segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012


ARTES PLÁSTICAS
Pintor e escultor Matt Lamb morre aos 79
O artista americano, conhecido também por seu ativismo em movimentos pela paz, morreu na madrugada de sábado em Chicago. Lamb foi fundador do projeto mundial "Guarda-Chuvas pela Paz", criado para oferecer ajuda a crianças que perderam familiares nos atentados de 11 de Setembro. FOLHA SP 20.02.12



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Affonso Romano de Sant'Anna
www.affonsoromano.com.br
A linguagem do poder.   
“O poder tem um discurso próprio, ou seja, tem sua sintaxe e sua semântica” CORREIO 19/02
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O poema “A implosão da mentira” nem é mais meu. Já foi usado em tribunais, processos, sermões, comícios, aulas, antologias, pôsteres, internet etc. Transcrito recentemente em jornais, foi ligado ao fato de que o atual governo mente e logo desmente, e assim vai fazendo o seu discurso. Isto remete para uma questão mais ampla: as características do discurso político. Cada profissão produz um tipo de discurso. Dizia aquela velha raposa mineira – Magalhães Pinto: política é como a nuvem, está sempre mudando. E, evidentemente, o discurso vai mudando como a nuvem.

Mas tem uma coisa que não muda tanto quanto as nuvens: a linguagem do poder. Outro dia ouvi o ministro da Justiça, que é um democrata, falar sobre a greve dos policiais na Bahia. O discurso era semelhante ao dos ministros da Justiça do regime militar: falava de ordem, hierarquia e que anistia não é para criminoso. A fala da presidenta sobre o assunto não foi diferente – embora, entende-se, diametralmente oposta à fala de uma guerrilheira. Uma nova ministra que assumiu nesses dias frisou que, no poder, sua opinião pessoal não conta. Agora descobriram uma declaração antiga do hoje governador da Bahia, Jaques Wagner, incitando a greve de policiais. Já Lula é um mestre em moldar discursos.

Repito: o poder tem um discurso próprio. Ou seja, tem sua sintaxe, tem sua semântica, em síntese: tem sua lógica discursiva. O poder é um “lugar” determinado e esse “lugar” é que gera seu discurso. E isso não é uma invenção do PT ou do Brasil. Em toda parte é assim. Vejam o filme Tudo pelo poder, com George Clooney: o candidato democrata vai mudando seu discurso de acordo com sua assessoria e de acordo com os votos que precisa conseguir. Sua opinião pessoal é irrelevante. Pode dizer o contrário do que pensa, pois o que interessa é o poder. O próprio Obama está tendo que ajeitar seu discurso às circunstâncias eleitorais.

Dizem alguns que o poder é trágico. O antigo ministro da Justiça Milton Campos dizia que hoje o poder é triste; e o general Geisel, que parecia todo-poderoso, entristecido, reconheceu o mesmo numa entrevista dada lá no Japão. Há quem diga que o poder é (necessariamente) cínico. O fato é que a primeira coisa que quem chega ao poder descobre é que o poder não pode. Até os ditadores têm que negociar.

Aquele poema – “A implosão da mentira”– foi publicado na ditadura do general Figueiredo. E hoje (infelizmente) continua atual. O poder, ontem ou hoje, tem uma estrutura e uma linguagem próprias. O poder ou assume o poder ou cai do poder. Poder não é para principiantes. Boas intenções só não funcionam. Poder é uma técnica de persuasão, que o digam tanto os líderes democratas que admiramos quanto os ditadores.

O esforço de persuasão pela linguagem está praticamente em todas as profissões, do sacerdote ao jornalista. Está (veladamente) até na crítica de arte. No livro O enigma vazio mostrei os sofismas da estética contemporânea. O sofista é treinado para provar discursivamente qualquer coisa.

O escritor, neste sentido, é um privilegiado. Usa a linguagem para revelar, não para esconder. Isto tem suas consequências. Volta e meia um escritor é punido por isto.

Quando, há uns 20 anos, eu estava no “poder”(num modesto segundo escalão) um ministro queria me forçar a nomear uma pessoa, pois era uma ordem que vinha de Brasília. Disse-lhe que queria ver essa ordem por escrito. Ele disse: “Em Brasília ninguém escreve o que diz”. Respondi: “Então, estamos num impasse, pois na minha profissão de escritor escrevo e assino o que penso”.

E a nomeação não saiu. E eu continuo escrevendo exatamente o que penso.

Affonso Romano de Sant'Anna  escreve quinzenalmente neste espaço

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Coleção mostra festas populares brasileiras
Sexto volume, nas bancas no próximo domingo, traz importantes fotos dos séculos 19 e 20 FOLHA SP 19.02
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Houve um tempo, no Brasil, em que os torcedores de futebol iam aos estádios com camisas e calças sociais. Na mesma época, mulheres saíam para os bailes de Carnaval com saias longas, e homens, com ternos e gravatas.

As manifestações culturais no país mudaram muito ao longo das décadas, em diversos aspectos. No lugar de um esporte de força física havia o futebol arte. No lugar de trios elétricos para as multidões, havia os bailes de salão e pequenos blocos de rua.

Essas e outras tradições festivas que marcaram a vida dos brasileiros são o destaque do sexto volume da Coleção Folha Fotos Antigas do Brasil, que chega às bancas no próximo domingo, dia 26.

"Festas Populares" reúne fotos tiradas entre 1860 e meados do século 20 e é dividido em três partes temáticas: "Carnaval", "Futebol" e "Ritos e Tradições", seção que retrata festas como o Bumba meu Boi, a Festa Junina e a Lavagem do Bonfim.

Estão reunidas no livro fotos tiradas por importantes nomes como Augusto Malta (1864-1957), Claude Lévi-Strauss (1908-2009), Thomas Farkas (1924-2011) e Marcel Gautherot (1910-1996).

A coleção, dedicada a apresentar algumas das fotografias mais importantes feitas no país entre 1840 e 1960, traz 20 volumes organizados de forma temática.

A série, que procura mostrar grandes acontecimentos e cenas do cotidiano, é um registro ilustrado da história do país -uma história da sociedade, do cotidiano, da economia e da política, contada por intermédio da fotografia.

As cerca de 900 imagens que compõem a coleção fazem parte dos principais acervos do país, como o Instituto Moreira Salles (apoiador da coleção), o Arquivo Público do Estado de São Paulo e a Fundação Pierre Verger.
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Efeito cascata na Ficha Limpa
Com a lei validada pelo Supremo, entidades e a CGU vão pressionar para que candidatos a prefeito e os Executivos federal e estadual se comprometam a não nomear ocupantes de cargo de confiança condenados em instância colegiada ou que tenham renunciado CORREIO BSB  20.02.12
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Manifestação pela validade da Lei da Ficha Limpa e contra a corrupção nos Três Poderes: governo federal deve editar decreto exigindo critérios da lei para nomeações no segundo escalão

A aprovação da Ficha Limpa para as eleições de 2012 impulsionou grupos como o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) a pressionar para que a regra não fique restrita aos cargos eletivos, mas também às nomeações para o segundo escalão. A ideia é exigir dos candidatos a prefeito em outubro que estendam a exigência de probidade para todas as instâncias da máquina pública municipal. “Não adianta um prefeito ter a ficha limpa se ele monta seu secretariado com correligionários que tenham a ficha suja. O mesmo vale na esfera federal; se o presidente tem que ter a ficha limpa, seus ministros também devem ser escolhidos com base nesse critério”, afirma Marcelo Laverne, do MCCE.

No governo federal, o assunto já está em debate desde outubro. A iniciativa é da Controladoria-Geral da União (CGU), que dialoga com a Casa Civil, Ministério da Justiça, Secretaria de Relações Institucionais (SRI) e Advocacia-Geral da União (AGU) para a elaboração de um decreto presidencial para reger essa questão. Uma das sugestões do ministro-chefe da Controladoria-Geral da União, Jorge Hage, é de que sócios-dirigentes ou administradores de empresas consideradas inidôneas não possam ser indicados para cargos na máquina federal.

Os partidos também foram obrigados a adaptarem-se aos novos tempos. Eles terão de refazer seus planejamentos, replanejar os apoios eleitorais e a política de atração de filiados para concorrer nas eleições de outubro. Tudo isso deverá estar pronto até junho, quando iniciam as convenções partidárias para a definição dos candidatos a vereador e prefeito em todo o país.

Maior partido do país em número de prefeituras, o PMDB começou a correr atrás do prejuízo. “Eu avisei aos diretórios municipais para substituir os candidatos que tivessem algum tipo de problema antes mesmo de o STF aprovar a lei”, disse o presidente nacional do PMDB, senador Valdir Raupp (PMDB-RO).

Raupp afirma que “a Ficha Limpa é um avanço no processo democrático”. Mas, há dois meses, os peemedebistas tinham restrições à nova legislação. Tanto que a cúpula partidária foi em caravana ao STF pedir a liberação para que o senador Jader Barbalho (PMDB-PA) pudesse assumir seu mandato no Senado. Em troca, lutariam, no Congresso, pelo reajuste dos servidores do Judiciário. Dilma não deu o reajuste, mas Jader foi empossado.

Peneira rigorosa
Um dos relatores da Lei da Ficha Limpa na Câmara e presidente do PSD no Rio, Índio da Costa comemorou a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de validar a lei já nas eleições de 2012. “Os partidos, agora, terão que fazer um filtro. O resultado acaba com o coronelismo na política. Os traficantes, milicianos, não tinham votos, mas tinham poder e acabavam sendo candidatos”, destacou Índio, que foi candidato a vice-presidente de José Serra (PSDB) nas eleições de 2010. “É o sepultamento do período em que os fins justificam os meios”, reforçou Índio.

Para o presidente do PSB, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, a Ficha Limpa vai ajudar a democracia e serve para agilizar a instrução processual. A pessoas próximas, o governador tem dito que uma lei como essa só precisa ser aprovada porque os julgamentos no país são “muito morosos”. Com isso, os réus em processos administrativos e criminais podem candidatar-se em busca de foro privilegiado, o que, em última instância, acaba por ajudar no prolongamento dos inquéritos.

Na opinião do presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), o Supremo Tribunal Federal atendeu aos anseios da sociedade pela moralidade na política brasileira. “Essa decisão é excelente. Muito importante para melhorar os costumes políticos no país”, afirmou Freire. O parlamentar acrescentou ainda que o fato de a lei ter sido aprovada antes das eleições foi positiva. “Assim, os partidos terão tempo para ajustar suas nominatas (listas de candidatos) à lei”, afirmou.

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) encarou a validação da lei pelo STF como uma vitória pessoal, já que ele sempre defendeu a aplicação imediata do dispositivo. Em entrevista ao Correio (Leia acima), o ministro destacou que a lei será um importante instrumento no combate à corrupção.


Cinco perguntas para - Ricardo Lewandowski, ministro do STF
           
Para Lewandowski, partidos devem intensificar filtro a candidatos

O que muda para o país a partir da validade da Lei Ficha Limpa?
Os partidos políticos terão maior responsabilidade na escolha dos candidatos, permitindo que os eleitores façam com que suas escolhas recaiam sobre pessoas com passado impoluto. Creio que a Lei da Ficha Limpa é um dos instrumentos que dificultará a corrupção, assim como ocorreu com a Lei da Improbidade e a Lei de Responsabilidade Fiscal.

Com a lei validada, os partidos devem se constrager ao lançar candidaturas de quem é ficha suja?
Eles não apenas se sentirão constrangidos, como também serão apenados, caso a Justiça venha a barrar o registro de algum candidato enquadrado na Lei da Ficha Limpa.

A Ficha Limpa pode levar à insegurança jurídica das próximas eleições?
Pelo contrário, o que causou a insegurança foi a falta de definição do Supremo a respeito da lei, ensejando o retorno de candidatos anteriormente barrados pela Justiça Eleitoral. Agora a matéria está pacificada e a lei deverá ser observada por todos.

A Justiça Eleitoral sai fortalecida com a validação da Ficha Limpa?
Creio que a Justiça Eleitoral saiu fortalecida do episódio, pois a tese que ela defendeu durante as eleições gerais de 2010 acabou sendo vencedora no Supremo Tribunal Federal. Penso também que, se os partidos políticos cumprirem o seu papel de filtrar os candidatos com vida pregressa inadequada, os TREs e o TSE terão muito menos trabalho.



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