da licença se desrespeitassem as proibições. E prisão para o jornalista desobediente.

E como era feita a censura?
As ordens vinham por telefone. Diariamente, a qualquer hora, o telefone podia tocar com uma nova proibição. Tentei institucionalizar alguns procedimentos mínimos de segurança, pedindo o nome do agente e o telefone de onde ele estava chamando. Somente após chamarmos de volta e conferirmos que não era trote, considerávamos a ordem recebida. Também anotávamos o nome de quem a recebera e o horário. A proibição era então escrita, pendurada num mural e uma cópia dela era arquivada. Era uma tentativa rudimentar de atribuir alguma responsabilidade à proibição, mas nada nos garantia de nada. Houve casos em que as autoridades disseram que haviam telefonado proibindo, sem que tivéssemos recebido qualquer telefonema. Uma palavra contra a outra. Mas, minimanente, tratava-se de estabelecer alguma regra — e os agentes concordaram com isso. De certo modo, também era uma garantia deles diante de seus superiores. Aprendi assim que a censura cresce no anonimato, como toda forma de covardia. Bastaram esses cuidados para que diminuísse o número de proibições recebidas. Mas nem por isso deixaram de ser diárias e plurais. As proibições atingiam os mais variados assuntos e não apenas a área política ou policial.

Um grande desgaste…
Eu nunca tinha trabalhado dessa forma. Por um lado, ficava indignada com essa pressão para fazer de minha profissão o contrário do que ela deveria ser, nos proibindo de informar o público e noticiar os fatos. Por outro lado, decidi não facilitar o trabalho da censura e não conceder a essa violência nem um milímetro de território além do inevitável, que ela nos impunha. Assim, sempre deixei muito clara minha posição aos mais de 30 jornalistas que eu chefiava. Eles entenderam e, desse modo, conseguimos ter um espírito de equipe entranhado e valente. Estávamos vivendo com uma censura prévia que nos impedia de publicar nosso texto. Não deixaríamos nunca que isso se transformasse numa autocensura que nos impedisse de apurar as notícias ou de redigi-las. Era uma equipe maravilhosa, muito jovem, saindo dos bancos universitários, e que topou trabalhar nessas condições. Essa decisão nos custava muito, mas garantiu atravessarmos esses anos com coragem e dignidade, de cabeça em pé. Significava trabalhar em dobro, inutilmente. Em alguns casos, entre 70 e 80% do que tínhamos preparado não podia ser aproveitado — e isso implicava ter sempre de reserva algum material para substituir o que não podia ir ao ar.  (...) Sabíamos que a maior parte do que produzíamos iria para a cesta de papéis. Era muito frustrante. Mas tinha a vantagem de podermos nos orgulhar por não estarmos colaborando com a ditadura.


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ORÇAMENTO »  Show de gastos
As administrações regionais torraram no ano passado R$ 35 milhões em eventos, festas e homenagens. O valor é 62% maior que todo o dinheiro aplicado em obras de infraestrutura nas 30 cidades do DF. População reclama da má gestão do orçamento CORREIO bsb  12.02

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Herik Leite reclama da buraqueira em Taguatinga

A análise fria do orçamento de 2011 indica que as cidades do Distrito Federal são um paraíso onde as demandas pela ação do Estado podem ficar em segundo plano. É o que revelam balanços contábeis de gestão. Um levantamento global aponta as prioridades no ano passado: shows e festas. Juntos, os 30 administradores regionais aplicaram R$ 35 milhões em eventos, shows e homenagens. Enquanto isso, o montante investido em calçadas, adaptações de urbanização para portadores de necessidades especiais, pavimentação, iluminação ou construção de parques e áreas de esporte equivaleu a apenas 61% do total destinado à festança. Nessas obras permanentes, o governo gastou R$ 21,6 milhões dos recursos destinados à livre utilização dos administradores.

Apesar do clima de festa, ao visitar as cidades é possível constatar que não há motivos para comemorar. Em quase todas as edições do Diário Oficial do DF do ano passado, há publicações de contratos das administrações regionais para a realização de eventos sem licitação. Apenas três empresas do ramo faturaram, juntas, R$ 30,7 milhões. Nesse quesito, algumas cidades se destacam. É o caso de Taguatinga. Em 2011, a administração destinou R$ 7,7 milhões em homenagens e festividades, seis vezes mais do que o montante destinado a obras e instalações. Dos R$ 5,2 milhões destinados à empresa Cadu Eventos Ltda., R$ 3,6 milhões saíram da administração de Taguatinga, para organização de festas.

No entanto, no que se refere à infraestrutura, a cidade convive com vários problemas. Na Vila Dimas, por exemplo, os moradores reclamam dos buracos nas ruas, dos bueiros entupidos, do mau cheiro provocado pelo esgoto e do desnível da pista que exigiria uma drenagem pluvial. “Os carros precisam andar até na contramão para desviar dos buracos. A gente reclama na administração regional e a resposta é que a responsabilidade é da Novacap. Lá, dizem que é atribuição da administração”, afirma o comerciante Herik Leite.
           
Paulo Munuera, do Cruzeiro: sinais de abandono

No Cruzeiro, há uma reivindicação por melhorias no complexo esportivo, hoje gerenciado pelo clube de futebol da cidade, o Cruzeiro Esporte Clube. Muitas obras, no entanto, são indefinidamente postergadas. Uma quadra de esportes está abandonada. Mesmo assim, a administração regional preferiu apostar em eventos. No total, gastou 15 vezes mais em festividades do que com obras simples que poderiam levar mais benefícios à população.

O preparador físico Paulo Munuera explica que há necessidade de revitalizar a área. “A grama está alta, a pintura, desgastada”, descreve. Em infraestrutura, a liberação foi de R$ 240,7 mil. Só com a Festa do Meio Ambiente, em novembro do ano passado, o gasto foi de R$ 79,9 mil. A contratação de bandas para a Revitalização Cultural pelo Samba consumiu R$ 43 mil. Uma despesa aqui e outra ali e o montante chegou a impressionantes R$ 3,6 milhões.

Suprapartidário
O Cruzeiro é um reduto petista. Mas a política de eventos não é restrita ao PT. São Sebastião também é um exemplo da farra. Indicada pelo deputado Agaciel Maia (PTC), a administradora Janine Rodrigues Barbosa aplicou no ano passado R$ 3,7 milhões em shows de bandas para eventos como o 10º Forró Fest, no aniversário da cidade, e a 17ª Exposição Agropecuária. Em obras, foi gasto pouco mais da metade desse valor, o equivalente a R$ 2 milhões.

A Administração do Núcleo Bandeirante foi outra a fazer a festa em 2011. Gastou R$ 1,2 milhão com o aniversário de 55 anos da cidade, comemorado em dezembro. A celebração consumiu R$ 33 por morador. No ano passado, a cidade aplicou R$ 1,6 milhão em festividades, quatro vezes mais do que com a urbanização, que recebeu R$ 416 mil. Enquanto isso, os habitantes da histórica cidade cobram ações de segurança pública. A Paróquia São João Bosco, uma das mais tradicionais do DF, foi roubada duas vezes nos últimos meses. Os ladrões entraram em busca do mesmo artigo: um espelho.

No Varjão, a administração também priorizou os eventos. Aplicou R$ 192 mil para a realização do Arraiá do Varjão. O dobro do que investiu em uma nota de empenho de R$ 97 mil destinada à implantação de calçamento nas quadras e nos conjuntos da cidade, em agosto. O montante destinado a festas chegou a R$ 1,1 milhão, enquanto em obras de infraestrutura foram R$ 632,8 mil. No Gama, a farra foi ainda maior. Não houve qualquer centavo da própria administração destinado à urbanização da cidade. Mas o órgão não economizou em festividades. Foram R$ 369,4 mil.


Distritais alteram a destinação
Em nota, a Secretaria de Comunicação informou que não é orientação do GDF, por meio da Coordenadoria das Cidades — órgão ligado à Secretaria de Governo —, promoção de eventos nas administrações regionais. “A orientação é investir em estrutura e melhorias para a população local. Ocorre que grande parte dos recursos investidos pelas administrações regionais em eventos são objeto de emendas parlamentares, o que engessa a aplicação do recurso repassado”, diz a nota. A secretaria informou ainda que muitos investimentos em infraestrutura e urbanização nas cidades são realizados com recursos das secretarias de Obras e de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Sedhab).

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Fiscalização mais difícil
Ao priorizar eventos, as administrações torram milhões num único dia ou no máximo em algumas semanas de alegria. CORREIO bsb  12.02
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Enquanto obras de urbanização são permanentes ou, pelo menos, levam a benefícios mais duradouros. Mas esse não é o único problema. A fiscalização da  aplicação dos recursos em eventos é mais difícil já que, muitas vezes, é complicado questionar o valor de um cachê. Pode ser difícil também avaliar se a empresa responsável pelas festas  cumpriu o contrato, pois a apuração ocorre após encerrado o evento.

Nesses casos, administrações regionais têm dispensado licitações, valendo-se de preços registrados em atas de outras unidades da Federação. Poucas empresas dominam o mercado. No ano passado, a Secretaria de Fazenda empenhou R$ 8,9 milhões para a Impacto Organização e Eventos Ltda. Foram R$ 4,8 milhões para a SWOT Serviço de Festas e Eventos e R$ 16,9 milhões para a A3 Brasil Eventos Ltda.

A administradora de São Sebastião, Janine Barbosa, explica que o orçamento das cidades fica engessado pelas emendas de distritais. “O parlamentar ouve as reivindicações da comunidade. Querendo ou não, o administrador tem de executar”, afirma. Administrador de Taguatinga até o fim de 2011, Antônio Sabino lamenta a falta de independência orçamentária dos gestores. Há um mês no cargo de administrador do Cruzeiro, ele diz que vai trabalhar para priorizar as obras em 2012. “Muitas vezes, com o recurso de uma festa deixa-se de revitalizar uma praça. Já iniciei 16 licitações para urbanizações neste ano”, disse.

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